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A relevância das provas produzidas no inquérito policial para a formação da convicção do julgador

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

ANDERSON DINIZ DE ALBUQUERQUE

A RELEVANCIA DAS PROVAS PRODUZIDAS NO INQUÉRITO POLICIAL PARA A FORMAÇÃO DA CONVICÇÃO DO JULGADOR

Ijuí (RS) 2017

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ANDERSON DINIZ DE ALBUQUERQUE

A RELEVANCIA DAS PROVAS PRODUZIDAS NO INQUÉRITO POLICIAL PARA A FORMAÇÃO DA CONVICÇÃO DO JULGADOR

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientadora: MSc. Diolinda Kurrle Hannusch

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança na jornada da vida e com quem aprendi que todo sonho é possível de ser alcançado.

À minha orientadora Diolinda Kurrle Hannusch, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, ajudando-me pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus amigos, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado, e compreendendo acima de tudo as minhas renuncias do dia a dia em prol do estudos.

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“sem saber que era impossível, foi lá e fez”. Jean Cocteau

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise doutrinária dos tipos de sistemas processuais, sistema inquisitivo, sistema acusatório e sistema misto, e qual destes tipos de sistema é usado no Código de Processo Penal Brasileiro, bem como elenca, no entendimento dos doutrinadores, o inquérito policial suas características e o tipo de natureza jurídica tomando por base os sistemas citados, visando à sua contribuição para o convencimento do julgador e da possibilidade de ser usado para esse fim. Ainda, aduz as provas na fase judicial, demonstrando sua importância no processo, contextualizando-as na fase judicial com as provas da fase inquisitorial, expondo suas diferenças e meios de procedimentos usados para cada um. Tem como ponto central, expressar de modo doutrinário os meios convincentes de ser admitido o uso dos elementos de informação na formação da convicção do julgador, bem como as provas na fase judicial para esse fim, ratificando sua relevância na fase instrutória.

Palavras-Chave: Sistemas Processuais. Inquérito Policial. Provas. Convicção do julgador.

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The present work of course completion makes a doctrinal analysis of the types of procedural systems, inquisitive system, accusatory system and mixed system, and which of these types of system is used in the Brazilian Criminal Procedure Code, as well as elenca, in the understanding of the doctrinators, The police investigation its characteristics and the type of legal nature based on the systems cited, aiming at its contribution to the conviction of the judge and the possibility of being used for that purpose. Moreover, it presents the evidence in the judicial phase, demonstrating its importance in the process, contextualizing them in the judicial phase with the evidence in the inquisitorial phase, exposing their differences and means of procedures used for each one. Its main point is to express in a doctrinal way the convincing means of admitting the use of the information elements in the conviction of the judge, as well as the evidence in the judicial phase for that purpose, rectifying its relevance in the investigation phase.

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INTRODUÇÃO ... 9 1 SISTEMAS PROCESSUAIS ... 10 1.1 Conceito de sistema ... 10 1.2 Inquisitivo ... 11 1.3 Acusatório ... 13 1.4 Misto ... 15

1.5 Sistema adotado no Brasil ... 18

2 INQUÉRITO POLICIAL ... 22

2.1 Conceito ... 22

2.2 Natureza Jurídica ... 24

2.3 Finalidade ... 25

2.4 Caracteristicas do inquérito policial ... 27

2.5 Diligencias do inquérito policial e o princípio do contraditório e da ampla defesa.... 29

2.6 Destinatário da prova produzida no inquérito policial ... 34

3 VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL NA FORMAÇÃO DA CONVICÃO DO JULGADOR... 35

3.1 Conceito de prova ... 36

3.2 Destinatário da prova ... 37

3.3 Finalidade da prova ... 38

3.4 Diferença entre elementos de informação e prova ... 40

3.5 Exceção à prova na fase judicial ... 42

3.6 Da (im)possibilidade de utilização da prova no inquérito policial na fundamentação do julgador ... 43

CONCLUSÃO ... 47

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INTRODUÇÃO

A presente monografia visa aprofundar o estudo acerca do valor probatório das informações colhidas na fase do inquérito policial uma vez que tal procedimento administrativo não obedece o sistema acusatório e tampouco assegura ao investigado o direito ao contraditório e ampla defesa.

Para a elaboração deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas, acerca do procedimento investigatório, mais precisamente do inquérito policial, da produção e valoração das provas que integram o inquérito policial e o processo judicial no julgamento da causa penal e seu respectivo autor.

Assim, no primeiro capítulo, será feita uma abordagem dos sistemas processuais, a saber: sistema inquisitivo, sistema acusatório e sistema misto, suas principais características e qual deles é adotado no sistema processual brasileiro.

No segundo capítulo serão analisadas as provas colhidas na investigação policial, seu conceito, sua natureza jurídica, sua finalidade e características. Também será abordado a relevância das provas colhidas para a formação da convicção do seu destinatário em cada uma das fases da persecução penal.

E o terceiro capítulo, analisará as provas produzidas na fase judicial, distinguindo-as dos elementos informativos, colhidos na fase do inquérito policial, bem como a análise acerca da (im)possibilidade dos elementos investigatórios angariados na fase inquisitiva para a formação da convicção do julgador.

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1 SISTEMAS PROCESSUAIS

Os sistemas processuais ganharam espaço a partir do século XIX, razão pela qual o direito processual penal é tratado de forma mais independente, desprendendo-se, em tese, do direito penal. Já o processo penal, seria o modo a ser seguido caso infringe-se a regra estabelecida na fase anterior. Assim, em que pese as distinções, ambos são executados de forma harmônica.

Nessa senda, não poderia ser tratado de forma distinta o direito processual penal do direito penal, motivo este que nos ensina Gilberto Thums (2006, p. 174-175):

Muitas vezes a relação é tão intima entre norma material/processual que existem dificuldades de se distinguir qual a natureza jurídica. Assim como o Direito Penal influencia o processo penal [...] o processo penal também influência o Direito Penal a fim de reduzir o espectro de incriminação, já que existem soluções práticas para todos os males que afligem a sociedade [...]

Assim, pode-se ter como base que o direito processual penal complementa o direito penal ou vice versa. Os sistemas tem então por função a organização de um grupo de pensamento com o fim de agrupar tais ideias.

1.1 Conceito de Sistema

Para analisar os sistemas processuais penais existentes no processo penal, é necessário entender o significado da palavra sistemas, a qual, simploriamente, podemos definir como um conjunto de normas que trabalham organizadamente dentro de uma regra jurídica.

É de grande importância, vindo ao encontro do tema, as palavras de Paulo Rangel (2009, p. 47)

[...]sistema processual penal é o conjunto de princípios e regras constitucionais, de acordo com o momento político de cada Estado, que estabelece as diretrizes a serem seguidas à aplicação do direito penal a cada caso concreto. O Estado deve tornar efetiva a ordem normativa penal, assegurando a aplicação de suas regras e de seus preceitos básicos, e esta aplicação somente poderá ser feita através do processo, que deve se revestir, em princípio, de duas formas: a inquisitiva e a acusatória.

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Destarte, como visto, o sistema processual é o unificador do pensamento planejado, passando de um conjunto de pensamentos para a concretização de um caso concreto. Será tratado três tipos de sistemas processuais penais, os quais serão descritos abaixo.

1.2 Inquisitório

O sistema inquisitório ou sistema inquisitivo é um tipo de sistema bastante autoritário, sua aplicação se limita a estabelecer a fusão de dois polos em uma só pessoa. A parte investigada não tem voz ativa nesse tipo de procedimento, restando como um passivo sem direitos.

Cabe elencar as características desse sistema apresentados por Fernando Capez (2012, p. 85):

É sigiloso, sempre escrito, não é contraditório e reúne na mesma pessoa as funções de acusar defender e julgar. O réu é visto nesse sistema como mero objeto da persecução, motivo pelo qual práticas como tortura eram frequentemente admitidas como meio para se obter a prova-mãe: a confissão.

Neste sistema, não há o que se falar em contraditório e ampla defesa, porquanto, consoante citado, os polos existentes são sustentados em um único julgador, chamado por muitos como juiz inquisidor, o qual é dotado de ampla busca probatória, na forma de acusador e ao mesmo tempo exerce a função de julgador, fazendo dar sentido ao nome de juiz inquisidor.

Pelos motivos supramencionados, transporta-se a ideia de um sistema unificado com ampla liberdade de busca de provas e informações sobre a verdade dos fatos. Renato Brasileiro de Lima pontua (2014, p. 45):

No processo inquisitório, o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de ofício e colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do processo penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pelo acusado. A gestão das provas estava concentrada, assim, nas mão do juiz, que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia chegar à conclusão que desejasse.

Destarte, é inegável que o sistema inquisitório vem de encontro com os direitos e garantias fundamentais elencados em nossa Carta Magna, ou seja, conflita com os direitos humanos, razão pela qual é considerado um sistema incompatível com os princípios processuais penais, a imparcialidade do julgador.

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Não obstante, é de grande importância, e por que não dizer como uma das referências desse sistema de maior ênfase, que é a confissão, sendo reconhecida por muitos estudiosos como a rainha das provas.

Aduz Aury Lopes Jr (2011, p. 67, grifo nosso):

A estrutura do processo inquisitório foi habilmente construída a partir de um conjunto de instrumentos e conceitos (falaciosos, é claro), especialmente o de “verdade real ou absoluta”. Na busca dessa tal “verdade real”, transforma-se a prisão cautelar em regra geral, pois o inquisidor precisa dispor do corpo do herege. De posse dele, para buscar a verdade real, pode lançar mão da tortura, que se for “bem” utilizada conduzirá a confissão. Uma vez obtida a confissão, o inquisidor não necessita de mais nada, pois a confissão é a rainha das provas (sistema de hierarquia de provas). Sem dúvida, tudo se encaixa para bem servir ao sistema.

Notado é em sua colocação, que o sistema inquisitorial, para esse doutrinador, vai além da unificação das partes, porque o fulcro central se estabelece pelo uso da tortura na busca das provas, ou seja, a obtenção da confissão a qualquer custo, não se importando com a vida do acusado, apenas, preocupando-se com “a verdade real”.

Esse método foi um grande marco do Direito Canônico, explica assim Enio Luiz Rossetto (2001, p. 27, grifo nosso):

O procedimento penal canônico revelou-se um instrumento tecnicamente inadequado; a falta de denúncia impedia o acusado de formular convenientemente a defesa e a prevenção criada no espírito do inquisidor não lhe permitia um julgamento imparcial, e um dos grandes erros da inquisição foi o uso da tortura.

Ainda, considerando a forma desumana nesse sistema ulteriormente usado, que não interessava a forma, e sim o que realmente importava era obter algum meio de culpa, mesmo que para isso, levassem o acusado a tortura até o ponto em que confessasse o delito, os quais não tinham muita escolha, a não ser autoincriminar-se.

Conforme visto, não se fala em justiça no sistema inquisitorial. A busca pela verdade não tinha preço, tanto que o uso da tortura era uma prévia certeza da confissão, não importando se as palavras de autocondenação eram verdadeiras ou não. Não se estabelecia de modo algum

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um direito a defesa, pois tudo se encontrava do lado oposto ao acusado, que por sua vez não podia fazer muita coisa.

Considerando esse enfoque, destaca-se aqui a colocação de Fernando da Costa Tourinho Filho et al. (2016, p. 81):

A máquina repressiva do sistema processual inquisitório caracterizar-se-á pela anulação do contraditório, ausência de ampla defesa e inversão da presunção de inocência, lecionando Carvalho que a insuficiência de prova, que, na verdade, gera dubiedade, não bastaria para a absolvição; muito pelo contrário, pois qualquer indício (por mais inverossímil que fosse) equivalia à semiprova, que comportava juízo de semiculpabilidade e, em consequência, semicondenação.

Por conseguinte, analisado o sistema inquisitorial, nota-se que não há imparcialidade entre o julgador e a parte, colocando os investigados em um patamar ínfimo ao do inquisidor, sendo tratados como mero objeto da demanda, não podendo exercer, sequer, o direito de contraditório e defesa.

1.3 Acusatório

O sistema acusatório tem como característica, diferenciada do inquisitório, a divisão das funções, ou seja, há uma separação entre o julgador e a parte que acusa, assim como existe uma igualdade da parte citada com a parte que defende. Com isso, busca-se um equilíbrio de direitos entre as mesmas interessadas perante um juiz, em tese, imparcial.

Acerca do sistema acusatório, Renato Brasileiro de Lima afirma (2014, p. 46):

No sistema acusatório, a gestão das provas é função das partes, cabendo ao juiz um papel de garante das regras do jogo, salvaguardando os diretos e liberdades fundamentais. Diversamente do sistema inquisitorial, o sistema acusatório caracteriza-se por gerar um processo de partes, em que autor e réu constroem através do confronto a solução justa do caso penal [...]

Logo, analisa-se que o sistema acusatório se diferencia do inquisitório porquanto no acusatório quem deve provar ou trazer provas aos autos são as partes e não o juiz, que em regra, é imparcial tendo o dever de valorar aquilo que é trazido aos autos. As partes nesse sistema são

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duvidas segundo as funções de cada polo, exercendo seus direitos de forma parcial, impondo assim, uma visão claramente vertical desse sistema.

Nesse mesmo contexto, vindo ao encontro do relatado as partes, que é uma das grandes diferenças entre os sistemas acima descritos, explica Paulo Rangel (2009, p. 50, grifo do autor):

O sistema acusatório, antítese do inquisitório, tem nítida separação de funções, ou seja, o juiz é órgão imparcial de aplicação da lei, que somente se manifesta quando devidamente provocado; o autor é quem faz a acusação (imputação penal + pedido), assumindo, segundo nossa posição (cf. item 1.7, supra), todo o ônus da acusação, e o réu exerce todos os direitos inerentes à sua personalidade, devendo defender-se utilizando todos os meios e recursos inerentes à sua defesa[...]

Conforme visto, é notável a extrema diferença entre o sistema inquisitório e o sistema acusatório em relação a separação das partes, esse, colocado de forma imparcial, dando oportunidade para que as partes exerçam seus direitos de contraditório e ampla defesa, segundo lhes são assegurados constitucionalmente, exercendo uma visão mais democrática, diferenciando-se daquele que, como acima demonstrado, relata um comportamento único de modo imperativo e com um ar de soberania, atribuindo um único polo para duas funções, o de acusar e julgar.

Para melhor compreensão desse sistema Gilberto Tuhms assevera (2006, p. 240, grifo nosso):

No sistema acusatório o órgão que produz a acusação tem o ônus de provar a imputação que faz o réu, sem presunções, mas com provas substanciais sobre a ocorrências do fato e sua autoria. Não pode debitar ao juiz a busca de provas para sustentar a acusação, porquanto este entendimento desnatura o sistema. Ao réu incumbe provar sua alegação, caso constitua fato positivo para a sua exculpação, desclassificação para outro crime menos grave, causa de diminuição da pena, negativa de autoria etc. O réu não precisa provar fato negativo, isto é, se a acusação não possuir provas para a sua, a consequência é a absolvição. Se a prova for insuficiente para convencer o juiz sobre a culpa do acusado, vale o princípio do favor rei, o juiz deve absolver e não diligenciar na obtenção de novas provas, sob a alegação de buscar a verdade material. O juiz deve manter-se equidistante das partes para conservar sua imparcialidade. A busca de provas de ofício retira a imparcialidade do julgador e o aproxima da figura de inquisidor.

Notável se faz a posição desse doutrinador acima mencionado, pois seu entendimento se embasa no princípio do favor rei, que orienta o magistrado seguir a posição mais favorável

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quando as provas não forem construídas pelo acusador em face do acusado. Também, relata que seria inconveniente da parte do juiz buscar provas de ofício, tendo como entendimento que isso desprenderia do sistema acusatório e migraria ao sistema inquisitório.

Para tais alegações, que nos remete a um retorno processual para os princípios que neles norteiam, é de relevância a observação de constar aqui, a simplória conceituação do princípio da imparcialidade do juiz pelo Autor Fernando da Costa Tourinho Filho (2011, p.13) “Não se pode admitir Juiz parcial. Se o Estado chamou a si a tarefa de dar a cada um o que é seu, essa missão não seria cumprida se no processo, não houvesse imparcialidade do Juiz”.

No entanto, convém aqui referir que, conquanto exista tal princípio, no atual sistema processual brasileiro, o magistrado tem a faculdade de exercer a busca de provas, diligências de ofício. Nesse norte, pontua Fernando Capez (2012, p. 85):

Convém mencionar que, com a nova reforma processual, passou também ser possível ao juiz, de ofício, a faculdade de “ordenar, mesmo antes iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida” [...]

Por conseguinte, realça-se que o sistema acusatório é exercido em forma de “tripé” distinguindo as funções da acusação, do julgador e da defesa. Impõe também, o resguardo dos direitos e garantias fundamentais, sendo assegurado ao acusado exercer o direito ao contraditório e a ampla defesa em confronto à acusação.

1.4 Misto

O sistema misto, que, em tese, teve início no Código Napoleônico (1808), representa a fusão dos sistemas acima descritos, tendo como primeira fase o sistema inquisitório e a segunda fase o sistema acusatório. Nas palavras de Fernando Capez (2012, p. 85), no sistema misto “Há uma fase inicial inquisitiva, na qual se procede a uma investigação preliminar e uma instrução preparatória, e uma fase final, em que se procede ao julgamento com todas as garantias do processo acusatório.”

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É chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.

Logo, mostra-se evidente a união do sistema inquisitorial com o sistema acusatório, ou seja, o sistema misto, ou o sistema francês por alguns chamado, é na verdade a adesão do inquisitivo com o acusatório. Com essa explanação, não se tem a formação de um novo contexto ou teoria onde se estabeleça uma nova forma, entretanto consolida sim um ajuntamento desses sistemas estabelecendo então uma mistura dos preceitos inquisitórios e acusatórios.

Acerca da divisão da parte pré-processual da parte processual o doutrinador Aury Lopes Jr. refere que (2011, p. 69):

É lugar comum na doutrina processual penal a classificação de “sistema misto”, com a afirmação de que os sistemas puros seriam modelos históricos sem correspondências com os atuais. Ademais, a divisão do processo penal em duas fases (pré-processual e processual propriamente dita) possibilitaria o predomínio, em geral, da forma inquisitiva na fase preparatória e acusatória na fase processual, desenhando assim um sistema “misto”.

Em razão desta divisão entre os sistemas, conforme relata os doutrinadores mencionados, a fase pré-processual com sua parte investigativa exerceu uma função mais relacionada com o sistema inquisitorial, já a parte processual, relaciona-se com o sistema acusatório. Neste contexto, cabe destacar que, com de funções no sistema misto, é que veio a surgir o Ministério Público, o qual é designado a competência privativa de formular a ação processual penal pública.

Ainda, na mesma visão, não se poderia deixar de abordar uma crítica apresentada por Aury Lopes Jr. (2011, p. 70, grifo do autor):

A classificação de sistema misto peca por insuficiência em dois aspectos: Considerando que os sistemas realmente puros são tipos históricos, sem correspondência com os atuais, a classificação de “sistema misto” não enfrenta o ponto nevrálgico da questão: a identificação do núcleo fundante. A separação (inicial) das atividades de acusar e julgar não é o núcleo fundante dos sistemas e, por si só, é insuficiente para sua caracterização.

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Salienta-se assim, nas mesmas palavras que foram referidas pelo doutrinador supramencionado, e, malgrado visto pela maioria como um progresso frente aos sistemas anteriores, alguns divergem em suas teses, alegando não ser um sistema a ser seguido. Logo, expõe quando diz Paulo Rangel (2009, p. 53) “Entendemos que o sistema misto (juizado de instrução), não obstante ser um avanço frente ao sistema inquisitivo, não é o melhor sistema, pois ainda mantém o juiz na colheita de provas, mesmo que na fase preliminar da acusação”.

Corroborando o posicionamento de Rangel, salienta Eugênio Pacelli (2013, p. 15):

Além disso, o fato de ainda existirem juízes criminais que ignoram as exigências constitucionais não justifica a fundamentação de um modelo processual brasileiro misto. Com efeito, não é porque o inquérito policial acompanha a denúncia e segue anexado à ação penal que se pode concluir pela violação ao devido processo legal, é para isso que se exige, também, que toda a decisão judicial seja necessariamente fundamentada (art. 93, IX, CF) [...]

Nesse contexto, reflete-se que as provas produzidas de ofício, conquanto seja legalmente embasada em nosso Código de Processo Penal, para Pacelli, sua eficácia feriria a imparcialidade dos tramites processuais em face do acusado, porquanto para ele o juiz tem como função primordial, resguardar-se de qualquer meio que distinga sua imparcialidade. Assim, pertinente referir a afirmação de Aury Lopes Jr. (2011, p. 73) “Portanto, pensar sistema acusatório desconectado do princípio da imparcialidade e do contraditório, é incorrer em grave reducionismo”.

Enfim, mostra-se que a mistura do sistema inquisitivo e do sistema acusatório estão ramificados no sistema misto. Consequência disso trazem consigo suas características que por muitos são entendidas de formas distintas, vindo a causar esta divergência doutrinária, embelezando mais os olhos daqueles que os estudam.

Consequentemente, para muitos a proposição da prova é de competência do Ministério Público, nos casos de ação penal pública, e da parte acusadora nos casos de ação penal privada, não cabendo assim, ao magistrado buscar a verdade real, embora essa possibilidade seja assegurada por lei.

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Tendo como base os três tipos de sistemas supramencionados, cabe aqui destacar qual desses sistemas, no entendimento da maioria dos doutrinadores, é usado, em regra, no nosso ordenamento jurídico processual penal brasileiro. No dizer de Eugênio Pacelli (2013, p. 10) “Sob tais distinções, nosso processo é mesmo acusatório.”

No entender do doutrinador Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 47):

Quando o Código de Processo entrou em vigor, prevalecia o entendimento de que o sistema nele previsto era misto. A fase inicial da persecução penal, caracterizada pelo inquérito policial, era inquisitorial. Porém, uma vez iniciado o processo, tínhamos uma fase acusatória. Porém, com o advento da Constituição Federal, que prevê de maneira expressa a separação das funções de acusar, defender e julgar, estando assegurado o contraditório e a ampla defesa, além do princípio da presunção de não culpabilidade, estamos diante de um sistema acusatório.

Pela visão desses doutrinadores, notamos que entre os sistemas estabelecidos, o que prevalece no ordenamento jurídico brasileiro é o sistema acusatório, porquanto, conforme exposto, a própria Constituição Federal deixa claro, que entre as funções de julgar, defender e acusar, deve-se ter uma separação para que se possa ter a imparcialidade dos juiz.

Na mesma sequência, e complementando o que já havia afirmado anteriormente, pontua Eugênio Pacelli (2013, p. 15, grifo do autor):

De todo modo, e, sobretudo, a partir da possibilidade de participação do acusado e seu defensor no ato do interrogatório, não vemos como não se reconhecer, ou não vemos por que não abdicar de um conceito acusatório de processo penal na atual ordem constitucional.

Destarte, pelo olhar desse doutrinador, é indiscutível o tipo de sistema usado em nosso ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, alguns discordam desse modo de pensar, e afirmam de forma diferenciada, fugindo assim do modo amplo de pensar. Cabe aqui trazer o pensamento do doutrinador Aury Lopes Jr. (2011, p. 69, grifo nosso):

Outros preferem afirmar que o processo penal brasileiro é “acusatório formal”, incorrendo no mesmo erro dos defensores do sistema misto. BINDER, corretamente afirma que “o acusatório formal é nome do sistema inquisitivo que chega até nos nossos dias.” Nós preferimos fugir da maquiagem conceitual, para afirmar que o modelo brasileiro é (neo)inquisitório, para não induzir ninguém a erro.

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Apesar de o sistema brasileiro ser considerado acusatório, ao menos pela maioria dos doutrinadores e estudiosos desse tema, não quer dizer que todos os que confirmam tal tese, concordem que o sistema acusatório é um sistema bom ou que não precise ser pensado com olhar crítico.

Nessas bandas, frente aos sistemas adotados em outros lugares, nos traz um esclarecimento o doutrinador Eugênio Pacelli (2013, p. 15, grifo do autor):

Por certo que nosso modelo não se equipara ao sistema adversary, ou de partes, tal como é o modelo estadunidense, em que o juiz se afasta completamente de quaisquer funções probatórias, limitando-se ao controle de legalidade na instrução judicial [...]

Consoante mencionado, não se pode negar que apesar de todo o avanço frente ao sistema acusatório, o qual superou a barreira do direito ao contraditório e a ampla defesa, estabelecendo então, um modelo igualitário das partes num patamar vertical, ainda, apresenta-se um modelo inferior apresenta-se comparado aos de outros paíapresenta-ses, como o exemplo citado dos Estados Unidos.

Um dos destaques dessas pontualidades, é que, malgrado pesada maioria entenda que o sistema acusatório é o estabelecido em nosso regime brasileiro, não se pode negar que a fase de investigação criminal é exercida, nitidamente, na forma basilar do sistema inquisitivo, porquanto não é assegurado à parte acusada o direito ao contraditório.

Sanando está dúvida, que nos rodeia tenazmente, pontua o doutrinador Hidejalma Muccio (2000, p. 67, grifo do autor):

É certo que na fase do inquérito policial, no qual se investiga a infração penal e a sua autoria (art. 4º do CPP), prepondera o sigilo, portanto, a forma inquisitiva. Contudo, trata-se de procedimento meramente informativo. Não constitui o processo propriamente dito. O processo stricto sensu só surge com o oferecimento da denúncia ou da queixa crime.

Deste modo, entrando na conceituação acima relatada, entende-se que, conquanto sim seja a parte pré-processual um sistema inquisitivo, essa parte nada interfere na relação processual da demanda, pois só se pode falar em processo penal após o ajuizamento da devida

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ação, seja ela através do Ministério Público ou por particular. Assim, tem-se como fase administrativa a parte de investigação, não refletindo ainda como esfera Processual.

Tudo nos leva a entender que o sistema processual brasileiro é sim acusatório. Nas palavras de Paula Bajer Fernandes Martins da Costa (2001, p. 124) “Afirma-se que a Constituição adotou o sistema acusatório para a persecução penal, pois seu artigo 129, I, confere privativamente ao Ministério Público a promoção da ação penal pública”.

Nesse norte, nos transmite com convicção a forma de sistema adotada no Brasil o doutrinador Geraldo Prado (2006, p. 176, grifo nosso):

Em vista disso, e por considerarem que a partir de 1988, com a nova Constituição, o processo penal brasileiro realmente aderiu ao modelo acusatório, alguns tribunais, a nosso juízo acertadamente, têm editado atos normativos que regulam a tramitação dos autos de investigação criminal diretamente entre as unidade de polícia judiciaria e os órgão do Ministério Público.

Contudo, divergindo da questão levantada, tendo entendimento diferenciado, em que pese ser minoria, em relação a qual sistema é usado no Brasil, destacaremos aqui a colocação de Edilson Mougenot Bonfim (2014, p. 75, grifo do autor):

Em que pese a divergência, fato é que a persecução penal no sistema

brasileiro cinde-se em duas partes, configurando-se em sistema misto. A fase

investigatória tem, em regra, caráter inquisitivo, a ela não se aplicando todas as garantias inerentes ao processo, porque não é um processo. Entretanto, é certo que, no âmbito específico do processo penal (subsequente à fase investigatória), a função acusatória é organicamente separada da função

decisória, de modo que, se a persecução penal como um todo poder se classificada sob o gênero dos sistemas mistos, o processo penal em si – subsequente à investigação – indubitavelmente é “acusatório”. Isto,

configura-se em “verdadeiro” processo penal (acusatório). Claras, portanto, a noção da parte (sistema inquisitório, na primeira; acusatório, na segunda) e do todo (sistema misto, na análise da persecução penal na fase extrajudicial à judicial).

Malgrado, para a maioria a fase investigatória não é considerada processo em si, para esse doutrinador supracitado a fase pré-processual faz sim parte de todo contexto da persecução penal, razão essa para ser tratado de dois pontos o inquisitivo e o acusatório, transformando-se assim em um sistema misto.

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Portanto, pode-se concluir que o sistema processual penal adotado em nosso ordenamento jurídico brasileiro, no entender da maioria, é o sistema acusatório. Isso porque, segundo já analisado, com o advento da Constituição Federal e seus princípios, direitos e garantias, colocaram o julgador e o acusador em polos distintos, razão está, faz-se claro a sobrelevação desse frente aos demais sistemas.

Razão de todo o nosso apanhado, pelo fato de o Código de Processo Penal Brasileiro ter submissão em relação a nossa Constituição Federal, deixa claro isso Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 31, grifo do autor):

O Direito Processual Penal, como qualquer outro, deve submeter-se ao Direito

Constitucional em decorrência da supremacia da Constituição na hierarquia

das leis. É na Carta Magna que se institui o aparelho judiciário, se regula o exercício da atividade jurisdicional, se definem as garantias individuais, se registram casos de imunidade etc.

Por fim, finaliza-se o primeiro capítulo enfatizando a conceituação dos sistemas processuais penais existentes, expondo suas distinções, conforme o entendimento dos doutrinadores e estudiosos desse tema.

Além disso, foram abordados os tipos de sistemas existentes na esfera processual penal, e elencado qual o tipo usado em nosso ordenamento brasileiro, tendo por base as doutrinas na reverência da Constituição Federal.

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2 INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial é uma peça investigativa composta por um grupo de diligências com o intuito de angariar elementos informativos do caso em que se está sendo averiguado para uma possível ação penal. Embora considerada dispensável, como se verá futuramente, tem grande importância nos casos em que as provas exigem maior rapidez.

Logo, o inquérito policial sendo procedimento administrativo, está elencado como um sistema inquisitivo exercido pela Polícia Judiciária na busca da verdade dos fatos em todas as suas circunstâncias.

Refere Eugênio Pacelli (2013, p. 53-54, grifo do autor):

A fase de investigação, portanto, em regra promovida pela polícia judiciária, tem natureza administrativa, sendo realizada anteriormente à provocação da jurisdição penal. Exatamente por isso se fala em fase pré-processual, tratando-se de procedimento tendente ao cabal e completo esclarecimento do caso penal, destinado, pois à formação do convencimento (opinio delicti) do responsável pela acusação[...]

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar o inquérito policial, destacando, pela visão dos autores, os principais destaques desse procedimento administrativo.

2.1 Conceito

Inquérito policial é conhecido por ser um conjunto de atos inquisitórios na busca de informações para ser apresentadas ao autor da ação penal. No dizer de Fernando Capez (2012, p. 85):

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, art. 4º). Trata-se de procedimento persecutório de caráter administrativo instaurado pela autoridade policial. Tem como destinatário imediatos o Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública (CF, art. 129, I), e o ofendido, titular da ação penal privada (CPP, art. 30); como destinatário mediato tem o juiz, que se utilizará dos elementos de informação nele constantes, para o recebimento da peça inicial e para a formação do seu convencimento quanto à necessidade de decretação de medidas cautelares.

(23)

Logo, faz-se notar, que o inquérito policial é um dever do Estado na busca da “verdade real”, trazido como conceito a persecução do crime “persecutio criminis”, ou seja, o Estado tomador do dever de punir “jus puniendi”, busca, através de diligências a compreensão do fato ocorrido.

De acordo com Julio Fabrini Mirabete (2003, p. 76):

Inquérito policial é todo procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários a apuração da prática de uma infração penal e de sua autoria. Trata-se de uma instrução provisória, preparatória, informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária, como um auto em flagrante, exames periciais etc[...]

Tal elemento, entendido como etapa preliminar da persecução criminal, porquanto investiga como atividade estatal de apurar a infração penal, sendo desenvolvida, não só nessa etapa de inquérito policial como também em etapa posterior a esta, averiguando os elementos comprobatórios primordiais para a formação da “opinio delicti” do autor da ação penal, que conforme visto é o Ministério Público, nos casos de ação penal pública e do ofendido nos casos de ação penal privada.

Destarte, assevera Paulo Rangel ( 2009, p. 71, grifo do autor):

Inquérito policial, assim, é um conjunto de atos praticados pela função executiva do Estado com o escopo de apurar a autoria e materialidade (nos crimes que deixam vestígios – delivta facti permanentis) de uma infração penal, dando ao Ministério Público elementos necessários que viabilizem o exercício da ação penal[...]

.

Nos mesmo contexto refere Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 107):

Procedimento administrativo inquisitório e preparatório presidido pela autoridade policial, o inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

Tais doutrinadores seguem a mesma linha de conceituação quanto ao procedimento investigativo, relatando o inquérito policial como procedimento administrativo realizado em

(24)

fase preliminar da ação penal, com a finalidade de colher a maior quantidade de conteúdo probatório para o deslinde da ação penal cabível.

2.2 Natureza Jurídica

Contextualizando os conceitos doutrinários supramencionados, relata-se a natureza jurídica do inquérito policial, que é reconhecido como um procedimento administrativo, consoante relata Aury Lopes Jr. (2012, p. 290) “Quanto à natureza jurídica do inquérito policial, vem determinada pelo sujeito e pela natureza dos atos realizados, de modo que deve ser considerado como um procedimento administrativo pré-processual”.

Ratifica como procedimento administrativo, Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 107, grifo do autor):

Trata-se de procedimento de natureza administrativa. Não se trata, pois, de processo judicial, nem tampouco de processo administrativo, porquanto dele não resulta a imposição direta de nenhuma sanção. Nesse momento, ainda não há o exercício de pretensão acusatória. Logo, não se pode falar em partes

stricto sensu, já que não existe uma estrutura processual dialética, sob a

garantia do contraditório e da ampla defesa.

Portanto, a consideração do inquérito policial em sua natureza jurídica, se torna indiscutível. Assim, Norberto Avena relata em suas palavras a natureza jurídica do inquérito policial (2012, p. 149):

Possui natureza administrativa, na medida em que instaurado pela autoridade policial. Tratando-se de um procedimento inquisitorial, destinado, como já disse, a angariar informações necessárias à elucidação dos crimes, não há ampla defesa no seu curso.

Consequentemente, torna-se claro o entendimento dos estudiosos nessa área, que a peça investigativa não se trata de um processo em si, e sim de um procedimento administrativo. Consequentemente não há o que se falar em esfera judicial no âmbito do inquérito policial, porquanto os elementos angariados pela Polícia Judiciária, são meras peças de informação na busca de desvendar o que está se buscando.

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No mesmo sentido, expõe Paulo Rangel (2012, p. 74, grifo do autor):

Entendido que o inquérito policial integra a realização de um dos atos praticados pelo Estado Soberano (ato administrativo), fácil é sua correta colocação dentro da sistemática jurídica vigente. Assim, sem muitas delongas, sua natureza jurídica é de um procedimento de índole meramente administrativa, de caráter informativo, preparatório da ação penal.

Uma colocação bastante relevante, levando em conta a natureza jurídica do inquérito policial, que conforme até agora exposto pelos doutrinadores, destaca-se como natureza administrativa, deve-se levar em conta a importância de, mesmo sendo parte inquisitiva, ver resguardado os direitos fundamentais embasados na Constituição Federal. Dentro desse contexto, Edilson Mougenot Bonfim afirma (2012, p. 151):

Classificá-lo como procedimento administrativo, entretanto, não significa dizer que não devam ser resguardados, no seu desenrolar, os direitos fundamentais do investigado. A autoridade policial, o magistrado e o Ministério Público, exercendo o controle externo da polícia, devem zelar para que a investigação seja conduzida de forma a evitar, o quanto possível afrontas aos direitos do investigado, sempre com o objetivo de equilibrar o interesse social em que o Estado desvende a prática de uma afronta aos seus bens e interesses mais relevantes com a necessidade de respeitar os direitos e liberdades fundamentais de cada indivíduo[...]

Expondo seu ponto de vista, como veremos não diferente dos demais, Eugênio Pacelli aduz que (2013, p. 53, grifo do autor):

A fase de investigação, portanto, em regra promovida pela polícia judiciária, tem natureza administrativa, sendo realizada anteriormente à provocação penal. Exatamente por isso se fala em fase pré-processual, tratando-se de procedimento tendente ao cabal e completo esclarecimento do caso penal, destinado, pois à formação do convencimento (opinio delicti) do responsável pela acusação[...].

Por conseguinte, a natureza jurídica do inquérito policial é administrativa, ou seja, não se fala em processo e sim procedimento.

2.3 Finalidade

A finalidade do inquérito policial é a busca de prova da materialidade do crime e elementos de convicção acerca da autoria, que embasem a estrutura de uma ação penal, trazendo

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em seu bojo relevantes informações com as quais possa, o titular da ação penal, fundamentar sua peça inicial penal.

Não teria pois, razão de ser investigativo e sustentado como sendo inquisitorial, se não para desvendar a infração penal. Nesse sentido, refere Paulo Rangel (2012, p. 201, grifo nosso) “O inquérito policial, uma vez instaurado, tem como escopo a apuração de infrações penais, delimitando sua autoria, bem como comprovando sua materialidade[...]”.

A busca de informação para o titular da ação penal é tratado com bastante ênfase pelos doutrinadores. Também refere Fernando Capez (2010, p. 112, grifo nosso) “A finalidade do inquérito policial é a apuração de fato que configure infração penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às providencias cautelares.”

Renato Brasileiro de Lima expõe (2014, p. 108, grifo do autor):

A partir do momento em que determinado delito é praticado, surge para o Estado o poder-dever de punir o suposto autor do ilícito. Para que o Estado possa deflagrar a persecução penal em juízo, é indisponível a presença de elementos de informação quanto à autoria e quanto à materialidade de infração penal. De fato, para que se possa dar início a um processo criminal contra alguém, faz-se necessária a presença penal da probabilidade de o acusador ser o seu autor[...]. Daí a importância do inquérito policial, instrumento geralmente usado pelo Estado para a colheita desses elementos de informação, viabilizando o oferecimento da peça acusatória quando houver justa causa para o processo (fumus comissi delicti), mas também contribuindo para que pessoas inocentes não sejam injustamente submetidas às cerimônias degradantes do processo criminal.

Na linha de enfatizar o inquérito policial como um meio de colher provas ou informações, Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 79), expõe o valor probatório como a grande finalidade do inquérito policial:

Como instrução provisória, de caráter inquisitivo, o inquérito policial tem valor informativo para a instauração da competente ação penal. Entretanto, nele se realizam certas provas perícias que, embora praticadas sem a participação do indiciado, contêm em si maior dose de veracidade, visto que nelas preponderam fatores de ordem técnica que, além de mais difíceis de serem deturbadas, oferecem campo para uma apreciação objetiva e segura de suas conclusões.

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Ou seja, a finalidade desse procedimento administrativo, denominado inquérito policial, é a busca de elementos probatórias de provas, que venham dar base a uma ação penal, mantendo assim um viés de investigação frente ao caso que está se buscando solucionar.

2.4 Características do Inquérito Policial

Da análise doutrinária, verifica-se que o inquérito policial possui um rol bastante grande de características, sendo que as principais ou mais conhecidas serão elencadas nessa fase investigativa. Nesse norte, destaca-se o entendimento, de que, malgrado seja mero procedimento administrativo, o inquérito policial tem que ser feito de forma escrita.

Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 78, grifo do autor) destaca:

O inquérito policial é um procedimento escrito, já destinado a fornecer elementos ao titular da ação penal. Dispõe o artigo 9º do CPP “todas as peças inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. Embora não esteja sujeito a formas indeclináveis, como pode servir de base para comprovação da materialidade do delito, a decretação da prisão preventiva etc., exige-se algum rigor formal da peça investigatória nas hipóteses do interrogatório (art. 6º, V), da prisão em flagrante (arts. 304 e ss) etc.

Com a mesma visão de tornar o inquérito policial caracterizado como ato formal e escrito, Paulo Rangel (2012, p. 90):

O Código de Processo Penal exige, como formalidade, que as peças do inquérito policial sejam reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, assinadas pela autoridade. Esta é uma providencia que visa a exigir de uma certa forma que as autoridades policiais acompanhem todas as investigações desenvolvidas pelos seus agentes e documentadas nos autos, evitando, por exemplo, a prática comum e ilegal de escrivães de polícia lavrarem o flagrante e depois o delegado assinar.

Nota-se que o doutrinador citado faz referência na próprio Código de Processo Penal, fortificando sua colocação frente à matéria. Nessa banda, Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 78, grifo do autor) expõe sobre a característica facultativa de existir ou não essa peça investigativa:

As atribuições concedidas à polícia são de caráter discricionário, ou seja, têm elas a faculdade de operar ou deixar de operar, dentro, porém, de um campo cujos limites são fixados estritamente pelo direito. Lícito é, por isso, à autoridade deferir ou indeferir qualquer pedido de prova feito pelo indiciado

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ou ofendido (art. 14), não estando sujeita a autoridade policial à suspeição (art. 107). O ato da polícia é auto-executável pois independe de prévia autorização do Poder Judiciário para a sua concretização jurídica material[...]

Como visto, o inquérito policial não é indispensável para que se ingresse com uma ação penal, apenas age como um norteador basilar, estabelecendo meios de convicção de uma possível veracidade do acontecimento telado.

No primeiro capítulo deste trabalho, foram conceituadas e estudadas as formas de sistemas processuais penais, razão está que uma das características do inquérito policial é sua forma inquisitiva. Nesse sentido, aduz Fernando Capez (2010, p. 117):

Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades persecutórias concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual, por isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer que seja, podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da sua autoria. É característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade da ação penal[...]

Também se destaca como característica do inquérito policial sua oficialidade, isso é de importância porquanto prestigia o trabalho feito pelas autoridades competentes, não dando margem para que este tipo de procedimento seja passível de delegação. Tal evidencia é demostrada por Norberto Avena (2012, p. 154):

Trata-se de investigação que deve ser realizada por autoridades e agentes integrantes dos quadros públicos, sendo vedada a delegação da atividade investigatória a particulares, inclusive por força da própria Constituição Federal. A propósito, dispõe o art. 144 § 4.º, dessa Carta que “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”[...]

Ao analisar a Constituição Federal e o Código de Processo Penal, tem-se como regra a publicidade dos atos no mundo jurídico, entretanto uma das características do inquérito policial importa exceção à regra citada. Nesse sentido, refere Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 116):

Portanto, por natureza, o inquérito policial está sob a égide do segredo externo, nos termos do art. 20 do Código de Processo Penal, que dispõe que a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. A importância da preservação desse sigilo

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nas investigações é destacada pela previsão de tipos penais pertinentes à quebra desse sigilo[...]

Uma característica, também estabelecida no Código de Processo Penal, é de destaque no inquérito policial. O artigo 17, do CPP, relata que “a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito policial”. Refere-se à característica da indisponibilidade, nos seguintes termos, Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 116):

Diante da notícia de uma infração penal, o Delegado de Polícia não está obrigado a instaurador o inquérito policial, devendo antes verificar a procedência das informações, assim como aferir a própria tipicidade da conduta noticiada. Porém uma vez determinada a instauração do inquérito policial o arquivamento dos autos somente será possível a partir do pedido formulado pelo titular da ação penal, com ulterior a apreciação pela autoridade policial conclua pela atipicidade da conduta investigada, não poderá determinar o arquivamento do inquérito policial.

A oficiosidade que é tratada como uma das principais características do inquérito policial, é assim conceituada por Norberto Avena (2012, p. 154, grifo do autor):

Ressalvadas as hipóteses de crimes de ação penal pública condicionada à representação e dos delitos de ação penal privada, o inquérito policial deve ser instaurado ex officio (independente de provocação) pela autoridade policial sempre que tiver conhecimento da prática de um delito (art. 5.º, I, do CPP). Observa-se, por oportuno, que a instauração do inquérito policial justifica-se diante da notícia quanto à ocorrência de uma infração penal, como tal considerada o fato típico. Desimportam, assim, aspectos outros, como, por exemplo, eventuais evidencias de ter sido o fato praticado ao abrigo de causas excludentes de ilicitudes ou de culpabilidade. Aliás, a respeito dessas questões, sequer no relatório, ao final do inquérito, franqueia-se o ingresso da autoridade policial, cabendo-lhe simplesmente relatar as diligências investigatórias realizadas e apontar a tipificação do fato apurado, se houver esse enquadramento.

Por conseguinte, foi elencado um rol exemplificativo de características do inquérito policial, as quais foram conceituadas nas visões dos doutrinadores e estudiosos desse tema.

2.5 Diligências investigatórias do Inquérito Policial e o princípio do contraditório e da ampla defesa

O inquérito policial é um procedimento considerado investigatório, colhedor de informações para o ajuizamento da ação, portanto, é através de diligências que se buscam as devidas informações do inquérito. Nesse sentido, Fernando Capez afirma (2010, p. 127):

(30)

Embora o inquérito policial seja um procedimento de difícil ritualização, porquanto não tenha uma ordem prefixada para prática dos atos, o art. 6º do Código de Processo Penal indica algumas providências que, de regra deverão ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e da sua autoria.

Frente as palavras de Capez, as quais nos leva aos artigos 6º e 7º, do Código de Processo Penal:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV – ouvir ofendido; V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura; VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. X – colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.

Destaca-se mencionar os tipos de diligências elencadas no texto legal. Sobre a preservação do local do crime, afirma Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 126):

Como se percebe, essa preservação do local do crime tem um objetivo precípuo: preservar os vestígios deixados pela infração penal (corpo de delito), a fim de não prejudicar o trabalho a ser desenvolvido pelos peritos criminais. Um dos requisitos básicos para que os peritos criminais possam realizar um exame pericial satisfatório é que o local esteja adequadamente isolado e preservado, a fim de que não se perca qualquer vestígio que tenha sido produzido pelos sujeitos ativos na cena do crime.

A preservação do local do crime está consubstanciada como a primeira diligencia investigatória, visto que é de grande relevância para o trabalho de perícias criminais. A

(31)

apreensão dos objetos está constituída como a segunda diligência do Código de Processo Penal, acerca dela Aury Lopes Jr. (2012, p. 313) assevera que:

Entre os efeitos jurídicos do inquérito policial está o de gerar uma sujeição de pessoas e coisas. A apreensão dos instrumentos utilizados para cometer o delito, bem como dos demais objetos relacionados direta ou indiretamente com os motivos, meios ou resultados da conduta delituosa, é imprescindível para o esclarecimento do fato. Da sua importância probatória decorre ainda a obrigatoriedade de que esses objetos acompanhem os autos do inquérito (art. 11). Também é importante que se fixe, com exatidão, o lugar onde foram achados, com as circunstancias em que se verificou o encontro[...]

A terceira diligência prevista no art. 6º, do CPP, é a colheita de demais provas que servirem para o esclarecimento dos fatos, o que é uma retomada dos dois elementos citados, como forma de preencher discricionariamente outros meios que a autoridade policial achar convincente para elucidação da materialidade.

Outra diligência prevista é a oitiva do indiciado, lembrando que ele tem o direito de permanecer em silêncio, porquanto não é obrigado a produzir provas contra si mesmo, devendo ser advertido desse direito pela autoridade policial no momento de seu interrogatório.

Considerando que o inquérito policial tem natureza inquisitorial, e o suspeito é tratado como simples objeto da investigação, ao se referir sobre a questão da presença do advogado no interrogatório policial, Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 129, grifo do autor) afirma:

A presença de advogado quando do interrogatório policial pode até ser admitida pela autoridade policial, mas daí não se pode concluir que sua presença seja obrigatória e imprescindível. É bem verdade que a realização do interrogatório na fase judicial demanda a presença de defensor, que inclusive terá o direito de se entrevistar prévia e reservadamente com seu cliente antes da realização do ato processual (CPP, art. 185, com redação determinada pela

Lei nº 10.792/2003). No entanto, em se tratando de interrogatório feito

em sede policial, o art. 6º, inciso V, do Código de Processo Penal, estabelece que a autoridade policial deve ouvir o indiciado, com observância no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, do Livro I, do CPP (‘Do interrogatório do acusado’). Assim, tendo-se em conta que o interrogatório policial possui natureza inquisitorial, não se faz necessária a presença de advogado quando da oitiva do indiciado em sede de investigação preliminar.

(32)

Ainda, outra diligência estabelecida no texto legal é a de determinar, se for o caso, a realização do exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias. Nesse contexto, afirma Norberto Avena (2012, p. 169, grifo do autor):

É fundamental que determine a autoridade policial a realização do exame de corpo de delito sempre que a infração deixar vestígios – homicídio, estupro,

rompimento de obstáculo à subtração da coisa etc. Lembre-se de que, nessa

ordem de delitos, este exame apresenta, como regra, o caráter de obrigatoriedade, não podendo substitui-lo a confissão do acusado (art. 158 do CPP). Entretanto, poderá ser suprido pela prova testemunhal quando o vestígio desaparecer, nos termos do art. 167 do CPP (o corpo da vítima foi queimado pelo criminoso, por exemplo).

Ao se referir em contraditório e ampla defesa, destaca-se a conceituação desses princípios na obra de Aury Lopes Jr. (2012, p. 242):

Assim o contraditório é, essencialmente, o direito de ser informado e de participar do processo. É o conhecimento completo da acusação, o direito de saber o que está ocorrendo no processo, de ser comunicado de todos os atos processuais. Como regra, não pode haver segredo (antítese) para a defesa, sob pena de violação ao contraditório.

Contudo, o princípio do contraditório e da ampla defesa, apenas é reconhecido na fase processual, não sendo usado na fase investigativa do inquérito policial. Tal razão é devido ao tipo de sistema processual usado no inquérito policial, sistema inquisitivo conforme visto no primeiro Capítulo.

Diante disso, relata Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 43, grifo nosso):

Indispensável em qualquer instrução criminal, o princípio do contraditório não se aplica ao inquérito policial que não é, em sentido estrito, “instrução”, mas colheita de elementos que possibilitem a instauração do processo. A constituição Federal apenas assegura o contraditório na “instrução do processo. A Constituição Federal apenas assegura o contraditório na “instrução criminal” e o vigente Código de Processo Penal distingue perfeitamente esta (arts. 394 e 405) do inquérito policial (arts. 4º a 23), como, aliás, ocorre na maioria das legislações modernas.

Assim, é indiscutível o posicionamento trazido pelo doutrinador ao relatar que o inquérito policial é fase inquisitória não possibilitando o contraditório em seu meio. Consequentemente, o contraditório no inquérito não é possível, sendo disponibilizando sua defesa na fase acusatória, conforme ensina Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 56):

(33)

O contraditório sobre a prova, também conhecido como contraditório diferido ou postergado, traduz-se no reconhecimento da atuação do contraditório após a formação da prova. Em outras palavras, a observância do contraditório é feita posteriormente, dando-se oportunidade ao acusado e a seu defensor de, no curso do processo, contestar a providência cautelar, ou de combater a prova pericialmente feita no curso do inquérito.

Logo, o inquérito policial é conhecido pelo seu sistema processual inquisitivo, o qual dispensa o contraditório e a ampla defesa, tal fato é evidente no meio dos estudiosos, entretanto existem exceções, conforme relata Norberto Avena (2012, p. 37):

Questão bastante debatida entre os doutrinadores refere-se à necessidade ou não, no atual modelo constitucional, de assegurar o contraditório em sede de inquérito policial. Pensamos na esteira da imensa maioria doutrinária e jurisprudencial, que, em regra, descabe o contraditório na fase do inquérito, pois se trata de procedimento inquisitorial, destinados à produção de provas que sustentem o ajuizamento de ação criminal. Diz-se “em regra” porque existe uma exceção na qual se contempla essa garantia também na fase do inquérito: trata-se do procedimento instaurado pela Polícia Federal à vista de determinação do Ministro da Justiça, objetivando a expulsão de estrangeiro [...]

Por conseguinte, ratifica as palavras, Fernando Capez (2010, p. 117) “O único inquérito que admite o contraditório é o instaurado pela Polícia Federal, a pedido do Ministro da Justiça, visado à expulsão de estrangeiro”. Donde, os relatos evidentes desses doutrinadores nos impulsiona a um norte indiscutível sobre o contraditório e a ampla defesa no sistema inquisitivo do inquérito policial, ratificando o consubstanciado em lei de que tais princípios são de uso na fase acusatória e não investigativa.

Além das diligencias até aqui destacadas, tem-se como outras formas a identificação do acusado e a averiguação da sua vida pregressa, buscando nesse última colocação o ponto de vista de uma visão do investigado em âmbito individual, social e também familiar.

Relata Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 132):

Incumbe também à autoridade policial averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

(34)

E por último, contudo não menos importante, a reconstituição dos fatos desde que não venha contrariar a ordem pública e a moralidade. Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 132, grifo nosso):

Por fim, dispõe o art. 7º do CPP que, a fim de verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública (por exemplo, crime contra a dignidade sexual).

Encerra-se o tópico de diligências a serem prestadas pelas autoridades competentes na fase investigativa do inquérito policial, concluindo de forma concisa a importância das averiguações na fase inquisitiva dos fatos, lembrando-se que o rol de diligências expostas no artigo supracitado não é taxativo.

2.6 Destinatário da prova produzida no inquérito policial

O inquérito policial, como visto, é usado para angariar provas em sua fase investigativa, razão pela qual, após concluída sua etapa, ele deve ser encaminhado ao órgão competente, seu destinatário o qual tomará as providencias cabíveis.

Sabendo que o inquérito policial destina-se à autoridade competente, destaca-se qual é o órgão competente para o recebimento do inquérito policial. Nesse norte, relata Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 148) “Pela leitura do art. 10, §1º, do CPP, percebe-se que, uma vez concluída a investigação policial os autos do inquérito policial devem ser encaminhados primeiramente ao Poder Judiciário, e somente depois ao Ministério Público”.

No mesmo sentido, afirma Edilson Mougenot Bonfim (2014, p. 175):

Concluída a investigação, nos crimes em que a ação depender de iniciativa privada, os autos do inquérito policial serão remetidos ao juízo competente. Após os registros de praxe, o juiz abrirá vista ao Ministério Público, que verificará a natureza da ação penal (pública ou privada). Em sendo privada, requererá que os autos aguardem a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal. Os autos poderão, ainda, ser entregues ao titular da ação penal, a seu pedido, mediante traslado (art. 19 do Código de Processo Penal), cabendo-lhe, segundo seu livre juízo de conveniência e oportunidade, ajuizar ou não a ação penal.

(35)

Portanto o Poder Judiciário é o órgão legitimado para o recebimento do inquérito policial, após remeterá ao titular da ação para que tome, se assim entender, as providencias cabíveis.

Finaliza-se assim, o tópico do inquérito policial, onde foi analisado o conceito por parte da doutrina, características, natureza jurídica, sua finalidade e diligências a serem tomadas por parte da autoridade policial competente e por fim o destino de toda a investigação policial, buscando com isso explicar a forma administrativa das provas inquisitivas diferenciando-as das provas do processo que serão abordadas no próximo tópico.

3 VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL NA FORMAÇÃO DA CONVICÇÃO DO JULGADOR

O inquérito policial como já visto é conceituado como procedimento administrativo relacionado ao sistema inquisitorial. Nesse tópico, será visto um pouco das provas já no procedimento judicial, as quais tem força de embasar a decisão do julgador, seja este o magistrado ou tribunal de júri.

Logo, faz-se necessário entender um pouco mais sobre a fase judicial, no contexto de suas provas. Refere-se Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 256, grifo do autor):

Para que o juiz declare a existência da responsabilidade criminal e imponha sanção penal a uma determinada pessoa é necessário que adquira a certeza de que se foi cometido um ilícito penal e que seja ela a autora. Para isso deve convencer-se de que são verdadeiros determinados fatos, chegando à verdade quando a ideia que forma em sua mente se ajusta perfeitamente com a realidade dos fatos. Da apuração dessa trata a instrução, fase do processo em que as partes procuram demonstrar o que objetivam, sobretudo para demonstrar ao juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e das circunstância que possam influir no julgamento da responsabilidade e na individualização das penas. Essa demonstração que deve gerar no juiz a convicção de que necessita para o seu pronunciamento é o que constitui a prova. Nesse sentido, ela se constitui em atividade probatória, isto é, no conjunto de atos praticados pelas partes, por terceiros (testemunhas, peritos etc.) e até pelo juiz para averiguar a verdade e formar a convicção deste último.

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