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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

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Academic year: 2021

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Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT

E

STUDO DA

C

OMPETITIVIDADE

DA

I

NDÚSTRIA

B

RASILEIRA

_____________________________________________________________________________________________ COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE MÓVEIS DE MADEIRA

Nota Técnica Setorial

O conteúdo deste documento é de exclusiva responsabilidade da equipe técnica do Consórcio. Não representa a opinião do Governo Federal.

Campinas, 1993

Documento elaborado pelo consultor Armênio de Souza Rangel (FEA/USP).

A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos (FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.

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CONSÓRCIO

Comissão de Coordenação

INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ

FUNDAÇÃO DOM CABRAL

FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR

Instituições Associadas

SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY

INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA

DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

Instituições Subcontratadas

INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE ERNST & YOUNG, SOTEC

COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH

Instituição Gestora

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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA

Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)

João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)

Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)

Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)

Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)

Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)

Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)

João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)

Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)

David Kupfer (UFRJ-IEI)

Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)

Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)

Contratado por:

Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT

COMISSÃO DE SUPERVISÃO

O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:

João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES) Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)

Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES) Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)

Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT) Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)

Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES) Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE) Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP) José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)

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RESUMO EXECUTIVO ... 1

APRESENTAÇÃO ... 21

1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS... 24

1.1. Introdução ... 24

1.2. Principais Mercados Consumidores... 24

1.3. Principais Países Exportadores... 25

1.4. Organização da Indústria de Móveis nos Principais Países Exportadores ... 29

1.5. Principais Tendências Tecnológicas Internacionais ... 30

1.6. Fatores Básicos da Competitividade a Nível Internacional ... 31

2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÓVEIS ... 33

2.1. Introdução ... 33

2.2. Desempenho Recente da Indústria de Móveis... 34

2.2.1. Comportamento recente do mercado, do produto e do emprego... 34

2.2.2. Organização industrial... 37

2.2.3. Localização regional ... 40

2.2.4. Comércio exterior ... 41

2.3. Capacitação Gerencial, Comercial, Produtiva e Tecnológica das Empresas Líderes ... 46

2.3.1. Introdução ... 46

2.3.2. Processos produtivos, organização industrial e matérias-primas... 47

2.3.3. Grau de atualização tecnológica, máquinas e equipamentos ... 49

2.3.4. Design, P&D e marca... 50

2.3.5. Gestão da qualidade ... 52

2.3.6. Capacidade gerencial, mão-de-obra e métodos de trabalho ... 52

2.3.7. Formas de comercialização ... 53

2.4. Investimento e Estratégias Empresariais... 54

2.5. Obstáculos e Oportunidades para o Aumento da Competitividade ... 55

3. RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICA... 58

3.1. Introdução ... 58

3.2. Política de Reestruturação Empresarial ... 58

3.3. Política de Modernização Produtiva ... 60

3.4. Política Relacionada aos Fatores Sistêmicos... 63

4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE... 64

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RELAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS... 67

RELAÇÃO DE SIGLAS E ABREVIATURAS ... 69

ANEXO 1: APÊNDICE ESTATÍSTICO ... 71

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RESUMO EXECUTIVO

1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DA COMPETITIVIDADE

1.1. Características Estruturais

A indústria moveleira apresenta um padrão homogêneo a nível internacional. Trata-se de um indústria extremamente fragmentada caracterizada pela pequena participação no valor adicionado pela indústria de transformação e pela grande absorção de mão-de-obra relativamente aos demais segmentos da indústria.

A nível internacional tem se desenvolvido um padrão de organização da indústria de móveis com reduzida verticalização da produção o que tem possibilitado uma maior especialização em cada uma das etapas do processo de produção. No caso da Itália, as maiores empresas dedicam-se, primordialmente, à montagem e ao acabamento de móveis a partir de peças e componentes produzidos por um grande número de pequenas empresas que trabalham em regime de subcontratação. Há, no total, cerca de 33.000 empresas que, em sua imensa maioria, empregam menos de 10 pessoas. Poucas são as empresas com mais de 500 empregados. Já na Alemanha, o padrão de organização industrial não é tão pulverizado e desverticalizado. Cerca de 1200 empresas trabalham junto a mais de 2000 pequenas oficinas especializadas. O sucesso de Taiwan deve-se, em grande medida, também a uma reduzida verticalização da produção. Este novo modelo industrial contrasta fortemente com a indústria de móveis tradicional em que cada unidade produtiva congrega inúmeros processos de produção e obtém uma multiplicidade de produtos.

A indústria de móveis é uma indústria tradicional, com tecnologia de produção consolidada e bastante difundida e cujo padrão de desenvolvimento tecnológico é determinado pela indústria de bens de capital. Este fato permite um acesso irrestrito para qualquer país às mais modernas máquinas e equipamentos. As mudanças no processo de produção são incrementais, não havendo alterações radicais que possam nodificar de forma brusca a posição competitiva dos diversos países.

A grande mudança técnica ocorrida recentemente foi a substituição de máquinas e equipamentos eletromecânicos por máquinas e equipamentos com dispositivos microeletrônicos. Esta mudança tem permitido um controle mais eficaz do processo produtivo, uma melhor qualidade dos produtos e uma maior flexibilidade da produção. As máquinas com dispositivos microeletrônicos oferecem uma grande vantagem nos processos de produção flexíveis. Contudo,

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em processos de produção seriados - obtenção de poucos produtos de uma única linha de produção - as máquinas convencionais equiparam-se às mais modernas, podendo conviver ao lado de máquinas de última geração sem prejuízo para o processo como um todo. O investimento é, portanto, divisível permitindo um processo de modernização por etapas.

A dinâmica das inovações tecnológicas na indústria de móveis de madeira origina-se, basicamente, das inovações de produto pelo aprimoramento do design e pela utilização de novos materiais. No caso de novos materiais, as mudanças são, também, exógenas. No segmento de móveis retilínios, por exemplo, grande parte das inovações originaram-se da utilização de novas chapas de aglomerado com novos revestimentos introduzidos pela indústria de madeira aglomerada. Resta-lhe, portanto, como fator próprio de inovação, o design, ou seja, as inovações de produto. Neste aspecto, a utilização do sistema CAD - Computer Aided Design - tem permitido um aprimoramento do design e uma maior flexibilidade de modelos.

Os principais mercados consumidores de móveis encontram-se nos países desenvolvidos. O mercado dos sete maiores consumidores - EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Espanha - pode ser estimado em US$ 85 bilhões para o ano de 1988. Os EUA lideram o consumo de móveis com cerca de 40% desse total, seguido de Japão (16%) e Alemanha (12%). Os países mais dependentes de importações de móveis são França (18,4%), Inglaterra (13,6%) e EUA (11,2%). Para o Japão, o grau de dependência externa é de somente 2,6%. Alemanha, Itália e Espanha são exportadores líquidos de móveis.

O comércio exterior de móveis desenvolveu-se de forma significativa nas últimas três décadas. O país pioneiro nas exportações de móveis foi a Dinamarca nas décadas de 50 e 60. Posteriormente, já na década de 70, a Itália passou a exercer a liderança nas exportações de móveis seguida de perto pela Alemanha. O comércio internacional de móveis tem se restringido, basicamente, ao intercâmbio entre os principais países desenvolvidos. Para o ano de 1988, cerca de 80% das exportações e 85% das importações de móveis ficaram restritas a 14 países desenvolvidos. Na medida em que as grandes reservas florestais encontram-se nos países em desenvolvimento, conclui-se pela funcionalidade para os países desenvolvidos das exportações de madeira bruta por parte dos países em desenvolvimento. Para o ano de 1988, as exportações mundiais atingiram US$ 22,1 bilhões. A Itália foi responsável por 18,6% das exportações totais, a Alemanha por 18,0% e Taiwan por 7,7%. A liderança mundial é exercida pela Itália: suas exportações líquidas atingiram US$ 3,75 bilhões.

Tradicionalmente circunscrito aos países desenvolvidos, o mercado mundial de móveis tem sido invadido, nos últimos anos, pelas crescentes exportações de alguns países em desenvolvimento, destacando-se Taiwan com exportações crescentes para os EUA e para os países da CEE. Outros países asiáticos, como Filipinas, Coréia, Tailândia e Hong Kong, embora

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em escala bem menor, têm intensificado suas exportações de móveis para os países desenvolvidos. Atualmente, as exportações dos países em desenvolvimento podem ser estimadas em torno de 15,0% das exportações mundiais.

Os móveis de madeira constituem-se no principal segmento do comércio internacional de móveis. No ano de 1988, estas exportações representaram, aproximadamente, 35,5% do total. Em segundo lugar, situaram-se as exportações de cadeiras e assentos com uma participação de 28,8%. Ambos os segmentos perfazem uma participação total de 64,3% nas exportações mundiais.

1.2. Fatores Determinantes da Competitividade Internacional

Os fatores básicos da competitividade a nível internacional podem ser resumidos em quatro pontos básicos: tecnologia, especialização da produção, design e estratégias comerciais. Os países desenvolvidos carentes de matéria-prima e com elevados custos de mão-de-obra buscaram superar estas dificuldades promovendo uma maior racionalização do processo produtivo. O sucesso da Itália e da Alemanha, deve-se, também, ao fato de que a indústria de máquinas e equipamentos para a indústria de móveis nestes países é a mais avançada a nível mundial. Esta integração entre a indústria de móveis e a indústria de máquinas permite um processo permanente de atualização da base técnica da indústria de móveis a custos menores do que em outros países.

Contudo, este sucesso competitivo depende, também, das exportações de madeira bruta por parte dos países em desenvolvimento. Até há bem pouco tempo, estes cumpriam a função de exportar madeira bruta sem participar no comércio internacional de móveis. Mais recentemente, alguns países asiáticos - Indonésia, Filipinas - proibiram as exportações de madeira bruta para reforçar sua posição competitiva nas exportações para os países desenvolvidos.

No caso da Itália, deve-se destacar a força de sua escola de design que consegue determinar o padrão de consumo em outros países. É muito difícil, contudo, constituir uma escola própria de design. É possível, entretanto, sustentar, numa primeira etapa, uma forte posição competitiva a nível internacional sem uma posição de liderança no design pois, na maioria das vezes, o design é determinado pelos comerciantes importadores, como ocorre no caso das exportações de Taiwan para os EUA.

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2. COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MÓVEIS

2.1. Diagnóstico da Competitividade - Desempenho, Estratégias Capacitação

Há uma sistemática perda de importância da indústria de móveis relativamente ao conjunto da indústria de transformação. No ano de 1970, a participação da indústria de móveis no total do valor adicionado pela indústria de transformação foi de 2,0%. Em 1980, esta participação havia declinado para 1,7% e, em 1990, para 1,1%. Esta perda de importância acentuou-se ao longo dos anos 80. Até o ano de 1980, a indústria de móveis acompanhou, apesar do ritmo menos acentuado, a tendência geral do crescimento industrial (Gráfico 1).

GRÁFICO 1

EVOLUÇÃO DO PRODUTO REAL NA INDÚSTRIA DE MÓVEIS E DE TRANSFORMAÇÃO 50 100 150 200 250 300 1970 1975 1980 1985 1990

Ind. Transformação Móveis

(Base 1970 = 100)

Fonte: FIBGE

A indústria de móveis parece, portanto, ter sido afetada de forma particular pelos ciclos de crescimento e recessão que caracterizaram a economia brasileira nos anos 80. Foi somente no ano de 1986, diante do grande crescimento da demanda interna que acompanhou o Plano Cruzado, que o nível de produção sobrepujou o nível de 1980. Em todos os demais anos, o nível de produção esteve abaixo daquele nível revelando, portanto, as grandes dificuldades atravessados por esta indústria ao longo dos anos 80.

A indústria brasileira de móveis caracteriza-se, da mesma forma que nos demais países, pela grande absorção de mão-de-obra relativamente aos demais segmentos do setor industrial e pela pequena participação no valor adicionado pela indústria de transformação. Trata-se de um

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setor intensivo em trabalho e que agrega pouco valor por unidade de mão-de-obra. Em 1985 a participação da indústria de móveis no emprego industrial total brasileiro foi de 6,7% enquanto no valor adicionado foi de apenas 1,4%. É uma indústria em que predominam pequenas e médias empresas havendo poucas empresas de grande porte. Inclui-se, também, uma infinidade de pequenas empresas de caráter tipicamente artesanal.

Dentre os vários segmentos que compõem a indústria de móveis, os segmentos de móveis de madeira para residência e para escritório são os mais importantes. Destes dois segmentos, o mais importante é o de móveis residenciais: reúne 77,5% do total de estabelecimentos, 73,5% do total de empregados e 65,5% do valor adicionado total, de acordo com o Censo Industrial de 1985. O segmento de móveis para escritório reúne 6,9% do total de estabelecimentos, 9,1% do pessoal ocupado e 12,6% do valor adicionado total.

O segmento de móveis residenciais caracteriza-se pela presença de uma infinidade de empresas, apresenta um menor número médio de trabalhadores por empresa e um menor valor agregado por trabalhador em relação ao segmento de móveis para escritório; ou seja, a grande presença de pequenas empresas localiza-se no segmento de móveis residenciais. Este fato explica-se pela menor complexidade do processo produtivo que reduz as barreiras às entrada neste segmento da indústria de móveis.

O segmento de móveis de madeira para residência pode ser subdividido nas seguintes categorias: móveis retilínios seriados, móveis torneados seriados e móveis sob medida. A presença de pequenas e microempresas localiza-se, primordialmente, no segmento de móveis sob medida que, em geral, são marcenarias que atendem a pedidos individuais e específicos. Contudo, estas pequenas empresas fazem-se presentes, também, no segmento de móveis torneados. Já no segmento de móveis retilínios sua presença é mais difícil pelas dificuldades de concorrência com as maiores empresas que atuam neste segmento e que produzem em grande escala para atingir um amplo mercado. Além disso, as pequenas empresas encontram dificuldades para a aquisição regular de madeira aglomerada.

Já o segmento de móveis de escritório pode ser segmentado em dois setores: móveis para escritório sob encomenda e móveis para escritório seriados. Devido à maior complexidade do processo de produção que envolve, principalmente, o trabalho de marcenaria, metalurgia e tapeçaria, além do projeto de instalação no caso dos móveis sob encomenda, não há espaço para uma presença mais significativa de micro e pequenas empresas neste segmento. Além disso, grande parte do mercado de móveis de escritório sob encomenda é constituído por empresas públicas que só compram através de licitação o que dificulta, também, o acesso à pequena empresa.

Em geral, a característica básica da organização industrial do setor é a grande verticalização do processo produtivo. Numa mesma unidade fabril convivem inúmeros processos tecnológicos dos quais se obtém uma grande variedade de produtos. Trata-se, portanto, de um

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modelo industrial radicalmente distinto de países como a Itália. Esta característica deriva, em grande medida, de um mecanismo de defesa das empresas do setor que visam assegurar o fornecimento e a qualidade dos seus produtos.

Apesar de ser uma indústria dispersa por todo o território nacional, a indústria brasileira de móveis localiza-se, principalmente, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina onde estão concentrados 68,5% do valor adicionado total e 39,8% do emprego total. No estado de São Paulo, a indústria de móveis é extremamente dispersa, espalhando-se pela capital e pelo interior. Já no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, ela organiza-se em torno de dois pólos industriais moveleiros: Flores da Cunha e Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul e São Bento do Sul em Santa Catarina. Este fato, confere a estes dois estados vantagens comparativas significativas relativamente aos demais estados da federação. Estes dois pólos industriais são responsáveis pela maior parte das exportações brasileiras de móveis de madeira.

Além disso, há uma diferenciação acentuada entre estas três regiões quanto aos tipos de móveis que fabricam. Em São Paulo, encontram-se presentes todos os segmentos da indústria do mobiliário, não havendo uma especialização regional marcante. Em particular, aí se localizam as principais empresas brasileiras fabricantes de móveis para escritório sob encomenda. Já no Rio Grande do Sul, há uma maior especialização na fabricação de móveis retilínios seriados de madeira aglomerada. Contudo, a produção de móveis torneados de madeira assume, também, uma grande importância. Em Santa Catarina, predomina a fabricação de móveis torneados de madeira.

O mercado de móveis no Brasil - madeira, vime, junco, metal e plástico - pode ser estimado em torno de US$ 1,79 bilhões para o ano de 1985. Há uma preferência nítida do consumidor brasileiro por móveis de madeira em detrimento de móveis elaborados com outras matérias-primas como o metal e o plástico. O segmento mais importante é o de móveis de madeira que representa, pelo menos, 78,9% do mercado total de móveis, ou seja, US$ 1,4 bilhões. O segmentos de móveis de madeira para residência e para escritório atingem, pelo menos, a US$ 1,22 bilhões e a US$ 191 milhões, respectivamente. O restante do mercado de móveis de madeira refere-se aos armários embutidos de madeira, móveis para rádios e televisores e componentes diversos.

Apesar de possuir algumas vantagens comparativas significativas em relação aos principais países exportadores - matéria-prima e mão-de-obra barata -, a indústria brasileira de móveis ocupa posição pouco relevante no comércio mundial de móveis. O grande crescimento observado no comércio internacional de móveis dos últimos 20 anos não foi acompanhado pelas empresas brasileiras. Em parte, isto se deve ao ciclo de modernização ocorrido nesta indústria e, em decorrência, às estratégias comerciais adotadas pelas empresas brasileiras. Na década de 70, muitas empresas se modernizaram ao mesmo tempo em que se deu um grande crescimento do

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mercado interno de móveis. Em decorrência, as empresas destinaram sua produção a atender, primordialmente, o mercado interno em rápida expansão e menosprezaram as vendas externas. Com a retração dos anos 80, as empresas se depararam com uma redução do mercado interno, com dificuldades para modernizar suas instalações industriais e, em decorrência, tornaram-se incapazes de sustentar uma posição mais agressiva e competitiva no mercado mundial. Somente as empresas mais modernas perseguiram e conseguiram direcionar parcela de sua produção para o mercado externo. Foi somente na década de 80 que as vendas para o mercado externo foram incorporadas às estratégias comerciais de muitas empresas.

De 1970 a 1980, as exportações brasileiras atingiram US$ 144,7 milhões com uma média anual de US$ 13,2 milhões. Já no período de 1981 a 1990, as exportações elevaram-se a US$ 365,3 milhões com uma média anual de US$ 36,5 milhões. Houve um crescimento de 176,5% nas exportações médias anuais num período de significativa redução do crescimento interno. Este crescimento das exportações é extremamente significativo após o ano de 1986: as exportações médias, no período de 1987 a 1990, atingiram US$ 47,2 milhões (dados correspondentes ao capítulo 94 da NBM). As exportações de móveis de madeira atingiram uma média de pelo menos US$ 22,3 milhões no período de 1989 a 1991 e constituem-se no principal item das exportações brasileiras.

Apesar das exportações insignificantes, a indústria de móveis de madeira possui um potencial de exportação muito grande, principalmente no segmento de móveis torneados de madeira - dormitórios, salas de jantar etc. Mais recentemente, devido às mudanças ocorridas na Europa Oriental, muitas empresas brasileiras passaram a exportar móveis de madeira maciça de

Pinus para os países europeus, onde existe uma tradição estabelecida no consumo deste tipo de

madeira.

Já no segmento de móveis retilínios de madeira, o potencial de exportação é muito pequeno devido ao elevado preço alcançado no mercado interno pela madeira aglomerada, sua principal matéria-prima. Mesmo possuindo plantas industriais razoavelmente modernas, as exportações deste segmento são insignificantes. No segmento de móveis para escritório, as exportações são, também, muito pequenas. Em geral, são móveis que envolvem uma maior densidade tecnológica - reunião da marcenaria, metalurgia e tapeçaria. Neste segmento, a desatualização tecnológica das empresas brasileiras é mais acentuada.

As exportações de madeira atingiram, no período de 1989 a 1991, uma média anual de US$ 425,9 milhões. Os principais itens das exportações brasileiras são, por ordem decrescente de importância, a madeira serrada (33,6%), a madeira compensada (24,3%), os painéis de fibra (18,1%) e a madeira folheada (7,6%). No total, estes itens totalizam 83,6% do total das exportações de madeira. As exportações de madeira serrada e folheada atingiram US$ 175,3

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milhões que representa 41,2% do total. Quase que a totalidade destas exportações são constituídas de madeiras de lei: mogno, virola, araucária e jatobá. Nas exportações de madeira folheada, predominam o mogno, o carvalho e a imbuia. O mogno é a principal espécie exportada. Suas exportações atingiram US$ 58,2 milhões que representa 33,2% do total das exportações de madeira serrada e folheada.

Se o total das exportações de madeira serrada e folheada fosse internalizado e utilizado na produção de móveis, as exportações da indústria moveleira poderiam elevar-se substantivamente em relação ao volume atual. Para que se tenha noção da irrelevância das exportações de móveis, basta mencionar que as exportações de móveis de madeira atingiram uma média de aproximadamente US$ 22,3 milhões no período de 1989 a 1991. Ou seja, exporta-se oito vezes mais madeira bruta do que móveis.

Estas exportações de madeiras de lei constituem uma fonte importante de competitividade da indústria de móveis nos principais países desenvolvidos. Alguns países asiáticos que, mais recentemente, passaram a exportar móveis para os países desenvolvidos, adotaram inúmeras medidas proibindo suas exportações de madeira bruta, como é o caso da Indonésia e Filipinas, como forma de reter esta importante fonte de competitividade. Já que não contam com uma indústria de máquinas e equipamentos moderna como na Itália e Alemanha, estes países procuraram homogeneizar a concorrência elevando o custo de importação de madeira bruta pelos países desenvolvidos.

Diversamente de outros países como a Itália, as empresas líderes da indústria de móveis no Brasil possuem grandes plantas industriais verticalizadas. No segmento de móveis torneados, numa mesma planta industrial, reunem-se inúmeras etapas de um mesmo processo produtivo e produzem-se inúmeras linhas de produtos - salas de jantar, dormitórios, cozinhas etc - com diferentes tipos e padrões dentro de uma mesma linha de produtos. Em geral, são móveis de alta qualidade e com um maior número de detalhes de acabamento que se destinam aos segmentos da população de maior renda. A matéria-prima básica é a madeira aglomerada em conjugação com a madeira maciça que é usada em determinadas partes ou em detalhes de acabamento. No caso da madeira de Pinus, geralmente destinado à exportação, os móveis são integralmente maciços. Em geral, numa mesma planta industrial reúnem-se as etapas de secagem, processamento secundário, usinagem, acabamento, montagem e embalagem. Muitas das empresas possuem, inclusive, plantios próprios de Pinus.

No segmento de móveis retilínios, há um grau de especialização muito maior. São móveis menos complexos com faces retas sem detalhes sofisticados de acabamento e que se destinam à população de renda média. A matéria-prima utilizada é a madeira aglomerada. Em decorrência, são móveis que envolvem um processo de produção bem mais simplificado, envolvendo poucas

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etapas: corte dos painéis, usinagem e embalagem. Recentemente, muitas empresas eliminaram a etapa de acabamento e montagem. Os painéis de madeira aglomerada já são obtidos com revestimento de melamina e, por se tratar de móveis modulares componíveis, a montagem é, quase sempre, transferida para a etapa de comercialização.

No segmento de móveis para escritório sob encomenda os produtos são bem menos diversificados e bem mais complexos tecnologicamente. Em geral, os móveis para escritório reúnem mesas e cadeiras giratórias. Em decorrência, o produto final é o resultado da conjugação do trabalho de marcenaria, metalurgia, tapeçaria, injeção de poliuretano, acabamento, montagem e embalagem. Todas estes diferentes processos tecnológicos encontram-se, em geral, reunidos numa mesma unidade fabril, sendo que em cada um deles desenvolvem-se inúmeras etapas. Os maiores atrasos tecnológicos encontram-se na metalurgia, tapeçaria e acabamento.

Mesmo entre as empresas líderes há uma disparidade muito grande quanto ao grau de modernização tecnológica. Em geral, equipamentos antigos convivem com equipamentos mais modernos de penúltima e mesmo de última geração. Esta é uma característica da indústria de móveis: o investimento é divisível permitindo que máquinas de diferentes gerações convivam numa mesma planta industrial.

O segmento de móveis de madeira retilínios é o menos defasado. O lay-out da maioria destas fábricas resume-se em linhas de produção seqüenciais e limpas que garantem um fluxo contínuo de produção sem desdobramentos laterais e sem a formação de estoques intermediários. Este grau de modernização explica-se, em parte, pela acirrada concorrência existente no mercado interno neste segmento de móveis. As empresas líderes com estratégias ofensivas buscam modernizar seus equipamentos e tornar-se mais eficientes. Neste segmento, produtividade e preço são elementos chaves da competitividade. A falta de competitividade externa explica-se pelo elevado custo de sua matéria-prima básica que é a madeira aglomerada.

No segmento de móveis torneados a heterogeneidade tecnológica é bem mais acentuada. Esta heterogeneidade refere-se não somente às diferentes gerações de equipamentos em uso mas, também, aos diferentes lay-outs adotados pelas fábricas. O grau de modernização dos equipamentos neste segmento é bem menos acentuado do que no de móveis retilínios. Há empresas com equipamentos muito antigos, outras com alguns equipamentos modernos junto a equipamentos mais antigos. O que se observa em algumas destas empresas é um esforço de modernização muito grande seja em relação à limpeza do lay-out, seja em relação à introdução de equipamentos de última geração. As empresas mais modernas são aquelas com estratégias definidas em relação ao mercado externo. Neste segmento, empresas mais obsoletas podem sobreviver no mercado interno pois o elemento chave da competitividade reside mais na diferenciação do produto do que no preço.

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O segmento de móveis para escritório é o menos atualizado destes três segmentos do ponto-de-vista do lay-out de produção e do grau de modernização dos equipamentos. Em geral, o grau de verticalização das plantas industriais é muito elevado neste segmento. Numa mesma planta industrial, reúnem-se, pelo menos, a metalurgia, a marcenaria e a tapeçaria. O lay-out das fábricas é muito complexo pois conjuga diferentes fluxos de produção numa mesma planta industrial. Contudo, há uma percepção clara por parte de seus administradores da necessidade de subcontratar muitos dos serviços que realizam atualmente. Em geral, cada um dos processos de produção básicos - marcenaria, metalurgia e tapeçaria - são bastante arcaicos, principalmente na metalurgia e na tapeçaria, que são praticamente artesanais.

No Brasil, os móveis são, em geral, cópias modificadas dos modelos que são oferecidos no mercado mundial. Em geral, as empresas possuem um departamento de protótipos que dá corpo aos modelos copiados. Pouquíssimas empresas procuram criar um design próprio. A utilização do sistema CAD para projetar e detalhar os móveis é ainda insignificante. Na maioria das vezes, as empresas se utilizam de desenhistas convencionais para realizar estas tarefas. Mesmo em relação ao mercado interno, o design é um ponto forte da competitividade, principalmente em relação aos móveis de mais elevado padrão.

Algumas empresas procuram se diferenciar no processo de concorrência associando sua marca aos produtos que oferecem. Quanto mais sofisticado é o mobiliário mais as empresas procuram estabelecer esta associação. Contudo, à diferença de outros segmentos do setor industrial, na indústria de móveis a marca não é um fator forte de discriminação por parte dos consumidores no Brasil. Em geral, as empresas pouco investem em propaganda e marketing de seus produtos. No segmento de móveis retilínios de padrão médio, a marca parece não desempenhar nenhum papel no processo de concorrência. Em geral, o consumidor discrimina mais suas compras pelo preço pois a qualidade e o design são bastante uniformes neste segmento.

Algumas empresas já substituíram o sistema convencional de controle de qualidade ao final da linha de produção pelo sistema de controle de qualidade total. Contudo, há uma grande variância nos procedimentos adotados para o controle de qualidade. A maioria das empresas revelou uma grande preocupação com a qualidade de seus produtos adotando procedimentos e normas próprias. A ausência de normas técnicas gerais que regulem as atividades do setor conduzem a uma situação deste tipo. As empresas líderes sentem a necessidade do estabelecimento de normas de caráter geral que fixem os requisitos técnicos dos produtos. A existência de normalização é um elemento chave no processo de concorrência e na defesa do consumidor. É uma forma de equalizar a concorrência ao estabelecer normas e procedimentos gerais para a atividade do setor eliminando, portanto, a concorrência predatória das empresas do setor informal.

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Já se encontram razoavelmente difundidos em algumas empresas os métodos modernos de administração da produção que procuram aumentar a eficiência do processo produtivo através de uma maior cooperação e autonomia dos trabalhadores. No segmento de móveis retilínios, a política de estoques nulos é perseguida por muitas empresas não havendo formação de estoques intermediários ao longo do fluxo de produção. O mesmo não ocorre no segmento de móveis torneados. Devido à maior diversidade de seus produtos e à maior dificuldade do fornecimento, muitas empresas carregam grandes estoques de matérias-primas. Ademais, devido à grande verticalização da produção, observa-se a formação de grandes estoques intermediários no fluxo de produção. É necessário que as linhas de produção sejam mais limpas e contínuas e menos diversificadas. Isto só é possível de ser atingido através da desverticalização da produção ou através de plantas multifábricas. A primeira solução parece ser a mais viável nas condições atuais desta indústria no Brasil.

A maioria das empresas líderes apresenta administrações bastante profissionalizadas. Contudo, em algumas delas ainda predomina uma estrutura familiar em que grande parte dos negócios da empresa - desde o design até contas a pagar - encontram-se centralizadas em mãos de seus donos.

Em relação à mão-de-obra, muitas queixas referem-se à sua disponibilidade com a formação adequada ao novo padrão de operação industrial em que o virtuosismo da marcenaria, com a introdução de máquinas inteligentes, tem sido substituído de forma rápida pela necessidade de formação de mão-de-obra para operar máquinas. Neste sentido, os cursos profissionalizantes parecem estar desajustados em relação à realidade da indústria. Grande parte das empresas têm, contudo, uma política de treinamento de sua mão-de-obra como forma de superar esta carência dos cursos profissionalizantes. As maiores deficiências referem-se à mão-de-obra qualificada. Inexistem cursos especificamente direcionados para o desenho industrial do mobiliário que inclua, também, o conhecimento básico de matérias-primas e tecnologia de produção. Inexistem, também, cursos superiores para a formação de engenheiros do mobiliário como ocorre com países como a Itália, Alemanha e França.

As formas de comercialização adotadas por cada um dos segmentos analisados são diferenciadas e se definem, basicamente, a partir do mercado consumidor que visam atingir. As empresas que oferecem produtos mais sofisticados e procuram, através de um atendimento mais personalizado, diferenciar-se no processo de concorrência estabelecem uma rede de lojas próprias na distribuição de seus produtos. Esta é uma característica típica das empresas de móveis para escritório. A forma básica de comercialização dos segmentos de móveis retilínios e torneados é a distribuição de seus produtos através de grandes magazines e/ou de lojistas independentes. Em relação às exportações, o canal de comercialização mais difundido é o contato direto com os importadores de outros países.

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A indústria de móveis de madeira experimentou um ciclo de modernização tecnológica na primeira metade da década de 70. Devido ao grande crescimento do mercado interno que se deu neste período, a maioria das empresas direcionou sua produção basicamente para o mercado interno. Com a retração econômica dos anos 80, muitas empresas perderam sua capacidade de realizar novos investimentos e, diante da contração do mercado interno e da desatualização tecnológica, não puderam elaborar estratégias adequadas de exportação. Ao mesmo tempo, processava-se a revolução da microeletrônica com a substituição das máquinas eletromecânicas por máquinas com CNC. A grande maioria das empresas brasileiras do setor de móveis não absorveu esta onda de inovações. Esta parece ser, também, a realidade da maioria das empresas líderes. As que realizaram esforços de investimentos, o fizeram a partir de recursos próprios e em meio a grandes dificuldades. Mesmo assim, na maioria dos casos em que isto se verificou, o investimento consistiu na introdução de um ou outro equipamento de última geração que passaram a operar junto com equipamentos de gerações anteriores.

Pode-se identificar duas estratégias básicas entre as empresas líderes: uma estratégia defensiva e outra ofensiva. Algumas empresas, apesar da contração do mercado interno, perseguiram a estratégia da modernização como forma de enfrentar com sucesso a acirrada concorrência interna e, secundariamente, tornarem-se competitivas no mercado externo. Observa-se um esforço muito grande de algumas empresas para modernizar Observa-seus equipamentos e instalações industriais mesmo num período de grandes dificuldades como foi a segunda metade dos anos 80. Em geral, a principal reivindicação destas empresas quanto à política industrial resume-se na redução das alíquotas e impostos para a importação de máquinas e equipamentos. São empresas que já incorporaram, também, às suas estratégias comerciais o mercado externo e parecem pouco preocupadas com a possibilidade da concorrência externa no mercado brasileiro de móveis. São empresas que encaram a abertura do comércio exterior como um fato positivo que lhes facilitará a absorção de tecnologias avançadas e a aquisição de matérias-primas e componentes. Já as empresas com estratégias defensivas não realizaram nenhum esforço de modernização e esperam, passivamente, por uma retomada do mercado interno. Em geral, são empresas que foram muito atingidas com a retração do mercado interno e estão com elevada capacidade ociosa.

2.2. Obstáculos e Oportunidades para o Aumento da Competitividade

A indústria brasileira de móveis possui um potencial muito grande de elevar a sua competitividade em relação aos principais países exportadores principalmente no segmento de móveis torneados de madeira. O país possui uma oferta bastante elástica de madeiras de lei a custos menores do que nos demais países. Em relação à madeira de Pinus, muito demandada pelos

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países europeus, o Brasil possui condições excepcionais de clima e de solo que permitem um crescimento muito mais rápido desta espécie do que nos países europeus.

O país retém, também, uma outra fonte importante de competitividade que é a sua mão-de-obra abundante e barata relativamente aos principais países exportadores. Mesmo com a introdução de máquinas informatizadas, a indústria de móveis é relativamente mais intensiva em mão-de-obra do que os outros segmentos da indústria de transformação. As maiores dificuldades referem-se à disponibilidade da mão-de-obra especializada com formação adequada.

A defasagem tecnológica de suas empresas líderes poderia ser corrigida a partir de investimentos que não envolveriam vultosos recursos. O investimento é divisível permitindo que a modernização se faça por etapas em relação às instalações atualmente existentes. Devido à defasagem tecnológica da indústria brasileira de máquinas, a modernização da indústria de móveis só se viabilizaria pela importação de máquinas e equipamentos de última geração. Esta seria a única forma de elevar a sua competitividade no curto prazo e de torná-las capazes de competir com sucesso no mercado internacional.

Seria necessário, também, reduzir o grau de verticalização das empresas como forma de aumentar a sua eficiência e a escala de produção. Apesar das dificuldades inerentes a um projeto deste tipo, devido ao caráter disperso desta indústria, algum avanço poderia ser conseguido principalmente junto a alguns pólos da indústria de móveis já existentes e que congregam, numa mesma região, uma multiplicidade de empresas que se dedicam a produzir o mesmo tipo de mobiliário sem nenhuma divisão de trabalho entre elas. As maiores empresas normalmente sofrem uma concorrência muito grande de uma multiplicidade de pequenas e microempresas que lhes copiam o design e trabalham com uma estrutura de custos diferente pois muitas delas pertencem ao setor informal da economia. A cooperação entre elas permitiria potencializar a competitividade da produção de móveis com benefícios para o setor como um todo e, principalmente, para os consumidores.

No segmento de móveis retilínios, apesar das empresas serem mais atualizadas tecnologicamente e mais especializadas, as dificuldades de exportação são maiores devido ao elevado preço alcançado pela madeira aglomerada no Brasil relativamente aos demais países. Apesar das condições excepcionais que o país oferece para o plantio de Pinus, o elevado preço da madeira aglomerada explica-se pela defasagem tecnológica das empresas produtoras e pelo seu reduzido número, que lhes confere um imenso poder de mercado. Neste caso, somente a modernização deste setor e o aumento de seu grau de concorrência poderiam contribuir para elevar a competitividade da indústria de móveis retilínios. O recurso às importações, neste caso, poderia ser estimulado apesar das imensas dificuldades existentes para as empresas de móveis assegurarem um abastecimento seguro das fábricas.

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No segmento de móveis para escritório, as necessidades de modernização são maiores devido ao grau mais acentuado de verticalização da produção e devido à maior defasagem tecnológica de suas máquinas e equipamentos. Neste segmento, as vantagens comparativas potenciais são bem menores pois a madeira figura ao lado de outras matérias-primas igualmente importantes como são o poliuretano, o aço e os tecidos. Ou seja, a competitividade deste segmento é muito mais dependente da competitividade de outros segmentos da indústria brasileira do que os segmentos de móveis torneados e retilínios.

O fraco desempenho externo da indústria de móveis deriva não somente da desatualização tecnológica de suas empresas mas, principalmente, da falta de tradição exportadora. O estabelecimento de canais adequados de comercialização parece ser o maior obstáculo que as empresas brasileiras enfrentam nas exportações. Algumas empresas entrevistadas revelaram experiências frustrantes no comércio exterior que as desestimularam deste intento. Contudo, há casos de empresas brasileiras com sucesso nas exportações que inclusive possuem lojas próprias no exterior para a distribuição de seus produtos.

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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS

3.1. Políticas de Reestruturação Empresarial

A principal diretriz da política industrial em relação à indústria de móveis de madeira deveria ser a de promover uma maior especialização das empresas dos segmentos de móveis torneados e para escritório. O segmento de móveis retilínios já é bastante especializado. Algumas ações poderiam ser desenvolvidas visando uma maior cooperação entre as empresas principalmente em algumas regiões já especializadas. Flores da Cunha e Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul e São Bento do Sul em Santa Catarina poderiam transformar-se em pólos industriais moveleiros que promovessem uma maior integração entre as empresas. Estas duas regiões já possuem uma tradição muito grande na indústria do mobiliário e as respectivas economias regionais giram, basicamente, em torno da indústria de móveis.

As associações de classe poderiam cumprir um papel extremamente relevante na aproximação das empresas. Em especial, a MOVERGS - Associação dos Moveleiros do Rio Grande do Sul - com sede em Bento Gonçalves e o Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul poderiam promover esta aproximação juntamente com as agências regionais do SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa. Um estudo de viabilidade para a implementação da cooperação entre as empresas destas regiões poderia ser desenvolvido pelo Ministério da Indústria, Comércio e Turismo. Um estudo deste tipo poderia, também, equacionar outros problemas do setor na área de abastecimento. Muitas empresas fornecedoras de componentes plásticos, de metal, de decoração, entre outras, poderiam ser estimuladas a instalar-se na região como forma de potencializar a competitividade destes pólos industriais.

A necessidade de um modelo industrial menos verticalizado já está incorporada às preocupações do empresariado do segmento de móveis para escritório, o mais verticalizado dos segmentos analisados. A maior parte das empresas deste segmento localiza-se na região do Taboão da Serra na cidade de São Paulo. Algumas iniciativas poderiam ser desenvolvidas nesta região visando o desenvolvimento de um modelo menos verticalizado de indústria que promovesse uma maior cooperação entre as empresas. Algumas ações poderiam ser desenvolvidas pela MOVESP - Associação das Indústrias do Mobiliário do Estado de São Paulo - em cooperação com o SEBRAE e com as associações de classe dos outros segmentos da indústria brasileira envolvidos na produção de móveis para escritório. Da mesma forma, o MICT poderia promover um estudo de viabilidade que identificasse os obstáculos a serem superados para a implantação de um modelo industrial menos verticalizado.

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O estabelecimento de normas técnicas que regulem a produção de móveis é da máxima importância para a elevação do nível de qualidade dos produtos e, portanto, de sua competitividade. Além disso, a normalização é um elemento fundamental para equalizar as condições de concorrência no mercado interno ao restringir a oferta de móveis de baixa qualidade proveniente do setor informal da economia.

3.2. Políticas de Modernização Produtiva

A principal medida a ser adotada para que a indústria de móveis possa modernizar suas instalações industriais é a redução de tarifas e impostos nas importações de bens de capital. Se se deseja que a indústria brasileira de móveis seja competitiva e eleve suas exportações então esta é uma medida inevitável diante da desatualização tecnológica da indústria brasileira de máquinas para móveis e dos elevados preços exigidos pelos equipamentos nacionais. Não seriam necessários esquemas especiais de financiamento de vulto pois muitas empresas poderiam utilizar os créditos oferecidos pelos fabricantes internacionais. De qualquer forma, o BNDES poderia abrir linhas especiais de financiamento vinculadas a projetos específicos de modernização que não envolveriam recursos muito elevados pois a modernização do setor poderia realizar-se por etapas.

É necessário que outras ações de modernização também sejam implementadas junto a outros segmentos da indústria brasileira que afetam diretamente a competitividade da indústria de móveis de madeira. Em particular, é necessário modernizar a indústria de madeira aglomerada e elevar a sua competitividade como forma de reduzir custos para a indústria de móveis. É necessário, também, aumentar o grau de concorrência neste segmento industrial.

No segmento das serrarias, que atuam na extração de madeiras de lei, é necessário uma modernização urgente de seus equipamentos e dos métodos de extração que reduzam os desperdícios atuais. Uma política de preservação e exploração racional das florestas naturais deveria ser implantada e rigorosamente controlada pelo IBAMA. É necessário, também, medidas urgentes que inibam as exportações de madeiras de lei - bruta, serrada e folheada. Muitos países em desenvolvimento já proibiram estas exportações. Se não se deseja introduzir proibições, a criação de um imposto sobre as exportações de madeiras de lei poderia desestimular as empresas ao elevar o custo das exportações. Em relação aos reflorestamentos, é necessário uma melhoria da tecnologia silvicultural com o desenvolvimento de plantios especificamente direcionados para a indústria de móveis. Muitos reflorestamentos incentivados perderam-se pois foram implantados unicamente para aproveitar o abatimento no imposto de renda. Esta deveria ser uma prática estimulada e incentivada pelo Governo Federal e acoplada a um programa de exportações.

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Em relação à formação da mão-de-obra, é necessário que os cursos profissionalizantes direcionem o aprendizado para a formação de técnicos em operação de máquinas modernas com CNC. Em relação à mão-de-obra especializada, é necessário a implantação de cursos de desenho industrial que utilizem os recursos do sistema CAD. Recursos poderiam ser direcionados para alguns centros de formação profissional e pesquisas integrados com a indústria de móveis como o é o caso do CETEMO (Centro Técnico do Mobiliário) em Bento Gonçalves.

Em relação às exportações, as associações de classe juntamente com o MICT poderiam desenvolver ações de implementação e acompanhamento de inúmeros projetos de exportação dentro do programa "Ação Permanente para o Desenvolvimento do Comércio". Por outro lado, as próprias empresas poderiam organizar um sistema de acompanhamento permanente e de troca de informações sobre as oportunidades de exportação. Poderiam, além disso, formar consórcios para o atendimento de muitos pedidos de exportação.

Finalmente, faz-se necessário a elaboração de um "Programa de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial" para o setor como forma de elevar a capacitação técnica das empresas e de promover uma maior cooperação entre as mesmas na busca de um modelo de organização industrial menos verticalizado.

3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos

Os principais fatores sistêmicos que afetam a competitividade da indústria de móveis referem-se à excessiva carga tributária que onera em demasia as exportações brasileiras e aos elevados fretes portuários. Em particular, o custo elevado dos fretes afeta de forma particular a competitividade externa desta indústria pois, à diferença de outros produtos da indústria brasileira, a participação dos fretes no custo final dos móveis é muito elevada. É necessário, portanto, que o Governo Federal avance no Programa de Modernização dos Portos.

Em relação aos tributos, é necessário que o Governo Federal promova uma Reforma Tributária que reduza a incidência dos tributos indiretos. Não é possível sustentar uma forte posição competitiva externa se as empresas brasileiras enfrentam a concorrência de países como Taiwan em que a incidência tributária é bem menor. A redução do peso destes tributos contribuiria, também, para equalizar a concorrência doméstica em muitos segmentos da indústria de móveis, principalmente no segmento de móveis torneados no qual a presença do setor informal é muito grande. Ademais, contribuiria para estimular uma maior cooperação entre as empresas para o desenvolvimento de um modelo industrial menos verticalizado.

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3.4. Proposição de Políticas para Móveis de Madeira - Quadro Sinótico

AGENTE/ATOR OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA

EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD

1. Reestruturação Setorial

Objetivo: Especialização Industrial

Ações: - criar pólos regionais X X X

- estimular cooperação entre empresas X X X

- estabelecer normalização técnica X X X

- realizar estudos detalhados de

viabilidade X X X

2. Modernização Produtiva

Objetivo: Modernização dos processos produtivos

Ações: - modernização de máquinas e equipamentos X X

- reduzir tarifas de importação de

nas e equipamentos X

Objetivo: Redução do custo da madeira aglomerada

Ações: - aumentar o grau de concorrência no

segmento X X

- modernizar equipamentos e instalações X X

- alíquota zero importações X

Objetivo: Aumentar eficiência dos segmentos de

serraria

Ações: - modernizar equipamentos X X

- modernizar métodos de extração de

madeira X X

- alíquota zero importações: madeira

serrada e folheada X

Objetivo: Racionalização da extração de madeiras

Ações: - incentivar reflorestamentos programados X X

- garantir exploração racional das

restas nativas X X X

- introduzir melhorias na tecnologia

silvicultural X X

Objetivo: Aumento da qualificação da mão-de-obra

Ações: - formar técnicos em máquinas com CNC X X X X X

- implantar cursos de desenho industrial

através de CAD X X X X X

- apoiar centros de formação integrados

com indústria X X X X X

Objetivo: Aumento das exportações

Ações: - estabelecer associações de empresas

para a exportação X

- taxar exportação de madeira bruta X - criar sistema de identificação de

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AGENTE/ATOR OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA

EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD

Objetivo: Capacitação tecnológica

Ações: - elaborar Programa de Desenvolvimento

Tecnológico X X X

- apoio aos centros tecnológicos

regionais X

- formação fundo desenvolvimento

setorial X

3. Fatores Sistêmicos

Objetivo: Redução da carga tributária sobre o

setor

Ações: - desoneração tributária das

` exportações X X

- redução/equalização da tributação

indireta sobre as empresas X X

- redução IPI de 10% para 4% X X

Objetivo: Redução custos de transporte

Ação: - modernizar portos X X

Legendas: EXEC - Executivo LEG - Legislativo

EMP - Empresas e Entidades Empresariais TRAB - Trabalhadores e Sindicatos

ASSOC - Associações Civis ACAD - Academia

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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE

a) Indicadores de comércio exterior: evolução das exportações, participação das exportações no comércio mundial por tipo de mobiliário.

b) Indicadores de custos de produção: custo da mão-de-obra, preços de insumos importados e domésticos, peso dos tributos no custo final de produção.

c) Indicadores para caracterização e classificação das empresas do setor: tipo de produto, valor total das vendas, valor das vendas por tipo de produto, número de empregados diretos e indiretos.

d) Indicadores financeiros: participação dos salários e da madeira no custo total, lucro sobre as vendas, lucro em relação ao ativo permanente, participação das exportações nas vendas.

e) Indicadores tecnológicos: processos tecnológicos básicos, máquinas e equipamentos básicos, participação de máquinas informatizadas nos equipamentos básicos, idade dos equipamentos básicos, valor adicionado por trabalhador direto, valor adicionado em relação ao valor das máquinas e equipamentos básicos.

f) Indicadores de investimento: investimentos realizados em novos equipamentos, investimentos para ampliação de capacidade produtiva, projetos de investimentos futuros.

g) Indicadores de capacitação gerencial e administrativa: controle de qualidade, política de estoques, técnicas just in time, política de treinamento, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.

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APRESENTAÇÃO

O presente documento técnico apresenta o Relatório Final do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira de Móveis de Madeira que constitui um dos estudos que compõem o projeto "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", referente ao contrato entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Secretaria de Ciência e Tecnologia da Presidência da República (SCT-PR) e a Fundação Economia de Campinas (FECAMP), coordenado pelo Prof. Dr. Luciano G. Coutinho, do Instituto de Economia da UNICAMP e pelo Prof. Dr. João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia Industrial da UFRJ.

Neste estudo foi analisada a competitividade da indústria brasileira de móveis de madeira procurando-se identificar os obstáculos e as oportunidades existentes para o aumento de sua competitividade. Ao mesmo tempo, foram apresentadas recomendações de políticas que possam contribuir para a elaboração de estratégias de desenvolvimento para a mesma e para o aumento de sua competitividade.

Devido à grande diversificação da indústria de móveis, foi analisada somente a indústria de móveis de madeira em seus segmentos de móveis retilínios, móveis torneados e de móveis para escritório sob encomenda. Estes são os três principais segmentos desta indústria em termos de geração de renda e de emprego. Os móveis retilínios são móveis com faces lisas, sem detalhes sofisticados de acabamento e são confeccionados com madeira aglomerada. Os móveis torneados são móveis mais sofisticados sendo confeccionados com madeira aglomerada em conjugação com madeira maciça ou somente com madeira maciça. Os móveis para escritório sob encomenda são os mais complexos pois reúnem, basicamente, o trabalho de marcenaria, metalurgia e tapeçaria.

Foram realizadas 14 entrevistas junto às empresas líderes destes três segmentos, localizados nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em São Paulo, foram entrevistadas as seguintes empresas: Pastore, Singer, Hobjeto, Bérgamo, Lafer, Italma, Escriba, Lundiawillo, Kitchens e Prodis. No Rio Grande do Sul, as empresas pesquisadas foram Madesa, Todeschini, Florense, Carraro e Vascaris e, em Santa Catarina, Weihermann, Artefama e Rudnnick. Foram entrevistados, também, os presidentes das seguintes associações de classe: MOVESP (Associação das Indústrias do Mobiliário do Estado de São Paulo), MOVERGS(Associação dos Moveleiros do Rio Grande do Sul), ABIMOVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) e o Sindicato das Indústrias de Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul. Em geral, a principal característica presente nestas empresas é a grande verticalização da produção. Esta é uma característica mais acentuada nos segmentos de móveis torneados e de móveis para escritório. Mesmo entre as empresas líderes observa-se uma grande heterogeneidade tecnológica. Cada um destes três segmentos possui problemas específicos

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quanto ao grau de modernização tecnológica e competitividade de suas empresas. O segmento mais moderno e menos verticalizado é o de móveis retilínios. O segmento de móveis torneados apresenta um elenco de máquinas menos atualizadas tecnologicamente e um grau de verticalização e diversificação da produção bem maior. O segmento de móveis para escritório é o mais verticalizado e o menos atualizado tecnologicamente dos três segmentos analisados.

No capítulo 1, foram analisadas as principais tendências internacionais identificando-se os fatores básicos da competitividade desta indústria nos países líderes. Cinco fatores básicos explicam a liderança mundial de países como a Itália e a Alemanha: moderna indústria de máquinas e equipamentos, modelo industrial desverticalizado, utilização de máquinas e equipamentos de última geração, escola própria de design e estratégias comerciais ofensivas. Como exemplo de sucesso comercial dos países em desenvolvimento cabe mencionar o caso de Taiwan que, mesmo não possuindo um design próprio, penetrou com suas exportações no mercado mundial até então, basicamente, circunscrito aos países desenvolvidos.

No capítulo 2, foram analisadas as principais características da competitividade da indústria brasileira de móveis. Desatualização tecnológica, grande verticalização das plantas e grande diversificação da produção são as principais características da indústria brasileira. Entretanto, deve-se ressaltar o grande potencial existente para as empresas brasileiras do segmento de móveis torneados em relação ao mercado mundial apesar da defasagem tecnológica das empresas brasileiras. Mão-de-obra disponível e reservas florestais abundantes conferem ao país vantagens comparativas significativas na competição internacional. Mais do que o grau de desatualização tecnológica, o principal fator que explica o baixo nível das exportações brasileiras é a falta de tradição exportadora de suas empresas. A defasagem tecnológica poderá ser superada com um programa de modernização por etapas sem o envolvimento de vultosos recursos.

No capítulo 3, são apresentadas as principais recomendações de política que, se implementadas, poderão elevar o nível de competitividade destes segmentos da indústria brasileira de móveis de madeira. As principais recomendações são as seguintes:

a) Redução de tarifas e impostos incidentes na importação de máquinas e equipamentos; b) Modernização de máquinas e equipamentos que elevem a produtividade das empresas; c) Criação de um imposto de exportação que desestimule as exportações de madeira bruta, serrada e folheada;

d) Estabelecimento de alíquota zero nas importações de madeira bruta - toras, madeira serrada e folheada - e madeira aglomerada;

e) Estímulo ao estabelecimento de um modelo industrial menos verticalizado da produção nos segmentos de móveis torneados de madeira e para escritório sob encomenda;

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f) Estímulo ao desenvolvimento de pólos industriais especializados e integrados que promovam uma maior cooperação entre as empresas;

g) Incentivos ao desenvolvimento de reflorestamentos especificamente vinculados à indústria de móveis acoplados a programas de exportação;

h) Elaboração de um Programa de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial para a indústria de móveis de madeira;

i) Aumento de eficiência e do grau de concorrência na produção de madeira aglomerada com a redução de custos para a indústria de móveis de madeira retilínios;

j) Aumento da cooperação entre as empresas em relação às exportações com a formação de consórcios e associações de exportadores;

k) Destinação de 0,5% do recolhimento do IPI pelo setor de móveis para a constituição de um fundo destinado ao desenvolvimento tecnológico setorial.

No capítulo 4, são apresentados os principais indicadores para o acompanhamento e análise da competitividade da indústria de móveis de madeira.

Devo agradecer aos Srs. Celso Castellar Junior e Giorgio Nicoli presidentes da MOVESP (Associação das Indústrias do Mobiliário do Estado de São Paulo) e da ABIMOVEL (Associação Brasileira das Indústrias de Móveis), respectivamente. Sem a sua inestimável colaboração, a realização destas entrevistas teria sido uma tarefa muitíssimo mais árdua.

Agradeço, também, a atenção com a qual fui recebido pelos empresários do setor que se dispuseram a fornecer as informações necessárias para a realização desta pesquisa. Em particular, agradeço a amabilidade com que fui recebido pelos Srs. Lourenço Castellan e Álvaro Weiss, respectivamente diretores-presidentes das empresas Florense situada em Flores da Cunha e Artefama localizada em São Bento do Sul. Da mesma forma, agradeço ao Prof. Dr. Honório Kume, da Secretaria de Comércio Exterior do MIC à época da realização desta pesquisa, e ao Dr. Amantino Ramos de Oliveira, diretor da Divisão de Madeiras do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, pelo apoio oferecido na obtenção de inúmeras estatísticas relativas ao setor de móveis. Finalmente, devo um agradecimento especial ao Prof. Dr. Luciano Coutinho pelo convite que me fez para participar desta pesquisa.

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1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

1.1. Introdução

A indústria de móveis, bem como a maioria dos segmentos da indústria de transformação, têm sofrido mudanças significativas em seus processos de produção diante do surgimento de máquinas e equipamentos com dispositivos micro-eletrônicos e diante das novas técnicas de organização do processo de trabalho. Em particular, a indústria de móveis nos países líderes tem sofrido mudanças significativas em seu padrão de organização industrial. Empresas de menor porte e especializadas em produtos específicos tem sido a tônica em muitos destes países. Este novo modelo industrial para o setor pode ser observado nos países líderes como na Itália e, em menor extensão, na Alemanha. O objetivo deste capítulo é analisar as principais tendências tecnológicas internacionais, os principais mercados consumidores e a posição dos países líderes na concorrência internacional.

1.2. Principais Mercados Consumidores

Os principais mercados consumidores de móveis encontram-se nos países desenvolvidos. Estes mercados têm sido supridos em parte pela produção doméstica e em parte pelas importações principalmente dos próprios países desenvolvidos. Apesar do aumento verificado nos últimos anos, ainda é pequena a participação dos países em desenvolvimento na corrente de comércio exterior de móveis seja pelo lado das importações seja pelo lado das exportações.

O mercado de móveis nos principais países desenvolvidos - EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Espanha - pode ser estimado em torno de US$ 85 bilhões para o ano de 1988. Os EUA é o principal mercado consumidor com uma participação de 42,8% no consumo total de móveis por estes países. A seguir, destacam-se o Japão (16,1%), a Alemanha (12,2%), a França (10,1%) e a Inglaterra (9,9%). Estes cinco países reúnem um mercado consumidor em torno de US$ 80,4 bilhões (Tabela 1).

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TABELA 1

CONSUMO APARENTE DE MÓVEIS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DESENVOLVIDOS (1988)

País Em US$ milhões Em % Produção M X CA Produção M X CA EUA 32325 5203 1137 36391 38.9 37.8 9.6 42.8 Japão 13300 739 384 13655 16.0 5.4 3.3 16.1 Alemanha 11575 2797 3989 10383 13.9 20.3 33.9 12.2 França 7021 2664 1079 8606 8.5 19.4 9.2 10.1 Itália 8567 373 4123 4817 10.3 2.7 35.0 5.7 Inglaterra 7240 1773 637 8376 8.7 12.9 5.4 9.9 Espanha 2969 216 434 2751 3.6 1.6 3.7 3.2 Total 82997 13765 11783 84979 100 100 100 100

(1) Exclusive o Canada: 7º PIB e o 8º maior exportador de moveis. (2) CA = Produção + M - X.

(3) Para os EUA, Japão, Alemanha e Franca o valor da Produção de moveis refere-se ao ano de 1989. Fonte: Valor da Produção: OCDE; Comercio exterior: ITSY, 1990.

A França seguida pela Inglaterra e pelos EUA são os países mais dependentes das importações de móveis1. No caso da França, 18,4% do consumo de móveis é suprido por importações líquidas. No caso da Inglaterra e dos EUA, a dependência externa atinge 13,6% e 11,2% respectivamente. No caso do Japão, o grau de dependência externa é muito pequeno (2,6%). Já a Alemanha, a Itália e a Espanha são exportadores líquidos de móveis.

1.3. Principais Países Exportadores

O comércio exterior de móveis desenvolveu-se de forma significativa nas últimas três décadas. O país pioneiro nas exportações de móveis foi a Dinamarca nas décadas de 50 e 60. Posteriormente, já na década de 70, a Itália passou a exercer a liderança nas exportações de móveis seguida de perto pela Alemanha. A tradicional hegemonia destes dois países no comércio internacional de móveis deve-se, principalmente, ao grau de atualização tecnológica de suas empresas, ao modelo industrial desverticalizado e à tradição exportadora de suas empresas.

Como já mencionado, o comércio internacional de móveis tem-se restringido, basicamente, a um intercâmbio entre os principais países desenvolvidos. Para o ano de 1988, cerca de 80% das exportações e 85% das importações de móveis ficaram restritas a 14 países desenvolvidos (Tabela 2 e 3). Na medida em que as grandes reservas florestais encontram-se nos países em

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desenvolvimento, conclui-se pela funcionalidade para os países desenvolvidos das exportações de madeira bruta por parte dos países em desenvolvimento2.

TABELA 2

EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES MUNDIAIS DE MÓVEIS SEGUNDO OS PRINCIPAIS PAÍSES DESENVOLVIDOS

(1988)

(em US$ mil) Pais Exportações % %Ac Importações % %Ac Total X M X-M Itália 4123171 23.5 23.5 372889 1.9 1.9 3750282 Alemanha 3988524 22.7 46.2 2797466 14.5 16.4 1191058 Dinamarca 1089503 6.2 52.4 282970 1.5 17.9 806533 Canada 1284899 7.3 59.7 582935 3.0 20.9 701964 Suécia 979067 5.6 65.3 552449 2.9 23.7 426618 Espanha 433717 2.5 67.8 216398 1.1 24.8 217319 Bélgica 1090989 6.2 74.0 1008801 5.2 30.1 82188 Japão 383609 2.2 76.2 739277 3.8 33.9 -355668 Austria 343962 2.0 78.1 738136 3.8 37.7 -394174 Holanda 711011 4.1 82.2 1239813 6.4 44.1 -528802 Suiça 272063 1.5 83.7 1172435 6.1 50.2 -900372 Inglaterra 636642 3.6 87.4 1773445 9.2 59.3 -1136803 França 1079052 6.1 93.5 2663795 13.8 73.1 -1584743 USA 1136925 6.5 100.0 5202769 26.9 100.0 -4065844 Total 17553134 100.0 100.0 19343578 100.0 100.0 36896712

(1) Inclui moveis médico-odontológicos. Fonte: ITSY, 1990.

Para o ano de 1988, as exportações mundiais atingiram US$ 22,1 bilhões (Tabela 3). A Itália foi responsável, por 18,6% das exportações mundiais de móveis e a Alemanha por 18,0%. Ambos os países foram responsáveis por 36,6% das exportações totais, o que atesta a hegemonia exercida por estes dois países no comércio internacional de móveis. Tradicionalmente circunscrito aos países desenvolvidos, o mercado mundial de móveis tem sido invadido, nos últimos anos, pelas crescentes exportações de alguns países em desenvolvimento destacando-se, principalmente, Taiwan com exportações da ordem de US$ 1,7 bilhões, principalmente para os EUA e a CEE, e com uma participação de 7,7% nas exportações mundiais3. Seguem, em ordem de importância, o Canadá (5,8%); os USA (5,1%); a Bélgica (4,9%); a Dinamarca (4,9%) e a França (4,9%). Estes 8 países contabilizaram 70,0% das exportações mundiais.

2 As exportações do México, Tailândia, Coréia, Hong Kong e Taiwan atingiram, aproximadamente, US$ 2757 milhões que representa 12,5% das exportações mundiais (Tab.3). É provável, portanto, que as exportações dos países em desenvolvimento representem no máximo 15,0% das exportações mundiais.

3 Em 1980, as exportações de móveis de madeira, bambu e ratan de Taiwan atingiram US$ 241 milhões. No ano de 1987, suas exportações elevaram-se a US$ 934 milhões. Ou seja, em 7 anos suas exportações elevaram-se em 287,6% (SWST, 1992).

Referências

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