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IV REVISÃO CONSTITUCIONAL

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VII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (1996-1997)

IV REVISÃO CONSTITUCIONAL

COMISSÃO EVENTUAL PARA A REVISÃO CONSTITUCIONAL

Reunião do dia 27 de Novembro de 1996

S U M Á R I O

O Sr. Presidente (Vital Moreira) deu início à reunião às 10 horas e 30 minutos.

Procedeu-se à discussão das propostas de alteração relativas aos artigos 233.º, 234.º e 236.º, constantes dos diversos projectos de revisão constitucional.

Usaram da palavra, a diverso título, além do Sr. Presidente (Vital Moreira), que também interveio na qualidade de

Deputado do PS, os Srs. Deputados Ferreira Ramos (CDS-PP), Luís Marques Guedes (PSD), Arlindo Oliveira (PS), Luís Sá (PCP), Mota Amaral (PSD), José Magalhães (PS), Guilherme Silva e Correia de Jesus (PSD), Cláudio Monteiro (CDS-PP) e Moreira da Silva (PSD).

O Sr. Presidente encerrou a reunião eram 12 horas e 50 minutos.

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O Sr. Presidente (Vital Moreira): — Srs. Deputados, temos quórum, pelo que declaro aberta a reunião.

Eram 10 horas e 30 minutos.

Srs. Deputados, vamos retomar os nossos trabalhos com a discussão das propostas de alteração apresentadas para o artigo 233.º, cuja epígrafe é «Órgãos de governo próprio das regiões».

Para o n.º 2 foram apresentadas propostas de alteração pelo CDS-PP, pelo Sr. Deputado Pedro Passos Coelho e outros Deputados do PSD e pelo Sr. Deputado António Trindade e outra Deputada do PS. Os pontos que todos eles prevêem alterar são, por um lado, a limitação do número de membros da assembleia legislativa regional e, por outro, o sistema eleitoral.

O Partido Popular propõe o limite máximo de 50 deputados, o abandono do princípio da representação proporcional e um terceiro elemento, que, para já, proponho que fique de lado — refiro-me à questão dos círculos eleitorais de fora da região —, porque existem propostas paralelas a esta. Portanto, peço ao PP que se limite apenas aos dois primeiros pontos da sua proposta de alteração.

O Sr. Deputado do PSD Pedro Passos Coelho remete o número de membros para o estatuto, que fixa em 55 o número de membros, e prevê círculos uninominais.

Finalmente, a proposta apresentada pelo Sr. Deputado António Trindade também remete para o respectivo estatuto político-administrativo o número de membros à assembleia legislativa regional.

Para apresentar a proposta do PP, tem a palavra o Sr. Deputado Ferreira Ramos.

O Sr. Ferreira Ramos (CDS-PP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a proposta do PP nesta matéria é simples e clara. Fixamos o número de deputados eleitos em 50 e, em coerência com o que temos vindo a defender em matéria de sistema eleitoral relativamente a outros órgãos, abrimos a possibilidade (para além de ser possível a candidatura dos partidos políticos ou coligações), a candidaturas de grupos de cidadãos, a definir, obviamente, em sede de Estatuto.

O Sr. Presidente: — Esse é o n.º 3 da proposta do PP.

Para apresentar a proposta de alteração do PSD para o n.º 2 do artigo 233.º, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Marques Guedes.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a proposta do PSD, como o Sr. Presidente referiu, visa apenas constitucionalizar a composição das assembleias legislativas regionais. De certa forma, existe um vazio e, obviamente, para além de nos parecer que é necessário preencher esse vazio, esta é matéria de natureza estatutária, daí que a proposta do PSD remeta para os respectivos estatutos político-administrativos, fixando na Constituição, à semelhança do que se faz para o órgão Assembleia da República, um limite máximo e deixando, depois, aos estatutos político-administrativos a determinação do número exacto de membros que compõem a assembleia legislativa regional.

Por outro lado, à semelhança do que fazemos em outras sedes (também em paralelismo com a Assembleia da República), pretendemos acrescentar, na parte final da norma, a flexibilização da lei eleitoral, no sentido de passar a possibilitar a existência de círculos eleitorais uninominais, círculos eleitorais esses que terão de ser ou não definidos de acordo com aquela que for a opção da lei eleitoral.

Parece-nos que, à semelhança também do que o PSD propõe para a Assembleia da República, deve ser a Constituição a claramente flexibilizar as normas relativas a esta matéria para que o legislador ordinário, no momento certo e de acordo com a análise que faça da situação, possa avançar para a eventual consagração deste tipo de circunscrições eleitorais.

O Sr. Presidente: — O Sr. Deputado António Trindade não se encontra presente, mas a sua proposta visa apenas remeter a fixação do número máximo eleitos para o estatuto.

O Sr. Arlindo Oliveira (PS): — Sr. Presidente, recordo que, realmente, o número de deputados está em aberto!

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O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Sá.

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a primeira questão que se coloca nesta matéria, a respeito do sistema eleitoral, é o facto de a alínea h) do artigo 288.º, ao consagrar a proporcionalidade como limite material de revisão constitucional, abranger, obviamente, as assembleias legislativas regionais. Isto é verdade para a proposta do PP, que, aliás, honra lhe seja feita, costuma ser coerente e fazer tábua rasa dos limites materiais, mas também creio que é verdade para a proposta do PSD, embora ela procure introduzir os círculos uninominais apenas em alguns casos.

Não ignoramos o facto de existirem, por exemplo na Madeira, círculos com um número muito escasso de eleitores, concelhos com muito poucos eleitores, nem o facto de, nos Açores, existirem situações semelhantes, como na Ilha do Corvo, que actualmente elege dois deputados, não deixando, por isso, de ser círculo eleitoral, apesar de ter menos de 300 eleitores. E não ignoramos, igualmente, as grandes distorções que são introduzidas nesta matéria e que, ainda há pouco, ficaram evidentes.

Por outro lado, também não ignoramos o facto de, em nossa opinião, os sistemas eleitorais já serem questionáveis do ponto de vista da sua constitucionalidade. De resto, o sistema eleitoral da Madeira deu origem a um interessante acórdão, creio que votado e aprovado por sete contra seis, com importantes votos de vencido, incluindo o do Presidente desta Comissão. Portanto, sem dúvida alguma que aqui está colocado um problema.

Todavia, a grande questão que se nos coloca é um pouco esta: por que razão, em relação à Assembleia da República, o PSD admitiu aqui, por exemplo, sistemas como o alemão, com uma diferença entre círculos de candidatura e círculos de apuramento, o que permitiria criar um círculo único (até porque o número de deputados que é proposto não é assim tão numeroso como isso) e, simultaneamente, círculos de candidatura que permitissem, naturalmente, resolver os eventuais problemas da ligação dos deputados a cada círculo eleitoral?

Nós entendemos que a correcção de evidentes distorções nesta matéria, isto é, o facto de existirem círculos em que um deputado corresponde a 150 eleitores e círculos em que um deputado corresponde a 3500 eleitores, não tem de ser feita pela via da introdução de círculos uninominais, solução que, aliás, nos parece claramente inconstitucional — e levantaria, indubitavelmente, o problema da constitucionalidade da própria lei de revisão constitucional.

A segunda questão que coloco é esta: por que razão introduzir o limite de 50, 55 ou outro número concreto de deputados? Recordo-me, por exemplo, da existência de assembleias municipais que têm 90 eleitos directos, como a de Barcelos, que é uma situação excepcional e pelas razões conhecidas, designadamente o número de freguesias; a própria Assembleia Municipal de Lisboa tem, no conjunto, bem mais de uma centena de eleitos, contando os directos e os indirectos, e nos eleitos directos tem um número que se aproxima dos 55, que é o agora proposto.

Porquê este número concreto, independentemente de um número de eleitores e de outras considerações? Isso é algo que também temos de questionar.

A primeira questão é, naturalmente, a de saber por que razão regidificar um número na Constituição e a segunda questão a de esclarecer porquê este número e não outro qualquer, que é algo que resulta um pouco inexplicável. Tendo em conta, inclusive, que a Assembleia da República é composta por 230 Deputados, porquê 50 ou 55? Gostaríamos de ouvir explicações neste domínio.

Quanto às demais questões, pronunciar-nos-emos no momento próprio. O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Mota Amaral.

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a proposta do PSD relativa à matéria agora em discussão tem por objectivo resolver problemas reais e efectivos que a prática da autonomia nas regiões autónomas identificou, nomeadamente o problema dos deputados eleitos pelos círculos de população muito limitada.

Este problema é especialmente significativo na Região Autónoma dos Açores. A população reparte-se de modo muito diferente pelas nove ilhas do arquipélago e, nalgumas delas, alcança números que são muito

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diminutos. Já aqui foi referenciado o caso da Ilha do Corvo, mas outras ilhas do arquipélago também apresentam populações muito reduzidas.

Ora, o respeito pelo princípio «um homem, um voto», que é o princípio básico da democracia, é posto em causa devido a esta realidade. Por isso, julgo que parte da argumentação que o Sr. Deputado Luís Sá apresentou vai neste sentido: então por que é que não se encontram outras soluções? Podia pensar-se num círculo único inter-regional. Desde logo, não podemos dissociar-nos muito das instituições nacionais e há uma certa lógica de que o que é bom para o nosso país também deve ser bom para as regiões autónomas. E, nessas matérias estruturantes do regime político, um certo paralelismo é útil.

O Sr. Luís Sá (PCP): — Permita-me uma pequena interrupção. Mas o PSD admitiu aqui, e até preconizou, que, para o País, viesse a ser consagrado o sistema alemão. Portanto, pergunto se quando o PSD fez esta argumentação…

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Estamos agora a fazer a primeira leitura deste processo de revisão, por isso vamos ver se chega lá! Até agora não aconteceu tal e, portanto, também não podemos fugir dessa realidade.

Por outro lado, relativamente à Região Autónoma dos Açores, defrontamo-nos com uma realidade estrutural, que é, pela natureza arquipelágica da região, o facto de haver nove ilhas, de haver possibilidades muito fortes de actuação de cada uma delas e é necessário dar-lhe uma tradução política. A eleição dos deputados da assembleia regional directamente pela população de cada uma delas e com ligação directa e estreita a cada uma delas afigura-se como uma realidade absolutamente incontornável, como agora lhes disse.

Portanto, nessas condições, onde podemos encontrar o equilíbrio? Através da aceitação de círculos que têm de ter representação, mas que não deve exceder um deputado. Poder-se-ia argumentar que tal atenta contra o princípio da representação proporcional. Talvez não — sejamos objectivos —, porque a repartição dos deputados pelas ilhas mais populosas, que, assim, se pode fazer por uma via mais equitativa, assegurará a representação de todas as correntes, como, de resto, acontece (até forma uma pequena distorção no balanceamento entre o primeiro e o segundo partido, que já vinha da anterior legislatura e que se mantém, agora com diferentes protagonistas) e não prejudica a presença dos principais partidos nacionais no parlamento regional.

Não nos podemos confortar com esta circunstância de termos um desequilíbrio muito grande, com populações muito pequenas a eleger um número elevado de deputados. Pelo respeito rigoroso do princípio da proporcionalidade, todos os círculos têm de ter mais do que um deputado, e assim não vamos lá.

Quando à questão da fixação de um número concreto, devo dizer que aquele que é proposto está muito próximo do actual e, no caso dos Açores, até é superior àquele que, neste momento, é o máximo até agora atingido. Mas, no caso da Região Autónoma da Madeira, devido ao crescimento da população, penso que o número dos deputados à assembleia não tem vindo a aumentar.

Fixar um limite parece-me razoável, e esse limite dos 55 deputados está próximo daquela que é a praxe. No caso dos Açores não antevemos uma alteração substancial da população; não sei é essa a perspectiva da Madeira para o século XXI. Portanto, seria uma solução equilibrada.

A parte fundamental prende-se com a possibilidade de haver círculos uninominais, sem os quais dificilmente conseguiremos encontrar uma fórmula que corresponda à realidade regional, no caso dos Açores, e que seja, ao mesmo tempo, respeitadora dos princípios constitucionais.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a forma como o Sr. Deputado Mota Amaral acabou de concluir a sua intervenção encerra uma contradição, porque terminou mencionando a necessidade de respeitar os princípios constitucionais e, infelizmente, a proposta, tal qual já está abundantemente demonstrado, não o faz, nem em relação aos limites materiais de revisão, nem em relação à proporcionalidade, pelo contrário, introduz uma entorse expressa, com os fundamentos que ficaram já clarificados.

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Por outro lado, assegura uma rigidez que tem, como sabe, ou teria, a ser consagrada, consequências bastante negativas, sobretudo porque o campo operatório não é uma região nem um arquipélago, são duas regiões, com problemáticas específicas e com uma distinção bastante relevante entre situações, o que significa que a opção a tomar em sede constitucional deve ser tão prudente, medida e, diria até, minimalista, como aquela que pretendemos adoptar em sede de sistema eleitoral para a eleição da própria Assembleia da República. Ou seja, definição do respeito de regras constitucionais basicamente, acima de tudo a da proporcionalidade, de um conjunto de mecanismos de aproximação entre eleitos e cidadãos, sem cirurgia, sem engenharia eleitoral e sem especiais operações que lancem o descrédito sobre o próprio sistema, e fazer isso como questão de regime.

Depois, em sede de lei ordinária, complementar, obviamente, essa operação constitucional com a feitura de uma lei (não do estatuto, mas de uma lei), na qual seja possível ensaiar várias soluções, designadamente as que, atenta a natureza geográfica e a especificidade do eleitorado, permitam esse tal fenómeno de aproximação, que é o nosso objectivo e que é suposto que seja o objectivo comum.

Repito que, sem entorses, estamos disponíveis para discutir esta questão, mas é bom assinalar que o ponto de partida apresentado nesta proposta dificulta bastante uma progressão ou, pelo menos — diria assim —, está num extremo do caminho a percorrer. E esse extremo, infelizmente, está fora das fronteiras constitucionais, designadamente as decorrentes dos limites materiais.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, há dois problemas aqui. O primeiro prende-se com o número de deputados, em relação ao qual penso que não há qualquer objecção constitucional, pelo contrário, há uma vantagem em que a Constituição estabeleça o número ou, pelo menos, o limite máximo dos eleitos aos parlamentos regionais. O paradigma da semelhança com as assembleias das autarquias locais não colhe, porque estas são assembleias eventuais e aqui trata-se de um parlamento permanente. E esta é uma matéria constitucional, portanto, se deve haver um número de 50 ou 55 é coisa que não vejo objecção, talvez até houvesse vantagem em que a Constituição estabelecesse um número máximo dentro do qual o estatuto poderia fixá-lo.

Em matéria de sistema eleitoral, que é o segundo problema, quanto à proposta de abandonar o princípio da proporcionalidade nada feito, Srs. Deputados do PP, porque mesmo que não houvesse o limite material de revisão, eu estaria sempre contra, porque creio que é uma questão de justiça eleitoral.

Círculos uninominais à margem da proporcionalidade também não, pela mesma razão, porque penso que isso seria constitucionalizar uma situação inconstitucional que existe na Madeira e que, infelizmente, não sido posta em causa pela CNE, mas é claramente inconstitucional. Os círculos uninominais são incompatíveis porque não existe proporcionalidade e há meios de solucionar o problema colocado pelo PSD, sem pôr em causa a proporcionalidade.

Portanto, se essa preocupação existe, e penso que ela existirá, encontrem-se soluções que não põem em causa a proporcionalidade, e é por aí que se deve seguir.

Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Sá.

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Presidente, trata-se de uma nota telegráfica, apenas para esclarecer que a minha alusão às assembleias municipais não tem que ver com uma comparação da natureza das assembleias legislativas regionais e das assembleias municipais, porque, para além da questão a que o Sr. Presidente aludiu, há o facto de umas e outras terem competências distintas — num caso são competências políticas e noutro administrativas —; tem a ver, sim, com a questão do número do deputados.

A partir do momento em que se venha a optar pela fixação do número de deputados na Constituição — já consta dos estatutos, portanto creio que não haverá grande inconveniente nisso, a não ser por uma questão de menor flexibilidade, eventualmente, o que também pode trazer algumas vantagens —, o problema que se coloca é o de encontrar algum equilíbrio com as assembleias municipais no que toca ao número. E, nesta matéria, ocorreriam situações em que as assembleias legislativas regionais teriam consideravelmente menos membros do que as assembleias municipais, o que não será muito equilibrado.

Penso que esta questão deve ser objecto de alguma reflexão.

Quando me refiro a esta questão ainda não tenho presente o problema da proporcionalidade, que também é necessário ter em conta, já que quanto maior é o número de deputados maior é o índice de

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proporcionalidade. Essa é uma questão naturalmente conhecida de todos e que poderia ser corrigida com a ideia de se caminhar para um círculo único, com círculos de candidatura. Aqui, o que tenho presente é um problema de equilíbrio global, que nos deveria levar a ponderar melhor se não teríamos vantagem se optássemos por assembleias ligeiramente maiores.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, o ponto da situação está feito. O PS não se pronunciou sobre a questão do número de deputados, apenas ficou expressa a posição do Sr. Deputado António Trindade, que, pura e simplesmente, remete para o estatuto; o PSD aponta para um máximo de 55 deputados, mas até esse máximo caberá ao estatuto determiná-lo; por último, o PP fixa em 50 o número de deputados. Entre estas três soluções, a do PSD parece ser a mais equilibrada, porque estabelece um máximo, deixando ao estatuto a fixação do número em concreto.

Tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente, não me pronunciei expressamente nesses termos, porque há alguma margem de escolha. Manifestei alguma preocupação em relação à rigidificação por uma razão simples, que, aliás, tem resposta parcial nas considerações que foram feitas na intervenção que V. Ex.ª produziu, ou seja, de que estamos perante não uma mas duas regiões autónomas, mas se a fixação se fizer entre um máximo e um mínimo, esse ajustamento e adequação poderá ser feito.

Portanto, essa não é para nós uma questão determinante. Aceitaríamos de bom grado a proposta de fixar um limite flexível.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Marques Guedes.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, queria fazer apenas um pequeno comentário à intervenção do Sr. Deputado Luís Sá, para dizer que, do ponto de vista do PSD, a preocupação da comparação com as assembleias municipais não tem razão de ser, porque, de facto, estaríamos a comparar realidades que não são minimamente comparáveis, porque as regiões autónomas são qualitativa e institucionalmente diferentes, de uma forma radical, do que são as autarquias locais, nomeadamente os municípios.

Portanto, não faz sentido comparar aquilo que não é comparável, com toda a franqueza. A realidade das regiões autónomas tem um curso de 20 anos, uma experiência bastante rica e bem sucedida, e é essa mesma realidade das regiões autónomas que aponta para números desta dimensão. É por isso, e sem qualquer preocupação de comparação com outras realidades que não são comparáveis, que o PSD aponta para este número.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, a conclusão a tirar é a de que há abertura para uma menção constitucional do número de membros da assembleia legislativa regional, pelo menos a fixação do número máximo, deixando liberdade aos estatutos para fixar o número concreto, e não há abertura para a consagração de círculos eleitorais uninominais. E o PS sugeriu — pareceu-me — que já apresentou para a Assembleia da República, a ideia das circunscrições de candidatura mas dentro do quadro do princípio da proporcionalidade.

Srs. Deputados, quanto ao n.º 3 do artigo 233.º foram apresentadas propostas pelo PSD, pelo Sr. Deputado Guilherme Silva e outros Deputados do PSD e pelo Sr. Deputado António Trindade e outra Deputada do PS. No entanto, penso que todas elas têm a ver com uma realidade que já tratámos, a competência para a nomeação do presidente do governo regional. No caso das propostas dos Srs. Deputados António Trindade e Guilherme Silva essa competência era imputada ao Presidente da República e não ao Ministro da República.

Creio que esta matéria está prejudicada e, portanto, não vale a pena considerar estas propostas.

Também para o n.º 4 do mesmo artigo foram apresentadas propostas pelos Srs. Deputados Guilherme Silva e António Trindade que têm o mesmo enquadramento das anteriores, pelo que também estão prejudicadas. O PP apresentou uma proposta para o n.º 5, sobre o estatuto dos titulares dos órgãos de governo regional, que está igualmente prejudicada.

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Restam, portanto, as propostas de aditamento de novos números, começando pela do CDS-PP, que, aliás, já aqui foi apresentada, sobre as candidaturas de grupos de cidadãos eleitores às assembleias legislativas regionais. Esta matéria já foi discutida em geral, a propósito de uma proposta do Partido Socialista relativa a todos os órgãos electivos, proposta essa que não teve acolhimento, pelo menos na fase em que foi discutida.

Pergunto, por isso, aos Srs. Deputados se vale a pena discuti-la individualmente para cada um dos órgãos. Tem a palavra o Sr. Deputado Ferreira Ramos.

O Sr. Ferreira Ramos (CDS-PP): — Sr. Presidente, atentas as razões que invocou no sentido de já ter sido discutida…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, o facto de ter sido discutida em geral, a meu ver, não preclude uma discussão em especial para cada um dos órgãos. Por maioria de razão, se foi rejeitada em geral, talvez deva ser discutida em especial, a não ser que o PP retire a proposta!

O Sr. Ferreira Ramos (CDS-PP): — Não, o PP não retira a proposta, Sr. Presidente.

Srs. Deputados, como já referi, esta formulação é resultado de uma atitude coerente que temos em relação a todos os órgãos electivos (de acordo, aliás, com as propostas apresentadas durante a campanha eleitoral), no sentido de abrir a possibilidade de serem apresentadas candidaturas de cidadãos eleitores, nos termos a regulamentar em lei ordinária.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, está à discussão a proposta do PP, que visa a admissão de candidaturas extrapartidárias às assembleias legislativas regionais.

Pergunto se algum dos Srs. Deputados quer pronunciar-se ou remeter para a discussão que já foi feita. O Sr. Mota Amaral (PSD): — Sr. Presidente, eu remetia para a discussão que já foi feita.

O Sr. Presidente: — Ou seja, quem se pronunciou contra o princípio geral e entende que ele se aplica a todas as eleições faça favor de o dizer; quem admite que, apesar de não ter aceite o princípio geral de candidaturas extrapartidárias, nomeadamente para a Assembleia da República, considera que as eleições regionais são diferentes e, por isso, podem ser admitidas, faça também favor de se pronunciar.

Tenho de tirar alguma conclusão, quanto mais não seja pelo silêncio e ele significará a não adesão à proposta.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, da parte do PSD não é silêncio, é não adesão, conforme já dissemos na altura.

O Sr. Presidente: — O Partido Socialista, obviamente, concorda com a proposta, uma vez que, se concorda em geral, também concorda em especial.

O Sr. José Magalhães (PS): — Exacto! Temos a nossa própria proposta que recobre tudo isso. O Sr. Presidente: — Creio que o PCP é contra, porque já se tinha manifestado contra da última vez. O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Presidente, se me permite, e de forma muito breve, gostaria de acrescentar algumas considerações sobre esta matéria.

O Sr. Presidente: — Faça favor.

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, julgamos que uma coisa é existirem grupos de cidadãos eleitores nos municípios, em que os executivos municipais, até ver, são eleitos directamente, isto é, em que as assembleias não têm como uma das responsabilidades determinantes intervir na formação do

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respectivo executivo, e outra coisa são situações em que o executivo é criado a partir da respectiva assembleia.

O problema que aqui se coloca é este: por um lado, as candidaturas de grupos de cidadãos poderão dificultar a formação de governos e a respectiva responsabilização, além de haver uma prática (que se desenha com bastante clareza nas freguesias e que, neste momento, já se começa a desenhar com a perspectiva das candidaturas nos municípios, a nível municipal), a que o Sr. Presidente chamou «candidaturas extrapartidárias», mas que, na realidade, são candidaturas de coligações não assumidas de partidos.

Há uma fortíssima tendência nesse sentido, para além de problemas que também são conhecidos nesta matéria e que nos levam a considerar a questão com alguma contenção, como, por exemplo, o problema da responsabilização política de grupos de cidadãos.

No fim de contas, os partidos também são grupos de cidadãos, só que são grupos de cidadãos em que há uma responsabilização, designadamente por via de eleições periódicas, por aquilo que os seus membros fazem. Os grupos de cidadãos eleitores, pelo contrário, podem ter um carácter efémero e esta responsabilidade política é mais difícil de apurar.

Daí que reservemos posição nesta matéria, tendo em conta este tipo de considerações, que já fizemos a respeito da Assembleia da República e que, a nosso ver, também são de algum modo válidas para as regiões autónomas, designadamente a partir do momento em que os governos regionais são formados a partir das respectivas assembleias e não, obviamente, eleitos directamente.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, a proposta não se mostra viável, porque tem a oposição do PSD. Vamos passar à proposta do PS, de previsão constitucional da dissolução das assembleias legislativas regionais, dissolução como instrumento do sistema de governo não como dissolução extraordinária prevista no artigo 236.º.

Para apresentar as propostas do Partido Socialista referentes aos novos n.os 4 e 5 do artigo 233.º, que prevêem a dissolução dos parlamentos regionais, tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente, se me permite uma sugestão metodológica, gostaria que esta matéria fosse discutida em conjunto com as propostas apresentadas por outros partidos, designadamente pelo PSD, para obter o mesmo efeito no n.º 2 do artigo 236.º, e outros.

O Sr. Presidente: — A sugestão é admitida, por óbvias razões de identidade. Assim sendo, depois da intervenção do Sr. Deputado José Magalhães, darei a palavra a um representante do PSD, para apresentar a proposta de alteração ao n.º 2 do artigo 236.º.

Protestos do Deputado do PSD Mota Amaral.

Sr. Deputado Mota Amaral, apesar de estarem em causa duas figuras diferentes, penso que a colocação correcta desta solução é no artigo 233.º — é de uma dissolução parlamentar que estamos a falar. Como surge a questão no artigo 233.º, é na primeira ocasião em que aparece que vai ser discutida. E, inclusivamente, como me parece que esta é a colocação correcta, é aqui que vai ser discutida.

O Sr. Deputado Luís Marques Guedes pediu a palavra para que efeito?

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, face a esta proposta de metodologia do Sr. Deputado José Magalhães, queria apenas chamar a atenção para o facto de a proposta do PSD não ser minimamente comparável! Não percebo, pois, a vantagem de a discutir em conjunto.

A proposta apresentada pelo PS versa uma questão perfeitamente autónoma que não tem qualquer tipo de coincidência com as propostas do PSD, na medida em que visa alterar o texto constitucional no sentido de a competência da dissolução deixar de ser do Sr. Presidente da República e passar a ser do Ministro da República. E essa questão nada tem a ver com as propostas do PSD!

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Luís Marques Guedes, há um claro equívoco da sua parte, uma vez que o PS não propõe qualquer alteração ao artigo 236.º.

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O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Não me referia ao artigo 236.º mas, sim, à questão da dissolução, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Luís Marques Guedes, hoje a Constituição não prevê a possibilidade de dissolução da assembleia legislativa regional como instrumento de dissolução parlamentar, prevê apenas a dissolução presidencial dos órgãos do governo próprio das regiões como medida tutelar, como medida de excepção política. O que o PS propõe é justamente aquilo que os senhores propõem no n.º 2 do artigo 236.º, embora atribuindo a competência a órgãos diferentes.

O que se prevê é a possibilidade de dissolução da assembleia legislativa regional — e não dos órgãos de governo próprio das regiões — como instrumento de governo e, portanto, é rigorosamente a mesma figura, salvo o devido respeito. Contudo, se o PSD não a quiser discutir em conjunto, não o fará, embora me pareça a mesma realidade, independentemente de saber quem tem competência!

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, a questão qualitativa diferente é essa mesma! Quanto ao resto, devemos discuti-lo em sede de artigo 236.º, obviamente.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente, só de discute discutindo e, nesta matéria, talvez seja melhor atalhar.

Em primeiro lugar, quanto à questão desta proposta e da figura que ela visa introduzir, diria que esta é, de facto, uma questão importante, e não casualmente ela é introduzida não só pelo PS como também pelo PSD. A questão objectivamente coloca-se, e já se tem colocado na vida institucional regional, com consequências seguramente não positivas, pelo menos não favoráveis à clarificação da vida política regional e à estabilidade institucional.

A Constituição tem uma lacuna nesta matéria, ou seja, em situação de distorção do funcionamento, de perda de maioria, desconcerto de maioria, desavença de maioria e de impossibilidade de formar no parlamento maiorias consistentes, sistemáticas ou maiorias quaisquer para viabilizar o apoio a uma política governativa determinada, o que pode gerar, como se sabe, situações de enorme instabilidade e de grande prejuízo para o normal funcionamento institucional regional, a Constituição não prevê, na sua redacção actual, qualquer forma de abreviar a legislatura, ou seja, qualquer forma de interrupção da legislatura para dar a voz aos cidadãos, para dar a voz ao povo e emitir um veredicto sobre o conflito eventual que se tenha gerado.

Ora, a dissolução é a figura que institucionalmente visa dar resposta, nas constituições, a situações desse tipo, e que está prevista e enquadrada, no que diz respeito à Assembleia da República, em condições que são conhecidas e que estão, aliás, de novo em discussão nesta revisão constitucional, mas não está prevista no que diz respeito ao funcionamento dos sistemas regionais. Nos sistemas regionais, ainda por cima, isso é particularmente importante, porque são sistemas parlamentares puros e, portanto, o que afecta o parlamento… Digamos que os parlamentos «pendurados» podem gerar, na sua perpetuação, na sua vida prolongada ou no seu estertor moribundo prolongado fenómenos extremamente prejudiciais e danificadores do tecido e do sistema político.

Portanto, não é por acaso que tanto o PS como o PSD propõem que a figura da dissolução política seja introduzida.

Por razões puramente espúrias e, digamos, por alguma necessidade de demagogia eleitoral, numa das regiões autónomas esta questão foi tratada descabeladamente e em termos que distorceram completamente o sentido das propostas (e naturalmente da proposta do Partido Socialista), sugerindo e acusando directamente que ela seria o que, de facto, não é e que ela teria uma distinção radical em relação àquilo que é hoje proposto pelo PSD nacional.

O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Já estamos a discutir a proposta?

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Trata-se de uma acusação francamente desproporcionada, infundada, desnecessária e perniciosa, porque chega à altura das decisões e, nessa altura, as propostas estão de corpo inteiro à espera do seu exame em condições de igualdade.

A verdade é esta: PS e PSD propõem que o sistema político regional veja integrada uma lacuna, qual seja a lacuna decorrente da inexistência da figura «dissolução».

Segunda observação: esta figura «dissolução» origina equívocos, mas eles serão perdoáveis numa sessão de bravata algures mas, seguramente, não num debate sério do ponto de vista constitucional. Tem distinções muito significativas, apesar da semelhança de nome, em relação à figura que a Constituição actualmente denomina, específica e claramente, como «dissolução dos órgãos regionais», em sede de artigo 236.º. Diria mesmo que é diametralmente distinta, desde logo porque, como já foi sublinhado, no artigo 236.º trata-se de uma «dissolução/sanção», de uma dissolução emergente de uma espécie de tutela, de uma dissolução para salvaguarda de valores supremos, em circunstâncias em que se verifiquem actos contrários à Constituição, actos graves, significativos e não quaisquer actos contrários à Constituição; seguramente, não actos de lana

caprina, cuja conformidade com a Constituição seja disputável, porque para dar resposta a esses há outros

mecanismos, desde logo todos aqueles que dizem respeito ao exercício do direito de veto, à intervenção crítica dos órgãos de soberania, ao funcionamento do Tribunal Constitucional e de outros mecanismos sempre disponíveis, na República e nas regiões autónomas, para defender a legalidade democrática eventualmente ofendida.

Não é dessas situações que se trata. A dissolução prevista no artigo 236.º é uma dissolução de emergência, uma dissolução limite, uma dissolução que nunca esteve próxima de o ser na nossa circunstância política, desde o nascimento das autonomias regionais — e espero, aliás, que nunca o seja. Em todo o caso, é uma válvula de segurança, uma válvula limite para restabelecer a ordem perturbada, dramática e extremamente.

Convém não misturar, donde a inserção sistemática que o Grupo Parlamentar do PS propõe, esta dissolução/sanção/tutela por actos contrários à Constituição com a dissolução política, como instrumento normalizador, semelhante nas suas finalidades àquela que ocorre quando o Parlamento nacional é objecto de medida homóloga decretada pelo Presidente da República.

Essa distinção é, para nós, crucial — é-o, aliás, doutrina e politicamente — e a mistura entre uma e outra seria extremamente perniciosa, uma vez que a dissolução dos órgãos do governo próprio das regiões autónomas cabe ao Presidente da República — e muito bem —, como garante supremo, entre outros valores, da integridade da Pátria e do funcionamento normal das instituições.

A terceira questão que se coloca nesta matéria é a de saber quem deve exercer esta competência. Os Srs. Deputados do PSD concordam que esta competência deve existir, concordam que esta figura deve existir, ela é fundamental para assegurar a estabilidade das instituições regionais em certas circunstâncias limite e para permitir o refrescamento e a revitalização do parlamento e a intervenção dos cidadãos. Mas quem deve exercer este poder?

E aqui, verdadeiramente, as propostas bifurcam-se ou distinguem-se, mas por razões de filosofia e de coerência. No nosso caso, como não preconizamos a intervenção do Presidente da República no quotidiano da vida política regional e no dirimir das questões e dos conflitos políticos regionais, francamente, em coerência com esse princípio — e é um princípio razoável —, não poderíamos senão ter proposto o que propusemos, ou seja, que essa competência seja exercida a nível regional.

Os Srs. Deputados do PSD propõem que essa competência seja exercida pelo Sr. Presidente da República. Tal significa, naturalmente, ampliar a margem de poderes do Sr. Presidente da República, mas significa também torná-lo interveniente na gestão de crises político-constitucionais da vida interna das regiões, matéria e área da qual ele, sabiamente, nos termos da Constituição, está obrigatoriamente alheado. Não é essa a sua função e, portanto, em termos de coerência sistémica, a proposta do Partido Socialista obedece à coerência sistémica do texto constitucional na sua configuração actual, emergente de um consenso alargado.

A proposta dos Srs. Deputados do PSD, sendo idêntica em relação à consagração da figura, remete para o Presidente da República uma competência que altera substancialmente o seu papel. É uma solução que tem sérios inconvenientes.

Mas vale a pena, Srs. Deputados, discutir esta matéria até ao fim e, se possível, ajudarmos aqui, na Comissão para a Revisão Constitucional, a clarificar, e não tanto limpar, alguns dos equívocos que,

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provavelmente com alguma premeditação mas, enfim, em circunstâncias que já estão ultrapassadas, foram introduzidos, há algumas semanas, há alguns meses, gerando alguma dúvida numa das regiões, provocando «guerras de alecrim e Manjerona» assentes em grossas doses de desinformação, que, enfim, talvez sejam compreensíveis nas circunstâncias em que foram injectadas e por quem foram injectadas. Mas, verdadeiramente, é muito bom mudar de cenário para discutir com serenidade este tipo de questões, embora também fosse agradável discutir isto no Funchal.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Marques Guedes.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, tenho a noção de ter participado em muitas reuniões desta Comissão, mas tenho a impressão de que acabei de assistir a algo inédito, que foi a tentativa, por parte do Sr. Deputado José Magalhães, de apresentar uma proposta de outro partido. Tentou apresentar a proposta do PSD, que é algo que ainda não tinha visto nesta Comissão!

O Sr. Presidente: — Digamos que se antecipou à crítica à proposta do PSD!

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, digamos que foi uma estreia, só que essa estreia não é inocente, porque releva claramente da incomodidade extraordinária que o PS terá em defender a proposta que aqui pende sobre a Mesa, incomodidade essa que o leva a tentar desesperadamente «colar» o PSD a uma proposta idêntica, o que é perfeitamente falso, porque uma coisa nada tem a ver com a outra!

Apenas pedi a palavra para fazer uma clarificação. O debate, depois, como todos os que temos tido nesta Comissão, se encarregará de explicitar melhor as posições das várias partes à volta desta matéria.

A explicitação que queria fazer era a seguinte: o único aspecto que está em causa na proposta do PSD, e daí a diferença da nossa proposta, daí que a coloquemos mais à frente, no artigo 236.º, tem a ver com… Ou melhor, face ao texto de alteração que propusemos para o artigo 175.º, que o Sr. Presidente, o Partido Socialista e todos os Srs. Deputados bem conhecem, e que tem a ver com a objectivação decisiva dos poderes de dissolução da Assembleia da República (que o PSD propôs expressamente no artigo 175.º e que mereceu desde já, nesta primeira leitura, fortíssimas reservas e negação de viabilidade, para não dizer que foi recusada, nomeadamente por parte do Partido Socialista e também, salvo erro, pelo Partido Comunista).

A proposta do PSD só pode ser lida minimamente nesse contexto e, desde logo, como houve uma não aceitação da parte do Partido Socialista face à alteração do artigo 175.º — até ver! —, é evidente que os pressupostos de que existe identidade de soluções estão, à partida, perfeitamente postos de parte, porque tal pressuporia que ambos defendêssemos o mesmo no artigo 175.º, e ficou claro na discussão desse artigo que defendemos soluções em que, para já, não estamos minimamente de acordo.

O Sr. José Magalhães (PS): — Excepto no essencial, que é a admissão da dissolução!

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Deputado, o essencial é rigorosamente o contrário! Nós queremos acabar com a arbitrariedade da dissolução,…

O Sr. José Magalhães (PS): — Como existe nas regiões autónomas, meu caro amigo! O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Queremos acabar com essa arma política!

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Luís Marques Guedes, nas regiões autónomas não há dissolução hoje! O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — E o que o PS faz, nesta proposta de aditamento de um novo número para o artigo 233.º, é criar esta figura exactamente com os mesmos poderes que o PSD pretende retirar do poder de dissolução para a Assembleia da República, propondo que eles sejam inscritos na Constituição também para as assembleias legislativas regionais, contendo os mesmos defeitos, os mesmos elementos de perversidade que o PSD já apontou, aquando da discussão do artigo 175.º, e, mais grave ainda, que sejam exercidos por um órgão que não tem qualquer legitimidade democrática directa, ao contrário do

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Presidente da República — embora o PSD entenda que, actualmente, não se justifica e é uma perversão do nosso sistema constitucional a manutenção desse poder de dissolução arbitrário do Presidente da República relativamente à Assembleia da República —, como é o caso do Ministro da República, que passaria a ter um poder que, como já vimos atrás, o PSD até quer ver retirado ao Presidente da República.

Esta, sim, é a visão correcta da realidade. E se existe alguma semelhança política séria entre esta proposta do PS e a proposta que o PSD apresenta em sede do artigo 236.º, ela também estará — e o Sr. Presidente far-me-á a justiça de o reconhecer com bastante facilidade — perfeitamente indexada à alteração que o PSD propõe para o artigo 175.º. Sr. Presidente, é evidente que se não for possível alterar o artigo 175.º, retiraremos liminarmente a proposta de alteração relativa ao artigo 236.º, pois penso que esse é um exercício de seriedade intelectual mínimo a que todos estamos obrigados. Portanto, não vale a pena estabelecer aqui qualquer tipo de paralelismo.

O comentário à proposta do Partido Socialista, que é aquela que está sobre a mesa neste momento, está basicamente feito pela parte do PSD, mas acrescentaria apenas o seguinte: para além do mecanismo da dissolução, como ficou claro aquando da discussão do artigo 175.º — e dispenso-me de repetir todos os argumentos que, na altura, foram explicitados a propósito desse debate, como o Sr. Presidente se recordará —, conter aspectos de perversidade democrática que entendemos deverem ser retirados da Constituição, é, de todo em todo, inaceitável em qualquer circunstância, que um poder dessa natureza, que já contestámos enquanto tal, possa ser cometido a uma figura, como é a do Ministro da República, sem legitimidade democrática directa, que não tem uma responsabilidade eleitoral e cuja actividade não é fiscalizada pelo povo soberano.

Portanto, do ponto de vista do PSD, se uma «bomba atómica» deste tipo — utilizando a tal expressão que tínhamos utilizado antes — já é reprovável e deveria ser retirada da Constituição, mesmo relativamente ao Presidente da República, a bem do funcionamento harmonioso do sistema democrático, é totalmente inaceitável que a mesma seja colocada nas mãos de um órgão que, sendo constitucional e político, enquanto tal não tem (pelo menos, até ver!) uma legitimidade democrática nem, sobretudo, a possibilidade de fiscalização eleitoral, através do voto, feita pelo povo, dos actos que pratica, nomeadamente os deste tipo.

O que aqui está em causa é um poder de dissolução, um poder que põe em causa uma escolha legítima do eleitorado, que elege um determinado órgão para cumprir um determinado mandato, um poder que coarcta o normal desenvolvimento desse mandato que lhe foi conferido pelo povo e, do nosso ponto de vista, obviamente não faz qualquer sentido que possa ser exercido minimamente, em qualquer circunstância, qualquer que seja o seu conteúdo e o seu perfil, por um órgão que não tenha o mesmo mandato popular nem uma legitimidade democrática idêntica, pelo menos — e não vale a pena estar aqui a comparar se é um mandato superior ou inferior.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, gostaria tão-só de me distanciar da imputação que foi feita de apresentação sui generis e, enfim, eventualmente distinta do possível e admissível nesta matéria. Pelo contrário, o que me importou foi clarificar mais exactamente o que está em debate, distinguindo duas figuras, por um lado, defendendo uma determinada inserção sistemática, por outro, e estabelecendo ainda as semelhanças e distinções entre duas soluções propostas por dois partidos que sentiram o mesmo problema, mas que, todavia, o resolvem de maneira diferente. Isto é o mais normal que é concebível e, aliás — devo dizer —, o que seria desejável, e quando o não fazemos é por qualquer razão mas não, seguramente, por isso ser desprimoroso.

Quanto à questão suscitada pela intervenção do Sr. Deputado Luís Marques Guedes, devo dizer que ela nos deixa francamente imperturbados e também indisponíveis para travar aqui uma «guerra de bandeiras e pendões» que exceda determinado nível de decibéis, por uma razão extraordinariamente simples. De duas uma: ou este debate é pedagógico ou, então, não tem o mínimo interesse. Ou seja, nós não vamos travar um debate confusionista, que misture a dissolução/sanção com a dissolução política, que abra uma guerra de competências e uma guerra de instituições em torno de uma questão cujo valor é o que é.

Devo dizer-vos que, atenta a experiência regional, a questão que se coloca aqui é esta, na nossa leitura: ou há um consenso para suprir, para ultrapassar esta lacuna constitucional, e um consenso alargado, e a matéria

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é discutida pacificamente ou, com a mesma tranquilidade com que introduzimos a questão, deixá-la-emos desaparecer até à próxima crise em que isso eventualmente se justifique, altura em que a questão será recolocada.

Sobretudo não impressionam minimamente declarações do tipo «ou aceitam propostas em bloco», o que é uma lógica de canhoneira, que em revisão constitucional não tem o mínimo sentido, ou seja, ninguém tem vantagem na Comissão para a Revisão Constitucional em utilizar a lógica de canhoneira, dizendo «para nós está indexada — expressão um pouco bizarra, para significar que o PSD estabelece uma conecção indissolúvel e inesligável entre a proposta de abertura da dissolução ou proposta de condicionamento da dissolução e a proposta de atribuição desse poder ao Presidente da República —, portanto, ou três ou nada!»

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Se me permite, já tinha informado o Sr. Presidente que quando chegássemos ao artigo 236.º, não tendo sido aceite a nossa proposta para o artigo 175.º, a proposta do PSD caía. Apenas me limitei a relembrá-lo, Sr. Deputado!

O Sr. José Magalhães (PS): — Sr. Presidente, permita-me que complete este pensamento, ultrapassada que já está a dita cuja canhoneira, para dizer que, se não houver consenso em torno desta proposta, continuará a haver uma lacuna constitucional. Os sistemas regionais viveram com ela e nos Açores, na sequência dessa crise, houve uma maioria do PSD e, na sequência das crises seguintes, houve uma maioria do PS. A vida encontra válvulas de segurança e o legislador não é obrigado arrolhar todos os vazios da Constituição. Os cidadãos arrolham!

Gostaríamos de, pela nossa parte, que isso se fizesse em condições de máxima perfeição da arquitectura constitucional, mas far-se-á noutras condições, se não for feito assim.

O Sr. Presidente: — Estão inscritos os Srs. Deputados Luís Sá, Mota Amaral e, a seguir, eu próprio. Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Sá.

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, a primeira questão que se coloca é a seguinte: se é verdade que esta lacuna existe, também é verdade que ela só não foi mais sensível pelo facto de ter havido a maioria absoluta de um partido ao longo de 20 anos, porque, num outro quadro, poderiam, efectivamente, verificar-se situações em que a lacuna constitucional viesse a ser relevante. Este é o primeiro aspecto.

Em segundo lugar, acreditamos que actualmente não existe arbitrariedade na dissolução da Assembleia da República, isto é, o facto de não haver uma norma que condiciona não quer dizer que não existam outros factos, designadamente o castigo político para dissoluções injustificadas, que é fortemente dissuasor nesta matéria, a ponto de praticamente excluir uma tal possibilidade.

Além do mais, quando se coloca, por exemplo, a hipótese — vamos supor —, no artigo 175.º, de condicionar a dissolução à não verificação do regular funcionamento das instituições democráticas, fórmulas deste tipo são suficientemente vagas para se prestarem a diferentes comportamentos políticos, em que, em última análise, é o castigo político que é verdadeiramente dissuasor.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Luís Sá, proponho que discutamos o que está em causa.

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Presidente, em suma, diria que, por um lado, esta lacuna deveria ser efectivamente preenchida e, por outro, creio que esta questão remete, eventualmente, para a segunda leitura, até porque houve alguns sinais de abertura do Partido Socialista nesta matéria, que foram para além daquilo que o Sr. Deputado Luís Marques Guedes parece…

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — A propósito de quê, Sr. Deputado? Refere-se ao artigo 175.º? O Sr. Luís Sá (PCP): — Sim, Pareceu-me evidente!

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O Sr. Luís Sá (PCP): —Foi uma interpretação pessoal, eventualmente errada, mas que se verificou. O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Deus o oiça!

O Sr. Luís Sá (PCP): — Independentemente disso, o Sr. Deputado acredita que as normas são omnipotentes, mas creio que, mais do que as normas, há determinadas realidades que decorrem do funcionamento de um sistema político, designadamente o facto de haver eleições a seguir à dissolução, que têm esse efeito dissuasor. Portanto, acredito bastante mais nisso do que propriamente nas normas como um elemento que exclua situações de abuso do poder de dissolução política fora de um quadro que seja razoável.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Dá-me licença que o interrompa? O Sr. Luís Sá (PCP): — Faça favor.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Então, o Sr. Deputado também concorda que deve haver dissolução, nomeadamente nas regiões autónomas? Quando fala num «quadro razoável», quer dizer que o quadro também tem de ser objectivado, isto é, a dissolução só pode ocorrer quando se verifique determinado tipo de situações objectivas!

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Deputado, creio que está inteiramente excluído que o Presidente da República, o Ministro da República ou quem quer que seja dissolva a assembleia legislativa regional porque acorda mal disposto! Isto é algo completamente inverosímil. De facto, tem de haver um quadro que seja politicamente crível, que a população respectiva, os eleitores tomados no seu conjunto e o sistema político nacional e regional aceitem, sob pena de haver uma fortíssima sanção política.

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Quer dizer que se actua em função das sondagens?!

O Sr. Luís Sá (PCP): — Sr. Deputado, eu disse que acredito muito mais nisto do que naquilo a que o Sr. Deputado chama objectivação, recorrendo ulteriormente, aliás, a fórmulas que não terão o efeito dissuasor, para além de limites do razoável, que o Sr. Deputado, efectivamente, pretende.

Quanto à escolha do órgão que deve ser titular desta competência, devo dizer que, em coerência com o que já foi discutido, inclinamo-nos para que seja o Ministro da República, com a mesma ideia de que o Presidente da República se deve manter acima dos conflitos resultantes do funcionamento do sistema político regional.

Em relação ao problema de o Ministro da República ter ou não legitimidade, naturalmente a sua legitimidade não é directa. É evidente que o Ministro da República não é directamente eleito pela população, o que não significa que não tenha uma legitimidade indirecta resultante exactamente de ser proposto pelo Primeiro-Ministro e nomeado pelo Presidente da República. E mal estaríamos nós se passássemos a contestar a legitimidade de todos aqueles que têm legitimidade indirecta e não directa. Em última instância, acabávamos por preconizar eleições directas para todos aqueles que, neste momento, são nomeados por titulares de cargos…

O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Mas trata-se de um poder especial. O poder de dissolução é uma situação especial!

O Sr. Luís Sá (PCP): — Naturalmente que é, por isso mesmo é que o Ministro da República é uma figura especial, nomeado em situação especial e por entidades particularmente qualificadas.

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O Sr. Mota Amaral (PSD): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, como há pouco sublinhei, as propostas do PSD têm muito em conta a praxe dos 20 anos de autonomia democrática, as dificuldades surgidas, a necessidade ou, pelo menos, a conveniência de para elas encontrar uma solução que seja equilibrada e consagrada constitucionalmente. Este argumento valia já a propósito da criação dos círculos uninominais do artigo anterior e vale agora para a questão da dissolução das assembleias legislativas regionais.

Em todo o caso, a nossa proposta tem também uma outra lógica, que é a de aplicar mecanismos que existem no plano nacional ao funcionamento do sistema de governo regional. No sistema de governo nacional existe a possibilidade de uma dissolução para ultrapassar crises políticas, pois, será conveniente que esta mesma saída seja consagrada nas próprias regiões.

O facto de ter havido, durante 20 anos, e continuar a haver, na Região Autónoma da Madeira, uma maioria absoluta de um partido político não significa que já não tivéssemos vivido, ao longo deste tempo, alguns períodos de dificuldade e de crise. Por exemplo, em 1991, a maioria do PSD na Assembleia Legislativa dos Açores desfez-se e atravessámos um período complicado que teve de aguardar o prazo para se poder ouvir a população através de eleições. Daí a nossa proposta.

Em todo o caso, esta proposta procura também uma outra lógica, que é a evolução da figura do Ministro da República. Nós vinculamos este poder ou queremos atribuir este poder da dissolução ao Presidente da República. E porquê? Porque o Presidente da República tem uma legitimidade indiscutível devido à sua eleição. Se vamos dizer que o Ministro da República tem uma legitimidade que deriva do Presidente da República, pois bem, se é assim, então, vamos directamente à fonte!

O Sr. Deputado Luís Sá diz que ninguém imagina que o Ministro da República dissolva a assembleia legislativa regional, por sua própria iniciativa, sem mais nem menos, sem consultas ao Presidente da República. Mas se ele é apenas a «caneta» que assina o decreto, então, em vez de ser uma que seja outra! Que assuma o Presidente da República essa responsabilidade!

Aliás, quando a Constituição foi revista, já há alguns anos atrás, porque tal matéria não constava do texto inicial da Constituição, a competência para marcar a própria data de eleições foi atribuída ao Presidente da República.

O Sr. Presidente: — Mal!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Mal, na doutíssima opinião do Sr. Presidente da Comissão, muitíssimo bem na minha modestíssima opinião.

O Sr. José Magalhães (PS): — Eu corrijo: muitíssimo mal!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Esse artigo da Constituição ainda não foi corrigido e não quero crer que seja corrigido nesta revisão constitucional, obviamente!

Portanto, o Presidente da República é quem marca as eleições e, se as marca, que é, pode dizer-se, quase uma formalidade, para isso ouve os partidos, chama-os a Belém, e não se mantém fora do que se passa na região! Nem deve nem pode manter-se fora do que se passa nas regiões autónomas… Ora, se é o Presidente da República quem marca as eleições, como admitir que a dissolução do parlamento regional seja feita por outro que não o próprio Presidente da República?

Aliás, um outro ponto da praxe constitucional, que é a competência do Ministro da República para abrir a sessão parlamentar e discursar nela, tem vindo a cair. De facto, ainda há dias, o Presidente da República foi, a convite do novo Presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, abrir a legislatura. E, com toda a franqueza, com aviões todos os dias, e até aviões oficiais, que permitem viajar num instante aos Açores —…

O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Com passagens mais baratas!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — … é evidente que o Sr. Presidente não se prevalece desta benesse —, é óbvio que o Ministro da República nunca mais vai abrir qualquer legislatura. Aliás, creio que essa disposição não existe no estatuto da Madeira, mas sim no dos Açores.

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Portanto, o papel do Ministro da República tem vindo a reduzir-se e é bom que assim seja. Já na reunião de ontem, segundo me parece (com muita pena minha não pude participar neste debate, porque estava numa missão parlamentar no estrangeiro), na mesma linha foi consensualizado…

O Sr. Presidente: — Salvo seja!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — … que o Ministro da República reduz o seu papel na… O «salvo seja» é quanto à minha participação ou quanto à…

O Sr. Presidente: — Não, não! É quanto a essa consensualização.

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Ah bom! Pensei que fosse um ataque directo, Sr. Presidente. Quanto à consensualização…

O Sr. Presidente: — A sua falta foi notada, e notória!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Notória, não! Foi apenas notada. Sinto pena — é algo que me desespera — de «não ter molhado a sopa» com mais profundidade neste debate.

Portanto, o que é acontece? Não vamos atribuir uma nova competência ao Ministro da República, menos ainda uma competência desta categoria, desta qualidade.

Por várias vezes ouvi falar na dissolução/sanção e na dissolução tutelar, a propósito do actual preceito do artigo 236.º. Essa é uma forma de o encarar! Eu gostaria de o ver nesta perspectiva… Não quero quantificá-la nem quero com isso que se considerem ofendidos com essa expressão. É uma forma mais democrática.

O Sr. José Magalhães (PS): — A dissolução prévia?

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Não, Sr. Deputado. Uma dissolução… Ouvir o povo apenas!

Vejamos: a chamada dissolução/sanção não tem outro conteúdo prático. Imaginemos que as assembleias legislativas regionais praticam actos graves e contrários à Constituição. Ora, não consigo visualizar actos graves e contrários à Constituição que não seja a declaração unilateral da independência, com toda a franqueza! Tudo o resto está abrangido pelos mecanismos corriqueiros da defesa da Constituição…

O Sr. José Magalhães (PS): — Isso, como sabe, não se resolve com a dissolução!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Resolve-se através de uma garantia democrática, a de dissolver as assembleias legislativas regionais e ouvir o povo. Na certeza de que se o povo confirmasse que as assembleias legislativas regionais…

O Sr. José Magalhães (PS): — Resolvia-se com brigadas aerotransportadas! O Sr. Mota Amaral (PSD): — Espero que esse comentário não conste da acta… O Sr. Presidente: — Não é essa a questão que está em discussão.

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Mas essa questão também é importante, Sr. Presidente. É uma questão de formalização, uma questão de conceito! Como é que vemos, afinal, o relacionamento da República com as regiões autónomas? Numa perspectiva dominadora? Eu rejeito essa perspectiva! Quero que fique nas actas que rejeito essa perspectiva dominadora, pois considero que as regiões autónomas são territórios autónomos.

O Sr. José Magalhães (PS): — Todos nós!

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O Sr. Presidente: — Está registado, Sr. Deputado, não precisa de elevar os decibéis.

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Porque, se assim fosse, teríamos de recorrer ao preceito da soberania sobre os territórios não autónomos! Estamos a falar de territórios autónomos que não podem ser vistos nessa perspectiva dominadora. Nem os problemas políticos das regiões autónomas se resolvem com brigadas aerotransportadas — aparte que considero extremamente infeliz, proveniente da bancada do Partido Socialista. Resolvem-se em democracia, no diálogo, na liberdade, e é assim que eles se têm resolvido.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, é para isso que aqui estamos, e não para fazer declarações para a acta ou para os jornais!

O Sr. Mota Amaral (PSD): — Sr. Presidente, permita-me, não transmitirei essas declarações para a acta, nem quero ser objecto de qualquer comunicado da parte do Partido Socialista.

Em suma, Sr. Presidente e Srs. Deputados, defendo a dissolução nos quadros normais do regime parlamentar, uma dissolução da competência do Presidente da República. Com efeito, na lógica do progressivo apagamento das competências do Ministro da República, nunca poderemos aceitar uma competência nova para figura tão «esdrúxula» — e devo referenciar que esta expressão tem um autor, que é o ex-Presidente Mário Soares. É, de facto, uma figura esdrúxula e, portanto, não queremos, de forma alguma, dar-lhe mais poderes. Nem por sombras!

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, quero deixar duas notas. Em primeiro lugar, como se acabou de constatar, a figura nova que se prevê é igual, é a mesma, isto é, é a figura da dissolução parlamentar como instrumento de sistema de governo. Isso não consta da Constituição nem é actualmente possível. E, francamente, fora os regimes presidencialistas, não conheço qualquer sistema de governo parlamentar ou semiparlamentar que não reconheça a possibilidade de dissolução e de antecipação de eleições para solucionar crises políticas, nos casos em que elas existirem.

Portanto, a situação que temos é esdrúxula, perfeitamente esdrúxula em termos constitucionais. E só não surgiu até agora como óbvia realidade, porque se tinha por eterna a ideia de que haveria sempre maiorias absolutas, de modo que nunca seria preciso recorrer a soluções normais em qualquer sistema de governo, que é a possibilidade e a necessidade de antecipar eleições para solucionar crises no governo.

O PS e o PSD propõem isso mesmo, nem mais nem menos. É rigorosamente a mesma solução que ambos propõem e, a meu ver, bem e avisadamente o fazem — com 20 anos de atraso, mas avisadamente o fazem!

Em que é que se distinguem as propostas de um e de outro? Distinguem-se em dois aspectos: quanto aos pressupostos necessários para a dissolução e quanto à competência.

Quanto aos pressupostos, chamo a atenção para o seguinte: os sistemas de governo das regiões autónomas não são idênticos ao sistema de governo da República, porque o da República é o chamado sistema misto ou sistema presidencial; o sistema das regiões autónomas é quase puramente parlamentar. E se os regimes mistos consentem, normalmente, numa relativa liberdade de o Presidente dissolver a Assembleia, já nos sistemas parlamentares essa liberdade não deve existir. Portanto, se ponho reservas a limitar os poderes de dissolução parlamentar na República, praticamente não ponho reservas a limitar os poderes de dissolução parlamentar nas regiões autónomas. E suponho que, comigo, o Partido Socialista concorda com esta tese.

Nesse sentido, nas regiões autónomas, a dissolução parlamentar deve ser um estrito instrumento de solução de crises parlamentares. E, nesta sede, penso que seria possível encontrar, não digo necessariamente por remissão para o artigo 175.º, porque penso exactamente que as dissoluções não são idênticas entre a Assembleia da República e as assembleias legislativas regionais, uma fórmula específica para a dissolução das assembleias legislativas regionais.

Portanto, pela minha parte estaria disponível para cooperar no encontro de uma solução que delimitasse os pressupostos desta dissolução parlamentar das assembleias legislativas regionais.

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