• Nenhum resultado encontrado

O ENTENDIMENTO DE RUÍNA E AS ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PROJETUAL ARQUITETÔNICA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O ENTENDIMENTO DE RUÍNA E AS ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PROJETUAL ARQUITETÔNICA"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

O ENTENDIMENTO DE RUÍNA E AS ESTRATÉGIAS DE

INTERVENÇÃO PROJETUAL ARQUITETÔNICA

BORGES, FABRÍCIA DIAS DA CUNHA DE MORAES FERNANDES (1); COSTA,

RAÍSA DE LACERDA (2) FERNANDES, MARIANA MAIA DA CRUZ (3) SAITO,

JÉSSICA TIEMI (4); SOUZA, JÉSSICA SANTOS DE (5).

1. Arquiteta pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE). Especialista em Arquitetura de Interiores. Mestranda em Educação. Docente nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design na

Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE).

Rua Mário Ângelo Sereguetti, 519, Centro, Pirapozinho/SP. CEP: 19200-000 Fabricia.arquiteta@gmail.com

2. Graduanda do 10° (décimo) termo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Presidente Prudente/ SP.

Rua Domingos João, 90, apto11, Jardim Itapura I, Presidente Prudente/SP. CEP: 19035-275. raisalc_@hotmail.com

3. Graduanda do 10º (décimo) termo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Presidente Prudente/ SP.

Sítio Recanto da Juriti, Zona Rural, Caixa Postal nº02, Presidente Venceslau/SP. CEP: 19400-000. marianamaia_cf@hotmail.com

4. Graduanda do 10º (décimo) termo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Presidente Prudente/ SP.

Rua Itaguá, 130, Jardim Caiçara, Presidente Prudente/SP. CEP: 19050-590. jessica_tih_@hotmail.com

5. Graduanda do 10º (décimo) termo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Presidente Prudente/ SP.

Rua João Cristovão G. Medeiros, 20, Prq. Antonio Pereira, Presidente Venceslau/ SP. CEP: 19400-000.

jessygil@hotmail.com

RESUMO

O profissional de Arquitetura e Urbanismo no exercício de sua profissão muitas vezes se depara com o desafio de como intervir adequadamente em sítios históricos e por sua consequência com as chamadas ruínas. A palavra ruína é comumente empregada como forma de definir edificações velhas e abandonadas, sem uso e depreciadas pelo tempo. As ruínas fazem parte da paisagem cultural das cidades sendo testemunhas do tempo e patrimônio cultural da população. Através delas é possível ter o

(2)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS entendimento e a perspectiva de vários aspectos da arquitetura e do urbanismo pertencentes ao campo disciplinar da Conservação e do Restauro, onde a ruína é tema recorrente no campo de atuação projetual e assunto debatido por diversos teóricos em diferentes épocas, tais como, John Ruskin, Viollet Le-Duc, Camillo Boito e Cesare Brandi. John Ruskin (2008) que articula os argumentos sob o enfoque do culto às ruínas em uma visão romântica, própria do século XIX enquanto que Viollet Le-Duc (2006) preza a restauração completa de um monumento. Camillo Boito (2008) que apresenta os pontos negativos à teoria de Viollet Le-Duc (2006) apresentando primeiramente indícios sobre a autenticidade dos monumentos, e Cesare Brandi (2004), teórico contemporâneo, apresenta a questão da ruína a partir da ótica fenomenológica. Em todas estas teorias, a matéria original é o elemento principal a ser considerado em qualquer intervenção onde a reconstrução se torna um falso histórico e falso estético, por tentar chegar a um aspecto de inteireza jamais atingido originalmente. Brandi (2004) apresenta a questão da necessidade de respeito da ruína, tendo como principal objetivo prezar a autenticidade da obra, sem dizer que não podemos utilizá-la. Esta postura serve como referência projetual para as intervenções contemporâneas que mantém a matéria original e ruína, somando a ela novas intervenções que conferem usabilidade aos edifícios, não tornando-se apenas elementos que qualificam paisagisticamente as áreas pelo estado em ruína que apresentam. Através desta pesquisa inicial pretende-se trazer uma definição à questão da ruína e, assim, possibilitar a identificação e catalogação de certo número de estratégias projetuais de intervenção realizadas na atualidade no Brasil e no mundo por profissionais que se deparam com este tópico. Além disso, está incluído realizar mapeamento de edifícios históricos no município de Presidente Prudente, interior de São Paulo, que estão caracterizados segundo o conceito de ruína arquitetônica. Assim como os demais municípios do Oeste Paulista, Presidente Prudente traz um legado industrial extremamente importante para seu desenvolvimento demográfico e econômico que mesmo sendo um município relativamente novo, criado por volta de 1921, já apresenta um grande número de edifícios relacionados á este legado industrial em condições obsoletas. Tais edifícios estão basicamente ligados à época em que a Estrada de Ferro Sorocabana funcionava como meio de transporte, não só de mercadorias agroindustriais mais principalmente de pessoas, sendo eles desde indústrias de beneficiamento agrícolas tais como: Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (SANBRA) e IRF Matarazzo e edifícios relacionados ao comércio como: o antigo Hotel Municipal, as Indústrias de Bebidas Irmãos Funada, a Associação Cultural Agrícola e Esportiva (ACAE), os antigos cinemas municipais, residências ecléticas e Art. Déco, dentre outros espaços que já tiveram uma função e atualmente encontram-se marginalizadas, descaracterizadas, ou até mesmo sofreram demolições, parciais ou totais.

(3)

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo apresentar o impacto que edifícios caracterizados como ruínas arquitetônicas, são facilmente apontados pela população e pelo poder público como um problema grave. Este estudo de caso tem como base as teorias de restauro e a catalogação de certo número de projetos arquitetônicos em ruínas a fim de traçar estratégias projetuais eficazes para se aplicar no mapeamento realizado no município de Presidente Prudente, interior do estado de São Paulo.

Nota-se no município de Presidente Prudente que a paisagem urbana vem se modificando com certa frequência, e o que antes era basicamente industrial, passa a se tornar uma mescla de edifícios sem identidade definida. Devido á intervenções que descaracterizam os edifícios históricos, ao desprendimento da população e do poder público e a forte especulação sofrida, tais edifícios muitas vezes são abandonados e posteriormente demolidos.

1.1 LOCALIZAÇÃO

Presidente Prudente, localizada precisamente no Oeste Paulista, dista aproximadamente 569 quilômetros da capital do estado. Possui uma configuração espacial demarcada a partir da implantação da Estrada de Ferro Sorocabana, posteriormente possuindo uma expansão maioritária na porção oeste do município.

Figura 1: Mapa de localização em relação ao estado.

(4)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Pode-se afirmar, que tal configuração está diretamente ligada com os planos que seus fundadores, Coronel Marcondes e Coronel Goulart, possuíam para o recém formado município. Coronel Goulart tinha o objetivo de colonizar, segundo Sousa (2008), enquanto que Coronel Marcondes queria expandir seus negócios, implantando indústrias, comércios e serviços. Sendo assim, a malha urbana originou-se através do surgimento de duas vilas que levavam o nome de seus fundadores, a porção oeste foi inicialmente nomeada como Vila Goulart tornando-se anos depois o Centro Prudentino, inicialmente residencial e posteriormente tornando-se lugar de comércio e serviços. A porção leste se tornaria a Vila Marcondes, possuindo tal nomenclatura até os dias atuais.

1.2 A PAISAGEM INDUSTRIAL EM PRESIDENTE PRUDENTE

Sousa (2008) afirma que a expansão territorial do município foi predominantemente para a zona oeste motivada por diversos fatores. Um deles é devido ás questões topográficas, pois a gleba referente á Vila Marcondes era considerada extremamente acidentada o que acarretaria maiores investimentos e serviços com terraplanagem para adequar os terrenos para futuras moradias, indústrias e afins. Outro fator relevante é devido à implantação do edifício sede da Estação Ferroviária ao se escolher como fachada principal a face correspondente a Vila Goulart, ou seja, ao se chegar o município via-se primeiramente a Vila Goulart, e a Vila Marcondes ficava exatamente ás costas do edifício, e para se chegar até lá era necessário atravessar a própria estrada de ferro sorocabana. Tal fator foi responsável pela formação da barreira psicológica do além-linha discutido por Sposito (1983):

Observamos que para os habitantes do meio urbano, estrada de ferro, de rodagem ou mesmo rios constituem-se além de barreiras geográficas, devido as dificuldades causadas para a circulação de automóveis e pessoas, também falsas barreiras psicológicas, se assim podemos denomina-las. É comum ouvir-se falar das áreas localizadas além dos obstáculos; como “do lado de lá do rio”, “do outro lado da linha”, “depois da estrada”, etc. Todas são expressões que encerram para estas áreas um caráter de não muito boas para o desenvolvimento de atividades comerciais e de serviços, ou para a habitação. (SPOSITO, 1983, p.83)

Contudo, tais fatores não impediram o desenvolvimento da Vila Marcondes, tanto espacialmente quanto economicamente. A Vila Marcondes até os dias atuais sofre com esta barreira psicológica do além-linha, mas o incentivo de seu fundador Coronel Marcondes incentivou a vinda das indústrias de beneficiamento agrícola, que se instalaram estrategicamente ás margens da linha férrea para justamente facilitar a importação e exportação de produtos, além da fácil comunicação com as fazendas produtoras de matéria

(5)

prima, sendo assim, tais indústrias atraíram trabalhadores das mais diversas partes do estado de São Paulo, devido á vasta oferta de emprego, gerando assim as vilas operárias.

Basicamente, a economia do município nos primórdios de sua criação era exclusivamente agrícola devido à lavoura de café, após a crise cafeeira houve a necessidade de descentralizar a produção para novos produtos. Tais produtos exigiam certo padrão de qualidade, foi então que a vinda das indústrias de beneficiamento agrícola impulsionaram a economia prudentina, principalmente na década de 1940, por justamente introduzir o padrão de qualidade necessário e conseguir extrair novos produtos a partir de matérias primas, como por exemplo, extrair do algodão o cotton e do caroço de algodão óleo vegetal alimentício, segundo Teodoro (2012).

Por volta de 1970, segundo Sousa (2009), o declive da produção agrícola juntamente com a ascensão da pecuária atrelado ao fato da desativação da estrada de ferro sorocabana para transportes de pessoas e mercadorias agrícolas foram os principais motivos da descentralização das indústrias no município. A vinda das rodovias e o uso de caminhões para transporte, levou diversas delas a se instalarem nas regiões periféricas de Presidente Prudente, fazendo com que indústrias de beneficiamento e seus remanescentes industriais na área central fossem obrigados á fechar suas portas, levando milhares de trabalhadores á ficarem desempregados, e fazendo com que os edifícios correspondentes fossem esquecidos e abandonados.

2. O CONCEITO DE RUÍNA

Para conceituar ruína, Castriota (2009), Lemos (1987) e Silva (2011) são de grande importância no presente trabalho.

A história, de certa forma, é manipulada para que se obtenha aquilo de interesse para se preservar; sempre beneficiando alguns pontos em detrimento de outros, com uma dialética de “lembrar-esquecer” (CASTRIOTA, 2009).

As políticas preservacionistas dos patrimônios culturais brasileiros surgem com os intelectuais modernistas na década de 20. Tal política é totalmente voltada para a arquitetura colonial de forma a buscar uma identidade nacional. Castriota relata que na antiguidade o patrimônio era tido como algo colecionável; sendo somente no século XX que entram os conjuntos arquitetônicos como parte do patrimônio cultural brasileiro. Nesse século inicia-se também a preocupação com o entorno.

(6)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS A maior parte dos conceitos que norteavam então as escolhas e opções na constituição do corpus patrimonial derivava do campo das artes, usando-se noções como as de ‘obra-prima’, ‘valor intrínseco’ e ‘autenticidade’, que eram incorporadas sem maiores discussões ou aprofundamento. [...] Esse quadro vai mudar substancialmente no final do século XX, com a introdução de novos agentes no campo do patrimônio e com a crescente ênfase que se dá aos aspectos intangíveis dos bens culturais, fatores que também tornam cada vez mais necessário se explicitar a operação de atribuição de valores sempre subjacente no campo do patrimônio. (Castriota, 2009, p.100 e 101)

Castriota (2009) disserta ainda sobre a memória do lugar e como este possui uma ligação com o ser humano, iniciando-se assim as políticas preservacionistas. Essa memória normalmente acarreta fortes traços culturais, relacionando-se com a preservação da memória social e da história pública.

Tendo em vista os dizeres de Lemos (1987), este dá ênfase ao que diz Hugues de Varine – Boham. O patrimônio cultural é dividido em três categorias, sendo elas: natureza e meio ambiente (todos os recursos naturais que tornam o local habitável), o conhecimento e o saber fazer (a capacidade de sobrevivência do homem na natureza) e os bens culturais (objetos ou construções obtidas através do meio ambiente e do saber fazer). (LEMOS, 1987).

Lemos afirma sobre a importância da preservação: “Aqui, registrar é sinônimo de preservar, de guardar para amanhã informações ligadas a relações entre elementos culturais que não tem garantias de permanência.” (Lemos, 1987, p.29). E também diz que se ter um uso constante, com programas originais ajudam para a preservação de um determinado patrimônio; sendo o ato do tombamento um artifício para garantir a permanência da memória com o passar dos anos.

Silva (2011) diferentemente dos autores acima não disserta somente sobre o patrimônio cultural, ele focaliza no patrimônio industrial. Suas observações fazem-se necessárias aqui devido à grande parte das ruínas de Presidente Prudente terem sido indústrias de grande importância para o município.

Silva explana que a preocupação acerca patrimônio imaterial e industrial muitas vezes partem de iniciativas públicas ou privadas, levanto a iniciativas de tombamento. O conceito de patrimônio industrial surgiu nos anos 50 a partir do termo arqueologia industrial;

“[...] O patrimônio industrial se compõe dos restos da cultura industrial que possuam um valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. [...] A arqueologia industrial faz uso dos métodos de pesquisa mais

(7)

adequados para fazer entender melhor o passado e o presente.” (Silva, 2011, apud TICCIH, 2003).

De acordo com Silva, a paisagem cultural é tida de forma ampla e com conceitos interdisciplinares; “[...] o patrimônio cultural que envolve o conceito de paisagem cultural estaria relacionado àqueles conjuntos paisagísticos que envolvem elementos desenvolvidos pelo homem e que se caracterizem por certa relevância cultural e a paisagem natural.” (Silva, 2011, p. 90).

As empresas pioneiras brasileiras sob a perspectiva “empresa-sociedade associada”, considerando que estas contribuíram para o desenvolvimento local tanto economicamente quanto socialmente, gerando o desenvolvimento das cidades e uma formação cultural que estabelecia uma relação “empresa-comunidade”. (SILVA, 2011). “Tal capacidade de identificação entre homem e ‘objetos’ cria possibilidades de desenvolver ações ou mesmo conscientizar outros indivíduos ou grupos sobre a importância destes ‘lugares’ ou ‘objetos’ para seu fortalecimento de sua própria identidade ou seu próprio ‘eu’.” (Silva, 2011, p. 103).

2.1 TEORIAS DE RESTAURO AO LONGO DOS ANOS

Para a total compreensão dos métodos e maneiras de se atuar em uma ruína, é necessário o estudo acerca as teorias que foram aceitas no decorrer do tempo. Sendo estas apresentadas cronologicamente.

Em 1849 há a teoria de Ruskin, considerado romântico por caracterizar a arquitetura como parte da natureza, e também por defender a pátina e a idade da arquitetura. Ruskin é tido como o teórico do anti restauro: “Não falemos, pois, de restauração. Trata-se de uma Mentira do começo ao fim.” (Ruskin, 2008, p.81). Ruskin assegura que sobre uma ruína tudo deve ser feito para suportá-la até seu dia final, não importando a maneira e nem a aparências dos materiais utilizados. “[...] restauração [...] significa a mais total destruição que um edifício pode sofrer: uma destruição da qual não se salva nenhum vestígio: uma destruição acompanhada pela falsa descrição da coisa destruída.” (Ruskin, 2008, p. 79).

Viollet-Le-Duc apresenta a sua teoria no ano de 1854, defendendo o restauro total e a inteireza que um monumento deve apresentar. “Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento.” (Viollet-Le-Duc, 2006, p. 29). Le-Duc acredita que quando retira-se uma parte do monumento, esta deve ser substituída por outra de um material melhor e mais eficaz; dizendo ainda que o arquiteto restaurador deve se imaginar como o arquiteto da

(8)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

época do monumento “[...] o melhor a fazer é colocar-se no lugar do arquiteto primitivo e supor aquilo que ele faria se, voltando ao mundo, fossem a ele colocados os programas que nos são propostos.” (Viollet-Le-Duc, 2006, p. 65).

No ano de 1884 há os dizeres de Boito, sendo praticamente um crítico da teoria apresentada por Le-Duc. Boito (2008) explana sobre a necessidade de se conservar um monumento tanto em seu aspecto artístico quanto pitoresco; e diz também que quando um acréscimo ou uma substituição são indispensáveis, estas devem mostrar-se como atuais.

Finalizando as teorias, em 1963 há Brandi (2004) dizendo que restauração é toda intervenção que volte a dar eficiência àquilo produzido pelo homem. Brandi disserta sobre a restauração segundo duas instâncias, histórica e estética. Enquanto instância histórica, não leva-se em consideração a estética do monumento, devendo-se sempre conservar as adições: “Do ponto de vista histórico a adição sofrida por uma obra de arte é um novo testemunho do fazer humano e, portanto, da história [...]” (Brandi, 2004, p. 71). Enquanto instância estética pede-se pela remoção das adições: “[...] a essência da obra de arte deve ser vista no fato de constituir uma obra de arte e só em uma segunda instância no fato histórico que individualiza [...]” (Brandi, 2004, p. 84). Diante disso, Brandi disserta sobre sempre se manter a autenticidade do monumento “[...] a restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo.” (Brandi, 2004, p. 33).

2.2 SÍNTESE DE UM RESTAURO ADEQUADO

Relacionando todas as teorias acima apresentadas, é possível compreender as maneiras corretas de agir sobre cada monumento, sempre levando em consideração que cada um apresenta uma particularidade. De acordo com essas teorias Neto relata:

O método romântico de preservação constitui numa reconstituição sem documentos históricos, quando obras antigas são recuperadas e revitalizadas com certa fidelidade e muito saudosismo. Já o método arqueológico, surgido na época das descobertas das grandes ruínas mediterrâneas, proíbe a reconstrução, a não ser que se utilize métodos e materiais originais. Existe ainda o método histórico, que fundamenta-se na idéia da recuperação de edifícios de forma fidedigna, com uso de documentação, não permitindo nem a alteração do lugar original da obra nem seu espaço volumétrico. (Neto, 1992, p. 265 e266).

(9)

Um monumento histórico, ou uma ruína devem sempre ser observados atentamente para poder discernir cada detalhe do objeto; compreender onde deve ter uma remoção, onde deve-se manter intacto e onde deve-se até mesmo apresentar um refazimento, sempre presando pela autenticidade da obra original. “O caráter de um edifício é igualmente originado do espírito de uma época, dos valores de uma sociedade, das ressonâncias de uma moda ou inclusive de um empenho individual-criativo de seu autor.” (Neto, 1992, p. 266).

3. OS CASOS DAS RUÍNAS DE PRESIDENTE PRUDENTE

Presidente Prudente, assim como a maioria das cidades do interior do estado de São Paulo, não apresenta preocupação quanto à manutenção, preservação e reuso de edifícios antigos, que carregam grande parte da história local.

Esse descaso do município como um todo, é percebido por poucos moradores, principalmente os residentes mais antigos, que muitas vezes construíram, trabalharam ou moraram em determinado local. Tais moradores sentem a perda de tais edifícios, mas por serem um minoria, não são levados em consideração.

Tal problemática impulsiona o estudo mais detalhado de algumas construções em específico, de tipologia tanto industrial quanto eclética, a seguir apresentadas.

3.1 OBJETOS DE ESTUDOS

Foi efetuado um levantamento na cidade de Presidente Prudente sobre as edificações das antigas indústrias com o intuito de saber em que estado se encontrava cada uma, chegando assim a uma classificação do estado de ruína em que se encontram ou, como em um dos casos, de intervenção já efetuada.

(10)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Figura 2: Mapeamento de ruínas em Presidente Prudente.

Fonte: Autoras, 2014.

O antigo edifício sede da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (SANBRA) localiza-se na confluência entre as Ruas Alvino Gomes Teixeira e José Claro, na Vila Maristela. Chegou á Presidente Prudente por volta de 1948, com atividades voltadas para o beneficiamento de algodão, e teve o auge de sua produção em 1950, encerrando suas atividades em 1970. Este edifício foi recentemente demolido parcialmente para ceder lugar a dois condomínios verticais voltados para classe média, e a preexistência restante está sob forte ameaça devido á presente especulação imobiliária presente no município. Tais edifícios correspondem apenas á termoelétrica, que gerava energia para que a indústria, incluindo um galpão, a casa de caldeira e a chaminé, que encontram-se em estado de ruína arquitetônica, sendo alvo de marginalização urbana através de tráfico de drogas e prostituição. Atualmente, há uma briga judicial entre iniciativa privada, poder público municipal e a CIESP para decidir o futuro da preexistência.

A instalação da antiga indústria Matarazzo em Presidente Prudente faz parte da rede de indústrias da família de Francisco Matarazzo, imigrante italiano que chegou ao Brasil ainda jovem e se tornou um dos maiores empresários da década de 1940. Ocorreu, que após a morte de Francisco, as indústrias Matarazzo ficaram em posse dos herdeiros, que começaram a acumular dívidas chegando ao ponto de diversas instalações de variadas cidades de São Paulo declararem falência.

(11)

Com a falência das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, as edificações que foram feitas nas cidades, ficaram em estado de abando por muitos anos, algumas abandonadas até os dias de hoje, como é o caso de Presidente Venceslau localizada próxima à Presidente Prudente (local de estudo).

Já em Presidente Prudente a construção da Matarazzo ficou abandonada até o ano de 2003, quando começaram estudos para uma proposta de reforma e modernização do local. Atualmente no lugar funciona o Centro Cultural Matarazzo, que possui espaços aberto ao público, a biblioteca municipal, além de aulas de dança e palco de atrações culturais durante todo o ano. A edificação é um exemplo na cidade de que um espaço abandonado pode ser renovado e usado pela população, que possui um vínculo psicológico com o espaço, pois assim como as demais construções industriais da cidade, ela faz parte do início do desenvolvimento do município.

3.2 A SUBSTITUIÇÃO DOS EDIFÍCIOS ANTIGOS

Com territorialização japonesa em Presidente Prudente no ano de 1925, tendo em vista o alcance de posses sobre a agricultura e com os propósitos de retornarem para a sua terra natal ou de se estabelecerem definitivamente no país sendo donos de terras (SOUSA,2007), foi criada a Associação Cultural Esportiva e Agrícola (ACAE). Atualmente é um grande centro de convivência para as famílias japonesas contendo duas sedes na cidade, uma voltada para a área esportiva e outra para área cultural.

Com propósito de conceber um “ponto de apoio” para as 3.700 famílias japonesas, foram construídas pelos próprios trabalhadores em 1928, um conjunto de três edifícios com características maneiristas e coloniais, apesar de ambas não possuírem o mesmo tempo cronológico (SHIKASHO, 2012).

Nos dias de hoje a área onde se encontram, situada na região central da cidade, sofre com a especulação imobiliária. Com o aumento das onerações de bens, sua diretoria optou por alugar metade do terreno para uma franquia de fast-food, onde na implantação desta deveria ausentar-se de quaisquer edificações acarretando na demolição do primeiro edifício (2012). Com o mau planejamento da nova implantação e a proximidade de ambas as construções, a estrutura do edifício vizinho foi comprometida resultando o desmoronamento do mesmo (2013).

Atualmente o terreno está abandonado e sem projetos futuros. As atividades ali exercidas foram transferidas para locais inapropriados e sem adequações para tais afazeres

(12)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

degradando gradualmente o incentivo à cultura. O terceiro edifício foi “adaptado” para funcionar uma escola particular onde não há acessibilidade e suas condições são precárias.

Há também o edifício da antiga fábrica de bebidas Funada, fundado em 1947 com influências do estilo arquitetônico Art Déco. Com análises feitas no local e através de fotografias, é possível perceber que a edificação foi construída em duas fases, sendo a segunda parte mais próxima do estilo modernista.

O edifício faz parte da história prudentina e principalmente da vida dos moradores que convivem há muitos anos com o mesmo; até mesmo após o ano de 1986, quando a fábrica Funada mudou sua instalação para outro prédio na mesma cidade, deixando o local fechado e abandonado. Por ainda pertencer aos donos da Funada, o prédio não obteve nenhum outro tipo de atividade, ficando assim à mercê das intempéries naturais que danificaram um pouco a edificação. Tendo uma demolição completa no início do ano de 2014, sem uma causa aparente.

O Antigo Expurgo Municipal, localizava-se ás margens de uma das principais avenidas do município, a Avenida Brasil, pouco sabe-se á respeito de seu histórico. Através de relatos informais com a população pode-se coletar dados que afirmam que o mesmo também pertencia á iniciativa privada. O edifício era utilizado para armazenar sementes expurgadas pelas indústrias de beneficiamento agrícola, e foi diretamente afetado com a crise de 1970, deste modo foi interrompida suas atividades e o local ficou abandonado durante anos, tornando-se alvo de marginalização urbana. Segundo Hirao; Floeter (2013) em 2010, o edifício foi completamente demolido para ceder lugar á um novo, que seria a sede do

Poupatempo, e não houve a preocupação do poder público de intervir e utilizar o já existente,

requalificando-o para adaptar-se ao novo uso.

O antigo Hotel Municipal foi construído em 1929 no primeiro núcleo de Presidente Prudente. Por estar em um local próximo da linha férrea e no centro da cidade, o edifício passou por vários proprietários, sendo um deles uma família de alemães, responsáveis estes por inserir os primeiros vestígios sobre a arquitetura eclética.

Segundo Florindo (2013, apud Bernad, 2011), a construção situa-se em uma esquina possuindo duas fachadas principais com características ecléticas, germânicas e elementos neocoloniais. Mantém-se em destaque o seu pé direito duplo com uma sacada que serve de cobertura para a entrada principal.

Entretanto, no ano de 1990 foi sujeito a uma reforma resultando na demolição da sua fachada, devido à cogitação de um início de tombamento, que não foi concluído. E em 2011 obtiveram

(13)

o começo de uma reforma o que viria a ser uma galeria de comércios, entretanto, foi embargado por não possuir a aprovação do projeto para o início das atividades e pela descaracterização de sua fachada principal. Atualmente suas estruturas estão à mercê da conclusão referente ao Corredor Histórico (fundações onde tomam parte do passado histórico da cidade) da cidade de Presidente Prudente (FLORINDO, 2013, apud Bernad, 2011).

3.3 A RUÍNA E A POPULAÇÃO PRUDENTINA

Analisando o município de Presidente Prudente numa totalidade, sua população apresenta descaso e indiferença à questão dos edifícios antigos que marcaram a história do crescimento e da colonização da região. Por esse ângulo, nota-se não somente o descaso pelo que é antigo, como também com qualquer questão cultural que remeta aos tempos da fundação do município.

Se o antigo já não é tão bem visto, muito menos pode-se dizer dos edifícios aqui apresentados, os ditos ruínas. Que muitas vezes acabam por ter sua degradação evidenciada por vândalos, já que a cultura local nunca foi de importância para a sociedade prudentina.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base em todos os estudos efetuados e dados coletados, conclui-se que algumas teorias já em desuso, como a de Ruskin e de Le-Duc, muitas vezes fazem-se eficazes após a análise de um monumento. Explica-se tal afirmativa da seguinte maneira: um monumento arquitetônico pode se caracterizar de forma tão singular e com tanta importância física, psicológica ou cultural, que o mais adequado a se fazer é somente ampará-lo e preservá-lo de tal maneira imponente; ou um monumento com as mesmas características do anterior perde uma determinada parte, causando o sentimento de perda na população e um efeito de lacuna, sendo então justificável o seu refazimento.

Tomando os objetos de estudo deste trabalho, em geral, deve-se aplicar a teoria de Brandi, realizando um restauro ou intervenção arquitetônica prezando pela autenticidade histórica e artística do bem imóvel.

Além de conclusões acerca as teorias de restauração, é possível ainda observar que o grande descaso apresentado pela população prudentina, mesmo que indiretamente, impulsionou de certa forma a possibilidade de demolição de referenciais arquitetônicos e históricos. Sendo possível dizer ainda, que somente uma mudança na educação de base, com a introdução da cultura como fator de importância, que o município poderá apresentar

(14)

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

uma configuração social diferenciada, com respeito e sentimento por aquilo que viveu e conta história.

REFERÊNCIAS

BOITO, C. Os Restauradores. Cotia: Ateliê Editorial, 2008. BRANDI, C. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.

CASTRIOTA, L. B. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume, 2009.

CIESP estuda assumir e revitalizar patrimônio da extinta Sanbra. O Imparcial, Presidente Prudente, p. 5b, 25 ago., 2013.

FLORINDO, C. Preexistência Arquitetônica Do Saber Contemporâneo: Biblioteca

Pública No Edifício Do Antigo Hotel Municipal Em Presidente Prudente.-SP. Presidente

Prudente, 2013.

HIRAO, H.; FLOETER, R. A. O patrimônio arquitetônico e urbanístico de Presidente Prudente: o possível preservado. Revista Tópos, Presidente Prudente, ano 6, n. 2, p. 53-68, 2013.

LEMOS, C. A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Editora Brasiliense S. A., 1987. NETO, A. M. N. C. A intervenção arquitetônica em obras existentes. Semina, Ci.

Exatas/Tecnol., Londrina, ano 13, n. 4, dez. 1992. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/semexatas/article/view/3200/2681>. Acesso em: 21 ago. 2014.

RIEGL, A. El Culto Moderno a los Monumentos. Madrid: Gráfica Rógar S.A., 1999. RUSKIN, J. A Lâmpada da Memória. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.

SHIKASHO, E. A saga dos imigrantes japoneses em Presidente Prudente. Presidente Prudente, 2012.

SILVA, R. A. R. Paisagem cultural industrial: memórias de um patrimônio da contemporaneidade. Revista Labor & Engenho, Campinas, ano 5, n. 1, 2011. Disponível em: < http://www.conpadre.org/L&E/L&E_v5_n1_2011/05_p86-106.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2014.

(15)

SOUZA, A. As origens do capital industrial nipo-brasileiro no município de Presidente

Prudente. Presidente Prudente, 2008.

SOUSA, A. A. O processo de industrialização em São Paulo e o seu desdobramento no oeste paulista: o caso das indústrias de Marília/SP e de Presidente Prudente/SP. ETIC-ENCONTRO

DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA-ISSN 21-76-8498, Prudente, ano 3, n. 3, 2009.

SOUSA. I. A. M. Uma análise da morfologia urbana de Presidente Prudente: as antigas

áreas industriais seu uso e seu não uso. Presidente Prudente, 2008.

SPOSITO, M. E. B. O chão em Presidente Prudente: a lógica da expansão territorial

urbana. Rio Claro, 1983.

TEODORO, A. A Indústria na Primeira República e o Desenvolvimento do Capitalismo

no Brasil. São Paulo. 2012.

VICHNEWSKI, H. T. As Indústrias Matarazzo no Interior Paulista: Arquitetura Fabril e

Referências

Documentos relacionados

A determinação da variação dimensional de barras de argamassa, conforme a NBR 13.583, foi utilizada para avaliar o potencial de mitigação do material ligante composto por cimento CP

a) Doenças pré-existentes ao período de viagem (vigência do seguro) e quaisquer de suas conseqüências, incluindo convalescenças e afecções em tratamentos ainda

O emprego de um estimador robusto em variável que apresente valores discrepantes produz resultados adequados à avaliação e medição da variabilidade espacial de atributos de uma

HART + pwr terminal Permite comunicação via HART com a unidade Trex, e fornece alimentação para um dispositivo via HART Conectores: Dois conectores “banana”. Inclui fonte

Isso significa que Lima Barreto propõe a ressignificação do olhar lançado sobre o futebol, deixando transparecer sua crítica às ten- tativas de padronização cultural e

Pode-se concluir que o reconhecimento do Parque Nacional Serra da Capivara por parte das comunidades tornar-se-á possível através da implantação do con- junto de

Formação entendida como um processo dinâmico no qual o docente esteja consciente das singularidades da atividade e possa, a partir do conhecimento acumulado e de suas práticas éticas

da rosca do pino, teoricamente, o material aquecido escoará das bordas do ombro em sentido ao centro da ferramenta, tendo o pino roscado à função de mover o material