• Nenhum resultado encontrado

Entrevista com Joaquim Chipande

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Entrevista com Joaquim Chipande"

Copied!
69
0
0

Texto

(1)

Entrevista com Joaquim Chipande

http://www.aluka.org/action/showMetadata?doi=10.5555/AL.SFF.DOCUMENT.machel0002

Use of the Aluka digital library is subject to Aluka’s Terms and Conditions, available at

http://www.aluka.org/page/about/termsConditions.jsp. By using Aluka, you agree that you have read and will abide by the Terms and Conditions. Among other things, the Terms and Conditions provide that the content in the Aluka digital library is only for personal, non-commercial use by authorized users of Aluka in connection with research, scholarship, and education.

The content in the Aluka digital library is subject to copyright, with the exception of certain governmental works and very old materials that may be in the public domain under applicable law. Permission must be sought from Aluka and/or the applicable copyright holder in connection with any duplication or distribution of these materials where required by applicable law.

Aluka is a not-for-profit initiative dedicated to creating and preserving a digital archive of materials about and from the developing world. For more information about Aluka, please seehttp://www.aluka.org

(2)

Entrevista com Joaquim Chipande

Author/Creator Chipande, Joaquim (interviewee); de Carvalho, Sol (inteviewer)

Date 2003

Resource type Interviews

Language Portuguese

Subject

Coverage (spatial) Mozambique, Tanzania, United Republic of Coverage (temporal) 1954 - 1975

Source Samora Machel Documentation Center

Rights By kind permission of Alberto Joaquim Chipande and the Samora Machel Documentation Centre (SARDC).

Description This interview tells the life story of Alberto Joaquim

Chipande, one of the early leaders of FRELIMO's liberation struggle, the commander of the first attack in the war for independence, and a close colleague of President Samora Machel. Aspects covered in the interview include

Chipande's background growing up in a peasant family in Cabo Delgado province, his flight to Tanzania, guerrilla training in Algeria, and developments within FRELIMO in the late 1960s.

http://www.aluka.org/action/showMetadata?doi=10.5555/AL.SFF.DOCUMENT.machel0002

(3)

Joaquim Chipande 20:00:40 – A Gravar…

- Posso começar agora? Muito bem, eu chamo-me Alberto Joaquim Chipande, filho de Joaquim António Chipande e da Felícia Paulo Mateus. Ehhh, sou da origem da família camponesa... eee... tanto os meus irmãos, como eu... fomos educados ehh... como qualquer outra família ehhh... africana. Na família eu era o quinto filho... sim... o quinto filho, e éramos sete... da mesma pai, e do mesmo pai... O meu pai tinha três mulheres, e a minha mulher... a minha mãe era a segunda mulher, depois das três... De modo que foi assim... e tenho mais outros irmãos, de outra mulher, e nós fomos educados num ambiente de grande família, e éramos todos irmãos... e assim fui educado... 20:01:44 - ...? - na minha família também, os meus irmãos quase todos dependiam mais da parte

materna, mas o meu pai pegou a mim, eu fui sempre a depender dele. Tirou-me de casa e mandou-me para a escola, na Missão Católica de Murrube, e é lá, nos aos cinquenta que comecei a estudar, e nos anos... 56... fiz a quarta classe, complementar, terminei, e

naquela altura não podia fazer nada porque era criança, segundo diem os padres, disseram que eu era criança, tinha 16 anos, não podia, eh... ser professor... fazer nada, mas se eu quisesse podia ser seminarista para continuar a estudar, mas eu não tinha vocação e disse que não, não queria. De modo que tive que ficar um ano sem fazer nada e no segundo ano os padres chamaram-me e deram-me missão para eu ensinar, e comecei a ensinar em 1957... E dali fui professor até nos anos de1963. Ora, entrando na história seguinte... na vida... eu sou daqueles jovens dos anos da década de cinquenta, aqueles que já viveram na pele, no sangue, na carne, no osso, na mentalidade, as sequelas ou então fomos vítimas do passado colonialismo dos 500 anos. E eu vivi isso, digo isso porquê? Eu não consegui viver juntamente com os meus irmãos, assim, aquela harmonia da família, porque todos tiveram que participar no trabalho forçado, uns emigraram para a Tanzania e então nunca vivi aquele ambiente de pate... paternal... com os meus irmãos, fugiram... fugiram do trabalho forçado... portanto, fui vítima de um passado colonial dos 500 anos. Ao mesmo tempo...

O que era? Algodão...

- Era algodão, e ao mesmo tempo, era participar na plantação de João... João Vieira, em Mocimboa da Praia, tinha plantação de Sizal, tinha a plantação de... cajual, e de

coqueiros... então, como as pessoas que moravam ali no litoral, não estão habituados a fazer este trabalho, então a mão de obra vinham buscar na zona de Moeda, então os meus irmãos sempre eram vítimas pra ir lá... e eu nunca participava. Lembro-me muito bem que um dia, estive com o meu irmão, vieram lhe pegar ali para ir cumprir o trabalho forçado, ele foi lá, mas não demorou uma semana e quando voltou, fugiu para a

Tanzania. Carregou os outros irmãos, fugiram para a Tanzania e eu nunca mais vivi com eles... Só consegui ver o meu irmão quando eu fugi de Moçambique para Tanzania, fui me encontrar com ele, e... de modo que isso é uma das coisas que galvanizou-me,

(4)

cultivou-me o espírito nacionalista do vento libertadora, sobre a pressão, sobre o colonialismo, as maldades, isso então galvanizou-me eu criar mais ódio.

- 20:05:19 - ... ou não tinha notícias nenhumas da família na Tanzania?

- Eu n... vivi a ouvir falar de TANU, desde 1954, um dos meus irmão foi para lá fugido, esse quando fugiu em 54... na altura eu tinha os 17 e poucos anos, ele quando volta diz que ele era membro... participava na TANU, lá na Tanzania... na Tanzania, participava, vivia na zona de Linde, os meus tios estavam lá, uma série da família que estava lá... como eu sou da fronteira com a Tanzania, então pronto... e dali então pronto,

acompanhava tudo aquilo que se passava na Tanzania... _______, formação, tudo isto... e não só isto, quando os moçambicanos que estavam na Tanzania, criaram a MANU, então pronto, eu tive contacto directo com os homens de MANU...

20:06:24 – Isso em 61, 62...

- Isso foi... em setenta... primeiro contacto com MANU... não, com TANU, foi em mil novecentos e setenta e... não, foi em 1957. Em 57 é que eu tive o primeiro contacto, quando sou recrutado pelos velhos da região... ali em Moeda, eu era professor, como eu disse aqui que em 57 comecei a ensinar, então os velhos quando me aceitaram na missão como professor, vieram ter comigo e pediram-me para eu trabalhar com eles... eu

perguntei “mas que trabalho?”, diz que “não, é um trabalho muito profundo que nós queremos trabalhar...”, e nessa altura, penso que já ouviram falar de Lázaro Cauandame... sim... então o Lázaro Cauandame tinha aquela organização Sociedade Agrícola e

Monetária dos Africanos de Moçambique, que fazia algodão. Havia um sistema de algodão que era dirigido pelo Sagar, empresa Sagar... que estava ligado... E havia então uma empresa que foi criada... uma sociedade dos moçambicanos, criada pelo Lázaro Cauandame, era nos meados... no passado colonial... aquilo era política, lá dentro não era coisa de fazer o coisa não... lá dentro falava-se da política, e tudo, mobilizava toda gente através dessa associação. Então em 1957, eu sou chamado para vir trabalhar com eles, eu perguntei “mas que trabalho é?”, disseram-me que “bom, o trabalho é difícil, e você como é professor, nós queremos o seu apoio... para ajudar...”, então explicaram-me que “isto aqui sim, é uma Associação Algodoeira dos Africanos de Moçambique, mas por dentro nós estamos a fazer política...”, e dali então começaram a confiar-me a tarefa... missões para eu ir cumprir, e recebia delegações clandestinamente que saíam da Tanzania, tando de TANU, como de MANU, que vinham trabalhar em Moçambique, então recebia assim, clandestinamente... desde os anos 57, 58, 59, até a altura em que Lázaro Cauandame, foi... vamos dizer assim, foi preso, exonerado da região dos Makondes, para Montepuez, para não ter contacto com as pessoas... então prontos, trabalhamos em 58, 59... 60, Massacre de Moeda... eu fui activo... activista. Recebi todas as delegações que vinham contactar com os portugueses, clandestinamente, eu com os meus amigos jovens... um deles é o falecido Simão Tobias Ndondo, e o actual... o Raimundo Machimapa... esses eram meus chefes, eu era jovem ainda, eles eram mais velhos, eles é que me enquadraram, o Ndondo e mais... e mais o falecido Coronel João

(5)

Mandala, esses é que me enquadraram. Então prontos, recebia as delegações que vinham, esses da MANU, e pronto...

20:09:37 – Era MANU ou MAA, Mozambique African Association?

- Não não... Tinha esta African Association, isto lá, lá em coisa... nós aqui em Moçambique, não tinhamos MANU, porque não podiamos formar, era uma coisa camuflada, aqui tinhamos a Associação Algodoeira dos Africanos de Moçambique... sim... então criou... Lázaro criou isto como cobertura do trabalho político que havia lá dentro, e tinha contacto directo com a administração, com o regime colonial, como uma coisa pacífica, que vem por bem... é organizar os nativos ali para poder fazer uma

unidade, mas por dentro, já fazia política, então é este o núcleo que já tinha contacto com os políticos, antes de coisa... de... de MANU, primeiro tinha contacto só com TANU, antes da criação de MANU, nos anos cinquenta e... porque quando eu fui já havia essa organização, quando me chamaram. Parece que isso foi fundado em cinquenta e... eu quando entro ali já estava a estudar, cinquenta e quatro. Cinquenta e quatro, cinquenta e cinco, cinquenta e seis, e então quando eu chego lá, então os velhos recrutam-me,

cinquenta e seis sim, e em cinquenta e sete começo a trabalhar com eles, nessa associação algodoeira, como cobertura do trabalho político que se fazia lá. Mesmo quando os

primeiros nacionalistas que estavam na Tanzania vieram para Moçambique, nós é que íamos receber... na fronteira, ou em Luala, ao lado da Tanzania, ou no Rovuma, para Moçambique, para o interior... e... lá trabalhava, depois acompanhávamos e eles

voltavam para a Tanzania. Antes de criarem a MANU, depois quando criaram a MANU, informaram-nos ofcialmente de que criou-se a MANU lá... em Tanganhica na altura. E assim, começamos a trabalhar. Mais tarde, como eu estava a dizer, esse trabalho todo, depois do Massacre de Moeda, quando dá Massacre de Moeda... porque, o Massacre de Moeda como é que se dá? Esses nacionalistas que estavam em Tanzania, não estavam organizados, havia uma série de organizações pequenas lá, mas nós aqui em Moçambique estamos bem organizados, bem estruturados, mas eles lá ainda, não tinham ideias claras... sobre aquilo que... só que eles estavam embebidos por aquela onda, aquele vento

libertadora de África, nesse espírito nacionalista, movido pelo TANU, pelo Candu, pelo Uganda, Gana, onde... via-se em toda a parte... O vento libertador da África é do mundo todo, é da... pronto... e eles sentiam isto, e alguns deles, porque estavam ligados

directamente com o TANU, como activistas... então não sabiam como fazer em

Moçambique. Dali então, atravéz do contacto que eles tinham, muito mais ligados com o Kauaua, e mais com... com Cambona, que era... que era moçambicano, e mais o próprio Nyerere, aconselhou-lhes para eles se organizarem... eles organizarem... em vez de fazer coisas só como moçambicano estar na TANU, porque eles em Moçambique lá, têem o regime colonial, ali era Tanganhica... então foram exortados assim, conselhos de Kauaua, Cambona, Nyerere, e outros ali... gente de TANU naquela altura... então dali os

moçambicanos começaram a organizar-se, em movimento. Então este lá em Tanganhica funda este MANU... primeiro tinha colocação regional... como eles não, era a MANU que significava Mozambique African...

(6)

- Hum... ya... tinha só a região dos Makondes só... sim... Depois então aquilo deu-se nessa dimensão nacional... MANU, Mozambique African National Union, MANU, agora, depois do movimento. Então esses aqui de MANU, quando já começaram, primeira coisa tinham que lidar com esses da associação... algodoeira... do Lázaro Cauandame, como um ponto de ligação, e dali então, nós começamos a receber os primeiros grupos que vinham de Moçambique agora. Nós não podiamos fazer nada em Moçambique. Então nos anos 58, aparece o primeiro grupo, o primeiro enviado era o... era um jovem... que não me vem o nome dele, mas veio, recebemos, ele transmitiu-nos que lá em Tanzania há a ideia de que ele foi enviado, e ele voltou. E depois veio o Makaba, veio o Makaba, este que está até hoje, ele sozinho... veio, não fez nada, só diz que vinha fazer trabalho clandestino, nós levamos, amarramos, depois mais tarde veio o Faustino Magumbe, veio pela primeira vez... veio, apresentou-se lá, e regime o que é que diz lá, os portugueses, dizeram que “olha tu não podes fazer nada aqui, volta...”, não lhe fizeram nada... foi recebido, e mandaram-lhe de volta acompanhado pelo sipaio até no Rovuma, e mandaram embora para a Tanzania.

20:15:11 – Ele falou com a administração?

- Falou falou, foi até na administração, apresentou-se lá, o que é que tratou, não houve dimensão assim, pronto... e pronto, disseram que “você veio até aqui, é maluco este homem... não tem boa cabeça”, por isso deram aos sipaios, disseram “acompanhem... até no Rio Rovuma para atravessar a fronteira”, então o Faustino voltou, acompanhado até no Rio Rovuma, atravessou fora.

20:15:38 – Quando diz que faziam trabalho político, concretamente que tipo de trabalho é que trabalho é que estamos a falar, era falar com as pessoas, era aumentar a consciência, era... que tipo de trabalho é que era? E a outra pergunta é com a sua família

concretamente, quando os seus irmãos fugiram, a sua família nunca foi... as autoridades coloniais nunca foram ter com a família a perguntar pelos irmãos, o que aconteceu etc? - O tipo de trabalho político naquela altura, não se podia fazer nada... porque havia a PIDE, havia lá esse... PISCO Social, esses andavam em toda... era mais perigoso, porque eles, mesmo no mato, quando chegavam lá, registavam toda a gente, aqui o que é que você tem, a sua casa, se tem machamba, em que sítio, até as vezes íam na machamba... lá no mato... kilómetros e ia ver lá. E qual era a ideia de ir lá ver, ir saber essas coisas... para saber se... porque eles sabiam que bom, um dia há-de haver guerra, e essa guerra será tipo guerrilha, e guerrilha vive no mato... por isso registava toda gente, para ver o que é que o homem tem, às vezes surpreendia para fazer visita na machamba... então o trabalho que a gente fazia, era chamada de atenção, toda a gente ter cautela... não confiar ninguém, no regime, um amigo teu, não... PIDE é muito perigoso, você não conhece quem é da PIDE, pode ser teu irmão, pode ser teu amigo, por isso o trabalho que a gente fazia, não pode contar a ninguém, nem falar. Só aqueles que são da célula, mais nada, o resto você não fala, nem com a família nem com ninguém... sobre o objectivo dessa associação. Então as pessoas eram educados assim, entre nós ali, não falar com ninguém, nem comentar... senão, PIDE é irmão, é mulher, é amiga, PIDE tinha ainda... e essa coisa de PISCO

(7)

Social também, que estava lá inundado em toda a parte e tudo... e tinha esse tipo de coisa... e por isso, era muito difícil...

20:17:37 – E essa célula era como os outros partidos, onde só se conheciam três pessoas, o chefe...

- Três, chefe, e outros não se conheciam, mais nada... era essa célula... três, e o resto não se conheciam nada... E era esse tipo de organização que ficou licenciada de pessoas de que houve... os portugueses, são estrangeiros, um dia, hão-de ir, vocês estão a ouvir o que se passa em Tanzania, estão a ouvir o que se passa em Quénia, estão a ouvir o que se passa em Gana, estão a ouvir o que se passa lá no Egipto, no Cairo, lá não sei aonde... tudo, mas aqui em Moçambique, não tinhamos ideia de como é que havia de ser feita... pensávamos que os americanos haviam de vir lá libertar-nos, ou talvez os russos haviam de vir libertar, havia uma série de ideias, mas ninguém tinha uma coisa muito... muito certa, tinham a noção de que haverá liberdade, tanto como em Tanzania está ser feito e tal, e Moçambique só porque não tinha instrumentos, que era o partido, não havia. Por isso, confiava só na associação. Até eu lembro-me que havia uma reza, que nós faziamos, antes de começar... antes de começar qualquer reunião, ou encontro... em Makonde dizia-se ..., “oremos à Deus, e à sua mãe Virgem Maria, para que ele liberte o nosso povo, e o nosso país”, era assim... antes de começar... a reza era assim... adoremos a Deus. Era esta a nossa reza, todos, antes de começar... então, alguma coisa já vinha... mas como fazer não sabiamos. Então, portanto quando já apareceram esses movimentos lá em Tanzania, como eu dizia, vieram esses enviados, esses mensageiros, eles também não estavam claros... e lá também em Tanzania não estavam organizados. Cada qual, se estava em Tanga, saía de Tanga directamente para Moçambique, para vir falar... outros estavam ali em Dar-Es-Salam, saía dali e não havia contacto... De modo que nós aqui as vezes perguntamos... nós que estávamos aqui em Moçambique éramos mais sólidos, mais claros sobre a situação, eles não... nós lançamos perguntas “o que é que você está a fazer lá? Nós estamos a vossa espera...”, diz que “ah, nós ainda

estamos...”, “estão o quê? Estão a demorar...”. Então quando vieram esses enviados, mensageiros, nós escondíamos, tratávamos, regressava, como eu dizia que primeiro veio aquele Macaba, há um outro que não me lembro o nome, veio, tratamos com ele, depois veio o Macaba, depois veio este... o Faustino Magumbe pela primeira vez, e mandaram-lhe voltar, e depois veio o Tiago Mula, este aqui, quando chega, ele estremeceu muito porque há muito tempo ele era um catequista lá, e quando chegou ele era muito... um homem muito... mexeu lá... os portugueses ficaram muito agitados, então levarm, a primeira pessoa a ser levado é ele... levaram para Mocimboa da Praia, e da Mocimboa da Praia para Porto Amélia, dali não voltou mais, levaram para Lourenço Marques, e prontos, exportaram... e... não voltou... e depois, veio mais um grupo de sete pessoas... dirigido pelo Simone Tchutcha, com uma senhora, vieram, recebemos, foram lá falar na administração, e os portugueses não permitiram que eles voltassem mais para a Tanzania, também levarm, deportaram-nos, e nessa altura, o Macaba andava por aí, ele não foi detido, esse... o primeiro. Quando descobriram que já vinha também o Macaba, levaram... então pronto, limparam tudo ali e ficou assim. E depois o que é que eu fiz? Depois de tudo isso... e nós ficamos “agora o que é que vamos fazer?”, às tantas então é que aparece o Quibiriti de ... de novo, com o Faustino Armando. Então, este chega, em 60, e foram

(8)

apresentar-se a administração, e disseram “vocês vêm daqui a quatro dias... três dias...”, e pronto, e comunicar toda a gente... pra vir lá, e comunicou-se toda gente, veio, e estava cheio Moeda, estava muito cheio... eu estive lá e fomos todos, para ouvirmos o que é que eles íam falar... mas já sabíamos qual era o sentimento... o que é que... que ideias é que ele trazia. Primeiro era exigir aos portugueses... não é para independência não, para melhorar a vida dos moçambicanos, acabar com o trabalho forçado, abertura de estradas, boas estradas, vencimentos, preços, também... ter valor, não tinha nada, galinha custava dois escudos e cinquenta... e uma pessoa trabalhava durante... no trabalho forçado, trabalhava seis meses, ganhava sessenta escudos... em seis meses... quando voltam de lá, sessenta escudos que ele ganhava... E tudo isso é que foi ali... o trabalho, era forçado... e então tratavam esse assunto, e os portugueses disseram que “não, vocês são malucos... então venham daqui a três dias...”, então eles voltaram, recolheram-se com os familiares ali, e no dia x nós fomos lá no dia 16, aquilo estava cheio Moeda, eu nunca vi enchente como aquela, estava cheio cheio cheio cheio... milhares de pessoas. Então fomos lá de manhã, e eles comunicam a Porto Amélia, de Porto Amélia então o Governador não vem sozinho, primeiro mandou um contingente, forças para Moeda, e... estava lá... e, quando estavamos lá, os homens já tinham chegado, estavam lá esse... o Quibiriti, o governador já estava lá, chamou, foram lá para dentro, falaram o que falaram, quando saiem, disseram que olha, o Quibiriti, falou bem, mas agora não falou bem lá dentro... é o intérprete... ah sim sim... agora, pediu, quem queria falar mais lá? Nós não sabíamos o que é que passava lá dentro, nem nos disseram o que é que falaram... “falou mal, mas quem quer falar?”, e nesse dia, é uma coisa impressionante... todo mundo, o público lá, não queria nada, queria ver a independência e acabou... como Tanzania, como... você via alguns com inscrições aqui... atrás, a frente, independência... pele de leão e não sei quê... tudo... pronto... chega, chama as pessoas a perguntar para is falar, então saíram lá cerca de... três pessoas, a medida de três, em vez de três, havia mais de dez pessoas, então cortaram, disseram que outros ficam... então...

20:24:42 – Eram só homens, ou havia mulheres também?

- Havia mulheres também, que foram pra lá... voluntários para irem falar... então, quando foram para lá, só pegaram esses cinco, algemaram, não perguntaram nada... chega ali, algemaram, formatura ali na varanda ali... na administração... epa, o que é que há, o que é que há... nós ali fora, não sabíamos de nada... as tantas o governador vem, desce, chega ali, e quando desce, manda vir o carro, jeep, com polícia e tudo, mete ali... para meter esses homens todos... não o Quibiriti, esses todos que pediam para voluntários... para metê-los lá. Ah, ali então agitou... agitou-nos todos, então nós avançamos todos, em direcção ali onde estava o governador... e eu sou daqueles que estava a três metros, nem chegava três metros, ao pé do governador... estava lá em frente... e aquilo começou... uma escaramuça que não podia não sei quantos... eles não aguentaram, por fim o governador não conseguia, mandaram abrir fogo para o ar... ninguém parou... vai... fogo ao ar... por fim, ele mandou abrir fogo directamente... para as pessoas... e nessa altura que estava a abrir fogo, aquela força que estava lá, atrás... escondida lá em baixo de Moeda, então vêm, telefonaram, comunicaram, vieram tomar posições lá, naquele lado mesmo... então prontos, tomam posições e começam a disparar... apontar mesmo, eu estava assim, nem podia voltar assim não, era só empurrar aquela moldura de gente... pronto, caía, eu via ali,

(9)

este caiu, ali... e por fim, eu não fui longe, há uns dez metros, tem um túmulo do major... do major que faleceu no combate de Cumbane, de 1917, então puseram lá os ossos dele... construíram lá, e eu coloquei-me ali, naquele túmulo... fiquei lá, pronto... começaram a disparar... quando viro assim, todo mundo recuou, e eu estava lá... e saíram todos dali, pensavam que eu já estava morto também... e quando acabou, eu saí dali, procurar a minha bicicleta... fui encontrar lá longe... eu tinha ido com a minha bicicleta... então pronto, recuamos... e agora? O que fazer? Dali então a coisa ficou mais... ali, ninguém... o trabalho era já livre... todo mundo só falava já da... da liberdade... e aqueles homens foram levados então para Porto Amélia, e de Porto Amélia para Lourenço Marques... todo aquele grupo... dali então, baniram... disseram que “não queremos mais essa associação... não quero mais, não há nada... se vocês querem agora, é bom organizar-se em grupo pequenos, não de grandes... grupos de cinco cinco cinco...”, então ali criamos uma associação chamada de cinco... como eram só cinco pessoas. E nessa altura, o Lázaro não estava, como tinha desterrado para Montepuez, então quando vira a situação mandaram-lhe voltar... para vir apagar o fogo... entretanto mandaram voltar, veio lá, e diz “então o que é que vamos fazer?”, diz-se que “está bem, você voltou então comece a organizar...”, então, agora começamos a organizar um grupo de vinte e cinco... vrios grupos de vinte e cinco, vinte e cinco, vinte e cinco... não ultrapassar vinte e cinco... porque antes de haver muitos grupos... e assim foi, começamos a organizar... dali então, contacto directo... informação do Massacre de Moeda já tinha corrido em todo o mundo, em toda a parte... e dali então, Ferme entrou, África e o mundo, já se falava disto... e isso, fomos forçados a fazer uma coisa séria... lá em Tanzania então, MANU, começou a organizar-se de uma outra maneira, não como uma associação tribal ou regional ali não, mas ..., a Tanzania também desempenhou um papel muito importante... dali então, entram em contacto com o Mondlane que estava nos Estados Unidos da América, não era aqui, os tanzanianos, contactos com o Nyerere e tudo aquilo, faz contactos com outros, então lança a ideia de uma conferência em Es-Salam... E, essa conferência em Dar-Es-Salam é marcada para o mês de Julho, então nós somos informados... mas já éramos membros da MANU... já tinhamos cartão... eu tinha já cartão de MANU... já era MANU 20:29:27 – E nessa altura não havia alguma discussão entre fazer só Makondes ou... - Havia... já... a ideia inicial... primeiro era só Makondes, aquilo que eu falei... era só Makonde... MANU, Makonde... African National Unity... sim... não era Moçambique não, primeiro era só Makonde, porque a ideia, quando formou-se em Mombaça, porque foi em Mombaça, era só Makonde African National Unity, depois mais tarde quando já houve essa ideia de visão geral, deixou de ser Makonde, e passou a ser Mozambique African National Unity...

20:30:05 – E não houve discussão entre vocês, que não queriam, só queriam ficar... - Havia, eh, porquê não? Havia, havia ali... mas como nós não participávamos, estavamos em Moçambique, os que estavam lá na Tanzania, havia problemas... até alguns, que ficaram lá com ideias deles, não quiseram entrar no MANU, no MANU... ficaram ali o Makonde... e pronto, acabou... E esses deram-nos trabalho... não faz ideia, não foi fácil... mesmo depois da fundação da FRELIMO, continuaram com ideias deles... e mais tarde,

(10)

não tiveram ideias só como Makondes não, passaram para outros movimentos, como FELIPAMO, que tinha apoio de Gana e não sei quê, como a... esse coisa... do Nino Guambe... sim... e vários lados... aqueles serventes da FRELIMO, então eles passaram por lá... esses de Makonde African National Unity, então foram distribuindo nesses... nesses movimentos assim... houve esse problema, alguns vieram para a FRELIMO, outro não... ficaram ali, mas quando nasceram outros partidos, contra a FRELIMO, esses aqui, foram juntar-se com esses... sim... foram juntar-se com esses do... De modo que foi assim... De modo que então pronto, depois disso a ideia foi muito vasta agora, uma visão agora, não era só questão da sociedade agrícola não... agora era questão de... ver o país, como libertar Moçambique, como lutar por Moçambique... porque já vimos, em Moeda, foram massacrados, agora esperamos o quê. Então foram enviados homens de MANU, e contactam o mundo fora, tudo... essa ideia da conferência... dos moçambicanos que teve lugar em Dar-Es-Salam em Julho de 62... e ali, então, participação de todos

moçambicanos provenientes de todo o país... uns, eram... tinham criado já o seu movimento aqui... na Rodésia do Norte, que é o... o DENAMO... Melalo, estava lá tabmém... esse coisa... Bazar Chancomba, estava lá, UNAMI, depois tinha o MANU... então pronto, tiveram que juntar esses três movimentos em Dar-Es-Salam no mês Julho de 62, e nós em Moçambique que estavamos lá, nós preparamo-nos, fomos informados com antecedência, mandaram mensageiros dizer que “ouve, diga aos moçambicanos que haverá uma conferência, e lá vamos discutir a questão de como agora libertar

Moçambique... todo Moçambique, não é só aqui... os Makondes, não é aonde não... todo Moçambique... e dali então pronto... nós, a nossa associação, preparamo-nos, e

mandamos delegados... para a conferência... 20:32:58 – Desse grupo de vinte e cinco já? - Sim sim... desse grupo de vinte e cinco... Era como? Dois de cada...

- Não não... duas pessoas... representados por duas pessoas... hum... representados por duas pessoas... de todos grupos de vinte e cinco, vinte e cinco, mandaram dois

delegados... e preparamos, financiamos nós próprios, mas como nós estamos ligados, por causa do vinte e cinco, machamba do vinte e cinco, ou com o governo português, que nos apoiava, tinhamos isto tudo... como fazermos isto tudo, sem que saiba o governo

português... então dali tinhamos que ir falar com eles, dizer “olhe, nós fomos convidados na Tanzania... na Tanganhica, porque há uma reunião lá, estão a chamar todos

moçambicanos...”, como fazer? Negar ou não? Ir ou não? Nós não queriamos fazer... senão vão dizer que esses são régulos... então dali, o administrador diz que “não, venham depois, eu vou dar a resposta...”, um dia destes chamou-nos e diz “não, vão participar...”, “sim, podemos ir?”, “sim, vão participar”, então lá, deu-nos dinheiro, (risos), está aqui... custear... “quantas pessoas?”, “duas pessoas...”, “quem são?”, João Namimba, e o velho Pascoal Ngumbi, que vão pra lá, representar Cabo Delgado... João Namimba, esse que faleceu aqui em Mabelane, preso político, depois estava aqui nesta cadeia, depois Mabelane e morreu lá... então pronto, esse é que foi, e o outro é Pascoal Ngumbi... então pronto... preparámos esses homens, para ir representar Cabo Delgado, o Namimba e o

(11)

Pascoal Ngumbi... representar todo o grupo de vinte e cinco, vários que havia lá espalhados... então reunimos, e...

20:34:43 - ... ?

- Não, primeiro foi a conferência, para unir todos, primeiro foi a conferência, e depois é que foi o congresso... hum... e então, quando houve isso tudo, o que é que nós dissemos? Dissemos “olha, nós vamos... os portugueses deram-nos dinheiro, como é que nós vamos fazer?”, então nós próprios fizemos... angariamos fundos, para os nossos delegados... então aquele dinheiro que deram-nos os portugueses, dissemos que esse dinheiro não se toca nem em um centavo, “vão entregar lá, ao chefe lá em Dar-Es-Salam, e nós juntamos todos um dinheiro e entregamos, e dissemos que “para utilizar para as vossas dispesas, o dinheiro está aqui. Este montante este, não tirem um centavo... vão entregar lá em Dar-Es-Salam...”, então entregamos, e eles foram lá em Julho, participaram... na primeira conferência... onde participaram todos moçambicanos vindos de todos cantos. Estavam representados três movimentos que haviam, no exterior... Estava lá MANU, Mateus Mola, como presidente, estava lá Adelino Guambe, como da DENAMO, estava lá o Baltazar Changombe , como da UNAMI...e estava lá o Mondlane, que estava lá sem partido, quase... mas ele era adepto da... da... deste da... este do coiso... o Adelino Guambe... sim...

DENAMO?

- DENAMO sim... porque tinha contacto com DENAMO ele, tinha essa ideia, mas não tinha... estava só assim... E lá no congresso... na conferência, os moçambicanos foram unânimes de que sem unidade, não podemos fazer nada, nós temos que nos unir... 21:00:54 – Essa sociedade agrícola, quantas pessoas tinha mais ou menos? - Uuuuhhhh!!! Eram milhares, éramos milhares, na ...? Eramos milhares... Mas e como é que era, tinham cartões...

- Sim, tinhamos cartões, cada um com o seu cartão... não era só assim não... sim... E essa zona abrangia que religião?

- Moeda, Mocimboa da Praia, Nandade, Mudumbe, zona de Macumula, no norte de Macumula, toda aquela zona norte...

21:01:30 – E os dirigentes eram todos jovens professores?

- Não não... primeiros professores foram... eram esses Lázaro Cauandame, depois mais tarde integraram os professores, para estarem a frente do nosso grupo...

(12)

- Com o resto da população sim... e não foi fácil, primeiro eles não queriam também... não queriam...

21:01:50 – Chegou a conhecer e a falar com o Nhangumba? - O Faustino?

Sim. - Sim...

21:01:56 – ...? - Todos, depois, antes...

Mas ele nessa altura já falava na independência ou não falava?

- Eh... a ideia não estava muito clara sobre a independência... tanto para eles. Numa primeira fase, eles sentiam-se... não estavam muito claros, sobre aquilo que é, mas eles tinham um espírito nacionalista... mas como faltava essa visão de Moçambique... porque não sabia. Para ter essa ideia é preciso você ... de Moçambique, não é fácil... e fica sabendo que, em Moeda, naquela zona de Moeda, os portugueses não permitiam eu sair para um distrito, sem guia de marcha... não podia. Para ir Mocimboa da Praia, para ir a Mudumbe, para ir a não sei quê, era preciso guia de marcha, e muito mais uma

província, Nampula... ninguém sabia... ir para Nampula... não sei foi para onde... não sei... Europa... sim... de modo que era este limitante... esta questão limitante que pessoas não tinham ideia... sobre...

21:03:00 – ...?

- Sim, mas... com... com o contacto que os moçambicanos tiveram em Tanzania, este aqui vem de... de Gaza, do centro, do sul, donde, todos ali... então foram-se re... descubrindo, dizer que afinal vocês lá... nós estamos... nós estamos... então afinal... o sofrimento é o mesmo, a pressão é a mesma, colonização é a mesma... ah... então ali as pessoas ganharam a dimensão nacional...

O trabalho da MANU era só receber as delegações, ou fazia coisas mais concretas? Ou troca de ideias...

- Naquela altura, os homens que vinham lá não tinham a aquela coisa não... era só por emoções... daquilo que se via... sabia que tinha que ser feito em Moçambique, mas como, de que maneira, não estava claro...

(13)

- Houve... houve... houve, nesse contacto. Porque eles não podiam vir a Moçambique, sem passar por este... sim...os da MANU...

Esse Mola era conhecido ou ...?

- O Mateus Mola? Não, o Mateus Mola não era conhecido, era só em Tanzania, porque ele nunca passou... era filho de um imigrante. Os pais é que saíram de Moçambique, zona de Palma, ele foi para lá, estudou, e pronto... ele nunca conheceu, nunca soube o que é ... conhecer...

21:04:27 – Mas vocês em Moçambique conheciam-no ou não?

- Mateus Mola? Não... eu fui conhecer quando fugi de Moçambique para lá... de que afinal é esse Mateus Mola... sim...

Quando é que fugiu?

- Em 63... sim... quando chego a ... lá onde que vi o Mateus Mola... sim... mas já não era da FRELIMO... sim... quando vi... quando o conheci, não era da FRELIMO, não estava na FRELIMO... sim... Agora, eu estava a dizer que então com a conferência de Dar-Es-Salam, o resultado... então juntaram-se, moçambicanos de todos cantos, e lá então, o Mondlane estava, participava, era a fusão dos três movimentos a questão... unidade nacional... dito e feito, a unidade saiu lá... tanzanianos deram grande apoio, na pessoa do kauaua e do Cambone, Óscar Cambone... e o Nyerere próprio... “dizer aos moçambicanos que vocês sem unidade, não vão lutar, nem conseguir... divididos não vão fazer...”, “lutar por uma causa...”... então os moçambicanos acataram esses conselhos, e dito e feito, nasceu a FRELIMO... Frente de Libertação de Moçambique, fusão de três movimentos, MANU, DENAMO, UNAMI... e havia a questão lá, o que é que vão fazer... esses... lideres desses movimentos, como fazer, como resolver o problema... então

colocaram... e todos ali disseram que “não, temos que votar...”, e votaram... por isso a questão da democracia de voto, não era novo... começou na FRELIMO... começou na primeira conferência que criou a FRELIMO, então votaram, e Mondlane foi escolhido, como Presidente da Frente de Libertação de Moçambique que acabava de nascer... a conferência teve lugar de 22 a 25 de Junho de 62, então escolhem o Mondlane... e os outros o que é que vão fazer? Mateus Mola, Adelino Guambe... então Mateus Mola foi eleito como Vice-Presidente, Adelino Guambe ficou como um dirigente, como outros, ali, para outros departamentos que forem criados... então foram encaixados em

departamentos, vários que estavam lá... então a unidade criou, foi criado o movimento, mas não estava ainda definido, o objectivo desse movimento. Era preciso então um congresso, para definir... então criou-se, num espaço de três meses... Junho... Julho, Agosto e Setembro, preparar um congresso... então preparou, e decidiu que eu...

Setembro, voltaria de novo para Dar-Es-Salam, para agora definir a linha, a política desse movimento, que acabava de nascer... então encarregou-se ao colectivo que foi criado lá, para agora preparar o congresso. Nesse espaço de três meses, começou a haver

problemas... por isso, é assim, sempre quando há uma coisa nova, há oposição, há os que... Adelino Guambe diz que ele não queria ser ali não, saiu, logo, desertou... criou

(14)

outro partido... esse... o partido dele. Mateus Mola, um pouco... foi foi, mas não chegou lá, no congresso, não chegou, também, ficou fora... o único que ficou lá, é o Baltazar Changombe... mesmo quando criou a FRELIMO, quando juntou os movimentos, Baltazar Changombe, ele como Changombe não entrou, na FRELIMO... diz que “eu entrego os meus homens lá, tudo... mas eu fico de fora...os meus homens ficam na família, eu fico fora...”, ficou fora... só quando mais tarde, Mondlane veio, ele viu Mondlane diz que “ah sim, agora já veio um homem formado, eu vou participar ao lado de Mondlane...”, mas como... não como essa coisa não... não pretendia nenhum partido, e ficou. E ali então, a FRELIMO agora já estava injectado o sangue novo... não é aquilo dos emigrantes, que estavam só em Tanzania e que não tinham uma visão, não é só aqueles emigrantes que estavam no Malawi, não é só aqueles emigrantes que estavam aqui na Rodésia do norte e do Sul, mas agora já estava lá moçambicanos que vêm de Moçambique, que já estavam envolvidos directamente com o regime lá, na sua política quotidiana. Essa coisa de... quando se fala de trabalho forçado, já estava lá pessoas que foram lá, passaram lá... essa coisa quando se fala de descriminação, já estava lá pessoas, que já passaram... viver, sentir no sangue, no osso, e... já estava lá. Então começam a aparecer esses... então, daí então já começaram as reuniões... redescubrir, de que afinal o colonialismo é o mesmo em toda parte de Moçambique, é o mesmo... e ali galvanizou a unidade, não em termos de partidos, mas em termos de ideais políticos... as pessoas foram descubrindo que afinal é a mesma coisa, não há... não foi... moçambicanos como preto... fomo ver também de que ouve, há brancos que foram já oprimidos pelo regime, há mulatos também que já passaram pelo mesmo, porquê, pela... porque era de segunda, não era de Portugal... afinal, sim... fomos ver a diversidade do colonialismo, e a natureza da operação dominação, então dali a FRELIMO foi muito longe daquilo.

21:10:27 – Isso eram discussões que vocês tinham ali? - Sim sim sim...

Então como é que se passava? Eram debates, eram conversas?

- Vou chegar até ali... eu vou lhe... primeiro contacto assim... choque sobre esse

problema, vou chegar até ali... (risos)... primeiro debate, não foi fácil... foi difícil... então pronto, começamos a ver ali... eu próprio quando estava em Moeda, estavam lá

enfermeiros, daqui... chamam-me, eu sento com eles, diz que “mas você é daonde?”, “eu sou de Lourenço Marques...”, “como é que é Lourenço Marques?”, comoçavam a falar falar falar... “você é assimilado, eu não sou assimilado, mas porquê que você agora quer fugir?”, “jovem, ..., eu sou assimilado, é só assimilado, mas o resto não é nada... é só para facilitar isto isto e isto...”, “afinal...”, e eu ajudei enfermeiros para fugir para Tanzania, quando era professor... esconder, mostrar caminho... daqui do sul... é o Iakudi, Jacinto Iakudi, é o Calazanso, que era enfermeiro em... em... emm.. em Niaca, o outro enfermeiro em Balama, o outro enfermeiro ali mesmo em Moeda, tive que facilitar, escondê-los, para fugir para Tanzania, dar pessoas para mostrar o caminho clandestino para sair... eles vão lá...

(15)

- Depois do massacre... hum... depois do Massacre de Moeda... Antes da conferência?

- Antes da conferência... antes da conferência... sim, antes da conferência e antes do coisa...

E depois do massacre os portugueses já tinham começado a perseguir todos africanos mais evoluidos...

- Não, não começaram logo... eles tiveram muita cautela. Quando houve aquilo, eles primeiro tiveram que apagar aquele... porque foi uma coisa... chocou todos... então vieram ali com nova política... ya...

A população nessa altura fugiu?

- Fugiu... então eles tiveram que vir lá... depois do massacre... que é para aparecer... como apereceu ali a tropa. Ali não havia tropa, mandaram muita tropa, contingente... não sei qual... a tropa vinha lá... pacíficos... carretavam... em Moeda havia falta de água,

carretavam água para a população... sim... não sei quê, isto e tal, carregava doentes para tal, não sei quê quê, tudo... tudo aquilo... para as pessoas esquecerem aquilo passou, não houve nada... não foi assim, não houve ... não... inclusivê, eu viajei um dia com o administrador, porque eu fazia parte... era presidente de um dos grupos, dos grupos de ensino, então pronto, fui lá, para ir buscar... porque tinhamos uma machamba grande de arroz. Então fui lá buscar semente, eu fui lá, cheguei de bicicleta, ele viu-me, o

administrador, “então professor, como é?”, eu disse “não eu vim buscar semente...”, já está pronto?”, eu disse “sim, já...”, “onde está?”, eu disse “está ali na secretaria...”, “vamos...” chegou lá, veio com o jipe dele, carregou... ele costumava andar com o sipaio, armado... tudo não sei quê quê acompanhado, nesse dia ele diz “não, eu vou com o professor, nós os dois...”, eu disse “como é?”, “vamos nós os dois...”, pronto, “o que é que há hoje?”, pronto, metemos os sacos, a minha bicicleta lá, eu queria ficar atrás no coiso lá, ele diz “não, venha aqui dentro...”, eu fui lá dentro, ele conduziu no volante, saímos... fomos fomos, a conversar, “como é professor, então isto como é que vai?”... chagamos numa parte, paramos o carro. Então começa “então professor, como é?”, “está tudo bem...”, “como é que se sente?”, “eu estou a sintir-me bem...”, “o que é que tu sabes sobre essa coisa do Nyerere, ali, Tanzania, falam muito, de vir aqui para tomar isto...”, eu disse “senhor administrador, Tanzania não há nada, e eles não vão fazer nada, eles são tanzanianos, e nós somos portugueses...”, “mas tou a dizer...”, nós somos portugueses, isso é guerra...”, “sim, nós somos portugueses”, “ele é tanzaniano lá, o muito que ele podia ser era ser inglês, lá, britânico. Agora nós aqui somos moçambicanos, agora o Nyerere vem aqui fazer o quê, porquê que não se preocupa com essa coisa, ..., é uma coisa que há por ali, que as pessoas não têem capacidade de ver as coisas...”, “pois é isso mesmo, é isso mesmo...”, conversamos lá, vamos embora, saímos, fomos e no meio paramos... “ouve lá professor, eu quero que você peça a esses homens malucos que andam por ali, vieram aqui não sei quê...”, “eu primeira coisa que vou fazer, é denunciá-los junto da autoridade, tropa , tudo... eu vou denunciá-denunciá-los, para serem presos todos...”,

(16)

pois é isso mesmo. Diga aos outros lá... vocês que já sabem... têem um pensamento, têem uma visão, é bom explicar isso, isso é mau...”, eu disse “está bem...”, fomos fomos fomos, chegamos na machamba, descarregamos... (risos)... o arroz, ele diz “voltar, vamos lá...”, eu disse “não eu não volto, eu fico aqui...”, eu pensei de novo essa conversa,

(risos), eu fiquei na machamba, “eu vou dormir aqui, porque amanhã tenho que explicar a esses homens, saber como semear e não sei o quê...”, “não, vamos embora, eu vou

acompanhar...”, eu disse “não não não...”, eu fiquei lá, e ele voltou sozinho... veja o tipo de conversa... e não só isto, ele teve ódio comigo, rancor... no dia que eu fugi, ele veio pessoalmente, o administrador... com o carro dele, mas não me apanhou, eu saí por trás da porta... veio pessoalmente para vir me prender... eu estou a ver que ele ía me

descarregar dizer que “você, aquele dia...”, (risos), veja lá isto...

21:16:35 – Mas no dia em que ele ía para lhe prender, já sabia... tinha algum indício de que...

- Sim já estava tudo... tinha lista, tinha lista de todos, com informação de cada um... tinha tudo... eu vou chegar ali também... então pronto, depois de... vamos entrar essa coisa da... a conferência... depois da conferência então decidimos preparar o congresso, o primeiro congresso, veja lá só, alguns não chegaram no congresso. Começou a deserção, porquê deserção é um fenómeno normal, não é uma coisa que começou desde há muito tempo, hum, logo depois do congresso... da coisa... da conferência, dois meses já alguns desertaram, foram... porquê, se o sistema foi democrático, mondlane foi eleito

democraticamente, não quiseram democracia? Queria o quê? Ditadura ali? Queriam o quê? Essa é a questão que temos até hoje... quando aparece aqui... não é uma coisa... é uma coisa longa na FRELIMO. Quando nós estamos aqui a ver coisas de oposição e não sei quê, é normal, é assim... é assim que é a liberdade das pessoas, e a libertade não é quando dizem que na FRELIMO não há liberdade... Oh, nós já lá, naquela altura... e nunca perseguimos... Guambe, Arlindo Guambe, esse Mateus Mola vinham aqui, nunca fizemos mal. Mas hoje, esses movimentos, quando um sai do movimento, é perseguido... como? E eles esquecem que esses todos, são desertores da FRELIMO, nunca são

perseguidos, hã, todos são desertores da FRELIMO mas não são perseguidos, mas nesse movimento dele, basta um deles sair, oh... está mal... perseguido, humilhado, até... lutam para não ter nenhum direito, como cidadão... até da cidadania, que é conferido pela constituição... põem em causa... (risos), hã... veja lá isto. Portanto, fomos ao congresso... 21:18:47 – Mas desculpe, a discussão era sobre perda de poder...

- Espera lá... como conduzir a libertação? Quem é? Definição de moçambicanos também, entro, eu vou lá... quem é que deve lutar? Quem é que deve fazer política? Todos... houve essa prova, hum, por isso nós tivemos que colocar quem é moçambicanos, com quem... lutamos contra quem? Era essa a pergunta, com quem lutamos, e contra quem... Era para começar nossa... primeira coisa era isso... então, quando vamos para o congresso... o papel do nosso grupo lá do interior... isso foi lá es Dar-Es-Salam, nós lá no interior começamos a organizar, agora, não para irmos lá como conferência, para irmos lá como partido... como... não é partido... como... organização... fomos lá como organização. Agora, os nossos delegados, o João Namimba e mais o... quando acabou o congresso,

(17)

quando uniram a FRELIMO, recebeu tarefas lá, hum, o João Namimba, recebeu tarefas... para reconhecer toda a fronteira de Tanzania-Moçambique, desde o oceano Indico... de coisa... da ponta de Cabo Delgado, até ao Lago Niassa, conhecer a fronteira, sua

composição, tudo... recebeu tarefa da FRELIMO, para ele fazer este trabalho... Então, o nosso delegado, ficou lá... não voltou logo para Moçambique, só voltou o colega dele... ele voltou e chegou, então João Namimba demorou, Junho, Julho, chegou só lá em Agosto... porque estava a reconhecer a fronteira de Moçambique com Tanzania, toda a fronteira com Tanzania, Moçambique-Tanzania, Niassa e Cabo Delgado. E quando chega, ele informa-nos, diz “olha, FRELIMO já nasceu, já temos uma organização, já temos presidente...”, “nós já sabiamos, mas era preciso ouvir de ti...”, “e agora o que é que vai-se fazer...?”, eu disse “vai lá apresentar o relatório em Moeda... vai lá apresentar, vai lá explicar...”, diz que “explicar o quê?”, “aquilo que houve, diz que foi eleito o Mondlane lá, um moçambicano que estava nos Estados Unidos da América, você explica, não esconde, senão vamos ter problemas...”, então pronto, ele teve que ir lá com o amigo dele... na administração. Pronto, chegou lá, “como é que foi lá em Dar-Es-Salam?”, diz que “oh... reuniram lá moçambicanos de toda parte, barulho, não há entendimento, não há nada, até alguns já não querem essa FRELIMO que foi fundada, lá dentro, logo ali...”, “ai sim?”, “sim...”, “e agora?”, “bom, Mondlane foi eleito, mas ele diz que não vai trabalhar agora... foi, voltou para os estados Unidos da América, já foi lá...”, “e agora, não há-de vir mais?”, “não, já lhe disseram que temos que reunir mais, em Setembro... iremos lá, ele diz que há-de vir, em Setembro...”, “há-de vir?”, “sim”, “e vem fazer o quê?”, “eh... disseram que é congresso...”, “ai sim?”, “sim... mas já no início, oe três movimentos já uniram e pronto...”, “e você, qual era o seu papel?”, “diz que “não, eu sou de Cabo Delgado, só era para vir aqui comunicar aos outros, ouvir o que é que nós sentimos sobre isto, se estamos de acordo ou não...”, agora diz “e vocês são de acordo?”, diz que “ainda não veio nada...”, então o administrador diz “está bem, comecem lá a trabalhar, vão lá...”, então o homem voltou, chegou lá, deu-nos o relatório, começamos a preparar o

congresso, de novo fomos lá ter com ele... na administração. Chegamos lá, diz que “congresso já chegou, Setembro já chegou...”, diz “está bem, quem é que vai?”, “o mesmo grupo...”, mas os portugueses foram inteligentes, prepararm pessoas, fora de nós, e mandaram para lá... mulheres, homens, e não sei quê... tudo... avançarem primeiro, foram trabalhar lá com o cônsul de Portugal em Dar-Es-salam... antes de nós irmos lá, o cônsul lá recebeu... grupos, começou a trabalhar com eles lá, explicar ali tudo, isto isto isto e isto... o cônsul de Portugal, e um que estava em Zanzibar também... tinha o cônsul, e tinha o outro, então os dois é que começaram a trabalhar, forte e feio, para... eh... chegou a hora, deram-nos mais dinheiro, aqueles nossos lá, e nós também demos mais dinheiro, esse aqui não utilizem, levem lá, vão... e foram para lá. Congresso, primeira coisa, objectivo, lutar... recrutamento de jovens, para a luta armada, porque, ir pedir independência as Nações Unidas, Portugal há-de ouvir, em Moeda já morremos, onde não sei aonde... portanto, não há hipótese com Portugal. Portanto, luta armada, tarefa numero um, recrutamento de jovens, mobilizar o povo para a luta, lutar... na base da unidade, recrutamento de joves, preparação de jovens, por isso, todas províncias, enviar e mobilizar o povo para a luta... ir levar jovens, e mandar para a Tanzania... esse foi, pronto... receberam missão, primeiro congresso deu a lei, deu aprovado o estatuto, programa, não sei quê, tudo aquilo... aquela toda história... Então, numero um, era recrutamento de jovens, mobilização do povo para a luta e recrutamento... Quando

(18)

voltam dão logo essa informação. Esse nosso delegado, João Namimba, de novo recebe a tarefa, diz que “você não vai, vai rever de novo onde vão passar, porque se a guerra começar, vai ser na fronteira com Tanzania, nós queremos saber onde vamos meter guerrilheiros...”, então ele leva essa missão, e demora... em vez de ele voltar em

Setembro, Novembro... aqueles homens que foram enviados pelos portugueses, aqueles da PIDE, todos, esses mal que acabou o congresso, em três dias já estavam em Moeda... o cônsul levou-lhes até a fronteira, no dia seguinte já estavam em Moeda... relatório

completo, estrutura da FRELIMO, organização interna, como é que estão organizados lá em Cabo Delgado, quem são os chefes, toda lista, nossa, nós éramos de lá... (risos)... tudo... pronto... nós sentimos... afinal, quando ele vai comigo, aquela viagem, quando volta, em Dezembro... Janeir... Dezembro, então, entra numa de contar aquelas coisas, eu ali a responder ali... e ele foi, o administrador... e nós fomos lá, ele perguntou-nos “João Namimba porquê que não volta?”, nós dissemos “não, é que tem a mãe que está doente aqui na fronteira....”, ele “ah, sim sim sim...”, mas ele já sabia tudo, já tinha toda informação... e no mês de Novembro, nos fins de Novembro João Namimba chega, quando chega, é chamado “João Namimba, o que é que foi? Como é que foi o

congresso?”, “ah, o congresso foi isto e isto e isto...”, começou a falar a falar... ele queria ouvir, sobre preparação interna, como que vão preparar a guerra, como começar, onde é que vão entrar os guerrilheiros, quem são... toda aquela lista que receberam dos outros... João namimba não tinha lista, nem tinha programa, só veio falar... disseram que “está bem, volta, vai pensar... daqui a uma semana volta aqui, para responder...”, então voltou, diz que “o que é que disse?”, diz que “fui dito para daqui a uma semana voltar para lá, para ir responder...”, “ai sim... agora vamos dizer o quê?”, “ah sim... sei...”, então quando vai para lá...

21:26:54 – Mas vocês não desconfiaram que aqueles outros podiam ser da PIDE?

- Não, já... já desconfiavamos... nisto, quando vai para lá João Namimba, começaram-lhe a perguntar “diga lá, o que é que foi? Qual é a estrutura da FRELIMO aqui em Cabo Delgado, porque lá decidiram que tem estrutura, tudo, tem chefes e não sei quantos, há chefes pequenos, grandes, até... e onde é que a luta vai começar, tudo, como é?”, diz que “ah, isso não é verdade isso...”, “não?”, diz que “bom, senhor administrador, eu fui para lá, eu não estava no sector dos documentos, eu estava num outro sector, estou ali, público, falar... agora, se houve isso, é lá onde elaboravam documentos lá... é possível que haja...”, “ah sim sim..”, pronto... administrador foi lá, tirou a documentação toda, “estrutura de Cabo Delgado é esta, você é isto... Lázaro Cauandame é chefe, você é secretário geral, aquele é não sei quê, flano é isto... é ou não é?”, diz que “ah, eu ouvi falar disso, ouvi, sei que eles escreveram para isto e isto, eu ouvi, isso falou-se lá, mas para implementação ainda não houve nada...”, disseram “então vai-te embora”, mandaram-lhe voltar para casa... passados dois dias, vieram carregar todos, os chefes nossos... toda parte, para a prisão de Moeda... todos, no mesmo dia, então ficamos nós pequeninos, ficamos lá, e ficou lázaro Cauandame fora, passar de uma semana, foram prender Lázaro Cauandame também. Lázaro Cauandame como é que escapa? Ele tinha motorizada, foram até a casa dele, esses da polícia, esses de PISCO Social e tudo aquilo, e quando foram para lá, pegaram a motorizada dele, puseram no jipe, quando arrancaram, andaram uma distância, o carro saltou, a mota estava para cair... ele diz que “não não,

(19)

vocês vão estragar a minha motorizada, dá lá... eu vou de motorizada, vocês vêem atrás, eu vou a frente...”, “não, nós vamos andar devagar...”, “não quero mais”, então

discutiram lá, tiraram a motorizada e deram-lhe... ele pegou na motorizada e começou... chegou numa parte, ele começou a acelerar, aqueles caminhos pequeninos, ele acelerou, chegou num sítio, ele enfiou-se no mato, dali fugiu... dois dias desaparecido, nós

pensavamos que ele morreu lá, porque dispararam... quando chegaram começaram a disparar tudo aquilo, pensavamos que lhe mataram... mas não... então não aparecia, terceiro dia apareceu, Lázaro Cauandame... e acompanhamos para Tanzania...

acompanhamos para Tanzania... Eu estava a dizer que Lázaro Cauandame foge, apareceu e acompanhamos para Tanzania, definitivamente. Agora ficamos nós, o resto, todos foram carregados, todos chefes, estavam presos... Lázaro Cauandame acompanhamos, atravessou também, ficamos nós... e... todo mês de Janeiro, nós andávamos assim escondidos, Janeiro e Fevereiro. No dia 3 de Fevereiro era nossa vez agora, para vir nos prender todos professores... no dia 13 de Fevereiro, de manhãzinha, o administrador veio na minha casa 6 horas da manhã, 5... com Land Rover dele, com sipaios, tudo, para nos prender... eu, Pachinuapa, e o resto... e nós fugimos, saímos da casa, de manhã as 5 horas, abandonei a casa, não despedi minha mulher, não despedi tudo, saí pela porta de tráz, sem sapatos, com... a maneira como saí, não voltei mais para casa, directamente para Tanzania... fui para o mato, do mato... tudo descalço, deixei tudo ali... com calção só... fugi para Tanzania, e chego lá... chegamos ali no dia 16... 13... espinha aqui, não tinha sapato, espinhas... tudo... aquela distância toda, andamos, com chuva...

21:32:24 – Quantos dias?

- Levamos dois dias, dois dias a pé e a comer ali... não ser vistos, só a noite... escondermo-nos... atravessamos o rio, chegamos em Tanzania, os tanzanianos ali... pronto, primeira coisa, prenderam-nos... (risos)... prenderam-nos, disseram “ahhã, vocês s`ao PIDE’s...”, dissemos que “não, nós não somos PIDE’s...”, “vieram fazer o quê?”, “não, nós viemos... somos da FRELIMO...”, “hã, vieram reconhecer a FRELIMO não é, porque agora tem muitos PIDE’s aqui, porque estão sendo enviados muito mais pessoas que têm educação, os professores e não sei quê, agora vocês também...”, diz que “não”, levaram-nos para a esquadra da polícia, interrogatórios... pronto, por fim, nós dissemos que “não, nós viemos aqui, porque o nosso chefe está cá, Lázaro Cauandame...”, “hã, por cima disto, estavam a procura desse mesmo... temos mais outros PIDE’s lá, que foram enviados a procura de Lázaro Cauandame aqui, e vocês são do mesmo grupo...”, dissemos “não, nós trabalhamos com ele...”, “diz que “não”, então pronto, carregaram-nos para a administração, em Nhanguala, chegamos lá, ali havia sede da FRELIMO, viram-nos os homens da FRELIMO, disseram “não não não, esses são nossos chefes...” lá, então fomos libertados, e... no dia seguinte, organizaram-nos meio de transporte para Linde, onde estava Lázaro Cauandame, isso no dia 16 de Fevereiro...

21:32:56 – Então primeiro foi em Nhanguala, depois...

- Hum... Nhaguala, depois Linde... primeiro foi Mahuta, hum, Mahuta, posto, posto administrativo, lá onde é que fomos detidos lá... de lá então, acompanhados com os homens da polícia até Nhanguala, de Nhanguala então fomos interrogados, então fomos

(20)

entregados a FRELIMO, FRELIMO diz que sim, já conhecemos, são nossos chefes... sim, e dali então organizaram-nos para ir até Linde, onde estava Lázaro Cauandame, a uns 300 kilómetros dali... então, chegamos lá, de novo interrogatório, lá em... o Governo Provincial, era província... interrogatórios conosco, se tinha ou não... nós dissemos “não, não temos nada, nós viemos aqui porque somos da FRELIMO, fizemos isto e isto...”, e não só isto, encontramos muitos jovens recrutados, nossos alunos, que nós mandávamos para lá... recrutados por nós, encontramo-nos lá... Então juntámo-nos ali todos... ali, a vida era difícil... amanheceu, era só feijão, e... mais nada... no dia em come feijão, temos, farinha pode, só... ficámos lá todo Fevereiro e Março. Lázaro Cauandame então, ele não ficava lá, andava toda a fronteira de um lado para o outro, então veio o ..., esse americamo que estava como Chefe do Departamento da Defesa... então veio, soube que lá há professores lá... que fugiram de Moçambique. Chego lá, fomos receber, veio,

entrevistou-nos, ele diz que “ouve, os professores todos vão sair para Dar-Es-Salam daqui a nada... não vão ficar muito tempo...”, “ah sim sim...”, então pronto, ele voltou para Dar-Es-Salam, eh... em Março, no dia 22... Janeiro, Fevereiro, Março dia 22 nós saímos... numa pequena embarcação, fomos, no dia seguinte... dois dias, chegamos em Dar-Es-Salam, no escritório da FRELIMO, lá encontramos... Mondlane não estava lá,

econtramos toda aquela estrutura e não sei quantos... “epa... é este o escritório da FRELIMO?”, “é este sim...”, pronto, ficamos lá... “e agora, o que é que vamos fazer?”, disseram que “bom, esperar Mondlane, porque há-de vir, dos Estados Unidos da América... ele é que tem o programa...”, encontramos o Marcelino dos Santos,

encontramos o Chissano, eu encontrei lá a ele, quem me recebeu primeiro é Marcelino dos Santos, com Chissano, era secretário do Mondlane... estava lá o Hugo, estava lá o Simango eh... agora o Simango era Vice-Presidente... lá no coisa... na conferência, não era Vice-Presidente, mas como o Mateus Mula desertou, quando foi para o congresso, o Simango foi eleito Vice-Presidente. Então, receberam-nos ali e tudo, começaram a tratar a documentação, isso em Março, chegamos dia 22, e... pronto... “agora a vida qual é?”, ele diz que “não, vocês vão ficar no campo a treinar...”, fomos, entregaram-nos ali no centro de refugiados...

22:00:48 – Ok... Vamos continuar...

- Hum... E, estando em Dar-Es-Salam, então o Mondlane ainda estava nos Estados Unidos da América, não o encontramos, mas encontramos todos aqueles chefes que me referi, e disseram-nos que nós deveríamos esperar... fomos... levaram-nos para o campo de refugiados, através do Núcleo de Refugiados, inscreveram-nos lá... para tomar conta dos...

22:01:12 – Quem eram os responsáveis pelo Núcleo de Refugiados?

- Estavam lá uns tanzanianos, próprios tanzanianos que estavam lá... através do governo da Tanzania, estavam lá... e pronto, nós ficamos no campo de La...., isto no mês de Fevereiro, Março, e... não, Março, no dia 22 de Março e Abril, Presidente Mondlane volta em Abril ou em Maio, não me faz bem a ideia... então regressa o Mondlane, dos Estados Unidos da América, regressa, chega em Dar-Es-Salam, para vir ficar definitivamente... o regresso dele fomos lhe receber, e pronto, começamos... Eh... ele, notar de que... nessa

(21)

altura em que eu estive em Dar-Es-Salam, é que eu comecei a perceber alguns fenómenos agora, viver... primeira coisa que eu vi, aprendi muito, é que quando estavamos em Dar-Es-Salam, dois portugueses, moçambicanos, fogem... com avioneta, o Jacinto Veloso e o João Ferreira, até ali em Dar-Es-Salam e são presos... todos ali... imprensa e não sei quê... “vieram uns portugueses, fugiram de moçambique... com avião, a comissão que levavam era isto e isto...”, então começamos a discutir, entre nós... começar discussão...

“portugueses vir aqui? Fugir de Moçambique?”, “sim...”, “fugiram de quê?”, “fugiram de quê como?”... discussões intermináveis... é essa coisa de definição do inimigo... não só isto, não só isto, entre nós os pretos...

22:03:03 –

- Não... lá no campo não, lá havia todos... todo o Moçambique, gente de Tete, estava lá gente de Gaza, de Inhambane, de todo, todo Moçambique... não só isto, quando nós chegamos em Linde, nós os professores, aqueles que eram nossos subordinados não queriam nos ver... diz que “esses fugiram de quê? Vêm da FRELIMO fazer o quê? A FRELIMO não é para os professores, é para os pobres... eles não sofrem nada...”, “ah sim...”, pessoas que nós recrutamos, que nem sabiam... nós é que recrutamos, dizer que “vão lá...”, porque precisam de jovens para ser formados... agora quando nós aparecemos lá, fomos atrás deles, chega lá diz que não... diz que “nao, esses não fugiram, deviam ficar lá, porque viviam bem, eram professores, ganhavam dinheiro... fugiram de quê? Deviam de ficar lá...”, nós dissemos “ouve lá, ah sim?”, “sim...”, agora, quando Milar chega ali, primeira coisa que leva, leva a nós os professores, pronto, cria problemas... dizem que “levaram os PIDE’s que andavam ali a comer com os portugueses, e deixam a nós que sofremos lá...”, (risos), “ah sim...”, “veja lá FRELIMO dele, leva esses

professores que andavam ali com os portugueses, alguns andavam com eles lá... deixa nós aqui, nós é que somos pobres, genuínos, que não temos nada, em vez de levar a nos para irmos lá estudar, treinar, esses vão lutar com quem? Vão lutar esses? Se comiam juntos...”, dissemos que “ouve lá, nós também sofríamos, como professores...”, e ele não sabia que eu, estava a trabalhar como professor lá em Moeda, e não tinha nem a quarta classe, mas eu com a quarta classe recebia 50 escudos, e essa que não tinha nem a quarta classe, uma professora, recebia 750 escudos, e eu 50. Essa descriminação para eles não era nada... (risos)... Era preciso... veja... “ouve lá, eu ali, trabalho com uma professora...”, depois fui aumentado para 150, e ela subiu mais... hã... quando fugi, já tinham aumentado a... eu, para 750, e ela subiu mais... esse foi o último vencimento para mim, quando fugi... mas ali era posta em causa a nossa presença, nós como professores... porquê, fugiram de quê... esses aí viviam bem... e agora quando chegamos em Dar-Es-salam aparecem os portugueses... isso aí na fronteira... quando chegamos em Dar-Es-Salam aparecem brancos, oh... de novo... “ah, agora é brancos...”, veja lá isto... aquilo criou uma agitação na FRELIMO, e o governo de Tanzania agiu muito bem, sabia, porque na Tanzania o próprio governo tinha britânicos como ministros, tinha indianos, tinha tudo... tinha árabes... teve que levar o Veloso, assim como o João Ferreira para a Argélia, julgamento, condenado não sei quê quê quê, pronto, transferiu para a Argélia... tratou com a Argélia, pronto, a Argélia aceitou e mandamos para lá, com a FRELIMO, e foram ficar lá. Já começa isso... FRELIMO... e nessa altura então, se a ideia não me falha, foi no mês de Maio ou Junho... Maio, no fim de Maio ou Junho... telefonam no escritório da FRELIMO

(22)

em Dar-Es-Salam, “ah venha aqui alguém, queremos alguém aqui...”, “para fazer o quê?”, “não, chegaram aqui algumas pessoas que vêm de Moçambique...”, eu saí, fui pra lá, abro a porta e vejo duas pessoas sentados com malas... abro a porta vejo um... diz que “leve estes para o vossoa campo lá...”, “ah sim?”, “sim...”, era Samora Machel, e era Matias Mboa... “ah sim?”, “sim...”, diz leva lá... meus filhos vão lá com ele na no campo de Ilala...”, pronto, eu disse “vamos embora...”, ajudei, carreguei as malas e não sei quê, apanhamos uma carrinha ali, entramos, fomos até lá... então, começamos a conversar... “você é de Moçambique?”, “sim”, “onde, em que parte?”, “Lourenço Marques...”, Samora esse... “venho de Lourenço Marques”, “e você?”, “também, nós dois somos de Lourenço Marques...”, “e vocês são de onde?”, eu disse “eu sou lá do norte, de Moeda...”, “ah sim... o que é que você era lá?”, “eu era professor, e você?”, ele diz “eu sou

enfermeiro...”, “ah sim...”, “sim...”, então pronto... levei-os, acomodei-os lá, pronto... e no dia seguinte tinha que começar a explicar a vida nossa lá, ao Samora e ao outro, que nós aqui a vida é esta... se você quiser, nós aqui temos dois grupos, há um grupo que é apoiado lá pelas Nações Unidas...

22:08:36 – Desculpe, repita a chegada do Samora. - Sim sim esta lá...

O senhor repita por favor, repita a chegada do Samora...

- Sim a chegada do Samora... começamos a conversar, ele disse que é enfermeiro... Não desculpe...

- Repetir? Hã, está bem... eu estava a dizer que se a ideia não me falha, foi no fim de Março ou Maio...

22:09:07 – Maio ou Junho...

- Hum... então pronto, telefonam-me lá no escritório, chamam-nos lá para ir... quando chego, encontrei duas pessoas sentadas, com malas, e disseram que nós mandamos chamar para levar essas duas pessoas para o vosso campo de Ilala, “ah sim?”, “sim”, pronto, dissemos “está bem... vamos”, levamos, e... começamos “vocês vêm de Moçambique?”, “sim...”, “em que parte?”, Samora diz “eu venho de Lourenço

Marques...”, “e esse?”, “Também Lourenço Marques...”, e ele pergunta a nós, “e vocês?”, esta eu, o Raimundo e mais quem... dissemos “não nós viemos do norte, de Cabo

Delgado... da província de Cabo Delgado, na fronteira com Tanzania...”, “ah sim?”, “sim...”, pronto, entramos no carro, chegamos em Ilala, e dali, alojamos a eles, e começamos a explicar como é que nós vivemos lá, a vida nossa era esta, que nós

estavamos divididos em dois grupos, um grupo que recebe apoio directamente da própria FRELIMO, o outro grupo recebe apoio das Nações Unidas, portanto, se eles quiserem, ou vão no grupo da FRELIMO, ou das Nações Unidas... O grupo das Nações Unidas o que é que faziam? Eles recebiam por semana, 21 xilins, para comer, comprar comida, viver não sei quê, todas semanas, 21... O grupo que era apoiado pela FRELIMO, o que é que havia?

(23)

Cada um escolhia, ali davam um saco de farinha, um saco de milho... garrafa de azeite, cebola e... tudo, açucar para o chá, folha de chá, e pronto, davam por semana 3 xilins... os outros recebiam 21... pronto, 3 xilins para comprar mais coisas qualquer que houver lá, pronto, acabou... “ah sim, esse é que é o regime daqui?”, “oh, você vai vai lá, recebe o seu dinheiro, 21, e você faz tudo aquilo que você quer por semana, cada semana vai lá...”, Samora perguntou “vocês, o que é que vocês optaram?”, eu disse “não, nós optamos por receber comida, acabou... o que nos interessa é comer... chega...viemos aqui para quê? Agora dinheiro, o que é que vamos fazer com dinheiro aqui?...”, pronto... “está bem...”, ele também diz que está bem, e nós também... pronto, alistou-se conosco receber comida e mais nada... dão-nos comida, comer, feijão podre, farinha... e escalávamos, um dia cozinha este, um dia cozinha este, um dia cozinha... entre nós, não há cozinheiro... nós próprios é que lavávamos nossas casas de banho, nós é que fazíamos tudo... cartar água não sei donde... próprios... então ficamos ali... o resto da vida a gente não pode contar, porque era casas abandonadas e não sei quantos, dormir no chão, não tem cama... nós próprios é que fomos comprar esteiras, esteira, o resto é só você dormir no cimento, cimento só assim, pronto... com a tua manta, ficamos ali... e pronto, começamos a vida.... 22:12:14 – E o que é que vocês faziam? Isso era-vos dado para sobreviverem né?

- Sim sim...

E o que é que faziam?

- Quando amanhece de manhã, esse tempo todo, saímos para o escritório, chegavamos lá, alguns dávam-nos trabalho para fazer, alguns as vezes saíam para os trabalhos lá da mobilização dos tanza... moçambicanos que estão ali, em redor da Tanzania, e pronto, íamos lá com esses... e... esses, havia um grupo, que estava agora a estudar, a espera... esses jovens, os mais jovens todos, já íam para a escola, e tinha alguns também, tinha... abriram lá na escola o Instituto Americano, para aprender inglês e português, alguns foram para lá... mas isso não deu efeito, porque o tempo foi muito curto, não demorou... então, inscreveram-se muita gente mas alguns não foram, porquê? Porque havia um processo lá, de mandar os jovens, essa gente toda... alguns vinham para lá, e só ficavam duas semanas, logo eram retirados... mandados para onde? Para o mundo fora, para o Cairo, para Egípto, não sei para... para Israel, para Cuba, para onde, e nós não sabíamos, quem sabia são os dirigentes da FRELIMO, nós próprios ninguém sabia, para onde é que essa gente vai... ali era campo de trânsito, sim... aquele que ficou lá um mês, ficou lá muito tempo, dois meses, ficaste muito tempo, era semanas ali... agora nós então ficamos lá, estavamos a espera do Mondlane voltar... então quando Mondlane chegou logo, ele convocou uma reunião, em Dar-Es-salam, logo logo, parece que na segunda semana logo quando Samora estava lá... Convoca uma reunião, e estavamos lá, cheio cheio cheio... jovens de todas as províncias...

22:14:18 – Só uma pergunta, desde o primeiro dia até o Mondlane chegar, vocês estão a viver juntos com Samora não é?

Referências

Documentos relacionados

Admitindo que a e-Inclusão não é uma área muito desenvolvida no PNAI, embora tenha sido integrada como um dos vectores do programa, Fernanda Rodrigues diz que este facto deve

¢ll', ™pe• oÙ m£qon œrga qalassopÒrwn ¡li»wn ka• buq…hj oÙk o‧da dolorrafšoj dÒlon ¥grhj, Leukoqšhj œce dîma baqÚrroon, e„sÒke pÒntou ka• s ka•

Quanto à simulação do pavimento (protótipo) em laboratório, que foi comparado com o sistema de pavimento intertravado, o volume total drenado pelo concreto permeável atingiu

Placas para exterior Glasroc H ou Aquaroc e acabamento com membrana elastomérica Placotherm Primer ou argamassa de regularização weber.therm base, segundo o tipo de placa

Não é permitida a reprodução deste conteúdo, de forma parcial ou total, quer em meio impresso ou digital, nem pode ser disponibilizado na internet sem permissão prévia, dos

Doze unidades federativas possuíam em 14/05 uma estimativa de transmissibilidade entre 0,8 e 1,0 (Taxa de contágio – Rt), indicando um possível controle da transmissão na data: AM,

GRONEBERG,SINA MARIE RFV Büren e.V... KERSTING,JEANNA RV

antidepressivos tricíclicos com substâncias que podem inibir o citocromo P450 2D6 (por exemplo: quinidina, cimetidina) e aquelas que são substratos para P450 2D6