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1 Mestre em Arqueologia pela PUCRS. Professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas DFCH, Universidade Estadual de Santa Cruz UESC.

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Efeitos da ação antrópica de longo prazo sobre sítios arqueológicos pré-históricos na região da Serra do Espinhaço, sudoeste da Bahia.

Elvis Pereira Barbosa1 Resumo

Este trabalho procura evidenciar os efeitos danosos causados em sítios arqueológicos pelo processo de lixiviamento e percolização da água sobre o solo desprotegido de cobertura vegetal decorrentes do desmatamento e extinção de culturas agrícolas intensivas (como milho e algodão) na região da Serra do Espinhaço. O texto demonstra como os sítios arqueológicos foram afetados e aponta para a necessidade dos arqueólogos considerarem esta situação no momento de realização de escavações, principalmente para a chamada “arqueologia de contrato”.

Palavras Chave: Arqueologia; Pré-História da Bahia; Serra do Espinhaço.

Introdução

O conjunto formado pelas Serra Geral e Serra do Espinhaço, situado no sudoeste da Bahia, é caracterizado historicamente como área de criação de gado que abastecia as regiões produtoras de ouro e diamantes do sul e sudoeste da Chapada Diamantina durante o período colonial e também por fazer parte da zona de entrepostos comerciais que abasteciam os tropeiros que cruzavam a antiga Estrada Real, principalmente entre a Vila Nova do Príncipe e Santa Ana de Cayteté (atual Caetité) e a Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas (atual Rio de Contas) com a Estrada Real da Vila Nova da Rainha (atual Diamantina) no norte da Província de Minas Gerais. Este caminho possibilitava o abastecimento e o fluxo de mercadorias entre as zonas produtoras de outro e diamantes da Chapada Diamantina com as vilas situadas mais ao norte da Província de Minas Gerais. Caetité tem sua origem relacionada a um pequeno núcleo de catequese situado às margens da antiga Estrada Real que ligava a antiga Vila da Jacobina ao porto de Paraty no Rio de Janeiro. Data do final do século XVII o entreposto comercial conhecido como Fazenda Timóteo. Em 1724 tornou-se parte do território da Vila do Rio de Contas e em 1754 foi elevada à condição de Freguesia. Já no final do século XVIII e início do século XIX tornou-se Vila e em 5 de

1 Mestre em Arqueologia pela PUCRS. Professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.

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abril de 1810 conseguiu a emancipação de Rio de Contas, sendo elevada à categoria de cidade em 1867.

Em fins do século XIX, durante a passagem pela região, retornando de Bom Jesus da Lapa em direção a Salvador, Teodoro Sampaio teceu a seguinte descrição a cerca de Caetité:

(…) Descendo para Caetité, situada no fundo de um vale estreito, a estrada defelete a lés-nordeste, depois a nordeste, procurando passagem por entre grotas e penhascos de quartizito, que nos informaram serem auríferos, e penetra na cidade, cujo aspecto é deveras grato ao viajante que vem do sertão (SAMPAIO, 2002, p. 211).

Pindaí tem a sua origem a partir do distrito de Guirapá, originalmente denominado de Vila Bela de Umburanas, também conhecida como Arraial de Umburanas. Foi elevada à condição de Freguesia através da Lei Provincial nº 1800 de 06 de julho de 1877 com o nome de São Sebastião do Amparo das Umburanas e através da divisão administrativa do Brasil de 1911, passou a se chamar Umburanas com cinco distritos: a sede, o distrito de Furados, o distrito de Gentio, o distrito de Duas Barras e o distrito de Brejinho das Ametistas. Com a Lei Estadual nº 1276 de 10 de agosto de 1918, houve a transferência da sede do município para o povoado de Duas Barras que mais tarde foi elevada à condição de Vila com o nome de Urandi. Em 1919, através da Lei Municipal nº 2 de 11 de abril e aprovada pela Lei Estadual nº 1325 de 10 de julho de 1919, a vila mudou de nome passando a se chamar São João da Gameleira, mas ainda vinculado ao município de Urandi. Foi elevado à categoria de município, já com o nome de Pindaí, através da Lei Estadual nº 1617 de 30 de fevereiro de 1962 (IBGE, 2020).

Estas duas cidades estão localizadas na Serra do Espinhaço, que tem início em Minas Gerais e término na Bahia, mais precisamente na Chapada Diamantina. A região da Serra do Espinhaço na Bahia possui uma ocupação recente e que remonta aos fins do século XVIII e início do século XIX a partir do deslocamento do gado e da passagem de tropeiros que faziam o comércio entre as margens do Rio São Francisco, o litoral e o norte da Província de Minas Gerais (TAVARES, 2001). A base econômica vigente nestes dois municípios assenta-se na agricultura e pecuária, especificamente em Pindaí, com uma diversificação maior para o comércio e indústrias de base (mineração principalmente) em Caetité.

Quadro arqueológico regional

Esta área foi objeto de estudo através da realização de diagnósticos arqueológicos não interventivos e interventivos, visando a montagem de um quadro arqueológico regional (SEQUOIA CAPITAL, 2009; BARBOSA, 2011, 2012) como exigência do Instituto do Meio

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Ambiente do Estado da Bahia – INEMA, para a implantação de diversos complexos eólicos. Desta forma, entende-se que as sucessivas expedições contribuíram para ampliação do patrimônio arqueológico regional, e caracterizaram-se pelo extenso e exaustivo levantamento de fontes bibliográficas junto ao IPHAN e de novas ocorrências arqueológicas identificadas in

loco.

Um exemplo dessa situação é observado através da Zanettini Arqueologia (SEQUÓIA CAPITAL, 2009), quando da realização dos primeiros levantamentos arqueológicos para a região de Guanambi e Pindaí, que detalhou a ocupação humana pré-histórica brasileira, em especial em terras baianas. A comparação feita com outros sítios arqueológicos de diversas regiões da Bahia e a análise intersítios, principalmente a comparação das culturas ceramistas Tupiguarani e Aratu, possibilitou elaborar um cenário com estas duas tradições e outros grupos ceramistas menores (SEQUÓIA CAPITAL, 2009).

A tradição Aratu, foi estabelecida por Calderón (1969) durante os trabalhos realizados na implantação do Centro Industrial de Aratu – CIA, na Região Metropolitana de Salvador – RMS. Apesar de possuir características bem definidas como urnas funerárias piriformes, tigelas globulares e semiesféricas, normalmente sem decoração, ou quando muito com decoração plástica corrugada, os sítios relacionados a esta tradição são encontrados, basicamente nos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Piauí e Espírito Santo. Autores como Etchevarne (1999/2000) e Prous (1992) consideram a falta de evidências mais específicas como o fator preponderante para uma melhor caracterização desta tradição em outros estados.

Em relação à ocupação do espaço por estes grupos, Zanettini tece a seguinte consideração:

Os grupos associados a essa Tradição começaram a se instalar no litoral nordestino no século IX, estendendo-se até o século XV/ XVI. As aldeias eram compostas por cabanas em número variável, conforme pode ser distinguido pelas manchas escuras de matéria orgânica que ficaram no solo (ETCHEVARNE 1999/2000:123-124; MARTIN 1999:207-213). A cerâmica que caracteriza essa Tradição é roletada, sem decoração, com superfície alisada ou engobo de grafite, ocorrendo algumas vezes decoração corrugada-ondulada na borda. A presença de cachimbos e fusos também é freqüente (PROUS 1991:347).

Estudos na Costa do Sauípe (BA) levaram à identificação de quatro sítios Aratu (ver ROBRAHN-GONZÁLEZ & ZANETTINI 2001; ZANETTINI ARQUEOLOGIA 2006a). Os trabalhos executados nos sítios Jacuípe II e Jacuípe III, no âmbito da duplicação da Rodovia BA-99, também no Litoral Norte da Bahia, forneceram datações para essa tradição naquela região que abrangem de 960 a 680 AP (ZANETTINI ARQUEOLOGIA 2006b). (SEQUOIA CAPITAL, 2009, p. 183).

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O outro grupo ceramista predominante para esta região está relacionado à tradição Tupiguarani. Estas populações, com uma provável organização social um pouco mais complexa, como atestaram os viajantes do século XVI, a exemplo de Gabriel Soares de Souza (2000) e Pero Magalhães de Gândavo (1924), passaram a ocupar o litoral a partir dos séculos XIII e XIV (BROCHADO, 1980) e por pressão dos colonizadores europeus, seguiram posteriormente para as áreas mais ao interior (BARBOSA, 1999), embora esta migração já estivesse em curso em momentos anteriores.

A característica marcante da cerâmica Tupiguarani para o Nordeste são as vasilhas com formas retangulares, abertas e com uma expressiva decoração pintada no seu interior ou uma decoração plástica corrugada, espatulada ou ungulada na superfície exterior das vasilhas com formato fechado. Mas, a semelhança da tradição Aratu, o grosso do material cerâmico encontrado em sítios arqueológicos, caracteriza-se pelas formas simples e sem decoração, principalmente nas vasilhas que podemos considerar como de uso intensivo no interior do grupo social.

Outro fato significativo para a tradição Tupiguarani e também para a Aratu, diz respeito ao possível intercâmbio entre estes dois grupos, conforme mencionado por Zanettini:

As pesquisas realizadas nos sítios do Litoral Norte Baiano (ZANETTINI ARQUEOLOGIA 2006a; 2006b), assim como a bibliografia disponível – onde a cerâmica Tupiguarani ocupa a posição superior das camadas compostas por cerâmica Aratu (ETCHEVARNE 1999/2000:124; MARTIN 1999:207), têm revelado que existem poucas evidências de trocas ou intercâmbios entre essas duas culturas, que passaram a disputar avidamente espaços entre si, certamente travando grandes embates e disputas por novos territórios, pressionando os Grupos Aratu rumo ao interior. (SEQUOIA CAPITAL, 2009, p. 183).

Este possível contato ainda não pode ser verificado de maneira contundente, visto que a escassez de informações sobre novas prospecções e resgate arqueológicos envolvendo estas duas tradições ceramistas, principalmente os dados estratigráficos precisos de áreas ocupadas por elas, estão em curso ou possuem conclusões que estão em aberto.

Metodologia e desenvolvimento das prospecções arqueológicas

A metodologia empregada para a realização dos trabalhos arqueológicos, baseou-se em dois princípios: uma abordagem preliminar definida como trabalho de laboratório e uma etapa posterior compreendendo os trabalhos de campo.

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 Levantamento da literatura disponível para a macrorregião de entorno, objetivando a construção de um quadro arqueológico de referência, tendo ainda por base os registros de sítios constantes do CNSA/IPHAN (www.iphan.gov.br);

 Análise in loco da cartografia existente para a região.

Ao longo da chamada Área Diretamente Afetada – ADA pelo complexo eólico, foram abertos 1444 poços teste e identificados 318 fragmentos de material cerâmico, lítico, malacológico e três sítios arqueológicos – um deles catalogado pela equipe da Zanettini Arqueologia (SEQUOIA CAPITAL, 2009) e os outros dois como sítios multicomponenciais inéditos. Em campo foram utilizadas basicamente duas abordagens para os trabalhos de levantamento arqueológico na área: uma assistemática (oportunística) e outra sistemática.

O levantamento assistemático foi realizado nas zonas de influência arqueológica. Tal metodologia visou a busca de sítios arqueológicos a partir de informações prestadas pelos moradores da região a ser trabalhada, pelas evidências da vegetação e pela observação de locais com solo exposto que proporcionavam visibilidade (EVANS & MEGGERS, 1965; NEVES, 1984). Sendo assim, foram observados os barrancos de rios, principalmente nas áreas com maior potencial sedimentar, áreas de voçorocas, áreas de afloramento de material rochoso e áreas com deposição de solos orgânicos.

Já o levantamento sistemático foi realizado apenas na área arqueologicamente afetada, a qual foi totalmente percorrida através do caminhamento de linhas preestabelecidas, denominadas de Transects (REDMAN, 1974). Durante a abertura dos Transects foram realizadas intervenções subsuperficiais (tradagens) em intervalos regulares de 30 metros, com o propósito de localizar sítios de baixa ou nula visibilidade e que não apresentaram evidências em superfície durante a realização das varreduras.

Em decorrência das atividades desenvolvidas durante a etapa conhecida como Diagnóstico Interventivo, foram definidas unidades ambientais, com métodos de investigação diferenciados para cada área pesquisada. Em solos arenosos havia a possibilidade de realizarem-se prospecções de 0,10 a 1,60 m de profundidade, mas infelizmente a profundidade média ficou em torno de 1,00 m; nos locais que apresentaram rochas foram realizadas varreduras nos lajedos em busca de vestígios de indústrias líticas e de possíveis paredões com abrigos e pinturas. Essas prospecções foram desenvolvidas como uma ferramenta para obter elementos informativos em escalas de relevâncias diversificadas (REDMAN, 1987).

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Desta maneira, foram empregados inicialmente dois métodos de prospecção arqueológica: as varreduras intensivas e a cobertura total – full-coverage survey (FISH & KOWALEWSKI, 1990). Complementarmente a esta metodologia, também foi utilizada a coleta de informações orais a respeito de materiais arqueológicos passíveis de identificação na Área de Influência Direta – AID do complexo eólico, ampliando a gama de referências sobre a arqueologia local. As varreduras intensivas aplicadas na ADA e AID do complexo eólico, teve como objetivo aproveitar os resultados das intervenções antrópicas ou de processos naturais com o exame de áreas expostas e dotadas de visibilidade (intensificação) tais como acessos, perfis derivados de cortes, taludes, frentes erosivas, contemplando assim todos os compartimentos topográficos existentes na área de análise.

A cobertura total (full-coverage survey) foi empregada apenas na ADA em unidades amostrais predeterminadas, como os trechos de estrada a serem abertos ou refeitos e principalmente em áreas que não permitiam a visualização da superfície do terreno em função da cobertura vegetal, ou em áreas sujeitas ao acúmulo de camadas de sedimentos mais espessas. Os vestígios arqueológicos identificados foram registrados e plotados através de GPS com Datum SAD-69.

As metodologias de prospecção adotadas proporcionaram um detalhamento dos trabalhos em superfície e subsuperfície, possibilitando um melhor entendimento a respeito da distribuição dos sítios e ocorrências isoladas identificadas na região e pertencentes a grupos humanos pretéritos (REDMAN, 1987; CLARKE, 1977; RENFREW & BAHN, 1996; SCHIFFER, 1972). Esse conjunto de dados, somado aos estudos anteriores realizados na região, permitiram a elaboração e análise de um zoneamento ambiental com definição de macroáreas com diferentes características paisagísticas e ambientais (HODDER & ORTON, 1990). O amplo reconhecimento do território possibilitou a elaboração de um mosaico da ocupação humana nas áreas dos parques eólicos, propiciando a análise das características que podem ser consideradas atrativas para o assentamento humano, como os topos e médias encostas, cabeceiras de pequenos córregos, cascalheiras etc.

O solo observado na área prospectada, é predominantemente o areno-argiloso com grãos finíssimos demostrando baixa compactação e excelente para escavação com cavadeira articulada usada na maioria das intervenções, exceto para locais com afloramentos rochosos e com grau acentuado de ressecamento. Em boa parte da amostragem, o terreno apresentou na faixa de 0-10 centímetros coloração marrom alaranjada, seguindo até 1 metro de profundidade

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com a tonalidade marrom avermelhada e com cascalho fino (laterita) a partir dos 90 centímetros em alguns casos.

Conclusões

A alteração da paisagem do município de Pindaí, ocorrida ao longo do século XX em virtude do uso intensivo da região como área de plantio de algodão, desencadeou uma alteração significativa no horizonte arqueológico da região objeto do estudo em questão, principalmente nos topos das serras e as áreas de média vertente.

A alteração da paisagem é fruto da decadência da plantação de algodão ocorrida em meados da década de 1980 com o combate à praga do besouro bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus

grandis) pertence à família Curculionidae. Em decorrência da praga provocada pelo inseto, os

produtores tiveram de usar agrotóxicos de maneira intensiva o que levou à esterilidade do solo, sendo necessário a destruição completa da área plantada, que naquela década equivalia a praticamente 90% da área plantada do município de Pindaí. Em conversas com diversos pequenos produtores, por unanimidade, afirmaram que em épocas de grande produção, era praticamente impossível ver a cor das estradas em função da cor branca dos algodoeiros prestes a serem colhidos.

Com a praga do bicudo, todos os produtores foram obrigados a recorrerem de maneira intensiva aos agrotóxicos, conseguindo assim exaurir definitivamente o solo da região. Com o passar do tempo, outras culturas agrícolas, como o milho e a mandioca, tiveram dificuldades de se fixarem como opção à produção do algodão, e o solo – já sem a sua camada fértil e com as chuvas intensas, normalmente entre outubro e março – foi lixiviado e percolizado, provocando a erosão e o consequente depósito da camada de interesse arqueológico no fundo das áreas de ocorrência de vertentes. Assim, detectou-se ao longo das prospecções um número significativo de ocorrências arqueológicas isoladas em superfície, um baixo índice em subsuperfície e apenas três sítios arqueológicos identificados, sendo que um deles (Pipiri I) foi registrado pela equipe da Zanettini em estudos anteriores.

Estas circunstâncias coincidem com a descrição de Rubin de Rubin para o Sítio do Emival, município de Novo Gama, Goiás:

A área do sítio arqueológico encontra-se intensamente antropizada em consequência de atividades agropastoris como gradeamento, aração, terraceamento e pisoteio do gado e de processos erosivos como sulcos, calhas e ravinas, cujas dimensões correspondem com aquelas apresentadas

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por Oliveira (1994), esta última, a leste do sítio. Esses fatores são relevantes na contextualização dos vestígios culturais e na dinâmica ambiental, sobretudo na distribuição horizontal e vertical dos vestígios arqueológicos (Silva, 2007). (RUBIN de RUBIN, 2008, p. 156).

Como o escoamento pluvial inclui os chamados fluxos da chuva, os quais são gerados depois

de determinado tempo de chuva, e ao atingir o canal de drenagem, aumentam sua descarga ou vazão (NETTO, 2007, p. 134), a estratigrafia em determinados locais do município de

Pindaí ficou visivelmente comprometida. Este desgaste físico do solo, proveniente da erosão pluvial e da perda excessiva das primeiras camadas decorrentes da ação antrópica – terras aradas por longo período de tempo – provocou em alguns locais o deslocamento dos vestígios arqueológicos para o fundo das zonas de vertentes, dificultando a identificação da cultura material na camada superficial e não em profundidade.

Desta maneira, pode-se justificar a predominância dos vestígios em superfície e a escassez de materiais em profundidade (RUBIN de RUBIN et all, 2008). Em poucos poços-teste (PT's) foram encontrados fragmentos arqueológicos abaixo da camada de 40 centímetros, daí a opção em não realizar sondagens nas áreas de grande concentração de material em superfície, uma vez que o mesmo estava espalhado na meia encosta – e não no topo das elevações – decorrente da alta incidência de terrenos lixiviados pela ação pluvial.

Para fins de normatização, foi considerado neste trabalho como ocorrência arqueológica o material encontrado (painéis, pictografias, material lítico e/ou cerâmico) em um raio de até 50 m e com baixa densidade de fragmentos (até 30 peças). Evitou-se assim estabelecer, de maneira precoce, a denominação de sítio arqueológico, sem a verificação precisa de que o material está inserido em um compartimento arqueológico mais complexo – e que pode ser caracterizado como sítio arqueológico – ou trata-se apenas de uma ocorrência isolada.

Tais procedimentos de pesquisa estão fundamentados na opção teórico-metodológica assumida, quando considera-se que os diversos assentamentos implantados na região fazem parte de um contexto cultural amplo, que podem relacionar os sítios entre si ao ambiente circundante, formando uma intrincada rede articulada e com múltiplas funções e significados (MORALES & MOI, 2009).

Ademais, a maioria das ocorrências isoladas tiveram como característica a localização em área de meia encosta com terreno erodido e os vestígios espalhados em superfície ocupando uma área inferior a 50 metros quadrados, evidenciando o escorregamento do material arqueológico após o uso intensivo do terreno pela lavoura de subsistência – principalmente o

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milho ou o algodão. Esta observação é importante, pois a estratigrafia foi afetada – na maioria das ocorrências houve a perda do horizonte arqueológico – resultando num solo estéril, sob o ponto de vista arqueológico, prejudicando desta forma a análise global dos sítios.

Referências

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Referências

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