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ÁREA: ECONOMIA POLÍTICA, HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO E HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL ÁREA DE INTERESSE: ECONOMIA POLÍTICA.

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ÁREA DE INTERESSE: ECONOMIA POLÍTICA

Trabalho Completo

A LIBERDADE EM MARX: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS SOBRE A CRÍTICA DA EXPLORAÇÃO CAPITALISTA

LUCIANA PORTO PINTO AONI (lucianappa@hotmail.com)

Discente da Universidade Estadual de Santa Cruz/ Departamento de Ciências Econômicas Rua da Liberdade, nº 20, Conceição, Itabuna/Ba. (73) 9102-1144

RHAISSA LEÃO FREITAS (rhaissaleaofreitas@hotmail.com)

Discente da Universidade Estadual de Santa Cruz/Departamento de Ciências Econômicas

ORIENTAÇÃO: DR. SÉRGIO RICARDO RIBEIRO LIMA (srrljml@gmail.com)

Docente da Universidade Estadual de Santa Cruz/Departamento de Ciências Econômicas

ILHÉUS-BA 2014

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Anais da XIII Semana de Economia da UESB - 19 a 24 de maio de 2014

A LIBERDADE EM MARX: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS SOBRE A CRÍTICA DA EXPLORAÇÃO CAPITALISTA

RESUMO: Marx não tratou a liberdade de forma específica, sendo ela compreendida através

da interpretação das suas ideias e da sua crítica à exploração pelo capital. O presente artigo, portanto, tem como objetivo expor as teorias marxistas a respeito da exploração como categoria antagônica à liberdade, através da análise de sua principal obra “O capital”. Por meio de uma abordagem histórica, pretende discutir a implicação da propriedade privada com a exploração do trabalho, portanto, com a ausência de liberdade.

Palavras-Chave: Capitalismo. Liberdade. Exploração.

INTRODUÇÃO

A liberdade no entendimento geral pode ser expressa como a independência do ser humano, a autonomia e o poder de decisão. A liberdade da qual aborda este estudo, refere-se à liberdade no entendimento de Marx, ou seja, nas relações de produção. Marx traduz essa liberdade como o tempo livre, ou seja, quanto mais tempo um indivíduo possui para si, livre de qualquer coação de uma finalidade exterior, e quanto menor o tempo de trabalho, maior é a liberdade desse indivíduo (MARX apud KOSIK, 1976).

O capitalismo, sistema econômico presente nos dias atuais, desde sua origem, divulga que conquistou a liberdade que estava ausente nas antigas relações, de servidão e escravidão, transformando as relações de trabalho que antes se davam por meio de coerção, para uma relação de contrato, onde ambas as partes podem escolher as opções que lhes garantem maiores benefícios.

De acordo com Polanyi (2000), nesse novo sistema de mercado (o capitalismo), três elementos fundamentais da produção industrial – a terra, o trabalho e o dinheiro – tinham que estar disponíveis à compra, ou seja, tinham que estar organizados para a venda no mercado, como mercadorias. Porém, o mesmo autor faz uma crítica dizendo que o uso da suposta mercadoria, “a força de trabalho”, afeta o indivíduo que é o portador dessa mercadoria, uma

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vez que ao se utilizar a força de trabalho de um homem, de certa forma, utiliza-se também, da entidade física, psicológica e moral do mesmo.

Uma das principais críticas de Marx a respeito do surgimento do sistema capitalista é o fato deste, ter separado os trabalhadores dos meios de realização do trabalho, num “processo que transforma, por um lado, os meios sociais de subsistência e de produção em capital, por outro, os produtores diretos em trabalhadores assalariados” (MARX, 2001, p. 340).

Segundo Marx (2001), a desagregação da estrutura econômica da sociedade feudal é que possibilitou o surgimento da estrutura econômica capitalista, onde a transformação do produtor em trabalhador assalariado se apresenta como a libertação deste da servidão, mas ao mesmo tempo este trabalhador, nada possui para vender, a não ser a si mesmo, uma vez que “todos os seus meios de produção e todas as garantias de sua existência, oferecidas pelas velhas instituições feudais, lhes foram roubados” (MARX, 2001, p. 341). Os produtores foram violentamente arrancados de seus meios de subsistência e jogados no mercado como trabalhadores assalariados, livres para venderem sua força de trabalho (MARX, 2001).

Assim, Marx, criticava a liberdade pregada pelo novo sistema, afirmando em seu livro, O Capital, que, uma vez que os meios de produção passaram a ser monopolizados pelos donos do capital, proibindo aos trabalhadores o acesso, a “opção” que restou ao trabalhador era vender sua força de trabalho ao capitalista, como única forma de sobrevivência, demonstrando dessa maneira, a submissão do trabalhador ao capitalista, em particular, e ao sistema em geral, de maneira que ele era livre de direito, mas não de fato, passando a vivenciar uma falsa liberdade (MARX, 1996).

1 A MERCADORIA FORÇA DE TRABALHO: O DILEMA DA LIBERDADE

O sistema capitalista parte do princípio da igualdade e da liberdade entre os homens. Segundo a Assembleia Geral das Nações Unidas (1948, p. 1), “toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego”.

Entender a questão da liberdade, na ótica Marx, no contexto do capitalismo, é a essência desse estudo, sendo o objeto de investigação. Para essa compreensão, portanto, será realizada uma análise da liberdade, através da crítica de Marx, no contexto do capitalismo.

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Para entender as criticas de Marx acerca desse sistema, é essencial conhecer seus conceitos sobre as relações sociais de produção. Deve-se entender, então, qual o papel da força de trabalho para o capitalista e como o capitalista se utiliza dessa força de trabalho em seu processo produtivo.

Segundo Marx (2013), para que o possuidor de dinheiro consiga transformar o dinheiro em capital e, portanto acumular riqueza, ele deve comprar a mercadoria pelo seu valor, vendê-la pelo seu valor, e auferir no final desse processo mais valor do que ele investiu inicialmente. E, para que isso seja possível, ele precisa encontrar uma mercadoria que seja fonte de valor ao ser consumida e, a única mercadoria capaz de criar valor, é a que ele chama de capacidade de trabalho ou força de trabalho.

Para que o possuidor de dinheiro possa comprar a mercadoria força de trabalho, ela deve estar disponível à venda no mercado pelo seu próprio possuidor, sendo ele, livre proprietário da sua força de trabalho. Além disso, o proprietário da força de trabalho, ao colocá-la a venda, deve fazê-lo por período determinado, como um aluguel, pois se vendê-la por inteiro, estará perdendo sua propriedade sobre ela (MARX, 2013).

A noção de liberdade que Marx coloca, de princípio, é a de que o homem deve ser livre para poder vender sua força de trabalho. O contrário ocorria na escravidão, o homem era proprietário de outro homem, não possuindo liberdade, estando à mercê daquele que o comprou. O capitalismo possibilitou a liberdade do homem neste sentido, em que agora, os mesmos possuíam propriedade sobre si. Porém, Marx deixa claro que a força de trabalho deve ser vendida por um prazo determinado, pois o oposto, ao se vender por inteiro estaria se igualando à condição de escravo, ou seja, abdicando de sua liberdade.

Marx (2013) diz que outra condição para que o possuidor de dinheiro possa encontrar no mercado a força de trabalho como mercadoria, é o fato de o possuidor da força de trabalho não ter outra mercadoria para vender, forçando-o a vender sua única mercadoria, a capacidade de trabalho. Isso ocorre porque, para se produzir mercadorias é necessário ter meios de produção, portanto, quem não possui meios de produzir suas próprias mercadorias, para sobreviver, terá que vender sua força de trabalho.

Observando a questão da liberdade, ela possui, nesse contexto, um sentido contraditório, porque ao mesmo tempo em que os trabalhadores possuem propriedade sobre si, que permitem escolhas, o sistema ao garantir a propriedade privada, tirando os meios de produção do alcance dos mesmos, só os deixa uma opção. Ou seja, é uma liberdade condicionada.

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Assim como todas as mercadorias, segundo Marx (2013), a capacidade de trabalho também possui valor e, também como as outras mercadorias, esse valor é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua produção e reprodução. Uma vez que o tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho reduz-se ao tempo necessário de trabalho para a produção de meios de subsistência essenciais para a manutenção do trabalhador, o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistências que deve ser suficiente para manter o trabalhador saudável, disponível para o trabalho e para procriação, a fim de que perpetue no mercado, de forma a não diminuir, os possuidores dessa mercadoria.

No entanto, diferente das demais mercadorias que são pagas pelo seu preço exato, a força de trabalho como criadora de valor, quando utilizada no processo de fabricação de mercadorias, proporciona ao capitalista um valor excedente. Este valor, que Marx denomina de mais-valia, será absorvido pelo capitalista para a geração de capital (MARX, 2013).

Dessa forma, Marx (2013, p. 206) afirma que a esfera do mercado, onde ocorre a compra e a venda da força de trabalho, “é realmente um verdadeiro paraíso dos direitos inatos do homem. Só reinam aí liberdade, igualdade, propriedade e Bentham”. A liberdade, explica, porque os vendedores e compradores de mercadoria se relacionam por livre vontade, expressando no contrato, a comum vontade entre eles. A igualdade, porque ambos são donos de mercadorias, e as trocas se dão de forma equivalente. Propriedade, pois os dois personagens trocam aquilo que é seu. E Bentham, porque cada um entra no mercado buscando seus próprios interesses e cada um tentando alcançar vantagem individual, está proporcionando um interesse geral (MARX, 2013).

Marx diz que as relações de troca entre os capitalistas e os trabalhadores, são equivalentes, pois estes são pagos pelo seu valor, porém a criação da mais valia deixa claro que os trabalhadores não recebem pelo seu valor de uso, mas sim pagos pelo seu valor de troca, mostrando a mistificação de igualdade que ocorre no mercado e, que será desvendada por Marx, quando este analisa o processo de produção.

Portanto, ao sair dessa esfera de mercado (comprador e vendedor), para a direção da esfera produtiva, Marx (2013, p. 206) relata que há uma mudança na fisionomia dos personagens,

O antigo dono do dinheiro marcha agora à frente, como capitalista; segue-o o proprietário da força de trabalho, como seu trabalhador. O primeiro, com um ar importante, sorriso velhaco e ávido de negócios; o segundo, tímido, contrafeito, como alguém que vendeu sua própria pele e apenas espera ser esfolado.

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Logo, Marx indica que o processo de exploração e, portanto, a limitação da liberdade, não ocorre nas relações de troca do mercado, a origem está na esfera produtiva, justamente porque no mercado todos são iguais.

As mercadorias produzidas durante a jornada de trabalho pertencem ao capitalista; o trabalhador, que as produz, é apenas contratado e pago pelo valor diário da força de trabalho, não possuindo ele, propriedade sobre as mercadorias (MARX, 2013).

Com isso, Marx demonstra que, além de não terem participação sobre as mercadorias que produzem e, criarem valor para o capitalista em forma de mais valia, o valor que ganham pela sua força de trabalho é muitas vezes insuficiente para adquirir as mercadorias que eles mesmos produzem, atestando assim, a existência de uma contradição.

Com a apropriação privada dos meios de produção, ou seja, a partir do momento em que, no sistema capitalista, os trabalhadores são privados do acesso aos meios de produção, nada possuem para vender a não ser sua própria pele, limitando sua liberdade em dois sentidos: são livres dos meios de produção, visto que a eles é vedado seu acesso; e livre proprietário de sua força de trabalho (MARX, 2013).

Ao entrar no ambiente da produção, o trabalhador exerce suas atividades laborativas sob a vigilância constante do capitalista, a quem vendeu sua força de trabalho. O capitalista assim o faz, com o intuito de garantir que o trabalho seja apropriado e que nada seja desperdiçado, de forma que o custo da produção seja mínimo (MARX, 2013).

Ao contratar a força de trabalho, o capitalista tem em mente que o seu valor de uso é fonte de valor, e de mais valor do que possui, pois nesse processo “o vendedor da força de trabalho, como o de qualquer outra mercadoria, realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso” (MARX, 2013, p. 227). Sendo assim, seu valor de uso, durante a jornada de um dia de trabalho, é capaz de criar o dobro de seu valor de troca. A jornada total de trabalho é, portanto, dividida, onde uma parte é medida pela quantidade de horas necessárias à reprodução da força de trabalho do próprio trabalhador e, na outra está a mais valia, a parte do valor que o trabalhador aliena em favor do capitalista, que se configura no lucro (MARX, 2013).

Todavia, as horas necessárias e as horas excedentes se confundem, uma vez que não existe uma separação explícita das horas necessárias e das horas excedentes durante a produção, não ficando nítido para o trabalhador que dentro de sua jornada de trabalho ele está produzindo valor necessário para o seu sustento, ao mesmo tempo em que está produzindo valor que será doado, de graça, ao capitalista (MARX, 2013). Esse processo mostra que as

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relações de troca entre os trabalhadores e os donos de capital, nada tem de equivalentes, uma vez que o trabalhador produz em sua jornada de trabalho além do seu salário, o lucro que é destinado ao proprietário do capital, é fruto – da exploração – do trabalho (MARX, 1996).

2 A JORNADA DE TRABALHO: O TEMPO DE TRABALHO COMO PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

Como a liberdade é vista, para Marx, como o tempo que o indivíduo tem para si, as horas excedentes na jornada de trabalho, exigidas pelo capital, nada mais são do que a contração da liberdade do trabalhador pelo capitalista, pois não só impossibilita o trabalhador de utilizar aquele tempo que lhe pertence para outras atividades, como não paga ao trabalhador essas horas a mais que ele realiza de trabalho. Assim é roubada a liberdade do trabalhador, seu tempo, que poderia ser utilizado para praticar um hobby, para estar com a família, para um maior descanso físico e mental, ou até mesmo para a educação, mas este tempo é revestido em mais trabalho, sem que o trabalhador se dê conta sua exploração, para aumentar ainda mais o capital daquele que o contratou.

No entanto, a jornada de trabalho possui um limite máximo diário, pois, durante parte do dia, o trabalhador precisa descansar e dormir e, durante outra, satisfazer suas necessidades básicas como comer, se vestir, tomar banho, além do tempo para atender suas necessidades espirituais e sociais (MARX, 2013).

Como pode ser observado, no capitalismo, todo tempo – que é pouco – que o trabalhador tem para si, é tempo de recuperar suas energias para o trabalho. Quando está dormindo, se alimentando, ou até mesmo seus momentos de lazer, são formas de se preparar para uma nova jornada de trabalho. É a forma do capital garantir, a mesma, ou maior produtividade do trabalhador, a cada jornada de trabalho. Portanto, toda hora livre do trabalhador, assim diz Marx (2013), é também destinada ao capitalista.

Quando na Inglaterra, a legislação (lei fabril de 1850) determinou limite máximo de 60 horas semanais para a jornada de trabalho nas fábricas, os capitalistas logo descobriram uma forma de não se prejudicarem. Abriam as fábricas minutos antes do horário de início e fechavam minutos depois do horário de encerramento, além de “roubarem” minutos que eram destinados às refeições dos trabalhadores, a fim garantir a mais valia por meio do trabalho excedente (MARX, 2013).

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Com esse relato, Marx mostra que a exploração chegava a tal limite, que a lei não era respeitada, mostrando que até o tempo livre do trabalhador era roubado pelo capitalista que não abria mão, de forma alguma, de produzir sua mais valia, esta que já era feita à custa das horas não pagas ao trabalhador.

3 AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E OS NOVOS LIMITES DA LIBERDADE

A maquinaria e as invenções mecânicas entram na fábrica, proporcionando uma maior produtividade ao trabalho. A mesma ou maior quantidade de mercadorias, agora com a introdução da maquinaria, pode ser realizada em menor tempo (MARX, 2013). Esse aumento na produtividade poderia ser revertido em uma menor jornada de trabalho, proporcionando maior tempo livre para o trabalhador, para atender suas necessidades físicas, sociais e espirituais. Ou seja, ampliando a liberdade do trabalhador.

Porém, Marx (2013, p. 427) ao concordar com Stuart Mill (1848 apud MARX, 2013, p. 427), este que afirma em sua obra Principles of political economy que “é duvidoso que as invenções mecânicas feitas até agora tenham aliviado a labuta diária de algum ser humano”, completa:

Não é esse o objetivo do capital, quando emprega maquinaria. Esse emprego, como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho da qual precisa o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais-valia.

Dessa forma, o desenvolvimento da maquinaria não ocorreu para melhorar a condição do trabalhador, sendo apenas uma forma de aumentar a exploração já existente dentro dessa relação, manifestada na forma de mais-valia. Além disso, segundo Marx (2013), o aumento extraordinário da produtividade do trabalho deixa claro que esta está sendo feita à custa de maior dispêndio de trabalho. A maquinaria nas mãos do capital, segundo Marx (2013, p. 460), se torna “[...] o meio mais potente para prolongar a jornada de trabalho além de todos os limites estabelecidos pela natureza humana”.

Em outras palavras, o que Marx quer dizer é que a máquina acaba exigindo do trabalhador mais trabalho, ao invés de reduzir seu tempo e seu desgaste físico. A máquina passa a determinar não só a jornada, mas também a intensidade de trabalho. Quando o homem possuía ferramentas manuais, ele determinava seu tempo de trabalho e a velocidade de sua

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produção; quando as máquinas surgem, elas passam a determinar o movimento do trabalho, ao passo que os homens ficam sob o comando da máquina, de um corpo morto, que suga todas as suas forças.

Marx (2013) mostra que os instrumentos manuais, ao se transformarem em ferramentas incorporadas a um aparelho mecânico, possuem sua força motriz livre e independente da força humana. A máquina-ferramenta não substituiu uma ferramenta qualquer, mas a própria mão do homem, passando a transformar sozinha a matéria-prima, sem a ajuda do trabalhador, este que passa a desempenhar apenas o papel de vigilante da máquina (MARX, 2013). É importante ressaltar que esse fato observado por Marx àquela época tem importante significado atualmente sobre as condições de trabalho e sobre a própria natureza da liberdade do trabalhador na atualidade.

Com isso, Marx mostra que a forma de trabalho muda completamente. O trabalhador que antes, produzia as mercadorias, agora, deve vigiar a máquina que passa a produzir sozinha. Não só deve acompanhar o ritmo de uma máquina, mas de várias máquinas, aumentando o desgaste físico e, atualmente, espiritual de seu trabalho.

A máquina transforma drasticamente o contrato entre o trabalhador e o capitalista. Todos os membros da família, sem distinção de sexo ou idade, passam a submeter ao capital não apenas seu trabalho como também trabalho excedente, como única forma de sustento. Desse modo, segundo Marx (2013, p. 452), “[...] a máquina, ao aumentar o campo específico de exploração do capital, o material humano, amplia, ao mesmo tempo, o grau de exploração”. Quanto maior o grau de exploração, menor o grau de liberdade do trabalhador.

Assim, Marx mostra que todos os integrantes da família começam a fazer parte da produção. Uma vez que o emprego das máquinas faz com que o trabalho dispense a força muscular, as mulheres e crianças por receberem um salário menor, são as primeiras escolhidas. O capital dessa forma, não só aumenta o campo de exploração recrutando todos os membros da família, mas seu grau de exploração, pois o salário recebido antes por um trabalhador adulto que era o suficiente para garantir o sustento da sua família, cai, sendo necessário agora que toda a família trabalhe para o capital para garantir seu sustento, ou seja, agora o capitalista tem mais jornadas de trabalho, incluindo as horas excedentes, e paga a todos o valor que antes correspondia a um trabalhador adulto.

Segundo Marx (2001), são duas as formas de mais-valia que podem ser geradas pelo trabalhador produtivo em sua jornada de trabalho: a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa. A mais-valia absoluta consiste no prolongamento da jornada de trabalho, ou seja,

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considerando que dentro da jornada de trabalho o trabalhador produz o valor necessário ao pagamento da sua força de trabalho mais o valor excedente (mais-valia), este que será apropriado pelo capitalista, ao aumentar a jornada mantendo constante o preço de mercado da força de trabalho, o capitalista está aumentando também, sua mais-valia. A mais-valia relativa, por sua vez, é alcançada através do aumento da produtividade, isto é, quando o trabalhador, dentro de sua jornada de trabalho, chega a um ponto de produtividade que permite a ele produzir o valor necessário ao seu sustento em um tempo menor que sua jornada, todo o tempo restante torna-se trabalho excedente. Assim, a introdução das máquinas, que proporciona o aumento da produtividade do trabalhador, é feita com o intuito de aumentar a mais-valia relativa.

Quando os trabalhadores conseguiram alcançar o direito, pelo Estado, de diminuir seu tempo de trabalho, impossibilitando o aumento da mais valia absoluta, lançou-se o capital à produção da mais valia relativa, acelerando o ritmo de desenvolvimento das máquinas (MARX, 2013). Assim,

A redução da jornada cria de início a condição subjetiva para intensificar o trabalho, capacitando o trabalhador a empregar mais força num tempo dado. Quando essa redução se torna legalmente obrigatória, transforma-se a máquina nas mãos do capital em instrumento objetiva e sistematicamente empregado para extrair mais trabalho no mesmo espaço de tempo. É o que se obtém de duas maneiras: aumentando a velocidade da máquina e ampliando a maquinaria a ser vigiada por cada trabalhador, ou seja, seu campo de trabalho (MARX, 2013, p. 470).

Fica clara mais uma vez a questão da exploração do trabalho para Marx. O tempo de trabalho necessário para garantir a subsistência do trabalho, com o aumento da produtividade, passa a ser menor, mas isso não garante a ele maior tempo livre, nem menos esforço físico. Os trabalhadores conseguem diminuir a jornada de trabalho, mas este é intensificado de tal forma, que não seria possível realizar tal ritmo em uma carga horária maior. Muda-se assim, a natureza da exploração, o trabalhador exerce suas atividades em uma menor carga horária, mas em compensação, deve acompanhar um ritmo tão intenso das máquinas, que todo o seu tempo livre, torna-se, dessa forma, tempo de se recuperar para uma nova jornada de trabalho. Assim, o capitalista suga toda energia do trabalhador, aumentando a velocidade de seu trabalho, de forma que ele consiga produzir a mesma ou maior quantidade de mais-valia que produzia antes da diminuição de sua jornada de trabalho. Para exemplificar isso, Marx, traz o depoimento de um fabricante inglês que diz: “Comparado com o de antigamente, aumentou muito o trabalho que hoje se executa nas fábricas, em virtude da maior atenção e atividade

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exigidas do trabalhador pelo grande aumento da velocidade das máquinas” (FIELDEN, apud MARX, 2013, p. 471).

Essa intensificação do trabalho trouxe benefícios para o capitalista, mas passou a destruir a saúde do trabalhador, comprometendo, portanto, a própria força de trabalho (MARX, 2013). Assim, Marx (2013, p. 483, grifo nosso), resume o impacto da introdução da maquinaria sobre o trabalhador:

O trabalho na fábrica exaure os nervos ao extremo, suprime o jogo variado dos músculos e confisca toda a atividade livre do trabalhador, física e espiritual. Até as medidas destinadas a facilitar o trabalho se tornam meio de tortura, pois a máquina, em vez de libertar o trabalhador do trabalho, despoja o trabalho de todo o interesse. Sendo, ao mesmo tempo, processo de trabalho e processo de criar mais-valia, toda produção capitalista se caracteriza por o instrumental de trabalho empregar o trabalhador, e não o trabalhador empregar o instrumental de trabalho. Mas essa inversão só se torna uma realidade técnica e palpável com a maquinaria. Ao se transformar em autômato, o instrumental se confronta com o trabalhador durante o processo de trabalho como capital, trabalho morto que domina a força de trabalho viva, a suga e exaure. A separação entre as forças intelectuais do processo de produção e o trabalho manual e a transformação delas em poderes de domínio do capital sobre o trabalho se tornam uma realidade consumada [...]. A habilidade especializada e restrita do trabalhador individual, despojado, que lida com a máquina, desaparece como uma quantidade infinitesimal diante da ciência, das imensas forças naturais e da massa de trabalho social, incorporadas aos sistemas de máquinas e formando com ele o poder do patrão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como é possível observar ao longo do trabalho, após a propriedade privada dos meios de produção, o trabalhador não possui outro meio de sobrevivência que não seja vender sua força de trabalho ao capitalista, e como consequência, já não é mais dono de todo o fruto do seu trabalho. O trabalho excedente, que Marx afirma ser o tempo fixado à produção de mais-valia, limita o tempo que o trabalhador tem para si mesmo, de modo que, a maior parte das horas do dia de um trabalhador é destinada à produção capitalista.

Assim, o capitalismo, para Marx, trata de um modo de produção contraditório, onde a liberdade era ao mesmo tempo liberdade e não-liberdade. Passava a ideia de liberdade, quando, na verdade, deixava ao indivíduo somente duas opções: vender sua força de trabalho ou morrer de fome. O fato é que a liberdade desse sistema pertencia ao capital. A liberdade para o capital é a liberdade de explorar sem limites àqueles que não possuem os meios de produção e que se veem obrigados a se submeter ao capital como meio de sobrevivência. Ao

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tomar todo o tempo de vida do trabalhador, aumentando as horas excedentes, o capital está também roubando sua essência humana, uma vez que inibe seu ser social, pensante, para se tornar apenas a mercadoria força de trabalho, de homem livre a escravo da máquina.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS 1948. Declaração universal dos direitos

humanos. Canadá. 1948. Disponível em:

<http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 16 nov. 2012.

KOSIK, K. Dialética do concreto. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

MARX, K. H. O capital: Crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996, v. 1.

MARX, K. H. O capital: Crítica da economia política. 31 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileiro, 2013, v. 1.

MARX, K. H. O capital: Crítica da economia política. 17 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. v. 2.

POLANYI, K. A grande transformação: as origens de nossa época. 3 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

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