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PALAVRAS CHAVES: Apropriação, acessibilidade, espaço público, Parque da Criança.

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Academic year: 2021

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1 APROPRIAÇÃO E ACESSIBILIDADE NO PARQUE DA CRIANÇA EM

MOSSORÓ-RN

José Gomes Neto1 Maria Helena Braga e Vaz da Costa2 Programa de Pós Graduação em Geografia-UFRN

RESUMO:

Esse trabalho versa sobre espaços públicos, precisamente o Parque da Criança, integrante do Corredor Cultural de Mossoró-RN, localizado no centro da cidade. O Parque da Criança apresenta-se para a cidade de Mossoró como uma opção de lazer, de entretenimento, de encontro. Foi uma obra construída totalmente com verbas públicas, dispõe de um aparato de objetos, brinquedos, destinados ao público infantil. Este local, no entanto, faz nos refletirmos sobre algumas questões que envolvem o seu estatuto enquanto espaço público, reflexões pautadas na noção de espaço público que seus freqüentadores congregam; nas apropriações que acontecem no local; e no acesso por parte das mais diferentes classes sociais à área. Este local que deveria ser de uso coletivo e irrestrito acaba sendo apropriado pela classe média, através pagamento de taxas para seu uso, dificultando assim o acesso e uso por parte de pessoas mais humildes. De acordo com o exposto acima realizamos um levantamento teórico sobre autores que trabalham com a temática, e uma pesquisa qualitativa, com uso de questionários abertos, com o intuito de conhecermos melhor a complexa realidade deste espaço. Foi revelado que precisaríamos discutir alguns pontos, como por exemplo, certos conceitos, o de apropriação e o de acessibilidade para este espaço em especial, tomando como base as idéias de Serpa (2007) e Gomes (2006). Sabe-se que a noção de espaço público para a maioria dos entrevistados se faz confusa; que o pagamento de taxas tornaria o Parque da Criança uma área seletiva, portanto, segmentada; que os entrevistados do Nova Betânia, bairro elitista não concordam com a cobrança de taxas, enquanto do Barrocas um bairro mais popular acredita ser necessária.

PALAVRAS CHAVES: Apropriação, acessibilidade, espaço público, Parque da Criança.

1 Mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia da UFRN, bolsista Capes. 2 Professora do Departamento de Artes-DART da UFRN, orientadora da pesquisa.

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2 INTRODUÇÃO

Neste artigo faremos uma incursão sobre as idéias que permeiam teoricamente os estudos sobre os espaços públicos, daremos ênfase ao Parque da Criança, um espaço lotado no Corredor Cultural de Mossoró. Para criarmos uma possibilidade de aproximação de um debate mais coerente com a noção de espaço público, nos remeteremos a analisá-lo sob a ótica das apropriações que são realizadas no local, bem como o seu acesso, que em determinados casos se faz de maneira restrita.

Para obtermos o estatuto de um trabalho científico ponderamos alguns procedimentos que foram realizados, como um levantamento teórico com autores que trabalham com o tema em tela; realizamos uma pesquisa qualitativa com a aplicação de questionários abertos.

Em nossa aproximação com determinados teóricos fizemos a escolha por dois geógrafos que discutem a temática, o Paulo César da Costa Gomes e o Ângelo Serpa, mais especificadamente duas de suas obras, “A condição urbana” (2006) e “O espaço público na cidade contemporânea” (2007), respectivamente.

Fizemos a escolha pelo Gomes baseado em sua idéia geral de espaço público que enfoca quatro elementos principais: a origem dos espaços públicos; o desafio da geografia de estudar esse tema; as incompreensões acerca dos espaços públicos e sua relação com a cidadania; e por último, os contornos que o mesmo ganha na contemporaneidade. E de acordo com esta perspectiva de análise, podemos vislumbrar uma base para explicar os contornos de uma estrutura segregada que não oferece acesso a todos, e que este comportamento não remete aos dias de hoje, vem desde a origem, na Grécia antiga.

A opção pelo Serpa se faz extremamente útil neste momento, pelo esforço teórico que este autor vem desenvolvendo para encontrar explicações plausíveis para as transformações que este equipamento urbano vem sofrendo, especialmente nestes últimos anos. Mais, algumas de suas considerações nos chamam a atenção porque imagina o espaço público formado por dimensões superiores que se desdobram em outras. As principais seriam o fator político e econômico, que dariam sustentação a acessibilidade, a visibilidade, a espetacularização, as formas territoriais gestadas no seu seio. Este autor nos fornece uma explicação sólida para imaginarmos que determinadas apropriações, realizadas por grupos, agentes, entre outros, são capazes de gerar barreiras que impeçam o acesso universal a um local que deveria ser coletivo, de uso irrestrito.

Realizamos a pesquisa qualitativa com o uso de questionários abertos por pensarmos que este encaminhamento nos daria respostas satisfatórias para o que nos propomos a pesquisar, pois poderíamos pensar a respeito das diversas opiniões que são formadas pelas pessoas que utilizam ou não este local. A partir da coleta destas noções montamos um mosaico de formulações para, no mínimo, pensarmos geograficamente a respeito de um espaço que passa por transformações significativas nestes últimos anos.

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3 Escolhemos três locais para aplicarmos nossos questionários, dois bairros, sendo um elitista o Nova Betânia, outro mais distante do centro e de caráter popular, o Barrocas, alem do próprio Parque da Criança. Realizamos esta escolha levando em consideração que poderíamos encontrar opiniões diferentes, entre os freqüentadores do parque e bairros com caráter financeiro distintos.

Resolvemos com esta pesquisa revelar que o Parque da Criança é um espaço que foi totalmente construído com dinheiro público, ou seja, não foi concebido em regime de Parceria Público Privado (PPP), e resolvemos denunciar que o mesmo não dá acesso as mais diferentes classes sociais. Tentaremos evidenciar que um espaço dito público é controlado por uma empresa privada, que inclusive, cobra taxas para a utilização dos mais diferentes brinquedos e elementos que constituem o lugar.

DE PRAÇA A PARQUE DA CRIANÇA

O Parque da Criança situado na cidade de Mossoró-RN, é um dos elementos que compõem o complexo do Corredor Cultural, é localizado na Avenida Rio Branco, cruza a cidade no sentido leste-oeste, e fora edificado na transição do bairro Alto da Conceição com o Centro.

É um equipamento público que dispõe de uma gama de objetos e brinquedos destinados ao público infantil, constitui se enquanto parque temático, com uma proposta de ser uma opção de lazer, entretenimento para os cidadãos. Nasceu com a toponímia de Praça da Criança, porém, com as constantes críticas, principalmente de Gomes (2009), os representantes do poder decidiram rebatizar o espaço desde o ano de 2010, com o nome de Parque da Criança.

Essa mudança toponímica deu se em relação ao caráter do empreendimento, como há no seu entorno um emuramento, ou seja, muros e grades que cercam o local, gerando assim um aspecto de fechamento, este espaço não poderia ser chamado de praça, sendo assim constituiria se como um parque. Não faria sentido que uma praça tivesse uma fachada isolacionista, com a presença de barreiras concretas ao seu redor.

O Parque da Criança, que fora edificado unicamente com verbas públicas, recebeu um investimento superior a 10 milhões de reais, é controlado por um grupo empresarial que fornece o gerenciamento, segurança, manutenção dos aparelhos. Pelo controle e organização deste equipamento esta empresa cobra taxas para sua utilização.

Atualmente a entrada para as dependências internas é livre, mais nem sempre foi assim, eram cobrados determinados valores para as pessoas poderem adentrar e conseqüentemente utilizar os brinquedos. Depois de muitas críticas, principalmente nossas, tivemos uma mudança na postura dos que controlam o espaço, fora mudado a maneira da cobrança, que será feita levando se em consideração apenas o que as pessoas fossem consumir ou utilizar. Todavia, não seria legal, juridicamente,

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4 cobrar para cidadãos transitarem em um espaço que foi concebido que seu próprio dinheiro.

O OLHAR DO GEÓGRAFO SOBRE OS ESPAÇOS PÚBLICOS

A idéia de espaço público, tal qual nós concebemos hoje, nasce na Grécia antiga durante o governo de Clístenes, que de acordo com Gomes (2006), tem no seu embrião uma concepção de cidadania, sendo assim, desde o seu nascimento podemos vislumbrá-lo como um espaço segmentado, pois neste período da história o termo cidadão era aplicado a algumas porções da sociedade grega, ou seja, a uma elite, portanto, o estatuto do espaço público tem no seu embrião uma forma territorial, que exclui, que segrega.

Podemos operacionalizar este conceito em um novo período, momento este que remete a modernidade, mais precisamente a França do século XIX, quando das famosas reformas urbanas que o Barão Haussmann promoveu em Paris, tendo como pilar principal a construção de Bulevares, este último um dos grandes símbolos concretos da idéia de espaços públicos.

Um estudo geográfico que tenha como mote os espaços públicos precisa compreender que uma praça, um parque, não é apenas uma obra arquitetônica, dotada de uma estrutura física e que esta impressa na paisagem de uma cidade. É necessário ir além, é preciso estabelecer uma relação com o espaço enquanto objeto de estudo da geografia, portanto,

[...] um olhar geográfico sobre o espaço público deve considerar por um lado, sua configuração física e, por outro, o tipo de práticas e dinâmicas sociais que aí se desenvolvem. Ele passa a ser visto como um conjunto indissociável das formas com as práticas sociais (GOMES, 2006: 172).

Sendo observado que existe uma estrutura física, mas, que ela não se explica por si só, precisamos entender como irão se estabelecer relações sociais, que serão das mais variadas naturezas. E que essas relações irão dotar um espaço de um determinado conteúdo, este último sendo de extremo interesse para a geografia, porque a partir dele perceberemos como as ações, as relações, os usos irão se estabelecer em um espaço público, dotando o de um sentido, nesse caso Gomes (2006: 19-20) ratifica, (...) assim, “uma análise geográfica do espaço urbano deve ser nutrida da disposição locacional dos objetos espaciais confrontados com o comportamento social que aí tem lugar”.

Um espaço como o Parque da Criança se enquadraria na condição de um objeto espacial incluso em uma cidade, todavia, a análise única do objeto não será suficiente, precisamos estudar como se da o comportamento social estabelecido pelos seus freqüentadores. Podemos perceber esse comportamento através dos usos, das apropriações, das práticas inseridas neste lugar.

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5 Os objetos, e praças não são diferentes, necessita ser compreendida a luz de suas ações, afinal, objetos e ações são inseparáveis numa visão geográfica dos fatos. Um sistema de ações e um conjunto de objetos deram vida a um complexo de espaços públicos conhecido como Corredor Cultural.

Foi o governo municipal que foi o grande articulador da criação deste complexo, pois não fora feita nenhuma consulta popular para edificá-lo. A racionalidade posta em pratica no Corredor Cultural fora gerada para atender especificidades do meio no qual vivemos, pois em uma sociedade capitalista que começa enxergar nos espaços públicos possibilidade de expansão de seus negócios, observamos que determinados espaços estão sendo mercantilizados.

Podemos observar como exemplo desta dinâmica uma serie de empreendimentos comerciais lotados no complexo, desde restaurantes, fast foods, bares, empresas terceirizadas para gerenciar o local, entre outros.

A dimensão econômica não pode ser compreendida separada da política, pois estas duas faces se completam, é imprescindível em um estudo sobre praças não observar esta inseparabilidade. Podemos relacioná-los de diversas formas, desde interesse na visibilidade, na espetacularização da obra por parte dos gestores públicos, ate a construção por parte das empreiteiras; das empresas que comercializam produtos, tendências; pode ser palco de manifestações políticas por parte de partidos, sindicatos, grupos organizados.

No sentido de agregar estas duas dimensões, de estabelecer pontes para nos aproximar de um conceito geográfico dos espaços públicos, Serpa (2007: 09) define o termo:

O espaço público é aqui compreendido como espaço da ação política ou, ao menos, da possibilidade da ação política na contemporaneidade. Ele é analisado sob a perspectiva crítica de sua incorporação como mercadoria para consumo de poucos, dentro da lógica da produção e reprodução do sistema capitalista na escala mundial. Ou seja, ainda que seja espaço público, poucos se beneficiam desse espaço teoricamente comum a todos.

Nesta lógica de reprodução do capital podemos enxergar no Corredor varias empresas, inclusive, multinacionais. Este local se torna mercadoria para poucos pelo seu caráter, pois são cobradas taxas para sua plena utilização, legitimando sua face segregacionista, contribuindo para que uma porção da sociedade não utilize este espaço pelar razão de não dispor de condições de pagamento.

APROPRIAÇÕES E ACESSIBILIDADE NO PARQUE DA CRIANÇA

A apropriação seletiva e diferenciada dos espaços coletivos tem uma relação estreita com as políticas públicas que são aplicadas a cidade, pois podem servir

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6 para (re) qualificar uma área, que pode ser de interesse dos gestores públicos. Isso é muito comum acontecer em bairros de classes médias, que geralmente se tornam destino destas políticas (Serpa, 2007).

Quando os parques públicos são instalados em determinados bairros, acabam por fomentar um processo de segmentação e exclusão, as diferenças sócio-espaciais se acentuam. E tais diferenças podem ser capazes de gerar um processo de territorialização do espaço, como nesse sentido, afirma Serpa (2007: 36):

Que as práticas urbanas que neles [os parques públicos] inscrevem-se em um processo de “territorialização” do espaço. Em verdade, os usuários privatizam os espaços públicos através da ereção de barreiras simbólicas, por vezes invisíveis, o espaço público transforma-se, portanto, em uma justaposição de espaços privatizados; ele não é mais partilhado, mas, sobretudo dividido entre os diferentes grupos.

Esse processo territorial reforça os laços de apropriação, esta ultima terá como conseqüência o uso restrito, dificultando assim o acesso universal, portanto, pensamos que a apropriação de determinados espaços tem ligações intimas com seu acesso. Todavia, o uso coletivo será limitado, criando assim enclaves privados, seja por grupos, empresas, sujeitos, nos espaços públicos.

Na última década, os gestores públicos da cidade de Mossoró vêm concebendo uma atenção especial para determinadas transformações urbanísticas. Desse modo, inúmeros projetos arquitetônicos, inclusive, edificações de espaços públicos, foram ou ainda estão sendo (re) construídos. Desta maneira, faz-se necessário pensar como estão sendo implementados esses projetos, bem como os interesses que estão em jogo, pois alguns agentes econômicos e grupos políticos têm negócios/interesses específicos nesses empreendimentos. Nesse sentido, as pesquisas que abordam esse tema colocam-se como possibilidade de pensar a cidade de Mossoró nos dias atuais.

É notório que em certos momentos os espaços públicos legitimam os poderes das elites locais, já que eles se apropriam materialmente e simbolicamente desses locais, justificando assim sua dominação. É também visível que muitos dos nossos espaços ditos “públicos” estão sendo apropriados tanto pela elite econômica da cidade como pelos trabalhadores informais.

Portanto, faz-se necessário ter uma melhor compreensão do papel do espaço público na cidade. Mas, para tanto, é preciso ouvir os sujeitos sociais que utilizam ou não esses espaços, ou seja, é imprescindível ouvir o modo como esses cidadãos pensam, suas noções sobre espaço público. E isso irá nos ajudar na compreensão da relação da sociedade mossoroense com os espaços na cidade.

Mais, em Mossoró, quais os elementos que permeiam a questão do uso? Como esse tema é percebido pela população? Como estão sendo apropriados os espaços públicos na cidade? Eles são acessíveis? Como os sujeitos que neles atuam vêem esta forma espacial? Essas perguntas são, sem dúvidas, difíceis de serem respondidas, pois há todo um universo de opiniões que permeiam as mais diferentes classes sociais. Daí a importância de serem estudadas e pensadas, pelo motivo de serem diversificadas as

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7 maneiras como cada um percebe esse espaço. Nem entre os teóricos há uma unidade de compreensão a respeito do espaço público.

No entendimento de uma parcela significativa dos entrevistados, é comum a afirmação que o espaço público é importante para a cidade. Nesse caso, a própria palavra “importante” é citada inúmeras vezes durante as entrevistas como um deles destaca:

Eu entendo como importante para o público em geral, traz progresso para a cidade de Mossoró. Quase todos os bairros têm uma praça e isso ajuda no progresso de Mossoró, a cidade tá se modernizando. E estes espaços ajudam nesta modernização e mesmo no progresso [...] ( por A. S. C., no Bairro Barrocas).

As respostas foram dadas com tamanha diversidade que algumas merecem um destaque especial, pois um dos entrevistados atribui ao espaço público a sua própria casa. Outro se refere ao mesmo como “espaços carentes”. Já alguns mencionam “que é algo que tem que ser público mesmo, que são apenas praças”. Outro se refere a pontos importantes para o debate, quando afirma: “daria acesso a todos, mas tem que ter um controle, é necessário restringir às vezes para evitar bagunça”. ( por E. F., na Praça da Criança).

Esse ponto referente ao controle é fundamental para entendermos como se dá a normatização do uso de alguns espaços, pois há uma confusão no entendimento do termo “público”, que se refere, em muitos casos, à desordem e à falta de controle. Mas isso é na opinião de algumas pessoas. E a fala do entrevistado refere-se a esse assunto, pois, apesar de uma área ser pública, é necessário ter uma organização, um controle, caso contrário, o que deveria ser de interesse coletivo vai acabar sendo mal utilizado. O termo “público” não é para ser encarado como algo sem organização. Pelo contrário, é para ser levado a sério, já que esses espaços são construídos com verbas públicas e a população e o poder público têm o dever de cuidar adeqüadamente.

Do ponto de vista teórico, vale ressaltar que o acesso a esses espaços pelas mais diversas classes sociais é um elemento importante, um espaço público é concebido nas cidades para a coletividade, e a questão do acesso universal é sempre central nesse aspecto, assim como o fato desses espaços serem uma iniciativa do poder público na sua construção, pois a iniciativa privada, com exceção em raros casos, constrói espaços dessa natureza. Nesse sentido, uma das entrevistas sinaliza para isto:

Para mim, espaço público se denomina os ambientes nos quais a população em geral tenha livre acesso, isto é, ambientes que sejam obras do poder público para utilização e bem-estar da população, independente de sua camada social, ou seja, de suas condições financeiras. E por Mossoró dispor de poucos espaços públicos, e ainda alguns locais que precisam ser pagos para serem freqüentados, acabam afastando as pessoas que fazem parte das camadas mais humildes, pois não são beneficiadas (por A. R. S. P., no Bairro Barrocas).

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8 Nessa entrevista, o sujeito em questão ressalta de maneira importante dois pontos centrais que são relacionados aos espaços públicos: a sua natureza coletiva e a questão de ser concebido pelo poder público. Quando o entrevistado cita o livre acesso como importante ele é feliz em afirmar isso, porque em muitos casos esses locais não são acessíveis a certas classes sociais, por serem apropriados pela iniciativa privada e a mesma cobrar tarifas para a sua utilização, e esse caso podemos citar como exemplo o Parque da Criança. O segundo ponto importante dessa entrevista se refere à questão da construção da obra que geralmente a sua concepção é de responsabilidade do poder público. Mas, com novas formas de se fazerem políticas públicas, em que se aponta para as parcerias com a iniciativa privada e no qual os espaços públicos estão nesse rol de orientações inserido, essas obras acabam sendo apropriadas por essas empresas que tentam maximizar seus lucros através desses empreendimentos e acabam cobrando tarifas, algumas até abusivas.

Uma outra entrevista também merece destaque, pois mostra um pouco da indignação de um cidadão que acredita que alguns espaços públicos na cidade não são acessíveis a todos: “acredito que seja algo que tem que ser público, que possa andar livremente, que poderiam ser construídos muito mais, já que são escassos na cidade [...]” (por A. H., no Bairro Nova Betânia). Quando menciona o fato de um espaço ser necessariamente público, o entrevistado fala da questão do acesso das mais diversas pessoas aos espaços públicos, todavia, em alguns casos em Mossoró, os espaços são restritos e para utilizá-los é necessário pagar taxas. Nesses casos, a utilização desses espaços está atrelada a mercantilização de mercadorias, como bebidas e refeições, no caso da Praça de Convivência, e o pagamento de tarifas para o uso dos brinquedos e jogos no Parque da Criança.

Em nossa última pergunta que talvez tenha sido uma das nossas indagações centrais, questionamos sobre o que acham a respeito da Praça da Criança, se esse espaço constitui um equipamento urbano público ou privado, e ainda a respeito da taxa que é cobrada para o uso daqueles brinquedos pela população.

As pessoas do Bairro Nova Betânia, que é um dos bairros de maior incidência de moradores de classe média de Mossoró, responderam em sua maioria que acredita ser um local privado, pois se paga para usufruir daquele espaço. Eles relacionam, então, ao pagamento das taxas o lado particular do mesmo. Mas por outro lado, não acham justas as taxas cobradas, por ser, a Praça da Criança, um equipamento urbano construído com dinheiro público. Por ser teoricamente um bairro em que as pessoas possam ser mais bem informadas, os moradores não aceitam que seja cobrado um tributo para que se possam usar aqueles brinquedos, apesar de todos os entrevistados poderem pagar por isso. Já as pessoas do Bairro Barrocas em sua maioria quase que esmagadora, quase sua totalidade, aceita este espaço como um local público pelo simples fato dele ter sido construído com dinheiro público e são mais flexíveis com a cobrança da taxa, em muitos casos, achando justa pelo serviço de “qualidade” que é ofertado.

Já na própria Praça da Criança encontramos um equilíbrio, entre considerar que esse espaço seja público ou privado, porém, gostam da idéia de que seja cobrada a taxa para a utilização, pois limita seu uso, e dá para se estabelecer um controle maior

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9 sobre os aparelhos, evitando assim uma desordem que pode ser causada se a entrada e o uso forem gratuitos.

CONSIDERAÇÃOES FINAIS

Podemos constatar nesta pesquisa, que foi prazerosa, que realmente o campo é revelador. Pois colhemos opiniões surpreendentes, reveladoras, que nos ajudaram a pensar os espaços públicos, tendo o Parque da Criança como objeto.

Compreendemos que determinados conceitos como acessibilidade e apropriação são centrais para nos aproximarmos de um debate que verse sobre o Parque da Criança. Que a noção de espaço público para a maioria dos entrevistados parece confusa; que o pagamento de taxas tornaria o Parque da Criança uma área seletiva, portanto, segmentada; que os entrevistados do Nova Betânia, bairro elitista não concordam com as cobranças, apesar de poderem pagar. Enquanto do Barrocas um bairro mais popular acredita ser necessária.

Esperamos com esse trabalho, que ainda esta em fase de amadurecimento, criar uma possibilidade de aproximar o debate sobre espaços públicos com a geografia, evidentemente, a partir desta possibilidade, aproximar a discussão para a realidade de uma cidade como Mossoró.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEZERRA, Amélia Cristina Alves. Pelas margens da cidade e no meio da festa: A (re) invenção das festas e da identidade no espaço urbano de Mossoró-RN. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2005.

__________________________. Festa e identidade. In: ARAUJO, Frederico Guilherme Bandeira de; HAESBAERT, Rogério (ORG.). Identidades e Territórios: Questões e olhares contemporâneos. Rio de Janeiro: Access, 2007.

DAMATTA, Roberto. A casa e a Rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5° Ed. Rio de janeiro: Rocco, 1997.

GOMES, Paulo César da Costa. A Condição Urbana: Ensaios de geopolítica da Cidade. 2° Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

GOMES NETO, José. Usos e noções dos espaços públicos de Mossoró: o caso do Corredor Cultural. Monografia de especialização. UERN, 2009.

SERPA, Ângelo. Espaço Público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2007.

________________. Espaço público e acessibilidade: Notas para uma abordagem geográfica. GEOUSP- Espaço e Tempo, São Paulo, n° 15, pp. 21-37, 2004.

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