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Visão Sistêmica do Emprego de Aeronaves Remotamente Pilotadas nas Áreas de Defesa e de Segurança

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Academic year: 2021

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DONALD GRAMKOW

Visão Sistêmica do Emprego de Aeronaves Remotamente

Pilotadas nas Áreas de Defesa e de Segurança

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Cel Av R/1 Josué Batista de Jesus Neto.

Rio de Janeiro 2017

(2)

C2017 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG

_________________________________ Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Gramkow, Donald.

Emprego de Aeronaves Remotamente Pilotadas nas Áreas de Defesa e de Segurança – Visão Sistêmica / Cel Av Donald Gramkow. - Rio de Janeiro: ESG, 2017.

74 f.: il.

Orientador: Cel Av R/1 Josué Batista de Jesus Neto

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2017.

1. Aeronave Remotamente Pilotada (ARP). 2. Inteligência Aérea. 3. Teoria Geral dos Sistemas aplicada. 4. Defesa. I.Título.

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Aos que me ensinaram a voar. Aos que me encorajaram a pensar. Aos meus pais que foram instrutores e mestres.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que são exemplo de responsabilidade, de coerência e instrução, ou seja, de como olhar a si, à sociedade e ao mundo.

A tantos outros que me deram pedaços de conhecimento, com os quais construí concepções de vida e de mundo.

Aos meus colegas da ESG, tanto da plataforma quanto da plateia. Colegas que somos ao nos preocupar com o País ao invés de conosco mesmos.

(5)

Preparar o futuro significa fundamentar o presente.

Antoine de Saint-Exupéry – piloto da Aviação de

(6)

RESUMO

Esta monografia aborda aeronaves remotamente pilotadas no contexto das Forças de Defesa e de Segurança. O objetivo deste estudo é analisar as particularidades para inclusão e operação deste tipo de aeronave a fim de aumentar a probabilidade de sucesso de sua adoção e da eficiência na sua operação. A metodologia foi de investigar as características na operação destas aeronaves simultaneamente à luz das Teorias do Poder Aéreo e Geral dos Sistemas. Para tanto, a mesma comportou uma pesquisa bibliográfica e documental, visando buscar referenciais teóricos, guiada pela experiência operacional do próprio autor. O campo de estudo delimitou-se às aeronaves de grande porte, empregadas nas atividades de sensoriamento remoto, sem desprezar as possibilidades de emprego de armamento pelas Forças de Defesa. Do Poder Aéreo, busca a explanação no combate a forças de oposição não-convencionais, explicando ser esta aeronave a contribuição possível de uma Força Aérea para este tipo de ambiente operacional. Da Teoria Geral dos Sistemas, extrai os conceitos de interdependência de sistemas, focalizando na correta identificação destes requisitos para evitar o insucesso na inclusão deste tipo de engenho. Da análise dos planos e diretrizes verifica-se a intenção geral do Estado brasileiro em utilizar este tipo de aeronave e como as orientações se alinham à análise geral deste trabalho. Os principais tópicos são: Poder Aéreo, Teoria Geral dos Sistemas, sistema de informações, ciclo de comando e controle, Reconhecimento Aéreo, características de um sistema de aeronaves remotamente pilotadas e inter-relações com outros subsistemas. A conclusão indica a preocupação de levantamento das necessidades para diversos sistemas das Forças de Defesa e Segurança a serem realizados antes ou concomitantemente ao projeto de aquisição de aeronaves remotamente pilotadas e alerta para os prováveis insucessos se tal análise sistêmica não for respeitado. Palavras chave: Aeronave Remotamente Pilotada (ARP). Inteligência Aérea. Teoria Geral dos Sistemas aplicada. Defesa.

(7)

ABSTRACT

This monograph deals with remoted piloted aircrafts in the context of Defense and Security Forces. The goal of this study is to analyze the particularities for inclusion and operation of this kind of aircraft in order to improve the probability of success of its adoption and its operation efficiency. The methodology involved the characteristics of the operation of this aircrafts considering simultaneously the Theory of Air Power and the Theory of General Systems. With this proposal, the investigation included research on related bibliography and formal documents, aiming theoretical references, guided by operational background of this study’s author. The field of study was limited to big airplanes, employed at remote sensing duties, without dismiss armed employment by Defense and Security Forces. From General Systems Theory uses the concepts of interdependency of systems, focusing on correct identification these requirements in order to avoid the failure on including this kind of machine. From analyzing plans and guidelines, it is possible to verify the will of Brazilian Government about this topic and how these orientations are aligned with the broad analysis of this study. The main topics are: Air Power, General Systems Theory, information systems, command and control cycle, Air Reconnaissance, remoted piloted aircraft characteristics and systems interrelationship. Finding indicates the concerns of requirements gathering for many systems in the Defense and Security Forces to be made before or simultaneously to remoted piloted aircraft acquisition project and alert for likely failure if system analysis would not be followed.

Keywords: Remoted Piloted Aircraft (RPA). Air Intelligence. Applied General Systems Theory. Defense.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1 Vantagens da coleta aérea versus satelital ... 70

QUADRO 2 Characteristic Advantages of Airpower and Space Power ... 71

FIGURA 1 Modelo de interação dos ciclos da atividade aérea e de inteligência aérea ... 67

QUADRO 3 Comparação de distâncias de imageamento entre veículos aéreos e satelitais ... 71

QUADRO 4 Características dos sensores para IMINT ... 71

QUADRO 5 Características atribuídas pelas plataformas aos sensores ... 70

FIGURA 2 Processo simplificado de inteligência operacional ... 67

QUADRO 6 Tarefas de ARP por Forças Armadas segundo Austin (2011) ... 72

QUADRO 7 Ações de Força Aérea e possibilidades de uso de ARP ... 68

QUADRO 8 Autonomy Control Levels (ACL) ... 72

QUADRO 9 Modified PACT levels ... 73

FIGURA 3 Diagrama de um sistema ... 74

(9)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACL Autonomy Control Level. Nível de Controle Autônomo

AFB Air Force Base. Base Aérea

AFRL Air Force Research Labs. Laboratórios de Pesquisas da USAF

ARP Aeronave Remotamente Pilotada

BD Banco de dados

BDA Battle damage assessment. Análise de danos

BLOS Beyond Line of Sight. Além da linha de visada

C2 Comando e Controle

C4I Command, Control, Communications, Computers & Intelligence.

Comando, controle, comunicações, computadores e inteligência COMAE Comando Aéreo de Emprego

COMINT Communication Intelligence. Inteligência de comunicações.

CRM Crew Resources Management. Gerenciamento de recursos de

tripulação

C-SAR Combat SAR. Busca e Salvamento em combate

DIVINT Divisão de Inteligência

DOD Department of Defense. Departamento de Defesa dos Estados

Unidos da América

DPF Departamento de Polícia Federal ECS Estação de controle de solo

ELINT Electronic Intelligence. Inteligência eletrônica.

EO Eletro-óptico

FAB Força Aérea Brasileira

GCS Ground Control Station. Ver ECS

GNSS Global Navigation Satellite System. Sistema global de navegação

por satélite.

GPS Global Position System. Sistema de Posicionamento Global

HMI Human Machine Interface. Interface homem-máquina

IED Improvised explosive device. Dispositivo explosivo improvisado

IMINT Image Intelligence. Inteligência de imagens

IR Infravermelho

ISTAR Intelligence, Surveillance, Reconnaissance and Target Acquisition.

Traduzido para a língua portuguesa como IVRAA IVR Inteligência, Vigilância e Reconhecimento

(10)

JCA Joint Capabilities Areas. Áreas de capacidades conjuntas.

LOS Line of Sight. Linha de visada

MD Ministério da Defesa

NBC Nuclear biological chemical. Nuclear, bacteriológico e químico

NCO Network centric operations. Operações centradas em redes

NVG Night Vision Goggles. Óculos de visão noturna

OODA Observar, Orientar, Decidir e Agir.

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

PACT Pilot Authority and Control of Tasks. Autoridade e Controle de

Tarefas pelo Piloto Rec Aé Reconhecimento Aéreo

SAR Search and Rescue. Busca e salvamento

SARP Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas

SATCOM Satellite Communications. Comunicações baseadas em satélites

SIGINT Signal Intelligence. Inteligência de sinais.

TGS Teoria Geral dos Sistemas TI Tecnologia da Informação

TO Teatro de Operações

TST Time Sensitive Target. Alvo dependente do tempo

UAV Unmanned aerial vehicles. Ver VANT

UCAV Unmanned Combat Air Vehicle. ARP de combate

USAF United States Air Force (Força Aérea dos Estados Unidos da

América)

UV Ultravioleta

VANT Veículo aéreo não-tripulado Vig Aé Vigilância Aérea

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 14

2.1 PERMANÊNCIA NO PODER AÉREO ... 14

2.2 ADAPTAÇÃO AO OPONENTE ... 15

2.3 TEMPO COMO FATOR DE COMBATE ... 17

2.4 O PROBLEMA COMO SISTEMA ... 18

3 ARP E COLETA DE DADOS ... 20

3.1 INTELIGÊNCIA NAS OPERAÇÕES AÉREAS ... 20

3.2 C2 COMO CICLO ... 22

3.3 RECONHECIMENTO AÉREO E VIGILÂNCIA AÉREA ... 25

3.4 COMPLEMENTARIEDADE DAS FONTES ... 28

3.5 EM AÇÃO ... 30

4 ARP VERSUS AERONAVES TRIPULADAS ... 33

5 ADESÃO DA ANÁLISE AO CONCEITO DE TGS ... 42

5.1 CONCEITO DE SISTEMA APLICADO ... 42

5.2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA COM ARP ... 43

5.3 PARÂMETROS DO SISTEMA COM ARP ... 44

5.3 FUNÇÕES PRIMÁRIAS DO SISTEMA ... 46

6 REFLEXOS DA ANÁLISE SISTÊMICA ... 48

6.1 ENTRADAS PARA UM SARP ... 48

6.2 ASPECTOS SOBRE O PRODUTO DE UM SARP ... 49

6.3 AMBIENTE PARA OPERAÇÃO DE SARP ... 51

6.4 CONSEQUÊNCIAS DA INCLUSÃO DE SARP ... 52

7 CONCLUSÃO... 56

REFERÊNCIAS ... 60

GLOSSÁRIO ... 63

APÊNDICE A – Inteligência aérea ... 67

APÊNDICE B – Plataformas aéreas versus satelitais ... 70

ANEXO A – Poder Aéreo, Poder Espacial e IMINT ... 71

ANEXO B – ARP e automação ... 72

(12)

1 INTRODUÇÃO

Acabamos de ganhar uma guerra com muitos heróis voando de avião por aí. A próxima guerra será travada por aeroplanos sem tripulante algum.... Peguem tudo o que aprenderam sobre aviação de guerra, joguem na lata de lixo, e vamos investir na aviação de amanhã. Será diferente de tudo o que o mundo já viu. (apud MCCURLEY, 2015, p. 13, grifo nosso)

O texto acima abre o livro Hunter Killer, que conta a história da aviação de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP) na Força Aérea Americana (USAF). O dito foi do General Henry “Hap” Arnold, Chefe da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, no Dia da Vitória no Japão, em 1945.

Em 2010 a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou a utilização de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP). A iniciativa objetivava avaliar doutrinariamente a inclusão deste tipo de aparelho nas Ações de Força Aérea. (BRASIL, 2014, p.12).

Tendo sido utilizado com grande sucesso nos conflitos mais recentes, ficou patente a importância e as potencialidades da plataforma não-tripulada. A própria Estratégia Nacional de Defesa (END) afirma:

A segunda diretriz é o avanço nos programas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), primeiro de vigilância e depois de combate. Os ARP poderão vir a ser meios centrais, não meramente acessórios, do combate aéreo, além de facultar patamar mais exigente de precisão no monitoramento/controle do território nacional. (2013a, p. 91, grifo nosso)

Em consonância, a FAB, ao estabelecer o planejamento estratégico para 2041, considera o uso de ARP no incremento das capacidades de Força Aérea:

[...] a atual capacidade e conhecimento em comando e controle e inteligência, será incrementada com a inserção dos produtos espaciais e das plataformas aéreas não tripuladas, de grande autonomia, que aumentaram a produção de conhecimento oportuno e decisivo para as diversas operações conjuntas, incluindo outros órgãos governamentais. (BRASIL, 2016c, p. 20)

Segundo McCurley, a Força Aérea dos Estados Unidos da América (USAF) opera ARP da família Predator desde 1994 (2015, p. 30). Seu uso foi justificado para as situações de grande risco para a tripulação, ou ainda em missões de longa duração,

(13)

o que passou a ser conhecido como os “3D1” da justificativa para se utilizar ARP:

Sistemas não-tripulados proporcionam persistência, versatilidade, sobrevivência e redução de riscos para a vida humana, e em muitos casos são as alternativas preferidas especialmente para missões que são caracterizadas como enfadonhas, “sujas” e perigosas. (DoD, 2014, p. 20, grifo nosso, tradução nossa).

Considerando as particularidades nos ambientes operacionais de emprego da USAF, a FAB ativou um grupo de trabalho para operar um sistema de veículos aéreos não-tripulados (VANT) de médio porte com a finalidade de avaliar e desenvolver a doutrina de operação adequada à realidade nacional (BRASIL, 2013b, p. 12).

Na FAB as experiências nestes sete anos de operação incluíram testes operacionais em várias missões, explorando as possibilidades de emprego nas Ações de Força Aérea descritas na Doutrina Básica da FAB, assim como participação em operações com o esquadrão baseado fora de sua sede, em regiões tão díspares quanto a selva amazônica ou a cidade do Rio de Janeiro.

Importante ressaltar que estes ambientes operacionais diversos serviram para coletar dados desconhecidos pelos fabricantes da aeronave e que, portanto, não são de conhecimento de nenhuma outra Força Aérea ou empresa.

Esta constatação confirmou o acerto da FAB em criar um “projeto piloto” de ARP, de caráter “exploratório doutrinário”, considerando a aplicação do sistema nas idiossincrasias brasileiras de doutrina, limites legais de atuação das Forças Armadas brasileiras, regras de acesso ao Espaço Aéreo nacional e diversidade de clima, com grande variação regional. (LAUX apud TRINDADE; DIAS, 2012, p. 20-21)

A utilização de ARP no Brasil ainda não considera o emprego armado, restringindo o uso da aeronave não-tripulada com meios de coleta de dados. A FAB possui em seu acervo outros meios de coleta, reunidas sob a tradicional Aviação de Reconhecimento Aéreo, com doutrina estabelecida desde a 2ª Guerra Mundial e que alimenta o sistema de inteligência das forças armadas. Neste contexto, a coleta é uma das fases do sistema de inteligência (MONTAGNER, 2017).

Tanto na experiência da USAF quanto na da FAB, sistemas de coleta de informações baseados em ARP não substituem os de aviações tripuladas (BRASIL,

(14)

2013, p.11). Dados dos sensores baseados em aeronaves tripuladas, em ARP e em satélites são complementares entre si (BRASIL, 2016a, p. 35), uma vez que as características das plataformas são únicas (MONTAGNER, 2017).

A experiência brasileira demonstrou a necessidade de adaptação da capacitação de pessoal destinada a atender às funções operacionais de ARP.

Houve facilitadores na introdução da operação segura da aeronave2, porém ocorreram dificuldades no aproveitamento integral dos dados produzidos por seus sensores (MONTAGNER, 2017) ou do correto planejamento do emprego da unidade aérea, devido às particularidades da logística e das demandas de infraestrutura de comunicações.

De forma semelhante, o projeto similar do Departamento de Polícia Federal (DPF), com ARP de categoria análoga à da FAB, também passou por percalços (AMADO, 2017), os quais, dadas as peculiaridades de cada instituição, foram de natureza distinta.

Em ambos os casos, apesar de todo o conhecimento interno das instituições e da assessoria prestada pelas empresas fabricantes do sistema na implantação, ficou patente a existência de lacunas que impediram o atingimento da sua máxima eficácia (MONTAGNER, 2017).

Pode-se observar que esta dificuldade também ocorreu na história das aeronaves Predator e Reaper na USAF, posto que, ainda que os recursos de comunicação fossem abundantes e que o ambiente de desenvolvimento de novos equipamentos militares fosse maduro, houve crises na sua implantação e emprego em combate (MCCURLEY, 2015).

A análise dos relatos da USAF mostra que houve ampliação do cenário de emprego das ARP: se no início estas aeronaves eram utilizadas onde o risco era muito alto, a capacidade de permanência sobre o alvo passou a apresentar uma nova capacidade para o Poder Aéreo, permitindo estacionar dezenas de horas sobre o alvo (MCCURLEY, 2015).

Por outro lado, os novos estudos sobre o emprego de ARP permitem perscrutar novas capacidades à guerra aérea. Resolvida a questão da longa

2 Doutrina de segurança de voo, planejamento de missões, doutrina de cabine, gerenciamento de recursos de

tripulação, desenvolvimento de liderança, estudo de meteorologia, habilidade de pilotagem, regras de tráfego aéreo.

(15)

permanência em voo, as fronteiras tecnológicas das pesquisas de ARP apontam para a extrapolação de outros limites humanos a bordo da aeronave como aumento da manobrabilidade com altos índices de aceleração gravitacional, a coordenação entre grande número de aeronaves em formação e a miniaturização (DoD, 2014, passim).

As lições aprendidas com o 1º/12º GAV demonstram a importância de se analisar a aplicação das capacidades de ARP no ambiente específico da realidade brasileira, constatada a disparidade de demandas e de condições de operação em comparação a outros operadores pioneiros.

Além dos equipamentos, a operação de ARP requer uma abordagem mais ampla, de caráter sistêmico, proposta por este trabalho.

Segundo Vergara (2007) a respeito dos meios de investigação, este trabalho possui pesquisa bibliográfica, ao se basear nos livros sobre ARP e o Poder Aéreo, além de entrevistas com os operadores de ARP da FAB e do DPF. O texto visa compreender o emprego de ARP sob a óptica de um sistema de acordo com a Teoria Geral dos Sistemas (TGS), de Von Bertalanffy (1977).

Para atingir este objetivo, será feita uma breve descrição do uso de ARP na coleta de dados para um sistema de inteligência, serão elucidadas as motivações de usar estes equipamentos em detrimento das aeronaves tripuladas e será realizada a análise da aderência do emprego de ARP aos conceitos sistêmicos da TGS. É, segundo Vergara (2007), descritiva ao explanar e estabelecer paralelos com o Poder Aéreo e com a TGS; é explicativa ao demonstrar os fatores que levam à compreensão do uso de ARP como um sistema.

O trabalho tem um foco no caso nacional e privilegia as experiências adquiridas, as quais são todas no uso de ARP de tamanho médio ou superior e sem o emprego de armamento. Não obstante, não exclui este tópico, considerando a tendência expressa de se adotar este tipo de emprego:

Dentre os projetos que incrementarão efetivamente nossas capacidades, merecem destaque os seguintes:

g) o desenvolvimento de Aeronaves Remotamente Pilotadas, empregadas no cumprimento de missões de reconhecimento e ataque. (BRASIL, 2015, p. 4, grifo nosso).

Mas antes é necessário considerar o material já reunido sobre o assunto, inicialmente relacionando teoria e prática do uso de ARP com o emprego do Poder Aéreo.

(16)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – PERMANÊNCIA NO PODER AÉREO

ARP é essencialmente uma nova ferramenta no âmbito do Poder Aéreo. Introduzi-la nos modi operandi das Forças de Defesa e de Segurança requer compreender não apenas seu funcionamento, mas também como se dá a interação com as demais partes já existentes das organizações. Sem essa preocupação, a operação destes equipamentos gerará confusão e perda de eficiência, além do desperdício de recursos humanos e financeiros. Sugere-se uma abordagem sistêmica para otimizar o seu emprego.

Fundamental para se compreender a evolução dos conceitos de emprego do Poder Aéreo é o compêndio organizado pelo Col Phillip S. Meilinger, USAF, na escola de estudos avançados de poder aéreo dos EUA. Ainda que o foco da obra seja demonstrar a mudança de visão sobre as possibilidades da arma aérea, deixando de ser uma força de apoio para assumir um papel predominante nas guerras do século XXI, os capítulos sobre guerra assimétrica e ciclo de decisão apoiam alguns conceitos para uso da ARP na área de inteligência.

É importante iniciar com uma grande quebra de paradigma do Poder Aéreo com o uso de ARP. Se desde “O Comando do Ar” de Douhet, de 1921, buscava-se enaltecer e provar que a arma aérea revolucionaria a Arte da Guerra (DOUHET, 1983), a permanência em combate sempre foi uma característica limitante das aeronaves3. A DCA 1-1 pontua a “permanência limitada” como um de seus pontos fracos:

Essa característica está relacionada à incapacidade de as aeronaves voarem indefinidamente, pois necessitam reabastecer, rearmar ou trocar tripulações, o que resulta em restrições no cumprimento de atividades continuadas, portanto demandando rodízio de vetores ou repetição de surtidas para obter os efeitos desejados. (BRASIL, 2015, p. 32, grifo nosso).

Retirar a tripulação de dentro da aeronave permite que a missão prossiga muito além dos limites do ser humano. Revezamentos em solo permitem que os militares estejam sempre em sua melhor condição para o emprego, ainda que a aeronave permaneça em voo por dezenas de horas (MCCURLEY, 2015, p. 202).

(17)

Esta única mudança é suficiente para alterar as condições de combate no âmbito dos conflitos de baixa intensidade, os quais prevalecem durante a segunda metade do Século XX e permanece no atual:

O predomínio e os usos de sistemas não-tripulados continuam a crescer em um ritmo dramático. A última década de conflitos presenciou o maior aumento de sistemas de aeronaves não-tripuladas, primariamente executando missões ISR. O uso de sistemas não-tripulados em outros domínios também está crescendo. O desenvolvimento de sistemas não-tripulados é esperado continuar na maioria dos outros domínios. Sistemas não-tripulados têm provado que podem melhorar consciência situacional, reduzir carga de trabalho do ser humano, melhorar o desempenho de missões e minimizar o risco geral tanto para civis quanto para militares, e tudo isto a um custo reduzido. (DoD, 2014, p. 20, tradução nossa).

Como observado nas descrições de combates em Hunter Killer, (MCCURLEY, 2015), a capacidade de permanecer sobre o alvo durante muito tempo permite estabelecer uma rede de informações e escolher o momento correto para o ataque.

Esta mudança de forma de combate não apenas estende uma capacidade, mas acrescenta uma nova ao Poder Aéreo tradicional. O sistema de inteligência se utiliza desta ao confirmar in loco outras fontes de informação, em missões de acompanhamento de alvo com até meses de duração. O Poder Aéreo ganha permanência em ação (MCCURLEY, 2015, p. 108-116).

De uma forma geral, a reunião das várias abordagens da arquitetura de ARP realizada por Austin (2011) auxilia a compreender as particularidades de projeto deste tipo de plataforma.

2.2 – ADAPTAÇÃO AO OPONENTE

O Poder Aeroespacial possui a característica inerente de ignorar os limites geográficos e possuir grande velocidade (DOUHET, 1983, p. 15). Por sua definição, está dissociado do emprego exclusivo de aeronaves, utilizando também mísseis balísticos e plataformas satelitais, no que é chamado de Poder Aeroespacial Estratégico (MEILINGER, 1997, p. 278). No extremo mais tático do emprego, vetores aéreos são utilizados em operações no Teatro de Operações (TO) para apoio a pequenas frações de tropa.

Apesar de persistir a necessidade de as Forças Armadas manterem-se em condições de defender o país contra um Estado oponente, as últimas décadas

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demonstraram o intenso emprego em ambientes de guerra irregular ou conflito de baixa intensidade, as quais incluem ações antiterrorismo, antiguerrilha e operações de paz (DREW in MEILINGER, 1997, p. 322). A USAF é categórica em afirmar que:

Aplicação da Força é outra área de capacidade conjunta a qual inclui a proliferação de sistemas não-tripulados contribuindo para a manobra e para o combate. Hoje, UAV como Predator, Reaper e Gray Eagle são armados para executar operações ofensivas, guerra irregular e ações contra alvos e indivíduos de alto valor, sendo que esta tendência provavelmente continuará em todos os domínios. (DOD, 2014, p. 24, grifo nosso, tradução nossa).

O mesmo autor, ao descrever este ambiente, ressalta a perspectiva do tempo neste tipo de guerra:

A primeira diferença é tempo. Insurgências de bases clássicas são projetadas para serem eventos prolongados. Nas mãos de um insurgente batalhando um governo entrincheirado, tempo transforma-se em arma. (DREW in MEILINGER, 1997, p. 323, grifo nosso, tradução nossa).

Contra inimigos que não possuem centros de controle, cadeias de suprimento ou agrupamentos militares, a capacidade de realizar ataques aéreos clássicos é ineficaz. Somando-se a isto o comportamento destas forças de oposição de utilizarem a população civil como um meio de proteção, o Poder Aéreo fica impossibilitado de ser empregado na sua forma clássica (DREW in MEILINGER, 1997, p. 325).

O Poder Aéreo carecia então de uma forma de resposta a este tipo de guerra. Os estudos do mesmo autor resumem que

[...] a jornada de quatro décadas a partir da grandiosa teoria de bombardeio estratégico e poder aéreo nuclear até as sutis complexidades da guerra revolucionária prolongada tem sido bastante breve. Infelizmente para os aviadores norte-americanos, a jornada terminou em contradição e confusão. (DREW in MEILINGER, 1997, p. 347, tradução nossa)

A solução foi redefinir o centro de gravidade do oponente irregular como suas lideranças. Encontrá-los e neutralizá-los em um ambiente hostil é muitas vezes impraticável por Forças de solo, mas a capacidade de permanência das ARP com sensores capazes de rastrear indivíduos desde muita altura, de forma despercebida, retorna à Força Aérea a predominância em combate, como pode-se perceber na descrição da evolução do combate contra o terrorismo em McCurley (2015).

(19)

2.3 – TEMPO COMO FATOR DE COMBATE

Fadok demonstra que John Boyd estabeleceu de forma empírica a teoria sobre o ciclo de decisão. De forma geral, o objetivo de uma Força seria:

[...] (1) criar e perpetuar um estado altamente fluido e ameaçador de eventos para o inimigo e (2) romper ou incapacitar sua habilidade de adaptação a tal ambiente. (in MEILINGER, 1997, p. 364, tradução nossa).

Assim, trabalhando em um ciclo de decisão mais rápido que o oponente, a Força mais rápida cria novas ações em um ritmo tal que o oponente não conseguiria se adaptar e se opor.

À época, como não era possível acompanhar do centro de comando e controle (C2) as ações correntes, Boyd sugeria que a solução seria a descentralização:

A fim de minimizar fratricídio, é preciso agir e reagir mais rápido do que o oponente – especificamente, ao exercitar a iniciativa nos níveis mais baixos da cadeia de comando. Porém, um comando centralizado do quê e do porquê coisas são feitas deve guiar seu controle descentralizado do como as coisas são feitas. (FADOK in MEILINGER, 1997, p. 364, tradução nossa).

As operações com ARP alteram esta realidade ao permitir que as imagens em tempo real sejam acompanhadas no centro de C2, criando as condições para que as decisões sejam praticamente instantâneas. Alvos identificados no TO por seu comportamento podem fazer girar todo o ciclo de decisão em minutos, evitando que se desvaneçam na cena. Este cenário é típico de guerra irregular, onde o oponente se utiliza da população civil à volta para se esconder, dando-se a conhecer somente quando realiza alguma ação, como lançamento de foguetes ou visitando lugares conhecidos como de contato de rede de insurgentes (MCURLEY, 2015, passim).

Ao ser identificado, é essencial para a missão que o alvo passe a ser acompanhado para fins de estabelecimento de um padrão para reconhecimento da rede, da identidade do alvo ou mesmo para a certeza da autoria de uma ação que o leve a ser classificado como hostil, passível de resposta conforme as regras de engajamento em vigor.

Ao analisar o fator tempo no contexto de guerras assimétricas, Boyd percebeu que o tempo poderia ser utilizado também de forma inversa (FADOK in MEILINGER, 1997, p. 370). Ao invés de tentar girar o ciclo mais rápido que o oponente, poderia

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utilizar a distensão do tempo nas ações uma vez que possuía a iniciativa dos ataques, sendo que, entre estes, a força oponente de defesa tem o desgaste de se manter em prontidão. Assim o tempo é utilizado para o desgaste psicológico, afetando a moral. Esta é talvez a maior arma de uma força irregular e somente o emprego de ARP permite se contrapor a esta estratégia, uma vez que permite realizar operações aéreas de grande duração.

2.4 – O PROBLEMA COMO SISTEMA

O principal problema de Von Bertalanffy foi a busca de um modelo que explicasse conjuntos de elementos em funcionamento para os quais as teorias mecanicistas e lineares não fossem suficientes (VON BERTALANFFY, 1977, p. 31).

O autor observa que o objetivo de uma Teoria Geral dos Sistemas (TGS) é uma “[...] ampla concepção que transcende de muito os problemas e exigências tecnológicas” (1977, p. 7), sendo uma “concepção operatória” (1977, p. 7) e “originalmente destinada a superar a ultra-especialização corrente” (1977, p. 8).

Em síntese, o autor afirma que:

O problema do sistema é essencialmente o problema das limitações dos procedimentos analíticos na ciência. Isto costuma ser expresso em enunciados semimetafísicos, tais como evolução emergente ou “o todo é mais do que a soma de suas partes”, mas tem uma clara significação operacional. (VON BERTALANFFY, 1977, p. 37, grifos nossos).

Assim, deixa para a “ciência clássica” as situações nas quais suas partes podem ser explicadas separadamente e depois reunidas de forma linear. O oposto, ou seja, “partes em interação”, formariam uma “complexidade organizada”, somente explicada se observada em conjunto (VON BERTALANFFY, 1977, p. 38).

A pertinência de uma só teoria que explicasse funcionamentos de áreas tão diversas é explicada pela similaridade no comportamento ou forma. Precisamente sobre isso Von Bertalanffy (1977, p. 120) diferencia a “similitude superficial” de analogias, as quais “não correspondem seus fatores causais nem a suas leis significativas”, das homologias, sendo que “estas verificam-se quando os fatores eficientes são diversos [sic] mas as leis respectivas são formalmente idênticas” (1977, p. 121). Sistemas, assim definidos, compartilham os mesmos princípios gerais, enunciados como: conjunto de itens em interação mútua, equilíbrio entre partes,

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retroação, equifinalidade, direção para um estado final, competição entre as partes, explicação organísmica, entre outros.

Von Bertalanffy aponta que “a teoria dos sistemas em sentido amplo tem o caráter de uma ciência básica, encontra seu correlato na ciência aplicada, às vezes mencionada com o nome geral de Ciência dos Sistemas” (1977, p. 128, grifo nosso) e pode ser encontrada nos campos como engenharia de sistemas, pesquisa de operações e engenharia humana (ACKOFF in VON BERTALANFFY, 1977, p. 129).

A análise do funcionamento pelo viés de cada campo permite aprofundar certos aspectos, ainda que o entendimento geral como um sistema permita desenhar o modelo mais amplo com suas características de auto-organização, os agentes externos intervenientes, suas entradas e saídas, a interação entre as partes (retroação) (VON BERTALANFFY, 1977, pg136). De forma geral, um sistema pode ser compreendido como a “totalidade constituída por ‘componentes’ interatuantes”. (VON BERTALANFFY, 1977, p. 149) e é este o mote da análise do uso de ARP no sistema de inteligência operacional no âmbito das Forças de Defesa e de Segurança.

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3 ARP E COLETA DE DADOS

3.1 – INTELIGÊNCIA NAS OPERAÇÕES AÉREAS

Os teóricos na Escola Tática dos Corpos Aéreos no Campo Maxwell, Alabama, nos anos 1930 fizeram investigações iniciais nesta área e rapidamente concluíram que assim como a seleção de alvos é a chave para o poder aéreo, inteligência é a chave para a seleção de alvos. (MEILINGER, 1997, p. 28-29, grifo nosso, tradução nossa).

Desde a I Guerra Mundial diversos teoristas buscaram mostrar a importância de uma Força Aérea nas campanhas militares. Douhet (1983, p. 10) iniciou defendendo a habilidade de aeronaves ultrapassarem as linhas de contato e os obstáculos geográficos até atingirem alvos dentro do território do inimigo, realizando a “guerra total” contra o oponente, ainda que isto significasse atacar a população civil: Além dos questionamentos a respeito da eficácia dos bombardeios estratégicos em profundidade, a percepção sobre o que é aceito na guerra mudou:

Este foi o caso da Operação Tempestade no Deserto, quando pilotos da coalizão foram bem longe ao restringir os tipos de alvos a serem atingidos e de armamentos empregados com o objetivo de minimizar vítimas civis e danos colaterais. Agora que o bombardeio preciso virou rotina, tais seleções de alvos conscienciosas provavelmente se transformarão em prática padrão. (MEILINGER, 1997, p. 25, grifos nossos, tradução nossa).

Assim, apenas flexibilidade, alcance e velocidade da arma aérea não se traduzem diretamente em vitória. Nas últimas décadas, um dos teóricos sobre como tornar a guerra aérea mais eficaz para os objetivos da campanha foi o Coronel da reserva da USAF John A. Warden III, ao reforçar as ideias de centros de gravidade de Clausewitz (MEILINGER, 1997, p. 372). Responsável pela estratégia aérea da I Guerra do Golfo, reconhecia a dependência da inteligência para a eficiência das operações aéreas e tendências-chave para sua eficácia:

Isto levou a Tempestade no Deserto a fornecer o terceiro pilar deste trio: a chave para a inteligência na guerra moderna é a habilidade de avaliar os resultados de uma campanha aérea em um sistema complexo. [...]. Adicionalmente, o ritmo da guerra aérea agora transformou-se tão rapidamente que a inteligência em tempo quase-real tornou-se essencial. Além disso, armamento preciso exige inteligência precisa […]. (MEILINGER, 1997, p. 29, grifos nossos, tradução nossa).

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Nesta concepção de “ataque cirúrgico”, é esperado que um único armamento seja empregado em um ponto de impacto do alvo, de forma a resultar em um dano planejado, com mínimo dano colateral, principalmente em ambiente urbano. De forma coerente, a END (2013a, p. 85) considera “sistemas de armas de grande precisão”, como uma das implicações dos objetivos estratégicos da FAB.

A precisão, nas três dimensões, foi abordada de algumas, sendo o mais efetivo com a utilização de sistemas de posicionamento global baseado em satélites (GPS). Tanto sensores quanto armamentos podem ser guiados por este sistema.

É relevante dizer que estes armamentos “inteligentes” guiados por GPS, apesar de sua alta tecnologia, ainda são totalmente dependentes da correção da coordenada-alvo inserida no seu sistema de navegação e pontaria.

São várias as dificuldades para a inteligência montar a base de dados de alvos. Os principais são: a aquisição da coordenada do alvo, considerada a forma irregular da terra, a “geoide”; a possibilidade de alteração estrutural ou funcional do alvo; a identificação de pontos de impacto no alvo que causem determinado dano; a importância do mesmo para o esforço de combate do oponente; e a possibilidade de movimento de determinados alvos militares (MONTAGNER, 2017).

Estas dificuldades formam a base das informações reunidas para se determinar uma lista de alvos para a campanha aérea em um combate clássico. Percebe-se que, além do problema de coordenada mencionado, a atividade de obter estes dados necessita de revisita constante, a fim de detectar alterações.

Com estas demandas específicas, o tipo de inteligência necessária para a campanha aérea possui particularidades, como citado por Meilinger (1997, p. 66), sobre livro de Slessor. Na atividade aérea, os meios e processos para realizar a coleta dos dados são reunidos na Aviação de Reconhecimento Aéreo, a qual provê de informações coletadas em voo, fornecendo subsídios para a tarefa de análise realizada nos escalões superiores.

Estas atividades de inteligência voltadas para o planejamento militar no TO são comuns às Forças Armadas, retratadas em Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa presentes na END: “Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença” (2013a, p. 47, grifo nosso).

O monitoramento deve ser entendido como o levantamento contínuo de dados que possibilitem manter a consciência situacional dentro do território nacional para fins de manutenção da soberania, assim como nas áreas de interesse, de forma a

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permitir pronta-resposta.

Esta atividade visa, inclusive, a minimizar os problemas apresentados pela extensão do País e os meios disponíveis, sendo um reforço nas outras capacidades pretendidas. A END, sobre a impossibilidade de estar em todo o território nacional constantemente, afirma que “A presença ganha efetividade graças à sua relação com monitoramento/controle e com mobilidade.” (2013a, p. 53). Interessante notar que a própria END (2013a, p. 90-91) relaciona esta atividade de inteligência com as ARP, na segunda diretriz estratégica para a FAB.

Neste ponto, a adoção das ARP nas campanhas militares visava resolver os problemas de missões longas ou perigosas, apresentando-se como solução para um outro tipo de combate moderno, realizado por oponentes dispersos, operando em ambiente urbano ou não e realizando ataques esporádicos, em campanhas sem limite de duração. Neste contexto de guerra irregular, de baixa intensidade, assimétrica ou contra o terror, a busca por efetividade nos ataques levou ao foco nas lideranças. As dificuldades inerentes no estabelecimento do alvo correto e do momento do ataque que respeitasse os limites estabelecidos nas regras de engajamento4 levou à utilização das ARP para realizar a busca e acompanhamento de pessoas suspeitas, em longos processos dentro da área de inteligência. Este é o foco do próximo tópico. Em comparação com a atividade tradicional de Reconhecimento Aéreo, esta nova capacidade de acompanhamento de alvos possui características operacionais e táticas completamente diferentes, ainda que participando do processo de inteligência operacional. Estas diferenças e as idiossincrasias desta nova Vigilância Aérea (Vig Aé) são discriminadas mais adiante, em tópico específico.

3.2 – C2 COMO CICLO

A guerra é uma atividade complexa (JOMINI in MEILINGER, 1997,p. 379). Para se obter algum efeito, as ações devem seguir planejamentos que produzam eficácia não apenas no nível tático, mas que contribuam para o objetivo final, sempre político. As ações, uma vez coordenadas, alcançam sinergia, seja na concentração de meios no tempo ou no espaço, com o fim de conseguir superioridade momentânea.

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Coordenação para o Poder Aéreo é o modo pelo qual transforma-se as características inerentes do meio aéreo em vantagens reais na campanha geral. É, por isso, umas das tendências descritas na Estratégia Militar da Aeronáutica:

As características das operações envolvendo uma grande quantidade de vetores aéreos, operando paralelamente e gerenciados por Forças Combinadas, exigem um eficiente sistema de Comando e Controle (C2), de forma a acelerar o ciclo de observação, orientação, decisão e ação, em coordenação com todas as forças empregadas. (BRASIL, 2008, p. 14).

O principal teorista do Poder Aéreo que demonstrou a importância das operações aéreas realizadas em um ciclo processual foi John Boyd (FADOK in MEILINGER, 1997, p. 357-389). Ele defendeu a superioridade de informações como chave da vitória, sendo esta dependente da rapidez do ciclo de observar, orientar, decidir e agir (OODA).

A execução de ciclos de planejamento permite alinhar os objetivos táticos aos estratégicos e aos da campanha. Além disso, permite o controle da situação planejada, reorientando-a, se necessário.

As informações necessárias ao planejamento do emprego aéreo são montadas reunindo dados de diversas fontes e têm seu status acompanhado, uma vez que a própria evolução de um alvo é uma informação relevante de tendência da importância do mesmo para o oponente. A diversidade das fontes é tratada em tópico único abaixo.

Depreende-se que, como qualquer outra atividade militar, a inteligência operacional possui um processo próprio, também gerido em ciclos de coleta, análise e disseminação, além de dotada de C2 particular, embutido no ciclo de C2 maior.

O descrito até o momento retrata a atividade de Reconhecimento Aéreo, sendo esta a atividade aérea vocacionada para a inteligência operacional. As capacidades da Vigilância Aérea alteram bastante as demandas de C2, sendo uma das principais causas para que estas duas missões devam ser consideradas distintas entre si, ainda que participando para o mesmo processo geral de inteligência aérea. Estas diferenças serão melhor visualizadas no próximo tópico.

A FAB, em sua reestruturação, atribui ao C2 importância de uma capacidade a ser atingida, analisando que:

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A capacidade de comando e controle (C2) para as ações da Força Aérea é um elemento central do sistema de combate, imprescindível ao sucesso das missões atribuídas para a FAB. Uma Força Aérea que possui centenas de aviões, mas não dispõe de um sistema C2 robusto, efetivamente, não dispõe de um sistema de combate real. (BRASIL, 2016, p. 23, grifos nossos).

Pode-se reconhecer a importância de C2 como ciclo ao observar a descrição da capacidade de Superioridade de Informações no mesmo documento: “[...]coletar, processar, armazenar, disseminar, produzir e proteger dados de interesse do ambiente operacional, no momento oportuno e no formato adequado[...]” (BRASIL, 2016, p. 24).

A primeira etapa de um processo de C2 visa elencar as necessidades e os meios disponíveis. Particularmente para o levantamento de necessidades, este início já pressupõe informações anteriores, as quais são advindas de um ciclo anterior. Para a área de inteligência operacional, isto confere uma característica de construção do conhecimento de forma incremental e da necessidade de retroalimentação.

No tocante aos meios de coleta à disposição, cabe ressaltar as características únicas não apenas do sensor como da plataforma. Como simples comparação de sensores ópticos instalados em aeronave versus em satélite, pode-se verificar no Quadro 1, no Apêndice B, algumas das vantagens de cada plataforma. Outra análise semelhante é feita pelo Maj (USAF) Bruce M. DeBlois, constante do Quadro 2, no Anexo A.

Deve-se ressaltar que DeBlois alerta que as vantagens relativas a cada área podem ser alteradas com a evolução tecnológica e a introdução das ARP5.

Para a coleta por meios aéreos, as missões devem ser inseridas no planejamento geral de atividade aérea, tanto para fins de coordenação no uso do espaço aéreo quanto das comunicações. As demandas da coleta devem ser repassadas para a célula de operações correntes, para que eventuais alterações sejam gerenciadas por este setor. Isto demonstra que o ciclo da inteligência, mesmo sendo um processo à parte, deve se integrar ao ciclo mais geral de controle da atividade aérea. Estes ciclos operam como engrenagens que se conectam, sendo seu ponto de contato o voo em si. Uma maneira esquemática de visualização seria a da

5 “Características desfavoráveis do poder aéreo podem mudar significativamente com o advento de VANT de

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Figura 1, no Apêndice A.

Neste ponto de contato ocorre a troca de demandas e de resultados. A inteligência aérea solicita missões aéreas a serem programadas e recebe os dados das coletas. A atividade aérea demanda e recebe as informações para o planejamento de toda a atividade aérea.

Em ambos os ciclos, é esperado que haja restrições de meios, portanto há a necessidade de priorização entre linhas de ação, o que define a natureza da decisão dentro do ciclo. Após esta, há a fase de ação e controle da operação (MONTAGNER, 2017).

Cada ciclo possui etapas complexas e que exigem expertise e disponibilidade plena de equipe especializada. Portanto, um ciclo assemelha-se a uma linha de produção, com a divisão de trabalho e sequenciamento das operações, com as equipes trabalhando simultaneamente em partes diferentes do circuito.

As ARP, ao transmitirem em tempo real vídeo, permitem que os dados coletados sejam diretamente levados a conhecer ao decisor, fundindo todas as etapas de inteligência em uma única, da coleta ao assessoramento, acrescentando complexidade (MONTAGNER, 2017).

Ainda assim, considerando-se principalmente o emprego real a partir de imagens em tempo real fornecidas por uma ARP, todos os passos do processo de assessoramento e decisão devem ser realizados a fim de terem legalidade e legitimidade. Todas as premissas para o emprego devem ser respeitadas, incluindo diagramas de contorno traduzidos em regras de engajamento, as quais embutem restrições políticas, estratégicas e operacionais. Sem este processo pré-configurado, a subjetividade das decisões poderá ser denunciada como arbitrária.

3.3 – RECONHECIMENTO AÉREO E VIGILÂNCIA AÉREA

A missão de Reconhecimento Aéreo (Rec Aé) se baseia em uma informação já existente sobre o alvo. A execução da missão é sobre um ponto, linha ou área onde é conhecida a existência do alvo e os dados são utilizados para completar ou atualizarão informações. O próprio prefixo do nome “reconhecimento” possui este significado de “conhecer de novo”.

O Rec Aé normalmente é executado em um ambiente não-controlado, com possibilidade de hostilidades, de forma que velocidade e furtividade são

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importantes, além do que as aeronaves que o realizam devem possuir autodefesa, pois na busca da furtividade, não há escolta aérea.

Devido a estas condições operacionais, o Rec Aé ocorre em passagens rápidas sobre o alvo para diminuir a exposição da aeronave à antiaérea, considerando que todo alvo importante para o oponente pode estar defendido.

Outras missões de Rec Aé em tempo de paz e ambiente não-hostil são missões de aerofotogrametria, de caráter rotineiro e que não requer as características das aeronaves militares de velocidade e autodefesa. Este perfil de condicionante operacional torna esta forma de missão apta a ser realizada por empresas civis de aerolevantamento (AUSTIN, 2011, p. 273) ou por satélites.

A missão de Rec Aé não se resume à inteligência de imagens (IMINT), podendo estar associada à coleta de sinais de emissões como radares ou comunicações, em ambiente defendido ou não. Em missões de inteligência eletrônica (ELINT), a coleta de dados de radar pode ser realizada em uma única passagem rápida no raio efetivo de transmissão do alvo, assim como marcação de posição de transmissões de comunicações. Porém, para a inteligência de comunicações (COMINT), há situações em que a permanência é essencial para se coletar o conteúdo da transmissão. COMINT e ELINT são partes da inteligência de sinais (SIGINT).

Uma outra forma de se minimizar o risco associado à missão de Rec Aé sobre alvos defendidos seria a coleta afastada do alvo. Neste caso, a capacidade de coleta remota depende do tipo de dado a ser coletado e do sensor. Em IMINT, o sensor deve possuir um conjunto óptico compatível com a distância, sendo que em SIGINT também há a questão da potência das transmissões, a qual é controlada pelo alvo.

Desta forma, distanciar o sensor do alvo diminui a probabilidade de detecção em SIGINT e de resolução espacial em IMINT. Conclui-se que há uma limitação inerente de resolução espacial de sensores baseados em satélites. No Quadro 3, no Anexo A, há as alturas aproximadas comumente envolvidas em sensoriamento remoto utilizando-se aeronaves e satélites com o objetivo a ressaltar as distâncias envolvidas. A característica “passagem única” sobre o alvo do Rec Aé possui características de “amostragem” da cena, uma vez que mudanças posteriores à passagem da plataforma sobre o alvo não serão detectadas. Esta característica de tempo sobre o alvo é a diferença primordial entre Rec Aé e Vigilância Aérea (Vig Aé). A capacidade de permanecer sobre o alvo permite às ARP detectar mudanças no alvo e realizar (re)ações imediatas, o que é essencial para missões dependentes

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do tempo (TST). Tais alvos devem ser engajados imediatamente, sob pena de perda da oportunidade. Esta mesma demanda operacional resultou na utilização das ARP como plataformas de ataque.

Inicialmente os sistemas estavam limitados a realizar missões de reconhecimento. Porém, em operações militares da Força Aérea Norte-Americana nas mais remotas áreas do Iraque e do Afeganistão, descobriu-se que após a detecção de alvos, o atraso na chegada das forças de ataque aéreas ou terrestres permitia os alvos dispersarem antes que ações efetivas pudessem ocorrer. Esta percepção levou a que armamento fosse adaptado a versões atualizadas do Predator, depois chamado de Reaper. Isto agora permitiu que ações de ataque imediatas fossem realizadas. Diversas outras forças aéreas compraram este tipo de VANT. (AUSTIN, 2011, 269, grifo nosso, tradução nossa).

A manutenção do sensoriamento da cena por longos períodos pelas ARP, resultou em novos tipos de capacidades e missões, dentre elas:

 Detecção de mudanças nos alvos;

 Alarme de movimentação em área sensível; e  Acompanhamento de alvo móvel.

Em conjunto, estas novas capacidades permitiram uma nova estratégia da guerra aérea contra o terror, na forma de busca, identificação e ataque de indivíduos em ambiente de guerra irregular.

É importante notar que a vigilância de uma área por ARP permite identificar um guerrilheiro somente pelo comportamento do mesmo, ao portar armamento ou realizar alguma atividade ofensiva. A detecção do alvo poder ocorrer em local onde não é possível a reação devido às regras de engajamento ou quando não há tempo hábil para a reação afim de evitar um ataque por parte do oponente.

Vigilância só é efetiva quando há informações prévias sobre o alvo e objetivos claros a atingir na missão. Sem uma base de informações e a definição de objetivo específico para a missão, o esforço de buscar eventuais alvos em uma área no solo a partir de ARP torna-se inócuo. Conclui-se que o objetivo geral de uma missão de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (IVR) pode ser compreendido como o de completar lacunas de informações.

Esta missão de Vig Aé possui característica oposta à do Rec Aé no sentido do tempo e das técnicas utilizadas no manejo do sensor. É uma atividade de longa duração, a qual o limite do operador não pode restringir a continuidade da missão, portanto equipes de revezamento são uma realidade indissociável da aviação de ARP.

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Mesmo missões de ataque ao solo por ARP possuem comumente, pela literatura disponível, as mesmas características, uma vez que iniciam como uma missão de acompanhamento de alvo até que haja a ordem de ataque pela cadeia de comando (MCCURLEY, 2015).

Pela lógica operacional, uma unidade operacional de ARP é composta por elementos operacionais formados cada um por um grupo de estação de controle e algumas aeronaves, sendo cada elemento dedicado a um único alvo por vez e substituindo as aeronaves em voo em revezamento para prover Vig Aé contínua.

A reunião das características de permanência e de transmissão de dados em tempo real adicionam um novo comportamento da Força Aérea no TO, tanto na estratégia contra guerra irregular, quanto na participação efetiva durante ações, com efeitos multiplicadores. Sobre isso, detalhes serão descritos em tópico à parte.

3.4 – COMPLEMENTARIEDADE DAS FONTES

O processo da inteligência operacional é composto por planejamento, coleta, análise, disseminação e gerenciamento dos dados. Utiliza diversas fontes e conhecimentos como: “abertas, humanas, imagens, sinais, radar, guerra eletrônica, geoprocessamento, análise de alvos e sistemas bélicos” (MONTAGNER, 2017).

As características dos dados variam de acordo com o tipo de sensor e a plataforma que o porta. Isto é válido inclusive para um tipo de fonte, como imagens. Imageamento em faixas do espectro diferentes permitem informações únicas e estão disponíveis em condições diferentes. O Quadro 4, do Anexo A, ilustra a diversidade de condições e características da cena relevadas por sensores diferentes.

Além das particularidades apresentadas, o aspecto primordial para a inteligência operacional é a fusão de dados provenientes de diversos sensores. Esta sobreposição de dados permite completar lacunas de dados entre os sensores, além de identificar objetos na cena, o que é possível a partir do conhecimento prévio da resposta espectral dos objetos, reunidos em um catálogo de assinaturas espectrais.

Além da fusão espectral descrita, a comparação do mesmo objeto em momentos diferentes (fusão temporal) também fornece dados de relevância.

O uso simultâneo de dados de fontes diversas para a construção da informação é importante para a consciência situacional, definida conforme a Divisão de Inteligência (DIVINT) do Comando Aéreo de Emprego (COMAE) da FAB:

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[...] a avaliação da capacidade e da análise de ameaças, exigindo que a busca e a fusão de informações extraídas de uma variedade de fontes multinacionais, civis e comerciais. (BORGES, 2017).

As plataformas utilizadas adicionam características ao sensoriamento, como observado no Quadro 5, no Apêndice B. Na etapa de planejamento do processo de inteligência operacional, a matriz de decisão de sensores para a coleta deve considerar as diversas opções, de acordo com as características tanto do sensor quanto da plataforma, a fim de atender à demanda de informação.

Este processo, portanto, possui uma descrição esquemática da Figura 2. Notar que, apesar do processo parecer linear, existem diversas possibilidades internas ao processo, transparentes ao “cliente”.

No item “Planejar coleta” da Figura 2, do Apêndice A, é que se inserem todas as questões tratadas sobre a diversidade dos sensores e plataformas, assim como a disponibilidade para atendimento no prazo solicitado. A qualidade da resposta é dependente da completude do pedido, da variedade de sensores e plataformas; da disponibilidade de meios e de pessoal qualificado para gerir o processo. Por vezes dados de missões anteriores atendem ao pedido sem necessidade de nova coleta.

Em resumo, verifica-se que os sensores e plataformas não se substituem entre si, pelo contrário, complementam-se.

Coerentemente com esta análise, encontra-se na END para a FAB orientação sobre o uso de vetores espaciais cumulativamente a plataformas aéreas:

A terceira diretriz é a integração das atividades espaciais nas operações da Força Aérea. O monitoramento espacial será parte integral e condição indispensável do cumprimento das tarefas estratégicas que orientarão a Força Aérea: vigilância múltipla e cumulativa, grau de controle do ar desejado e combate focado no contexto de operações conjuntas. (2013a, p. 91).

Também para o EB a END determina como Objetivo Estratégico:

[...]todas as brigadas do Exército devem conter, em princípio, os seguintes elementos, para que se generalize o atendimento do conceito da flexibilidade:

(b) Instrumentos de comando e controle, de tecnologia da informação, de comunicações e de monitoramento que lhes permitam operar em rede com outras unidades da Marinha, do Exército e da Força Aérea e receber informação fornecida pelo monitoramento do terreno a partir do ar e do espaço. (2013a, p. 77, grifos nossos)

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O sistema de inteligência e de comando e controle descrito até agora é dependente do fluxo de dados, devendo basear-se na disponibilidade e segurança da comunicação. Este baseia-se na cibernética, conforme reconhecido pela END:

Os setores espacial e cibernético permitirão, em conjunto, que a capacidade de visualizar o próprio País não dependa de tecnologia estrangeira e que as três Forças, em conjunto, possam atuar em rede, instruídas por monitoramento que se faça também a partir do espaço. (2013a, p. 49, grifo nosso).

A operação de ARP possui a mesma dependência de informações prévias, assim como fornece ao sistema informações complementares à outras fontes. Toda missão de ARP deve ter um propósito definido e específico, uma vez que a área de abrangência da imagem aérea é muito grande, a se considerar a proporção do alvo típico. Neste sentido, o tipo de sensor mais comum às ARP é o de geração de vídeo, o que confere à inteligência a capacidade de acompanhar alvos móveis.

Estes alvos são veículos ou pessoas, ambos muito pequenos se observados desde 20.000ft. Somente com o campo de visada muito estreito pode-se detectar e identificar o alvo. A conclusão desta condicionante operacional é que a configuração usual dos sensores de ARP são de visada estreita. Realizar buscas com este formato é ineficaz se não houver uma situação inicial definida por informações prévias.

Nesta configuração, o produto que as ARP fornecem é a trajetória de um alvo e outros dados imediatos de posição e comportamento, essenciais para decisões em tempo real, como observado no próximo tópico.

3.5 – EM AÇÃO

Ainda que a Aviação de Reconhecimento tradicional seja essencial para o levantamento de informações do campo de batalha de forma a possibilitar montar o mapa tático da área de operações, sua operação capturando momentos não permite ter o quadro tático contínuo. Posição de tropas em movimento não são precisas no tempo e missões de ataque a colunas de blindados planejadas baseadas em Rec Aé possui um leque de incertezas com alto risco de erros, incluindo fratricídios.

A visualização da cena em tempo real permite identificar a posição instantânea do alvo, além de possibilitar análise das condições presentes para fins de decisão, como dano colateral estimado, probabilidade de sucesso em relação à

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meteorologia e risco das defesas antiaéreas. Também provê aumento da eficiência do armamento, considerando eixo de ataque e ponto de impacto desejado.

Sobre este último aspecto, a precisão é elevada de forma que armamentos menores poderem ser usados. O guiamento por GPS com precisão centimétrica e a designação laser permitem o uso de bombas e foguetes com atuação antipessoal limitando o raio de explosão a poucas unidades de metro (MCCURLEY, 2015, 168).

O acompanhamento de alvos é importante no contexto de guerra irregular para a escolha do momento adequado ao ataque. Como constatado na experiência da USAF no Afeganistão:

Os talibãs tinham demonstrado grande capacidade de raciocínio para entender nossas regras de engajamento. Ficavam perto de mulheres e crianças e tentavam se deslocar com civis sempre que possível. Alguns usavam roupas femininas para não serem identificados. Sabiam que respeitaríamos as regras e usavam-nas contra nós para levar vantagem. (MCCURLEY, 2015, 153, grifo nosso).

Portanto, nem sempre é possível executar os ataques, mesmo tendo encontrado o alvo. Somente as características de permanência e da transmissão do vídeo em tempo real de ARP fornecem à Força Aérea as ferramentas para escolher quando e onde realizar o ataque dentro das regras de engajamento.

A iluminação laser de uma ARP descortina outras missões, como a marcação de pontos no solo para tropas equipadas com óculos de visão noturna (NVG). Esta capacidade é importante para informar localizações de interesse em situações que seja impossível transmitir pelos sistemas de comunicação. É uma maneira de evitar denunciar a operação para oponentes que monitorem as comunicações.

Esta técnica pode ser utilizada em uma ampla gama de situações táticas, como as observadas no Quadro 10, ao Apêndice A. De tão comum, a missão de ajuste de artilharia integra a sigla na língua inglesa utilizada para esta categoria de ARP sem armamento: ISTAR ou Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and

Reconnaissance6.

Mesmo na END esta missão está presente em um dos objetivos estratégicos para o EB:

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Monitoramento/controle e mobilidade têm seu complemento em medidas destinadas a assegurar, ainda no módulo brigada, a obtenção do efetivo poder de combate. Algumas dessas medidas são tecnológicas: o desenvolvimento de sistemas de armas e de guiamento que permitam precisão no direcionamento do tiro [...] (2013a, p. 81).

Nestes exemplos com ou sem uso do laser, percebe-se que a ARP não está diretamente executando a missão completa, mas participando para a consecução da mesma. Por vezes executa parte da missão-alvo, como na marcação laser, o que aumenta sua eficácia. Nas demais, reforça a segurança dos executores diretos ou ainda fornece ao decisor a capacidade de interferir diretamente no nível tático, contribuindo para elevação da eficiência ao diminuir as perdas em combate. Em ambos os formatos, possui um efeito multiplicador para as forças envolvidas diretamente no combate.

A descrição de uma missão SAR em combate (C-SAR) com o uso de ARP ISTAR serve para exemplificar este efeito. Na fase de recolhimento do combatente dentro de território hostil, a equipe de C-SAR é normalmente composta pelo meio de resgate (helicóptero) e por escolta aérea (ainda que não obrigatória). A equipagem a ser resgatada deve ser colaborativa no sentido de seguir os passos para coleta, sendo responsável por indicar sua condição para o resgate. O objetivo é evitar que o mesmo seja utilizado como isca para emboscada de toda a equipe de C-SAR. Neste contexto, ARP utilizadas para monitorar a região do resgate podem auxiliar na decisão do prosseguimento da missão por parte da cadeia de comando.

Esta mesma capacidade poderia ser provida por um meio tripulado, mas com sérias limitações, o que pode ser verificado no próximo capítulo.

Análise mais abrangente aponta para a necessidade de que haja para cada tipo de missão um protocolo a ser seguido, criando um processo bem definido e a descrição da contribuição de cada participante no ciclo de decisão. Outra característica é o suporte aos operadores de inteligência apoiado por computadores, com softwares automatizados de detecção de objetos na cena, acompanhamento de alvos em movimento e comparação para levantamento de possíveis dispositivos explosivos improvisados nas vias de comunicação.

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4 ARP VERSUS AERONAVES TRIPULADAS

A diferença entre as aeronaves tripuladas e não-tripuladas é óbvia (não há tripulante na ARP), mas suas consequências nem tanto.

O início do desenvolvimento das ARP buscou resolver o problema de risco de sobrevoar áreas perigosas por existência de sistemas de defesa. Adicionalmente, o fator de tempo muito longo de voo, o qual diminui a qualidade da missão devido a desgastes da tripulação, também foi solucionado pela ARP, uma vez que a tripulação no solo poderia ser substituída. Assim a missão conta com as equipagens em sua melhor capacidade psicomotora durante todo o período da mesma.

Resulta então que a ARP, em relação às aeronaves tripuladas, congrega as vantagens de não ter o ser humano como limitante em vários aspectos. Nestas primeiras décadas de operação de ARP, o desgaste em voos longos foi o melhor resolvido, mas na literatura especializada já se observam iniciativas em manobras aéreas acima de 9G, altitude de voo maior que 56.000ft7 sem pressurização, voo em formação com número muito grande de aeronaves em cooperação e miniaturização. Em uma aeronave monoposto, de um terço a metade do peso da aeronave é relativa à interface com o piloto e aos sistemas de controle ambiental exclusivos ao ser humano a bordo (AUSTIN, 2011).

O voo de múltiplas ARP sob comando de uma aeronave tripulada está sendo investigado com a criação de algoritmos de decisão, criando certo grau de autonomia para as ARP, porém a ordem principal continuaria a ser do ser humano. O conceito é melhor descrito como:

Um documento de planejamento da Força Aérea de 2009 mencionou esta possibilidade. Capacidade de enxame, afirmou, começa quando um único piloto direciona “as ações de muitas aeronaves multimissão criando um ataque focado, incansável e em escala”. (GRANT, 2012, p. 56, grifo nosso, tradução nossa).

Por sua vez, a característica de redução de peso está bem documentada em Austin (2011, p. xvii):

7 Entre 62.000ft e 63.500ft a água entra em ebulição na temperatura corporal. É conhecido como “Limite de

Referências

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