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6 REFLEXOS DA ANÁLISE SISTÊMICA

6.4 CONSEQUÊNCIAS DA INCLUSÃO DE SARP

Ao se introduzir a aviação de ARP nos seus meios operativos, deve ficar claro que vários outros subsistemas deverão se alterar, conforme visto na análise sistêmica realizada até aqui.

Já foram feitos comentários sobre as mudanças na cadeia de C2 referente ao modo de lidar com a missão em voo; na estrutura de decisão em tempo real; da infraestrutura de comunicações, incluindo SATCOM; e da estrutura de rede e de dados para fazer fluir as informações e armazená-las. Porém outras áreas internas e externas ao esquadrão de ARP serão afetadas.

O emprego armado requer meios, pessoal e doutrina. A logística de pessoal deverá compreender as novas especificidades da carreira. Como observado em McCurley (2015), normalmente, nas Forças Armadas não há interesse para pilotos de aeronaves tripuladas serem realocados na aviação de ARP. O próprio sistema de promoções de pessoal pode ter em sua prática o desprestígio da carreira. Diversos fatores reunidos podem levar a falta de pessoal na atividade, gerando sobrecarga nas tripulações e mais desmotivação. Por isso o sistema de pessoal deve considerar a possibilidade de carreiras específicas para as diversas posições operacionais, notadamente para as funções de pilotagem e de operação de sensores.

psicológico do pessoal diante da contradição de ambientes de guerra e paz, na constante passagem das condições de combate quando no horário do expediente e a vida normal. Este sintoma de inadaptação é explicado por MCURLEY (2015) como a impossibilidade de compartilhamento de impressões sobre a missão com as pessoas não envolvidas na atividade, o que, em condições de combate tradicional, ocorre naturalmente entre o pessoal acantonado nos momentos de folga. O sistema de suporte ao homem deve antecipar-se ao problema, interagindo com a área operacional durante a preparação dos operadores de ARP, o acompanhamento periódico das missões, assim como possíveis traumas pós-missão.

A inserção da atividade aérea de ARP deve considerar as restrições de tráfego aéreo vigentes. Regras de acesso ao espaço aéreo devem ser respeitadas em prol da segurança de voo, pois não se aceitará a redução da percepção de segurança com a introdução de plataformas sem piloto a bordo. Inúmeros são os casos de quase colisão entre aeronaves tripuladas e não-tripuladas e grandes foram os questionamentos da sociedade sobre o assunto. Atualmente, é um dos focos do esforço da comunidade internacional de aviação a inclusão de VANT no espaço aéreo com tecnologias de detecção e prevenção de conflitos aéreos. Mesmo em ambiente controlado como TO, a necessidade de coordenação e controle permanece, uma vez que a colisão poderá diminuir o apoio à operação pela sociedade ou simplesmente a diminuição de capacidade operacional com a perda de meios.

A adoção de centros de pilotagem de ARP poderá ser utilizada como oportunidade de aproveitar pilotos que por motivos médicos os impeçam de tripular uma aeronave, mas que continuem aptos ao trabalho de pilotagem remota, onde sua experiência aérea é imprescindível para a missão. Desta forma, o sistema de recursos humanos deverá adaptar-se a fim de determinar quais aptidões físicas impedem a função a bordo de aeronave, mas que não sejam restrições à atividade remota.

Como visto anteriormente, a baixa disponibilidade de canais SATCOM inviabilizam o uso extensivo de ARP. Um país que se propõe utilizar extensivamente estas plataformas para coleta de dados, deve possuir meios primários ou alternativos de comunicação satelital. No caso do Brasil, o programa espacial deve atender às demandas desta aviação, devendo ser informadas aos responsáveis pelo programa satelital as necessidades de comunicação para controle das ARP e o fluxo de dados dos sensores. Como um sistema de sistemas, demandas do sistema de controle de ARP devem ser suportadas pelo sistema de comunicações, satelitais ou terrestres.

Neste sentido, a malha de comunicações terrestres deve atender aos requisitos de C2, considerando o tráfego do volume de dados produzido pelos sensores de ARP. Novamente, no modelo de sistema de sistemas, a infraestrutura de comunicações da organização operadora de ARP deve receber os planos sobre demandas de comunicações a fim de estar em condições de comportar a contento o tráfego de dados. Planejamentos conjuntos entre sistemas são necessários, melhor geridos se com a governança acima dos mesmos para fins de priorização e acomodação de requisitos.

Dada a natureza de uso intensivo de comunicações e fluxo de dados, além da operação em rede, o sistema de comunicações passa a ser um elemento central no sucesso de implantação de ARP nas operações de Defesa e de Segurança. Este sistema de comunicações deve estabelecer padrões para equipamentos de forma a direcionar a confecção de requisitos, sob risco de ineficiente levantamento de requisitos e possível incapacidade de integração de equipamentos à rede.

Ainda que todos estes componentes estejam em condições de trabalhar entre si, a operação poderá sofrer percalços caso a informação não seja compreendida ou utilizada corretamente. Assim, a doutrina deve integrar o uso do ARP nas operações em todos os níveis. Como na demanda de comunicações, o uso de ARP deve ser coordenada por instância acima do nível operacional por envolver possivelmente atores diversos. Um centro de doutrina deve providenciar os padrões a serem utilizados nos pedidos de missão e no acompanhamento de operações, de forma que a plataforma possa estar no momento certo, respondendo com os dados esperados e de forma eficiente.

Em todo o processo há inerente fragilidade de uma operação remota, a qual pode sofrer ataques cibernéticos. Esta preocupação é vista em várias publicações especializadas, como exemplo a da OTAN:

Cada VANT é um dos muitos elementos da rede SARP geral, cada uma das quais é vulnerável a ataques cibernéticos. O hardware físico pode ser atacado de forma cinética e o software sujeito a ataques cibernéticos. (UAS VISION, 2014, tradução nossa)

De forma mais ampla, esta complementariedade entre as partes, fundamental na TGS, extrapola a operação e é encontrada mesmo no levantamento dos requisitos de um SARP:

Para que a interoperabilidade da rede de sistemas tenha sucesso, no entanto, tecnologias robustas devem ser desenvolvidas para garantir que:

a) as comunicações entre sistemas sejam seguras através de múltiplos links; b) a interface entre sistemas-chave seja padronizada;

c) a interface com os operadores humanos seja adaptável e fácil de usar; d) a largura de banda da frequência de rádio seja coordenada. (AUSTIN, 2011, p. 251, tradução nossa).

Por fim, as tendências de peso, definidas como aspectos esperados dos novos projetos, consideram o uso simultâneo e coordenado de aeronaves tripuladas e não-tripuladas, elevando ao máximo a complementariedade sistêmica em análise:

Conjugando um sistema VANT com sistemas tripulados e/ou com outros sistemas não-tripulados pode oferecer vantagem para ambos. Isso pode resultar em um "sistema de sistemas" local ou pode fazer parte de uma operação centrada em rede maior. (AUSTIN, 2011, p. 252, grifo nosso, tradução nossa).

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