TENDÊNCIAS DAS REFORMAS EM
PORTUGAL
JOÃO BILHIM
Investigador do CAPP/ISCSP/Ulisboa,
Prof. Catedrático Jubilado
Encontro Nacional de Alunos de
Administração Pública, ISCSP/Ulisboa, Polo do alto da Ajuda, Fevereiro, 2017
“Sem uma visão clara, partilhada e aceite da vida e da
sociedade, os homens desperdiçam e usam mal os seus
recursos e estão tão perdidos como viajantes numa floresta
tropical sem guia, mapa ou bússola”.
Livingstone RW. (1935). Greek Ideals and Modern Life. Oxford: Oxford University Press, p. 3
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 2 16-02-2017
Perdemos a lição da Grécia Antiga e
agora temos:
•
Visão estreita da cidadania;
•
Defeituosa imagem do interesse público;
•
Dissolvido sentido de ética do serviço público;
•
Fraca formação e treinamento em serviço público;
•
Perda do sentido do que deve ser a “boa vida” e “boa
sociedade”.
•
Mas ganhámos da OCDE PUMA e do Banco Mundial os
conceitos: eficiência, economia e eficácia.
• QUESTÃO: Reformar a Administração será, hoje, restaurar as
velhas virtudes aprendidas em Platão e Aristóteles?
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 3 16-02-2017
Dívida pública que raia o insustentável Visão de curto prazo: nada reformista Ausência de entendimento sobre o futuro e para futuro 4 Ameaças às reformas Envolvente internacional altamente incerta
PORTUGAL
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 4 16-02-2017
As Duas Ondas Atuais 1/2
• A AP em Portugal está confrontada com o impacto de duas
ondas diferentes (Antiga e Nova administração pública) : já não é uma coisa e ainda não é outra.
• As práticas atuais já não correspondem a qualquer modelo do
passado. Mas ainda não se encontram integradas e unificadas e são muitas as teoria explicativas (questão epistemológica).
• Muita coisa se passou após a queda do muro de Berlim em
1989: impacto das TI C em geral; novo paradigma económico, oposto ao keynesianismo; transformações geopolíticas;
globalização; emergência da China, Índia; actualmente fenómenos de antiglobalização e de refugiados.
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 5 16-02-2017
As Duas Ondas Atuais 2/2
• Descobriu-se a importância da qualidade de vida dos cidadãos;
da boa governação e do papel interdependente dos setores – privado, público e sociedade civil. Tomámos consciência que não pode haver boa governação sem que haja uma boa
administração Pública, um serviço público eficaz, e instituições públicas tão produtivas quanto as privadas.
• Estes quarenta foram ricos em novas experiências, promotoras
de uma Administração mais eficiente, eficaz, produtiva, transparente, flexível, descentralizada, desconcentrada; desregulamentada, focada no cidadão.
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•
A Administração Pública expressa os valores, as
preferências de cidadãos individuais, de grupos
organizados de cidadãos e da sociedade no seu todo;
•
Certos valores e preferências são constantes mas outros
evoluem. Acontece que, periodicamente, um conjunto de
valores acaba por predominar;
•
O que obriga a fazer evoluir o conteúdo das funções do
Estado e as suas práticas através da Administração
Pública para espelhar esta nova realidade.
Reformar e Manter o Quê?
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 7 16-02-2017
CARACTERÍSTICAS:
1. Dispersão do poder. O Estado perde o controlo directo;
2. Coordenação do Governo;
3. Redes complexas. Domínio das redes e parcerias;
4. Rede baseada na troca de recursos; na confiança; e no
contrato;
5. Mistura de recursos privados e públicos;
6. Uso de múltiplos instrumentos de gestão;
7. Resolução de problemas sociais.
O Futuro: A Nova Governação Pública
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 8 16-02-2017
As Práticas Atuais da Administração
• Inspiram-se e apoiam-se:
• No modelo clássico pelo foco no controlo e gestão
organizacional (finais do Séc. XIX e início do Séc. XX);
• No modelo de H. Simon pelo acento colocado na decisão
racional (anos 50 Séc. XX);
• No Modelo de Waldo pelo foco na política;
• No modelo comportamental pela importância dada ao
comportamento organizacional (anos 60 Séc. XX);
• No modelo da escolha pública pelo recurso feito à economia
política (James Buchanan "Public Choice Theory" recebe o Prémio Nobel de Economia no ano de 1986).
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 9 16-02-2017
A Dicotomia: Política/Administração
•
Desde os finais do Sec XIX até hoje esta
dicotomia tem tido altos e baixos. O ponto
mais baixo ocorreu nos anos sessenta em que
se admitia que os administradores devem
fazer política.
•
Como manter o equilíbrio ou inclinar um lado
para um dos extremos (caso de Singapura e do
Japão)
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Pressuposto para Pensar as Reformas:
• Quem acha que algo é novo tende a chamar velho o que lhe
antecedeu; quem permanece nas ideias do passado tende a rejeitar que haja algo de novo nessa “novidade”.
• Vamos partir da hipótese que tudo existe em maior ou menor
grau algures no mundo. Assim, assumimos que não haverá nada de novo.
• A novidade da reforma radica, não no fio com que teço a
realidade, mas na forma como teço ou elimino da tecelagem tal fio. Assim não há reforma há reformas.
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Tendências das Reformas
• Das expectativas éticas (quase virtude) a standards profissionais; • Do local ao global “glocal” e multinível;
• Do silo à rede: teoria da governação; • Da hierarquia à equipa e à parceria;
• Dos objectivos aos resultados (antiguidade /mérito; • Do papel à cloud;
• Do igual (o mesmo) ao específico (pessoal); • Do intergovernamental ao intersectorial • Da igualdade à equidade social;
• Do isolamento à co-produção de serviços;
• Das atribuições às competências: gestão de e por competências; • Da administração à gestão.
• ( CF. Guy, M; Rubin, M. (ed). 2015. Public Administration Evolving: From Foudations to de Future. NY: Routledge)
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 12 16-02-2017
Monteiro, Pinto. (2015). Estudo sobre Boa Governança. Lisboa: Ministério da Saúde.
Valores das Reformas
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Problemas das Reformas
• Conflitos entre a perspectiva de gestão, a politica e a legal
(Rosenbloom 1983). A gestão identifica-se com a eficiência, a eficácia, a economia e o mérito. A política identifica-se com os valores democráticos tais como a representação, o pluralismo institucional, responsabilização política perante os cidadãos. A legal identifica-se com os direitos humanos, o acesso à
informação administrativa a preservação do acesso aos dados pessoais etc.
• Conflito entre valores por exemplo eficácia, economia e
eficiência e participação democrática
• Conflito entre a necessidade de dar mais poder à
Administração e simultaneamente aos políticos.
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Temas das Reformas
1. Representação: a Administração (funcionários e dirigentes) não é eleita. Há uma questão de legitimidade sempre presente. Tensão ente Administração e cidadãos.
2. Profissionalização: a competência neutral é uma forma da
Administração afirmar o seu poder face aos políticos (princípio da dicotomia).
3. Poder político: focado no controlo da Administração.
4. Gestão: focada na forma como são conduzidos os processos
organizacionais: descentralização, foco no cidadãos, qualidade, etc. 5. Prestação de contas e responsabilização: legalidade; politica;
hierarquia; profissional.
6. (Cf. AOKi, N. 2015. Let’s Get Administration Right, But in What Sequence? Lessosn from Japan and Singapore. PAD, 35, 206-218 DOI 101002/pad.1714)
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Interrogações finais
•
Não seria mais adequado substituir os valores das
reformas por temas de reforma?
•
Será possível reformar uma Administração
simultaneamente em todos esses temas?
•
Não seria mais avisado sequenciar a aplicação de tais
temas ?
•
Se sim, com que profundidade?
•
E a restauração dos ensinamentos da Grécia Antiga
de Aristóteles e Platão sobre a “boa vida” a “boa
sociedade” subjazem a este temas?
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 16 16-02-2017
•Será que
vale a pena
reformar?
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 17 16-02-2017
BIBLIOGRAFIA:
Bilhim, J. 2013. Ciência da Administração. Lisboa: ISCSP AOKi, N. 2015. Let’s Get Administration Right, But in What
Sequence? Lessosn from Japan and Singapore. PAD, 35, 206-218 DOI 101002/pad.1714
Guy, M; Rubin, M. (ed). 2015. Public Administration Evolving:
From Foudations to de Future. NY: Routledge
Ulisboa, ISCSP, CAPP, João Bilhim 18 16-02-2017
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Obrigado
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Questões
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