PERCEPÇÃO AMBIENTAL E DIAGNÓSTICO DA PAISAGEM: INSTRUMENTOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE POTENCIAL TURÍSTICO
Camila Cabral de Castro
milinhapitanga@hotmail.com
Bruna Lourenço Ribeiro Paulo Victor Pinto Rivera Luana das Chagas Abreu Profa. Dra./Orientadora - Roberta de Sousa Ramalho Inst. Fed. de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense – IF Fluminense
INTRODUÇÃO
A percepção ambiental tem sido adotada como um instrumento de caracterização de potencialidades turísticas por apontar as interações homem-natureza a partir da vivência dos indivíduos de uma comunidade qualquer. Esse instrumento associado ao diagnóstico de paisagem promove um conjunto de informações capaz de orientar investimentos públicos e privados voltados para o desenvolvimento turístico local. Como também aponta necessidades de cursos de formação inicial e continuada para população local a partir de seus interesses e impressões da realidade que os cerca. Sob a perspectiva de que o turismo de base local seja capaz de promover desenvolvimento econômico em pequenas comunidades e orientar a valorização ambiental e cultural do interior dos estados, tomou-se como objeto de investigação o município de Cardoso Moreira, também conhecido como a “cidade carinho”, situado na porção Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Com uma população de aproximadamente 12 mil habitantes, esse município traduz a realidade do interior do estado, caracterizado pela morfologia de mares de morros, encobertos por pastagens e baixos índices de educação e renda familiar. Inseridas em uma realidade culturalmente interpretada como rural tais comunidades ignoram outras possibilidades para geração de trabalho e renda além daquelas relativas ao trabalho no campo ou no comércio varejista local.
A metodologia empregada apoiou-se na percepção ambiental, obtida a partir de entrevistas semi-estruturadas desenvolvidas com os moradores locais do Município de Cardoso Moreira.
Os resultados alcançados apontam que o município dispõe de aspectos históricos regionais passíveis de serem transformados em objetos de atração turística, a saber: a Ponte de Outeiro, o Rio Muriaé, a Igreja Matriz de São José e uma réplica do Cristo
Redentor que remontam aos ciclos econômicos históricos nacionais dos séculos XVI, XVII e XVIII, que imprimiram na região inúmeras peculiaridades.
Igualmente, observou-se que a população necessita de um programa de ensino técnico capaz de orientar a formação inicial e continuada para o turismo, bem como lhes proporcionar a compreensão e valorização de seu patrimônio histórico/cultural e ambiental, os quais se encontram em franco processo de degradação.
OBJETIVOS
O objetivo geral do trabalho é apontar como o diagnóstico da percepção ambiental de uma comunidade local pode ser um importante instrumento de levantamento de dados. Associado a essa premissa também consistem objetivos secundários identificar o imaginário da população do Município de Cardoso Moreira quanto ao seu potencial para desenvolvimento de práticas turísticas.
METODOLOGIA
As investigações conforme mencionado anteriormente apoiaram-se no diagnóstico da percepção ambiental e da paisagem. Desta forma, a pesquisa foi dividida em duas etapas. Na primeira, a análise e avaliação das paisagens obedeceram aos critérios adotados para classificação de paisagens turísticas, que se subdividem em três segmentos: o estético relativo exclusivamente à percepção individual do turista ou morador local; o cultural que engloba as relações topofílicas que os indivíduos constroem a partir de suas estórias de vida; e o aspecto ecológico ou geográfico que se delimita a partir dos elementos físicos, biológicos e processos típicos de um recorte espacial, aqui denominado paisagem. Na segunda etapa, foram desenvolvidas 100 entrevistas com moradores de Cardoso Moreira visando-se diagnosticar a percepção ambiental em relação ao potencial turístico do Município. Devido à grande aglomeração de pessoas, bem como maior circulação, o centro da cidade foi eleito como principal foco de amostragem. As entrevistas seguiram a ordem das sentenças e os entrevistadores foram orientados a explicar o sentido das solicitações com explicações previamente elaboradas afim de que todos garantissem o mesmo ou o mais próximo possível entendimento para todos os entrevistados.
As entrevistas obedeceram a um roteiro composto por seis questões descritas a seguir conforme seus objetivos específicos:
1. O que é mais bonito aqui? - com a finalidade de descobrir quais lugares ou outros aspectos quaisquer são tomados como belos no Município.
2. As pessoas costumam visitá-lo? - com o intuito de saber se há visitação ao que foi citado anteriormente, o que denotaria potencialidade turística.
3. O que você acha que tem de bom aqui? - visa diagnosticar aspectos positivos apontados pelos moradores locais, o que poderá ser tomado como meio de promoção turística.
4. O que poderia ser feito para melhorar? - possibilidades, perspectivas de investimentos e anseios para o local.
5. Nessa região o que mais se destaca quanto à dança, festa, comida, artesanato e construção antiga? – ponto da entrevista em que se visou alcançar perspectivas históricas, culturais, arquitetônicas e gastronômicas peculiares no local.
6. Que esportes são praticados aqui? – visou identificar possibilidades esportivas como atrativo turístico local.
7. Qual a paisagem mais bonita aqui? - foi direcionada possibilidades de práticas turísticas de contemplação.
RESULTADOS
O Município de Cardoso Moreira situado na porção Norte do Estado do Rio de Janeiro encontra-se no meio dos 100 quilômetros que separam as cidades de Campos dos Goytacazes e Itaperuna, principais municípios da Região Norte e Noroeste do Estado. Possui uma área de 515 km2 (Prefeitura Municipal de Cardoso Moreira – Gestão 2005 – 2008) e uma população de 12.595 hab (IBGE, 2005) (Figura 1). A sua economia é baseada na agropecuária, indústria, comércio e serviços. Contudo, vários aspectos sociais, como: educação e saúde, não atendem às necessidades da população.
O diagnóstico das paisagens indica que o município dispõe de aspectos históricos regionais passíveis de serem transformados em objetos de atração turística, a saber: a Ponte de Outeiro, o Rio Muriaé, a Igreja Matriz de São José e uma réplica do Cristo Redentor que remontam aos ciclos econômicos históricos nacionais dos séculos XVI, XVII e XVIII, que imprimiram na região inúmeras peculiaridades. E que a maioria de suas paisagens ecológico-geográficas encontram-se totalmente descaracterizadas, sobretudo no que diz respeito ao domínio morfoclimático de mares de morros em que se inserem. Tal fato reforça o aspecto histórico regional intensamente marcado pela produção de cana-de-açúcar e pastagens. O cenário de mares de morros recobertos por pastos já faz parte da cultura local, que o identifica como belo, traduzindo as relações topofílicas construídas ao longo do tempo nessa região.
Figura 3: Igreja Matriz de São José
Ainda sobre a análise das paisagens, convém destacar que aspectos de degradação rural e urbana não foram tomados como relevantes. Tal fato indica haver uma banalização de problemas como, disposição de lixo e esgoto a céu aberto, além de queimadas e destruição de mata ciliar, nem ao menos, registrados, nas entrevistas, como aspectos negativos e corriqueiros no local.
Quanto à percepção ambiental da população local, a partir de uma amostra de cem indivíduos, coletados aleatoriamente, pode-se afirmar que as imagens de “natureza” e do “Cristo” são tomadas como ícones de beleza local. Fato que se destaca em 23% dos
diversificada estruturas como farmácia (10%), escolas, praças, pontes, ruas entre outras estruturas que foram agrupadas em uma classe outros, por não denotarem especificamente potencial ou referência de beleza passível de aproveitamento turístico.
Gráfico 1: O que é mais bonito aqui?
O que é mais bonito aqui?
5% 22% 1% 3% 1% 2% 2% 22% 23% 1% 6% 1% 10% 1% A cidade Cristo Escola Estádio Farmácia Igreja Mirante Não respondeu Natureza Parque de exposição Pessoas Ponte Praça Rodoviária
A pergunta seguinte, relativa à visitação dos locais apontados como belos confirmou o potencial turístico, pois 72% afirmaram haver interesse de visitantes aos pontos citados, sobretudo o “Cristo”, os outros 28% não responderam.
A “tranqüilidade” (30% das respostas) se destacou como principal aspecto positivo do lugar.
Quanto às expectativas ou perspectivas de melhora importam destacar que 25% dos entrevistados responderam “tudo”, 29% saúde, educação e infra-estrutura, 7% turismo, lazer, cultura e prestação de serviços, o restante ou não respondeu, ou se distribuiu em termos diversos como: asilo, agropecuária, emprego, segurança pública entre outros.
Gráfico 2: E o que poderia ser feito para melhorar?
E o que poderia ser feito para melhorar?
1%1% 3% 9% 25% 8% 1% 15% 3% 23% 2%1% 5% 3% Agropecuária Asilo Cultura Educação Emprego Infra-estrutura Lazer Não respondeu Saneamento básico Saúde Segurança pública Serviços Tudo Turismo
Quanto à pergunta “Nessa região o que mais se destaca quanto à dança, festa e construção antiga?” cada uma das opções foi apresentada com relação à dança metade dos entrevistados, não respondeu, talvez pelo fato de pertencerem a religiões que não permitam a dança ou por não se identificarem com os tipos de danças atuais. Tais justificativas foram observadas ao longo das entrevistas, dificultando, desta forma, o conhecimento dos mesmos quanto a essa questão. 34% elegeram o forró como o tipo de dança que mais se destaca e 9% ressaltaram o “funk”. Também apareceu o folclore, a Folia de Reis, o balé e a dança de salão em respostas isoladas ou apresentadas de forma aleatória.
As festas que mais se destacam são as da “cidade” e da “Exposição Agropecuária”, respectivamente representam 41% e 40% das respostas. Já a “festa caipira” correspondeu a 7%, 4% salientaram a “festas religiosas” e 8% não responderam. Grande parte dos entrevistados só considera “construção antiga” algo que tenha o aspecto de velho, em ruínas, sujo, destruído. Isso fez com que 43% que não apontasse nenhuma construção. Porém 18% destacaram a Estação, 13% os Casarões e 7% a loja de maçonaria estruturas que remontam ao século XVIII.
Com a pergunta “Qual a paisagem mais bonita aqui?” muitos dos entrevistados responderam o mesmo que disseram quanto à “O que é mais bonito aqui?”. Assim, o “Cristo” novamente se destacou com 47%, seguido do rio com 23%, 10% responderam a serra, 3% a floresta e 11% não responderam a esse questionamento.
Qual a paisagem mais bonita aqui? 47% 3% 11% 1% 1% 1% 1% 23% 2% 10% Cristo Floresta Não respondeu Parque de exposição Pastos Ponte Praça Rio Rua Serra CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto à metodologia adotada, importa destacar a aproximação com o imaginário local, seus anseios e a falta de perspectiva quanto às possibilidades econômicas ainda não exploradas. Para que o turismo de base local se torne um instrumento de promoção de sustentabilidade econômica, cultural e ambiental há necessidade de um conjunto de investimentos que vão desde ações e medidas de administração pública, até o entendimento da comunidade local de que as atividades turísticas são geradoras de trabalho e renda que podem se tornar perenes. Vale destacar a necessidade de programas voltados à valorização do interior do estado, promovendo na população interesse pelo resgate histórico e cultural regional, bem como ambiental. O “Cristo” é um ícone que já faz parte do imaginário local, se destacando como principal atrativo já em processo de visitação. Expectativas de melhorias no local que indicaram turismo, laser e cultura denotam possibilidades presentes no imaginário de uma minoria da população, mas que são passíveis de fomento, no sentido de se promover o turismo como uma nova atividade a ser estimulada na região.
BIBLIOGRAFIA
Prefeitura Municipal de Cardoso Moreira - www.cardosomoreira.rj.gov.br
Fundação CIDE - www.cide.rj.gov.br
Portal do Cidadão – Governo do Estado do Rio de Janeiro - www.governo.rj.gov.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 2005) - www.ibge.gov.br
Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais (SETUR) - www.turismo.mg.gov.br