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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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Registro: 2017.0000928419 ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0091994-47.2009.8.26.0050, da Comarca de São Paulo, em que é apelante LAZARO ESTRADIS PERIDIS, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 11ª Câmara Criminal Extraordinária do Tribunal de Justiça

de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao recurso para condenar Lázaro por infração ao artigo 304, combinado com o artigo 301, § 1º, ambos do Código Penal, à pena de 03 meses e 15 dias de detenção, julgando-se extinta, em seguida, sua punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva estatal. v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FRANCISCO BRUNO (Presidente) e ALEXANDRE ALMEIDA.

São Paulo, 1º de dezembro de 2017.

Newton Neves RELATOR

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11ª CÂMARA CRIMINAL EXTRAORDINÁRIA VOTO Nº: 34021

APEL Nº: 0091994-47.2009.8.26.0050 COMARCA: SÃO PAULO

APTE...: LÁZARO ESTRADIS PERIDIS APDO...: MINISTÉRIO PÚBLICO

*USO DE DOCUMENTO FALSO Quadro probatório que se mostra seguro e coeso para evidenciar autoria e materialidade do delito Descabimento de aplicação do princípio da insignificância Conduta que afronta a fé pública Conduta específica capitulada como crime autônomo Uso de atestado médico falso para justificar ausência no trabalho Correção quanto à capitulação do fato Conduta que remete às penas do art. 301, § 1º, CP Adequação da pena Prescrição retroativa Recurso parcialmente provido, reconhecida a extinção da pretensão punitiva estatal (voto nº 34021).*

A r. sentença de fls. 155/160, com relatório adotado, julgou procedente a ação penal para condenar LÁZARO ESTRADIS PERIDIS ao cumprimento da pena corporal de 01 ano e 02 meses de reclusão, no regime semiaberto, além do pagamento de 11 dias-multa, no valor unitário mínimo legal, por infração ao artigo 304, combinado com o artigo 298, por duas vezes, na forma do artigo 71, todos do Código Penal, deferido o apelo em liberdade.

Recorre o réu por sua absolvição ante a insuficiência probatória ou atipicidade da conduta. Subsidiariamente, busca a alteração do regime prisional e a substituição da pena corporal por restritivas de direitos (fls. 169/181).

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Recurso processado e respondido, manifestando-se o Ministério Público, em ambas as instâncias, por seu desprovimento.

É o relatório.

Foi o réu denunciado porque, em 14 de outubro de 2.009, por volta de 11h, na Rua Carlito, nº 656, Vila Formosa, nesta Capital, fez uso de dois documentos particulares falsos, consistentes em atestados médicos supostamente emitidos por profissionais do Hospital São Camilo.

Segundo a inicial acusatória, Lázaro, então funcionário da empresa “RJ Projetos Empreendimentos LTDA”, faltou ao trabalho em 24 de agosto e 15 de setembro de 2.009.

Visando justificar as faltas, apresentou então dois atestados médicos falsos supostamente emitidos pelo estabelecimento de saúde acima referido.

Constatou-se, no entanto, que Lázaro não recebeu atendimento no hospital nas datas constantes dos documentos, sendo certo, dessa forma, que tinha ciência da falsidade.

Pese o empenho da combativa defesa, não há se falar em absolvição do recorrente.

A materialidade delitiva está demonstrada por meio dos documentos de fls. 07/12.

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Já a autoria mostra-se inconteste ao longo da instrução processual.

Sob o crivo do contraditório, Lázaro admitiu ter adquirido dois atestados médicos falsos na Praça da Sé, já preenchidos, a fim de apresentar à empresa em que trabalhava como motorista, alegando tê-lo feito após ter que se ausentar 20 dias devido a um acidente de trabalho, não reconhecido pelo empregador (fls. 112/113).

A corroborar sua confissão, está a fala de Rui José Furtado, representante da empresa, que afirmou que, após se ausentar do trabalho alguns dias seguidos, o réu apresentou atestados médicos do Hospital São Camilo, de cuja veracidade o depoente desconfiou. Enviou, então, um funcionário ao estabelecimento, vindo a descobrir que os médicos que constavam dos documentos não trabalhavam no hospital. Demitiu Lázaro, sem com ele conversar (fls. 109).

Ricardo de Oliveira, colega do acusado, confirmou os fatos, relatando ter feito uma pesquisa para saber da veracidade dos atestados, apurando que os médicos subscritores dos documentos não trabalhavam no Hospital São Camilo e que Lázaro não havia sido atendido no local (fls. 110).

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ginecologista, atendendo exclusivamente pacientes do sexo feminino. Declarou que nunca trabalhou no Hospital São Camilo e que a assinatura e preenchimento do atestado de fls. 08 não partiram de seu punho, sendo o carimbo empregado no documento deveras antigo, não sendo por ele mais utilizado (fls. 130).

O médico pneumologista Benedito José Pinto negou conhecer o réu ou já ter trabalhado no estabelecimento de saúde em questão, declarando residir e trabalhar em Sorocaba. Também afirmou que o carimbo constante do atestado de fls. 09 não é mais por ele utilizado, e que a assinatura e o preenchimento do documento não condizem com sua grafia (fls. 131).

Não é demais observar que há documentos emitidos pelo Hospital São Camilo no sentido de que o réu não compareceu no local para atendimento nas datas constantes dos atestados e que os médicos que supostamente os subscreveram não atendem na instituição (fls. 07 e 10/12).

E isso é o que basta à certeza da responsabilidade do réu, sendo desnecessária, no caso dos autos, a perícia dos documentos diante da farta prova oral e documental, inclusive com a plena confissão de Lázaro.

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aplicação do princípio da insignificância, excludente de tipicidade não prevista no nosso ordenamento jurídico, a propósito.

Ora, é evidente que a conduta imputada a Lázaro reveste-se de relevante reprovabilidade, mormente por atentar contra a fé pública, ou seja, contra o interesse de toda a coletividade.

Sobre o assunto, vale trazer à colação do seguinte julgado do E. STF:

“Habeas corpus. 2. Crime de falsificação de documento público (art. 311 do CPM). Atestado

médico apresentado para justificar ausência ao

serviço. 3. Atipicidade da conduta. Falsificação

grosseira. Documento que iludiu a pessoa responsável pelo setor de recebimento de dispensas médicas. 4. Princípio da insignificância. Não aplicação aos crimes contra a fé pública. Precedentes do STF. 5. Ordem

denegada” (Habeas Corpus nº 117.638 Segunda Turma

Rel. I. Min. Gilmar Mendes j. 11.03.2014).

Mantém-se, portanto, a condenação do recorrente.

Contudo, deve a capitulação do delito ser corrigida.

Isso porque, respeitados doutos entendimentos em sentido contrário, a capitulação

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do delito como efetuada pelo Juízo é equivocada, uma vez que, embora se trate de “uso de documento falso”, figura prevista no artigo 304, do Código Penal, necessário observar qual documento falso foi utilizado, vez que a lei determina aplicação das mesmas penas cominadas à falsificação ou à alteração.

O crime de falsificação de atestado é autônomo e específico (art. 301, CP), sendo uma modalidade mais brandamente apenada de falsificação de documento público ou falsidade ideológica por ser, sem dúvida, conduta de menor ofensividade ao bem público, não podendo, por isso, serem equiparadas. E o crime específico de falsificação material de atestado médico, como previsto no artigo 301, § 1°, do Código Penal, pode ser praticado por qualquer pessoa, ao contrário do tipo previsto no caput que, por abranger a falsidade ideológica, somente pode ser praticado pelo funcionário público em razão de seu ofício.

O crime aqui tratado, como se vê dos fatos apurados, trata-se do falso material (art. 301, § 1°, do CP), dando a denúncia tipificação diversa e observando-se também a solução do conflito aparente de normas ambas vigentes hoje e ao tempo da ação pelo princípio da

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especialidade.

Assim, com apoio no artigo 383, do Código de Processo Penal1, forçosa a adequação da

capitulação jurídica dos fatos descritos na denúncia, assegurada que foi a ampla defesa e o contraditório, possível ao apelante defender-se dos fatos descritos na inicial.

Logo, comprovado que incorreu o réu no artigo 304 combinado com o artigo 301, § 1º, do Código Penal2, ao passo que fez uso de atestado

médico falso, com a finalidade específica de, mediante a apresentação do documento, justificar suas ausências no trabalho, de rigor a condenação nesta capitulação.

Ausente inconformismo pontual e adequando-se a reprimenda para o tipo ora aplicado, mantém-se a pena-base no mínimo legal, 03 meses de detenção, com a compensação da confissão espontânea e reincidência na segunda etapa, majorando-se a reprimenda em 1/6 na terceira fase diante da continuidade delitiva, restando finalmente sedimentada em 03 meses e 15 dias de detenção.

1“Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe

definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.”

2Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a

302: Pena: a cominada à falsificação ou à alteração. Art. 301 omissis § 1º - Falsificar, no todo ou em

parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato

ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter

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Isto considerado, cabível o reconhecimento da prescrição retroativa.

Como já visto, os fatos ocorreram no dia 14 de outubro de 2.009. A denúncia foi recebida aos 13 de setembro de 2.010 (fls. 67/68), enquanto a r. sentença foi publicada em 18 de novembro de 2.013 (fls. 161).

Considerando a pena ora aplicada, tem-se que delimitado está o prazo prescricional que, nos termos da lei, verifica-se em 02 anos, conforme o artigo 109, inciso VI, do Código Penal (antes da alteração trazida pela Lei nº 12.234/2010, não aplicável no presente caso porque promulgada em maio de 2.010, ou seja, posteriormente aos fatos aqui tratados), prazo esse decorrido entre o recebimento da denúncia, e a publicação do édito condenatório.

Anote-se que a prescrição implica reconhecer extinta a própria pretensão de se obter uma decisão de mérito. Portanto, não impõe responsabilidade alguma ao processado, não marca seus antecedentes e nem gera reincidência, assim como fica ele isento do pagamento de custas do processo.

Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso para condenar Lázaro por

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infração ao artigo 304, combinado com o artigo 301, § 1º, ambos do Código Penal, à pena de 03 meses e 15 dias de detenção, julgando-se extinta, em seguida, sua punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva estatal.

Newton Neves

Relator

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