Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências
Departamento de Biologia Animal
Caracterização dos Utilizadores
Turísticos e Recreativos das
Áreas Protegidas em Portugal
Estudo de caso do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
João Nuno Crespo Godinho de Oliveira
Dissertação
Mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental
2013
Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências
Departamento de Biologia Animal
Caracterização dos Utilizadores
Turísticos e Recreativos das
Áreas Protegidas em Portugal
Estudo de caso do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
João Nuno Crespo Godinho de Oliveira
Dissertação
Mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental
Orientação de:
Prof. Doutor José Guerreiro
Dr. Ricardo Nogueira Mendes
2013
Agradecimentos
Aos funcionários do Centro Ciência Viva Alviela, do Centro de interpretação subterrâneo Algar do
Pena, da Ecoteca, do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire e das Salinas
de Rio Maior, pela ajuda prestada na recolha de inquéritos.
À Paula Robalo, à Maria João Martins, ao Olímpio Martins e à Rita Anastácio pela disponibilidade
prestada.
À Arq. Ana Isabel Alves e à direção do PNSAC pela disponibilização de informação e ajuda na
articulação com as várias entidades.
Ao Prof. Doutor Carlos Pereira da Silva (e‐GEO) pela ajuda no desenvolvimento do inquérito e
acolhimento no e‐GEO.
À minha família,
Resumo
As atividades de lazer, recreação e aventura na natureza têm vindo a crescer a um ritmo
considerável, no seguimento de um novo tipo de turismo, sobretudo a partir de dos anos 70, que
dava resposta à procura do contacto com a natureza e culturas locais, concretamente nas Áreas
Protegidas. O Programa Nacional de Turismo de Natureza (PNTN) surge em 1998 no seguimento
dessa tendência e define os pressupostos de consolidação da imagem de Portugal como um destino
turístico de qualidade, assumindo as AP como locais vocacionados para o turismo de natureza,
incluía um conjunto de critérios e regulamentos ao nível do alojamento e da animação ambiental.
Passados 15 Anos desde a criação do PNTN, não se pode no entanto dizer que o Turismo de
Natureza (TN) seja uma marca turística destes territórios. Se para o alojamento, a oferta existente é
capaz de dar resposta à atual procura, para a Animação e Interpretação Ambiental e para o Desporto
de Natureza falta uma oferta estruturada que consiga enquadrar a procura, compatibilizando as
atividades turísticas e recreativas com a conservação da natureza. As Cartas de Desporto de
Natureza (CDN), que em parte deviam dar resposta a estas questões, mostram‐se desadequadas,
tendo em conta que não traduzem a realidade da visitação nem o conceito de capacidade de carga,
como tinham definido. Apesar de apenas duas AP em Portugal disporem de CDN aprovada, estas
continuam a sofrer impactos e pressões devido à procura que têm, fruto dos muitos utilizadores nas
mais variadas atividades. Ao contrário do que já acontece noutros países, Portugal não dispõe de
informação correta e fidedigna em relação nem ao perfil, nem ao número dos utilizadores das AP. É
igualmente unânime e consensual que essa informação é indispensável para que se faça uma efetiva
e correta gestão destes territórios, sabendo quem são os seus visitantes e utilizadores e porque
razões utilizam as AP. Apesar do TN ter sido sempre incluído nas três versões do Plano Estratégico
Nacional de Turismo (PENT) como um dos dez produtos turísticos estratégicos para o país, este não
possui qualquer informação relativa ao perfil e motivações dos utilizadores das áreas protegidas em
Portugal.
Neste trabalho foi definida uma metodologia, baseada em inquéritos e aplicada ao caso de estudo
do PNSAC, que permitiu definir um perfil mais comum de utilizador: individuo do sexo Masculino,
com uma idade compreendida entre os 35 e os 44 anos, casado e com filhos. Residente em Portugal,
essencialmente
em
concelhos
periféricos
ao
PNSAC,
com
um
nível
de
ensino
Bacharelato/Licenciatura e um rendimento médio mensal compreendido entre os 971 e os 1940€.
Ciente de que está numa AP, o utilizador do PNSAC desloca‐se ao mesmo, com uma frequência
regular, essencialmente para passar um tempo agradável com família e amigos, praticando
maioritariamente passeios pedestres e BTT. A duração média das atividades praticadas é duas a
quatro horas, e desloca‐se da sua residência para o PNSAC em viatura própria. Fá‐lo essencialmente
com amigos, não utilizando alojamentos e despendendo, em média, 62€ em casa visita, desde que
sai de casa até ao seu regresso.
Palavras‐chave: Turismo de Natureza; Áreas Protegidas; PNSAC; Caracterização de Utilizadores
Turísticos e Recreativos
Abstract
Leisure, recreation and adventure activities in nature have been growing at a considerable speed,
following a new type of tourism, especially since the 70s, responding for a demand of contact with
nature and local cultures, particularly in Protected Areas (PA). The National program for Nature
Tourism (Programa Nacional de Turismo de Natureza ‐ PNTN) published in 1998 follows this trend
and defines the assumptions for the consolidation of Portugal's image as a quality tourist
destination, assuming PA as designed areas for the nature tourism, that included a set of criteria’s
and regulations regarding hosting and environmental animation. After 15 years since the creation of
(PNTN), it can´t be said that Nature Tourism (NT) became a brand of these areas, as planned. If
regarding accommodation, the existing supply is enough for the current demand, for Environmental
Animation and Interpretation, and for the Nature Sport it stills lacks a structured offer that can
match the demand, aligning tourism and recreational activities with the nature conservation. The
Nature Sports Charts (Cartas de Desporto de Natureza ‐ CDN), that should provide a significant
framework for these questions, are inadequate, since it doesn’t reflect the actual visitation, or even
the concept of carrying capacity, as it was been defined. Although only two PA in Portugal have CDN
approved, these continue to suffer the impacts and pressures due to demand, as a result of many
users in many different activities. Contrary to what happens in other countries, Portugal doesn’t
have proper and reliable information about the profile or the number of their PA users. It is also
unanimous that this information is necessary to make a correct and effective management of these
territories, knowing who are the users and visitors and the reasons why they use PA. Despite that NT
as always been included in the three versions of the National Strategic Plan for Tourism (Plano
Estratégico Nacional para o Turismo ‐ PENT) as one of the ten strategic tourism products for
Portugal, there is no information about the profile and motivations of PA users on this national plan.
In this work it was defined a methodology , based on questionnaire surveys and applied to the case
study of Serra de Aire e Candeeiros Natural Park (Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros
PNSAC) that allowed to define it’s user profile: male, within 35 to 44 years old, married and with
sons. PNSAC users and mainly residents, form the surroundings municipalities, with a high level of
education and an average monthly income between the €971 and € 1940. Aware that it is in a PA,
this user comes to the PNSAC with a regular frequency, mainly to spend some quality time with
family and friends, mostly to hike or to ride mountain biking,. The average duration of these visits
are between 2 and 4 hours and he uses his own vehicle to get to PNSAC. It does it mainly with
friends, not using accommodation and spending on average €62 throughout his stay.
Keywords: Nature Tourism; Protected Areas; PNSAC; tourism and recreational activities user profile
Índice
Agradecimentos ... iv
Resumo ... vii
Abstract ... viii
Lista de Tabelas ... x
Lista de Figuras ... x
Lista de Siglas/Acrónimos usados ... xi
1. Introdução ... 1
1.1. Programa Nacional de Turismo de Natureza ... 1
1.1.1. Novas formas de fruição turística e recreativa em territórios “naturais” ... 1
1.1.2. Desporto de Natureza em Áreas Protegidas ‐ Cartas de Desporto Natureza ... 2
1.1.3. Balanço de 15 anos de Programa Nacional de Turismo de Natureza ... 2
1.1.4. Rede Nacional de Áreas Protegidas & Classificadas ... 3
1.2. Realidade das actividades turísticas e recreativas nas áreas protegidas ... 4
1.3. Caracterização de visitantes ... 6
1.4. Objectivo ... 8
2. Área de Estudos ‐ Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros ... 9
2.1. Caracterização Geral ... 9
2.2. Plano de Ordenamento do PNSAC ... 10
2.3. Carta de desporto de natureza PNSAC ... 11
3. Materiais e Métodos ... 12
3.1. Inquérito ... 12
3.1.1. Planeamento, construção e estrutura ... 12
3.1.2. Recolha de dados ... 13
3.1.3. Entrada de dados e processamento ... 15
4. Resultados ... 16
4.1. Perfil do utilizador ... 16
4.2. Motivações dos utilizadores ... 21
4.3. Grau de Satisfação em relação à Área Protegida ... 28
5. Discussão de Resultados ... 33
6. Conclusões ... 35
7. Bibliografia ... 39
8. Anexos ... 41
Lista de Tabelas
Tabela 1 Número de visitantes às sedes e centros de interpretação das Áreas Protegidas
... 5
Tabela 2
Número de Inquéritos recolhidos
... 17
Tabela 3
Valor gasto durante a permanência PNSAC
... 26
Tabela 4
Valor gasto durante a permanência PNSAC
(prova DH)
... 26
Tabela 5
Valor gasto durante a permanência PNSAC
(Peregrinação a Fátima)
... 26
Lista de Figuras
Figura 1 Áreas Classificadas de Portugal Continental ... 4
Figura 2 Número de visitantes às sedes e centros de interpretação das Áreas Protegidas ... 5
Figura 3 Número de visitantes dos parques nacionais de Espanha ... 6
Figura 4 Enquadramento do PNSAC nos concelhos que o compõem ... 9
Figura 5 Carta de Desporto Natureza do PNSAC ... 11
Figura 6 Pontos centrais das buscas no site GPSies.com ... 14
Figura 7 "Selected feature" de eliminação da informação não interceptada com o PNSAC. ... 15
Figura 8 Sobreposição do Mapa de intensidades com toponímia ... 15
Figura 9 Faixa etária | Resultados inquérito ... 17
Figura 10 Género | Resultados inquérito ... 18
Figura 11 Estado civil | Resultados inquérito ... 18
Figura 12 Número de filhos | Resultados inquérito ... 19
Figura 13 Situação profissional | Resultados inquérito ... 19
Figura 14 Grau académico | Resultados inquérito ... 20
Figura 15 Residência nacional | Resultados inquérito ... 20
Figura 16 Concelhos de residência (>3) | Resultados inquérito ... 21
Figura 17 Tem conhecimento que o PNSAC é uma AP? | Resultados inquérito ... 22
Figura 18 Frequência de utilização PNSAC | Resultados inquérito ... 22
Figura 19 Motivos de deslocação ao PNSAC | Resultados inquérito ... 23
Figura 20 Motivos de deslocação ao PNSAC (outro) | Resultados inquérito ... 23
Figura 21 Atividades desenvolvidas PNSAC | Resultados inquérito ... 24
Figura 22 Atividades desenvolvidas PNSAC (outra) | Resultados inquérito ... 24
Figura 23 Tempo despendido na atividade | Resultados inquérito ... 25
Figura 24 Forma de visitação PNSAC | Resultados inquérito ... 25
Figura 25 Meio de transporte utilizado para chegar ao PNSAC | Resultados inquérito……….26
Figura 26 Fontes de informação utilizadas | Resultados inquérito ... 27
Figura 27 Fontes de informação utilizadas (outra) | Resultados inquérito ... 27
Figura 28 Necessidade de alojamento | Resultados inquérito ... 28
Figura 29 Tipologia de alojamento | Resultados inquérito ... 28
Figura 30 Classificação geral PNSAC | Resultados inquérito ... 29
Figura 31 Classificação individualizada PNSAC | Resultados inquérito ... 29
Figura 33 Fatores de distúrbio PNSAC | Resultados inquérito ... 30
Figura 32 Classificação individualizada motivações PNSAC | Resultados inquérito ... 30
Figura 34 Fatores de distúrbio PNSAC (outro) | Resultados inquérito ... 31
Figura 35 Faixa etária ‐ comparação entre dados do Inquérito e dados Censos 2011 ... 34
Figura 36 Número de Filhos ‐ comparação entre dados do Inquérito e dados Censos 2011 ... 34
Lista de Siglas/Acrónimos usados
AP – Área Protegida
CDN – Carta de Desporto de Natureza
GPS – Global Position System
INE – Instituto Nacional de Estatística
ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e Florestas
NSRE – National Survey on Recreation and the Environment
PENT – Plano Estratégico Nacional de Turismo
PNSAC – Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
PNTN – Programa Nacional de Turismo de Natureza
PO – Plano de Ordenamento
POPNSAC – Plano de Ordenamento do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
PVCRNAP – Programa de Visitação e Comunicação da Rede Nacional de Áreas Protegidas
RNAP – Rede Nacional de Áreas Protegidas
SIC – Sítio de Interesse Comunitário
SIG – Sistemas de Informação Geográfica
TN – Turismo de Natureza
ZPE – Zona Especial de Proteção
1. Introdução
1.1. Programa Nacional de Turismo de Natureza
1.1.1. Novas formas de fruição turística e recreativa em territórios “naturais”
Foi sobretudo a partir dos anos 70 que o turismo, atividade até então considerado como uma
“indústria limpa”, começa a ser posta em causa pelos seus efeitos nefastos, tanto ao nível do
ambiente, como no que se refere aos recursos naturais e aspetos sociais. Como consequência,
começa‐se a desenhar um novo tipo de turismo, dando assim resposta à procura do contacto com a
natureza e culturas locais, adequada ao grau de exigência dos novos turistas (Marques, 2003) e os
espaços naturais, mais concretamente as Áreas Protegidas (AP), surgem cada vez mais como os
novos destinos turísticos, locais privilegiados para a prática de atividades turísticas e recreativas
(Bachareal, 1994). Neste contexto, as atividades de turismo de lazer, recreação e de aventura na
natureza têm vindo a crescer, estimando‐se que tenham atingido, a partir de 1998, um crescimento
anual entre 10% a 30% representando 20% de todo o mercado mundial de viagens (The
International Ecotourism Society, 2006).
O Programa Nacional de Turismo de Natureza (PNTN), criado em 1998, surge no seguimento dessa
alteração de hábitos de consumo do território e da constatação de que uma nova tendência se
começava a desenhar nos finais do séc. XX, em que as AP tinham um papel preponderante. Citando
o preambulo do decreto‐lei n.º 47/99 que regulamenta o PNTN, “Os espaços naturais surgem cada
vez mais, no contexto internacional e nacional, como destinos turísticos em que a existência de
valores naturais e culturais constituem atributos indissociáveis do turismo de natureza.”
Ficam portanto reconhecidos, com a criação do PNTN, os pressupostos que servirão de base à
consolidação da imagem de Portugal como destino turístico de qualidade, com novos destinos
vocacionados para novos tipos de procura. Por outro lado, assume‐se que as AP possuem
características como únicas, em termos de património natural e cultural, devendo estar claramente
vocacionadas para atividades de lazer ligadas ao contacto com a natureza e com as culturas locais. O
Turismo de Natureza (TN) enquanto produto turístico, passou a integrar várias modalidades de
Hospedagem (turismo em espaço rural e casas de natureza) e Animação Ambiental (animação,
Interpretação ambiental e desportos de natureza), deixando de lado o conceito de que turismo se
bastava pelos serviços de alojamento e restauração.
Dada a sensibilidade inerente às áreas protegidas, houve ainda a necessidade do PNTN definir
algumas regras em relação à animação entre as quais figuravam as Cartas de Desporto Natureza
(CDN). Nestas devem constar as regras e orientações relativas a cada modalidade desportiva, bem
como os locais e as épocas do ano em que as mesmas podem ser praticadas, assim como a respetiva
capacidade de carga.
Para a construção de um verdadeiro produto turístico em consonância com a realidade destes
territórios, assim como para promover uma efetiva e realista gestão destas áreas, é essencial
conhecer, para além dos próprios territórios, os seus utilizadores bem como as suas preferências,
sob o risco de traçar retratos e produzir estratégias desajustadas da realidade.
1.1.2. Desporto de Natureza em Áreas Protegidas ‐ Cartas de Desporto Natureza
As Cartas de Desporto Natureza (CDN), referidas no artigo 6.º do Decreto Regulamentar n.º 18/99,
de 27 de Agosto (o único ainda em vigor), que regulamentava a animação ambiental nas
modalidades de animação, interpretação ambiental e desporto de natureza, visavam articular a
procura de turismo de ar livre com os planos de ordenamento das áreas protegidas. Cada AP deve
possuir uma CDN e regulamento, onde constem as regras e orientações relativas a cada modalidade
desportiva, incluindo os locais e as épocas do ano em que as mesmas podem ser praticadas, bem
como a respetiva capacidade de carga. Não obstante do propósito e utilidade das CDN, apenas duas
AP possuem Carta de Desporto aprovada e em vigor em Portugal (Parque Natural da Serra de Aire e
Candeeiros e Parque Natural de Sintra‐Cascais), furto em parte da falta de uma metodologia e
orientações próprias para a elaboração destes instrumentos. No entanto, mesmo sem CDN, as áreas
protegidas continuam a ter afluência de utilizadores no que diz respeito às atividades desportivas.
Também para estes instrumentos, seria de extrema utilidade a existência de informação sobre quem
são os utilizadores desses espaços, assim como as suas motivações, perceções e expetativas.
1.1.3. Balanço de 15 anos de Programa Nacional de Turismo de Natureza
Passados 15 Anos desde a criação do Programa Nacional de Turismo de Natureza (PNTN), o Turismo
de Natureza (TN) não se assume hoje como um produto turístico consolidado como estava previsto.
Apesar de Portugal ser claramente reconhecido nos nossos mercados emissores como destino
adequado para o TN (TT‐ThinkTur, 2006), o facto é que não existe um verdadeiro produto turístico
que possa dar resposta a essa procura.
Embora o TN tenha sido apresentado nas três versões do Plano Estratégico Nacional de Turismo
(PENT) como um dos dez produtos turísticos estratégicos para o país também aqui se verifica uma
falta de informação de base que permita estruturar este produto. Apesar de terem sido
apresentados vários fatores de competitividade, assim como uma série de oportunidades de
desenvolvimento decorrentes da aposta neste produto turístico, a verdade é que o PENT não possui
qualquer informação relativa ao perfil e motivações dos utilizadores das áreas protegidas em
Portugal. Essa informação é condição essencial para definir e indicar recomendações para o turismo
natureza diferenciadas por regiões o que revela alguma irrealidade no que é dito.
Com exceção das duas Cartas de Desporto Natureza (CDN) publicadas, que estão em fase de revisão,
ficaram por fazer todas as outras. Ainda assim, as duas existentes não se adequam à prática
observada nas áreas protegidas a que dizem respeito. Um dos aspetos importantes incluído no PNTN
é a capacidade de carga, conceito essencial à boa gestão das atividades turísticas e recreativas
dentro das AP. No entanto, não existe uma definição de capacidade de carga, nem uma metodologia
padrão que permita aferir esta capacidade de carga (que estando relacionada com uma atividade
turística em áreas sensíveis devia ser capaz de medir e avaliar as diferentes capacidades de carga:
social, biofísica ou ecológica).
Com as alterações introduzidas em 2008 e 2009 na legislação que regulamenta o turismo, este
passou a poder ser praticado para além da rede nacional de áreas protegidas, ao contrário que
estava até então definido. Citando o Decreto‐Lei n.º 39/2008, “São empreendimentos de turismo de
natureza os estabelecimentos que se destinem a prestar serviços de alojamento a turistas, em áreas
classificadas ou noutras áreas com valores naturais, dispondo para o seu funcionamento de um
adequado conjunto de instalações, estruturas, equipamentos e serviços complementares
relacionados com a animação ambiental, a visitação de áreas naturais, o desporto de natureza e a
interpretação ambiental”. Essa alteração veio trazer também algumas disparidades ao nível da
regulação das áreas naturais uma vez que poderemos ter espaços que por pertencerem à RNAP
possuem vários instrumentos de gestão do território como Plano de Ordenamento (PO) e CDN como
poderemos, por outro lado, ter turismo de natureza em locais onde a conservação da natureza ou a
gestão do território se faz com instrumentos menos restritos e vocacionados para a temática. O
PNTN perdeu também parte da genuinidade e tipicidade do alojamento que definia ao ter eliminado
as casas de natureza sendo que atualmente, qualquer empreendimento turístico pode ser
considerado turismo de natureza desde que cumpra os requisitos da norma portuguesa de TN.
Mesmo para fazer um balanço completo dos 15 anos de PNTN seria necessário ter informação que
permitisse identificar os utilizadores turísticos assim como as suas motivações, perceções e
expetativas, a fim de monitorizar de forma eficiente o TN.
1.1.4. Rede Nacional de Áreas Protegidas & Classificadas
A Figura 1 mostra Portugal Continental e todas as suas Áreas Protegidas (AP) e Classificadas. Apesar
de todas possuírem valores importantes e serem dotadas de um estatuto de proteção, é na Rede
Nacional de Áreas Protegidas (RNAP) que encontramos aquelas com as ocorrências naturais de
maior valor e que, pela sua sensibilidade, importa gerir corretamente. Apesar de algumas áreas
classificadas da Rede Natura 2000, como é o caso da ZPE de Castro Verde, serem um bom exemplo
de uma importante área para o desenvolvimento do turismo de natureza, a verdade é que a maior
concentração de oferta turística e recreativa está nos territórios da RNAP onde existe igualmente
uma série de infraestruturas e serviços que as outras áreas classificadas não possuem.
O processo de criação de Áreas Protegidas é atualmente regulado pelo ICNF e prevê as seguintes
tipologias: Parque nacional, Parque natural, Reserva natural, Paisagem protegida e Monumento
natural. Em 2008 é criada legislação que prevê a criação de AP com estatuto privado.
Neste momento tempos em Portugal 50 Áreas Protegidas e a prova de que é possível compatibilizar
e gerar mais‐valias económicas em torno da Conservação da Natureza e da biodiversidade é o facto
de recentemente (2010), ter sido criada a primeira área protegida privada que desenvolve, com
sucesso, uma estratégia de comunicação baseada numa imagem apelativa à visitação.
Figura 1 Áreas Classificadas de Portugal Continental APs (Áreas Protegidas – RNAP) RAMSARs (Sitios classificados ao abrigo da convenção de RAMSAR) SICs (Sítios de Interesse Comunitário) ZPEs (Zonas de Proteção Especial)
1.2. Realidade das Atividades Turísticas e Recreativas nas Áreas Protegidas
Apesar de muito útil e essencial como forma de obter um retrato fiel das nossas Áreas Protegidas
(AP), a informação acerca do número e perfil dos seus utilizadores é ainda residual ou mesmo
inexistente, o que significa que qualquer conclusão baseada nessa informação tem grande
probabilidade de estar incorreta.
A entidade responsável pela gestão dessas áreas, o ICNF, disponibiliza um indicador dessa
informação – o Número de visitantes às sedes e centros de interpretação das Áreas Protegidas.
Trata‐se de um registo que é efetuado tendo em conta o número de utilizadores dos alojamentos
geridos pelo ICNF, utentes em visitas enquadradas pelas AP, pedidos de informação e vendas de
folhetos e publicações nas AP, desde 1997, como mostra a Tabela 1. Assim, segundo os números do
ICNF, visitam as AP de Portugal, em média 50.495 pessoas por ano, num total de 858.422 visitantes
ao longo dos 17 anos de contagem. Como é referido pelo próprio ICNF “os dados agora
disponibilizados são o registo dos serviços prestados localmente pelas AP e que devem ser lidos como
indicadores já que não permitem refletir todo o universo da visitação”.
Ano
Visitantes AP
(visitas guiadas) 1 1996 32.650 2 1997 79.161 3 1998 53.467 4 1999 38.063 5 2000 63.560 6 2001 99.190 7 2002 81.864 8 2003 86.854 9 2004 59.025 10 2005 41.097 11 2006 32.102 12 2007 33.524 13 2008 42.624 14 2009 44.099 15 2010 25.676 16 2011 24.627 17 2012 20.839TOTAL
858.422
50.495 Tabela 1 Número de visitantes às sedes e centros de interpretação das Áreas Protegidas (ICN 1996‐2012)Figura 2 Número de visitantes às sedes e centros de interpretação das Áreas Protegidas (ICN 1996‐2012)
Essa inconsistência dos dados pode ainda ser verificada se tivermos em conta os dados para os
parques nacionais em Espanha como é evidenciado na Figura 3. Neste caso podemos constatar um
total de aproximadamente 10 milhões (2010) de visitantes por ano. Mesmo tendo em conta a
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
diferença demográfica entre Portugal e Espanha, os 25.676 (ICN, 2010) utilizadores relativos a
Portugal são substancialmente inferiores aos 10 milhões verificados, na realidade, em Espanha.
Figura 3 Número de visitantes dos parques nacionais de Espanha | Fonte: http://reddeparquesnacionales.mma.es/parques/index.htm
No âmbito do Programa de Visitação e Comunicação na Rede Nacional de Áreas Protegidas
(PVCRNAP), foi produzido um relatório que fazia uma análise e interpretação da situação da visitação
das AP, à data em Portugal. É admitido nesse documento a escassez de dados quantitativos
existentes em relação à visitação, recreio e lazer nas AP em Portugal, indicando os números já
referidos anteriormente do ICNF e considerando‐os como as únicas informações estatísticas
disponíveis e relevantes para a análise. Ainda que referido que esses dados não traduziam, nem
sequer aproximadamente, a efetiva e real visitação das AP, foram feitas análises e retiradas
conclusões baseadas nos mesmos. O PNSAC é, segundo este relatório a terceira AP em Portugal
onde mais visitantes concretizaram pedidos de informação, e/ou participaram em visitas guiadas
com 32.224 (TT‐ThinkTur, 2006). O relatório faz ainda estimativas do número de visitantes das AP e
indica que o PNSAC poderá atingir 1.611.200 de visitantes espontâneos, 128.896 organizados e
64.448 que pedem informações. Estes são números com alguma magnitude se tivermos em conta
eventuais gastos médios por visita mas, que na falta de uma metodologia válida, se tornam meras
suposições.
1.3. Caracterização de visitantes
Apesar de em vários países o turismo fazer contributos significativos para a conservação de uma
série de espécies ameaçadas através dos orçamentos e verbas das áreas protegidas, a conservação
suporta o ecoturismo mais frequentemente do que o ecoturismo suporta a conservação. Dessa
forma, e para usar o turismo como uma ferramenta de conservação, primeiro temos de estudar o
comportamento e psicologia dos turistas assim como fazemos com a vida selvagem (Buckley, 2013).
Para além de essencial para a conservação da natureza, uma correta perceção dos utilizadores das
áreas protegidas é igualmente importante para a gestão da própria e, nessa lógica, as informações
acerca dos visitantes assumem relevância a nível regional, nacional e até mesmo internacional de
políticas, planeamento, elaboração de relatórios, pesquisas e comparações de realidades. Além
disso, essa informação pode e deve ser difundida aos próprios visitantes, assim como ao público em
geral. Revela‐se igualmente essencial definir uma harmonização dos dados recolhidos, de forma a
produzir informação que possa ser comparável e utilizável, em diferentes áreas e ao longo do
tempo. Um bom programa de monitorização de visitantes consiste na combinação entre o
conhecimento do número de visitantes e as suas características, pelo que é essencial a elaboração
de metodologias de inquirição de utilizadores e visitantes. Para além da indubitável necessidade da
conservação dos ecossistemas e recursos naturais, a gestão da natureza não é o único caminho para
a sua própria conservação. É necessário gerir as pessoas que cada vez mais a utilizam,
principalmente nestas áreas, uma vez que um aumento descontrolado da utilização destas áreas
pode gerar uma série de impactos negativos que, posteriormente terão um reflexo também ao nível
social e económico. (Visitor Monitoring in Nature Areas, 2007). Se a informação acerca dos
utilizadores for sendo recolhida, mantida disponível e atualizada, é possível perceber mudanças e
tendências que se possam revelar ao nível das atividades praticadas e facilmente são feitos os
ajustes necessários, dando ao gestor da AP indicadores acerca da aderência de uma qualquer
decisão estratégica aplicada e permitir‐lhe‐á ajustar ou dar continuidade à mesma.
Nesse sentido, o conhecimento e a caracterização de utilizadores das AP são algo cada vez mais
valorizado e assumem um papel de destaque ao nível das entidades gestoras do território e de
ambiente em vários países existindo várias formas de abordagem do assunto. O governo Americano,
por exemplo, criou uma ferramenta, o National Survey on Recreation and the Environment (NSRE)
baseada num inquérito que contempla questões que vão desde a recreação ao ar livre, à
demografia, passando pela estrutura familiar, estilos de vida, até às políticas de gestão, com o
objectivo de averiguar a forma como as pessoas encaram a recreação ao ar livre e as preocupações
com o meio ambiente. O NSRE dá ainda resposta às constantes mudanças sociais e económicas,
encarando a monitorização como forma de proceder aos necessários ajustes nas áreas da gestão
pública, investimentos empresariais e estratégias de gestão. O inquérito em causa é feito por
telefone, a 40.000 famílias, de todos os grupos étnicos, dos Estados Unidos, ao longo de 12 meses de
10 em 10 anos.
Outro exemplo importante, embora a um outro nível, é o da Suécia que elaborou um manual que
define uma metodologia de monitorização de visitantes em áreas naturais para os países nórdicos e
bálticos. O objetivo deste documento é estabelecer uma abordagem padronizada para a
monitorização de visitantes em áreas naturais da região de forma a que se proceda à recolha de
informação que possa ser utilizada e comparada ao longo do tempo pelas várias áreas protegidas da
região. Para além destes existem outros países onde estas questões assumem também grande
relevância como são os casos da Espanha, Austrália, Nova Zelândia, Itália, entre outros.
1.4. Objetivo
O objetivo do presente trabalho é fazer uma caracterização dos utilizadores turísticos e recreativos
das áreas protegidas, usando como área de estudo o Parque Natural das Serras de Aire e
Candeeiros. Para além da identificação de um perfil de utilizador, este trabalho pretende aferir
também algumas considerações acerca do grau de satisfação em torno do PNSAC bem como das
motivações que levam os seus utilizadores a deslocar‐se ao parque. Pretende‐se que desta
caracterização surjam dados importantes que permitam adaptar e melhorar a gestão da AP bem
como um ajuste na oferta turística e recreativa da mesma. É ainda objetivo desta tese testar
métodos que permitam, no futuro, desenvolver uma estratégia de monitorização dos utilizadores
turísticos e recreativos das áreas protegidas, aproveitando este documento como ponto de partida.
A opção de escolha pelo caso de estudo do PNSAC ficou a dever‐se, por um lado, à facilidade de
logística e acolhimento por parte da equipa de técnicos e dirigentes desta AP, por outro, pelo facto
de possuir já dois planos de ordenamento publicados e ter sido a primeira a ter carta de desporto de
natureza, o que em parte é justificado pela oferta de visitação que esta AP possui desde os anos 90.
2. Área de Estudo ‐ Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
2.1. Caracterização Geral
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros estende‐se ao longo de aproximadamente 39 mil
ha, abrangendo sete concelhos (Alcobaça, Porto de Mós, Alcanena, Ourém, Rio Maior, Santarém e
Torres Novas) como ilustra a Figura 4.
Figura 4 Enquadramento do PNSAC nos concelhos que o compõem
O PNSAC foi formalmente criado pelo Decreto‐Lei n.º 118/79, de 4 de Maio, advindo do facto de
estar integrado numa das unidades geomorfológicas mais marcantes e características do território
nacional, à qual deve a sua existência – Maciço Calcário Estremenho e cujos valores naturais ai
existentes impunha salvaguardar. O interesse na proteção, conservação e gestão deste território
encontra‐se igualmente sublinhado pelo facto de integrar o Sítio PTCON00015 (serras de Aire e
Candeeiros) da Lista Nacional de Sítios da Rede Natura. Do ponto de vista morfológico podem‐se
diferenciar, no Maciço Calcário Estremenho, três subunidades: a serra dos Candeeiros a oeste, o
planalto de Sto. António ao centro e a sul e o planalto de S. Mamede e a serra de Aire,
respetivamente a norte e este. A separar estas subunidades encontram‐se três depressões
originadas por grandes fraturas, respetivamente a depressão da Mendiga, o polje de Mira‐Minde e a
depressão de Alvados. O PNSAC é o mais representativo repositório de fenómenos cársicos no nosso
país, quer à superfície, como em profundidade (existência de mais de 1500 grutas). Apesar da
ausência de cursos de água de superfície, eles existem em abundância no subsolo, sendo, das várias
nascentes cársicas existentes na região, a mais conhecida e importante, no que toca a caudais
emitidos, a dos Olhos de Água do Alviela, que fornece água a Lisboa desde 1880.
O PNSAC assume uma relevância importante também ao nível de fauna e flora: Das formações
vegetais atualmente existentes são de salientar, pela sua importância, os carvalhais de carvalho‐
cerquinho (Quercus faginea) – espécie que só se encontra na Península Ibérica e norte de África,
uma zona de carvalho‐negral ou pardo da Beira (Quercus pyrenaica) e zonas muito limitadas de
azinheira (Quercus rotundifolia), de sobreiro (Quercus suber), de ulmeiros (Ulmusspp) e de
castanheiros (Castanea sativa). Estão identificadas cerca de 600 espécies vegetais o que significa que
no parque é possível observar cerca de um quinto das espécies vegetais que ocorrem no país.
Dessas, algumas só existem em Portugal, outras na Península Ibérica ou então na Península e norte
de África e outras ainda possuem uma área de distribuição ou estatuto de raridade que lhes
conferem uma situação especial em termos de conservação da natureza. Ao nível da fauna, a
existência de um grande número de biótopos conferem à área do PNSAC uma riqueza faunística,
essencialmente, numa grande diversidade espécies, nomeadamente de vertebrados. Assim,
encontra‐se já inventariado um total de 204 espécies, das quais 136 são aves, 38 mamíferos, 17
répteis e 13 anfíbios. As aves são o grupo com maior número de representantes neste parque, sendo
conhecidas mais de 100 espécies que lá nidificam. Algumas são mesmo importantes no contexto
nacional, como o bufo‐real ou a gralha‐de‐bico‐vermelho. O meio subterrâneo tem também grande
significado. Nas suas numerosas grutas abrigam‐se uma infinidade de seres vivos, dos quais se
destacam cerca de dez espécies de morcegos cavernícolas. O clima da área do PNSAC carateriza‐se
por constituir uma peculiar transição entre as condições mediterrâneas e atlânticas, sendo por isso
húmido, de temperaturas médias e com grande deficiência de água no verão. A juntar a todas as
características naturais acima referidas, o PNSAC dispõe ainda de uma situação geográfica muito
favorável no contexto nacional. Situado no centro do país, servido pela Autoestada do Norte (A1) e a
uma hora de Lisboa, o PNSAC goza de uma situação privilegiada para quem pretende desenvolver
uma qualquer atividade de turismo ou lazer. Este facto vem reforçar a escolha do caso de estudo do
PNSAC, referida no objetivo do trabalho (ICNF, 2013).
2.2. Plano de Ordenamento do PNSAC
O Plano de Ordenamento do PNSAC (POPNSAC), assim como na generalidade das áreas protegidas
está previsto na Lei de Bases do Ordenamento do Território, cabendo ao ICNF a competência para os
elaborar e executar. O primeiro POPNSAC data de 1998, tendo sido revisto em 2010. Neste pode ler‐
se que “Constituem objetivos gerais do POPNSAC assegurar uma estratégia de conservação e gestão
que permita a concretização dos objetivos que sustentaram a criação do PNSAC, bem como a
conservação dos habitats naturais, da fauna e flora selvagens protegidas, nos termos do regime da
Rede Natura 2000. Pretende‐se ainda fixar um regime de gestão compatível com a proteção e a
valorização dos recursos naturais e o desenvolvimento das atividades humanas, através de uma
definição de objetivos e estatutos de proteção adequados às diferentes áreas, bem como a definição
das respetivas prioridades de intervenção”. No que diz respeito ao objetivo desta tese, o POPNSAC
faz referência ao enquadramento, necessário, das atividades humanas através de uma gestão
racional dos recursos naturais, bem como as atividades de recreio e turismo com vista à promoção
simultânea do desenvolvimento económico e o bem‐estar das populações de forma sustentada. Está
disponível, em anexo a planta de condicionantes e a planta de síntese da proposta da última versão
do POPNSAC.
2.3. Carta de Desporto de Natureza PNSAC
O Regulamento do Desporto de Natureza na Área do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
(PNSAC) e respetiva carta estão definidos na portaria 1465/2004 de 17 de Dezembro, encontrando‐
se atualmente em processo de revisão, tendo sido a primeira a ser publicada no âmbito do PNTN. O
regulamento e a respetiva carta definem, no seu conjunto, as regras e orientações relativas a cada
modalidade de desporto de natureza, assim com os locais e as épocas do ano em que as mesmas
podem ser praticadas. Outro conceito que cabe às CDN considerar é a capacidade de carga mas que,
pela dificuldade de cálculo e em falta de uma metodologia, não foi feito, tendo sido decido optar
pela indicação do limite máximo de participantes que deve ser cumprido em cada uma das
atividades e locais. É permitido no PNSAC desenvolver nove atividades. Duas de ar: i) voo livre, ii)
balonismo. Seis de terra: i) pedestrianismo, ii) escalada, iii) orientação, vi) atividades equestres, v)
atividades em BTT, vi) espeleísmo e uma atividade de água: canoagem. Existem ao longo do PNSAC
seis locais de descolagem autorizados para a prática de voo livre, devidamente sinalizados no
terreno e dezasseis percursos pedestres de pequena rota. A canoagem, no limite do PNSAC, pode
ocorrer em duas zonas: Olhos d’Água do Alviela e Polje de Minde‐Mira e é interdita nas lagoas
situadas no Polje de Mira‐Minde. A espeleologia apenas pode ser praticada no PNSAC em quatro
cavidades. A utilização dos locais de aterragem para a atividade de balonismo depende de
autorização dos respetivos proprietários ou entidades gestoras dos espaços bem como da aprovação
do PNSAC. Apesar da exaustiva descrição dos locais na CDN (Figura 5) é facilmente verificável que,
na realidade, a utilização do PNSAC para a prática desportiva vai mais além do que os locais
indicados e destinados a cada atividade nesse documento.
Figura 5 Carta de Desporto Natureza do PNSAC
3. Materiais e Métodos
3.1. Inquérito
3.1.1. Planeamento, construção e estrutura
A experiência mostra que, se o objetivo é estudar visitantes de Áreas Protegidas, o método de
recolha deverá ser, preferivelmente, no local (Visitor Monitoring in Nature Areas, 2007). No âmbito
dos objetivos foram recolhidos inquéritos, no interior do PNSAC através de vários métodos mas
dando preferência aos métodos in‐sito. Foi testado, para além desses, o método de preenchimento
on‐line do inquérito. O inquérito usado neste trabalho (ver anexo I) está dividido em três partes
distintas, tendo em conta os níveis de informação que se quis obter: Uma primeira parte, intitulada
“Motivações e Preferências dos Utilizadores da Área Protegida”, onde os visitantes são inquiridos
acerca dos motivos que os levaram a deslocar‐se à AP, a forma como o fizeram, o meio de
transporte utilizado, o tempo despendido, a eventual necessidade de alojamento, entre outros. Uma
segunda parte, intitulada “Grau de Satisfação em Relação à AP”, onde é pedido ao inquirido que
classifique a AP a vários níveis assim como indique os fatores de distúrbio que tenha verificado
durante a sua permanência na AP. A terceira e última parte do inquérito, intitulada “Utilizadores da
AP”, pretende recolher informação que permita traçar um perfil do inquirido, através do género,
faixa etária, grau académico, rendimento, entre outros. Uma das questões que se revela por vezes
mais difícil de obter tem a ver com a verba gasta durante a permanência na AP. Neste caso foi
pedido à pessoa que fizesse uma estimativa total, tão abrangente quanto possível, tendo em conta
vários aspectos como as despesas com o alojamento, combustível, recordações, etc, tendo sido
calculada a média desse valor. O design e esquema do inquérito foi padronizado de acordo com
algumas das normas utilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de forma a que os
resultados pudessem ser comparados com dados fornecidos por essa entidade. Foi feito um teste de
campo à versão provisória do inquérito a um total de 50 pessoas. Desse teste concluiu‐se que
alguma linguagem não estava clara, gerando confusão pelo que houve a necessidade de redefinir
algum texto e apresentação. Algum conteúdo e a organização das questões basearam‐se em
inquéritos já realizados na mesma área e com os mesmos propósitos, destacando‐se os seguintes
exemplos: i) Hornback, K. E., & Eagles, P. F. J. (1999). Guidelines for Public Use Measurement and
Reporting at Parks and Protected Areas; ii) Swedish Environmental Protection Agency. (2007). Visitor
Monitoring in Natures Areas; iii) Moore, S. A., Crilley, G., Darcy, S., Griffin, T., Taplin, R., Tonge, J., …
Smith, A. (2009). Designing And Testing a Park‐Based Visitor Survey; iv) University of Eastern Finland.
(2011). Sustainable Tourism in Enterprises, Parks and Protected Areas; v) University of Greifswald.
(2011). Report of the visitor survey 2010 ‐ South‐East Ruegen Biosphere Reserve.
3.1.2. Recolha de dados
A recolha dos dados foi feita através de três métodos distintos: a) recolha in‐sito assistida; b) recolha
in‐sito não assistida e c) recolha ex‐sito não assistida. A recolha in‐sito assistida consistiu numa
recolha no local, dentro dos limites do PNSAC, onde a pessoa inquirida se encontrava a praticar uma
qualquer atividade recreativa ou de lazer. Neste método, os visitantes foram inquiridos por outra
pessoa que guiava a entrevista e esclarecia qualquer dúvida que pudesse surgir. Não havendo
informação de base sobre a visitação e utilizações recreativas e turísticas no PNSAC, a determinação
dos locais de recolha in‐sito assistida teve como base uma análise em “SIG” das áreas mais utilizadas
pelos utilizadores do PNSAC a partir de informações disponibilizadas pelos próprios em sites
especializados de partilha de tracks de GPS (de que são exemplo o GPSsies.com, WkiLOC, o strada,
ou o ENDOMONDO). Neste caso concreto foi utilizado o GPSies.com, uma vez que já havia sido
utilizado e testado (Mendes, 2012) com bons resultados. Para o efeito, foram definidos cinco locais,
dentro dos limites do PNSAC, que permitiram ter uma abrangência tão grande quanto possível da
área do mesmo, como mostra a Figura 6. Foram eles: Minde, Porto de Mós, Rio Maior, Alcanena e
Cabeça da Veada.
Figura 6 Pontos centrais das buscas no site GPSies.com para a recolha de tracks GPS que permitiram determinar os locais de reclha in‐ sito assitida
A partir desses pontos foram feitas buscas individualizadas, no sítio GPSies.com, nas seguintes
modalidades e com os seguintes critérios:
Percursos Pedestres, num raio de 10Km e limitados a uma extensão máxima de 25Km.
Percursos de Ciclismo, num raio de 10Km e limitados a uma extensão máxima de 75Km.
Percursos de veículos TT, num raio de 20km e sem limite de extensão.
Os resultados dessas buscas foram exportados em ficheiros GPX e agrupados por atividade, sendo
posteriormente projetados e utilizados em ambiente SIG. Essa informação foi sobreposta com o
limite do PNSAC, tendo sido eliminada, através do comando selected feature, toda a informação que
não cruzava os limites do parque de forma a excluir a informação não relevante para o objetivo da
determinação dos locais de recolha in‐sito.
Figura 7 "Selected feature" de eliminação da informação não interceptada com o limite do PNSAC (recolha in‐sito assistida seguindo a metodologia de Mendes, 2012.