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Abordagem à Patologia de Dorso em Equinos

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Academic year: 2021

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

ABORDAGEM À PATOLOGIA DE DORSO EM EQUINOS

Marta Teresa dos Santos Sousa

Orientador

Luís Miguel Paiva Benites da Silva Athayde Coorientadores

Rodrigo Riba de Ave Wilson Roberto Fernandes Kevin Corley

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

ABORDAGEM À PATOLOGIA DE DORSO EM EQUINOS

Marta Teresa dos Santos Sousa

Orientador

Luís Miguel Paiva Benites da Silva Athayde Coorientadores

Rodrigo Riba de Ave Wilson Roberto Fernandes Kevin Corley

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RESUMO

O meu estágio curricular centrou-se na área de Medicina e Cirurgia de Equinos. Foi minha preocupação, ao planeá-lo, tentar conhecer diferentes realidades, áreas e formas de trabalhar.

O primeiro período de estágio decorreu em Portugal, onde acompanhei o trabalho do Dr. Rodrigo Riba de Ave, no seguimento do estágio extracurricular que tinha iniciado alguns meses antes. Durante este estágio, acompanhei casos de diferentes áreas mas principalmente de Medicina Desportiva, quer exames de claudicação, quer acompanhamentos de rotina pré e pós-provas. Pude aprender e praticar técnicas de maneio, observar e executar alguns procedimentos e exames físicos mas a principal aprendizagem foi conhecer o maneio e o trabalho dos cavalos de desporto, discutir e acompanhar a evolução de cada caso e os desafios inerentes.

O segundo período decorreu no Departamento de Clínica Médica do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (HOVET USP), Brasil. Aqui pude acompanhar e participar ativamente na rotina do hospital desde os cuidados diários dos animais internados, às consultas e realização de exames complementares de diagnóstico. Apesar de me encontrar no serviço de Clínica Médica pude acompanhar a maioria dos casos cirúrgicos bem como alguns procedimentos. A casuística do hospital era bastante e variada, o que me possibilitou ver na prática muitos casos e patologias diferentes.

O terceiro período realizou-se no Anglesey Lodge Equine Hospital (ALEH), Irlanda, onde acompanhei principalmente o serviço de Medicina Interna e Cuidados Intensivos, na altura ocupado maioritariamente com casos de Neonatologia. Este estágio permitiu-me aprofundar os meus conhecimentos nestas áreas e contatar com a realidade dos cavalos de corrida.

Durante o estágio, os problemas de dorso despertaram a minha atenção, quer pela sua complexidade, quer pela sua importância enquanto problemas primários ou secundários que podem comprometer seriamente o desempenho do cavalo. Por isso, decidi escolher para o meu relatório de estágio o tema “Abordagem à Patologia de Dorso em Equinos”.

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CASUÍSTICA

Patologias/Situações Acompanhadas Horsevet

Team HOVET USP ALEH Sistema musculosquelético

Artrite/artrite séptica 1 4

Calcificação das cartilagens alares 1

Deformidades flexoras/angulares 1 4

Deslocamento lateral do tendão flexor digital

profundo (TFDP) 1

Desmite do ligamento sesamoide oblíquo 1

Desmite do ligamento suspensor do boleto 3 2 2

Esparvão ósseo 1 1

Exame de rotina de aparelho locomotor 4

Exungulação 1

Fraturas 4 5

Lacerações de tecidos moles 2 1

Laminite crónica/Laminite crónica séptica 4

Necrose de ranilha 1

Osteíte séptica da 3ª falange 1

Osteoartrite 1 1 1

Osteocondrose/Osteocondrite dissecante 6

Osteodistrofia 1

Osteomielite 1 3

Patologia de dorso 4 1 2

Perosteíte da face dorsal do 3º metacarpiano 1

Reabsorção óssea da 3ª falange 1

Sensibilidade de cascos após ferração 1

Sesamoidite 2

Síndrome podo-troclear 1 1

Tendinite do tendão gastrocnémio 1

Tendinite do tendão flexor digital superficial

(TFDS) 3 1 Tenossinovite crónica 1 Oftalmologia Úlcera de córnea 1 1 Glaucoma 1 Uveíte 1 1

Neoplasia da membrana nictitante 1

Dermatologia Celulite 1 Quisto epidérmico 1 Epidermólise bolhosa 1 Sarcoide 1 Hiperplasia da ranilha 1 Dermatite 1 Fleimão 1 Otite crónica 2 Sistema Respiratório Bronquite/Bronquite crónica 1 1

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Pneumonia 1 1 9

Pleuropneumonia por corpo estranho 1

Abcessos pulmonares 1

Deslocamento dorsal do palato mole 1

Hemiplagia laríngea 1 3 Neoplasia nasal 1 Hematoma etmoidal 1 Sinusite 1 Quisto laríngeo 1 Gurma 1

Hemorragia pulmonar induzida por exercício 1

Sistema Digestivo

Cólica

 Sem etiologia identificada 2 2

 Hérnia inguino-escrotal 1 1

 Torsão de cólon maior 1

 Impactação de íleo/cólon maior 1 4

 Deslocamento de cólon maior 2 1

 Encarceramento no ligamento nefrosplénico

2

 Compactação gástrica 1

 Obstrução por enterólito/fecaloma 2

 Colite 1 Hepatopatia/Hepatopatia crónica 5 Fratura dentária 2 Fístula dentária 1 Hérnia inguino-escrotal 2 Gastrite 2 Doença de Tyzzer 1 Enterocolite 6 Síndrome de má-absorção 1 Diarreia crónica 3 Prolapso retal 1 Neurologia

Mieloencefalite parasitária equina 5

Tétano 1

Lesão unilateral do nervo facial 1

Sistema Génito-urinário Mastite 3 Cistite 1 1 Criptorquidismo 4 Seminoma 1 Orquite 1 Parálise do pénis 1 Urolitíase vesical 1 Acompanhamento peri-parto 3 Rutura de bexiga 2

Ecografia reprodutiva/redução embrionária 4

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Sopro cardíaco 2 2

Outros

Síndrome de Asfixia Perinatal 3

Babesiose 1

Perda de performance (em investigação) 1

Exame de compra 1

Vacinação 1

Controlo de Doping 1

Profilaxia para Rhodococcus equi 7

Endoscopias de rotina pré-corrida 10

Total 24 100 99

Total de casos 23 79 88

Tabela I. Casuística nos diferentes locais de estágio.

ESTATÍSTICA DA CASUÍSTICA – DIVISÃO POR SISTEMAS DO ORGANISMO

Gráfico I. Distribuição global da casuística durante todo o estágio.

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Gráfico III. Distribuição da casuística durante o estágio no HOVET USP.

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AGRADECIMENTOS

Durante este estágio, cruzei-me e convivi com muitas pessoas. Muitos foram os que contribuíram para a minha aprendizagem e crescimento, que me orientaram e que estiveram comigo nos bons e menos bons momentos! O enriquecimento pessoal que me proporcionaram é algo muito positivo que este estágio me trouxe e que não será perdido ou esquecido.

Muito obrigada…

Ao meu orientador, Professor Luís Atayde, por toda a ajuda, compreensão e por tudo que me ensinou ao longo do curso.

Ao Professor Tiago Pereira pela ajuda no planeamento do estágio e, também, por todos os ensinamentos.

Ao Dr. Rodrigo Riba de Ave, meu coorientador, pela partilha de conhecimento, pela preocupação em ensinar e por todo o apoio.

Ao Professor Wilson Roberto Fernandes, meu coorientador no HOVET USP, pela simpatia, preocupação e por tudo o que me ensinou.

Às Professoras Raquel Baccarin e Carla Belli e restante corpo docente do HOVET USP por todos os ensinamentos, confiança e disponibilidade para os estudantes.

Aos residentes do HOVET USP e restante corpo clínico, por toda a entreajuda, ensinamentos e amizade.

A todos os pós-graduandos do HOVET USP, por partilharem a sua experiência e conhecimento comigo, em especial, à Mônica Lente por todo o seu apoio e companheirismo.

A todos os meus colegas de estágio nos diferentes locais, pela companhia, solidariedade e bons momentos passados.

Ao Dr. Kevin Corley, meu coorientador no ALEH, pela oportunidade e pelos seus ensinamentos.

A todos os clínicos e enfermeiros do ALEH, especialmente, à Jonna, Ylva, Marta e Alessandra, por tudo o que me ensinaram e pela ótima companhia.

À minha família, pela infindável paciência comigo, por me permitirem todas estas experiências, por todo o apoio e por tudo o mais!

À Nair, pela amiga que é, por tornar São Paulo uma segunda casa e pelo apoio e generosidade extraordinários.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AINEs – Anti-inflamatórios Não-Esteroides ALEH – Anglesey Lodge Equine Hospital Cd4 – Quarta Vértebra Coccígea/Caudal

HOVET USP – Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo

L2 – Segunda Vértebra Lombar L3 – Terceira Vértebra Lombar L4 – Quarta Vértebra Lombar L5 – Quinta Vértebra Lombar L6 – Sexta Vértebra Lombar MA(s) – Membro(s) Anterior(es) MAD – Membro Anterior Direito MAE – Membro Anterior Esquerdo MP(s) – Membro(s) Posterior(es) MPD – Membro Posterior Direito MPE – Membro Posterior Esquerdo S1 – Primeira Vértebra Sacral S2 – Segunda Vértebra Sacral S5- Quinta Vértebra Sacral

T15 – Décima Quinta Vértebra Torácica T16 – Décima Sexta Vértebra Torácica T17 – Décima Sétima Vértebra Torácica T2 – Segunda Vértebra Torácica

TENS – “Transcutaneous Electrical Nervous Stimulation” TFDP – Tendão Flexor Digital Profundo

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ÍNDICE GERAL

RESUMO i

CASUÍSTICA ii

AGRADECIMENTOS vi

LISTA DE ABREVIATURAS vii

ÍNDICE GERAL viii

INTRODUÇÃO 1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA – Abordagem à Patologia de Dorso em Equinos 2 I. ANATOMIA E ASPETOS FUNCIONAIS DA COLUNA VERTEBRAL 2

II. DIAGNÓSTICO 4

2.1. Fatores que influenciam o diagnóstico 4 2.2. Anamnese e fatores predisponentes 5

2.3. Exame físico 6

2.3.1. Inspeção 6

2.3.2. Palpação e pressão 7

2.3.3. Mobilização 8

2.3.4. Exame dinâmico 8

2.3.5. Avaliação da sela e outros aparelhos 9 2.3.6. Bloqueios anestésicos 9 2.4. Diagnóstico por imagem 10

2.4.1. Radiografia 10 2.4.2. Ecografia 10 2.4.3. Cintigrafia nuclear 11 2.4.4. Termografia 11 III. PATOLOGIAS 11 3.1. Estruturas ósseas 12

3.1.1. “Kissing spines” (ou conflito de processos espinhosos) 12 3.1.2. Fraturas vertebrais e pélvicas 13 3.2. Deformidades conformacionais 13 3.3. Estruturas articulares 14 3.3.1. Osteoartrite das articulações intervertebrais sinoviais 14 3.3.2. Afeções da articulação sacroilíaca 14

3.4. Tecidos moles 15

3.4.1. Lesão muscular 15

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3.4.3. Desmite do ligamento sacroilíaco dorsal 16 IV. TRATAMENTO DE REABILITAÇÃO 16

4.1. Tratamento médico 17 4.2. Cirurgia 18 4.3. Acupuntura 18 4.4. Quiroprática 18 4.5. Fisioterapia 19 4.6. Reabilitação 19 CASOS CLÍNICOS 20

Caso Clínico Número 1 20

Caso Clínico Número 2 21

Caso Clínico Número 3 23

Discussão 25

CONCLUSÃO 27

BIBLIOGRAFIA 28

ANEXOS 31

Anexo I – Caso Clínico Número 1 31 Anexo II – Caso Clínico Número 2 32 Anexo III – Caso Clínico Número 3 34

Anexo IV 35

Anexo V 37

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INTRODUÇÃO

As patologias de dorso constituem uma causa comum de considerável desgaste e perda de performance, afetando cavalos atletas em quase todas as modalidades. (Jeffcott & Haussler 2004) Isto pode ser explicado pelo facto de o dorso constituir o componente anatómico crucial na biomecânica do cavalo, sendo a real fonte de movimento, equilíbrio e coordenação. (Denoix & Pailloux 2001)

O surgimento dos problemas de dorso está relacionado com diversos fatores que vão desde características inerentes ao cavalo, como conformação, à modalidade que desempenham e forma como o seu treino e trabalho diário se desenrolam.

Apesar de todos os avanços tecnológicos, o diagnóstico de dor de dorso continua a depender do avaliador quer na execução do exame físico, quer na capacidade de recolher a informação mais relevante. (Martin & Klide 1999)

A falta de sinais clínicos claros, a falta de estudos na patologia e biomecânica do problema e o parco conhecimento acerca dos aspetos funcionais da coluna vertebral, apesar dos avanços feitos nos últimos anos, complicam o diagnóstico e levam a que haja toda uma controvérsia em volta da questão. (Jeffcott & Haussler 2004)

Pela complexidade do assunto, procura-se neste trabalho, “Abordagem à Patologia de Dorso em Equinos”, focar os princípios que devem constituir a abordagem ao problema, algumas das patologias mais comuns e as opções de tratamento que existem na atualidade. Os casos clínicos pretendem ilustrar a realidade da prática clínica, as diferentes abordagens praticadas e a dificuldade que representa a gestão deste problema nos cavalos de desporto.

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Fig.1. Esqueleto axial do cavalo, posição relativa das diferentes estruturas. (Adaptado de Henson 2009)

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - ABORDAGEM À PATOLOGIA DE DORSO EM EQUINOS

I. ANATOMIA E ASPETOS FUNCIONAIS DA COLUNA VERTEBRAL

O conhecimento da estrutura e função da coluna vertebral (Fig.1) constitui a base para a compreensão das afeções que a acometem e identificação de alterações patológicas, anomalias de desenvolvimento e variações anatómicas normais. (Haussler 1999a)

Duas vértebras adjacentes e os tecidos moles associados formam o segmento de movimento vertebral, a unidade estrutural e funcional da coluna vertebral. (Haussler 1999a, Denoix 1999) O movimento regional e global da coluna vertebral resulta do efeito cumulativo de todos os segmentos. (Jeffcott & Haussler 2004)

O tamanho, morfologia e orientação das vértebras variam ao longo das diferentes regiões da coluna vertebral, o que resulta nas particularidades funcionais e biomecânicas de cada região. (Denoix 1999) A variação da orientação dos processos espinhosos deve-se teoricamente à interação com os tecidos moles que neles se inserem. (Haussler 1999a) Na região torácica cranial, orientam-se dorsocaudalmente. Nesta região são exercidas forças criadas pela cabeça, pescoço e membros anteriores, que a coluna vertebral tem de contrariar, enquanto a região torácica caudal e lombossagrada, onde se orientam dorsocranialmente, tem de resistir às forças exercidas pelos membros posteriores e locomoção. (Haussler 1999a)

As vértebras articulam entre os corpos vertebrais através dos discos intervertebrais fibrocartilagíneos. A espessura dos discos intervertebrais influencia, proporcionalmente, a mobilidade vertebral. (Haussler 1999a, Denoix 1999) Os processos articulares formam, bilateralmente, as articulações sinoviais intervertebrais craniais e caudais. A sua orientação varia ao longo da coluna e isso determina o tipo de movimento executado por cada região. (Haussler 1999a) Na coluna cervical, os processos estão orientados a 45° o que permite uma grande amplitude de

movimento, ao nível de T2 passam a uma posição horizontal; o que permite a flexão lateral e rotação. A partir de T16, a orientação vertical dos processos articulares limita o movimento,

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Fig.2. Secção da coluna vertebral. 1. Ligamento supraspinhoso; 2. Ligamento interespinhoso; 3. Ligamento longitudinal ventral; 4. Disco intervertebral; 5. Articulação intervertebral sinovial; 6 e 7. Processos espinhosos. (Adaptado de Denoix & Dyson 2011)

essencialmente, à flexão dorsoventral. (Haussler 1999a)

Os processos transversos atuam na manutenção da postura, na rotação e flexão lateral. (Haussler 1999a) Entre as últimas vértebras lombares existem articulações sinoviais intertransversas que ajudam a transferir as forças propulsivas dos membros posteriores para a coluna vertebral e oferecem resistência à rotação axial e flexão lateral. (Haussler 1999a, Denoix & Dyson 2011)

A coluna vertebral articula com a pélvis através das articulações sacroilíacas. A articulação participa na transmissão das forças propulsivas dos membros posteriores para a coluna vertebral. (Haussler 1999a)

Ao nível da coluna cervical, o ligamento nucal insere-se na superfície dorsal dos processos espinhosos e continua, na região toracolombar, como ligamento supraspinhoso, estabilizando os processos espinhosos e impedindo a flexão vertebral excessiva. (Haussler 1999a) Os ligamentos longitudinais (dorsal e ventral) recobrem e unem os corpos vertebrais reforçando os discos intervertebrais, enquanto os ligamentos interespinhosos e intertransversos unem os respetivos processos vertebrais (Fig.2). Os ligamentos sacroilíacos (dorsal, ventral e interósseo) suportam a articulação e o peso da porção caudal da coluna vertebral. (Haussler 1999a)

Os músculos axiais dividem-se em intrínsecos e extrínsecos, epaxiais e hipoaxiais. Os músculos epaxiais (músculos iliocostais, “longissimus” e transversoespinais), situados dorsalmente aos processos transversos, são responsáveis pela extensão, flexão lateral ou rotação da coluna vertebral, dependendo se a ativação é uni ou bilateral. (Haussler 1999a, Denoix & Dyson 2011) Por sua vez, os músculos hipoaxiais (e.g., psoas maior, menor e ilíaco) encontram-se abaixo dos processos transversos e quando ativados produzem a flexão, flexão lateral e rotação do dorso. (Haussler 1999a) O psoas maior e o íliaco juntos formam o íliopsoas que, quando o membro posterior está estabilizado, induz flexão da coluna lombar e pélvis ao nível das articulações sacroilíacas. (Haussler 1999a)

A inervação da coluna vertebral e tecidos moles associados é fornecida pelos ramos sensitivos dos ramos dorsais e nervos meníngeos recorrentes que medeiam a nocicepção e propriocepção. (Jeffcott & Haussler 2004)

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II. DIAGNÓSTICO

2.1. FATORES QUE INFLUENCIAM O DIAGNÓSTICO

Nas afeções de dorso, o grande número de condições que podem estar por detrás do problema, a existência de lesões crónicas ou recorrentes, a possibilidade de haver mais de um local de lesão ou patologia presente ou de a causa primária não se encontrar no dorso tornam cada caso suspeito num desafio diagnóstico. (Jeffcott 1980, 1999)

As dificuldades começam na apresentação de sinais clínicos, pela falta de um quadro característico. (Jeffcott 1999) A queixa mais comum nestas situações é a perda de performance. (Jeffcott 1980, 1982, Martin & Klide 1999, Goff et al. 2008) Um diagnóstico definitivo é frequentemente feito por eliminação de diagnósticos diferenciais, mais do que pela identificação de sinais clínicos específicos. (Jeffcott 1999) E, por vezes, não é possível chegar a uma conclusão. Um estudo de Jeffcott (1980) reporta, em 443 casos, 7% de situações em que não foi possível chegar a um diagnóstico.

A avaliação da presença de dor ao nível do dorso é dificultada por vários fatores, desde anatómicos a comportamentais. Anatomicamente, as estruturas ósseas e articulares palpáveis são limitadas pelos grandes grupos musculares, que dificultam também a localização do foco de dor. (Jeffcott 1999, Denoix & Dyson 2011) O temperamento e o limiar de dor de cada animal influenciam a resposta aos estímulos durante o exame físico e consequentemente a perceção do clínico da presença de dor e respetivo grau. (Jeffcott 1999) Um exemplo, é o comportamento conhecido como “cold back”, que surge nalguns animais que ao serem aparelhados e montados contraem o dorso e tentam esquivar-se. Normalmente cessa após o início do trabalho, sem prejudicar o desempenho. (Jeffcott 1999, 1979, Denoix & Dyson 2011) Pode ser temperamental ou pode efetivamente refletir um problema no dorso presente ou passado mas, em muitos casos, não são encontradas lesões subjacentes. (Jeffcott & Haussler 2004) Além disso, a ausência de critérios significativos e de um sistema objetivo de quantificação do grau de dor dificulta a sua avaliação concreta e pode torná-la subjetiva. (Jeffcott 1999)

Ao longo do tempo formaram-se as mais variadas opiniões acerca das afeções de dorso, incluindo dúvidas acerca da real existência do problema. Estudos vieram esclarecer esta questão e demonstrar que ocorrem efetivamente, numa variedade de formas. Podem ser primários (lesões identificáveis no dorso), secundários (aumento de pressão ou esforço exercidos no dorso resultado de lesões noutras zonas do corpo), aparentes/suspeitos (assemelham-se a um problema de dorso mas sem evidências anatómicas ou patofisiológicas). (Jeffcott 1980)Esta última classe é também uma das fontes de controvérsia e de dificuldade no

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diagnóstico. (Jeffcott & Haussler 2004) Incluem-se aqui condições como lesões do esqueleto apendicular, problemas de dentição, de temperamento ou de equitação. (Jeffcott 1980)

2.2. ANAMNESE E FATORES PREDISPONENTES

Tendo as patologias toracolombares tão variadas manifestações, torna-se ainda mais importante a obtenção de uma história clínica completa. A caracterização do paciente deve ser feita incluindo informações como idade, sexo, estado reprodutivo, aptidão e regime de trabalho. Devem ser obtidos dados desde a aquisição do cavalo: estado físico e performance no momento; trabalho desenvolvido desde então; alterações feitas no tipo de trabalho, cavaleiro, sela ou aparelhos utilizados; problemas de saúde e resposta aos tratamentos. Associar estas informações à queixa do proprietário e eventos recentes permite inferir sobre a duração do processo e possível causa. (Jeffcott & Haussler 2004, Martin & Klide 1999)

História de trauma e alterações repentinas e/ou óbvias no animal podem explicar casos de dor aguda. Em casos crónicos normalmente é difícil reconhecer quando iniciou o problema e é comum terem ocorrido alterações no comportamento e temperamento do animal (e.g., tornam-se difíceis de lidar, mudam de atitude no trabalho). (Jeffcott & Haussler 2004)

Dificuldade a urinar ou defecar, relutância a deitar, desconforto ao escovar são sinais que podem surgir em animais com dor severa. (Jeffcott & Haussler 2004, Martin & Klide 1999) Podem também manifestar desconforto durante a ferração e quando lhes é exercida pressão sobre o dorso (e.g., ao colocar a sela). (Jeffcott & Haussler 2004, Martin & Klide 1999) Para além destes, os sinais clínicos que podem surgir associados a patologias de dorso são: perda de performance, incapacidade de alargar a passada na transição para um andamento mais rápido, rigidez na ação dos membros posteriores, claudicação, perda de flexibilidade, dificuldades em se movimentar à retaguarda. (Jeffcott 1982, 1999, Jeffcott & Haussler 2004, Martin & Klide 1999) Em cavalos de saltos de obstáculos as queixas podem incluir: saltar com o dorso fletido e fixo, relutância a saltar especialmente combinações, perda de fluidez e “timing”, nervosismo e pressa em chegar ao obstáculo.(Jeffcott 1999)

A raça, aptidão e conformação do cavalo (Fig.10, Anexo IV) estão associados ao tipo de lesão de dorso sofrida. (Jeffcott 1979) Por exemplo, verificou-se uma prevalência de “kissing

spines” em cavalos de saltos de obstáculos e em cavalos Puro Sangue Inglês. (Jeffcott 1980)

A preparação, ensino do cavalo, o cavaleiro e a forma como é trabalhado devem ser também avaliados por várias razões. É comum os proprietários culparem a falta de capacidade do cavalo ou um problema físico quando, na verdade, a causa da baixa performance são questões de trabalho; por outro lado, a forma como é trabalhado pode predispôr o cavalo a um problema de dorso ou exacerbar um problema prévio. (Denoix & Dyson 2011, Jeffcott &

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Haussler 2004) Já a manutenção da condição física do cavalo e o trabalho regular são essenciais para que o cavalo consiga desempenhar o seu trabalho sem risco de fadiga e esforços musculares. A falta de trabalho regular pode levar a relutância e falta de disponibilidade do cavalo quando lhe é exigido mais, o que pode ser confundido com perda de performance. (Jeffcott & Haussler 2004)

2.3. EXAME FÍSICO

O objetivo do exame físico da coluna vertebral é perceber se efetivamente existe um problema e localizar a lesão, determinar se é aguda ou crónica, localizada ou regional. A localização da lesão dá-nos uma indicação do tipo de estrutura possivelmente afetada: se no ponto médio do dorso, é provavelmente uma lesão óssea; já na região toracolombar cranial e caudal, ocorrem principalmente lesões dos tecidos moles. (Jeffcott 1999)

Executando um exame ortopédico completo e um exame neurológico é possível descartar patologias nervosas e a presença de outras alterações no aparelho locomotor. Em casos de éguas com problemas de dorso recorrentes ou refratários, está indicado um exame do aparelho reprodutor procurando nomeadamente estruturas anormais nos ovários. (Jeffcott & Haussler 2004) O exame da cavidade oral está também indicado para descartar problemas de dentes. (Jeffcott & Haussler 2004) Pode também ser necessário recorrer a exames laboratoriais, nomeadamente para exclusão de diagnósticos diferenciais como rabdomiólise.

A ordem segundo a qual é executada cada parte do exame é relevante pelo que é importante ter um protocolo estabelecido e utilizá-lo sistematicamente. (Martin & Klide 1999) No final do exame, após o esforço físico, as alterações encontradas devem ser reavaliadas. (Martin & Klide 1999, Jeffcott & Haussler 2004)

2.3.1. Inspeção

Os parâmetros a avaliar são os seguintes:

 temperamento e comportamento - sinais de dor e desconforto como alterações repentinas de comportamento, reação a estímulos ligeiros, recusa a cooperar;

 movimentação e atitude na box e em liberdade - coordenação, mobilidade dos membros, tronco, pescoço e cabeça, facilidade de execução dos movimentos;

 condição corporal - sinais de caquexia, desenvolvimento muscular;

 pele - marcas da sela (Fig.13, Anexo IV), alopécia, escoriações podem indicar a causa/local da lesão;

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 conformação - desenvolvimento do pescoço, altura e forma do garrote, comprimento do tronco relativamente à altura e simetria pélvica, presença de curvaturas anormais;  postura - posição dos membros relativa ao tronco;

 simetria e desenvolvimento muscular - atrofia local ou generalizada, hipertrofia;

 simetria óssea - linha média do dorso, altura da tuberosidade sacral em relação ápice do segundo processo espinhoso sacral, tuberosidade coxal e tuberosidade isquiática.

2.3.2. Palpação e Pressão

Esta parte do exame deve ser realizada com o animal calmo e quadrado para avaliar corretamente as respostas aos estímulos. A reação do cavalo à aproximação e a antecipação da manipulação podem indicar potencial dor ou hipersensibilidade. (Jeffcott & Haussler 2004)

A sensibilidade cutânea não é um teste fidedigno devido à variabilidade entre animais sendo, por isso, mais objetivo recorrer à palpação e pressão para identificar alterações na textura, forma, mobilidade e sensibilidade dos tecidos. (Martin & Klide 1999, Jeffcott & Haussler 2004, Jeffcott 1975) Uma resposta pode ser considerada significativa quando o animal mostra claros sinais de desconforto e reflexos anormais. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011, Cauvin 1997) A sensibilidade de estruturas ósseas e tecidos moles também pode ser testada através de algometria, determinando valores anormais de limiar de dor e assimetrias. (Jeffcott & Haussler 2004, Heus et al. 2010)

Palpação transcutânea e palpação retal permitem avaliar:

 processos espinhosos - dor, simetria, forma e alinhamento. Proeminência e desvio lateral são de valorizar se associados a dor localizada, hipertonicidade muscular ou sinais de desconforto. O desvio lateral pode ser idiopático ou estar associado a fraturas, espasmos musculares unilaterais ou “kissing spines” (Jeffcott & Haussler 2004);

 tuberosidade sacral, coxofemoral e isquiática - assimetrias na altura, proeminência, resposta dolorosa à pressão e sinais de inflamação. Pode ocorrer resposta dolorosa e assimetrias em fraturas da pélvis e afeção da articulação sacroilíaca (Jeffcott & Haussler 2004, Jeffcott 1980, Dyson & Murray 2003);

 cavidade pélvica – sinais de inflamação, assimetria, dor, calos ósseos. Por palpação retal, podem ser detetadas alterações consistentes com fraturas pélvicas e sacrais, espondilose e lesões da musculatura hipaxial (Jeffcott & Haussler 2004);

 articulação sacroilíaca - projeção dorsolateral no canal pélvico. Cavalos com lesão aguda ressentem a palpação desta área; lesão crónica é detetável se existir proliferação óssea, aumento da amplitude de movimento (mobilizar pélvis durante a palpação) e crepitação (Jeffcott & Haussler 2004);

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 articulação lombossagrada – avaliação semelhante à articulação sacroilíaca;  cauda e região perineal - flacidez, parálise, alteração de postura;

 ligamentos nucal, supraspinhoso, interespinhosos, sacroilíaco dorsal e sacroisquiáticos - sinais de inflamação aguda e crónica, sensibilidade;

 músculos - tónus, espasmos e fasciculações, alterações no desenvolvimento muscular (atrofia, assimetrias), dor, sinais de inflamação. O aumento do tónus muscular é a alteração mais comum em cavalos com patologia de dorso aguda ou crónica. (Jeffcott & Haussler 2004) Em geral, hipertonicidade localizada reflete um problema agudo ou primário de dorso, enquanto regional normalmente resulta de um problema secundário. (Jeffcott & Haussler 2004)

2.3.3. Mobilização

Através da estimulação cutânea podem ser induzidos determinados movimentos que permitem avaliar a funcionalidade e a presença de dor através da tolerância ao movimento e reflexos desencadeados, da facilidade de execução e amplitude alcançada.

Os cavalos possuem sensibilidades diferentes que levam a respostas variadas mas pode considerar-se que o normal é que o animal seja capaz de fletir e estender a coluna suave e repetidamente, de forma coordenada e disponível. (Denoix & Dyson 2011) Respostas assimétricas, relutância e restrição do movimento, tensão e espasmos musculares, colapso dos membros, alteração da expressão facial e do comportamento podem ser indicativas de dor. (Jeffcott & Haussler 2004, Martin & Klide 1999, Cauvin 1997, Denoix & Dyson 2011)

A mobilização ativa pode ser induzida utilizando, por exemplo, uma cenoura. Permite testar a flexibilidade do pescoço e tronco. Pode também ser feita a mobilização passiva do pescoço, para testar a mobilidade lateral. Por mobilização induzida deve ser testada a flexão e extensão da região toracolombar, a flexão e extensão da junção lombossagrada e a flexão lateral e rotação da região toracolombar (Tabela III, Anexo VI).

2.3.4. Exame dinâmico

O cavalo deve ser avaliado à mão, à guia e montado, na sua atividade normal. À mão, o cavalo deve ser visto em linha reta e pequenos círculos, em piso duro e planos inclinados, a passo e trote. A avaliação à guia deve ser feita em piso mole, durante 10 a 15 minutos.

Os parâmetros a observar nas diferentes situações são: flexibilidade dorsoventral, lateral e rotação do dorso; comprimento e fase de voo da passada; protração e impulsão dos membros; equilíbrio, coordenação e encurvação. A progressão ao longo do exercício, à medida que

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aquece, deve ser avaliada. (Martin & Klide 1999) As principais alterações que surgem em cavalos afetados relacionam-se com a perda de ação e impulsão dos posteriores e redução da flexibilidade/elasticidade do dorso. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011)

No trabalho montado, a avaliação começa por notar o comportamento do cavalo ao ser aparelhado, a adequação de todos os aparelhos ao cavalo e ao tipo de trabalho e a atitude ao ser montado. O cavalo deve ser montado pelo cavaleiro habitual e desempenhar o seu trabalho normal. Neste ponto, deve ser feita a avaliação das capacidades técnicas e conhecimentos do cavaleiro e forma como trabalha o cavalo. Deve-se ter em consideração as observações do cavaleiro. As queixas mais comuns relatam perda de potência dos membros posteriores, rigidez do dorso, perda de fluidez na passada e desconforto do próprio cavaleiro depois de montar. (Denoix & Dyson 2011)

2.3.5. Avaliação da sela e outros aparelhos

A sela e outros aparelhos utilizados durante o trabalho do cavalo devem ser avaliados para verificar adaptação/adequação ao cavaleiro e ao cavalo, posicionamento e possíveis sinais de desconforto associados.

Selas que não coaptam convenientemente ao cavalo são uma causa comum de desconforto por provocarem excesso de pressão em pontos inadequados como os músculos epaxiais e os processos espinhosos. (Jeffcott & Haussler 2004) Idealmente uma sela deve adaptar-se de forma confortável e permitir uma boa área de contacto para que o peso do cavaleiro se distribua ao longo do garrote e musculatura do dorso. (Jeffcott & Haussler 2004)

A avaliação da sela deve incluir a inspeção das diferentes partes (integridade, simetria, dimensões); do posicionamento no cavalo, dos acessórios utilizados (xáirel, protetores de dorso) e marcas deixadas no pelo após exercício (avaliar coaptação, simetria).

2.3.6. Bloqueios anestésicos

A sua aplicação permite perceber a real contribuição de uma área de dor para o quadro clínico apresentado pelo cavalo. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011) Pode-se recorrer à anestesia local de áreas musculares, ligamentos e articulações. A injeção intra-articular é difícil pela profundidade e pequeno tamanho das articulações daí que, muitas vezes, só é possível realizar injeções periarticulares, com a desvantagem de haver dispersão e de os resultados terem, por isso, menor valor diagnóstico. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011) O acompanhamento ecográfico do procedimento permite uma melhor aproximação da estrutura e maior segurança.

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2.4. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

A aplicação de meios de diagnóstico por imagem à coluna vertebral é condicionada por fatores anatómicos e técnicos que limitam a obtenção de uma imagem diagnosticamente conclusiva. Contudo, a associação de radiografia, ecografia e cintigrafia nuclear permite uma avaliação precisa da maioria das afeções de dorso e pélvis. (Denoix et al. 2006) Técnicas emergentes como tomografia computorizada e ressonância magnética ainda não puderam ser aplicadas à coluna toracolombar por questões técnicas mas prevê-se que, uma vez superadas estas questões, significarão um grande avanço. (Jeffcott & Haussler 2004)

2.4.1. Radiografia

Radiografar a coluna vertebral de equinos representa algumas dificuldades por questões técnicas e anatómicas, podendo não permitir a obtenção de imagens diagnósticas. (Cauvin 2008) Com o animal em estação pode ser feita uma projeção lateral da coluna vertebral toracolombar (T2-L4) e uma projeção da região sacrocaudal (S2-Cd4). (Jeffcott & Haussler 2004) Podem também ser feitas projeções oblíquas que permitem a visualização de articulações costovertebrais e processos transversos. (Jeffcott & Haussler 2004) Para a mesma área deve-se tirar duas radiografias para focar separadamente processos espinhosos e corpos vertebrais. (Jeffcott & Haussler 2004) Sob anestesia geral, pode obter-se uma imagem ventrodorsal da região lombossagrada (L4-S5) que permite avaliar a articulação sacroilíaca e estruturas ósseas. (Jeffcott & Haussler 2004, Jeffcott 1975)

2.4.2. Ecografia

O exame ecográfico pode ser feito por via transcutânea e transretal. Por via transcutânea, devem-se obter imagens transversais e longitudinais, medianas e paramedianas das estruturas vertebrais dorsais. (Denoix & Dyson 2011) Devem ser avaliadas as seguintes estruturas: processos espinhosos, ligamento supraspinhoso e espaços interspinhosos, articulações intervertebrais sinoviais e processos articulares, tuberosidade sacral, asa do ílio e articulação sacroilíaca (margem caudal), ligamento sacroilíaco dorsal (porção dorsal). (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix et al. 2006, Denoix & Dyson 2011, Cauvin 2008)

Por via transretal, é possível avaliar: discos intervertebrais na região lombar caudal e junção lombossagrada, superfícies ósseas, articulação sacroilíaca, articulações intertransversas, ligamento sacroilíaco ventral e músculos hipoaxiais. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix et al. 2006, Denoix & Dyson 2011) Esta técnica é muito útil para visualização destas

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estruturas mas existe uma grande sobreposição entre os achados ecográficos em animais normais e com suspeita de afeção de dorso. (Cauvin 2008)

2.4.3. Cintigrafia nuclear

Normalmente, constitui um meio de diagnóstico que complementa outros exames já realizados sendo especialmente útil no diagnóstico de lesões ósseas em locais não acessíveis por radiografia convencional. (Jeffcott & Haussler 2004) Por questões técnicas e anatómicas, a avaliação de lesões de tecidos moles, crónicas ou de afeções menos severas é complicada e, por vezes, impossível. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011)

Permite a deteção de lesões inflamatórias e remodelação óssea ativas e, assim, o diagnóstico de: impingement dos processos espinhosos, fraturas vertebrais, osteoartrite, espondilose, fraturas de “stress” da asa do ílio, entre outras condições. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011, Cauvin 2008)

2.4.4. Termografia

Podem ser detetados pontos de aumento e diminuição da temperatura consistentes com áreas de inflamação e lesões crónicas ou degenerativas, respetivamente. (Schweinitz 1999, Fonseca et al. 2006) As opiniões dividem-se acerca da utilidade desta técnica, havendo quem defenda que tem sido utilizada com sucesso no diagnóstico de patologias de dorso, fornecendo frequentemente as únicas evidências objetivas do problema (Jeffcott & Haussler 2004) enquanto há quem afirme que não existe evidência da sua utilidade no diagnóstico destes problemas. (Cauvin 2008)

III. PATOLOGIAS

Jeffcott (1980), num estudo efetuado em 443 cavalos referidos com história de afeção toracolombar, verificou a existência de inúmeras patologias responsáveis por problemas de dorso e a presença, em 17% dos animais, de mais de um tipo de lesão simultaneamente. As lesões mais encontradas foram de tecidos moles (e.g., lesão muscular), 38.8%, seguidas de 38.6% de lesões vertebrais (e.g., “kissing spines”).

Perante um caso suspeito de afeção do dorso, existem algumas patologias que devem ser incluídas nos diagnósticos diferenciais: neurológicas como a Mieloencefalite Protozoária Equina

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ou a estenose vertebral; de foro metabólico como a rabdomiólise; afeções do esqueleto apendicular e problemas dentários; entre outras. (Jeffcott & Haussler 2004)

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3.1. ESTRUTURAS ÓSSEAS

3.1.1. “Kissing spines” (ou conflito de processos espinhosos)

“Kissing spines“ foram reportados como a causa óssea mais comum de dor de dorso em

equinos. (Jeffcott 1980) As lesões são mais frequentes na região torácica, principalmente entre T12 e T17. (Jeffcott 1980)

Na sua base, pensa-se, está o contacto repetitivo e traumático entre processos espinhosos. (Wessum 2011) A predisposição para que isto aconteça está possivelmente relacionada com questões de conformação (e.g., dorso curto), anatómicas (variação das dimensões dos espaços interespinhosos e da morfologia e orientação dos processos espinhosos), peso suportado pela coluna toracolombar e exigências requeridas ao nível vertebral por determinadas disciplinas (e.g., saltos de obstáculos e dressage). (Jeffcott 1980, Jeffcott & Haussler 2004, Wessum 2011)

Os animais afetados apresentam normalmente história de afeção crónica ou recorrente com início insidioso ou associado a trauma. A queixa mais comum é perda de performance, rigidez do dorso ou alteração no movimento dos membros posteriores. No exame físico, podem surgir sinais como: atrofia muscular, irregularidades e sensibilidade de processos espinhosos e/ou do ligamento supraspinhoso, rigidez da coluna toracolombar, mobilização dorsoventral difícil e redução da mobilidade lateral da região afetada. (Jeffcott 1980, Zimmerman et al. 2011, Wessum 2011)

A nível radiográfico, as principais lesões encontradas são: diminuição dos espaços interespinhosos, esclerose e alteração da forma dos processos espinhosos, osteólise e sinais de entesiopatias como remodelação do ápice dos processos. Estas lesões surgem associadas à medida que o quadro progride. Podem surgir em animais assintomáticos pelo que a sua relevância para o quadro clínico deve ser confirmada por bloqueios anestésicos. (Denoix & Dyson 2011, Zimmerman 2011) A ecografia é útil para avaliar os espaços interespinhosos (e.g., diminuição, remodelação óssea), alterações no tamanho, morfologia e alinhamento dos processos espinhosos e lesões ligamentares concomitantes (e.g., desmite do ligamento supraspinhoso, entesiopatia). (Wessum 2011, Denoix et al. 2006) A cintigrafia nuclear permite a identificação de áreas de metabolismo ósseo ativo nos processos espinhosos e a avaliação do envolvimento de estruturas adjacentes. (Denoix & Dyson 2011)

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3.1.2. Fraturas vertebrais e pélvicas

Fraturas dos processos espinhosos dorsais na região torácica podem surgir após trauma, associadas a dor local, tumefação e calor. Com tratamento conservativo, ao resolver a inflamação local, a recuperação é normalmente satisfatória, sem afetar a performance. (Wessum 2011)

Fraturas do sacro e pélvis podem ocorrer por “stress” ou trauma. Podem surgir sinais neurológicos anormais no períneo, áreas de dor e inflamação, assimetrias (inspeção e palpação das tuberosidades ósseas da pélvis) ou podem permanecer assintomáticas. Ocorrem mais frequentemente no bordo caudal do ílio. (Jeffcott & Haussler 2004)

3.2. DEFORMIDADES CONFORMACIONAIS

Curvaturas anormais da coluna vertebral como cifose, lordose e escoliose podem ser congénitas ou adquiridas. (Jeffcott & Haussler 2004) Estas deformidades predispõem a algum grau de fraqueza da coluna vertebral toracolombar podendo levar a lesão de tecidos moles e consequente perda de performance. (Jeffcott 1980)

Alterações agudas nas curvaturas, em cavalos adultos, devem-se normalmente a adaptações funcionais por dor ou desequilíbrios musculares. (Jeffcott & Haussler 2004) Podem ser revertidas, corrigindo a causa primária. (Jeffcott & Haussler 2004) O diagnóstico é feito pelo exame físico e por radiografia.

Lordose consiste na curvatura ventral da coluna vertebral, é mais comum na região torácica cranial. (Jeffcott & Haussler 2004) Pode estar associada a “kissing spines”. (Jeffcott 1980) Pode ser um problema adquirido com a idade mas normalmente não tem significado clínico. (Jeffcott & Haussler 2004) Este problema pode ser gerido com exercícios para elevar o tronco e fortalecer os músculos abdominais. (Jeffcott & Haussler 2004)

Escoliose consiste na curvatura lateral, frequentemente na região torácica caudal. (Jeffcott & Haussler 2004) Pode ocorrer por espasmos musculares unilaterais e nem sempre é visível exteriormente. (Jeffcott & Haussler 2004, Jeffcott 1980)

Por sua vez, cifose (Fig.10 e 11, Anexo IV) consiste na curvatura dorsal da coluna vertebral, ocorre mais na região lombar cranial. (Jeffcott & Haussler 2004) Frequentemente vista durante o período de crescimento, associada a questões de conformação ou patologias dos membros posteriores. (Jeffcott & Haussler 2004) Pode ocorrer cifose aparente em cavalos com atrofia da musculatura epaxial na região lombossagrada por proeminência dos processos espinhosos. (Denoix & Dyson 2011)

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3.3. ESTRUTURAS ARTICULARES

3.3.1. Osteoartrite das articulações intervertebrais sinoviais

Anomalias articulares, doença articular degenerativa e perda de mobilidade podem constituir uma causa primária de dor. (Jeffcott & Haussler 2004)

Quando é infligido dano nestas articulações (normalmente associado a trauma), uma das primeiras reações é a estabilização da coluna vertebral por contração e espasmos musculares. Isto pode centrar-se no segmento afetado ou ocorrer numa porção maior. (Wessum 2011) Pode durar horas, dias, semanas ou meses. Os sinais clínicos relacionados incluem, para além do aumento do tónus muscular, diminuição da amplitude de movimento articular, dor localizada, desconforto ao apertar a cilha ou colocar a sela. No exame dinâmico pode surgir: claudicação, rigidez, trote curto, perda de propulsão dos membros posteriores, relutância a saltar, flexão dorsoventral e lateral reduzida. Por outro lado, pode ocorrer hipermobilidade articular por lesão da cápsula articular e ligamentos. Isto conduz a instabilidade e desorganização articular, hipertonicidade muscular e pode afetar também a propriocepção, controlo de movimentos e postura. (Wessum 2011, Jeffcott & Haussler 2004)

A nível radiográfico é possível observar: proliferação óssea, alterações da dimensão do espaço articular, anquilose e fraturas. (Denoix et al. 2006, Wessum 2011) Por ecografia, os achados mais comuns são: assimetrias, diminuição do espaço articular, osteófitos e proliferação periarticular. (Haussler 1999b, Denoix 1999, Denoix et al. 2006, Wessum 2011) Para o diagnóstico, também se pode recorrer a cintigrafia nuclear.

3.3.2. Afeções da articulação sacroilíaca

O diagnóstico de lesão da articulação sacroilíaca é difícil e frequentemente feito por exclusão. (Haussler 2011) Cavalos de saltos de obstáculos e “dressage” parecem ter maior risco de sofrer este tipo de lesão. (Dyson & Murray 2003)

A condição referida como luxação sacroilíaca pode ser diagnosticada “ante mortem” se tiver ocorrido uma alteração aguda na altura da tuberosidade sacral por trauma ou se for evidente a presença de instabilidade (crepitação ou movimento independente das tuberosidades sacrais à manipulação) durante o exame físico. (Jeffcott & Haussler 2004, Dyson & Murray 2003, Haussler 2011)

A queixa em casos de dor sacroilíaca relaciona-se com perda de performance, falta de vontade no trabalho, alterações de comportamento, recusa a saltar e perda de impulsão dos membros posteriores, especialmente quando montados. (Jeffcott & Haussler 2004, Dyson &

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Murray 2003, Haussler 2011) O início é, normalmente, insidioso e o problema tende a persistir por longos períodos. (Dyson & Murray 2003) Pode haver história de trauma. (Jeffcott 1980, Haussler 2011) Para além dos sinais já mencionados, os animais com afeção sacroilíaca podem apresentar no exame físico: massas musculares epaxiais pouco desenvolvidas, assimetrias ou falta de desenvolvimento dos músculos da garupa e membros posteriores, dor à palpação da região. No exame dinâmico pode surgir também: dificuldade em andamentos mais lentos, rigidez e diminuição da flexibilidade do dorso, galope pobre, cauda inclinada para o lado afetado, claudicação dos membros posteriores, arrastamento uni ou bilateral das pinças, rigidez e encurtamento da passada dos membros posteriores. (Jeffcott 1980, Jeffcott & Haussler 2004, Haussler 2011, Dyson & Murray 2003)

A nível radiográfico, na projeção dorsoventral, pode ser observado aumento do espaço articular, sinais de osteoartrite, rotação ligeira da pélvis e sacro. (Jeffcott 1980, Jeffcott & Haussler 2004) Por ecografia transcutânea é possível avaliar a presença de irregularidades da superfície dorsal da asa do ílio e margem caudal da articulação. (Jeffcott & Haussler 2004, Haussler 2011) Por via transretal, é visível a margem ventral da articulação. (Jeffcott 1980, Jeffcott & Haussler 2004) Cintigrafia nuclear, termografia e bloqueios anestésicos podem também ser úteis. (Dyson & Murray 2003)

3.4. TECIDOS MOLES

3.4.1. Lesão muscular

As lesões dos tecidos epaxiais constituem, sem dúvida, uma das patologias de dorso mais comuns (Jeffcott 1980) Lesões musculares ocorrem principalmente nos músculos “longissimus” normalmente durante exercício montado após quedas, salto mal executado, apoio incorreto. (Jeffcott & Haussler 2004) Fadiga e falta de condição física podem ser fatores predisponentes.

Os sinais mais comuns são: aparecimento agudo, perda de performance, alterações de temperamento, rigidez de dorso e restrição do movimento dos membros posteriores, aumento da base de sustentação dos membros posteriores em estação, diminuição da flexibilidade da coluna toracolombar, escoliose, tendência para o galope desunido. (Jeffcott & Haussler 2004) Na fase aguda pode observar-se tumefação, calor, aumento (ligeiro e transitório) dos níveis séricos de enzimas musculares (Creatinina Cinase e Aspartato Aminotransferase) após o exercício. (Jeffcott & Haussler 2004)

No exame ecográfico podem, por vezes, ser detetadas alterações subtis como aumento de tamanho e edema. (Jeffcott & Haussler 2004) Dor muscular raramente está associada a alterações fisicamente detetáveis. (Cauvin 2008)

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3.4.2. Desmite do ligamento supraspinhoso

O ligamento supraspinhoso inclui a inserção de múltiplas partes dos músculos “longissimus” o que o sujeita às mesmas tensões que o músculo. (Jeffcott & Haussler 2004) A patogenia e os sinais são semelhante à lesão muscular mas o prognóstico é pior e tendem a persistir mais tempo. (Jeffcott & Haussler 2004) É mais frequente em cavalos jovens, com dorso longo e flexível e a nível anatómico entre T15 e L3. (Jeffcott 1980)

Os sinais que têm sido relacionados com esta afeção são: espessamento, redução da flexibilidade lateral e dor à palpação (mesmo em casos mais prolongados). (Jeffcott 1980) Radiografias podem revelar espessamento dos tecidos moles e aumento da radiodensidade focal no ligamento, reação perióstea, áreas de arrancamento da inserção óssea e esclerose na superfície dorsal dos processos espinhosos. (Denoix & Dyson 2011) Ecograficamente é visível espessamento, alteração da ecogenicidade e do padrão de organização das fibras do ligamento e, por vezes, entesiopatia. (Denoix 1999, Denoix & Dyson 2011) Pode também recorrer-se a cintigrafia nuclear e biópsia.

3.4.3. Desmite do Ligamento Sacroilíaco Dorsal

O ligamento sacrolíaco dorsal une a tuberosidade sacral ao sacro, formando uma importante ligação entre a pélvis e o sacro. (Haussler 1999) Está normalmente associada a história de trauma e a sinais como tumefação na garupa, perda de massa muscular, elevação de uma tuberosidade sacral com ou sem atrofia dos glúteos e claudicação ligeira a moderada. (Gillis 2004, Haussler 2011)

O diagnóstico é feito por ecografia onde pode surgir aumento de tamanho, perda de ecogenecidade, alteração no padrão das fibras e entesiófitos ao nível da tuberosidade sacral. (Haussler 2011) Na ecografia a lesão do ligamento deve ser distinguida de tendinite do músculo “longissimus”, cuja inserção ocorre medialmente à porção dorsal do ligamento sacroilíaco dorsal. (Haussler 2011) Cavalos de salto são particularmente suscetíveis a esta lesão. (Gillis 2004)

IV. TRATAMENTO E REABILITAÇÃO

O principal objetivo do maneio de problemas de dorso é eliminar a dor e inflamação e permitir que o animal se possa exercitar o mais rápido possível de modo a reduzir ao mínimo os efeitos nefastos (e.g., perda de condição física). (Denoix & Dyson 2011) A abordagem à patologia de dorso pode ser feita recorrendo às mais diferentes terapias e protocolos (Tabela II,

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Anexo V). A panóplia de opções terapêuticas diz-nos que, de facto, o que se passa é que nenhuma é totalmente eficaz ou satisfatória, (Jeffcott 1999) seja pelas dificuldades levantadas pela patologia em si ou pela duração do efeito, seja por praticabilidade ou custo.

4.1. TRATAMENTO MÉDICO

Tem como princípio a redução da dor e espasmos musculares para permitir uma melhor recuperação, em associação com um programa de reabilitação e medidas de prevenção de futuras lesões e “stress” no dorso.

Os anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs) estão indicados em dor aguda e severa. (Jeffcott & Haussler 2004) Dentro dos AINEs, a fenilbutazona continua a ser o fármaco de eleição mas outros fármacos como o cetoprofeno e o naproxeno podem também ser utilizados. (Jeffcott & Haussler 2004) Os AINEs são normalmente a escolha mas o seu efeito no tratamento de patologias de dorso é frequentemente dececionante. (Denoix & Dyson 2011)

O controlo de espasmos musculares pode ser feito com diazepam em casos severos ou miorrelaxantes (e.g., methocarbamol). (Jeffcott & Haussler 2004) A sua utilização tem sido apoiada para reduzir a tensão e espasmos musculares e permitir uma recuperação natural. (Jeffcott & Haussler 2004)

Outra opção de tratamento são as infiltrações locais de corticosteroides (e.g. dexametasona, flumetasona, acetato de metilprednisolona). (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011) São utilizadas, por exemplo, no caso de “kissing spines” (injeções ao nível dos espaços interespinhosos e periespinais), patologia articular das articulações intervertebrais sinoviais e articulação sacroilíaca (injeções periarticulares, nas massas musculares). Podem ser utilizados diferentes corticosteroides sozinhos ou em associação com outros corticosteroides ou fármacos como miorelaxantes ou Sarapin®. (Jeffcott & Haussler 2004) O Sarapin® é um fármaco derivado da planta “Sarraseniaceae”, com ação analgésica. Pode ser aplicado em lesões de tecidos moles e ósseas, localmente. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011) Está contraindicado nas injeções periarticulares das articulações intervertebrais sinoviais devido à proximidade de estruturas com função propriocetiva. (Denoix & Dyson 2011, Wessum 2011)

As infiltrações podem ser associadas a mesoterapia, (Fig.12, Anexo IV) uma técnica que consiste na aplicação de injeções intradérmicas múltiplas de fármacos como anestésicos locais, corticosteroides de curta ação, relaxantes musculares, entre outros. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011) O mecanismo de ação baseia-se, aparentemente, na inibição da transmissão da dor ao atuar sobre as fibras nervosas. (Jeffcott & Haussler 2004) As injeções devem ser aplicadas sobre e caudalmente à lesão tendo em conta o trajeto dos segmentos

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nervosos. (Jeffcott & Haussler 2004, Denoix & Dyson 2011) Após este tratamento, o cavalo deve ser mantido em trabalho leve à guia por 3 dias seguido de retorno gradual ao trabalho normal ao longo de 5 dias. Esperam-se melhorias significativas após 7-14 dias e uma duração do efeito de 3 a 12 meses. Se o efeito não corresponde ao esperado, o procedimento pode ser repetido 2 a 3 semanas depois.(Jeffcott & Haussler 2004)

A combinação de terapia sistémica e infiltrações locais é utilizada, por exemplo, nos casos de osteoartrite das articulações intervertebrais sinoviais, “kissing spines” e lesões da articulação sacroilíaca.

4.2. CIRURGIA

Recomendada no tratamento de “kissing spines” em animais que não responderam ao tratamento conservador (Denoix & Dyson 2011, Jeffcott 1975), em casos em que a lesão se restringe ao ápice do processo espinhoso. (Denoix & Dyson 2011) Normalmente, a cirurgia tem uma boa resposta e permite o retorno ao trabalho dos animais após um período de cerca de 6 meses de recuperação. (Denoix & Dyson 2011) Pode também ser indicada no caso de fraturas cominutivas dos processos espinhosos, com risco de infeção. (Jeffcott & Haussler 2004)

4.3. ACUPUNTURA

Consiste na inserção de agulhas finas em localizações pré-determinadas para obter determinados efeitos terapêuticos. A acupuntura começa por produzir alívio da dor. O efeito é normalmente imediato e a sua duração varia com o tipo e severidade da afeção. (Jeffcott & Haussler 2004) Acupuntura é indicada, por exemplo, em casos de trauma, osteoartrite e hipertonicidade muscular. (Jeffcott & Haussler 2004) Como a acupuntura não tem efeito sobre a perda de mobilidade articular, a combinação com técnicas como quiroprática, tem efeito sinérgico. (Jeffcott & Haussler 2004)

4.4. QUIROPRÁTICA

Pode ser utilizada para avaliar e localizar disfunção dos segmentos vertebrais. (Jeffcott & Haussler 2004) O objetivo do tratamento quiroprático é repor o movimento articular normal, reduzir dor e hipertonicidade muscular. (Jeffcott & Haussler 2004) As principais indicações para o tratamento quiroprático são: dor de dorso e pescoço, rigidez articular, perda de performance, alteração nos andamentos sem claudicação clara. (Jeffcott & Haussler 2004)

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4.5. FISIOTERAPIA

Inclui diferentes modalidades de tratamento que são escolhidas e/ou associadas de acordo com o objetivo, os sinais clínicos presentes e o tipo de lesão. As indicações para fisioterapia de patologias de dorso e pélvis incluem dor localizada e generalizada, restrição do movimento articular e alteração tónus muscular. (Jeffcott & Haussler 2004)

Para enumerar alguns exemplos, no controlo da dor podem ser utilizadas estimulação muscular, TENS (“Transcutaneous Electrical Nervous Stimulation”), crioterapia, calor, vibração mecânica e terapia eletromagnética. (Jeffcott & Haussler 2004, Sutton & Watson 2011) Movimentos afetados podem ser abordados através de treino propriocetivo, reeducação postural, aumento da força e resistência muscular. (Jeffcott & Haussler 2004) Os efeitos negativos de imobilização e perda de condição física, como rigidez articular e muscular, devem ser minimizados através de exercícios de mobilização e atividade controlada, estimulação elétrica e hidroterapia. (Jeffcott & Haussler 2004) Terapias mecânicas como massagem, vibração e exercícios de alongamento permitem uma maximização da recuperação musculosquelética. (Jeffcott & Haussler 2004) A aplicação de calor ou estimulação elétrica permite um aumento da extensibilidade dos tecidos moles, redução da inflamação e formação de adesões e controlo da dor para facilitar a restauração de mobilidade articular normal. (Jeffcott & Haussler 2004)

4.6. REABILITAÇÃO

Associado ao tratamento médico, terapias manuais e fisioterapia deve estar um programa de reabilitação e maneio do trabalho. O tipo de reabilitação depende de várias fatores, nomeadamente, do tipo de estrutura afetada, pelo que aqui serão focadas as linhas gerais. Num programa de reabilitação deve ter sido em conta e revisto o maneio e os aparelhos utilizados no cavalo (e.g., sela), a idade, experiência e ensino do cavalo, o tipo de treino adotado até agora e forma de trabalhar do cavaleiro. (Denoix & Dyson 2011)

O retorno à atividade deve ser gradual, começando com trabalho à guia (Fig. 14, Anexo IV) e avançando até ao trabalho montado. (Denoix & Dyson 2011) No trabalho montado, inicialmente, deve ser evitado o trote, em cavalos de desporto, e começar com galope após o passo uma vez que o trote é mais exigente para a coluna vertebral (dois movimentos dorsoventrais por passada em vez de um como acontece no galope). (Denoix & Dyson 2011) Inicialmente, também devem ser evitados os movimentos que causam desconforto ao cavalo durante um determinado período de tempo e depois reavaliar. (Denoix & Dyson 2011)

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CASOS CLÍNICOS

Caso Clínico Número 1

Caracterização do paciente: égua de dez anos, raça Oldenburg, aptidão de saltos de

obstáculos, trabalho diário, realização de provas até 1,20m.

Motivo da consulta: claudicação do membro posterior direito (MDP) com perda de

performance.

História clínica: duas semanas antes da consulta, a égua começou a ter pior desempenho no

trabalho, com dificuldade de impulsão dos posteriores e de protração. O cavaleiro queixou-se que a “égua parecia partida em dois”. A égua manifestava também alterações de comportamento no trabalho com sinais de desconforto (e.g., coices quando montada, balançar a cauda). Durante a última sessão de trabalho, três dias antes da consulta, começou logo de início a manifestar desconforto e comportamento indisciplinado. Ao fim de vinte minutos de trabalho (aquecimento no plano, antes de iniciar os saltos de obstáculos), começou a claudicar do MPD, grau 3/5 (Tabela IV, Anexo VI), no círculo para as duas mãos.

Passado médico: claudicações múltiplas ao longo dos últimos dois anos que levaram a uma

série de intervenções veterinárias, nomeadamente infiltrações intra-articulares. Foi intervencionada ao nível do dorso (infiltração da região toracolombar e infiltração da articulação sacroilíaca) por duas vezes com nove meses de intervalo, tendo sido a última cerca de um ano antes da consulta. Desde então a égua não manifestou sinais clínicos evidentes de patologia de dorso mas, a nível de performance, nunca atingiu os objetivos pretendidos, havendo grandes dificuldades em trabalhá-la, principalmente, nos saltos de obstáculos. No plano, trabalha relativamente bem, com alguma dificuldade nos posteriores. No maneio diário, por vezes, manifesta desconforto nomeadamente na limpeza com o ferro. Dois meses antes da consulta, devido a queixa de claudicação dos membros posteriores (MPs) e dor à palpação da região toracolombar e sacroilíaca do lado direito, foi realizado tratamento com TENS, durante uma semana. Apresentou melhoras na palpação mas não teve reflexo evidente no trabalho.

No exame físico, o animal não revelou alterações relevantes na inspeção visual, apresentava conformação e postura normais, bom desenvolvimento muscular. Manifestou sinais de desconforto à palpação e pressão na zona do garrote e processos espinhosos da região torácica caudal. A aplicação de pressão ao nível da tuberosidade sacral, causou contração do dorso e colapso do membro posterior ipsilateral à tuberosidade sacral avaliada. Esta reação verificou-se bilateralmente mas de forma mais evidente do lado direito. Nas mobilizações induzidas, a pressão bilateral ao longo da região toracolombar, paralela ao eixo sagital resultou em sinais de desconforto e contração do dorso; a flexão lateral esquerda da

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região toracolombar apresentou menor amplitude em relação ao lado direito, com contrações musculares associadas. A aplicação de pressão ao longo da garupa, no sulco entre o músculo bicípede femoral e o músculo semitendinoso originou flexão da região toracolombar reduzida, com contração muscular. Na mobilização passiva do pescoço, verificou-se um movimento menos amplo para o lado direito. Durante a manipulação a égua manifestou-se claramente desconfortável, contraída, com a expressão facial alterada.

No exame dinâmico, quando avaliada à mão, em linha reta, no piso duro, foi visível claudicação de grau 2-3/5 do MPD. À guia, a trote, em piso mole, para além da claudicação, era observável: menor protração, andamentos descoordenados, falta de ligação entre MPs e membros anteriores (MAs), postura da cauda elevada. A galope apresentou dificuldades para a mão esquerda, com tendência a cair no trote; para a direita, mostrou-se nervosa, desconfortável, tendo-se mantido num ritmo acelerado, alternando o andamento normal com galope desunido de forma constante. Relativamente à sela, não havia nada apontar, apresentava bom encaixe e não tinham sido feitas alterações recentes. Animal bem ferrado e com maneio adequado.

Foi realizada uma ecografia transcutânea da região toracolombar e sacroilíaca, onde se detetaram alterações consistentes com osteoartrite das articulações sinoviais das vértebras lombares do lado esquerdo (Fig.3, Anexo I).

Optou-se por um tratamento com TENS, colocando 4 elétrodos na garupa do lado direito, num programa com intensidade mais elevada para atuar sobre a articulação sacroilíaca (Fig.4, Anexo I). O tratamento deveria ser diário e a evolução do animal vigiada. Foi, também, sugerida a realização duma cintigrafia nuclear para tentar alcançar um diagnóstico mais conclusivo mas o proprietário não acedeu. A égua fez cerca de uma semana de tratamento mas este foi interrompido por decisão do proprietário de retirar a égua de trabalho tendo em conta a história prolongada do problema e os custos.

Caso Clínico Número 2

Caracterização do paciente: cavalo castrado de 12 anos, aptidão de saltos de obstáculos,

trabalho diário à guia e montado (cerca de duas horas), presença em provas até 1,20m.

Motivo da consulta: perda de performance.

História clínica: problemas no trabalho, queixa de falta de impulsão dos MPs, dificuldades nos

saltos de obstáculos, ansiedade e rigidez.

Passado médico: cavalo com história de problemas de dorso recorrentes. Desde há três anos,

tem sido tratado aproxidamente uma vez por ano (última intervenção em novembro de 2010) com infiltração da região toracolombar e infiltração da articulação sacroilíaca. O animal é

Imagem

Gráfico II. Distribuição da casuística durante o período de estágio na Horsevet Team.
Gráfico IV. Distribuição da casuística durante o estágio no Anglesey Lodge Equine Hospital
Tabela  II.  Modalidades  de  tratamento  que  podem  ser  aplicadas  a  patologias  de  dorso

Referências

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