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SUMÁRIO
Imagem da capa : A Cruz de São Tomás de Aquino – um amuleto protector do século XIII, João
Alves Dias, p. 5
ESTUDOS
A chancelaria régia de D. Dinis: breves observações diplomáticas, Saul António Gomes, p. 9 O padroado régio na diocese de Lisboa durante a Idade Média: uma instituição in diminuendo,
Mário Farelo, p. 39
Um Fragmento da Casa dos Contos e o seu Contributo para a História Monetária, António Castro Henriques, p. 109
Afonso de Albuquerque e a primeira expedição Portuguesa ao Mar Vermelho (1513), Roger Lee
de Jesus, p. 121
MONUMENTA HISTORICA
Nota introdutória
Regimento e ordenança da vila de Santarém (1479), transcrição de José Jorge Gonçalves, p. 145 Estimativa das receitas e despesas anuais do Reino e Índia (c. 1525-‐1526), transcrição de Pedro
Pinto, p. 153
Folha de receita e despesa do Reino para 1543, transcrição de Pedro Pinto, p. 161 Folha de receita e despesa do Reino para 1557, transcrição de Pedro Pinto, p. 165 Folha de receita e despesa do Reino para 1563, transcrição de Pedro Pinto, p. 169
ÍNDICES
Índice cronológico dos documentos publicados neste número, p. 174 Índice antroponímico e toponímico deste número, p. 175
LISBOA
2013
FICHA TÉCNICA
Título
Fragmenta Historica – História, Paleografia e Diplomática ISSN
1647-‐6344
Editor
Centro de Estudos Históricos
(financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia)
Director
João José Alves Dias
Conselho Editorial
João Costa (CEH-‐UNL; IEM – FCSH/Nova)
José Jorge Gonçalves (CEH-‐UNL; CHAM – FCSH/NOVA-‐UAc) Pedro Pinto (CEH-‐UNL; CHAM – FCSH/NOVA-‐UAc)
Conselho Científico
Fernando Augusto de Figueiredo (CEH-‐UNL; CHAM – FCSH/NOVA-‐UAc) Gerhard Sailler (Diplomatische Akademie Wien)
Helga Maria Jüsten (CEH-‐UNL)
Helmut Siepmann (U. Köln)
Iria Vicente Gonçalves (CEH-‐UNL; IEM – FCSH/Nova) João José Alves Dias (CEH-‐UNL; CHAM – FCSH/NOVA-‐UAc) João Paulo Oliveira e Costa (CHAM -‐ FCSH/NOVA-‐UAc) Jorge Pereira de Sampaio (CEH-‐UNL; CHAM – FCSH/NOVA-‐UAc) José Jorge Gonçalves (CEH-‐UNL; CHAM – FCSH/NOVA-‐UAc) Julián Martín Abad (Biblioteca Nacional de España) Maria Ângela Godinho Vieira Rocha Beirante (CEH-‐UNL)
Maria de Fátima Mendes Vieira Botão Salvador (CEH-‐UNL; IEM – FCSH/Nova)
Paginação
João Carlos Oliveira (CEH-‐UNL; CML)
Índices
João Costa e Pedro Pinto
Imagem de capa
Carmen figuratum: Cruz amuleto de São Tomás de Aquino (Esquema de Construção), Scriptorium de Santa
Maria de Alcobaça, séc. XIII.
Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, documentos particulares, maço 6, documento 1 verso (PT/TT/MSMALC/1DP06/0001)
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EDITORIAL
Uma nova Revista se apresenta. Talvez se escute, de imediato, uma ou outra voz a dizer: mais uma! Sim, é mais uma! E esperemos que as parcas não estejam prontas para cortar o "fio da sua vida" nos tempos imediatos. Esperemos que consiga singrar.
Fragmenta Historica, porque o que temos são sempre fragmentos de uma história. A História que se escreve não é a que se viveu. É a História que cada um consegue perscrutar no conjunto das informações que colheu. É sempre a subjetividade de cada investigador, por mais objetivo que ele procure ser, que está presente. Só os documentos, sem interpretações, podem ser encarados como Monumenta Historica (mas, por vezes, mesmo esses podem constituir enganos).
O Centro de Estudos Históricos, sediado na Universidade Nova de Lisboa (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas), ao longo das suas três décadas de existência, tem conjugado a maioria dos seus esforços na publicação de fontes. Desde cedo, alguns dos seus investigadores desejaram ter uma revista. Entenderam os seus diretores que as sinergias (e esforços financeiros) deveriam ser canalizadas, na sua maioria, para a produção dos Monumenta Historica. O apelo do sangue mais jovem, que continua a fazer sentir a falta de uma Revista que tenha como alicerce a Monumenta Historica, e os meios hodiernos mais económicos (e rápidos) permitem que se ensaie esta publicação de estudos fragmentários da História. Mas a sua base é (e procuraremos que seja sempre a constante do futuro) o documento: puro, duro, sólido e concreto.
Quanto à colaboração, está aberta a todos, como se prova com este primeiro número. Não se privilegiaram os investigadores do Centro de Estudos Históricos. Atraíram-‐se antes investigadores de outros areópagos que, tal como os investigadores do CEH, querem ter uma história que tente ser o menos fragmentária possível.
A sua periodicidade será anual. No fim de cada ano os artigos rececionados serão publicados no sítio eletrónico. Todos os artigos serão sujeitos a arbitragem científica externa -‐ peer review. Agradece-‐se a todos os revisores e a todos os colaboradores. O corpus desses árbitros científicos só será divulgado a partir do quarto ano de publicação, a fim de garantir a confidencialidade da mesma arbitragem.
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IMAGEM DA CAPA
A Cruz de São Tomás de Aquino – um amuleto protetor do século XIII
João Alves Dias
No verso de um documento1 de doação de umas propriedades (casas, vinhas, moinhos e outros bens de raiz), feito a 11 de abril de 1238, pelo cavaleiro Martim Vasques e sua mulher, ao mosteiro de Alcobaça, encontra-‐se desenhado um amuleto figurativo – uma cruz composta por 276 quadradinhos –, preparado para a inscrição dos quatros versos protetores, inscrição essa que ficou apenas esboçada.
O diagrama, quando completo, seria composto por 276 letras que esconderiam um poema figurativo (carmen figuratum): CRUX DOMINI MECUM / CRUX EST QUAM SEMPER ADORO / CRUX MIHI REFUGIUM / CRUX MIHI CERTA SALUS – a cruz do senhor acompanha-‐me; a cruz que eu sempre adoro; a cruz é o meu refúgio; a cruz é a minha salvação segura. A leitura começa sempre a partir do centro do diagrama, onde se encontra a palavra «CRUX», avançando no sentido de cada um dos quatro pontos cardiais.
Embora a oração poética e o diagrama sejam anteriores, a sua difusão generalizou-‐se como amuleto, a partir do século XIII. Reza a história que esta “poesia mágica” protege o ser humano das tentações da mesma forma que protegeu São Tomás de Aquino no momento em que os seus irmãos introduziram uma mulher nos seus aposentos.
Apresentamos o esquema na sua forma completa, inscrevendo a vermelho as letras em falta.
1 Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, documentos particulares, maço 6,
S V L A L V S L A S A L A S A S A S A T A S A T R T A T R E R T R E C E R E C I C E C I H I C I H I H I H I M I H V I M X M I M I G V F E R I H I M X V X D O M I N I M E C V G V F E R I H I M X V R V X D O M I N I M E C V F E R I H I M X V R C R V X D O M I N I M E G V F E R I H I M X V R V X D O M I N I M E C I G V F E R I H I E X V X D O M I N I M E C V V S E X E S N T S E S T Q T S T Q V Q T Q V A V Q V A M A V A M S M A M S E S M S E M E S E M P M E M P E P M P E R E P E R A R E R A D A R A D O D A D O R O D O R O R O R O O R O O Bibliografia
Boynton, Susan, Shaping a monastic identity: liturgy and history at the imperial Abbey of Farfa, 1000-‐1125. Ithaca, New York, Cornell University Press, 2006.
Ernst, Ulrich, Carmen figuratum: Geschichte des Figurengedichts von den antiken Ursprüngen bis zum Ausgang des Mittelalters. Köln, Böhlau, 1991.
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FOLHA DE RECEITA E DESPESA DO REINO PARA 1557
Transcrição de Pedro Pinto
CHAM – FCSH/UNL
CEH – UNL
© Fragmenta Historica 1 (2013), 165-‐168. Reservados todos os direitos. ISSN 1647-‐6344
394 Na colecção das Gavetas na Torre do Tombo, publicada em Jacinto Augusto de Santana e Vasconcelos, Relatorio acerca
dos impostos e outros rendimentos publicos anteriores ao anno de 1832, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865, pp. 15-‐16, e em
A. da Silva Rego (dir.), As Gavetas da Torre do Tombo, I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1960, pp. 891-‐ 895.
Resumo
[1557]
Folha de receira e despesa do Reino para 1557. É original, apresentando dados divergentes da versão previamente conhecida.394
Abstract
State revenue and expenditure accounts for the year 1557. It is an original document, which contains data diverging from the previously known version.
Lisboa, Torre do Tombo, Mosteiro de Alcobaça, liv. 51, fól. 515-‐516v.º
DOCUMENTO:
ffolha do que Rende o Reyno e despesa delle deste anno presente de bc Lbij
Val o Rendimento destes Reynos este dito anno presente com o hum porçento não entrando as Jlhas da madeyra e dos açores nem os meestrados trezentos dezaseis contos Çento e quinze mil reaes Não entrando tambem nesta soma as Rendas do pão
iijc xbj contos reaes
E com as ditas Jlhas que vam em vinte tres contos e Çem mil rreaes .ss. xiij contos per que as Jlhas dos açores estam arrendadas sem o hum porçento e dez contos e çem mil rreaes per que vay leuada per orçamento a Jlha da madeira val trezentos trinta e noue contos dozentos e quinze mil reaes
iijc xxxix contos reaes
.ss. xxxiij contos a comarca d antre douro e mynho com as alfandegas
E xbij contos reaes a comarca de tralos montes com os portos dela
E xxbij contos <reaes> a comarca da beyra Com os portos della
E Rbj contos reaes a comarca da estremadura / [fól. 515v.º]
E Cto xb contos reaes Lixboa .ss. Lxbiijº Contos reaes em que vay leuada a alfandega per orçamento E Rbij contos reaes que
vallem as Rendas e casas da dita çidade leuando A casa dos çincos em dous
contos E reaes per orçamento
396E reaes os foros da dita çidade
E iiijº contos a chançelaria da corte per orçamento
E Lbj contos reaes a comarca d antre teeJo e odiana com os portos della e montado do campo d ouryque
E xbij contos reaes o reyno do algarue leuando as almadrauas em
seis contos e sesenta mil reaes por orçamento
E xiij contos de reaes per que estam arrendadas as Jlhas dos açores sem o hum porçento
395 Os critérios de transcrição adoptados são os propostos em João José Alves Dias; A. H. de Oliveira Marques, e Teresa
Rodrigues, Álbum de paleografia, Lisboa, Estampa, 1987.
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madeira, os quais se dam pera as tenças do abito da ordem de nosso senhor
Jesuu Christo e outras despesas extraordynaryas / [fól. 516]
E tjrando a Jlha da madeyra e foros de lixboa fyCão por despender -‐ trezentos vinte oito contos dozentos setenta e çinco mil reaes iij
c xxbiijº contos
reaes
Despesa
vallem as despesas que estam asentadas nos Lyuros da fazenda, Çem contos -‐ bijc reaes
Cto contos bijc reaes
A sse de entreguar ao thesoureyro moor pera paguamento Das tenças e
despesas que elle paguase senta [sic] e seis contos lxbj contos
Nos quais entrão os trinta contos que lhe dão pera despesas extraordinaryas
E não entrão nestes lxbj contos os seis contos bjc xiiijº reaes que
se este anno am de despachar no dito thesoureyro moor que aa de daar ao thesoureyro do senhor dom duarte E soomente entra nelles o que per dous aluaras geraes paguaua pera o dito senhor que estauam asentados em seu lyuro, e o que monta nas tenças dos Cryados Do Jffante dom Duarte que santa glorya aJa que este dito anno não aa de paguar por Ja ser dada casa ao dito senhor -‐ porque atee lhe ser dada soomente se lhe auia de pagar a conthya dos ditos dous aluaras, e as ditas terças
/ [fól. 516v.º]
E monta nas despesas De casamentos emprestjmos, arqueações, e outras diuidas e tenças De triguo que am de ser paguas a dinheyro Com os dous contos e reaes que se deram ao comprador e ao thesoureyro da casa trinta e dous contos oitoçentos sesenta e seis mil reaes
xxxij contos [ reaes]397 E ficam Cto xxbiijº contos reaes
Dos quais aa d auer o thesoureyro da casa de çepta xxx contos
E o thesoureyro das moradias xx contos
E o thesoureyro da casa biijº contos
397 Ocultado por via da encadernação.
ffycão Lxx contos reaes
que am de ser entregues a Bastiam de moraes thesoureyro do dinheiro da casa
da Jndia
E desta conthia se ha tambem de descontar o que montar no triguo que os contratadores das Jlhas dos açores am de entreguar este anno presente que Sua Alteza manda leuar aas partes D affryca