• Nenhum resultado encontrado

Cosmogenia de paleolagoas do semiárido brasileiro / Paleolagoas cosmogenia of the brazilian semiarid

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Cosmogenia de paleolagoas do semiárido brasileiro / Paleolagoas cosmogenia of the brazilian semiarid"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Cosmogenia de paleolagoas do semiárido brasileiro

Paleolagoas cosmogenia of the brazilian semiarid

DOI:10.34117/bjdv6n9-719

Recebimento dos originais: 30/08/2020 Aceitação para publicação: 30/09/2020

Pierson Corrêa Alves Barretto

Dr. Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Pernambuco, 2010 Endereço: Rua Cons. Silveira e Souza, n. 113-01, Cordeiro, CEP 50.721-175, Recife, Pernambuco,

Brasil

Email: pierson.barretto@gmail.com

Bernd-Dietrich Erdtmann

Dr. Natural Sciences, University of Hamburg, 1977 Instituição: Prof. emeritus, Technical University Berlin Endereço: Lichtungsweg 9, D-13465 Berlin-Frohnau / Germany

Email: berni1739@gmail.com

RESUMO

As paleolagoas são estruturas lacunares antigas, pré-históricas, formadas no holoceno ou durante o pleistoceno. No Brasil, elas podem se formar a partir da ação erosiva da água em solos cársticos ou por inundações nas margens de rios, em antigos meandros soterrados, nos alagados, ainda, pela ação dos ventos. A ocorrência de regiões com ruínas e antigos vulcões extintos são raros no país e não formaram lagos conhecidos. Algumas lagoas, entretanto, apresentam características estruturais peculiares, são encontradas em diversos contextos, geológico, pedológico e topográfico. Elas apresentam-se em grupos, alinhadas e possuem forma elíptica. Indícios geomorfológicos, paleontológicos, arqueológicos, indicam que as paleolagoas podem ter sido formadas a partir de eventos meteoríticos, pelo impacto de grandes meteoros explosivos pré-históricos no semiárido brasileiro.

Palavras-chave: cratera de impacto, impactito, paleolagoa.

ABSTRACT

The paleolakes are prehistoric, lacunar structures formed in the Holocene or during the Pleistocene. In Brazil, they can form from the erosive action of water on karst soils or by flooding along the banks of rivers, in ancient grounded meanders or marsh, and by the action of the winds. The occurrence of regions with ruins and ancient extinct volcanoes are rare in the country and do not form lakes. Some paleolakes, however, present peculiar structural features, found in several geological, pedological and topographical contexts. They are grouped, aligned and elliptical in shape. Geomorphological, paleontological and archaeological evidence, indicate that paleolakes may have been formed from meteoritical events by impact of large prehistoric explosive meteors in Brasilian semiarid.

(2)

1 INTRODUÇÃO

O debate apresentado pelo antropólogo Prof. W. Bruce Masse, do Grupo de Trabalho sobre Impactos de Asteroides no Holoceno, do Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México (EUA) em 2007, destaca que o Quaternário representa o intervalo de oscilações climáticas extremas (períodos glaciais e interglaciais), começando há cerca de 2,6 milhões de anos até o presente. Ele discute a modelagem da comunidade de cientistas planetários que investiga Objetos Próximos da Terra (NEOs), e a probabilidade de impacto durante o Quaternário na Terra por cometas e asteróides é irrisório, em termos de impactores maiores > 10.000 Mt (MegaTonela de TNT) de potência, com objetos igual ou maior que cerca de 500 metros de diâmetro. Dois prováveis eventos de impactos oceânicos, provavelmente catastróficos globalmente: Eltanin de aproximadamente 1.000.000 Mt em torno de 2.6 milões de anos, e aquele associado com o campo de tectitos-australasiano em ao redor de 0.78 milhões de anos, são conhecidos devido a seus campos de restos (tectitos), mas as crateras ainda não foram identificadas e validadas.

A modelagem sugere que uma média de 2-3 e talvez até 5 impactos globalmente catastróficos por asteróides e cometas poderia ter ocorrido na Terra durante este período de tempo, cada um tendo efeitos ambientais regionais catastróficos, de moderado a graves efeitos continentais e globais. Os impactos globalmente catastróficos no período Quaternário e vários eventos na faixa de 10.000 Mt a 100.000 Mt ocorreram em ambientes oceânicos que ainda não foram apropriadamente identificados.

Mas a questão importante aqui é a posição padrão da comunidade NEO: que nenhum impacto grande tenha ocorrido durante os últimos 15.000 anos e que há pouca evidência de morte humana por impactos nos últimos 5.000 anos de história registrada. Esse viés, decorrente em grande parte da dependência de modelos estocásticos e ignorando seletivamente evidências físicas, antropológicas e arqueológicas em apoio a tais impactos, é evidente nas mensagens que são dadas aos meios de comunicação e ao público em geral e na falta geral de apoio. É necessário outra aos cientistas e acadêmicos que desejam realizar pesquisas de campo sobre impactos que podem se alinhar aos últimos 15.000 anos. Tal posição tem um efeito assustador sobre o que de outra forma seria uma arena importante de investigação sobre os riscos e efeitos do impacto cósmico sobre a sociedade humana. Ela potencialmente limita o avanço em nossa compreensão do recorde recente e fluxo de impacto cósmico e desvia a atenção longe de questões de pesquisa significativa, como o possível papel do impacto no período Quaternário e o processo de mudança climática, evolução biológica, cultural (Masse at al/2007).

Na região do Nordeste do Brasil esses eventos meteoríticos podem ter ocorrido há 3.200 AP, durante o Holoceno, idade atribuída à Cratera da Panela (PE), ou ainda, há 12.900 AP, idade atribuída a Lagoa do Quarí (PI), no fim de Era do Gelo (Pleistoceno). Esses eventos catastróficos foram

(3)

registrados por povos pré-históricos em pinturas rupestres (Barretto/2010), formando crateras e estruturas lacunares.

2 ÁREA DE ESTUDO

A investigação multidisciplinar procura identificar indicadores cosmogênicos em paleolagoas, em áreas de caatinga do semiárido brasileiro. Foram investigados até 2016 dez (10) campos de paleolagoas em (4) Pernambuco, (1) Alagoas, (2) Bahia, (1) Piauí e (2) Paraíba. Em (6) seis campos (PB, PE, AL, PI, BA) em duas dezenas de estruturas visitadas, identificaram-se impactitos.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Adotou-se o protocolo indicado pelo Expert Database on Earth Impact Structures (EDEIS),

Web Encyclopedia on Natural Hazards do Institute of Computational Mathematics and Mathematical Geophysics, Tsunami Laboratory, Novosibirsk, na Russia (Lyapidevskaya, Gusiakov, Amelin /2004).

No protocolo do EDEIS: para qualquer estrutura, o grau de confiança de origem de impacto é refletido pelo seu índice de validade V, que varia de 4 (confirmado) a 0 (rejeitado), com valores intermediários de 3 (provável), 2 (em perspectiva) e 1 (proposto para posterior estudo).

Na Tabela 01 do EDEIS a seguir, destacando a Cratera da Panela (PE), o banco de dados de estruturas meteoríticas investigadas no Brasil e os seus valores do índice de validade de cosmogenia (V) entre outras informações, nome, localização, tamanho, idade, tipo, profundidade, número de estruturas, efeitos da erosão, aparência, visibilidade por satélite, tipo de rochas do local, ainda estão disponíveis no site, comentários e imagens das estruturas.

Tabela: 01. A cratera da Panela (PE) entrou na lista do EDEIS em 2009 e índice V-3.

BRAZIL - Expert Database on Earth Impact Structures (EDEIS)

Name Lat Long Diameter

km Age, Ma V Type Depth

m N Erosion Appearance Space

view Rocks 01 Cerro Jarau -30.2 -56.53 10.0 117.0 4 Cr 1 structure Y Mix 02 Araguainha -16.77 -52.98 40.0 254.7 4 Cr 1 6 dome Middling mix 03 Serra da Cangalha -8.078 -46.858 12.0 300.0 4 R 1 7 basin Middling mix 04 Colonia -23.865 -46.705 3.6 36.0 4 S 440.0 1 depression Y mix 05 Sao Miguel do Tapuio -5.627 -41.388 20.0 120.0 3 Cr 1 dome Y

06 Vargeao Dome -26.82 -52.17 12.0 70.0 4 Cr 150.0 1 structure Y mix 07 Curuca (Rio Curuca) -5.18333 -71.63333 1.0 0.000078 3 S 1 depression Y

08 Piratininga -22.47 -49.15 12.0 117.0 3 Cr 1 structure Y cr/mx 09 Riacho Ring -7.72 -46.65 4.5 200.0 4 Cr 1 4 structure Middling sed 10 Aimores -19.4354 -41.0438 10.0 1.0 2 1 depression Y

11 Panela -7.85694 -38.1575 0.6 0.0012 3 S 120.0 1 crater Y cry

12 Inajah -8.67 -50.97 6.0 2 S 1 crater Y

13 Santa Marta (Gilbues) -10.1712 -45.2338 10.0 290.0 4 Cr 1 structure Y sed 14 Ubatuba -23.3041 -44.9285 1.0 2 S 1 structure Y

15 Vista Alegre -25.962 -52.691 9.5 65.0 4 C 800.0 1 structure Y mix 16 unnamed_Brazil -10.2127 -61.3802 4.5 2 Cr 1 structure Y

17 Minas Gerais -19.46 -43.92 1

18 Tefe -4.962 -66.05472 15.0 2 Cr 1 N

19 Praia Grande -25.64722 -45.625 20.0 85.9 3 Cr 1 structure N sed Fonte: EDEIS/2015

(4)

A classificação das estruturas com o índice de validade (V) é baseada no tipo de julgamento realizado na investigação e reflete a disponibilidade de critérios de impacto encontrados em quatro (4) níveis diferentes: (i) morfológico, (ii) geológico, (iii) petrológico e (iv) mineralógico.

Milhares de paleolagoas foram observadas espalhadas pela superfície da Terra através de imagens de satélites, disponibilizadas pelo GoogleEarth. Foram identificadas centenas de campos de estruturas lacunares, elípticas e alinhadas. Segundo esse indicador geométrico (i) morfológico peculiar, proposto nesta pesquisa: estruturas lacunares com distribuição fractal em variadas escalas, alinhadas, apresentando forma elíptica como um possível indicador de evento cosmogênico. Essas estruturas formadas a partir da chuva de meteoros explosivos, com o radiante dos bólidos baixo no horizonte, resultando em estruturas geomorfológicas compatíveis às crateras de impacto do tipo simples, mas elípticas, ver esquema do modelo fractal de impacto proposto na Figura: 01 a seguir.

Figura 01: Ângulo (< 30o) entrada de meteoros e formação de estruturas elípticas.

Fonte: Barretto/2010

Assim, com o auxílio dessas imagens, selecionaram-se campos de paleolagoas com várias escalas de tamanho e densidade de distribuição fractal, em diferentes continentes, ver na Figura 02 a seguir.

Figura: 02. Campos de paleolagoas em diferentes contextos geográficos.

Também foram selecionados, através de imagens de satélite gratuitas, campos de paleolagoas (elas são bastante abundantes) nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Piauí e Bahia. Escolheram-se estruturas lacunares de melhor acesso, próximas de estradas e aplicou-se, além do

(5)

indicador geométrico (i) morfológico (elípticas e alinhadas), um segundo critério para a investigação de cosmogenia, o (iii) petrológico: que consistiu na visita de campo para identificar e coletar nas margens ou no interior das lagoas (secas), possíveis rochas fundidas de impacto, as rochas do local que sofrem metamorfose pela alta pressão do choque e pelas altas temperaturas nos eventos meteoríticos, formando os impactitos (Barretto/2010).

Algumas pequenas estruturas, crateriformes de dez metros de diâmetro em sedimentos jovens no Sudeste da Alemanha, atrairam o interesse da comunidade científica na última década, embora tenham sido conhecidas desde muito tempo. Sua possível origem antropogênica ou simples buracos de bombas foram excluídos. Estudos realizados em campos de crateras na Alemanha, próximos ao Lago Chiengau, demonstraram que pequenas crateras de impacto (< 100 m) produzem impactitos. A potência das explosões dos meteoritos sobre o local é suficiente para fundir rochas e o solo no local do impacto. Escavações em estruturas de pequenas crateras evidenciaram efeito de temperaturas muito elevadas sob a forma de fusão intensa de uma formação de vidro: brecha rica em matrizes – pequenos fragmentos de rochas multicoloridas numa matriz arenosa e limosa. O próprio lago foi identificado como de origem meteorítica.

Estudo detalhados em rochas magnéticas apontam para novas idéias com foco nessa formação, pelo menos parte delas são crateras de meteoritos, originárias do recém-proposto evento meteorítico para o Holoceno, do chamado Evento do Grande Impacto de Chiemgau, durante a Idade do Bronze Séltica (Neumair, Kord/2011).

Outro evento meteorítico, icônico, denominado Evento Tunguska, refere-se a grande explosão ocorrida a 30 de Junho de 1908 na Rússia, região do rio Tunguska na Sibéria, causando a destruição de mais de 2.000 km2 de taiga. A pressão foi globalmente detectada em ondas sísmicas e luminescência brilhante nos céus noturnos da Europa e Ásia Central, combinado com outros fenômenos incomuns. Esse evento está relacionado com o impacto de um corpo cósmico com a Terra, explodiu cerca de 5-10 km acima do solo, liberando 10-15 Mton de energia.

Fragmentos do corpo impactante nunca foram encontrados, e sua natureza (cometa ou asteróide) ainda é um assunto de debate. Resultados da investigação do Lago Cheko, localizado a 8 km NNW do epicentro da explosão inferida de mostrou que sua morfologia de fundo semelhante ao funil e a estrutura de seus depósitos sedimentares, revelada por imagens acústicas e amostragem direta, sugerem que o lago preenche uma cratera de impacto (Gasperini/at al/2007), ver detalhe da tragetória do bólido, local da explosão e a cratera elíptica do lago, na Figura: 03 a seguir.

(6)

Figura: 03. Localização, batimetria da cratera submersa do Lago Cheko, 3D.

LAGO CHEKO

Fonte: TUNGUSCA HOME PAGE/2007

O Lago Cheko pode ter se formado devido a um impacto secundário no solo aluvial pantanoso. O tamanho e a forma da cratera podem ter sido afectados pela natureza do solo e pela fusão e desgasificação relacionadas com o impacto de uma camada de permafrost.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Iniciou-se a investigação sobre a cosmogenia da Cratera da Panela (600 m) em 1995, no município de Santa Cruz da Baixa Verde (PE). A estrutura possui hoje o grau de validade V-3, com três (3) critérios cosmogênicos confirmados: (i) morfológico, (ii) geológico, (iii) petrológico, é considerada internacionalmente como provável cratera de impacto (Neumair, Barretto/2009).

A forma de funil, elíptica, da Cratera da Panela é semelhante à cratera submersa do Lago Cheko (Rússia), ver na Figura 04 a seguir, uma vista geral da cratera, no detalhe o perfil cônico, realizado a partir de dados digitais da missão de 2000 da NASA, para escaneamento topográfico digital por radar do planeta Terra, Shuttle Radar Topography Mission (SRTM).

(7)

Figura 04. Vista externa a partir do sul, o perfil cônico da cratera da Panela (PE).

Fonte: Barretto/2010

Os impactos podem aresentar aspectos distitos, pois dependem das rochas do local de impacto, sedimentares, cristalinas.

Na pequena paleolagoa em Palmeira dos Índios (AL) com 80 m de diâmetro, na de São Raimundo Nonato (PI) com 250m e na Cratera da Panela em Santa Cruz da Baixa Verde (PE) com 600 m, entre outras, foram encontrados impactitos (Barretto/2016), ver na Figura: 05 a seguir.

Figura: 05. Rochas fundidas de impacto, impactitos e suas estruturas de origem.

Fonte: Barretto/2012

Adotando os critérios: (i) morfológico (das estruturas elípticas alinhadas) e (iii) petrológico (presença de impactitos) do EDEIS foi possível colocar algumas das estruturas lacunares em uma dezena de campos visitados (PE, PB, AL, PI, BA), estruturas de 100 m a 600 m de diâmetro, o grau de validade V-2; em perspectiva cosmogênica, com dois (2) critérios de cosmogenia identificados.

Estudos apresentados no Congresso da International Federation of Rock Art Organizations – IFRAO no Brasil em 2009 trouxe uma perspectiva inédita, demonstraram que registros rupestres

(8)

pré-históricos do Evento Meteorítico Tupana, que formou a Cratera da Panela, encontrados no Sudeste (MG) e Nordeste (BA, AL, PE, PB, RN) brasileiro, segundo análises de temáticas gráficas (forma estelar, explosiva, de meteoro ou cometa) representaram o evento. Os estudos de cartografia de posição dos sítios e da paralaxe desses locais dos registros confirmam a trajetória descendente dos bólidos (meteoros explosivos) vindos do sul. A gravura rupestre pré-histórica, com temática meteorítica, encontrada no teto de uma caverna em Central, na Bahia, atribuiu-se uma datação relativa, a partir do C14 de restos de fogueira encontrados nesse abrigo, a idade de 3.200 AP. Vale

lembrar que essa datação é incerta, uma vez que o registro rupestre pode ter sido feito em outra época, centenas ou milhares de anos antes ou após a queima da fogueira. As representações rupestres são coerentes e precisas, na Figura 06 a seguir detalhes da trajetória do meteoro e localização dos registros rupestres do evento meteorítico que formou a Cratera da Panela (Barretto/2009).

Figura: 06. Trajetória do meteoro, localização de sítios rupestres e sua paralaxe.

Fonte: Barretto/2009

Por outro lado, outro campo de paleolagoas investigado no Piauí, em particular a Lagoa do Quarí, pode ter uma idade de 12.900 AP. Essa estrutura apresenta um aspecto geomorfológico peculiar, uma camada bem marcada e limitada de clastros de silício, aspecto típico de crateras de impacto “simples”, rochas fundidas (?), prováveis impactitos.

Nessa região em São Raimundo Nonato (PI) uma equipe de pesquisadores, brasileiros e italianos, realizaram em 2004 um estudo do perfil sedimentológico da lagoa do Quarí, para investigar a flora pré-histórica local. Eles identificaram (5) unidades sedimentares (U.S.). A US-1 apresenta artefatos pré-históricos de pedra lascada; a US-2 apresenta fósseis da megafauna extinta; a US-3 apresenta uma camada homogênea (50cm) de rochas de clastos de silício, a US-4 apresenta uma fina camada indefinida em contato com a US-5 a rocha base, também indefinida.

(9)

No estudo de pólen realizou-se datação em C14, identificou que na paisagem pré-histórica, aproximadamente entre 5.440 AP e 8.790 AP, 35% da vegetação era representada por espécies arbóreas e 30% da vegetação eram de gramíneas. Ver esquema adaptado na Figura: 07 a seguir.

Figura 07. Perfil sedimentar (adaptado) da Lagoa do Quarí (PI) e a US-3 de clastos de silício.

Fonte: Barretto/2012

A partir do perfil sedimentar, do intervalo de 3.350 anos entre as datações em C14 de 5.440 AP a 8.790 AP, e considerando que a datação foi realizada em amostras coletadas a aproximadamente na metade da coluna de sedimentos e, admitindo que a deposição de sedimentos, acima ou abaixo desse intervalo, foi relativamente homogênea ao longo do tempo, considerando ainda o limite da rocha mater, inferiu-se que: a súbita descontinuidade da unidade sedimentar US-2 e US-3 teria ocorrido aproximadamente há 12.900 AP.

A US-3, com 50 cm de espessura, repousa sobre a rocha mater, se de origem meteorítica, essa camada formou-se instantaneamente há 12.900 AP, com a deposição imediata, pós-choque do meteorito, dos escombros da explosão, os clastos de silício, as rochas fundidas de impacto encontradas em outras paleolagoas da região de São Raimundo Nonato (PI). Essas paleolagoas podem ter sido formadas no Fim do Pleistoceno, segundo os critérios do EDEIS teria validade V-2, são estruturas em perspectiva cosmogênica (Barretto/2012). Lembrando que em dezenas de paleolagoas da região foram identificadas essas rochas fundidas, os impactitos.

Segundo o Simulador de Efeitos de Impacto na Terra (Marcus, Melosh, Collins/2010) da Universidade de Purdue, na Inglaterra, o choque de um meteorito com a Terra, de 45 metros de diâmetro a uma velocidade de 12 m/s, em uma trajetória baixa, com um ângulo de 20o, o impacto

(10)

abriria uma cratera com 600 m de diâmetro e 130 m de profundidade, semelhante à Cratera da Panela (PE). O potencial do choque da explosão seria de 6,5 Mt (Mega Toneladas de TNT).

A bomba que destruiu Nagazaki (1945), no Japão, possuía 21 Kt (Kilo Toneladas de TNT). As explosões que criaram a Cratera da Panela (PE) e a Lagoa do Leonardo (PB) foram cada uma mais que 300 vezes mais potentes. Considerando todas as lagoas já identificas na região, o campo de paleolagoas da Panela pode ter sofrido o efeito das explosões em mais de 20 Mt (Mega Toneladas de TNT), o mesmo que 1.000 bombas da que destruiu Nagazaki, simultaneamente, duas vezes a potência (10-15 Mt) do Evento de Tunguska (1908).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem centenas de campos e milhares de paleolagoas espalhadas no semiárido nordestino, de todos os tamanhos, são prováveis estruturas hídricas associadas aos processos meteoríticos, são rasas e dependentes das precipitações, podem ser bem pequenas, menos de 100 m de diâmetro, muitas possuem centenas de metros, outras poucas, poucos quilômetros de extensão, a maioria permanece seca durante as estiagens.

O campo de estruturas da Cratera da Panela (600 m), incluindo a Lagoa de Santa Luzia, em Santa Cruz da Baixa Verde (PE) e da Lagoa do Leonardo (600 m) incluindo a Lagoa da Cruz, em Manaíra (PB), distantes 8,5 km uma da outra, possuem estruturas elípticas e encontram-se cartograficamente alinhadas, a proximidade infere parentesco de origem. Elas são de provável (V-3) origem cosmogênica. Nessas estruturas foram identificados impactitos, as rochas fundidas encontradas em crateras de origem de impacto de grandes meteoritos (Barretto, Erdtmann/2016).

Segundo Masse (2007), os fenômenos meteoríticos catastróficos são comuns, são desastres naturais que ocorrem com intervalos de escala milenar, mas podem ocorrer a qualquer momento. Vários eventos devem ter ocorrido nos últimos 15 mil anos. O processo meteorítico não cessou, ainda faz parte da dinâmica superficial da paisagem terrestre.

Durante esses eventos meteoríticos catastróficos muitas pessoas podem morrer, pelo efeito das explosões de potência de milhares de bombas atômicas, queimadas por incêndios florestais, pelo pânico ou envenenadas por aerossóis tóxicos de meteoros. Os sobreviventes podem ter passado muitos anos sem usar essas paleolagoas como novo recurso ambiental. As pessoas e o meio ambiente em toda a região sofreram, em maior ou menor grau, os impactos das explosões dos meteoros e o envenenamento dos recursos hídricos. A devastação regional foi severa, para o novo equilíbrio ambiental pode ter passado vários anos, décadas, séculos (?). Eventos desse tipo podem ainda, ter causado migrações de grupos humanos na região e influenciado culturalmente essas populações, os registros pré-históricos são eloquentes.

(11)

A Cratera da Panela é ponto turístico regional, atrai constantemente visitantes de várias cidades da região e de outros estados, dinamiza o turismo e a economia local. Ver imagens comparativas do alinhamento na Figura: 08 a seguir.

Figura: 08. O mesmo alinhamento das estruturas e presença de impactitos.

LAGOA DO LEONARDO (PB)

LAGOA DE SANTA LUZIA (PE)

Fonte: Barretto/2012-14

É sabido que o Nordeste brasileiro foi amplamente povoado por levas de populações prehistóricas há mais de 50.000 anos. A arte rupestre e outros atefatos arqueológicos são testemunho desse processo de povoamento em toda a região.

As novas lagoas, surgidas depois da catástrofe natural meteorítica sem precedentes, foram sendo preenchidas a cada evento pluvimétrico e se imcorporando à paisagem. O assoreamento progressivo, pela ação de chuvas e do vento, com o passar dos milênios, foram ficando cada vez mais rasas.

As paleolagoas são estruturas ambientais importantes para ecologia e a sustentabilidade hídrica local, são economicamente importante, entre outros, ao turismo científico com estudantes. Essas estruturas meteoríticas testemunham como ocorrem alguns processos superdinâmicos ou catastróficos da história natural da paisagem, a paisagem instantânea. Essas paleolagoas possuem potencial para abrigarem Parques Públicos, municipais ou estaduais, para preservação ambiental, educação científica, induzindo à melhoria da qualidade de vida de populações rurais difusas.

(12)

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Bernie-Dietrich Erdtmann, do Instituto de Pesquisa de Geociências da Universidade Técnica de Berlim, TU-Berlin, Professor de Geologia e Paleontologia, Alemanha.

Ao geólogo Andreas Neumair, do Grupo de Pesquisa de Impacto do Chiemgau (CIRT), na Bavaria, Alemanha.

Ao Prof. Dr. Viacheslav K.Gusiakov, coordenador do banco de dados de estrutura de impacto em investigação no mundo através do EDEIS no Web Encyclopedia on Natural Hazards, do instituto de Matemática Computacional e Matemática Geofísica, Laboratório de Tsunamis, em Novosibirsk, Rússia.

REFERÊNCIAS

Barretto, P.C.A., Erdtmann, B.; A HIPÓTESE COSMOGÊNICA DE PALEOLAGOAS; 19o Encontro Nacional de Astronomia – ENAST – João Pessoa, PB, 12-15/Nov. Brasil, 2016.

http://www.apapb.org/19o_enast/works/sessions

Barreto; Pierson, A CRATERA DA PANELA E A HIPÓTESE COSMOGÊNICA DE PALEOLAGOAS; revista Planetaria – Volume 3, Número 9, 2016; pag: 12-15; Associação Brasileira de Planetários (ABP), ISSN 2358-225, Brasil, 2016. https://issuu.com/planetarios/docs/planetaria_nr.9

Barreto, Pierson; PALEOLAGUNAS CÓSMICAS? – Agrupación Astronómica de La Safor, Boletin Huygens n. 94; pag. 6-10, Espanha, 2012. https://issuu.com/astrosafor/docs/huygens-94?e=4031214/2960477

Barreto, Pierson; COSMOPIER, Rede Virtual de Pesquisa: cosmogenia de paleolagoas, hipertexto; Google, Brasil, 2010. https://sites.google.com/site/cosmopier/

Barretto; Pierson; THE PREHISTORIC REPRESENTATIONS OF THE TUPANA EVENT IN NORTHEASTERN OF BRAZIL; The Non–Cartesian Axes Of Rock Art Research, Revista Fundamentos IX, pag. 235-240 (223-228); Congress of International Federation of Rock Art

Organizations, IFRAO, Piauí/Brasil, 2009.

(13)

L. Gasperini, L.; Alvisi, F.; Biasini, G.; Bonatti, E.; Longo, G.; Pipan. M.; Ravaioli, M.; Serra, R.; A POSSIBLE IMPACT CRATER FOR THE 1908 TUNGUSKA EVENT, University of Bologna, Departament of Phisics, TUNGUSCA HOME PAGE, Italy, 2007, http://www-th.bo.infn.it/tunguska/

Lyapidevskaya Z.A., Gusiakov V.K., Amelin I.I., EDEIS - Expert Database on Earth Impact Structures; Web Encyclopedia on Natural Hazards; Institute of Computational Mathematics and Mathematical Geophysics Siberian Division Russian Academy of Sciences; Russia, 2004-2015. http://tsun.sscc.ru/nh/edeis.html

Marcus, Robert; Melosh, H. Jay; Collins, Gareth; Inglaterra, EARTH IMPACT EFFECTS PROGRAM, Imperial College, London, Purdue University, UK, 2010. http://impact.ese.ic.ac.uk/ImpactEffects/

Masse, W. Bruce; Weaver, Robert P.; Abbott, Dallas H.; Gusiakov, Viacheslav K. Bryant, Edward A.; MISSING IN ACTION? EVALUATING THE PUTATIVE ABSENCE OF IMPACTS BY LARGE ASTEROIDS AND COMETS DURING THE QUATERNARY PERIOD; Los Alamos National Laboratory, Lamont Doherty Earth Observatory of Columbia University, Tsunami Laboratory, Russian Academy of Sciences, Siberian Division, Novosibirsk,University of

Wollongong, Russia, 2007.

http://tsun.sscc.ru/hiwg/PABL/Masse_2007_MissingInAction%20AMOS2007_Paper.pdf

Neumair, Andreas; Barretto, Pierson; PANELA – Brazil; EDEIS - Expert Database on Earth Impact Structures; Web Encyclopedia on Natural Hazards, Institute of Computational Mathematics and Mathematical Geophysics, Siberian Division Russian Academy of Sciences, Russia, 2009 http://tsun.sscc.ru/nh/txtxt.php?tfile=Panela_Brazil.rtf

Neumair, Andreas; Ermstson, Kord; poster: GEOMAGNETIC AND MORFOLOGICAL SIGNATURE OF SMALL CRATERFORM STRUCTURES IN THE ALPINE FORELAND, SOUTHEAST, Chiemgau Impact Research Team (CIRT), Bavaria, Germany, 2011. http://www.chiemgau-impakt.de/wp-content/uploads/2011/12/Poster-Neumair-Ernstson.pdf

Imagem

Figura 01: Ângulo (&lt; 30 o ) entrada de meteoros e formação de estruturas elípticas
Figura 04. Vista externa a partir do sul, o perfil cônico da cratera da Panela (PE).
Figura 07. Perfil sedimentar (adaptado) da Lagoa do Quarí (PI) e a US-3 de clastos de silício

Referências

Documentos relacionados

As Reações da Fotossíntese As Reações da Fotossíntese As Reações da Fotossíntese As Reações da Fotossíntese reações luminosas reações luminosas reações luminosas

Quando Goffman (1985) fala em palco e cenário, atores e platéia, papéis e rotinas de representação, necessidade, habilidades e estratégias dramatúrgicas,

Autorizada pela VISAPRESS para a reprodução, distribuição e/ou armazenamento de conteúdos de imprensa, das publicações por esta representada, sendo interdita qualquer

Curvas de rarefação (Coleman) estimadas para amostragens de espécies de morcegos em três ambientes separadamente (A) e agrupados (B), no Parque Estadual da Ilha do Cardoso,

[r]

Os dados foram extraídos do Cadastro no dia 15/12/2020 para beneficiários ativos locais (desconsidera os registrados como recebidos em compartilhamento de risco e beneficiários

Figura A.164 – Custos de Exploração por metro cúbico de água faturada em função do número médio de trabalhadores para EG de gestão direta por grau de fiabilidade dos dados.

A comunidade rural localizada no litoral oeste do estado do Ceará tem, em seu domínio territorial, pessoas envolvidas em diversas atividades, desde a pesca artesanal, considerada