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Alterações climáticas nos municípios portugueses: resultados de um inquérito

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Academic year: 2021

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Isabel Corrêa da Silva

Marina Pignatelli

Susana de Matos Viegas

(Coord.)

Isabel Corrêa da Silva, Marina Pignatelli e Susana de Matos Viegas (Coord.)

Capa, revisão e paginação: Leading Congressos

1ª edição: janeiro de 2015

ISBN: 978-989-99357-0-9

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Isabel Corrêa da Silva

Marina Pignatelli

Susana de Matos Viegas

(Coord.)

Isabel Corrêa da Silva, Marina Pignatelli e Susana de Matos Viegas (Coord.)

Capa, revisão e paginação: Leading Congressos

1ª edição: janeiro de 2015

ISBN: 978-989-99357-0-9

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Alterações climáticas nos municípios portugueses – resultados de um

inquérito

Guerra, João joao.guerra@ics.ulisboa.pt

Ferreira, José Gomes jose.ferreira@ics.ulisboa.pt

Schmidt, Luísa Campos, Inês Sobral sobralcampos@gmail.com

Penha-Lopes, Gil gppenha-lopes@fc.ulisboa.pt

Vizinho, André afvizinho@fc.ulisboa.pt

Resumo: As alterações climáticas têm tido enorme visibilidade nas agendas pública e política e a importância do envolvimento das populações nas estratégias de adaptação/mitigação é crescentemente reconhecida. Daí o papel atribuído aos municípios, cuja posição de proximidade os coloca numa posição privilegiada para garantir o sucesso de estratégias e programas que dependem da aquiescência pública. O relevo da ação dos municípios decorre do facto de as suas atividades afetarem, de uma forma ou de outra, o volume e a qualidade das emis-sões de carbono, seja através dos serviços que oferecem aos seus munícipes, seja através do papel estratégico e mediador que desempenham entre sociedade civil, empresas e poder central. Assim, a partir de um inquérito por questionário aplicado a uma amostra representativa de municípios portugueses, procuraremos refletir sobre a capacidade acumulada para a mudança, os conhecimentos adquiridos, as motivações e a importância atribuí-da às questões atribuí-das alterações climáticas nas ediliatribuí-dades municipais.

Palavras-chave: alterações climáticas; mitigação; adaptação; inquérito; municípios

Alterações climáticas, ação local e enquadramento nacional

Nos últimos anos a consciência das alterações climáticas (AC) enquanto problema social tem aumentado considerável e consistentemente, tendo-se transformado num dos maiores desafios para a humanidade. No en-tanto, se hoje em dia é praticamente unânime a necessidade declarada de atuar sobre os seus efeitos (Giddens, 2009), para a maioria das pessoas (governantes e governados, cidadãos e decisores) há uma miríade de outros problemas quotidianos que – mesmo se claramente relacionados com ele (degradação da qualidade do ar, es-cassez e custos dos recursos energéticos, aumento de eventos meteorológicos extremos, erosão costeira…) e no meio de outros só aparentemente dele desligados (problemas de saúde pública, desemprego, desigualmente sociais, dificuldades económicas…) – têm vindo a reclamar esforços mas, simultaneamente, têm implicado uma imediatez e/ou exiguidade de respostas que adia uma ação institucional e socialmente eficaz. A verdade é que, nos últimos dois séculos, a queima de combustíveis fósseis veio a transformar-se num elemento basilar do quotidiano social, determinando o modo como vivemos, como trabalhamos, como comemos, como nos

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deslocamos… Nas sociedades atuais esta dependência tornou-se de tal forma estrutural e omnipresente que conduziu a um crescendo dos níveis de emissões de gases de efeito de estufa que, apesar de claramente reco-nhecido como insustentável (Peters, Fudge & Jackson, 2010), resiste e tende a perpetuar-se, descurando-se não só os riscos sociais e ambientais daí decorrentes, como a forma de os enfrentar (Guerra, 2011).

As AC são um problema que decorre, basicamente, de duas incapacidades sobrepostas: i) a incapacidade do planeta em assimilar a acumulação de gases de efeito de estufa decorrente das atividades humanas e, muito particularmente, da utilização de combustíveis fósseis” (Jackson, 2009:24) e ii) a incapacidade das sociedades atuais em impedir que tais emissões continuem num crescendo potencialmente perigoso que, sem mudanças relevantes, desembocarão numa catástrofe ecológica com graves repercussões sociais e económicas. Com efeito, se a publicação dos Limites do Crescimento (Meadows et. al., 1972) alertava para a necessidade de mudança já no início da década de setenta, no que toca à emissão de gases de efeito de estufa, mais de quatro décadas passadas, dificilmente se pode dizer que se arrepiou caminho. Apesar dos discursos por vezes inflama-dos e quase sempre muito assertivos, continua a imperar a inercia e a sobejar o imobilismo, com abordagens, políticas e programas de intervenção demasiado superficiais que não afetam o mais importante (Redclift, 2005, Guerra, 2014) e se limitam ao “whishfull thinking” (Dryzek, 2006). Veja-se, por exemplo, que “de acordo com o Protocolo de Quioto, as economias mais avançadas deveriam ter reduzido a emissão de gases com efeito de estufa em cerca de 5% até 2010 (…) mas em termos globais, as emissões subiram 40%” (Jackson, 2009:25) no mesmo período.

Na verdade, as AC estão de tal forma dependentes da atividade económica, da produção industrial e do consu-mo quotidiano dos cidadãos que, para reduzir e enfrentar os seus efeitos, implicam políticas transversais poten-ciadoras de mudanças sociais que, forçosamente, terão de assentar na alteração de práticas e comportamentos locais (onde se geram os problemas), ainda que tenham como objetivo repercussões globais. Trata-se de encon-trar respostas de governança mais inclusiva, potenciadora do envolvimento dos cidadãos e consequentemente de maior aquiescência pública, tirando partido do cruzamento a que hoje se assiste entre o global e o local, numa interação constante e dinâmica com ‘proximidades distantes’ (Rosenau, 2003) que, em contexto de globalização, dão lugar a forças sociais revigoradas por fluxos interativos locais e translocais (Brenner, 2004). Neste contexto, os municípios assumem uma posição crucial e privilegiada desde há muito reconhecido pelas próprias Nações Unidas que lhes atribuem, pelo menos desde a Cimeira da Terra de 92, um papel vital na edu-cação, na mobilização e na disponibilização de informação (CNUAD, 1992) nas estratégias para enfrentar as AC e a complexidade das suas causas e consequências. A capacidade de influência acrescida dos municípios decorre, afinal, da sua função mediadora/ reguladora nas comunidades locais, nomeadamente através:

i) Das ligações privilegiadas que, decorrendo da disponibilização de serviços e dos próprios processos eleitorais, detêm com os cidadãos, as famílias, as organizações da comunidade em geral e as empresas e organizações empresariais;

ii) Do seu lugar estratégico numa governança multinível, bem como da influência reguladora assumida no cumprimento de normas e diretrizes nacionais e europeias;

iii) Das oportunidades para identificar, reunir e apoiar organizações locais e incentivar as empresas a forne-cer serviços que reflitam necessidades e circunstâncias locais;

iv) Do potencial acrescido para estabelecer e manter sentimentos de pertença e de identidade local, capazes de tornar questões nacionais e globais localmente relevante;

v) Da capacidade de liderança da comunidade capaz de envolver nos processos de tomada de decisão os seus constituintes, garantido a aquiescência pública para a mudança. (Roberts, 2010).

As repercussões das AC nas comunidades locais (e.g., eventos climáticos extremos, desertificação, secas, alterações na disponibilidade e qualidade da água, aumento do nível do mar, erosão costeira, pressões adicio-nais nas infraestruturas costeiras…) reclamam um papel acrescido do poder local/municipal, numa perspetiva de governança multinível, onde o seu papel não é certamente suficiente, mas central para garantir a urgente mudança social advogada por todos. Afinal, as alterações climáticas são um problema complexo que requer respostas igualmente complexas e abrangentes, incluindo não apenas a transversalidade disciplinar, como e sobretudo, o envolvimento de vários níveis de governança e de diferentes atores.

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tem início na década de 1990, primeiro com a ratificação da Convenção Quadro sobre Alterações Climáticas em 1992 e, sobretudo, com o Protocolo de Quioto (assinado em 1998 e ratificado em 2002) e a consequente criação da Comissão para as Alterações Climáticas (CAC), incumbida de elaborar a estratégia nacional para as alterações climáticas e acompanhar, a nível interno e internacional, a tomada de decisões e execução de políticas e medidas nesta matéria. Um papel que se torna efetivo a partir de 2000” (Schmidt e Delicado, 2014: 114). Uma década depois, em 2010, na sequência dos esforços empreendidos para reduzir emissões de gases com efeito de estufa, foi aprovada a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (ENAAC) que preconiza uma série de ações em diversas áreas, incluindo o “ordenamento do território, os recursos hídricos, a saúde, a energia, a biodiversidade e a proteção das zonas costeiras” (Idem: 116).

Nesta matéria, um dos temas que tem merecido maior atenção diz respeito às estratégias de combate às AC centradas em dois eixos fundamentais: mitigação e adaptação. A mitigação tem como objectivo reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa e reduzir os riscos climáticos decorrentes da actividade humana. Pode ser encarada como um conjunto de medidas que procuram atacar o problema a partir das suas causas, reduzin-do o risco futuro e a probabilidade da ocorrência de danos ambientais e suas consequências sociais. Incluem-se aqui, portanto, investimentos técnicos e infra-estruturas, medidas de promoção da produção de energia através de fontes renováveis, melhoria da eficiência energética, restrições à circulação de automóveis no centro das grandes cidades, etc. finalmente, para garantir maior eficácia, espera-se que estas medidas sejam abrangentes e envolvam desde o sector público, passando pelo sector privado, até aos cidadãos. De todos se espera e a todos se pede que assumam a responsabilidade social pela mudança e comportamentos mais “amigos do ambiente”. A proximidade do poder local e a sua capacidade de influenciar as comunidades locais torna, por isso, os mu-nicípios fontes cruciais potenciadoras da mudança.

Por seu turno, a adaptação decorrerá do ajuste dos sistemas naturais ou humanos aos estímulos climáticos presentes e/ou futuros, procurando antecipar impactos negativos e, se possível, beneficiar de eventuais novas oportunidades. A adaptação lida fundamentalmente com a incerteza dos fenómenos climáticos e com o ciclo longo destes problemas procurando, através de várias medidas, reduzir a exposição ao risco e a vulnerabili-dade climática das comunivulnerabili-dades que variam de acordo com o seu grau de desenvolvimento (Felgenhauer e Webster, 2013), ou seja, com a acumulação de capitais específicos que decorrem de especificidades biofísicas e socioeconómicas particulares. Estamos, assim, perante um conjunto de medidas cujo objetivo é reduzir as consequências negativas de danos futuros, integrando uma panóplia de programas e políticas que rapidamente se transformaram em estratégias mainstream nesta matéria (Measham, et al. 2011), através de uma abordagem não se centra apenas nos impactos no meio natural, mas igualmente nos necessários ajustamentos sociais, a diferentes escalas (Adger, et al., 2005).

A incerteza e a longa duração dos fenómenos climáticos implicam uma política de combate às alterações climáticas que passa pela aplicação simultânea dos dois tipos de medidas (Felgenhauer e Webster, 2013). Trata-se, afinal, de um processo contínuo e dinâmico que implica, em cada fase, novas avaliações assentes no conhecimento adquirido. As decisões políticas e os investimentos não podem, por isso, ser decididos de forma rígida. Necessitam, antes, de reajustamentos continuados ao longo de todo o processo, a enquadrar numa pers-petiva mais alargada e contando, como já foi referido, com a participação alargada dos diversos atores sociais. É, alias, este envolvimento que permite a antecipação de possíveis conflitos e a aquiescência pública no pro-cesso de implementação de medidas e soluções, num quadro de desenvolvimento sustentável nas comunidades (Laukkoven et al, 2009).

Longe está, portanto, a ideia de que a resposta às AC depende apenas do conhecimento científico. A capacidade adaptativa depende, para além da disponibilidade de recursos e da capacidade institucional, também (e talvez fundamentalmente) de uma abordagem abrangente que considere, nas várias etapas de implementação, todos os envolvidos e todas as partes interessadas. Afinal, a vulnerabilidade das comunidades locais aos impactos das mudanças climáticas é determinada por um complexo imbricado de fatores que passa pela sua localização e por fatores geofísicos; por factores sócio-económicos e de coesão social, pelo envolvimento e capacidade in-terventiva das comunidades locais e pela eficácia e capacidade de actuação e mobilização dos governos locais (Laukkonen, 2009). É, afinal, à escala local que se joga o sucesso da implementação de medidas de redução da emissão de gases de efeito de estufa e de adaptação às mudanças climáticas (Allman, Fleming e Wallace, 2004;

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Measham, et al. 2011) e é precisamente a partir do seu lugar de charneira e mediação que os municípios podem desempenhar um papel de liderança decisivo e fundamental para a mudança que todos preconizam.

Inquérito aos municípios portugueses

Com base nos resultados de um inquérito por questionário aplicado a uma amostra representativa dos municípios portugueses, ensaiamos o diagnóstico da situação atual, destacando alguns aspetos relevantes das comunidades municipais, assim como algumas características específicas de inicia-tivas recenseadas e seus promotores. O inquérito insere-se no projeto BASE - Bottom-up Climate

Adaptation Strategies for Sustainable Europe1 (que pretende apoiar uma tomada de decisão partilhada

e mobilizadora nas estratégias de adaptação, bem como apontar caminhos e programas de ação em Portugal e na Europa.

A aplicação do inquérito teve início em Janeiro de 2014 e prolongou-se até à primeira quinzena de Junho, data em que tinham respondido ao inquérito 109 dos 308 municípios portugueses. O pedido de resposta ao inquérito foi dirigido individualmente ao/à presidente de cada autarquia através de email, que depois deu resposta ou o remeteu aos respectivos serviços. Na sua aplicação foram definidos três critérios principais de amostragem: a região (NUT II), a força política no poder e a dimensão do município (número de habitantes), complementados depois com o envolvimento no Pacto de Autarcas e a localização na faixa litoral do território.

Resultados e discussão

As respostas obtidas cumprem os critérios definidos na amostragem. Foi elevada a adesão dos autarcas no

sentido de preencherem inquéritos2, ainda assim registaram-se dificuldades na obtenção de respostas de

muni-cípios de menor dimensão e do interior Norte, que estarão menos preparados do ponto de vista organizacional e recursos humanos para enfrentarem os impactos das AC. Na Tabela 1 podemos verificar a qualidade da amostra que cumpre quase escrupulosamente os requisitos para garantir representatividade nacional. Por último, quan-to aos critérios adicionais de amostragem, 35,8% dos municípios que responderam são signatários do Pacquan-to de Autarcas3 e 23,9% localizam-se na faixa litoral do país.

1 Projeto financiado pelo 7.º Programa-Quadro para a Investigação e Desenvolvimento Tecnológico – FP7, coordenado em Portugal pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com a participação do Instituto de Ciências Sociais. No período 2012 a 2016, o projeto estuda a problemática das alterações climáticas e desenvolve várias iniciativas com o objetivo de fomentar a adaptação sustentável na Europa, bem como produzir e melhorar o conhecimento básico sobre adaptação, procurando tornar esta informação mais fácil de aceder, de compreender e acionar através da integração de posicionamentos e estratégias “Bottom Up” com processos e programas “Top Down”.

2 A taxa de resposta ao inquérito foi relativamente elevada. Responderam 109 dos 308 municípios portugueses distribuídos numa amostra representativa dentro dos moldes previstos.

3 Criado em 2007, “o Pacto de Autarcas é o principal movimento europeu a envolver autarquias locais e regionais que voluntariamente se empenham no aumento da eficiência energética e na utilização de fontes de energias renováveis nos respetivos territórios”. Através do compromisso do município, “os Signatários pretendem atingir e ultrapassar o objetivo da União Europeia de reduzir o CO2 em 20% até 2020” (Pacto de Autarcas, 2014).

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Região

NUTS 2 Amostra Universo

Força Politica

Presidente Câmara Amostra Universo

Dimensão

(N.º Habitantes) Amostra Universo

Norte 25,69% 27,92% PS 47,71% 48,7% < 7.500 22,02% 29,55% Centro 33,94% 32,47% PSD 25,69% 27,92% 7.500 – 20.000 22,94% 29,22% Lisboa 6,42% 5,84% PCP-PEV(CDU) 13,76% 11,03% 20.000 – 50.000 29,36% 22,08% Alentejo 19,27% 18,83% CDS-PP 1,83% 1,62% 50.000 – 100.000 14,68% 11,36% Algarve 5,50% 5,19% PSD/CDS/Outros 8,26% 6,49% > 100.000 11,01% 7,79% Açores 6,42% 6,17% Independentes 3,00% 4,00% Faixa Litoral 23,9% (Univ. 16,23%)

Madeira 2,75% 3,57% Signatários do Pacto de Autarcas 35,8% (Universo 30,84%) Tabela 1 – Representatividade da amostra de municípios respondentes

Ainda que não se trace o perfil dos respondentes (interessou, sobretudo, caracterizar os municípios e as ini-ciativas por eles desenvolvidas na área das AC), quisemos saber quais as funções desempenhadas por quem respondeu ao inquérito já que, se os técnicos garantem know how e capacidade técnica para garantir interven-ções informadas, são os políticos que detém o poder de decisão e de quem depende, afinal, a maior ou menor abertura à sociedade civil e à partilha desse mesmo poder de decisão.

Figura 1 - Perfil dos respondentes ao inquérito

As respostas mostram que as funções variam de município para município mas, maioritariamente, foram os técnicos que assumiram a responsabilidade da resposta (Figura 1).

Os dados mostram que a maioria dos respondentes é técnico autárquico: 28,4% dos é técnico superior de outras áreas que não a ambiental (ou não identificam a área), 22% é técnico superior de ambiente e 21,1% identifica-se como identifica-sendo chefe de identifica-serviço. Temos assim que a esmagadora maioria (71,5% dos respondentes) assume a qualidade de técnicos autárquico e os restantes 28,4% assume-se como decisor político, com pertença à verea-ção do Ambiente (18,3% de respostas), à presidência da Câmara ou ao respetivo gabinete de apoio (9,2% de respostas) e, ainda, a vereações de outras áreas (0,9% das respostas).

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Açores Madeira Técnicos ¢ Políticos ¢ Continente Açores Não ¢ Sim ¢ Madeira Continente

Figura 2 - Respondente segundo a região Figura 3 - Ações de adaptação / mitigação

O mapa da Figura 2 mostra que somente na Madeira os políticos superaram os técnicos, a que não é alheio o facto de apenas terem respondido ao inquérito três municípios deste arquipélago. Pelo contrário, nos Açores foram os técnicos a preencher o inquérito. Quanto ao Continente, os técnicos destacam-se globalmente como responsáveis pelas respostas ao inquérito mas as Regiões Centro e Alentejo tendem a mostrar uma taxa de resposta de políticos um pouco maior que a média nacional.

Quando questionados se desenvolvem ações de mitigação/adaptação às alterações climáticas, à escala do país, 50,5% dos municípios afirmaram estar a desenvolver ações, 43,1% deram uma resposta negativa e 6,4% res-ponderam “não saber” (situação que se justificará com eventuais problemas de comunicação entre os diversos serviços). O mapa da Figura 3 confirma que na região Centro é maior o número de municípios a desenvolver ações de mitigação/adaptação, com a particularidade de serem municípios tanto do Centro Litoral como do Centro Interior. Efetivamente, 73% dos respondentes da Região Centro afirmaram estar a desenvolver ações, seguidos de perto pelos respondentes da Madeira com 66,7%, mas cujo número de respostas (3) deixa em aberto o efetivo desempenho desta região autónoma. Seguem-se sempre em número decrescente, a Região Norte com 50%; a Região de Lisboa com 42,9%; o Algarve com 33,3%; a Região Autónoma dos Açores com 28,60%; e o Alentejo com apenas 23,8% dos municípios a afirmar estar a desenvolver ações de mitigação/ adaptação às alterações climáticas.

Interessa, então, perceber que tipo de ações estão a ser desenvolvidas. Com efeito, sendo a mitigação e a adaptação estratégias de políticas públicas complementares para a gestão do risco climático que devem ser articuladas, uma das principais dificuldades no processo da sua implementação decorre, justamente, da forma como se processa a sua articulação. As estratégias de adaptação requerem uma visão de longo prazo, nem sem-pre coincidente com os ciclos das políticas públicas colados aos ciclos eleitorais que, muito frequentemente, preferem concentrar-se em soluções de curto prazo (Huq et al., 2006; Laukkoven et al, 2009).

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Figura 4 - Tipologia de medidas aplicadas pelos municípios por região

Dada a escassez de recursos públicos (agudizada em tempos de crise económica), a perceção de uma ameaça sentida como não iminente instala a inércia e o consequente adiamento de medidas (inércia esta que não é igualmente alheia, como veremos mais adiante, à falta de informação e desconhecimento sobre impactos e medidas).

Assim, os municípios, e também o poder político nacional, têm vindo a apostar, sobretudo, em estratégias de mitigação que, na prática, se mostram mais rentáveis politicamente (porque mais imediatas) e, sobretudo, me-nos exigentes em termos de investimento público. Isto apesar da necessidade crucial de pensar uma estratégia de longo prazo que não dispensa a integração de ambos os tipos de medidas.

Assim, no sentido de se identificarem o tipo de ações que estão a desenvolver, pedimos aos inquiridos que nos dissessem se, no seu município, desenvolvem ações de mitigação, adaptação, ambas ou nenhuma.

A nível nacional, 20,2% dos municípios responderam estarem a implementar medidas de mitigação, 11,9% de adaptação e 24,8% ações de ambos os tipos. Por região, foi nos Açores que os municípios mais responderam não estarem a desenvolver “nenhuma ação” (57,1%), seguindo-se o Norte (35,7%), Alentejo (33,3%), Algarve (33,3%) e o Centro (29,7%). O Algarve destaca-se por ser a região onde mais municípios afirmam terem ado-tado “ambas” as ações (50%), seguindo-se a Lisboa (42,9%), Centro (29,7%) e o Alentejo (23,8%).

Quanto às ações de “mitigação” é a Madeira, com 66,7% das respostas, que se destaca. Segue-se, a alguma distância, a Região Centro (27%), Norte (25%) e Alentejo (14,3%). Por último, as medidas de adaptação são referidas pelos municípios do Alentejo (19%), de Lisboa (14,3%), da Região Norte (14,3%), dos Açores (14,3%) e da Região Centro (8,1%).

Repase que, ao contrário das respostas â questão anterior estas não acompanham a mesma tendência. As re-giões Norte e Centro estão mesmo entre aquelas cujos respondentes mais afirmam não desenvolver “nenhuma ação”. Esta descoincidência justificar-se-á com o facto do combate às AC entre os municípios portugueses ser um processo relativamente recente e fortemente marcado pela adesão ao Pacto de Autarcas. Uma vez que a adesão a esta iniciativa é recente e ainda está em curso, os municípios encontram-se numa fase de preparação dos documentos necessários para garantir a sua adesão à rede, nomeadamente os respetivos Planos de Ação para a Energia Sustentável (PAES).

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Figura 4 - Tipologia de medidas aplicadas pelos municípios por região

Dada a escassez de recursos públicos (agudizada em tempos de crise económica), a perceção de uma ameaça sentida como não iminente instala a inércia e o consequente adiamento de medidas (inércia esta que não é igualmente alheia, como veremos mais adiante, à falta de informação e desconhecimento sobre impactos e medidas).

Assim, os municípios, e também o poder político nacional, têm vindo a apostar, sobretudo, em estratégias de mitigação que, na prática, se mostram mais rentáveis politicamente (porque mais imediatas) e, sobretudo, me-nos exigentes em termos de investimento público. Isto apesar da necessidade crucial de pensar uma estratégia de longo prazo que não dispensa a integração de ambos os tipos de medidas.

Assim, no sentido de se identificarem o tipo de ações que estão a desenvolver, pedimos aos inquiridos que nos dissessem se, no seu município, desenvolvem ações de mitigação, adaptação, ambas ou nenhuma.

A nível nacional, 20,2% dos municípios responderam estarem a implementar medidas de mitigação, 11,9% de adaptação e 24,8% ações de ambos os tipos. Por região, foi nos Açores que os municípios mais responderam não estarem a desenvolver “nenhuma ação” (57,1%), seguindo-se o Norte (35,7%), Alentejo (33,3%), Algarve (33,3%) e o Centro (29,7%). O Algarve destaca-se por ser a região onde mais municípios afirmam terem ado-tado “ambas” as ações (50%), seguindo-se a Lisboa (42,9%), Centro (29,7%) e o Alentejo (23,8%).

Quanto às ações de “mitigação” é a Madeira, com 66,7% das respostas, que se destaca. Segue-se, a alguma distância, a Região Centro (27%), Norte (25%) e Alentejo (14,3%). Por último, as medidas de adaptação são referidas pelos municípios do Alentejo (19%), de Lisboa (14,3%), da Região Norte (14,3%), dos Açores (14,3%) e da Região Centro (8,1%).

Repase que, ao contrário das respostas â questão anterior estas não acompanham a mesma tendência. As re-giões Norte e Centro estão mesmo entre aquelas cujos respondentes mais afirmam não desenvolver “nenhuma ação”. Esta descoincidência justificar-se-á com o facto do combate às AC entre os municípios portugueses ser um processo relativamente recente e fortemente marcado pela adesão ao Pacto de Autarcas. Uma vez que a adesão a esta iniciativa é recente e ainda está em curso, os municípios encontram-se numa fase de preparação dos documentos necessários para garantir a sua adesão à rede, nomeadamente os respetivos Planos de Ação para a Energia Sustentável (PAES).

Figura 5. Evolução do n.º de concelhos

signatários do Pacto de Autarcas Figura 6. Distribuição dos concelhos signatários do Pacto de Autarcas por região O Pacto de Autarcas e as iniciativas locais daí decorrente são um processo que, em grande parte dos municí-pios portugueses, está ainda em fase de lançamento. Portugal foi um dos pioneiros do Pacto de Autarcas, com a adesão em 2008 dos municípios de Águeda, Cascais, Lisboa, Porto e Vila Nova de Gaia. Em Novembro de 2014, são signatários 106 câmaras, uma Junta de Freguesia (a actual União de Freguesias de Moura e Santo Amador) e uma agência de energia (Agência de Energia Médio Tejo 21).

Os dados sobre os signatários comprovam a importância de lide-ranças à escala local e regional, já evidenciadas nos processos de Agenda 21 Local (Schmidt, Nave e Guerra, 2005), na medida em que sugerem que a adesão a esta rede é suscitada pela integração prévia dos municípios em estruturas regionais

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Lisboa, Porto e Vila Nova de Gaia. Em Novembro de 2014, são signatários 106 câmaras, uma

Junta de Freguesia (a actual União de Freguesias de Moura e Santo Amador) e uma agência

de energia (Agência de Energia Médio Tejo 21).

Os dados sobre os signatários comprovam a importância de lideranças à escala local e

regional, já evidenciadas nos processos de Agenda 21 Local (Schmidt, Nave e Guerra, 2005),

na medida em que sugerem que a adesão a esta rede é suscitada pela integração prévia dos

municípios em estruturas regionais

Figura 7 - A adaptação é uma orientação

importante nas atividades do município

Figura 8 - A adaptação é uma orientação

municipal importante segundo a região

Tratando-se de um processo ainda recente, talvez isso explique porque a preocupação com os

problemas relacionados com as AC e com a energia esteja ainda pouco refletida nas ações de

planeamento municipais. Em resposta a uma questão que pretendia saber se adaptação às AC

é uma orientação importante no planeamento das atividades do município, a maioria dos

respondentes assume que a adaptação às AC não é ainda uma orientação importante no

planeamento das suas atividades municipais: 56,9% respondeu ser “nada ou pouco

importante”. Fatores como o impacto do mau tempo no Inverno 2013/2014, assim como a

possibilidade de inscrição de alguns projectos no novo quadro de financiamento europeu,

podem a breve trecho fazer reverter esta posição, prova disso é que nos primeiros meses de

constituição da iniciativa europeia Mayors Adapt aderiram nove municípios portugueses:

Açores

Madeira Madeira

Açores

Figura 7 - A adaptação é uma orientação

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Tratando-se de um processo ainda recente, talvez isso explique porque a preocupação com os problemas re-lacionados com as AC e com a energia esteja ainda pouco refletida nas ações de planeamento municipais. Em resposta a uma questão que pretendia saber se adaptação às AC é uma orientação importante no planeamento das atividades do município, a maioria dos respondentes assume que a adaptação às AC não é ainda uma orientação importante no planeamento das suas atividades municipais: 56,9% respondeu ser “nada ou pouco importante”. Fatores como o impacto do mau tempo no Inverno 2013/2014, assim como a possibilidade de ins-crição de alguns projectos no novo quadro de financiamento europeu, podem a breve trecho fazer reverter esta posição, prova disso é que nos primeiros meses de constituição da iniciativa europeia Mayors Adapt aderiram nove municípios portugueses: Águeda, Alfândega da Fé, Anadia, Cascais, Estarreja, Ílhavo, Lisboa, Vagos e Vila do Conde (Mayors Adapt, 2014).

O mapa da Figura 7 mostra igualmente que a importância dada à adaptação não surge equitativamente repar-tida pelo território. Amarante, Azambuja, Beja, Castelo de Paiva, Elvas, Évora, Monforte, Ponta Delgada, Rio Maior qualificam como “nada importante” a adaptação às alterações climáticas no planeamento de atividades do município. Pelo contrário, Águeda, Almada, Barreiro, Covilhã, Faro, Machico, Nazaré, Torres Vedras e Vila do Conde consideram ser “muito importante” essa adaptação. Ainda de acordo com a Figura 7, verifica-se que os municípios que atribuem maior importância à adaptação às AC equivalem, grosso modo, aos que afirmaram desenvolver ações de mitigação/adaptação. O mapa da Figura 8, por seu turno, confirma que a Região Centro como aquela onde maior importância se dá às AC nas atividades municipais.

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Águeda, Alfândega da Fé, Anadia, Cascais, Estarreja, Ílhavo, Lisboa, Vagos e Vila do Conde

(Mayors Adapt, 2014).

O mapa da Figura 7 mostra igualmente que a importância dada à adaptação não surge

equitativamente repartida pelo território. Amarante, Azambuja, Beja, Castelo de Paiva, Elvas,

Évora, Monforte, Ponta Delgada, Rio Maior qualificam como “nada importante” a adaptação

às alterações climáticas no planeamento de atividades do município. Pelo contrário, Águeda,

Almada, Barreiro, Covilhã, Faro, Machico, Nazaré, Torres Vedras e Vila do Conde

consideram ser “muito importante” essa adaptação. Ainda de acordo com a Figura 7,

verifica-se que os municípios que atribuem maior importância à adaptação às AC equivalem, grosso

modo, aos que afirmaram desenvolver ações de mitigação/adaptação. O mapa da Figura 8, por

seu turno, confirma que a Região Centro como aquela onde maior importância se dá às AC

nas atividades municipais.

Figura 9 - Importância da adaptação no

planeamento por dimensão do município

Figura 10 - Importância da adaptação às

AC no planeamento por região

Os dados mostram ainda que os concelhos de maior dimensão são os que alcançam maiores

médias na importância atribuída às medidas de adaptação no planeamento municipal (Figura

9), enquanto os de menor dimensão (em termos populacionais) se ficam, em qualquer caso,

abaixo da média nacional (3,32). Quanto às regiões, a Madeira destaca-se com a maior média

(4,67), seguida a alguma distância por Lisboa, Centro e Algarve. No fim da tabela surgem os

Açores e o Alentejo, enquanto a Região norte se aproxima da média nacional.

A comprovar igualmente que a aplicação de medidas de combate às alterações climáticas à

escala local se encontra numa fase embrionária está o facto de as estruturas autárquicas e os

respetivos recursos humanos não estarem ainda preparados, de acordo com os inquiridos, para

enfrentar o problema. Sobre este aspeto quisemos conhecer as possíveis transformações

institucionais suscitadas pelas alterações climáticas.

3,13 3,40 2,97 3,88 3,75 3,32 < 7.500M 7.500M-20M 20M-50M 50M-100M >100M Total 3,14 3,86 4,00 2,48 3,50 2,29 4,67 3,32

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira Total

Figura 9 - Importância da adaptação no

planeamento por dimensão do município

Figura 10 - Importância da adaptação às AC

no planeamento por região

Os dados mostram ainda que os concelhos de maior dimensão são os que alcançam maiores médias na impor-tância atribuída às medidas de adaptação no planeamento municipal (Figura 9), enquanto os de menor dimen-são (em termos populacionais) se ficam, em qualquer caso, abaixo da média nacional (3,32). Quanto às regiões, a Madeira destaca-se com a maior média (4,67), seguida a alguma distância por Lisboa, Centro e Algarve. No fim da tabela surgem os Açores e o Alentejo, enquanto a Região norte se aproxima da média nacional.

A comprovar igualmente que a aplicação de medidas de combate às alterações climáticas à escala local se encontra numa fase embrionária está o facto de as estruturas autárquicas e os respetivos recursos humanos não estarem ainda preparados, de acordo com os inquiridos, para enfrentar o problema. Sobre este aspeto quisemos conhecer as possíveis transformações institucionais suscitadas pelas alterações climáticas.

Assim, perguntámos aos representantes dos municípios “se, na Câmara, há alguém ou algum departamento responsável pela implementação de ações de mitigação ou adaptação sustentável às AC”. De acordo com os resultados expostos na Figura 11, em apenas 1,8% dos casos é dito “Sim, existe um comité interdepartamental para esse fim” (Seia e Torres Vedras), e apenas Vila Nova de Cerveira (correspondente a 0,9%) confirma que “sim, existe um departamento específico para esse fim”. Por seu turno 15,6% afirmam que “sim, existe um departamento, mas acumula outras funções” e mais de 52% afirma que “não, mas existe um departamento para o ambiente”. Finalmente, refira-se, ainda que 28,4 das autarquias admitirem não existir ninguém, nem nenhum

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departamento, responsável pelo assunto.

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Assim, perguntámos aos representantes dos municípios “se, na Câmara, há alguém ou algum

departamento responsável pela implementação de ações de mitigação ou adaptação

sustentável às AC”. De acordo com os resultados expostos na Figura 11, em apenas 1,8% dos

casos é dito “Sim, existe um comité interdepartamental para esse fim” (Seia e Torres Vedras),

e apenas Vila Nova de Cerveira (correspondente a 0,9%) confirma que “sim, existe um

departamento específico para esse fim”. Por seu turno 15,6% afirmam que “sim, existe um

departamento, mas acumula outras funções” e mais de 52% afirma que “não, mas existe um

departamento para o ambiente”. Finalmente, refira-se, ainda que 28,4 das autarquias

admitirem não existir ninguém, nem nenhum departamento, responsável pelo assunto.

Portugal

Norte

Centro

Lisboa

Alentejo

Algarve

Açores

Madeira

¢ Sim existe um departamento específico para esse fim ¢ Não, mas existe um departamento para o

ambiente

¢ Sim existe um departamento interdepartamental para esse fim ¢ Não, não existe

¢ Sim existe um departamento mas acumula outras funções £ Naõ sabe/ Não Responde

Figura 11 – Existência de um departamento municipal responsável pela implementação

de ações de mitigação ou adaptação às AC

Temos assim que a Região Centro destaca-se por ser a única onde é dito “Sim existe um

departamento específico para esse fim”. A esmagadora maioria dos municípios possuem um

departamento de ambiente onde estas questões são tratadas ou outro departamento que

acumule essas funções. Refira-se igualmente a elevada percentagem de municípios que

afirmam “não existir” nenhum responsável ou organismos interno, com valores mais

expressivos nos Açores (42,9%), seguidos pelos do Alentejo (38,1%) e do Norte (35,7%).

2% 1% 16% 52% 28% 1% 3% 18% 43% 36% 5% 19% 54% 22% 43% 43% 14% 5% 57% 38% 83% 17% 57% 43% 34% 33,% 33%

Figura 11 – Existência de um departamento municipal responsável pela implementação de ações de mitigação ou adaptação às AC

Temos assim que a Região Centro destaca-se por ser a única onde é dito “Sim existe um departamento especí-fico para esse fim”. A esmagadora maioria dos municípios possuem um departamento de ambiente onde estas questões são tratadas ou outro departamento que acumule essas funções. Refira-se igualmente a elevada per-centagem de municípios que afirmam “não existir” nenhum responsável ou organismos interno, com valores mais expressivos nos Açores (42,9%), seguidos pelos do Alentejo (38,1%) e do Norte (35,7%).

Signatário do PA Não signatário do PA

Sim, existe um comité interdepartamental para esse fim 5,1% 0,0% Sim existe um departamento específico para esse fim 2,6% 0,0% Sim existe um departamento, mas acumula outras funções 33,3% 5,7% Não, mas existe um departamento para o ambiente 35,9% 61,4%

Não, não existe 23,1% 31,4%

NS/NR 0,0% 1,4%

Tabela 2. Existência de um departamento municipal responsável pela implementação de ações de mitigação ou adaptação às AC, por signatários do Pacto de Autarcas

(14)

Como parece ficar claro a partir dos dados expressos na Tabela 2, os municípios signatários do Pacto de Autar-cas sentem-se melhor preparados para enfrentar as alterações climátiAutar-cas, o que deverá decorrer na necessidade

de possuírem uma estrutura interna de resposta às várias fases de adesão4. Com efeito, 5,1% dos municípios

signatários do Pacto de Autarcas afirmam possuírem um comité interdepartamental que dê resposta às AC, 2,6% que existe um departamento e 33,3% que existe um departamento embora acumule outras funções. Pelo contrário, os não signatários concentram a sua resposta de forma esmagadora na resposta “não, mas existe um departamento para o ambiente” (61,4%), a que se segue a resposta “não, não existe” (41,4%.

Informação e conhecimento

Tratando-se de um tema emergente que causa, para além de uma crescente apreensão social, situações de cala-midade pública a que os municípios têm que dar resposta, a disponibilidade de informação para pensar a ação futura e enfrentar as adversidades do presente é fator importante que pode fazer a diferença.

Figura 12 – Grau de informação sobre alterações climáticas e desenvolvimento sustentável nos municípios, por região

No que a este tema diz respeito, os resultados mostram uma enorme e geral falta de informação, concentrando-se 81,6% das respostas nas categorias que declaram falta de informação (Figura 12). Pela positiva destaca-concentrando-se, sobretudo, a Região de Lisboa, onde 14,3% dos inquiridos declaram dispor de muita informação disponível (o grau mais elevado) e 28,6% a posicionam-se na categoria imediatamente anterior.

As lacunas de informação repercutem-se, assim, no conhecimento sobre o tema e, mais especificamente, sobre os impactos das AC (globais e locais), bem como sobre a tipologia de medidas a implementar (mitigação e adaptação).

4 A adesão ao Pacto de Autarcas ocorre em três fases: i) criação de estruturas administrativas específicas, preparação de Inventário de Referência e do Plano de Ação; ii) entrega do Plano de Ação e respetiva implementação e monitorização; iii) entrega periódica de relatórios de implementação (Pacto de Autarcas, 2014).

(15)

Figura 13 - Conhecimento sobre impactes

globais e locais das AC

Figura 14 – Conhecimento sobre medidas de

mitigação e adaptação

De acordo com as Figuras 13 e 14, entre os municípios que declaram possuir muito conhecimento quer sobre impactos globais, quer sobre impactos locais destacam-se Almada e Campo Maior. Em sentido inverso (entre os que se declaram mais carentes de conhecimentos nesta área) destacam-se Armamar, Monforte e Vagos. Já relativamente à tipologia de medidas preconizadas para intervir (i.e., mitigação e adaptação), destacam-se os municípios de Campo Maior e Torres Vedras pela positiva, enquanto pela negativa se podem referir os municí-pios de Elvas, Monforte, Ponta Delgada e Torres Novas. Mais do que uma explicação geográfica ou territorial, o que os dados sugerem é que o conhecimento declarado depende, e como seria espectável, da capacidade instalada existente nos municípios mais populosos, mas parece ser igualmente determinante o papel desem-penhado pelo respondente (função muitas vezes assumida por um técnico municipal) e do interesse que ele próprio desenvolve sobre estas temáticas.

Catalisadores da mudança

O inquérito procurou saber qual o instrumento inspirador das medidas e ações implementadas pelos muni-cípios. Com base nos resultados, concluímos que a Estratégia Nacional de Adaptação parece ser o modelo para 56,4% dos respondentes, seguindo-se, com 15,4% cada o Plano Estratégico do Município e o Pacto de Autarcas (incluindo este último o Plano de Ação para a Energia Sustentável, um dos compromissos assumidos no âmbito do Pacto de Autarcas), e com 12,8% a Estratégia Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas.

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Catalisadores da mudança

O inquérito procurou saber qual o instrumento inspirador das medidas e ações implementadas

pelos municípios. Com base nos resultados, concluímos que a Estratégia Nacional de

Adaptação parece ser o modelo para 56,4% dos respondentes, seguindo-se, com 15,4% cada o

Plano Estratégico do Município e o Pacto de Autarcas (incluindo este último o Plano de Ação

para a Energia Sustentável, um dos compromissos assumidos no âmbito do Pacto de

Autarcas), e com 12,8% a Estratégia Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas.

Figura 15 – Instrumento inspirador

para a estratégia de adaptação

municipal

Figura 16 – Instrumento inspirador para

a estratégia de adaptação municipal por

regiões

O Plano Estratégico do Município para as Alterações Climáticas inspirou 100% das medidas e

ações implementadas pelos municípios dos Açores e 50% das medidas e ações dos municípios

do Alentejo. A Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas inspirou a

totalidade das medidas e ações dos três municípios da Madeira; 73,3% na região Centro; 60%

Lisboa; 50% no Alentejo e 36,4% das medidas e ações na região Norte. Os documentos

europeus que inspiraram ações e medidas dos municípios portugueses foram a Estratégia

Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas – inspirou 100% das medidas e ações dos

municípios do Algarve; 20% de Lisboa e 18,2% do Norte – e o Pacto de Autarcas, que

Pacto  dos   Autarcas   Estratégia   Europeia  de   Adaptação  às  AC   Estratégia   Nacional  de   Adaptação  às  AC   Plano  Estratégico   do  Município   para  as  AC  

Açores

Madeira

Figura 15 – Instrumento inspirador para a

estratégia de adaptação municipal

Figura 16 – Instrumento inspirador para a es-

tratégia de adaptação municipal por regiões

O Plano Estratégico do Município para as Alterações Climáticas inspirou 100% das medidas e ações implementadas pelos municípios dos Açores e 50% das medidas e ações dos municípios do Alentejo. A Es-tratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas inspirou a totalidade das medidas e ações dos três municípios da Madeira; 73,3% na região Centro; 60% Lisboa; 50% no Alentejo e 36,4% das medidas e ações na região Norte. Os documentos europeus que inspiraram ações e medidas dos municípios portugueses foram a Estratégia Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas – inspirou 100% das medidas e ações dos municí-pios do Algarve; 20% de Lisboa e 18,2% do Norte – e o Pacto de Autarcas, que inspiram apenas os municímunicí-pios do Norte (36%) e Centro do país (13%), muito embora a adesão a esta rede esteja amplamente distribuída por todo o território.

Para se conhecer de forma mais abrangente o que motivou igualmente a decisão dos municípios em avançarem com medidas de combate às AC, nesse sentido procurou-se saber quais os fatores que pesaram mais na decisão de agir perante as alterações climáticas destacam-se as respostas cujos inquiridos classificaram como “muito importantes” o peso dos fatores: “proteção e segurança (39,3% de respostas), “vontade política” (30,8%), “vul-nerabilidade geográfica” (25,2%) e o “desenvolvimento económico” (24,3%). A “pressão da sociedade civil” é o fator que obtém uma percentagem mais reduzida, apenas com 9,3% de respostas a assinalarem ser “muito importante”. Confirmando-se que as questões sociais são proteladas relativamente às questões do risco, mas também políticas, económicas e de conservação do património.

(17)

Figura 17 -Fatores que pesaram mais na decisão de agir perante as alterações climáticas

Foi igualmente solicitado aos autarcas que identificassem dois dos mais importantes fatores que parecem mo-tivar ações de adaptação a nível municipal. Em resposta os inquiridos realçaram a “consciência cívica de que é importante atuar” (26,4%) e o “receio de impactos futuros previstos para a região” (21,2%). Identificando em segundo plano o “agravamento de problemas existentes na região (i.e., erosão costeira, seca) (14,2%), a “ex-periência de impactes na região” (13,2%); a disponibilidade de linhas de financiamento para agir” (11,8%), a “integração em redes municipais relacionadas com tema” (11,3%); e os “resultados de investigações científicas (e.g., relatórios do IPCC) (1,9%). Em segundo plano identificaram o “agravamento de problemas existentes na região (i.e., erosão costeira, seca) (14,2%), a “experiência de impactes na região” (13,2%); a disponibilidade de linhas de financiamento para agir” (11,8%), a “integração em redes municipais relacionadas com tema” (11,3%). Por último, não ultrapassando os 1,9%, surgem os “resultados de investigações científicas” (e.g., relatórios do IPCC).

Figura 18. Fatores mais importantes que motivaram as ações de adaptação a nível municipal Na análise por região registam-se algumas diferenças. Os autarcas da região Norte destacam a consciência cívica de que é importante atuar (38%), o agravamento de problemas existentes na região (16%) e a integração em redes municipais (16%). Por seu turno, os autarcas da região Centro ressaltam mais o “receio de impactes futuros previstos para a região” (24,1%), a “consciência cívica de que é importante atuar” (22,8%), e a integra-ção em redes municipais (13,9%) e a experiência de impactes sentidos na região (13,9%).

(18)

Norte

Centro

Lisboa

Figuras 19, 20, 21. Fatores mais importantes que motivaram as ações de adaptação a nível municipal (Norte, Centro e Lisboa)

Quanto aos autarcas da região de Lisboa respondem quase tudo mais, destacando o receio de impactes futuros previstos para a região (27,8%), mas também a disponibilidade de linhas de financiamento para agir (22,2%) e o agravamento de problemas existentes na região (16,7%).

Alentejo

Algarve

Figuras 22 e 23. Fatores mais importantes que motivaram as ações de adaptação a nível municipal (Alentejo e Algarve)

No Alentejo os autarcas destacam sobretudo a consciência cívica de que é importante atuar (34,3%), indicando seguidamente o receio de impactes futuros previstos para a região (20%), a disponibilidade de linhas de finan-ciamento (14,3%) e o agravamento de problemas existentes na região (14,3%). No Algarve a totalidade dos autarcas destacam o receio de impactes futuros previstos para a região (40%), seguindo-se o agravamento de problemas existentes na região (20%), a consciência cívica de que é importante atuar (13,3%) e a experiência de impactes sentidos na região” (13,3%).

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Açores

Madeira

Figuras 24. e 25. Fatores mais importantes que motivaram as ações de adaptação a nível municipal (Açores e Madeira)

Nas regiões insultares, os autarcas da Região Autónoma dos Açores distribuem as suas respostas por cinco dos fatores propostos no inquérito, sobressaindo a experiência de impactes sentidos na região (30%), a consciência cívica de que é importante atuar (20%), o receio de impactes futuros previstos para a região (20%) e o agrava-mento de problemas existentes na região (20%). Já na Região Autónoma da Madeira os autarcas concentram as suas respostas no receio de impactes futuros para a região (40%), na experiência de impactes sentidos na região (40%) e na consciência cívica de que é importante atuar (20%).

Experiência de impactes sentidos na região Agravamento de problemas existentes na região (ex: erosão costei-ra; seca) Receio de impactes futuros previstos para a região Resultados de investigações científicas (ex: relatórios do IPCC) Consciên-cia cívica de que é importante actuar Integração em redes municipais relacionadas com o tema Disponibilidade de linhas de financiamento para agir Litoral 16,4% 26,2% 26,2% 4,9% 14,8% 3,3% 8,2% Interior 11,9% 9,3% 19,2% 0,7% 31,1% 14,6% 13,2%

Tabela 3. Fatores mais importantes que motivaram as ações de adaptação a nível municipal, segundo a localização litoral/interior

Provavelmente em resultado do mau tempo que afectou o país no Inverno 2013/2014, os autarcas da faixa litoral enfatizam mais factores como: a “experiência de impactes sentidos na região” (litoral 16,4%; interior 11,9%); o “agravamento de problemas existentes na região (ex: erosão costeira; seca)” (litoral 26,2%; interior 9,3%); o “receio de impactes futuros previstos para a região” (litoral 26,2%; interior 19,2%) e os “resultados de investigações científicas (ex: relatórios do IPCC)” (litoral 4,9%; interior 0,7%).

Já os autarcas do interior respondem mais a factores como: a “consciência cívica de que é importante actuar” (litoral 14,8%; interior 31,1%); a “integração em redes municipais relacionadas com o tema” (litoral 3,3%; interior 14,6%) e a “disponibilidade de linhas de financiamento para agir” (litoral 8,2%; interior 13,2%). Vemos, em síntese, que os municípios destacam de forma desigual os fatores que motivaram as suas ações, des-tacando aqueles que se identificam com a situação de contexto e experiência vivida, designadamente quando respondem que a sua decisão foi impulsionada por “experiências de impactes sentidos na região”, o receio de impactes futuros e a experiência já sentida desses impactes.

Plano de Municipal de Adaptação às AC

Naturalmente que neste texto não cabem todos os dados do inquérito BASE, mas não queremos terminar sem se apresentar a resposta à questão que pretendeu saber se os municípios estão a desenvolver ou possuem um

(20)

plano/estratégia de adaptação às Alterações Climáticas. Em resposta, 70,6% dos seus representantes declarou que o respetivo município não possui nenhum plano, 15,6% afirmou que se encontra em desenvolvimento um plano para posterior implementação e apenas 10,1% referiu que o município possui um plano no terreno. Cerca de 3,7% remeteram a resposta para planos gerais (ex. Plano Muni-cipal de Ambiente e Agenda 21 Local), nos quais conside-ram estar previstas as medidas a adotar.

Em termos regionais, nas regiões de Lisboa e na Madeira pelas razões referidas a totalidade dos autarcas afirmaram não possuir planos/estratégias de adaptação. Do mesmo modo, 85,7% dos municípios dos Açores; 81% do Alente-jo; 75% do Norte; 57,1% de Lisboa e 54,1% do Centro, afirmaram não possuir planos/estratégias de adaptação às AC. É no Centro que se obtém a maior percentagem de municípios a afirmar que “está a ser desenvolvido um pla-no” (32,4%), seguindo-se os Açores (14,3%), Alentejo (9,5%) e Norte (7,4%). A existência de um plano é referida sobretudo no Norte (17,9%), Lisboa (14,3%), Alentejo (9,5%) e Centro (8,1%).

Registam-se igualmente diferenças acentuadas na tendên-cia de resposta em face do respondente ao inquérito – se foi o presidente da autarquia ou algum membro do seu

ga-binete ou se foi remetida para um técnico. A figura 27 mostra ser significativa a diferença entre as respostas dos técnicos e dos políticos: 78,2% dos técnicos afirmam não existir um plano, categoria que recolhe apenas 51,6% das respostas dos políticos; pelo contrário, são os políticos que mais afirmam existir um plano e estar a ser desen-volvido um plano – 32,3% dos políticos afirmam estar a ser desendesen-volvido um plano (o que é dito apenas por 9% dos técnicos) e 12,9% existir um plano (técnicos 9%).

Figura 27. O município está a desenvolver ou possui um plano/estratégia de adaptação, por respondente Este desfasamento poderá justificar-se por empolamento dos dados por parte dos políticos ou por eventual desconhecimento de toda a actividade do município por parte do técnico que respondeu ao inquérito.

Notas conclusivas

Os resultados do inquérito que realizámos trazem conhecimento e adiantam pistas para posterior aprofunda-mento da análise. As conclusões confirmam que as alterações climáticas são uma preocupação crescente dos novos autarcas e dos seus antecessores, e que as preocupações com as alterações climáticas estão a ganhar terreno entre os responsáveis municipais. Porém, o tema está longe de ser uma questão central das políticas de planeamento municipais, razão pela qual os municípios ainda não possuem estruturas internas de resposta ao

Figura 26 - O município desenvolve/

(21)

problema, que tem sido dada geralmente através do departamento de ambiente. Trata-se de um tema que vindo a ganhar importância face à multiplicação dos efeitos climáticos registados em todo o país e em resultado do estímulo europeia e nacional à resposta das autarquias nesta matéria, inspirando-se sobretudo na Estratégia Na-cional para as Alterações Climáticas, mas também da Estratégia Europeia de Adaptação, do Pacto de Autarcas e do Plano Estratégico do Município, e como resposta às preocupações dos cidadãos nesta matéria.

As alterações climáticas não são ainda uma questão central entre os municípios portugueses, ainda que se verifique um alargamento do interesse à generalidade do território nacional, ainda assim, não deveremos ig-norar o facto de mais de sete dezenas terem aderido ao Pacto de Autarcas, facto que se traduzirá em breve em resultados. De momento, mais de metade dos municípios declaram não estar a desenvolver nenhum tipo de ação, sendo que em termos de estratégia, a aposta parece focar-se mais na mitigação (redução de emissões) do que na adaptação (tornar os municípios mais resilientes). Por outro lado, as ações parecem muito circunscritas aos municípios e pouco dirigidas à população e decorrem sobretudo da vontade política de alguns municípios e menos da pressão da sociedade civil.

A inexistência de um plano, mas também de estudos, resulta numa reduzida percentagem de medidas até ago-ra implementadas pelos municípios portugueses. Entre as medidas implementadas destacam-se as áreas com maior ligação ao poder local, entre as quais, a educação ambiental e a proteção civil.

Por outro lado, entre as razões para agir destacam-se as que remetem para proteção e segurança, desenvolvimento económico e vontade política, neste último caso mais por força dessa vontade política e menos da pressão da sociedade civil. É igualmente de realçar o receio quanto ao possível surgimento de novos problemas e o possível agravamento dos existentes.

O cruzamento dos dados com outra informação permitiu concluir que a pertença a redes nacionais e internacio-nais pode ser uma forma de suprir as enormes carências de informação disponível sobre alterações climáticas e desenvolvimento sustentável identificadas pelos autarcas nacionais. A única exceção parece ser a região de Lisboa e os municípios de maior dimensão que, ainda assim, não se sentem efectivamente informados sobre estes temas. A Internet é a fonte de informação preferencial, sendo excepção a região de Lisboa que recorre mais às universidades, especialistas e ONG, e à informação com origem na administração pública. Apesar das enormes carências de informação, a maioria dos autarcas afirmou não ser difícil obter informação sobre estes temas, o que revela que o problema só recentemente foi integrado nas dinâmicas locais, pelo que ainda não tiveram tempo de se inteirar dele.

Os resultados indicam que, em todo o território nacional, mais de metade dos municípios estão a desenvolver acções de mitigação/adaptação às AC, sobretudo localizados na região Centro e em municípios signatários do Pacto de Autarcas. Ainda assim, são ainda poucos os municípios com planos de adaptação do terreno ou em de-senvolvimento, apostando sobretudo em estratégias de mitigação ou na aplicação em simultâneo de estratégias de mitigação e adaptação. Ou seja, a aposta parece focar-se mais na mitigação (redução de emissões) do que na adaptação (tornar os municípios mais resilientes). Por outro lado, entre as razões para agir destacam-se as que remetem para proteção e segurança, desenvolvimento económico e vontade política de alguns municípios e menos da pressão da sociedade civil. É igualmente de realçar o receio quanto ao possível surgimento de novos problemas e o possível agravamento dos existentes.

Em síntese, o estudo demonstra que os municípios portugueses se preparam para dar atenção ao problema das alterações climáticas, uma matéria que durante muitos anos foi tomada como exclusivo do poder central. Porém, a quase generalidade não se encontra organizada nesse sentido, nem se sente devidamente informada sobre o tema sobre o tema. A reacção resulta dos compromissos inerentes à adesão a redes nacionais e inter-nacionais, assim como aos documentos estruturantes sobre esta matéria aprovados pela União Europeia e pelo governo português.

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The research leading to these results has received funding from the European Community’s Seventh Frame-work Programme under Grant Agreement No. 308337 (Project BASE).

The text reflects only the authors’ views and the EU is not liable for any use that may be made of the informa-tion contained therein.

(23)

Imagem

Figura 1 - Perfil dos respondentes ao inquérito
Figura 2 - Respondente segundo a região Figura 3 - Ações de adaptação / mitigação
Figura 4 - Tipologia de medidas aplicadas pelos municípios por região
Figura 7 - A adaptação é uma orientação
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