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A CENTRALIDADE DA CIDADE DE SÃO PAULO, ANTIGAS E NOVAS FUNÇÕES DO CENTRO

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Academic year: 2019

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A CENTRALIDADE DA CIDADE DE SÃO PAULO, ANTIGAS E NOVAS FUNÇÕES DO CENTRO

Humberto CATUZZO Universidade de São Paulo – USP, Doutorando em Geografia, Rua Celso Quirino dos Santos, 164/31B, Vila São Francisco/SP, CEP – 05353-030 hcatuzzo@usp.br

Magda Adelaide LOMBARDO Universidade de São Paulo, Professora Convidada do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física - Universidade de São Paulo/USP mlombardo@usp.br

Resumo

Apesar da estrutura presente nas áreas centrais, a população abastada se deslocou para o entorno posterior. Este deslocamento ocorreu concomitantemente à ação do mercado imobiliário, pois o centro passou a concentrar o setor comercial e habitacional de baixa renda, influenciando na qualidade de vida, sendo o resultado de diversos fatores, como por exemplo, dificuldades de acesso, saturamento, excesso de trânsito, poluição do ar, poluição sonora, entre outros, ocasionando o espraiamento das cidades, característica comum em algumas regiões metropolitanas como é o caso de São Paulo que embora apresentem ampla infra-estrutura nas áreas centrais, acabam subutilizando-as em função da criação de outras centralidades. Os centros urbanos pedem ações emergenciais no sentido de criar medidas e diretrizes que minimizem sua degradação, permitindo a reabilitação por meio da criação de novos usos, os tornando ambientalmente viáveis, utilizando sua estrutura e fazendo do centro um lugar de vivência.

Esse trabalho visa compreender as questões que envolvem a centralidade da cidade de São Paulo, a reabilitação urbana da área central, bem como, os problemas e possíveis soluções devido às modificações das funções, tendo como estudo de caso o centro tradicional da metrópole, o qual tem passado por processos de reabilitações e obras públicas.

Palavras-chave: Reabilitações, Centro tradicional, novos usos, modificações da área central.

ABSTRACT

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environmentally viable, using its structure and making the centre a place of experience. This work aims to understand the issues about centrality of the city of São Paulo, rehabilitation of its urban central area, as well as problems and possible solutions due to the modifications of the functions, having as a case of study the traditional metropolis center, which has been trough

rehabilitation and public works processes.

Keywords: Rehabilitation, traditional Centre, new uses, changes in the central area.

INTRODUÇÃO

As cidades, desde o seu surgimento, se formaram a partir de um excedente populacional advindo das áreas rurais. Tornou-se um centro de troca de mercadorias, de vida social, política, cultural, extremamente diversificada. Já a infra-estrutura e os equipamentos da cidade como pontes, casas, ruas, prédios, viadutos etc., fez inicialmente das áreas centrais das cidades, principalmente das metrópoles, uma paisagem de grande atração conhecida como áreas luminosas. Santos (1996a, p.83), diz que “essas áreas são constituídas ao sabor da modernidade e que se justapõem, superpõem e contrapõem ao resto da cidade onde vivem os pobres”.

Esse processo de atração da mão-de-obra rural teve seu início, de acordo com Hobsbawn (1977, p. 20), com a própria Revolução Industrial inglesa, quando as cidades foram definidas como centros produtores e mercadores. Entretanto, devido à industrialização tardia, esta migração do trabalho ocorreu com maior intensidade nos países em desenvolvimento, onde a população rural perdeu espaço no campo em decorrência do processo de mecanização agrícola e até mesmo as condições de trabalho, como por exemplo, no caso do Brasil, o Estatuto do Trabalhador Rural ocasionou uma não inclusão desse trabalhador no campo, em função dos encargos trabalhistas.

Deste modo, a cidade passou a ser o grande centro de atração desses novos trabalhadores, além é claro dos migrantes de pequenas cidades e regiões desfavorecidas que viam nas metrópoles como é o caso de São Paulo, a chance de mudar de vida. As cidades passaram a ser assentamentos humanos de atividades diversificadas, diferentes das áreas rurais que apresentavam comércio rudimentar e de subsistência, dependente da cidade mais próxima.

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Ou seja, o surgimento de novas centralidades modernas resultam na degradação de espaços centrais já constituídos e tidos como tradicionais.

Depois de um maciço investimento nas áreas metropolitanas até a década de 1970, a partir 1980 ocorreu uma política de desconcentração da metrópole, medida utilizada para redirecionar o crescimento para outras cidades ou regiões, principalmente, cidades de porte médio e com relativa proximidade da metrópole. A partir dessa nova atuação do governo, em 1980, novas metrópoles foram criadas por lei federal, significando uma expansão dos grandes aglomerados e conseqüentemente do espraiamento urbano. Por outro lado, nesses grandes centros são criados outros problemas para além da concentração populacional tais como: a poluição, o tempo que se perde em deslocamentos, criminalidade que pode, inclusive, ocorrer devido ao abandono das áreas centrais. Souza (2003, p. 20), diz que “os moradores das metrópoles compartilham dois sentimentos, tais como o de orgulho e satisfação e, ao mesmo tempo descontentamento e frustração, pois as políticas públicas são pontuais no que se referem às áreas centrais, seja na área de transporte, conservação do patrimônio arquitetônico e histórico, segurança, moradia, serviços, lazer, etc.

A CENTRALIDADE DE SÃO PAULO DA FUNDAÇÃO A ATUAL REALIDADE

São Paulo teve em sua origem a fundação religiosa e escolar, o que resultou a cidade uma diferenciação de todas as outras. Para Leite citado por Szmrecsányi (2004, p.23), “ela não foi fruto de um acaso, não foi fundada por aventureiros à procura de ouro, ou por comerciantes querendo estabelecer um entreposto bem localizado”.

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como a expulsão dos quitandeiros para a alocação de lojas e escritórios, já as famílias mais ricas já abandonavam o centro.

Ainda no que se refere ao Centro Tradicional ou triângulo histórico (figura 1) composto pelas Ruas XV de Novembro, Direita e São Bento concentravam todas as principais atividades da cidade, fazendeiros, comerciantes e negociantes tratavam de negócios e tomavam café dentro do triângulo, pois os fazendeiros tinham seus escritórios e suas empresas nessa localização, a qual já extrapolava os limites em virtude do seu adensamento (MONBEIG in SZMRECSÁNYI, 2004, p. 57).

Fonte Fig 1:(http://www.projetosurbanos.com.br/category/portugues/page/3/. Acesso em 05/07/2010). Porém, mesmo com a expansão a centralidade continuava concentrada na região do Triângulo, o denominado centro da cidade.

Os negócios passaram a se estender para a Ladeira do Açu, a Rua Líbero Badaró e para a praça situada no prolongamento do Viaduto do Chá, o Largo São Francisco passou a integrar o centro devido a abertura da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. O arruamento da ladeira do Carmo, as novas facilidades de travessia da várzea, os caminhos em direção aos novos bairros da parte baixa da cidade atraíam as casas comerciais e as lojas para a Praça da Sé (MONBEIG in SZMRECSÁNYI, 2004, p. 57).

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pois para Monbeig citado por Szmrecsányi (2004, p. 59), a fase contemporânea da evolução urbana da metrópole de São Paulo, ocorreu com os bondes elétricos.

Porém, a monocentralidade permaneceu até o final da década de 1960. Durante o período do milagre econômico surgiu um desdobramento do Centro Metropolitano, o qual se dividiu em “Centro Tradicional” e o “Centro Paulista” com a estruturação de um novo centro ao longo da Avenida Paulista. Cordeiro citado por Frúgoli Júnior (2000, p. 39), diz que “tal rearranjo ocorreu devido a passagem gradativa do regime fordista para o de acumulação flexível e, já na década de 1990, surgia uma nova concentração de sedes empresariais o “Centro Berrini”, cujas empresas multinacionais estão ligadas ao recente processo de mundialização”.

O centro da década de 1920 foi marcado pelas instituições, espaços públicos e outros marcos simbólicos que são importantes até os dias atuais, nos anos de 1930 a cidade e o centro passaram por um processo metropolização, cujo “Plano de Avenidas” de Prestes Maia, lançou a cidade a modernização. Para Regina Meyer citado por Frúgoli Júnior (2000, p. 53), esse plano criava:

[...] um sistema viário que, muito mais do que resolver o problema de tráfego, lançava a cidade no seu verdadeiro espaço: o território metropolitano [e] buscava, através de eixos e conexões sistêmicas, integrar os bairros centrais e lançar a cidade para fora dos limites convencionais.

Ocorreu a expansão do centro para além do Vale do Anhangabaú, o que deu origem a um novo centro (em direção à Rua Barão de Itapetininga, São João e Ipiranga), porém, os problemas para descongestionar o centro continuavam.

Na década de 1950 o “Centro Tradicional” já se vivia o tempo veloz, que de acordo com Scarlato citado por Carlos e Oliveira (2006, p. 256), essa área já apresentava grande fluxo de pessoas fosse para trabalhar, para o lazer, para as compras ou serviços. Frúgoli Júnior (2000, p. 55) destaca que nessa mesma área o centro se configurava também como importante espaço cultural e intelectual, mas a fase de reestruturação urbana levaria a metrópole a ser multipolar, isso em decorrência da industrialização e abertura ao capital estrangeiro.

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as classes mais abastadas para longe do “Centro Tradicional”, bem como os setores de serviços.

Outro fator que acelerou a degradação do centro foi a transferência do MASP para a Avenida Paulista no final da década de 1960, cujo vão livre nas décadas de 70 e 80, se tornou um importante espaço para manifestações e eventos.

Já no final dos anos 80, a Paulista começava a passar por processos de degradação, pois problemas do “Centro Tradicional” como congestionamento, barulho e segurança, começaram a fazer parte da rotina dos moradores dos edifícios residenciais, além disso, a venda ou a locação de imóveis apontaram para uma inicial decadência dos imóveis nessa região. Nos anos 90, outra centralidade surge em substituição ao “Centro Paulista” e o “Centro Tradicional”, trata-se do “Centro Berrini”, sendo considerado uma das maiores reestruturações urbanas do Brasil realizadas pelas empresas dos irmãos Bratke.

A área da Berrini apresenta crescente valorização imobiliária e se destaca como um dos novos vetores de expansão da capital, pois abriga edifícios de escritórios e hotéis de vínculo internacional, os escritórios presentes nesse local pertencem as empresas multinacionais ligadas ao mercado global.

Essa reestruturação é levada para além da Berrini, agora em direção a Marginal Pinheiros estendendo esse novo centro empresarial com características pós-modernas e “inteligentes”, cujos edifícios são dotados de um amplo sistema informatizado e de segurança.

Mesmo diante da apresentação dessas novas centralidades, cabe ressaltar que ainda durante os anos 70, investimentos públicos foram realizados para melhorar o centro, assim como os problemas da cidade com a implantação do metrô. Para Gronstein citado por Frúgoli Júnior (2000, p. 62), “a implantação das linhas do metrô de São Paulo e a construção de estações na área central produziram uma nova Praça da Sé e introduziram o conceito de áreas desenhadas exclusivamente para pedestres, os calçadões”. Porém, os calçadões como um processo de reabilitação não foi positivo uma fez que esses foram tomados pelos trabalhadores informais, os camelôs.

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REABILITAÇÃO DO CENTRO TRADICIONAL DA METRÓPOLE DE SÃO PAULO: ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DOS NOVOS USOS.

O processo de reabilitação do espaço central pode significar uma sustentabilidade urbano-ambiental para a cidade, onde políticas públicas que são ou podem vir a serem aplicadas para o aproveitamento da estrutura já existente, sejam elas habitacionais, culturais, de serviços entre outras.

Segundo o Ministério das Cidades (2005, p. 75), a reabilitação urbana é:

O processo de recuperação e adaptação de áreas urbanas consolidadas subutilizadas, degradadas ou em processo de degradação a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana, criando condições e instrumentos necessários para conter os processos de esvaziamento de funções e atividades.

Além dos instrumentos utilizados para ordenar a cidade como as leis de uso e ocupação do solo, parcelamento, código de obras e de posturas, o plano diretor e o Estatuto da Cidade, o atual governo, através do Ministério das Cidades vem implantando políticas e ações urbanas para a regularização de assentamentos, planejamento municipal e reabilitação de áreas subutilizadas ou degradadas. De acordo com o livro Reabilitação das Cidades (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005, p. 12), as políticas para reabilitar as áreas centrais buscam as seguintes diretrizes:

• Conservação do patrimônio seja ele material ou imaterial, visando à qualidade de vida;

• Evitar a expansão horizontal para as áreas periféricas;

• Integração de programas, políticas, ações públicas e privadas, planos de gestão, além da participação da população na implementação da política urbana; • Vincular as pessoas no bairro em que vivem, aumentando a coesão social;

• Redução dos vazios urbanos e utilização de prédios subutilizados para residência e outras funções urbanas;

• Negócios de pequeno porte devem ser mantidos, garantindo empregos e fortalecendo as funções econômicas da região central;

• Incentivar o setor público e privado para o aproveitamento da área central através dos prédios, infra-estrutura, serviços e equipamentos públicos;

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• A legislação urbanística deve ser adequada para a habitação e outras atividades, com o intuito de valorizar o solo urbano;

• Os financiamentos são destinados a habitação, requalificação dos espaços públicos, infra-estrutura, equipamentos e mobiliário;

• O Programa de Reabilitação tem como objetivo apoiar, fomentar e mobilizar ações, as quais serão coordenadas e implementadas pelos municípios. Para que tais diretrizes possam ser realizadas o Programa de Reabilitação apóia a elaboração dos Planos de Reabilitação com recursos não onerosos ou a fundo perdido do Orçamento Geral da União (OGU). Além do Governo Federal, outras entidades estão ligadas ao programa como BID, Caixa, governos Estaduais e Municipais, entre outros. Na década de 1990, grandes instituições que ainda se encontravam no centro, começaram a se deslocar para a Marginal Pinheiros. Numa ação do então presidente do Bank Boston Henrique Meirelles, juntamente com as bolsas Bolsa de Mercadorias & Futuro (BM&F) e Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Banespa e outras pequenas instituições, começaram um movimento para continuarem no centro da metrópole, pois apostaram na recuperação do centro, já que o mesmo obteve grandes investimentos públicos como a reurbanização do Vale do Anhangabaú (figura 2) e a própria Sé.

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No caso de São Paulo, em 1991 surgiu a Associação Viva o Centro, uma instituição não governamental, a qual busca resgatar e reestruturar por meio de reabilitações o “Centro Tradicional” da capital. Apesar de ser uma iniciativa privada tem como objetivo complementar as ações do setor público, pois a Associação é composta por outras entidades que participam das tomadas de decisões, sendo elas: sindicatos, bancos, igreja, Ordem dos Advogados do Brasil, Associação dos Arquitetos, Fundação São Paulo e outras.

A necessidade de se reabilita ou requalificar o centro, ocorre devido a ampla infra-estrutura já instalada, significando uma contenção dos gastos públicos para implementação de equipamentos urbanos em novas centralidades, gerados pela ação do mercado imobiliário.

Porém, a questão da reabilitação do “Centro Tradicional” passam por questões de ordem socioeconômica, como por exemplo, a retirada dos camelôs dos espaços públicos do centro, denominado de “higienização”, primeiro com a concessão de licenças e, depois a realocação desses trabalhadores informais para shoppings populares. Outro ponto problemático é a questão da habitação, pois a Associação tem propostas de requalificar também as áreas de cortiços.

Portanto, Meyer citado por Frúgoli Júnior (2000, p. 85) diz que “o Centro poderá ser um bairro popular, não de pobre, mas popular”.

Dessa forma, há uma exclusão, mas por outro lado se utiliza a infra-estrutura já implantada nessa localidade, ou seja, ações de “limpeza” são cobradas do governo uma vez que se investe na reabilitação da área, pois não se pode desconsiderar os vários interesses ligados as instituições participantes desse processo.

Para Scarlato citado por Carlos e Oliveira (2006, p. 266), mesmo com as críticas feitas a Associação Viva o Centro, em virtude das estratégias para solucionar o problema da pobreza, “esse veio para ajudar a resgatar a identidade destes lugares e da Cidade e recolocar nos questionamentos teóricos a importância do imaginário da população que nunca deveria ter sido relegada”.

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cultural que resultaram em mudanças na área central como a Estação da Luz, a qual abriga o Museu da Língua Portuguesa (figura 4), projeto denominado de Luz Cultural, a Pinacoteca do Estado (figura 5) e a Estação Pinacoteca, importante espaço de obras de arte permanentes e de grandes exposições, além da Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes (figura 6), palco de grandes apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado.

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Fonte Fig 4:(http://colegiospinosa.files.wordpress.com/2008/02/museu-lingua.jpg. Acesso em 27/04/2010).

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Fonte Fig 6:(http://eletrolost.files.wordpress.com/2009/06/julio_prestes.jpg. Acesso em: 27/04/2010).

Outras ações importantes estão ligadas ao próprio poder público que centralizou diversas secretarias administrativas na região central (figura 7), o que facilita a acessibilidade das pessoas, além da redução de gastos públicos, uma vez que os prédios são de sua propriedade.

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Apesar das intervenções que aqui ocorreram se essas forem comparadas com as já realizadas em outras cidades do mundo, se observará que não houve um acentuado processo de gentrificação, ou seja, uma valorização imobiliária do “Centro Tradicional” da metrópole de São Paulo, diferentemente do caso de Barcelona onde bairros como o de La Ribera, passaram por esse processo, pois para Claver citado por Bidou-Zachariasen (2006, 159), esse bairro agregou o consumo de lazer e cultura, tornando o bairro da moda em lazer noturno. Uma outra grande diferenciação entre o caso de São Paulo e Barcelona é que o centro desta última nunca foi totalmente deixado pela classe média, situação essa completamente inversa em São Paulo, cujas classes mais abastadas se deslocam para outros bairros da cidade em busca de qualidade de vida e, fuga do caos urbano do centro.

Os espaços urbanos da cidade de São Paulo, assim como a sua policentralidade estão ligadas principalmente a uma dinâmica econômica, pois os novos centros ou centralidades que surgiram em substituição ao “Centro Tradicional” ou “Antigo”, podem ser relacionadas a dois movimentos: um refere-se as ações do mercado imobiliário e, outro ao cenário econômico vigente no surgimento dessas novas centralidades.

Porém, não se pode negar a origem e o surgimento da cidade em seu “Centro Tradicional”, onde ainda alguns setores do terciário resistem como forma de manter a identidade inicial dessa área.

Para Acserald (1999, p. 87), a sustentabilidade urbana e a adaptação das estruturas urbanas encontram-se “no reajustamento da base técnica das cidades, nos princípios que fundam a cidadania das populações urbanas ou na redefinição das bases de legitimidade das políticas urbanas”.

Dessa forma é necessário que se faça do “Centro Tradicional”, um espaço de convivência, tornando esse atrativo novamente para todos, exigindo um maior empenho e atuação dos setores público, privado e da própria sociedade. Ainda dentro desse contexto Lynch (1997, p. 101-102) diz:

Existem, porém, algumas funções fundamentais, que as formas da cidade podem expressar: circulação, usos principais do espaço urbano, pontos focais chaves. As esperanças, os prazeres e o senso comunitário podem concretizar-se. Acima de tudo, se o ambiente for visivelmente organizado e nitidamente identificado, o cidadão poderá impregná-lo de seus próprios significados e relações. Então se tornará um verdadeiro lugar, notável e inconfundível.

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restou e dar qualidade para essa localidade significa guardar a identidade do lugar, das pessoas. Assim como em outras cidades como Roma, Paris entre outras, existem outras centralidades, porém, seus centros antigos jamais foram negados pelos moradores, muito pelo contrário existe um sentimento de se guardar a história dessas localidades.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O “Centro Tradicional”, através dos processos de reabilitações, mesmo que as ações sejam ainda pontuais e não resultem na gentrificação da área central apresentam uma possibilidade de reestruturação. Portanto, essas ações apresentam pontos positivos e negativos, sendo respectivamente, se pensar na retomada dos espaços tornando esses públicos e acessíveis para a população, quer por meio de atividades culturais, ou de lazer, ou quando ocorre a exclusão da população que se estabeleceu nesse espaço após seu abandono e conseqüente degradação.

Esse processo em São Paulo recai a questão de se repensar o contexto do “Centro Tradicional” e dos seus possíveis usos, a viabilidade de aproveitamento de uma estrutura central, além de um processo de dinamização e inclusão social, uma vez que há projetos que pensam em habitações populares no centro.

A própria condição de modernização referente à industrialização e a economia, transformaram o centro e conseqüentemente a cidade.

Porém, as novas centralidades e novos costumes retiram do “Centro Tradicional” o lugar do encontro das pessoas e, redirecionam para outros espaços, como por exemplo, os shoppings.

Portanto, apesar dos pontuais processos de reabilitações e das mudanças de uso nesses espaços do “Centro Tradicional”, estas ainda apresentam efeitos paliativos, pois a área ainda encontra-se degradada, tendo como contexto a violência gerada pelas drogas, prostituição e roubos, além disso, apresenta um dinamismo ainda restrito ao dia, pois com o fechamento do setor de serviços as ruas são invadidas pela população marginalizada, o medo e a falta de segurança fazem com que o restante da sociedade evite o centro no período noturno.

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Pois o surgimento de novas centralidades poderão fazer dessas locais obsoletos, assim como foi feito no “Centro Tradicional”, ainda mais numa cidade como São Paulo, em que a dinâmica do espaço urbano está atrelada aos interesses e ações imobiliárias e até mesmo da própria elite.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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