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Desemprego e Estresse: tipos de problemas vivenciado e relatados pelos desempregados

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DESEMPREGO E ESTRESSE:

TIPOS DE PROBLEMAS

VIVENCIADOS E RELATADOS

PELOS DESEMPREGADOS*

DANIELA CRISTINA CAMPOS**

DANIELA S. ZANINI***

LUANA GUIMARÃES DE CASTRO

P

ara Borges (1998) o trabalho humano comporta um complexo de sentidos que vão

do individual ao social, no que se refere à subsistência, à estruturação da persona-lidade e identidade do indivíduo, além de ocupar lugar de centrapersona-lidade na atual sociedade. Desse modo, a ausência do trabalho, ou ainda, a situação de desemprego pode ser um fator gerador de sofrimento para os trabalhadores que se encontram nesta situação.

Resumo: o presente estudo tem como objetivo descrever quais os eventos estressores são mais relatados por um grupo de desempregados da cidade de Goiânia e grande Goiânia. Partici-param da pesquisa 116 trabalhadores em situação de desemprego, de Goiânia-Go e grande Goiânia. Como instrumento para a coleta de dados, foi utilizado o CRI adult form, e para análise dos dados foi utilizada a técnica de Bardin (1977) e o índice Kappa, com a finali-dade de categorizar dos eventos mais estressantes relatados pelos participantes. Os resultados apontaram que o evento estressor mais relatados pelos participantes é a dificuldade financeira, seguido da falta de experiência, com, o sentimento de inutilidade, a falta de oportunidade no mercado de trabalho, além dos problemas pessoais.

Palavras-chave: Desemprego. Eventos estressores. Saúde. Índice Kappa

* Recebido em: 20.08.2013. Aprovado em: 25.09.2013.

** Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás e doutoranda pela mesma instituição. Professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás , Unievangélica e Estácio de Sá

*** Doutora em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidad de Barcelona (2003). Professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Bolsista produtividade do CNPQ.

**** Bolsista de Iniciação Científica do CNPq, graduanda de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

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O desemprego, mais que a falta de emprego, pode ser considerado a falta de ocupa-ção, como se a única maneira de um sujeito obter sua subsistência fosse vender sua força de trabalho ao capital. Segundo Castel (1998), isso ocorre porque o trabalho assalariado é visto erroneamente como a única forma de ocupação socialmente proveitosa, especialmente por ser uma produção externalizada que confere uma utilidade social geral às atividades privadas. Porém, existem inúmeras outras formas de atividades autônomas e informais, que crescem em número e importância a cada dia, mas que infelizmente são vistas com certo desdém, tanto pela sociedade quanto pelos próprios trabalhadores, o que mostra que os trabalhadores tendem a desvalorizar as modalidades alternativas de emprego.

Para o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE), existem diversos tipos de desemprego. O desemprego aberto caracteriza-se como uma situação em que o grupo de pessoas que não exerceram nenhum trabalho nos sete últi-mos dias e que procuraram trabalho de maneira efetiva nos trinta dias anteriores ao da entre-vista (DIEESE, 2011).

O desemprego oculto pelo trabalho precário refere-se a pessoas que realizam traba-lho não remunerado em ajuda a negócios de parentes e que procuraram mudar de atividade nos trinta dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo procurado trabalho nesse período, no entanto, o fizeram sem êxito até doze meses atrás, ou ainda, pessoas que realizam trabalhos precários remunerados ocasionalmente. Já o desemprego oculto pelo desalento relaciona-se a pessoas que não possuem trabalho e nem o procuraram nos últimos trinta dias anteriores ao da entrevista, por desestímulos do mercado de trabalho ou por outras circunstâncias, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos doze meses (DIEESE, 2011).

O desemprego, conforme Antunes (2000) é a situação segundo a qual as pessoas não conseguem encontrar um emprego, embora queiram e possam trabalhar. Esta definição de desemprego será a que norteará o presente trabalho.

A situação de desemprego está intimamente relacionada à história de desenvolvi-mento social, político e econômico do Brasil. Até o fim da década de 1980, problemas como baixos salários, alto índice de subemprego e informalidade, além de fortes sinais de desem-prego estrutural acometiam o mercado de trabalho brasileiro (POCHMAN, 1998). Neste mesmo período, algumas estruturas industriais e produtivas foram mantidas, desse modo, o desemprego e a precarização, estavam sujeitos às variações da inflação e da situação econômica (MATTOSO, 2001).

Em 1990, para (POCHMAN, 1998), vários indicadores se apresentaram no mer-cado de trabalho e de pessoas sem emprego no Brasil. O mermer-cado de trabalho começou a apresentar sinais de desestruturação, além de sofrer uma mecanização, dado aos avanços tecnológicos, gerando um alto índice de desemprego estrutural. O desemprego estrutural caracteriza-se pela situação em que a vaga do trabalhador é substituída por máquinas ou pro-cessos produtivos mais modernos (LARANJEIRA, 1999).

Em 2000, houve uma recuperação da economia mundial e a ligeira melhora da economia brasileira o que atenuou de forma sutil os elevados índices de precariedade do mercado de trabalho brasileiro observada na década anterior. Na primeira metade dos anos 2000 o emprego cresceu em ritmo mais acelerado e a taxa de desemprego começou a diminuir (MAIA, 2009).

No Brasil, em comparativo realizado pelo IBGE sobre as pesquisas de 2003 a 2010, mudanças positivas foram apontadas no mercado de trabalho em todas as regiões

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metropoli-tanas nesse período, principalmente no ano de 2010 (IBGE, 2010). Em 2011 o nível de ocu-pação registrado foi de 53,7% em todas as capitais metropolitanas pesquisadas, além de ter havido uma redução do número de trabalhadores sem carteira assinada reduzindo de 12,1% em 2010 para 11,1% em 2011 (IBGE, 2011).

Conforme Lafargue (1999), a ideologia do trabalho divide a sociedade em duas partes, sendo uma a dos privilegiados e a outra a dos desempregados. Desta forma, essa característica do sistema capitalista faz com que os indivíduos que estejam desprovidos de trabalho, se sintam inúteis, humilhados e ofendidos, pois o desemprego ataca os alicerces da identidade, e gera invariavelmente um doloroso sofrimento psíquico. Assim, o desemprego além de prejudicar economicamente a sobrevivência do sujeito, causa um sentimento de falta de identidade, capaz de colocar em risco seu equilíbrio psíquico.

Para Menezes (2001), o desemprego é um fator que ocasiona um abalo a inte-gridade dos trabalhadores, ocasionando sofrimento e impactos à saúde física e mental. O desempregado costuma apresentar sentimentos como insegurança e desconfiança em relação à situação, e esses sentimentos podem ser agravados quando os se comparam aos modelos sociais de sucesso profissional.

Ao longo da nossa vida, somos expostos a diversas situações que se apresentam como desafios, nos impulsionando ao crescimento e ao desenvolvimento pessoal. Porém, também nos deparamos com eventos os quais não estamos preparados e capacitados a lidar, gerando no indivíduo uma tensão, mais conhecida como “estresse” (GAZZANIGA; HEA-THERTON, 2007; LIPP; NOVAES, 2000). Segundo Busnello e Kristensen (2008), o estres-se altera a qualidade de vida, diminui a motivação e provoca a estres-sensação de incompetência, o que consequentemente altera a autoestima.

Para Lazarus (1993), o estresse é baseado nas características individuais, relações com o ambiente e a representação cognitiva pessoal. Os estudos realizados recentemente de-notam o estresse como um estado gerado pela percepção de estímulos que ameaçam a home-ostase (BRADY; SONNE, 1999; MARGIS et al., 2005). Lipp e Malagris (1995), pesquisa-doras brasileiras da área, definem este termo como uma reação do organismo, que apresenta componentes físicos e ou psicológicos, que são ocasionadas por alterações psicofisiológicas que acontecem na medida em que a pessoa é confrontada com uma situação que a irrite, amedronte ou confunda, ou mesmo que a faça se sentir muito feliz.

O termo “evento estressor” também é um conceito importante utilizado nos estu-dos da temática do estresse. Na literatura, os eventos estressores recebem diversas terminolo-gias tais como: eventos de vida, estressores, eventos estressantes, eventos adversos e aconte-cimentos vitais. Neste estudo utilizamos a nomenclatura eventos estressores, definida como ocorrências externas, identificadas no tempo, que podem gerar mudanças pessoais e sociais no ambiente do sujeito (PAYKEL 1997).

Um dos trabalhos pioneiros sobre eventos estressores foi o desenvolvido por Hol-mes e Rahe (1967), e representaram um passo importante para as pesquisas da área, pois identificaram que não apenas os eventos traumáticos, mas também os eventos estressores de menor impacto poderiam estar associados a prejuízos à saúde mental. Os eventos estressores considerados neste estudo referem-se a ocorrências externas ou internas, causadoras de estres-se devido à necessidade de novas adaptações do indivíduo. Tais eventos podem dar origem a efeitos psicológicos, mas que uma vez removidos, tendem a acarretar uma diminuição no quadro psicopatológico provocado (BROCKINGTON, 1998).

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De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2007), um evento estressor é caracteriza-do como um estímulo que ameaça o organismo, resultancaracteriza-do em algumas respostas físicas e/ ou psíquicas que o organismo utiliza para evitar ou escapar de uma condição avaliada como adversa. Estas condições avaliadas como estressantes, aliadas a outras variáveis podem produ-zir diversas reações, dentre elas o estresse. Este se desenvolve quando o indivíduo avalia estas dificuldades como excessivas à sua capacidade de superá-las, impossibilitando-o de resistir e de criar estratégias para lidar com elas.

Em algumas situações, as respostas de estresse são necessárias e adaptativas, já que em situações adversas, o indivíduo é forçado a se adaptar para manter a sua sobrevivência e garantir o seu equilíbrio. Porém, a maneira com que cada um reage ao evento estressor, vai depender de outros fatores, como das condições psicológicas de que dispõe, por exemplo, a capacidade de resiliência (BUSNELLO; KRISTENSEN, 2008).

Segundo Abs e Monteiro (2010), as vivências de caráter negativo do desemprego estão relacionadas às percepções dos próprios desempregados como fonte de sofrimento e psi-copatologias. Os autores afirmam que o desemprego é visto pelos desempregados como uma vivência de desamparo, de exclusão, de falta de perspectiva, de intenso medo e receio e de despotencialização de capacidades. Já Castelhano (2005) afirma que a grande consequência do desemprego é o medo, já que o desemprego, excluído do mercado de trabalho, tem medo de não encontrar um novo emprego.

Na pesquisa bibliográfica realizada para compor o presente estudo, não foram en-contrados dados que envolvessem estresse, por meio do conceito de “eventos estressores” quando relacionados ao desemprego. Porém, quando utilizada a palavra-chave “consequên-cias do desemprego” foi possível encontrar artigos relacionados, embora em número reduzi-do. Diante das referências encontradas, foi possível observar que em sua maioria, os mesmos abordavam os eventos estressores ligados ao desemprego, por meio de postulações teóricas ou hipotéticas do próprio pesquisador e não pela visão do próprio desempregado ou declarações do mesmo.

Desta forma, o presente estudo tem como objetivo observar, por meio do autorre-lato dos desempregados, quais os eventos estressantes associados ao desemprego vivenciados pelos participantes.

MÉTODO Participantes

Participaram deste estudo 116 trabalhadores em situação de desemprego, dos quais 62 eram do sexo masculino e 52 do sexo feminino sendo que 2 destes participantes não informaram o sexo. Os participantes apresentaram idades entre 17 e 58 anos (média 27,35, DP=8,27). Em relação ao estado civil dos participantes, 59,1% são solteiros, 35,5% casados, 4,5% divorciados e 0,9% viúvos.

Quanto à escolaridade 3,6% dos participantes apresentaram ensino fundamental incompleto, 48,2% ensino médio completo, 7,3% ensino superior incompleto, 10% en-sino superior completo e 3% apresentaram pós-graduação. Quanto à naturalidade, 43,2% apresentaram-se naturais da região metropolitana de Goiânia, 15,9% do interior de Goiás e 40,9% de outros estados.

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Como critérios de inclusão estabeleceu-se ter entre 18 e 60 anos, ser alfabetizado e ter tido pelo menos um vínculo de emprego formal registrado em carteira de trabalho e previ-dência social em qualquer tipo de ocupação. Foram excluídos da amostra aqueles participan-tes que apresentarem problemas cognitivos, neurológicos, psiquiátricos, usuários de drogas e pessoas com qualquer tipo de comprometimento físico.

Instrumentos

Para a realização do estudo foi utilizado o Coping Response Inventory (CRI – adult form). O CRI – A de Moos (1993) avalia oito tipos estratégias de coping diretas que posteriormente se agrupam em dois tipos de estratégias globais: de aproximação do problema e de evitação do problema. Este instrumento é dividido em três partes. Na primeira, o participante da pesquisa descreve uma situação estressante que vivenciou nos últimos doze meses, no caso da presente pesquisa foi solicitado aos participantes que re-latassem o evento mais estressante que vivenciaram em relação a situação de desemprego. Na segunda parte, o participante avalia 10 perguntas sobre os temas: experiência prévia com o problema, prejuízos e responsabilidade no acontecimento do evento estressante. Na terceira parte, o participante responde a 48 perguntas sobre comportamentos que utiliza como modo de enfrentar o problema. Essas perguntas são respondidas de acordo com quatro alternativas numa escala tipo Likert. O instrumento apresenta qualidade psicomé trica satisfatória com alphas entre 0,58 e 0,72, que condiz com as demais escalas de coping existentes (MOOS, 1993).

No presente estudo foram utilizadas apenas as respostas dos participantes a primeira parte do instrumento, que foram categorizadas a luz da técnica de Bardin.

Procedimentos

Assegurando todos os procedimentos éticos de pesquisa com seres humanos, se-gundo resolução 196/96, iniciou-se o contato com as agências do SINE, empresas de recru-tamento e seleção de pessoal e colégio em Goiânia e grande Goiânia. Obtida a autorização de cada um dos locais de coleta, ocorreu o contato com os trabalhadores desempregados, que foram convidados, nos próprios locais de coleta, a participarem da pesquisa.

Os participantes da pesquisa foram convidados a ler e assinar o Termo de Con-sentimento Livre e Esclarecido, para que fosse permitido, além da coleta de dados, o estudo científico, a publicação dos resultados obtidos, esclarecendo o caráter estritamente acadêmico da pesquisa e o sigilo dos dados e respostas emitidas. Assim mesmo, foi-lhes garantido a pos-sibilidade de retirada do consentimento a qualquer momento do processo, sem nenhum ônus para os mesmos, assim como a possibilidade de acompanhamento psicológico para aqueles que sentirem incomodados com a pesquisa.

RESULTADOS

A partir da análise do conteúdo da descrição dos eventos estressores relacionados ao desemprego, relatados pelos participantes da pesquisa, retirou-se categorias descritivas destes problemas. A retirada destas categorias seguiu a técnica de Bardin (1977), em que,

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proce-dendo-se a leitura do corpus do conteúdo, retiram-se as categorias relacionadas ao conteúdo referido em cada descrição dos eventos estressores.

A construção destas categorias foi feita por dois juízes independentes, previamente treinados para esta pesquisa, que avaliaram as respostas dos participantes e classificaram seus problemas em cinco categorias descritas na Quadro 1.

Quadro 1: Categorias e descrição das mesmas

CATEGORIA DESCRIÇÃO

Dificuldade Financeira Consiste na dificuldade e impossibilidade de pagar as contas.Ex:. “Não conseguir pagar as contas de energia e luz da minha casa”.

Falta de Experiência

Consiste na falta de qualificação e estudo ou experiências passadas na área requisitada.

Ex:. “Tá difícil arrumar emprego, porque eles sempre querem gente com curso superior ou muita experiência”.

Sentimento de inutilidade e inefi-ciência

Consiste no sentimento de inutilidade e ineficiência frente aos outros e a si mesmo.

Ex:. “A pior coisa de ficar desempregado é porque a gente se sente inferior e incompetente e os outros até te olham de jeito diferente”.

Falta de oportunidade do mercado de trabalho

São aqueles problemas relacionados à falta de vagas de emprego no mercado de trabalho.

Ex:. “Está muito difícil porque o mercado exige muito hoje e não tem muita vaga”.

Problemas Pessoais

São aqueles problemas relacionados à vida pessoal e história de vida do indivíduo.

Ex:. “O que me deixa mal é porque deixei meus pais em outro estado para vir atrás de emprego e eles também estão doentes e precisam de mim”.

Após a construção das categorias pelos dois juízes de forma independente, o resul-tado final foi submetido ao estudo de concordância entre juízes por meio da técnica de qui quadrado e o cálculo do índice de Kappa. Esta técnica é utilizada para medir o acordo entre as avaliações dos dois juízes, quando ambos estão classificando o mesmo objeto. Os resultados da distribuição das classificações por categorias e juízes assim como o nível de concordância destes medido por meio do índice Kappa estão demonstrados na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição das respostas entre juízes

Tipo de Problema (Juiz 1)

Tipo de Problema (Juiz 2)

Total 1 2 3 4 5 1. dificuldade financeira 55 0 4 0 2 61 2. falta de experiência 0 18 1 2 0 21 3. sentimento de inutilidade 1 0 10 0 0 11 4. falta de oportunidade 1 0 0 12 1 14 5. problemas pessoais 0 0 0 2 6 8 Total 57 18 15 16 9 115 Índice Kappa = 0,819 p= 0,00

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A análise das categorias entre juízes revela um maior nível de concordância para a categoria Sentimento de Inutilidade e Ineficiência com um índice de 91%. A categoria que mais apresentou discordância entre os juízes foi a Problemas Pessoais com um índice de 75%. Contudo, não se observa grandes diferenças nos níveis de concordância entre respostas dos juízes já que estas variaram de 75% a 91%.

De fato, o estudo da medida de concordância de KAPPA revela um nível de con-cordância entre as respostas dos juízes de aproximadamente 82% (índice Kappa = 0,819). Este índice demonstra bom nível de concordância entre juízes e adequação das categorias construídas.

A partir da verificação da adequação das categorias construídas procedeu-se a aná-lise descritiva dos eventos estressantes, relatados pelos desempregados. Foram eliminadas as respostas referentes às categorias divergentes entre os juízes.

Segue em tabela abaixo:

Tabela 2: Descrição dos eventos estressantes relatados pelos sujeitos por categorias.

Categoria Quantidade Porcentagem

Dificuldade Financeira 55 54,5

Falta de experiência e qualificação 18 17,9

Falta de oportunidades do mercado 12 11,9

Sentimento de inutilidade e ineficiência 10 9,9

Problemas Pessoais 6 5,9

A partir da análise da Tabela 2, é possível verificar que o evento estressor mais re-latado pelos participantes se refere à dificuldade financeira, com 54,5%, seguida da falta de experiência e qualificação, com 17,9%, falta de oportunidade do mercado de trabalho, com 11,9%, sentimento de inutilidade e ineficiência, com 9,9%, e por último a categoria proble-mas pessoais, com 5,9%.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo geral descrever quais os eventos estressores são mais experienciados e relatados pela população desempregada da cidade de Goiânia e região metropolitana e compreender como estes tem administrado tanto as demandas de seus eventos estressantes como as diferentes formas de enfrentamento utilizadas por estes.

De acordo com os dados obtidos na análise da pesquisa, através da técnica de Bar-din (1977), foi possível perceber que o evento estressor mais relatado pelos participantes, se refere à dificuldade financeira; seguida da falta de experiência e qualificação, falta de opor-tunidade do mercado de trabalho, sentimento de inutilidade e ineficiência e por último a categoria problemas pessoais. O resultado mostra-se em consonância com a o proposto por

Lafargue (1999), que afirma que o desemprego além de prejudicar economicamente a sobre-vivência do sujeito, causa um sentimento de falta de identidade, capaz de colocar em risco seu equilíbrio psíquico.

Os resultados alcançados foram fruto do autorrelato dos participantes, no que tan-ge aos eventos estressantes que os mesmos vivenciam, podendo assim abordar os problemas

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pela visão do próprio observador e não dos pesquisadores. Esta técnica também corrobora os dados apontados por Abs e Monteiro (2010), as vivências de caráter negativo do desemprego estão relacionadas às percepções dos próprios desempregados como fonte de sofrimento e psicopatologias.

Quando analisada a descrição dos eventos estressores neste estudo, o sentimento de inutilidade e ineficiência, apontado em outros estudos como um evento estressor muito pre-sente na vida dos desempregados, não apareceu em primeiro plano e sim atrás de outros dois eventos apontados como principais pelos próprios desempregados, que é o caso da dificulda-de financeira e da falta dificulda-de experiência e qualificação. Este resultado sugere que o sofrimento relatado pelos desempregados do estudo se relacionam com questões sociais, questões indivi-duais relacionadas a dificuldade financeira e ainda das exigências do mercado com relação a qualificação e perfil profissional. Desse modo, sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas visando ampliar a relação entre desemprego e eventos estressantes.

A realidade atual do desemprego no Brasil, apontada pelo IBGE como baixa des-de 2010, também é indicada neste estudo como uma variável des-de grandes-de interferência nos resultados obtidos. Isto porque como foi sugerido anteriormente, o tempo de desemprego e a possibilidade de conseguir recolocação profissional com mais facilidade, altera a percepção dos eventos como sendo ou não de estresse. Portanto, sugere-se também que sejam utilizadas, em pesquisas futuras, as categorias aqui desenvolvidas, as quais foram através da Técnica de Bardin e da Kappa, validadas e, portanto, úteis em outros estudos que avaliem problemas com desempregados.

UNEMPLOYMENT AND STRESS: TYPES OF PROBLEMS EXPERIENCED AND REPORTED BY THE UNEMPLOYED

Abstract: this study aims to describe which events are more stressors reported by a group of unem-ployed in the city of Goiânia and large. The participants were 116 workers unemunem-ployed, Goiânia--Go, and large. As an instrument for data collection was used CRI adult form, and data analysis technique was used Bardin (1977) and the Kappa index, in order to categorize the most stressful events reported by participants. The results showed that the most stressful event reported by partici-pants is financial difficulty, followed by lack of experience with the feeling of worthlessness, lack of opportunity in the labor market, in addition to personal problems.

Keywords: Unemployment. Stressors. Health. Kappa index.

Referências

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Tabela 1: Distribuição das respostas entre juízes
Tabela 2:  Descrição dos eventos estressantes relatados pelos sujeitos por categorias.

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