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Reflexões sobre a celebração dos 60 anos da UFRN: tessituras entre a história e a memória

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REFLEXÕES SOBRE A CELEBRAÇÃO DOS 60 ANOS DA UFRN:

TESSITURAS ENTRE A HISTÓRIA E A MEMÓRIA

REFLECTIONS ON THE CELEBRATION OF THE 60 YEARS OF

UFRN: TESTIMONIES BETWEEN HISTORY AND MEMORY

REFLEXIONES SOBRE LA CELEBRACIÓN DE LOS 60 AÑOS DE

LA UFRN: TESITURAS ENTRE LA HISTORIA Y LA MEMORIA

Ana Tereza dos Santos Araújo1

Maria Inês Sucupira Stamatto2

Olívia Morais de Medeiros Neta3

Resumo: Esta pesquisa tem como finalidade refletir sobre as celebrações de aniversário de fundação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que comemora seus 60 anos de fundação em 2018, analisando a história das celebrações alusivas aos seus aniversários. Utilizamos de análise documental e bibliográfica e dos entendimentos de documento-monumento e memória para Le Goff e lugares de memória para Pierre Nora. O estudo acerca de celebrações na UFRN demonstra diferentes significados no campo educacional, caracterizando a comemoração desta data como elemento fundamental da identidade social da instituição. Palavras-chave: Celebração. Universidade. Memória. História da Educação.

Abstract: This research aims to reflect on the anniversary celebrations of the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), which celebrates its 60th anniversary in 2018, analyzing the history of the celebrations alluding to its birthdays. We use documentary and bibliographical analysis and the understandings of document-monument and memory for Le Goff and places of memory for Pierre Nora. The study about celebrations at UFRN demonstrates different meanings in the educational field, characterizing the commemoration of this date as a fundamental element of the institution's social identity.

Keywords: Celebration. University. Memory. History of Education.

Resumen: Esta investigación objetiva reflexionar sobre las celebraciones de aniversario de fundación de la Universidad Federal de Rio Grande do Norte (UFRN), que conmemora 60 años en 2018, analizando la historia de las celebraciones escolares y las prácticas de esa cultura considerando los aspectos sociales, políticos y pedagógicos. Utilizamos análisis documental y bibliográfica y las definiciones de documento-monumento y memoria para Le Goff y lugares de memoria para Pierre Nora. Todo eso resultó em diferentes significados en el campo educativo, caracterizando la conmemoración de esa fecha como elemento fundamental de la identidad social de la institución.

Palabras-clave: Celebración. Universidad. Memoria. Historia de la Educación.

Envio 09/02/2018 Revisão 09/03/2018 Aceite 25/05/2018

1 Graduanda. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. anaterezaaraujo@ufrn.edu.br 2 Professora Doutora. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. stamattoines@gmail.com 3 Professora Doutora. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. olivianeta@gmail.com

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“Instala-se esta Universidade como nasce uma criança e vive a semente, numa potencialidade da confiança. ”

Luiz da Câmara Cascudo

A universidade e a civilização

Em 2018, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) comemora seus 60 anos de fundação e desde então, se tornou referência em educação no estado do Rio Grande do Norte. Posto isso, a UFRN decidiu celebrar seu sexagenário, através da realização de eventos e programações especiais ao longo do ano, todos em torno desta data memorável. Neste sentido, o objetivo do artigo foi o de realizar uma análise sobre as celebrações de seus aniversários, identificando a importância de comemorar esta data célebre no campo da educação. Trata-se de pensar essas festividades individualmente, ponderando aspectos e representações da Universidade, dos alunos, professores e de toda a sociedade.

A presente investigação contempla as celebrações de aniversário de fundação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, acompanhando sua trajetória no período de sua criação, em 1958, até os dias atuais. Realiza-se uma análise da memória construída pela Universidade nas vivências e experiências durantes as décadas que abrangem a trajetória da instituição.

Esta pesquisa gerou a problemática de descobrir mais sobre o ato de celebrar e investigar as contribuições dessas celebrações no campo educacional da Universidade, considerando os aspectos sociais, políticos e pedagógicos diante a escassez de trabalhos que abordam as festividades dentro do campo educacional, de maneira especial da História da Educação. Para isso, utilizamos dos entendimentos de documento-monumento e memória para Jacques Le Goff e lugares de memória trabalhado por Pierre Nora.

No que diz respeito a metodologia, faz-se uso da análise documental e bibliográfica em acervos físicos e digitais disponibilizados nos Repositórios Institucionais da UFRN, especialmente os do Laboratório de História e Memória da Educação da UFRN (LAHMED). Também foram utilizados trabalhos acadêmicos-científicos que apresentam grandes contribuições para elaboração da temática explorada.

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Para falar sobre a UFRN e a celebração de seu aniversário de fundação, faremos um breve histórico da sua criação. Sendo assim, damos início com o escritor Luís da Câmara Cascudo, considerado mentor da Universidade e que contribuiu para sua consolidação.

Em 1948, Cascudo liderou o movimento para criação de sua Universidade Popular, que contou ao longo do ano com diversas conferências. Apesar do estado possuir experiências diversas com “Universidade Populares” em 1925, nenhuma delas possuía a finalidade da “Universidade de Cascudo”, que como um intelectual, já compreendia a real missão de uma universidade.

O sonho de Câmara Cascudo veio a se concretizar em 25 de junho de 1958, através da Lei nº 2.307, que foi sancionada em sessão solene no Palácio do Potengi pelo Governador Dinarte Mariz, que viria a ser reitor da então criada Universidade do Rio Grande do Norte. Após sua criação, foi celebrada uma solenidade de instalação. A cerimônia aconteceu no teatro Alberto Maranhão, presidido por Dinarte Mariz.

Todas as autarquias locais estavam presentes, além do Diretor de ensino do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e representantes de universidades vizinhas, como Ceará, Paraíba e Pernambuco. O ápice da Solenidade foi o discurso de Câmara Cascudo, “Universidade e Civilização”, considerado a “certidão de nascimento” da UFRN, onde com suas palavras, define a Universidade como “plasmadora de Cultura em defesa ascensional da civilização” (Cascudo, 1959), como visto na Figura 1.

Figura 1 – Câmara Cascudo, discursando em Solenidade de Instalação da UFRN

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Para Cascudo (1959), a universidade é uma escola perene de pesquisas, onde tudo é objeto da curiosidade, onde trabalhos consagrados por vidas inteiras, não terão notoriedade estrondosa ou fama universal, estes serão limitados aos leitores e colegas de especialização ou gênero.

Sendo assim, iremos analisar a universidade primeiramente como um lugar de produção de conhecimento, para em seguida analisar suas celebrações e como se dá a construção de suas memórias.

A Universidade e o seu lugar

A universidade se constituiu tendo como base três pilares: Ensino, Pesquisa e Extensão, tripé de sua estrutura formativa. Com o decorrer das décadas, a instituição cresceu e tornou-se referência nestes campos. No âmbito do ensino, houve um aumento significativo na oferta de cursos, que em 1995 contava com 9.942 alunos matriculados em seus cursos de graduação já existentes somados a 2.559 alunos matriculados nos cursos de pós-graduação. A criação de novos cursos gerou o aumento das ofertas na graduação e na pós-graduação, a níveis de mestrado e doutorado. Atualmente, a UFRN conta com 28.416 alunos matriculados na graduação e 6.066 alunos matriculados em pós-graduações a nível de mestrado e doutorado.4

Com este progresso, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte deixou de ser uma instituição de pequeno porte, sendo eleita por três vezes consecutivas (2011-2013) a melhor universidade do Norte-Nordeste no Brasil segundo o Índice Geral de Cursos (IGC), estatística publicada pelo Ministério da Educação (MEC).

No que diz respeito ao âmbito da Pesquisa e da extensão, a UFRN avançou quantitativa e qualitativamente nos seus números, por diversas vezes visando o desenvolvimento econômico do Estado do Rio Grande do Norte. Em 2008, a UFRN criou por meio da Resolução no 012/2008-CONSUNI a Escola de Ciências e Tecnologia (ECT) que tem como principal objetivo desenvolver atividades acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão referidas ao curso de bacharelado em Ciências e Tecnologia (BC&T).

4 Dados referente ao ano de 2017, obtidos do documento UFRN em números. Disponível no site oficial da

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Em 2014, também ocorreu a inauguração do Instituto Metrópole Digital, tendo como principal objetivo criar um centro de referência na área de Tecnologia da Informação no Rio Grande do Norte. E, em 2016, tivemos a inauguração do Complexo Tecnológico de Engenharia, anexo ao prédio da ECT.

Seus projetos de extensão são sobretudo pensados a modo de aprofundar relações entre a universidade e a sociedade, com a finalidade de amenizar os processos de exclusão social. Nestes quesitos, a UFRN não deixa a desejar e cumpre sua missão institucional, mesmo com as dificuldades encontradas devido às demandas econômicas e sociais do Estado.

A celebração dos 60 anos da UFRN deve-nos instigar e inspirar reflexões a respeito da sua função social, a partir da sua identidade. Suas funções certamente são multimodo, pois ela adquiriu significados e sentidos distintos enquanto instituição, e entre esses sentidos está o de pensar em si própria, uma característica de qualquer obra humana. Devemos salientar que a universidade concebe em sua estrutura o corpo discente, docente e socialmente, também chega ao controle do Estado, somando poder político a sua estrutura.

Historicamente, a Universidade auferiu espaço aos poucos. Um acontecimento importante para sua história, foi a federalização, realizada graças ao empenho do então Reitor Onofre Lopes, em 1960, através da Lei nº 3.849, onde ela passou a ser constituída por cinco estabelecimentos de ensino superior: Faculdade de Medicina, Faculdade de Farmácia, Faculdade de Odontologia, Faculdade de direito e Escola de Engenharia.

Posterior a sua primeira década de federalização, a UFRN já possuía uma estrutura física adequada, com unidades de ensino incorporadas como a Escola de Música, o Colégio Agrícola de Jundiaí e a Escola de Auxiliar de Enfermagem.

Entre os anos de 1966 e 1972, a UFRN congregou a sua estrutura faculdades ligadas à Fundação José Augusto, criada em 1963 pelo Governador Aluízio Alves, sendo elas a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal e a Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza. Cabe destacar que o campus da UFRN só veio ser implementado após o regime militar, em meados da década de 1970, sendo o projeto inicial do arquiteto paraense Alcyr Meira, que veio a ser concluído na década de 1990, como mostra a figura 2.

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Figura 2 – Evolução da instalação do Campus da UFRN, entre os anos de 1970 e 1990

Fonte: Newton Júnior (2008)

A implantação foi noticiada por diversos jornais, dentre eles, destacamos a publicação da revista “O Cruzeiro” no mês de maio de 1973, que noticiou a instalação do então ápice pós regime militar em Natal, tendo indelével importância: “Durante a Segunda Guerra Mundial, um grande terreno vizinho à cidade do Natal servia como Campo de Tiro. Granadas e morteiros cruzavam o ar, interrompendo a circulação de veículos até o treinamento terminasse. Passados 30 anos, neste mesmo terreno, desenvolve-se uma luta diferente. Máquinas pesadas e tratores realizam serviços de terraplenagem; jovens técnicos circulam com suas plantas acompanhando o ritmo incessante das obras; jipes atravessam o terreno ondulado, criando suas próprias estradas. São 130 hectares de terra para construir, urbanizar, integrar: é o Campus da UFRN que está surgindo5”.

5 Notícia retirada do livro Portal da Memória: Universidade Federal do Rio Grande do Norte: 50 anos

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Com tamanha notoriedade, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte seguiu em busca de reconhecimentos. Para isto, quatro nomes são celebrados e rememorados: Dinarte Mariz, o criador; Onofre Lopes, o construtor; Câmara Cascudo, o mentor; e Januário Cicco, o lidador.

A UFRN homenageou esses precursores de várias formas, como o busto de bronze de Onofre Lopes, exposto na Reitoria da Universidade, ou batizando arquiteturas na cidade com seus nomes, a exemplo a Maternidade Escola Januário Cicco e o Museu Câmara Cascudo. Dentre as homenagens, também está a titulação de Doutor Honoris Causa, entregue pela Universidade a Dinarte Mariz em 1980, pela criação da Universidade. Além da titulação, Dinarte também recebeu uma placa de prata, engastada em corte de pau-brasil, com a escrita de quatro versos: “Grava teu nome em tronco de árvore que frondosa se tornará. Mais vale o tronco do que mármore, pois nele o nome crescerá. ”

UFRN: um lugar de memória

As notícias veiculadas na mídia sobre os aniversários da Universidade são claras e objetivas, a cada década, celebrando uma nova era do campo educacional e científico no Rio Grande do Norte. Cabe ressaltar que tais notícias são frutos de imagens que a universidade produz de si própria, consequentemente, a imagem da UFRN para a sociedade é a qual a mídia transpassa para ela. E a partir disto, podemos questionar a necessidade de auto divulgação por meio destas celebrações, e da construção de memória promovida pela própria instituição. Segundo Pierre Nora,

Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de memória se a imaginação o investe de uma aura simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, só entra nessa categoria se for objeto de um ritual. (Nora, 1984, p. 21).

Podemos então refletir que se a universidade constitui um lugar de memórias, existe então uma necessidade de se reafirmar perante a sociedade, uma necessidade de ser lembrada. Nora (1984), diz que os lugares de memória nascem e vivem a partir do pressuposto que não existe uma memória espontânea, sendo preciso criar arquivos, manter aniversários e organizar celebrações, pois estas operações não são mais naturais. Estes lugares seriam então o que resta

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e pode ser perpetuado de um outro tempo, se transmitindo com ritos para uma sociedade que necessita destes meios de memória.

Para Del Priori (1994), festividades podem ser interpretadas como a expressão teatral de uma organização social, um fato político, religioso ou simbólico. Neste contexto, é plausível afirmar que ao celebrar seus aniversários, a Universidade teria a intencionalidade de afirmar o seu poder como instituição, além de potencializar a sua identidade social.

Sendo assim, cabe destacar a importância da problematização assinalada por Le Goff (1996), onde documento/monumento deve ser estudado dentro de perspectivas sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas, jurídicas e sobretudo, como instrumento de poder. Assim, podemos transferir tais documentos do âmbito da memória para a esfera da ciência histórica.

Com estas ponderações, podemos iniciar uma reflexão sobre a celebração do cinquentenário da Universidade em 2008. Como um ato de celebração, a UFRNrealizou um concurso por meio de edital para a escolha da sua logomarca comemorativa, ato que devido ao sucesso e repercussão se repetiu para os seus 60 anos. A logo vencedora de 2018 utiliza traçados de duas tonalidades de azul e uma de cinza para distinguir o tripé da universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão, que entrelaçados formam o símbolo do infinito, como mostra a Figura 3.

Com base em Le Goff (1996), podemos considerar que esta logo seria um documento que possui caráter de publicidade insistente, sendo um suporte para fixar na sociedade essa data celebre, perpetuando e forçando essa lembrança como uma forma de memória. Atualmente a logomarca comemorativa estampa outdoors e documentos em toda a Universidade, física e virtualmente.

Figura 3 – Logomarca comemorativa dos 60 anos da UFRN.

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Além da logo, foi criado um site alusivo à comemoração do sexagenário, onde está disponível notícias e a programação dos eventos comemorativos ao longo do ano, como por exemplo a aula magna realizada em 16 de março de 2018, com o tema “A contribuição da UFRN para o desenvolvimento socioeconômico do Estado”.

A aula magna foi ministrada pela atual reitora Ângela Maria Paiva Cruz e os ex-reitores Diógenes da Cunha Lima, Genibaldo Barros, Daladier Pessoa Cunha Lima, Geraldo dos Santos Queiroz, José Ivonildo do Rêgo e Otom Anselmo de Oliveira, com mediação do professor Tarcísio Gurgel, marcando o início do ano letivo de 2018.1 e foi divulgada a toda a comunidade acadêmica e em noticiários para a população, posteriormente disponibilizada no site oficial da UFRN.

De acordo com Le Goff (1996), essa seria uma outra forma de memória, documentos escritos com suporte especialmente destinado à escrita:

Neste tipo de documento a escrita tem duas funções principais: “Uma é o armazenamento de informações, que permite comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao homem um processo de marcação, memorização e registro”; a outra, “ao assegurar a passagem da esfera auditiva à visual”, permite “reexaminar, reordenar, retificar frases e até palavras isoladas. (Goody, 1977, p. 78 apud Le Goff, 1996, p. 433).

Portanto, para Le Goff (1996) a escrita em suas diversas formas, também pode configurar uma memória de celebração, onde se instala através de monumentos comemorativos ou de um acontecimento memorável. Posto isso, sabemos que a Universidade almeja, com os símbolos comemorativos (site, logomarca, programações especiais, entre outros) perpetuar a lembrança desta data célebre para a história da UFRN.

Celebrações e Comemorações: Identidade social

A celebração dos 60 anos da UFRN é marcada por diversos fatores sociais. Avaliando que os elementos da identidade de uma sociedade podem ser analisados a partir dos seus festejos, temos como objetivo central entender de que forma essa celebração do sexagenário da UFRN pode corroborar para a formação de um memória histórico-cultural.

Para Chartier (1990), as festas foram recriadas em diferentes momentos no contexto escolar. Um exemplo dessas “recriações”, foram os regulamentos, normas e leis existentes

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sobre festas escolares, que foram apropriados de diferentes formas e transformados em práticas distintas pelos seus membros, no final do século XIX. Neste sentido, as diferentes assimilações e representações nas festas escolares são importantes para refletirmos os sentidos que as celebrações se dão de acordo com seu contexto histórico.

Ao demonstrar a comemoração como uma cultura escolar, deve-se ressaltar que celebrar os aniversários de fundação se tornou algo corriqueiro dentro das universidades públicas brasileiras. Ao realizar um breve histórico, transpassando a história e a memória da UFRN, data-se vários documentos e monumentos de suas celebrações de aniversário de fundação, construindo então uma memória própria e coletiva. Se tratando de uma perspectiva cultural, as solenidades de comemorações são datadas desde a primeira década da Universidade, e são marcadas pela produção dos chamados “documentos/monumentos”, tomando como exemplo a Figura 4.

Em uma análise semântica das palavras documento e monumento, Le Goff (1996) afirma que monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado e perpetuar a recordação, como exemplo, escritos e obras comemorativas de arquitetura ou escultura. O documento, seria ligado a uma noção de prova, tendo sua intencionalidade oposta ao monumento. O monumento seria uma herança do passado, e o documento uma escolha do historiador.

Encontra-se registros da publicação de um resumo histórico de autoria da própria Imprensa Universitária, confirmando que produzir materiais de memória coletiva é decorrente em seus festejos. Esses materiais que se aplicam a memória coletiva (documentos e monumentos), segundo Le Goff (1996), não é aquilo que existiu e sobreviveu do passado, e sim uma escolha realizada pelos que operam no desenvolvimento temporal do mundo ou que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores.

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Figura 4 – Publicação da Imprensa Universitária, para comemoração do décimo aniversário da UFRN

Fonte: Newton Júnior (2008)

No seu trigésimo aniversário, em 1988, realizou-se uma solenidade presidida pelo então reitor Daladier Cunha Lima para aposição de um monumento, o busto do ex-reitor Onofre Lopes no saguão da Reitoria, como mostra a Figura 5. Para além disto, uma placa alusiva ao seu 30º aniversário foi fixada no Departamento de Serviços Gerais, como demonstra a Figura 6.

Figura 5 – Busto em bronze do Ex-Reitor Onofre Lopes, localizado no jardim interno do prédio da Reitoria da UFRN

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Figura 6 – Placa Alusiva a comemoração dos 30 anos da UFRN

Fonte: Newton Júnior (2008)

Retomando o cinquentenário da Universidade, em 2008, onde as celebrações e produções de memórias foram além dos demais aniversários. O resumo histórico dessa vez se expandiu para a produção de um livro, intitulado de “Portal da Memória, Universidade Federal do Rio Grande do Norte: 50 anos (1958-2008). Podemos observar na Figura 7, a capa da obra que possui 234 páginas, que resgata parte da memória da Universidade e serviu de base para este estudo.

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Figura 7 – Capa do Livro Portal da Memória, publicado em comemoração aos 50 anos da

UFRN

Fonte: http://www.ufrn.br/

Seguindo esta linha de celebração, através da produção de memória escrita, a Universidade demonstra o anseio do reconhecimento no contexto histórico social, ao qual ela transmite produzindo memórias sobre a sua história. Salienta-se que todo o material produzido em suas celebrações, estão em acervos físicos ou virtuais com livre acesso a população.

Recentemente, em 21 de fevereiro de 2017, através da Resolução nº017/2017 – CONSEPE, a Universidade instituiu a “Política de Memória da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN”, que tem o intuito de contribuir para o desenvolvimento e a compreensão da memória como um direito fundamental da comunidade acadêmica e da sociedade em geral, considerando que a construção do memorial material e imaterial é um processo de construção de conhecimento que deve envolver pesquisa, ensino e extensão.

Podemos assim, ponderar este documento como uma coisa que “fica”. É também um monumento, o resultado de um esforço voluntário da Universidade em impor para as sociedades futuras uma imagem de si própria. Pois se a memória dita e a história escreve (Nora,1984),

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podemos considerar todo grande acontecimento e a própria noção de acontecimentos, por definição, lugares de memória.

Le Goff (1996), registra que tornar-se o senhor da memória e do esquecimento é uma preocupação de classes e grupos que dominaram e dominam sociedades históricas, sendo assim, o esquecimento e o silêncio da história são reveladores dos organismos da memória coletiva.

O autor ainda afirma ser preciso problematizar os documentos a partir de uma reflexão crítica, analisando as condições de produção dos documentos/monumentos, que não podem acontecer com o auxílio de uma única crítica histórica, pois uma única forma de analisar um documento não pode explicar seu significado como um todo.

O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento da causa. ” (Le Goff, 1996, p. 545).

O ato de celebrar, os documentos e as “monumentalizações” abordadas nesta pesquisa, nos refletem a necessidade de autopreservação e construção de uma memória da própria Universidade, tornando possível um entendimento de diferentes significados para a celebração no contexto histórico educacional. Nessa perspectiva, o ato de celebrar seus aniversários trata-se de vários aspectos introduzidos e que gradualmente penetram nas repretrata-sentações sociais. Dentro dessas representações estão crenças e ideias que integram a cultura escolar da UFRN e nos permitem analisar criticamente este acontecimento.

Por todo o exposto, compreendemos que as celebrações enquanto consideradas como “festejos de divertimento” genericamente, não são essenciais no que diz respeito ao campo educacional. Entretanto, devemos pensar as celebrações sobretudo como produtora direta de memórias e histórias, e pensar essa produção, por sua vez, como instituidora de lugares de memória que consistem em locais materiais e imateriais (Nora,1984), que cristalizam a memória de uma sociedade e de uma nação, locais onde grupos ou povos se identificam ou se reconhecem, possibilitando um sentimento de construção de pertencimento, que constitui toda a sua identidade social.

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Se em dado momento, a memória foi tratada pelos gregos como antídoto de esquecimento e fonte de imortalidade, a UFRN pretende nutrir-se desta fonte. Como disse Câmara Cascudo:

Possa, sob os auspícios destas evocações, reminiscências e saudades, ergue-se, instalar-se, caminhar a Universidade do Rio Grande do Norte para o futuro, pairando sobre todos nós num signo tranquilo e constante de bênção – AS PROMESSAS DA ESPERANÇA! (Cascudo, 1958).

Nota-se que celebrar esta data se trata um elemento característico e fundamental para identidade social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e que pode ser considerada como um ritual, constituído de elementos de uma cultura festiva, que se transforma de acordo com a necessidade da comemoração e da instituição social que a promove, instaurando a sua memória e a repassando-as para a sociedade.

REFERÊNCIAS

ABREU, Adriano. UFRN inaugura complexo do "Metrópole Digital". 2009. Disponível em:

<http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/ufrn-inaugura-complexo-do-a-metra-pole-digitala/292592>. Acesso em: 10 maio 2018.

CÂNDIDO, R. M. Culturas da escola: as festas nas escolas públicas paulistas (1890-1930). 2007. 154 f.

CAPA do Livro Portal da Memória, publicado em comemoração aos 50 anos da UFRN. 2008. Disponível em: <http://www.ufrn.br/>. Acesso em: 10 maio 2018.

CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4. ed. Campinas, SP: Unicampi, 1996.

NATAL. Escola de Ciência e Tecnologia. História da ECT. Disponível em: <http://www.ect.ufrn.br/index.php/historia-da-ect>. Acesso em: 10 maio 2018.

NEWTON JÚNIOR, Carlos (Org.). Portal da Memória: Universidade Federal do Rio Grande do Norte - 50 anos (1958 – 2008). 2. ed. Brasília, DF: Senado Federal, 2008.

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NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10,

dez. 1993, p.7-28.

PRIORI, Mary del. Festas e Utopias no Brasil Colonial. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (Natal). 60 anos da UFRN. 2018. Disponível em: <http://sigeventos.ufrn.br/eventos/public/evento/UA>. Acesso em: 11 maio 2018. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. UFRN em Números (2012-2016). Disponível em: <http://www.ufrn.br/resources/documentos/ufrnemnumeros/UFRN-em-Numeros-2012-2016.pdf>. Acesso em: 17 maio 2018.

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Figura 1 – Câmara Cascudo, discursando em Solenidade de Instalação da UFRN
Figura 2 – Evolução da instalação do Campus da UFRN, entre os anos de 1970 e 1990
Figura 4 – Publicação da Imprensa Universitária, para comemoração do décimo  aniversário da UFRN
Figura 6 – Placa Alusiva a comemoração dos 30 anos da UFRN
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