Caracterização produtiva e análise do ambiente institucional da
piscicultura em Monte Alegre – Pará
DOI:10.34117/bjdv6n2-010
Recebimento dos originais: 30/11/2019 Aceitação para publicação: 04/02/2020
Thiago Dias Trombeta
Engenheiro de Pesca, Doutor em Aquicultura pela Universidad Católica del Norte/Chile Instituição: Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA
Endereço: Rua Vera Paz, s/n - Salé, Santarém - PA, Brasil, 68040-470 E-mail: thiago_trombeta@yahoo.com.br
Wiliam da Silva
Estudante de Engenharia de Aquicultura
Instituição: Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, campus de Monte Alegre Endereço: Av. Maj. Francisco Mariano - Cidade Alta, Monte Alegre - PA, Brasil 68220-000
E-mail: wsiilva777@gmail.com
Carlos Antônio Zarzar
Engenheiro de Pesca, Doutorando em Estatística e Experimentação em Agropecuária pela Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Instituição: Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, campus de Monte Alegre Endereço: Av. Maj. Francisco Mariano - Cidade Alta, Monte Alegre - PA, Brasil 68220-000
E-mail: carlos.zarzar@ufopa.edu.br
Breno Pimentel dos Reis
Estudante de Engenharia de Aquicultura
Instituição: Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, campus de Monte Alegre Endereço: Av. Maj. Francisco Mariano - Cidade Alta, Monte Alegre - PA, Brasil 68220-000
E-mail: brenopimentel2014@gmail.com
RESUMO
O município de Monte Alegre/PA possui condições ambientais altamente favoráveis ao desenvolvimento da piscicultura, podendo gerar uma atividade lucrativa para o município e região, nesse sentido, visando subsidiar estratégias para o desenvolvimento da cadeia produtiva da piscicultura no município este trabalho teve como objetivo realizar um diagnóstico da
Productive characterization and analysis of the institutional environment
of fish farming in Monte Alegre - Pará
piscicultura e análise do ambiente institucional, como forma de se conhecer o comportamento atual e prospectivo da cadeia produtiva da piscicultura. Foram realizadas entrevistas “in situ” em 55 propriedades de piscicultura de Monte Alegre/PA e reuniu-se com sete instituições locais que atuam na piscicultura. Os dados demonstraram que a piscicultura é praticada de forma extensiva, sobretudo como subsistência. Os viveiros e açudes são de pequeno porte (até 1000 m2), a produção é realizada em consórcio entre várias espécies, a assistência técnica é
praticamente inexistente e os produtores fazem a utilização de alimentos alternativos como produtos agrícolas, utilizando a ração esporadicamente, além disso, não se realiza o monitoramento da qualidade da água e mais de 90% das propriedades não estão regularizadas ambientalmente. Os produtores apontaram que os principais problemas da atividade são o alto custo da ração e a falta de assistência técnica. Por outro lado, segundo as instituições, os principais problemas da piscicultura são: licenciamento ambiental, falta de profissionais qualificados, falta de alevinos e ração com alto custo. De acordo com as instituições, os produtores não atuam de forma organizada.
Palavras–Chave: Monte Alegre, piscicultura, Amazônia, diagnóstico.
ABSTRACT
Keywords: Monte Alegre, fish farming, Amazonia, diagnosis.
1 INTRODUÇÃO
Segundo a FAO (2018), a demanda mundial por pescado tem crescido significativamente nas últimas décadas, principalmente em função do crescimento populacional a uma taxa média de 3% ao ano.
The municipality of Monte Alegre / PA has highly favorable environmental conditions for the development of fish farming, and may generate a profitable activity for the municipality and region, in this sense, aiming to subsidize strategies for the development of the fish farming production chain in the municipality. a diagnosis of fish farming and analysis of the institutional environment, as a way of knowing the current and prospective behavior of the fish farming production chain. In situ interviews were carried out in 55 fish farms in Monte Alegre / PA and met with seven local institutions that work in fish farming. The data showed that fish farming is practiced extensively, especially as a subsistence. The nurseries and weirs are small (up to 1000 m2), production is carried out in consortium between several species, technical assistance is practically non-existent and producers use alternative foods as agricultural products, using the feed sporadically. , water quality monitoring is not carried out and more than 90% of the properties are not environmentally regulated. The producers pointed out that the main problems of the activity are the high cost of the feed and the lack of technical assistance. On the other hand, according to the institutions, the main problems of fish farming are: environmental licensing, lack of qualified professionals, lack of fry and high cost feed. According to the institutions, the producers do not operate in an organized manner.
A aquicultura desponta como a alternativa mais viável para continuar aumentando a oferta nos próximos anos, visto que a pesca se encontra com a produção estabilizada desde a década de 1990 (FAO, 2018). Dentre os países com maior potencial para a aquicultura, o Brasil tem papel de destaque, em especial por sua disponibilidade hídrica, clima favorável e ocorrência natural de espécies aquáticas que possuem interesse zootécnico e mercadológico.
O Estado do Pará e a região de Monte Alegre reúne uma série de condições favoráveis ao desenvolvimento da aquicultura, como clima, riqueza de águas e espécies de peixes nativos com potencial para a aquicultura, ademais de um consumo per capita de peixes acima da média nacional.
A criação de peixes de água doce é a principal atividade aquícola do Pará, estando presente em todos os seus 144 municípios. No entanto, segundo o IBGE (2018) o Estado do Pará produziu, em 2017, apenas 20.000 toneladas, ficando em 13º lugar no ranking de produção nacional, abaixo de Estados com menor potencial de produção.
Os problemas da piscicultura paraense perpassam por todos os elos e ambientes da cadeia, desde a produção de insumos até o ambiente institucional, tais como: baixa qualidade genética e falta de regularidade no fornecimento de formas jovens; preço elevado da ração comercial; insuficiência de assistência técnica; dificuldade de legalização dos empreendimentos; burocracia no acesso ao crédito rural; organização social deficiente dos piscicultores; falta de escalonamento na produção; e concorrência com os peixes oriundos do extrativismo (MELO et al, 2010; BRABO, 2014).
No município de Monte Alegre, a piscicultura é uma atividade insipiente que carece de informações que possam auxiliar no desenvolvimento da atividade por meio de projetos, ações e incentivos à produção.
Diante desse contexto, esse trabalho teve como objetivo realizar a caracterização e uma análise do ambiente institucional da piscicultura no município de Monte Alegre/PA, como forma de se conhecer o comportamento atual e prospectivo dos componentes da cadeia produtiva da piscicultura no município, entendendo as dificuldades e “entraves” para o desenvolvimento da atividade.
2 METODOLOGIA
O trabalho teve caráter analítico-descritivo, com abordagem qualitativa e quantitativa. O método utilizado foi “snow ball” (Handcock e Gile, 2011) com o preenchimento de
questionário semiestruturado. A execução do trabalho ocorreu entre os meses de setembro de 2018 a dezembro de 2019.
No diagnóstico do setor produtivo realizaram-se visitas “in situ” em 55 pisciculturas de Monte Alegre/PA, as visitas foram realizadas entre os meses de março a agosto de 2019. Nos questionários abordaram-se aspectos de organização das propriedades, porte dos empreendimentos, espécies cultivadas, características da produção, uso de tecnologias, manejo alimentar, insumos, monitoramento ambiental, regularização ambiental, monitoramento qualidade da água e aspectos socioeconômicos.
Para a análise do ambiente institucional realizou-se a aplicação de questionário nas instituições e órgãos com atuação direta e indireta na piscicultura de Monte Alegre/PA. As instituições entrevistadas foram: Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará - IDEFLOR-BIO; Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Monte Alegre /PA - SEMMA; Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – EMATER; Sindicato dos Produtores Rurais de Monte Alegre - SINPRUMA; Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Monte Alegre – Pará - STTR; Sindicato dos Pescadores Artesanais, Aquicultores e Trabalhadores na Agricultura Familiar – SINTRAF; Comissão Executiva de Planejamento da lavoura Cacaueira - CEPLAC.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 CARACTERIZAÇÃO PRODUTIVA DA PISCICULTURA
A. ASPECTOS GERAIS DOS PISCICULTORES
Verificou-se no estudo que 60% dos produtores não possuem acesso à internet, embora, 58% deles utilizassem telefone celular (Figura 1). Os meios de comunicação na zona rural é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de atividades econômicas (BERNARDES et al., 2015), que na piscicultura facilita o contato entre os compradores de peixes e fornecedores de insumos.
Das propriedades pesquisadas, 90% delas não possuem assistência técnica e 60% dos produtores nunca receberam capacitações especificas em piscicultura (Figura 1), esses fatores afetam diretamente o interesse dos piscicultores em seguir na atividade. Dotti et al. (2012) afirma ainda que a falta de assistência técnica pode causa inúmeras perdas, principalmente quanto ao desempenho zootécnicos dos animais produzidos.
Aspectos gerais dos piscicultores SIM NÃO Recebe assistência técnica Possui acesso a internet Utiliza telefone celular Vinculado a associação, sindicato ou cooperativa Participou de curso em piscicultura
Figura 1. Resultados das entrevistas para os aspectos gerais dos produtores de peixes em Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto à geração de renda, os dados demostram que somente em 3% das propriedades entrevistadas a piscicultura contribui como fonte de renda (Figura 2), sendo que em nenhuma delas a geração de renda é unicamente da produção de peixes. Conforme observado na Figura 2, outros segmentos como comércios e aposentadorias, além da bovinocultura são as principais atividades que geram renda as pessoas das propriedades do município de Monte Alegre.
Principais atividades que geram renda nas propriedades (n°de citações)
42
Pesca artesanal
Piscicultura Pequenos animais
Agricultura Bovinocultura Outros 90% 60% 58% 84% 60% 35 23 6 2 2 10% 16% 40% 40% 42%
Apesar da piscicultura ser considerada uma atividade recente, a maioria dos piscicultores (56%) estão na atividade entre 3 a 10 anos, sendo que 8% deles estão entre 15 a 20 anos, conforme observado na Figura 5.
Tempo dos piscicultores na atividade
56%
Menos de 1 ano
de 1 a 3 anos 3 a 10 anos 10 a 15 anos 15 a 20 anos
Figura 5. Resultados das entrevistas para o tempo dos piscicultores na atividade. Fonte: Dados da pesquisa.
Em relação à escolaridade foi diagnosticado que 55% dos produtores possuem o ensino fundamental incompleto e apenas 14% o ensino médio completo (Figura 6). Este dado é importante ao se estabelecer ações de capacitações, treinamentos e assistências técnica aos produtores.
55% Escolaridade
Figura 6. Resultados das entrevistas para o nível de escolaridade dos piscicultores. Fonte: Dados da pesquisa.
14% 14% 10% 3% 2% 2% 22% 12% 8% 2%
Foi observado que 54% dos produtores recebem algum auxilio governamental, os principais citados foram à bolsa família e aposentadorias (Figura 7).
Recebe auxílio do governo
Figura 7. Resultados das entrevistas para o recebimento de auxilio governamental pelos produtores. Fonte: Dados da pesquisa.
B. ESTRUTURAS DE PRODUÇÃO
O tamanho total das propriedades de piscicultura em Monte Alegre é bastante variável. A maioria delas (34%) possui entre 150 a 200 ha, por outro lado, 26% das propriedades possuem menos que 50 há (Figura 8).
Tanto o tamanho como a quantidade dos viveiros e açudes demonstram que a piscicultura ocupa pequenas áreas dentro das propriedades rurais. Esse fator evidencia, segundo a Resolução CONAMA n° 413/2009, que a maioria das propriedades (para fins de piscicultura) são classificadas em empreendimentos de pequeno porte (BRASIL, 2009).
Área total das propriedades
34%
Até 50 ha 50 a 100 ha 100 a 150 ha 150 a 200 ha Mais que 200 ha
Figura 8. Resultados das entrevistas para o tamanho total das propriedades rurais com piscicultura. Fonte: Dados da pesquisa. Não 46% Sim 54% 26% 22% 18% 10%
A maioria das propriedades visitadas (52%) tinham viveiros ou açudes com até 500 m2 e outras 27% entre 500 a 1000 m2 (Figura 9). O número médio de viveiros nas propriedades foi de 3.
Notou-se ainda que a maioria dos viveiros e açudes foram construídos para servir como bebedouro de água para o gado, e posteriormente adaptado para o cultivo de peixes, esse fato prejudica na despesca dos peixes e drenagem da água.
Tamanho dos viveiros nas propriedades
52%
Até 500 m² 500 a 1000 m² 1000 a 1500 m² 1500 a 2000 m²Maior que 2000 m²
Figura 9. Resultados das entrevistas para o tamanho dos viveiros adotados nas propriedades de piscicultura. Fonte: Dados da pesquisa.
A padronização no tamanho dos viveiros e fundamental para o manejo e gestão da produção. Nesse sentido, verificou-se que em 93% das propriedades os viveiros tinham distintos formatos, tamanhos e profundidades (Figura 10).
27%
Observou-se que 68% das propriedades não possuem sistema de drenagem de água nos viveiros, ou seja, esses viveiros não são capazes de secarem (Figura 11). Isso representa um grande problema produtivo e sanitário, uma vez que não é possível realizar o escoamento da matéria orgânica e tampouco a desinfecção dos viveiros, prejudicando assim a qualidade da água e o desenvolvimento dos peixes cultivados (RODRIGUES et al, 2013).
Drenagem dos viveiros
Realiza drenagem dos viveiros Não realiza drenagem dos viveiros
33%
67%
Figura 11. Utilização de sistema de drenagem nas propriedades de piscicultura. Fonte: Dados da pesquisa.
Quando verificado sistema de drenagem nos viveiros ou açudes, observou-se que o efluente era escoado para pequenos igarapés. Em nenhuma das propriedades observou-se o tratamento de efluentes.
Quanto à disponibilidade de energia elétrica, verificou-se que em 73% das propriedades possui energia elétrica (Figura 12), sendo importante na utilização de equipamentos para a piscicultura, como o uso de bombas e aeradores.
Possui energia elétrica na propriedade
Figura 12. Fornecimento de energia elétrica nas propriedades. Fonte: Dados da pesquisa.
Não 27%
Sim 73%
C. ESPÉCIES
Na piscicultura em Monte Alegre prevalece o consórcio com outras espécies (Figura 13), característica de um sistema extensivo de produção (RODRIGUES et al, 2013) e que pode apresentar uma alternativa viável, pois permite a criação de uma espécie de interesse secundário com os resíduos gerados por uma espécie de interesse principal (RESENDE, 2009).
Realiza o consórcio com outras espécies
Figura 13. Resultados das entrevistas para a utilização do sistema de consórcio na piscicultura. Fonte: Dados da pesquisa.
Dentre essas espécies, observou-se que as principais cultivadas são respectivamente: tambaqui (Colossoma macropomum), tambatinga (C. macropomum x Piaractus
brachypomum), pirarucu (Arapaima gigas) e matrinxã (Brycon sp) (Figura 14).
Quando adotado o monocultivo, prevaleceu-se o cultivo de tambaqui (Colossoma
macropomum), que segue o contexto regional de maior espécie cultivada (IBGE, 2018), tendo
facilidade de se encontrar alevinos e principalmente mercado de venda na região.
Muitos produtores demonstraram interesse na produção de pirarucu (Arapaima gigas), porém, encontram dificuldades para encontrar alevinos, além do alto custo com a ração. A matrinchã (Brycon sp) também é uma espécie de interesse dos produtores, no entanto, é difícil adquirir alevinos no município, além de possuir um custo elevado.
Não 21%
Sim 79%
41
14
4 45 Espécies produzidas (n° de propriedades)
Tambaqui Tambatinga Pirarucu Matrinxã
Figura 14. Principais espécies produzidas nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Observou-se ainda que em 35% das propriedades possuíam tilápias (Oreochromis
niloticus) utilizada como espécie forrageira, principalmente para alimentação do pirarucu
(Figura 15).
Presença de tilápias nas propriedades
Figura 15. Presença de tilápias nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
D. NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO
Quanto à alimentação dos peixes observou-se que em apenas 17% das pisciculturas os peixes eram alimentados somente com ração (Figura 16), o que configura a falta de capital de giro, confiança dos produtores em investir na atividade e conhecimento técnico em piscicultura
Sim 35% Não
Tipo de alimentação ofertada aos peixes
Resíduos de vegetais Somente ração
Figura 16. Resultados das entrevistas para a utilização de ração nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Nas pisciculturas de Monte Alegre, a ração é utilizada principalmente nas fases iniciais da produção ou de forma esporádica na engorda, junto à oferta constante de alimentos alternativos, como produtos vegetais (milho, mandioca, frutas e abóbora) e espécies de peixes forrageiros, no caso da produção de pirarucu. O uso desses alimentos alternativos é uma prática comum na produção extensiva, devido ao baixo custo e fácil acesso, por outro lado, pode prejudicar a qualidade da água e principalmente a qualidade do produto final que é comercializado (FRACALOSSI e CYRINO, 2013), podendo prejudicar a imagem da produção de peixes produzidos pela piscicultura.
O elevado custo da ração é o principal problema que inviabiliza o seu uso constante. Verificou-se que o valor do saco de 25 kg de ração para peixe omnívoro, com 28 a 32% de proteína bruta é comercializado entre R$ 60,00 a R$ 100,00. Nesse sentido, foi constatado que 88% por piscicultores realizam a compra da ração direto em casas agropecuárias, o que torna o preço bastante elevado (Figura 17).
Como realiza a compra de ração
Direto em casa agropecuária Por representante
Figura 17. Formas de aquisição de ração praticada pelos piscicultores de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
17%
83%
12%
E. PREDADORES E COMPETIDORES NA PRODUÇÃO
Observou que 67% das pisciculturas relataram problemas com predadores ou competidores (Figura 18). Isso ocorre principalmente devido a inexistência de mecanismos de controle no abastecimento de água e falta de manejo sanitário nos viveiros, ocasionando prejuízos na produção, sobretudo, nas fases iniciais.
Há predadores ou competidores no cultivo
Figura 18. Presença de predadores e competidores nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Os principais predadores e competidores relatados foram peixes e pássaros, com destaque para a traíra, presentes em 47,1% das pisciculturas e a garça e o socó, presentes em 15,7% e 11,8%, respectivamente (Figura 19).
Principais predadores e competidores encontrados nas pisciculturas
47,1%
Traíra Garça Socó Bentivi Muçum Ariranha Tucunaré
Figura 19. Predadores e competidores encontrados nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa. Não 33% Sim 67% 15,7% 11,8% 11,8% 9,8% 2,0% 2,0%
F. GESTÃO DA PRODUÇÃO
Notou-se que em mais de 90% das pisciculturas em Monte Alegre não é realizado nenhum tipo de gestão, como os cálculos de custo de produção e conversão alimentar (Figura 20). Na piscicultura, os custos de produção e a gestão das informações são fundamentais para o sucesso da atividade e o não controle dos custos de produção pode gerar prejuízo ao produtor.
Figura 20. Resultados das entrevistas para a gestão da produção nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Somente em 10% das propriedades verificou-se que os piscicultores realizam biometrias (Figura 21), porém, não de forma constante e muitas vezes não sabem interpretar os dados coletados. A biometria é um importante indicador de desenvolvimento dos peixes cultivados e auxilia a estimar a quantidade de ração a ser ofertada.
Realiza biometrias
Figura 21. Resultado para a realização de biometrias nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Sim 10%
Não 90%
G. QUALIDADE DA ÁGUA
Observou-se que em mais de 80% das pisciculturas não é realizado o monitoramento dos parâmetros físico-químicos de qualidade da água, tampouco os procedimentos de adubação, desinfecção ou calagem dos viveiros (Figura 22). Esses resultados demonstram que não é objetivo nas pisciculturas o ganho de desempenho dos peixes e a melhora da qualidade de água, caraterísticas de sistemas extensivos de produção.
Qualidade da água SIM NÃO Realiza monitoramento da qualidade da água Realiza a adubação Realiza desinfecção dos viveiros
Realiza calagem Faz renovação da água
Figura 22. Resultados das entrevistas para o controle da qualidade da água nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto à renovação de água apenas 32,7% das propriedades fazem a renovação constante da água dos viveiros, geralmente isso foi observado em pisciculturas que possuem sistema de abastecimento e captação de água. A principal fonte de abastecimento de água são as nascentes e os igarapés (Figura 23).
Identificou-se em diversas propriedades o afloramento do lençol freático, ocorrido pela escavação do viveiro ou açude com profundidades entre 4 a 6 metros. Isso é uma gravidade ambiental feita de forma consciente pelos produtores com o objetivo de acessar a água.
84% 80% 80% 80,4%
67,3%
16% 20% 20% 19,6%
9% 91%
Origem da água utilizada nas pisciculturas
47,5%
Nascente Igarapé ou Córrego
Poço artesiano Lago Represa
Figura 23. Origem da água de abastecimento utilizada nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
H. REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL E SITUAÇÃO FUNDIÁRIA DAS PROPRIEDADES
Mais de 90% das propriedades entrevistadas não possuem licenciamento ambiental ou outorga de direito de uso da água, por outro lado, todas possuem o Cadastro Ambiental Rural – CAR (Figura 24). Esse fator pode representar um grande problema para as propriedades, uma vez que elas estão susceptíveis a multas e embargos, além de estarem inabilitadas para o acesso a linhas de crédito e programas governamentais.
Regularização ambiental das propriedades
SIM NÃO
Possui licenciamento ambiental da piscicultura
Possui outorga d´ água Possui Cadastro Ambiental Rural
Figura 24. Resultados das entrevistas para a regularização ambiental das propriedades rurais entrevistadas. Fonte: Dados da pesquisa.
100% 2% 98% 30% 10% 10% 2,5%
Somado a falta de regularização ambiental das propriedades, diagnosticou-se que apenas 25% das propriedades possuem escritura, sendo que a maioria delas possui declaração de posse (Figura 25).
A regularização fundiária é essencial para iniciar o processo de licenciamento ambiental, nesse sentido, é necessário primeiramente que as propriedades se regularizem quanto à escritura para assim iniciar o processo de regularização ambiental.
52,9% Situação fundiária das propriedades
Escritura Posse Arrendamento Outros
Figura 25. Resultados das entrevistas para a situação fundiária das propriedades entrevistadas. Fonte: Dados da pesquisa.
I. DESTINO DA PRODUÇÃO
Em relação ao destino da produção de peixes 60% dos piscicultores relataram que os peixes eram para consumo próprio e 40% realizam a venda (Figura 26), principalmente no mercado local, na própria comunidade. A forma de venda é o peixe vivo e fresco.
Destino da produção de peixes
Venda Consumo próprio 25,5%
19,6%
2%
40% 60%
33%
13% 8%
14%
19%
Considerando que o tambaqui é a principal espécie produzida na piscicultura de Monte Alegre, verificou-se que em 79% das propriedades o tamanho médio desses peixes era de até 2 kg, tamanho excelente para viabilidade da produção. Somente 8% das propriedades
produzem peixes acima de 3 Kg (Figura 27).
Peso médio do tambaqui na despesca
Até 1 Kg
1 a 2 Kg 46%
2 a 3 Kg Acima de 3 Kg
Figura 27. Tamanho médio do tambaqui produzido em Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto ao preço de venda dos tambaquis observou-se que em 57% das pisciculturas os peixes estavam sendo comercializados a R$ 10,00/Kg (Figura 28). É importante ressaltar que o preço praticado é balizado pelas feiras de peixes do município, nesse caso o preço estava abaixo do comercializado nas feiras.
Preço médio de comercialização do tambaqui na propriedade
Até R$ 10,00/Kg
R$ 10/Kg 57%
Mais que R$ 10,00/Kg
Figura 28. Preço médio dos tambaquis comercializados nas pisciculturas de Monte Alegre/PA. Fonte: Dados da pesquisa.
J DIFICULDADES E “ENTRAVES”
Os produtores foram questionados sobre as dificuldades e “entraves” para melhorar a produção de peixes em suas propriedades e os dois fatores mais citados foi o alto preço da ração, mencionada por 38% dos produtores e a fata de assistência técnica, mencionada por 30% dos produtores (Figura 29).
Destaca-se nos resultados a menção a falta d água por 12% dos produtores, esse fator ocorre devido a regiões do município de Monte Alegre sem acesso regular a fontes de água e distantes de corpos hídricos como rios e lagos, dependendo quase que exclusivamente de bons períodos de chuva.
A dificuldade de comercialização foi mencionada por apenas 3% dos produtores, e isso é positivo, visto que a comercialização da produção é um elo fundamental para o sucesso da atividade e que muitas vezes representa um problema maior para os produtores.
Dificuldades mencionadas pelos produtores
Alto custo com ração Assistência técnica Falta d´ água Acesso a crédito Falta de estrutura para produção Licenciamento ambiental Comercialização Predadores na produção
38%
Figura 29. Resultado das entrevistas para as principais dificuldades e “entraves” do setor produtivo da piscicultura no município de Monte Alegre. Fonte: Dados da pesquisa.
3.2 MAPEAMENTO INSTITUCIONAL
A. ÁREAS DE ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
Os resultados mostram que as instituições atuam em vários setores relacionados à piscicultura, o que maximiza a potencialidade de atuação institucional no município. Na tabela I podem-se observar em detalhe os segmentos de atuação de cada instituição.
Tabela I. Áreas de atuação das instituições.
30% 12% 9% 4% 3% 3% 1%
SEGMENTO IDEFLO R SEMM A EMATE R SINPRUM A SINTRA F STT R CEPLA C Anuência para licenciamento X X Assistência técnica X X Auxilio no seguro defeso
ao pescador X
Auxilio para acesso ao
crédito X X Capacitações aos produtores X X X Fiscalização e Ordenamento X X Gestão X X Intermediação na aquisição de alevino X X Manejo Ambiental e Pesqueiro X X Outorga de recursos hídricos X
B DIFICULDADES DAS INSTITUIÇÕES PARA ATUAR NA PISCICULTURA
Em relação às principais dificuldades encontradas pelas instituições em atuar na piscicultura destaca-se a falta de pessoas qualificadas e a falta de organização dos produtores, ou seja, entidades como associações ou cooperativas. Na tabela II podem-se observar as dificuldades mencionadas pelas instituições para atuarem em prol da piscicultura no município de Monte Alegre.
Tabela II. Dificuldades das instituições para atuar na piscicultura.
DIFICULDADE IDEFLO R
SEMM
A SINPRUMA EMATER SINTRAF STT R CEPLA C Falta de apoio da gestão X X Falta de conhecimento dos produtores X Falta de estrutura X X X Falta de organizações dos produtores X X X X Falta de pessoas qualificadas X X X X Logística X X
C POTENCIALIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PISCICULTURA
As instituições indicaram como principais fatores o clima favorável e um grande potencial de recursos hídricos do município para o desenvolvimento da piscicultura. Destaca- se ainda a cultura local de consumo de peixes, facilitando assim a venda da produção. Todas as potencialidades mencionadas pelas instituições são apresentadas na Tabela III.
Tabela III. Potencialidades que favorecem a piscicultura em Monte Alegre.
POTENCIALIDAD E IDEFLO R SEMM A EMATE R SINPRUMA SINTRA F STT R CEPLA C Clima favorável X X X X Abundância de recursos hídricos X X X X X Cultura local de consumo X X X Mercado consumidor X X
Baixo custo de mão
de obra X Poder aquisitivo da população X Vontade dos produtores X D PROBLEMAS DA PISCICULTURA
Quanto às dificuldades enfrentadas na piscicultura do município, as principais citações das instituições foram à falta de assistência técnica, preço elevado da ração e dificuldade para o licenciamento ambiental. Na tabela IV podem-se observar todos os problemas mencionados pelas instituições.
Tabela IV. Problemas da piscicultura em Monte Alegre.
PROBLEMA IDEFLOR SEMMA EMATER SINPRUMA SINTRAF STTR CEPLAC Falta de assistência
técnica X X X X X X X
Alto preço da ração X X X
Dificuldades para licenciamento ambiental X X Elevado custo de produção X X Falta de energia
Falta de infraestrutura X X Falta de tecnologia para produção X X Organização dos produtores X X Dificuldade de comercialização X Documentação da terra X Falta de cultura da piscicultura X Falta de financiamento bancário X Falta de mão de obra qualificada X Oferta de alevinos X
E PROPOSTAS DE AÇÕES PARA A PISCICULTURA DE MONTE ALEGRE
As instituições sugeriram propostas de ações e soluções para alavancar e melhorar a piscicultura no município de Monte Alegre. Dentre as ações mencionadas destaca-se a necessidade de capacitação e treinamento dos produtores e o incentivo do poder público. Também é importante mencionar que é necessário viabilizar a organização dos produtores em sindicato ou associado, além de organizar a compra de ração em conjunto entre os produtores. Todas as ações mencionadas estão descritas na Tabela V.
Tabela V. Ações e soluções para o desenvolvimento da piscicultura em Monte Alegre.
AÇÃO
IDEFLOR-
BIO SEMMA EMATER SINPRUMA SINTRAF STTR CEPLAC
Capacitação aos produtores
X
X
X
X
Incentivo do poder público
X
X
X
Instalação de unidade demonstrativa
(pacote tecnológico)
X
X
X
Viabilizar a comprar de ração em
conjunto
X
X
Viabilizar a organização dos
produtores (sindicato ou associação)
X
X
Liberação de crédito rural
X
X
Desmistificar a atividade
X
Divulgação das vantagens da
piscicultura
X
Incentivar a produção de alevinos
X
4 CONCLUSÃO
A piscicultura no município de Monte Alegre em sua totalidade é praticada de forma extensiva atuando como subsistência. Os viveiros e açudes são de pequeno porte, a produção é realizada em consórcio entre espécies, sem assistência técnica e planejamento, prioriza-se a utilização de alimentos alternativos (vegetais) e não se realiza o monitoramento dos parâmetros de qualidade da água. Os produtores apontam que os principais problemas da atividade são o alto custo da ração e a ausência de assistência técnica. Falta maior apoio das instituições a cadeia produtiva da piscicultura no município, no entanto, são necessários mais investimentos nas instituições.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o auxilio de bolsa e apoio financeiro da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA por intermédio da Pró-Reitoria da Cultura, Comunidade e Extensão – PROCCE.
REFERÊNCIAS
BERNARDES, J. C.; VIEIRA, S. C.; BONFIM, E. B.; SANT’ANA, R. C. G. O uso das tecnologias de informação e comunicação na agricultura familiar: um caminho para a sustentabilidade. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, v.11, p.9, 2015.
BRABO, M.F., DIAS, B.C.B., SANTOS, L.D., FERREIRA, L.A., VERAS, G.C. & CHAVES, R.A. Competitividade da cadeia produtiva da piscicultura no nordeste Paraense sob a perspectiva dos extensionistas rurais. Informações Econômicas, 44(5): 5-17, 2014.
BRASIL. Resolução CONAMA nº 413 de 26 de junho de 2009. Estabelece normas e critérios para o licenciamento ambiental da aquicultura, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 30 jun. 2009. Seção 1, p. 126-129.
DOTTI, A.; VALEJO, P. A. P.; RUSSO, M. R. Licenciamento ambiental na piscicultura com enfoque na pequena propriedade: uma ferramenta de gestão ambiental. Revista Ibero-
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations. The state of world fisheries
and aquaculture 2018 – Meeting the sustainable development goals. Roma: FAO, 2018.
210p.
FRACALOSSI, D. M.; CYRINO, J. E. P. Nutriaqua: nutrição e alimentação de espécies de interesse para a aquicultura brasileira, 2013.
HANDCOCK, M. S.; GILE, K. J. On the Concept of Snowball Sampling. Sociological
Methodology, v. 41, n. 1, p. 367-371, Agosto de 2011.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 2017. Brasília, 2018.
MELO, C., ZACARDI, D. M., PAIVA, R. S., & NAKAYAMA, L. Diagnóstico da piscicultura na mesorregião Sudeste do Estado do Pará. Bol. Téc. Cient. CEPNOR, 10(1), 55-65, 2010. RESENDE, E.K. Pesquisa em rede em aquicultura: bases tecnológicas para o desenvolvimento sustentável da aquicultura no Brasil. Rev. Bras. Zoot., 38(1): 52-57, 2009.
Resolução CONAMA n° 413, de 26 de Junho de 2009. Dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura e da outras providências. Brasília: D.O.U., 2009.
RODRIGUES, A. P. O., LIMA, A., ALVES, A., ROSA, D., TORATI, L., & SANTOS, V. Piscicultura de água doce: multiplicando conhecimentos. EMBRAPA, Brasília, DF, 2013.