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Turismo cultural : à descoberta do Castro de Sto Estêvão da Facha : um percurso pedestre no Caminho Português de Santiago

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Academic year: 2020

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Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

Cristina Maria Fiúza da Rocha Pereira de Lima

Outubro de 2011

Turismo Cultural: À descoberta do Castro

de Sto. Estêvão da Facha

- Um Percurso Pedestre no Caminho

Português de Santiago

U M in ho |2 01 1 C ris tin a M ar ia F iú za d a R oc ha P er ei ra d e Li m a Tu ri sm o C u lt u ra l: À d e sc o b e rt a d o C a st ro d e S to . E st êv ã o d a F a ch a - U m P e rc u rs o P e d e st re n o C a m in h o P o rt u g u ê s d e S a

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Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor José Manuel Lopes Cordeiro

Instituto de Ciências Sociais

Cristina Maria Fiúza da Rocha Pereira de Lima

Dissertação de Mestrado em Património e Turismo Cultural

Turismo Cultural: À descoberta do Castro

de Sto. Estêvão da Facha

- Um Percurso Pedestre no Caminho

Português de Santiago

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ii

D

ECLARAÇÃO

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA

DISSERTAÇÃO, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANT E DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, 26 de Outubro de 2011

Assinatura:

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D

EDICATÓRIA

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A

GRADECIMENTOS

Considerando este projecto o resultado de uma caminhada, as primeiras palavras de reconhecido agradecimento dirigem-se à boa vontade das gentes do Lima, a alegria e a partilha de saber viver, à colaboração de instituições públicas e privadas e a todos os que contribuíram para chegar ao destino.

Um especial agradecimento ao Professor Doutor José Manuel Lopes Cordeiro, Director do curso de Mestrado em Património e Turismo Cultural, pela coordenação, o sábio entusiasmo e a disponibilidade na orientação científica.

Aos professores e colegas de curso, que partilharam ensinamentos e contribuíram para o resultado final do trabalho.

À família, irmãos David e Filipe, primos Joana e Margarida, o tio Bilo e tantos amigos com entusiasmo, amizade, iguarias estimulantes e grandes viagens verbais, que acompanharam esta jornada passo a passo.

Um particular agradecimento à tia Maria do Céu, à Maria da Glória Santos Solé, pelo apoio incondicional e sábios conhecimentos.

Os meus reconhecidos agradecimentos limianos,

- Ao Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, Engº Victor

Mendes, à Vereadora Engª Estela Almeida, à Dra. Andreia Pereira, pelas entrevistas e a colaboração no tratamento do material cartográfico e ao Ovídio de Sousa Vieira pela informação disponibilizada;

- Ao Museu dos Terceiros, Dra. Sandra Rodrigues e Dr. José Dantas,

pela disponibilidade e a colaboração na informação e acompanhamento de visita educacional ao espólio arqueológico;

- À Paróquia da Facha, Reverendo Padre António Baptista, pelo

material cedido e o acompanhamento de visita educacional ao Castro de Sto. Estêvão da Facha;

- Ao Presidente da Associação dos Amigos do Caminho Português de

Santiago, Engº João Abreu Lima, pela partilha de informação;

- Ao Presidente da TURIHAB e ADRIL, Engº Francisco de Calheiros e à Directora de Marketing, Dra. Maria do Céu Sá Lima, pela entrevista e a partilha de informação;

- Ao Proprietário da Casa das Torres, Engº Tristão Malheiro, pela

colaboração no reconhecimento e validação do percurso pedestre; - À aktivanatura e ao Luis Antas de Barros, pelo apoio informático, a

partilha de informação e o espírito ‘slow down and see the world’, uma inspiração para o lançamento de uma agência de animação local.

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R

ESUMO

O Turismo Cultural associado ao pedestrianismo constitui uma fórmula e uma oportunidade de desenvolvimento económico sustentável do mundo rural. Um projecto de Turismo Cultural traduzido num percurso pedestre representa uma mais-valia importante ao apresentar os recursos locais, a monumentalidade das estruturas arqueológicas, as condições de acesso e a sua dinâmica para a interpretação do património como potencialidade turística, a consciencialização da preservação da memória e a identidade cultural.

A existência de um conjunto de recursos locais no espaço temporal e em rede, em que a matriz dinamizadora cultural integra o «Caminho de Santiago», permite desenvolver o projecto de criação de um percurso pedestre local (PL), também possível, a cavalo ou de bicicleta, partindo de um programa de visita ao Castro de Sto. Estêvão da Facha e o levantamento e a análise de diferentes locais. O Turismo de Habitação ─ Casa das Torres, representa a modalidade de alojamento seleccionada para o programa. As visitas e o levantamento do Castro de Sto. Estêvão, de um forno cerâmico romano na Casa do Paço na freguesia da Facha, e o espólio arqueológico no Museu dos Terceiros na vila de Ponte de Lima, reúnem os pontos identificativos do itinerário programado.

As referências cronológicas deste percurso reportam-se ao passado Proto-Histórico (período do Calcolítico – II Idade do Ferro), Romano e Medieval.

Este conceito traduz a criação de um percurso cultural de descoberta do património cultural, material e imaterial, a memória e a identidade local, numa visão integrada e diferenciadora permitindo dar visibilidade e rentabilizar as estruturas existentes no território num pacote de oferta cultural.

Palavras-chave

Turismo cultural; percurso pedestre; Caminho de Santiago; Castro de S. Estêvão da Facha; desenvolvimento sustentável local.

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A

BSTRACT

Cultural Tourism versus pedestrianism defines a formula and an opportunity of sustainable development for the rural world. A cultural tourism project based in a walking trail represents an important add value introducing local resources, the monumental archaeological structures, the access facilities and the dynamic heritage interpretation considering touristic potential, the consciousness of heritage preservation and the cultural identity.

Local resources in time, space and network, in a cultural formula with the support of «Caminho de Santiago», allows the process of a local walking trail project (LW), possible, riding and biking, with a visit programme to the Celtic settlement of Sto. Estêvão da Facha and several spots. Turismo de Habitação ─ Casa das Torres, is selected for accommodation. The Celtic settlement, the ceramic roman oven in Casa do Paço in Facha Parish and the archaeological remains in Museu dos Terceiros in Ponte de Lima, are set as the spots selected for the planed itinerary.

The chronological time of this walking trail comes back to proto-historic period (calcolitic period – II Iron age), roman and medieval age.

This concept propose the creation of a cultural trail to discover the local heritage and environment, the memory and local identity, in an integrated and diverse approach of local resources developing a package to supply the cultural demand.

Keywords

Cultural tourism; Caminho de Santiago; Celtic settlement S. Estêvão da Facha; rural sustainable development.

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Í

NDICE

G

ERAL Dedicatória ... iii Agradecimentos ... v Resumo ... vii Abstract ... ix Índice Geral ... xi

ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... xiii

ÍNDICE DE FIGURAS ... xv

INTRODUÇÃO ... 1

Metodologia ... 3

Plano de Trabalhos do Projecto de Investigação ... 4

CAPÍTULO I ... 7

O Conceito de Turismo Cultural (Revisão da Literatura) ... 7

1.1. Factores de Procura ... 13

1.2. Factores de Oferta ... 16

1.3. Os Itinerários Culturais ─ «O Caminho de Santiago» ... 18

CAPÍTULO II ... 27

Conceito de Pedestrianismo ... 27

2.1. Dialéctica do Pedestrianismo ... 30

2.2. A Criação de um Percurso Pedestre ... 35

2.2.1. As Características Base ... 36

2.2.2. O Pré-projecto ... 43

2.2.3. Processo de Legalização de um Percurso Pedestre ... 47

CAPÍTULO III ... 49

Levantamento do Percurso Pedestre... 49

3.1. Enquadramento do Percurso ... 49

3.2. Programa de Visita ... 54

3.3. Perfil do Percurso ... 54

3.4. Considerações Gerais  BOA CAMINHADA! ... 55

3.5. Análise do Percurso Pedestre ... 56

3.5.1. TH Turismo de Habitação — Casa das Torres ... 56

3.5.2. Capela de S. Sebastião  CPSC Caminho Português de Santiago de Compostela ... 59

3.5.3. Capela da Sra. das Neves ... 64

3.5.4. Castro de Sto. Estêvão da Facha ... 65

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3.5.6. Quinta do Bom Gosto ... 76

3.5.7. Capela de S. Francisco ... 77

3.5.8. Ponte da Sra. das Neves ... 78

3.5.9. Capela de Sto. Abdão ... 79

3.5.10. Capela da Sra. da Guia ... 80

3.5.11. Museu dos Terceiros ... 83

3.5.12. Ponte de Lima... 86

3.6. Reconhecimento e Validação do Percurso Pedestre ... 88

CAPÍTULO IV ... 91

Estratégia de marketing do percurso pedestre ... 91

4.1. Objectivo ... 92 4.1.1. Produto ... 92 4.1.2. Preço ... 93 4.1.3. Distribuição ... 94 4.1.4. Promoção ... 95 4.2. Análise SWOT ... 96

4.3. Dimensão do mercado e segmentos-alvo ... 96

CAPÍTULO V ... 99 CONCLUSÃO ... 99 Referências Bibliográficas ... 103 Anexos ... 113 Anexo 1 ... 113 Anexo 2 ... 115

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ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AACPSC Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago

de Compostela

ADRIL Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima

ATLAS European Association for Tourism and Leisure Education

ERA European Ramblers Association

CPSC Caminho Português de Santiago de Compostela

ENNHO Rede Europeia de Organização do Património Cultural das

Nações

FCMO Federação Portuguesa de Campismo e Montanhismo

ICOM Conselho Internacional de Museus

ICOMOS Conselho Internacional de Monumentos e Sítios

IFSC International Federation of Sport Climbing

IGESPAR Instituto para a Gestão do Património Arquitectónico e

Arqueológico

ISMF International Ski Mountainering Federation

LEADER Liaison Entre Actions de Développement de l'Economie

Rurale

LIMICI Associação para a Defesa do Ambiente e do Património

Cultural de Ponte de Lima

OMT Organização Mundial de Turismo

TER Turismo no Espaço Rural

TH Turismo de Habitação

TURIHAB Associação do Turismo de Habitação

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig.1 - Grandes Rotas Trans-Europeias (GR®) ... 38

Fig. 2 - Grandes Rotas (GR®) em Portugal ... 39

Fig. 3 - Marcas de sinalização dos Percursos Pedestres ... 41

Fig.4 - Vale da Facha ... 49

Fig. 5 - Latada tradicional de Vinho Verde ... 51

Fig. 6 – Percurso Pedestre à Descoberta do Castro de Sto. Estêvão da Facha / CPSC ... 52

Fig. 7 – Percurso Pedestre à Descoberta do Castro de Sto. Estêvão da Facha / CPSC ... 53

Fig. 8 – Programa de visita do percurso pedestre ... 54

Fig. 9 – Gráfico/tabela – Perfil do percurso pedestre ... 54

Fig. 10 – Sinalização JAE ... 55

Fig.11 – Troço do percurso pedestre ... 56

Fig. 12 – Casa das Torres ... 56

Fig. 13 – Capela de S. Sebastião / CPSC ... 59

Fig. 14 – Credencial do Peregrino ... 60

Fig. 15 - «Escavações Arqueológicas em Santo Estêvão da Facha» ... 62

Fig. 16 – Caminho da Sra. da Rocha ... 63

Fig. 17 – Capela da Sra. das Neves... 64

Fig. 18 – Castro de Sto. Estêvão da Facha ... 65

Fig. 19 - Pia de água ... 66

Fig. 20 – Casas reconstruídas na Citânia de Briteiros ... 67

Fig. 21 – Conjunto Capela de N. Sra. da Rocha, coreto e escadório ... 68

Fig. 22 – Sino e miradouro ... 71

Fig. 23 – Quinta da Casa do Paço ... 73

Fig. 24 – Forno cerâmico romano ... 75

Fig. 25 – Quinta do Bom Gosto ... 76

Fig. 26 - Cruzeiro da Pedrosa ... 77

Fig. 27 – Capela de S. Francisco ... 77

Fig. 28 – Ponte da Sra. das Neves... 78

Fig. 29 - Largo Sra. das Neves ... 79

Fig. 30 - Rio Trovela e lavadeira ... 79

Fig. 31 – Capela de Sto. Abdão ... 79

Fig. 32 – Capela da Sra. da Guia ... 80

Fig. 33 – Troço do CPSC ... 81

Fig. 34 – Avenida dos Plátanos ... 82

Fig. 35 – Museu dos Terceiros ... 83

Fig. 36 – Sepultura tardo-romana ... 85

Fig. 37 – Ponte de Lima ... 86

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Fig. 39 – Grupo de reconhecimento e validação do percurso pedestre ... 89 Fig. 40 - Promoção do Percurso Pedestre ... 95 Fig. 41 - Análise SWOT ... 96

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“Um caminho é um testemunho de civilização… … uma construção humana”.

Almeida, 1968

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de projecto de Mestrado em Património e Turismo Cultural desenvolve o tema do Turismo Cultural, no quadro do estudo de «um percurso pedestre à descoberta do Castro de Sto. Estêvão da Facha», no Concelho de Ponte de Lima, região do Minho, através do Caminho Português de Santiago de Compostela.

A organização de circuitos, roteiros e itinerários com esta filosofia de aproximação ao Património Cultural, vem de encontro às novas tendências do mercado turístico e à necessidade de criação de actividades complementares e alternativas, contribuindo para a sustentabilidade e o desenvolvimento do espaço rural.

A apresentação dos recursos locais e a monumentalidade que as estruturas arqueológicas ainda ostentam, integram-se num estudo atendendo à importância e tendências do Turismo Cultural, às condições de acesso e a sua dinâmica para a interpretação do património como potencialidade turística, sustentabilidade económica e social das comunidades rurais, a consciencialização da preservação da memória e a identidade cultural.

A escolha do tema de trabalho atendeu à existência de um conjunto de recursos locais no espaço temporal e em rede, em que a matriz dinamizadora cultural integra o «Caminho de Santiago» como um denominador comum da cultura europeia. Esta rede intrincada de itinerários jacobeus provenientes de todos os cantos da Europa que se enleiam, os que têm origem em Portugal, e tantas são as possibilidades reais de acesso de cada local ao túmulo do Apóstolo. Mas, entre todos, assume particular relevo a estrada real Porto-Barcelos-Valença, onde

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confluem todos os demais, reforçando este percurso como a espinha dorsal dos caminhos portugueses de Santiago.

Em 1987, o Conselho da Europa consagra o Caminho de Santiago como o «Primeiro Itinerário Cultural Europeu», sendo a parte espanhola e francesa do Caminho classificada «Património da Humanidade» pela UNESCO (em 1993 e 1998, respectivamente), e a parte portuguesa encontra-se em fase de reconhecimento até 2021. Por outro lado, em Portugal, o percurso está em vias de classificação pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR).

Considerando a existência deste itinerário cultural, decidimos criar um percurso pedestre local (PL) – também possível, a cavalo ou de bicicleta, partindo de um programa de visita ao Castro de Sto. Estêvão da Facha e o levantamento e a análise de diferentes locais. O Turismo de Habitação é a modalidade de alojamento seleccionada para o programa proposto ─ a Casa das Torres representa um interessante exemplar da arquitectura Barroca na Ribeira-Lima a “mais bucólica e celebrada Ribeira Portuguesa”. As visitas e o levantamento do Castro de Sto. Estêvão, de um forno cerâmico romano na Casa do Paço na freguesia da Facha, e o espólio arqueológico no Museu dos Terceiros na vila de Ponte de Lima, reúnem os pontos identificativos do itinerário programado.

As referências cronológicas deste percurso reportam-se ao passado Proto-Histórico (período do Calcolítico – II Idade do Ferro), Romano e Medieval.

O plano de trabalhos do projecto integra quatro fases: I – O Conceito de Turismo Cultural;

II – O Conceito de Pedestrianismo;

III – O levantamento e a validação do percurso pedestre; IV – A Estratégia de marketing.

A palavra “projecto” foi usada pela primeira vez por altura do séc. XVI e deriva do latim projicere (= lançar para a frente). A raiz latina sugere por isso movimento, uma trajectória, uma relação exacta com espaço e tempo. O processo implicado envolve: um ponto de partida…; utilizado como base,

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de onde…; um indivíduo se lança para a frente… e em direcção a um objectivo.

O objectivo específico de implementação do projecto de percurso pedestre, pressupõe um conjunto de premissas de Turismo Cultural, Pedestrianismo e marketing para a reutilização destes espaços temporais, com o objectivo geral, de lançamento de novos produtos diferenciadores de Turismo Cultural no mercado que potenciem a oferta local, em rede, e a vários níveis.

Neste quadro, a abordagem do património cultural convida à descoberta de experiências e sensações únicas, a reutilização e a dinamização de espaços rurais, desconhecidos ou pouco promovidos, com a finalidade de interpretar, empreender, planear, gerir, organizar e distribuir iniciativas criativas, oportunidades de investimentos em projectos de Turismo Cultural inovadores.

O presente projecto, traduz-se num contributo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida no campo, uma parceria dinâmica e integrada na consciencialização das comunidades rurais e dos visitantes para a problemática da preservação da herança cultural.

Metodologia

O trabalho de projecto caracteriza-se pela recolha e a revisão sistemática de informação bibliográfica (fundos documentais e virtuais) para o enquadramento teórico dos vários conceitos envolvidos na criação de percursos pedestres: a abordagem do Turismo Cultural, o pedestrianismo, o estudo dos segmentos de mercado, o perfil do potencial consumidor, e o planeamento de marketing, complementado pela pesquisa de campo (fotografia e mapas), reconhecimento e validação do percurso através de implementação de questionário e a síntese crítica.

O desenvolvimento do projecto integra o recurso, a consulta e a colaboração de um conjunto de organizações, locais, nacionais e internacionais, entre as quais, a LIMICI - Associação para a Defesa do Ambiente e do Património Cultural de Ponte de Lima; o Museu dos

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Terceiros; a AACSC - Associação do Amigos do Caminho Português de Santiago; a FCMP - Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal; a TURIHAB – Associação do Turismo de Habitação; a CENTER – Central Nacional de Turismo no Espaço Rural; a ADRIL – Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Vale do Lima; a Câmara Municipal de Ponte de Lima; a Junta de Freguesia da Facha; a Paróquia da Facha; o Arquivo Municipal de Ponte de Lima; o IGESPAR – Instituto para a Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico; o IAPMEI - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, o Turismo de Portugal; a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal.

Ao longo do projecto será enquadrado um exemplo de modelo de dinamização de Turismo Cultural, no quadro dos novos paradigmas do desenvolvimento sustentável das zonas rurais e a preservação da identidade cultural.

Plano de Trabalhos do Projecto de Investigação Recolha de Dados

- Pesquisa de informação bibliográfica e documental específica (Estudos de arqueologia, de biologia e de geologia, de geografia e da paisagem, do património e a toponímia, realizados no âmbito da criação do percurso pedestre, projectos locais);

- Pesquisa sobre o percurso pedestre;

- Estabelecimento de contactos e consulta de entidades públicas e privadas;

- Análise de documentos.

Trabalho de Campo

- Visitas ao Concelho de Ponte de Lima (freguesias da Facha, Seara e Correlhã) com o objectivo de reconhecer o território, o património, a cultura e os recursos turísticos e experienciar in locco, as potencialidades locais;

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- Levantamento e registo fotográfico dos recursos turísticos e do percurso pedestre (máquina fotográfica, conta passos);

- Consultas sistemáticas (documentos/folhas 28 e 41 da Carta Militar de Portugal à escala 1:30.000 dos Serviços Cartográficos do Exército);

- SIG (Sistema de Informação Geográfico) / colaboração CMPL;

- Recolha de informações orais/entrevistas: CMPL; Museu dos Terceiros; AACSC; TURIHAB; ADRIL; Casa das Torres; Junta de Freguesia da Facha e Paróquia da Facha.

- Levantamento e Interpretação do percurso;

- Organização de visita de grupo (voluntários do ensino superior da Escola Superior Agrária/Instituto Politécnico de Viana do Castelo e Universidade do Minho, no quadro do Programa Erasmus e convidados locais envolvidos no levantamento do percurso) com a implementação de questionário, reconhecimento e validação do percurso.

Trabalho de Gabinete

- Tratamento e gestão da informação;

- Concepção e desenvolvimento de fichas de identicação, fotografias, gráficos e tabelas de apoio;

- Tratamento e análise dos questionários; - Redacção de síntese crítica.

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CAPÍTULO

I

O Conceito de Turismo Cultural (Revisão da Literatura)

No início do séc. XXI o turismo surge como uma força social, cultural e económica capaz de movimentar centenas de milhões de pessoas pelo Mundo.

O turismo constitui um fenómeno vocacionado para o lazer e os tempos livres1, a vários prismas, intelectual, físico, cultural, social e profissional, novas ou existentes, actividades económicas estruturadas para enfrentar todo um processo turístico, vendo nele um mercado a conquistar.

O turismo e a cultura sempre se encontraram no “velho continente”. A Europa identificou um importante destino associado à herança histórica e cultural. No tempo do Império Romano, considerado por alguns autores, como os primeiros “turistas culturais” (Richards, 1996)2, a motivação da

viagem assentava na descoberta da cultura Grega e do Egipto, seguindo-se na Idade Média, as peregrinações que viriam a originar os ‘itinerários culturais’ que hoje conhecemos, com cariz cultural ─ de fé ou espiritual, como é o contexto do «Caminho de Santiago».

A deslocação pela Terra, na procura do sagrado com vista à adoração, consulta, festejo ou simples conhecimento, recua muitos séculos. As antigas peregrinações Gregas tinham como destino a Panatenéia, de Acrópolis até ao Partenon, para trocar o traje da estátua de ouro e marfim de Atenas. (Coleman e Elsner, citado por Calvelli, 2006). Em 776 a. C., associado aos Jogos Olímpicos, as pessoas visitavam as cidades gregas, pela fama de curas sobrenaturais e pelos Oráculos, como

1 MALTA, Paula Alexandra (2000), Das Relações Entre o Tempo Livre, Lazer e Turismo, in «Sociedade e

CulturaI», Cadernos do Noroeste, Série Sociologia, Vol.13 (1), pp. 219-231.

2 Veja-se COSTA, José Manuel Ferreira de Lima e (2003), Os Caminhos de Descoberta do Passado, A

Via Romana (Via Nova) entre Bracara e Asturica), Dissertação de Mestrado em Património e Turismo; Braga, Uminho, pp. 117-120.

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no caso das peregrinações ao Oráculo Sagrado de Apólo, na região de Delfos. Segundo alguns autores, foi a Odisseia de Homero que influenciou a ideia de peregrinação no Ocidente.

Os principais centros de peregrinação cristã mergulham as suas raízes no Antigo Testamento, «no Êxodo do povo eleito para a Terra Prometida na actualidade, Jerusalém, Roma e Santiago foram os grandes centros da cristandade que mobilizaram inúmeras gerações de peregrinos, e continuam com Lourdes (França), Fátima (Portugal) ou Czestochowa (Polónia). No entanto devemos ressalvar que, desde a fundação do Cristianismo no Continente Americano, ainda devemos destacar Guadalupe (México), Aparecida (Brasil) e Luján (Argentina) (Guerra, 1989).

No Século das Luzes, a vida cultural na Europa encontrou um meio de se expressar ao mesmo tempo que um recurso inesgotável: as viagens. É a Europa com efeito que, em todas as fases pacíficas da sua história, desenvolveu o intercâmbio cultural, associado às movimentações: testemunhos dos escritores-viajantes, estadias de artistas, inspiração procurada noutros locais, modas das visitas culturais longínquas, as viagens de jovens da aristocracia inglesa pela Europa como complemento da sua educação, conhecidas a partir do século XVIII por The Grand Tour. Apoiando estas práticas, toda uma lógica de acolhimento inicialmente espontâneo, foi organizado numa hospitalidade mercantil que se instituiu. «A Europa inventou e implementou o serviço turístico em benefício de um turismo inicialmente consagrado à cultura e à descoberta do outro» (Beneyto, 1996).

Nas décadas de 1970-1980, a UNESCO, com a Declaração de Nairobi, a Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural3, as Rotas da Seda, o Projecto do Barroco e o Conselho da

3 I DEFINITION DU PATRIMOINE CULTUREL:

ARTICLE 1

Aux fins de la présente Convention sont considerés comme “patrimoine culturel”:

- Les monuments: œuvres architecturales, de sculpture ou de peinture monumentales, élements ou structures de caractère archeologique, inscriptions, grottes et groupes d’éléments, qui ont une valeur universelle exceptionnelle du point de vue de l’histoire, de l’art ou de la science,

- Les ensembles : groupes de constructions isolées ou réunies, qui, en raison de leur architecture, de leur unité, ou de leur intégration dans le paysage, ont une valeur universelle exceptionnelle du point de vue de l’histoire, de l’art ou de la science,

- Les sites: œuvres de l’homme ou œuvres conjuguées de l’homme et de la nature, ainsi que les zones y compris les sites archéologiques qui ont une valeur universelle exceptionnelle du point de vue historique, esthétique, ethnologique ou anthropologique.

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Europa, no quadro da Convenção do Património Arquitectónico Europeu, a Rede de Centros Culturais e os Itinerários Culturais, contribuíram decisivamente para o reconhecimento do Turismo Cultural como valorização social e económica das Sociedades. A nível internacional, a classificação de monumentos “Património da Humanidade” pela UNESCO, o ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, o ICOM – Conselho Internacional de Museus ou a UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza têm contribuído para institucionalizar esta terminologia.

Em 1985, a Organização Mundial do Turismo (OMT4) define o

Turismo Cultural “o movimento de pessoas por razões essencialmente culturais, tais como: visitas de estudo, viagens artísticas e culturais, viagens com intuito de assistir a festivais ou outros eventos, visitas a monumentos, viagens para estudo da natureza, do folclore ou da arte, e ainda peregrinações”.

A nível europeu, a ATLAS (European Association for Tourism and

Leisure Education) lançou em 1992 um projecto de pesquisa sobre Turismo

Cultural para o DGXXIII da Comissão Europeia, definindo as principais motivações dos turistas culturais que se relacionam com a aprendizagem, não só no sentido formal de adquirir nova informação, mas também no sentido lato da procura de novas experiências culturais. Definiu-se, conceptualmente, Turismo Cultural como “o movimento de pessoas para atracções culturais longe da sua área de residência habitual, com a intenção de adquirir nova informação e novas experiências para satisfazer as suas necessidades culturais” (Richard e Bonink, 1995).

O Código Mundial de Ética do Turismo, aprovado em Outubro de 1999, em Santiago do Chile, refere no seu Artigo 4º que «as políticas e actividades turísticas devem ser desenvolvidas no respeito pelo património

Convention pour la Protection du Patrimoine Mondial, Culturel et Naturel, (1972), in MARQUES, Helder; MARTINS, Luís Saldanha, Património e identidade territorial: apontamentos geográficos sobre novas (uma “nova”) componentes do processo de desenvolvimento, in «Património» – Encontros de divulgação e debate em estudos sociais, 1º sem. 1999, pp.11-18.

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artístico, arqueológico e cultural, competindo-lhes a sua preservação e transmissão às gerações futuras»5.

Por outro lado, a UNESCO defende que “o turismo não existiria sem a

cultura”6. A cultura constitui uma das principais motivações das

movimentações das pessoas e qualquer forma de turismo provoca um efeito cultural, quer da parte do visitante quer da parte do local de acolhimento.

Associações não governamentais (ONG) organizadas em rede como a EFHA – Forum Europeu para o Património e as Artes, A Europa Nostra – Federação das Associações de Defesa do Património e Ambiente, a rede de Centros Culturais em Monumentos e Sítios Históricos e a ENNHO – Rede Europeia de Organizações do Património Cultural das Nações, desenvolvem um conjunto de orientações que têm influenciado o sector do Turismo, com recomendações técnicas, a nível internacional (Calado, 1998).

Desde os anos 80, as Tutelas do Turismo têm reconhecido que a cultura e o turismo se aproximam progressivamente de um produto chamado “turismo cultural” ou “turismo de património” (Richard, 1996).

Nos nossos dias, os políticos de qualquer região ou cidade na Europa empenham-se no desenvolvimento de produtos turísticos culturais porque reconhecem o papel crescente de um sector no mercado turístico, protagonista de desenvolvimento — rendimento e emprego. (Sobral, 2001).

A utilização da cultura como base para o desenvolvimento turístico tem a vantagem da cultura poder encontrar-se em qualquer lugar. Neste quadro, a maior parte dos políticos considera que a sua localidade, município, região ou país, tem algo de atractivo diferenciado e único para oferecer. A cultura local é, por outro lado, encarada como uma forma de defesa e salvaguarda da identidade nacional, valorizando as especificidades das diversas zonas, contra as forças da globalização e da homogeneização da cultura7.

5 JAFARI, Jafar (1996), Tourisme et Culture: enquête sur des paradoxes — table ronde sur «Culture,

tourisme, développement: les enjeux du XXIe siècle», UNESCO, Paris, pp.45-50.

6 La Déclaration de Majorque Pour le Tourisme Culturel (1996), Institut Cultures del Món – Agence

Européenne pour la Culture, Palma de Mallorca.

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Os anos 90 reforçam a parceria entre o sector da cultura e do turismo, permitindo estreitar laços em termos de promoção. A partir deste momento, lançam-se as bases de um conjunto de co-financiamentos de apoio ao turismo, em consonância com as directrizes da Europa, materializados em obras de valorização do património cultural – as Aldeias Históricas, o Circuito do Património Mundial, os Itinerários Arqueológicos, as Zonas Históricas, os Jardins Históricos, o Turismo no Espaço Rural, entre outros. Assim, as linhas de actuação vão de encontro à criação e a melhoria de infra-estruturas de oferta turística, nomeadamente, o alojamento, o crescimento organizado da procura, a diversificação, a promoção e a qualificação da oferta, promovendo novas oportunidades de projectos para o sector do Turismo. Segundo Alberto Marques (1999), o Turismo começa a assumir um contributo importante para o desenvolvimento local.

Nos últimos anos, verifica-se uma preocupação em reabilitar edifícios com peso histórico e arquitectónico, como é o caso de antigos castelos, mosteiros e conventos, convertidos em Pousadas, ou casas antigas, de reconhecido valor patrimonial, recuperadas para Turismo de Habitação (Turismo no Espaço Rural), ou ainda, aldeias históricas integradas numa filosofia de Turismo de Aldeia. Um conceito iniciado nos anos 40, por António Ferro, ministro da informação, no sentido de dinamizar as zonas de interior de Portugal. No seu projecto de marketing nacional todos os sectores, por todos os meios, “deviam concorrer para o lançamento da imagem do País”, o turismo assumia um potencial multidisciplinar8.

Apesar da clara importância do turismo em termos económicos, sociais e patrimoniais, o sector tem registado grandes dificuldades em obter o seu legítimo reconhecimento político em Portugal. Em Maio de 2000, Portugal reuniu em Vilamoura, os Responsáveis Governamentais de Turismo da União Europeia. Esta iniciativa, da responsabilidade da Presidência Portuguesa do Conselho da U. E., de acordo com as palavras de Vítor Neto, Secretário de Estado do Turismo, constituiu “o maior fórum sobre turismo na União Europeia, jamais realizado”. Destacam-se alguns indicadores e projecções:

8 SOBRAL, José Manuel (2001), Na Era da Globalização A persistência das identidades nacionais, in «Le

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- A Europa, constitui a principal região de turismo do mundo, registando-se anualmente um movimento de 386 milhões de turistas;

- A Europa representa 52% das receitas turísticas mundiais, e

esta actividade é responsável por 6% do emprego; - A maioria dos turistas mundiais é europeia;

- O turismo crescerá, nos próximos anos, às taxas superiores à

da média da economia europeia (2,5 a 4%), continuando a gerar emprego.

O turismo de motivação cultural tem vindo a crescer nos últimos anos em todo o mundo, constituindo uma das linhas estratégicas de desenvolvimento da actividade turística em Portugal.

Após uma década, verifica-se que o Touring Cultural integra o Plano Estratégico Nacional de Turismo (2006), “…formatando itinerários experienciais que sejam uma montra do património histórico, cultural e religioso…”9. A revisão no horizonte do PENT de 2015, fundamenta-se

nestas linhas de orientação, promovendo a importância da criação de parcerias e a cooperação entre os agentes públicos e privados para concertarem estratégias, definirem objectivos e acções comuns, com vista ao crescimento sustentável do turismo nacional e o fomento do Turismo Cultural e de touring cultural. Este novo paradigma de turismo está alicerçado nas características de história, a cultura e as tradições locais, a hospitalidade e a diversidade de actividades de interesse turístico disponíveis nas regiões do país, potenciando a oferta de experiências marcantes para o turista, que tirem partido do conjunto de recursos únicos disponíveis em cada região.

A União Europeia encara a cultura como uma fonte essencial de diversidade e salvaguarda da identidade, que poderá tornar diferentes regiões da Europa atractivas para o turismo. A cultura funciona como um contributo importante para a diversificação do produto turístico de cada região. O turista global actual move-se cada vez mais pela busca de

9 Turismo de Portugal (2011), Plano Nacional Estratégico do Turismo, propostas para Revisão no

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experiências de novas iniciativas autênticas e ‘momentos especiais’, em detrimento de destinos e produtos turísticos convencionais «sol & praia»10.

A combinação dos factores da procura e da oferta levou à identificação do Turismo Cultural como um importante mercado em crescimento na Europa, veículo de conhecimento e troca de experiências entre os povos. Este facto torna-se evidente através do desenvolvimento de políticas de turismo cultural levado a efeito em muitas áreas, e também na Comissão Europeia. Em 1990, no primeiro Plano de Acção para o

Turismo, a Comissão Europeia identificou o turismo como um segmento de

mercado importante, enfatizando ainda mais o factor cultura — Green

Paper on Tourism (COMISSÃO EUROPEIA, 1995) e no desenvolvimento do

programa Rafael para o património cultural.

O Turismo Cultural assume um papel heterogéneo de actividades multifacetadas, multidimensionais, criando dinâmicas económicas e recreativas determinantes da sua especificidade, potenciando a oferta e a procura turística. Os factores exemplificativos do gradual crescimento do Turismo Cultural dividem-se em factores de procura e factores de oferta.

1.1. Factores de Procura

A recente investigação tem associado o crescimento do Turismo Cultural ao aumento do interesse geral pela “cultura” na sua diversidade considerada como um todo. Vários autores como Urry (1990) e Dann (1994) defendem que a alienação da sociedade moderna causou um forte sentimento de nostalgia pelo passado, introduzindo uma visão integradora globalizante e a intensidade ou o drama com que, sobretudo na segunda metade do século passado, se vive a perda. A vida moderna não dá às pessoas o sentido que elas precisam para as suas vidas, sendo condicionadas a procurar sentido e autenticidade em outro lugar. Isto poderá significar viajar no tempo e no espaço, “o regresso às origens”, a

10As potencialidades do sector Cultural na União Europeia, Disponível em:

http://www.europarl.europa.eu/workingpapers/educ/104aptsum_pt.htmhttp://www.europarleuropa.eu/worki ngpapers/educ/104aptsum_pt.htm, acesso em 16/11/2011.

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forma mais simples de viver que muitas pessoas relembram ainda do seu próprio passado.

A cultura vinculada à história, integra outras formas culturais — teatro, artes visuais, visitas a museus, que tem vindo a aumentar gradualmente nos últimos tempos. Certas formas culturais requerem um elevado nível de formação e capacidade cultural, de “capital cultural”. Desta forma, a maioria dos participantes caracterizam-se por um grau elevado de escolaridade. A participação cultural prende-se com a estimulação pelo crescimento ao nível da educação superior registada nos últimos 30 anos. A “nova classe média” com formação superior aumentou consideravelmente nas últimas décadas, representando uma fonte importante para o turista cultural pós-moderno (MUNT, 1990).

Por outro lado, o envelhecimento da população constitui um factor de peso no crescimento do Turismo Cultural. As pessoas seniores demonstram um interesse maior pela cultura, dispondo de tempo e dinheiro para as viagens culturais, as férias activas (actividades Outdoor). Tendem a interessar-se pelo património cultural (museus e monumentos), por ambientes rurais, em contrapartida, os visitantes mais jovens embora demonstrem mais interesse pela cultura contemporânea e a preferência pelos ambientes urbanos com uma vasta oferta de animação, começam a descobrir novas alternativas no âmbito de experiências culturais articulando com actividades desportivas.

A crescente procura pelo Turismo Cultural nos anos oitenta está interligada à crescente oferta de atracções culturais lançadas no mercado turístico. Este desenvolvimento é caracterizado pela criação histórica num produto chamado património, de uma “indústria do património”, em que se associam o crescimento do turismo cultural e o património (HEWISON;

1987). Por outro lado, Uzzell (1998) identifica 5 factores que influenciam o envolvimento emocional pelo património cultural e a sua interpretação: o tempo (― Lowethal (1985) afirma que o significado dos lugares modifica no tempo e a existência de três níveis na análise histórica: a memória, o registo histórico e os artefactos; a distância (as pessoas residentes numa localidade, têm uma visão diferente do visitante), a experiência do local; o grau de abstracção (os sentimentos e emoções resultantes de um

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ambiente, são interpretados de maneira diferente por cada pessoa), e a gestão (o tipo de interpretação utilizada pelos gestores de atracções afectará o nível de envolvimento afectivo dos visitantes, quer seja escrito, imagem, audio-visual, guias locais, ou reconstruções).

As mudanças sócio-económicas das últimas décadas determinaram a recente passagem do Turismo Cultural de uma actividade marginal a um importante sector do mercado turístico. A democratização da sociedade permitiu a transformação do turismo num mercado de consumo de massas, tornando-se num elemento essencial do quotidiano do mundo desenvolvido, considerado como um “direito social”11. Na actualidade, o

“direito” a férias torna-se cada vez mais importante, traduzido na fruição de algo especial, permitindo a distinção do resto das massas turísticas. O turista cultural do passado passou a preferir destinos caracterizados pela diferença e o criativo, considerando a ‘fruição’ cultural como uma forma de se distinguir do turista de massas. O crescente interesse pela cultura permite a identificação de um novo segmento de mercado, em que os factores de oferta e da procura desempenham um papel decisivo no processo de desenvolvimento do destino turístico.

De acordo com os dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), em 2010 registaram-se 940 milhões de turistas em viagens internacionais, dos quais 18% de viagens com motivações culturais. Até 2030 (Tourism

Towards 2030), a expectativa é de que as viagens internacionais totalizem

1,8 bilião, significando um crescimento continuado na ordem média de 4%

a 5% anuais12. Nos próximos 20 anos, 35% a 50% das viagens

internacionais serão motivadas pelo Turismo Cultural (Turismo Verde/Natureza, Turismo Aventura/Activo).

De acordo com Mckecher e Cross (2002), o Turista Cultural pode ser específico e/ou geral, e as tendências de procura são:

- Viagens especificamente culturais ou motivação cultural com maior ou menor peso;

11RICHARDS, Greg (1996), Cultural Tourism in Europe, Wallingford CAB International. 11WORLD TRAVEL TRENDS, disponível em:

http://www.itb berlin.de/media/itb/itb_media/itb_pdf/publikationen/worldttr_2010_2011.pdf, acesso em 16/11/2011.

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- Experiências de recreação culturais, desportos e aventura, actividades outdoor articuladas com a história, cultura, natureza, atendendo às necessidades de actividade, física e intelectual;

- A comunhão e a aprendizagem cultural, sítios históricos, modelos culturais, actividades económicas e profissionais;

- O Retorno às origens, o conhecimento do passado e a identidade cultural;

- A consciência ambiental, a conservação da natureza, a história e a cultura locais.

1.2. Factores de Oferta

O Turismo Cultural constitui um conjunto diversificado de actividades e representações simbólicas: desde a pintura, escultura, teatro, dança, música, gastronomia, artesanato, literatura, arquitectura, história, festas, folclore, entre outros, formando uma combinação que permite a vivência da diversidade cultural (Barreto, 2007). Quanto maior a diversidade de opções e actividades, maiores serão as possibilidades de criar produtos diferenciados). Além de estimular a permanência do turista no destino por um período de tempo maior, aumenta as taxas de ocupação nas épocas baixas, incrementa a despesa média e contribui para a redução da sazonalidade (Grängsjö, 2003).

A cultura é encarada, como um factor de atracção de determinada localidade fazendo parte de uma forma de turismo de “interesse especial”, susceptível de fomentar o turismo para destinos não convencionais e em épocas menos procuradas. A Comissão Europeia interpreta o Turismo Cultural como um excelente meio para potenciar o turismo, quer em termos de tempo, quer em termos de espaço, reduzindo o congestionamento turístico e a sazonalidade (EU, 1995).

A Declaração de Maiorca para o Turismo Cultural (1995) defende “o desenvolvimento da formação específica dos profissionais ligados ao turismo com o objectivo de ilustrar o património e ajudar à sua conservação,.. e o alargamento e diversificação da oferta desenvolvendo a

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capacidade d’acceuil chez l’habitant, favorável ao contacto humano e ao desenvolvimento regional.

As múltiplas e heterogéneas facetas do consumo cultural incluem, por um lado, os bens e serviços que se podem caracterizar como “tipicamente turísticos” (por exemplo, o alojamento, bem como a concepção, organização e venda de viagens e estadias) e por outro lado, os que não são exclusivamente utilizados por turistas e residentes (transportes de passageiros, restauração, aluguer de veículos...). Acresce ainda, a produção induzida que, tal como noutros domínios, serve de suporte às categorias precedentes (por exemplo, a produção alimentar e artesanal).

Em simultâneo, a oferta turística articula-se com a produção turística, porque comporta a utilização de recursos – naturais, culturais, artísticos – com especificidade diferenciada associados a um local específico, com natureza de bens públicos (Vera, 1997). Cabe neste contexto, o reconhecimento das entidades públicas e privadas enquanto salvaguarda do melhor equilíbrio entre o binómio desenvolvimento/recursos naturais, culturais e humanos para as gerações vindouras.

Esta consciencialização está presente na salvaguarda do legado para as gerações futuras em que assenta a definição de turismo sustentável coerente ou seja visa “satisfazer várias necessidades actuais, não pondo em causa a sustentabilidade dos recursos utilizados, para o futuro!”. Turismo sustentável é definido como: «todas as formas de turismo (desenvolvimento, gestão, planeamento e actividades) que permitam manter a integridade do ambiente, da sociedade e da economia, o bem-estar e o equilíbrio dos recursos naturais, edificados e culturais para o futuro!»13, (1993). O conceito do turismo sustentável começa a ganhar

cada vez maior visibilidade. O turismo é agora visto como uma ferramenta para fomentar o desenvolvimento de regiões, do património, de áreas rurais e áreas com natureza. Neste contexto, os trilhos que permitem a circulação de ciclistas, cavaleiros e pedestrianistas começam a surgir como um elemento central de uma oferta alternativa de turismo (Lane, 1999).

13 Veja-se a Agenda para um Turismo Europeu Sustentável e Competitivo (2007), Comissão das

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De acordo com a OMT, o desenvolvimento e a valorização sustentável do ambiente são questões prioritárias que afectam não só a população mundial como também o crescimento económico global (Agenda, 21, 2011). O aumento significativo da actividade turística a nível mundial e a consequente preocupação com o seu impacto ambiental deu origem a uma maior preocupação com a gestão dos recursos locais, onde se procuram soluções para as questões da preservação do ambiente e a salvaguarda da identidade cultural de cada região14.

1.3. Os Itinerários Culturais ─ «O Caminho de Santiago»

O programa dos Itinerários Culturais do Conselho da Europa nasce em 1987 com o objectivo de mostrar, através de viagens no espaço e no tempo, que o património dos diferentes países da Europa constitui um património cultural comum que pode ser utilizado como um recurso para o desenvolvimento sustentável das regiões. Segundo o Conselho da Europa, os itinerários têm como vocação:

1. Promover a tomada de consciência de uma identidade cultural comum graças a uma melhor compreensão da História da Europa com base em valores patrimoniais que dão forma tangível a percursos de descoberta dos patrimónios que reflectem as trocas e a evolução das culturas na Europa e permitem o melhor conhecimento da sua História; 2. Promover a salvaguarda deste património cultural como recurso para o

desenvolvimento social, económico e cultural da Europa;

3. Promover a valorização deste património tendo em vista um turismo sustentável.

Os caminhos de peregrinação que levam a Santiago de Compostela ou a Roma, seguindo a Via Francisgena, prefiguraram, desde a Idade

14 BUTTLER, Richard (2009)- Sustainability or Stagnation? Limits on development in tourist destinations

in p.10-23. European Journal of Tourism, Hospitality and Recreation, Instituto Politécnico de Leiria. Acesso em 11-08-2011,

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Média, um espaço aberto à livre circulação de pessoas e de ideias e constituíram eixos fundamentais na construção do continente europeu.

No quadro de um acordo entre o Conselho da Europa e o Grão-Ducado do Luxemburgo, em 1997 foi criado o Instituto Europeu dos Itinerários Culturais, com sede na Abadia de Neumunster, tendo como missão por em marcha o programa dos Itinerários Culturais do Conselho da Europa, com base na promoção de projectos de turismo cultural que valorizem o património num contexto de desenvolvimento local. Trata-se de valorizar o território através da dinamização de um turismo cultural de qualidade, estruturado sobre um património que importa valorizar.

Na actualidade, além do “Caminho de Santiago” os principais itinerários culturais são:

- “Al-Andalus”, termo que significa “terra de vândalos”, propõe

descobrir, através do conjunto de rotas que traçam o percurso dos muçulmanos no sul da Península Ibérica, o rico património que materializa as trocas civilizacionais suscitadas pela sua instalação. - As “Rotas da Oliveira” permitem compreender a importância desta

árvore que marca não só a paisagem mas, também, a vida quotidiana das civilizações mediterrânicas.

- O “Itinerário do património Judeu” convida o visitante a descobrir a influência da cultura judaica no continente europeu através do património de origem judaica nos diferentes países.

- O “Itinerário dos Parque e Jardins”. Os parques e jardins revelam as trocas artísticas, científicas e técnicas que marcaram a evolução das relações do homem com a natureza do decurso da história europeia. - O “Itinerário do Barroco”, desenvolve-se em torno dos principais

exemplares da arte barroca.

- Os “Caminhos da Vinha”, integram as paisagens vitícolas, que

constituem uma cultura comum, em produtos turísticos integrados que interpretam estas paisagens.

- O “Património das Termas” que interliga cidades que se

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- A “Rota dos Fenícios” que, passando por 18 países, faz a conexão das principais vias de comunicação cultural e comercial estabelecidas pelos fenícios no Mediterrâneo.

Fazendo uma breve abordagem histórica (Costa, 2003), os documentos responsáveis pela revitalização da rota percorrida pelos peregrinos na Idade Média, desde vários pontos da Europa até Santiago de Compostela, nascem no quadro do Conselho das Rotas Culturais da Europa criado em 1987 pelo Conselho para a Cooperação Cultural (CDCC). Este projecto surge no âmbito da Recomendação da Assembleia Parlamentar de 1985, discutida durante a 2ª Conferência de Ministros responsáveis pela Herança Arquitectónica da Europa (Granada, 1985). Os critérios presentes nesta iniciativa correspondiam a um sentimento de pertença a uma família de nações, com identidade própria, mas partilhando os mesmos valores e um denominador civilizacional comum.

Este projecto de criação dos Itinerários Culturais Europeus, integra-se na resolução dos ministros responsáveis dos assuntos culturais, reunidos no seio do Conselho da Europa, em 17 de Fevereiro de 1986, no âmbito da qual “acordam em estimular as actividades no domínio dos itinerários culturais transnacionais, encorajando as autoridades competentes dos estados-membros a colaborarem além fronteiras, tendo em vista o estudo e a eventual realização de itinerários de interesse europeu e em deixar uma tal cooperação aberta a outros países europeus”15.

O Programa Itinerários Culturais do Conselho da Europa propunha desenvolver uma alternativa ao turismo de massas, tendo para o efeito criado vários percursos que atravessam o ‘velho continente’, onde se destacam os Caminhos de Santiago ─ primeiro Itinerário Cultural Europeu. Estamos perante uma nova dinâmica de lazer, incentivando os europeus a percorrerem o espaço geográfico atravessando vários países e regiões, assimilando um património comum. Trata-se de uma ‘identidade cultural’ que segundo que segundo alguns autores como Michel Thomas-Penette citado por Faria (Costa, 2003), manifesta-se em vários campos e não só através do património construído, destacando-se todo um acervo cultural

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que se encontra espalhado pelo património etnográfico, literário, musical, etc. A preocupação com a salvaguarda destes testemunhos, foi sempre a ideia central destes itinerários, respeitando um conjunto de requisitos associados à reabilitação, classificação e protecção do património, antes de um projecto ser concretizado.

Em 1990, na celebração do Ano Europeu e sob a alçada do Conselho da Europa, é lançado um Guia dos Itinerários Culturais da Europa, publicando um conjunto de percursos do “velho continente”.

Em Espanha, o Caminho de Santiago é valorizado, principalmente a passagem nas províncias de Aragón, Asturias, Castilla e León, Rioja, Navarra e Galiza.

Entre 1987 e 1996, O Caminho de Santiago, principalmente a ligação da Europa do norte e central até Santiago de Compostela, foi incentivada como itinerário de peregrinação, seguindo-se a Via Francigena que ia de Canterbury (Inglaterra) até Roma. O peso das ordens monásticas, principalmente, a Cisterciense, permitiu a criação de um percurso inspirado por esta ordem religiosa. Outros percursos, como a “Arquitectura Rural Europeia” (Architecture without frontiers), os “Itinerários do Barroco”, a “Seda e os Têxteis”, “Os Celtas e os Vikings”, “Os Músicos, os Arquitectos e os Humanistas”, “os Parques e Jardins”, “As cidades Europeias dos Descobrimentos”, “Os Itinerários Celtas”, entre outros itinerários de espírito transnacional num espaço comum europeu.

A Comissão Europeia ao considerar o Caminho de Santiago como o primeiro Itinerário Cultural Europeu, incentivou a investigação nesta área, o levantamento e a sinalização do Caminho Português para Santiago de Compostela.

Existe um conjunto de autores digno de registo, portugueses e estrangeiros, inspirados pela temática do Caminho de Santiago. O Conde d’ Aurora, escreve em 1965 uma obra importante acerca do Caminho de Português para Santiago de Compostela. O autor limiano, peregrino, faz uma descrição dos caminhos que seguiam a via láctea até à casa do apóstolo na Galiza, destacando a ligação do litoral desde o Porto, passando por Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende, Viana do Castelo até Valença do Minho, e uma outra desde Braga a Ponte de Lima,

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com ligação ao Lindoso em Ponte da Barca. Um trabalho reconhecido com o prémio “Virgem Peregrina”.

Mas existem outros nomes de referência, como Carlos Alberto Ferreira de Almeida (“Caminhos Portugueses do Norte de Portugal”, 1995), Humberto Baquero Moreno (“Vias Portuguesas de Peregrinação a Santiago de Compostela na Idade Média”, 1986), José Marques (“A assistência dos peregrinos no norte de Portugal, na Idade Média, 1991).

A Associação dos “Amigos de Los Pazos” na Galiza, através de López-Chavez Melénguez edita em 1988, “El Camino Portugues”. Este livro é uma tradução do relato de Confalonieri que, em viagem desde Lisboa a Santiago de Compostela, descreve em 1594 este percurso, realizado em companhia de Fabio Biondo de Montalto, patriarca de Jerusalém. Percorre este Sacerdote o Caminho a cavalo com partida de Lisboa a 20 de Abril desse ano, passando por Alverca, Santarém, Tomar, Coimbra, Mealhada, Albergaria, Grijó, Porto, Vila do Conde, São Perdro de Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tui, Porrinho, Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis, Padrão e chegando Santiago de Compostela, no dia 5 de Maio.

A Associação para o Desenvolvimento do Turismo da Região Norte promove, em 1997, um Programa de Promoção Conjunta intitulado “Santiago – Caminhos do Minho”. Com o objectivo de motivar potenciais turistas nacionais e estrangeiros a percorrer este itinerário de peregrinação atravessando o território português até à Galiza. Assim, lançam-se seis itinerários, que interligam-se com as antigas vias medievais:

- o “Caminho do Noroeste” (litoral – Porto, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende, Viana do Castelo, Caminha, Vila Nova de Cerveira e Valença, por Tuy - Espanha);

- o “Caminho do Lima” (Porto, S. Pedro de Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Paredes de Coura e Valença);

- o “Caminho do Norte” (Porto, S. Pedro de Rates, Barcelos, Portela de Suzã, atravessando o rio Lima em Deão, seguindo a meia encosta pela Serra de Arga até Vila Nova de Cerveira e Valença);

- o “Caminho de Celanova” (Porto a Santo Tirso, Guimarães, Braga,

Prado, Ponte de Lima, Ponte da Barca, depois para nascente até Lindoso, Espanha, ou de Ponte da Barca para Norte, passando pelos

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Arcos de Valdevez seguindo para Monção, onde transpunha o rio Minho para Salvaterra do Minho em terras Galegas;

- o “Caminho da Geira Romana (Braga, Amares e Terras de Bouro até

à fronteira da Portela do Homem, entrando em Espanha mas voltando ao território nacional pela fronteira da Ameixoeira, seguindo por Castro Laboreiro até Melgaço);

- e finalmente o “Caminho do Lamego” (Viseu através de duas

variantes: em direcção a Braga, continuando depois uma outra do “Caminho de Celanova” em direcção a Monção, e a que levava a Vila Real e Chaves).

Este projecto integrava a sinalização de alguns itinerários, nas estradas nacionais dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança.

Com a passagem dos Anos Santos Compostelanos, assistiu-se à criação de associações ligadas ao Caminho de Santiago.

A Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo, descreve um dos Caminhos Portugueses a Santiago de Compostela (Lello Editores, 2000) – com partida de Barcelos, Abade de Neiva, Mosteiro do Carvoeiro, Lanheses, São Lourenço da Montaria, Argela, Vila Nova de Cerveira e passagem do rio Minho para Goian, em Espanha, Tomino, Gondomar, Vigo, Redondela, Caldas de Reis, Padron, Milladoiro e Santiago de Compostela.

A partir de 1998, a Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago, sediada em Ponte de Lima, ao abrigo de um projecto da ADRIL-Associação de Desenvolvimento Rural Integrado do Lima (Programa LEADER para o Vale do Lima) lançou um conjunto de iniciativas de estudo dos caminhos de peregrinação, na variante que do Porto provém via Barcelos até Ponte de Lima e depois Valença do Minho. Nesse mesmo ano, organiza a primeira Peregrinação Jacobeia de Ponte de Lima a Santiago e em 2001 edita uma publicação intitulada “O Caminho Português de Santiago”. Este livro descreve as nove jornadas do Porto a Santiago de Compostela, através da antiga via medieval, com descrição de quilometragem de cada etapa, os locais de interesse e respectiva nota

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histórica, fornecendo também as indicações, e contactos úteis para cada peregrino e respectivo mapa.

Uma questão interessante e atendendo à influência da Xunta da Galiza em promover os caminhos de peregrinação a Santiago de Compostela, e reconhecendo o crescimento anual das peregrinações ao Santuário de Fátima, o Conselho Nacional de cultura, concentrou as atenções na recuperação dos trilhos tradicionais utilizados pelos devotos de Nossa Senhora que, ano após ano, desde 1917, vão engrossando as estradas em direcção à Cova da Iria. Um fenómeno transversal, que abrange as populações rurais, a classe urbana e estrangeiros. Identificados os tradicionais caminhos que coincidem, muitos deles, com itinerários para Santiago de Compostela, escolheu-se o “Caminho do Tejo” para se dar início a este projecto finalizado em 2003.

O Plano Director Municipal de Ponte de Lima faz referência ao Caminho Português a Santiago, no Anexo II, no que respeita ao Património Arqueológico Inventariado e Não Classificado, sob a denominação de Itinerário e dizendo respeito à área geográfica compreendida entre Poiares, Navió, Vitorino de Piães, Facha, Seara, Correlhã, Ponte de Lima, Arcozelo, Cepões e Labruja. Descreve esta área arqueológica, secção XIII, artigo 62º, ponto número 1, enquanto “conjunto de locais de ocorrência de

achados arqueológicos com inegável interesse cultural, áreas de protecção e de reserva que acautelem presumíveis extensões do objecto arqueológico ainda não pesquisadas”. Mais adianta sobre a salvaguarda do

mesmo, estabelecendo a proibição de “construção, rectificação de traçado,

alteração de pavimentos ou abertura de novas vias, ou modificação do perfil morfológico do terreno, impermeabilizações de solo e correcção da drenagem hídrica, desmatações e desbaste do coberto florestal e agrícola e actividades de pesquisas e de reconhecimento arqueológico, enquanto não houver parecer favorável do Instituto Português do Património Arquitectónico”.

Todas estas iniciativas, revelam o interesse crescente pelo Caminho de Santiago, um conjunto de caminhos antigos como lugares privilegiados da descoberta do passado.

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Para celebrar as rotas culturais o Dia Europeu do Turismo, comemorado em Bruxelas a 27 de Setembro, a Comunidade Europeia, os Estados Membros e o Conselho da Europa anunciaram a concertação de políticas de valorização das rotas culturais como veículo de promoção da Europa enquanto destino turístico de excelência.

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CAPÍTULO

II

Conceito de Pedestrianismo

Na última década, temos assistido à proliferação de iniciativas inovadoras, públicas e privadas, programas, concursos, eventos, festivais, rotas e itinerários temáticos, actividades outdoor ─ percursos pedestres, sedimentadas nas novas tendências do Turismo Cultural.

Uma das fórmulas mais antigas de Turismo Cultural é o «pedestrianismo». A sua origem associa-se à história do Homem. Praticar pedestrianismo «é andar a pé…», uma actividade que o ser humano desenvolveu, desde sempre, para se deslocar de um lugar para o outro, por necessidade ou, simplesmente, por lazer. Na verdade, muitos dos caminhos que se percorrem na prática do pedestrianismo já existiam para ir de uma aldeia a outra, para chegar a uma pequena ermida ou para aceder a velhas ruínas.

Os primeiros percursos terão surgido como consequência dos primeiros movimentos migratórios dos herbívoros, tendo o homem associado a procura de alimentos, as peregrinações religiosas, o comércio e a guerra (Andrade, 2006). De acordo com Salvati (2006), os percursos são antigos caminhos ou caminhos abertos que têm como objectivo “aproximar o visitante ao ambiente natural, ou conduzi-lo a um atractivo específico, possibilitando seu entretenimento ou educação através de sinalizações ou de recursos interpretativos”.

Os caminhos celtas, as calçadas romanas, os trilhos rurais são testemunhos da herança histórica e cultural, do culto da descoberta e podem contribuir para a valorização e potenciação de percursos pedestres culturais. Também, o «Caminho de Santiago» constitui, por um lado, um referencial reconhecido de peregrinação e culto de fé, e por outro lado, o

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repositório da identidade cultural e a memória de séculos de história de vivências e experiências culturais.

De índole desportiva, regulamentada pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), de lazer e de saúde, actividade multifacetada ligada às áreas do desporto, do turismo e do ambiente, o pedestrianismo constitui uma das práticas crescentes em Portugal, e no resto do mundo, com potencialidades de rentabilização turística cultural.

A saúde constitui uma área em franco crescimento associado ao turismo. Considerando esta particularidade, já Hipócrates, médico da Antiga Grécia defendia “caminhar é o melhor remédio do Homem…».

A legislação portuguesa define pedestrianismo como a “actividade de percorrer distâncias a pé, na natureza, em que intervêm aspectos turísticos, culturais e ambientais, desenvolvendo-se normalmente por caminhos bem definidos, sinalizados com marcas e códigos internacionalmente aceites.” (Portaria n.º 1465/2004, de 17 de Dezembro).

Na actualidade, a arte de andar volta a estar na moda. O pedestrianismo, a marcha de montanha ou, a mais recente, marcha nórdica (nordic walking), começam a posicionar-se como uma actividade organizada associada ao turismo de lazer, no mercado nacional e internacional.

O pedestrianismo ou caminhada (passeio pedestre) pode ser definido como o desporto de andar a pé geralmente na natureza e em caminhos tradicionais, mas também em meios urbanos. A prática de pedestrianismo pode ser feita em percursos pedestres não sinalizados no terreno ou em itinerários balizados: Grandes Rotas (GR), Pequenas Rotas (PR) ou Percursos Locais (PL). O pedestrianismo constitui a actividade desportiva, turística e ambiental que consiste em percorrer percursos a pé ao longo de caminhos e trilhos, preferencialmente tradicionais ou históricos, na natureza ou em meio urbano. Ao contrário de outras actividades de ar livre, a prática de pedestrianismo não envolve grandes dificuldades técnicas. Trata-se, em geral, de uma actividade simultaneamente relaxante e agradável, recomendada dos 8 aos 80 anos de idade, em família, amigos, individual ou em grupo organizado.

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Os percursos pedestres permitem desfrutar de paragens de grande beleza, sensações únicas de visita ao passado, durante o dia ou à noite ao luar, a descoberta de ruínas de remotos tempos, como a cultura castreja e as suas povoações ─ castros, outros costumes e tradições (festas, feiras e romarias), os vestígios do tempo do Império Romano, o espírito da Idade Média, ou mesmo, a ligação a um sítio ou uma estrutura museológica, repositório da memória colectiva. Os percursos associados ao alojamento, são oportunidades de explorar os recursos locais como os refúgios, as casas-abrigo, albergarias ou casas de turismo de habitação (TER) como uma experiência complementar do património, os produtos locais e outras experiências e vivências diferenciadas.

Os percursos podem ser recreativos ou de lazer, com mais ou menos carácter exploratório e de aventura. Os percursos interpretativos ou culturais, o contacto e a presença privilegiada do meio. A geologia e a geomorfologia, a fauna e a flora, as hortas, os jardins, a história e a arqueologia ou a arquitectura e o artesanato, a gastronomia, enfim, o património material e imaterial, o património humano, os ”autoctones” duma determinada região.

O pedestrianismo pratica-se geralmente em caminhos tradicionais e antigos, tais como os caminhos medievais de peregrinação, como o «caminho de Santiago» ou as estradas militares romanas, como a «via romana (Via Nova) entre Bracara e Asturica», contribuindo para a sua preservação (Costa, 2003).

A maior parte dos trilhos foram abertos por gente do campo, conhecedora da região e das particularidades do terreno. Os caminhos são diversificados, desde ravinas, matagais, florestas, campos. Permitem, muitas vezes, poupar tempo e esforços, são ecológicos e culturais. Os percursos, no continente Americano são designados de trekkings e resultam da organização de tours, viagens organizadas, por agências de Viagens, operadores turísticos ou estruturas de animação turística.

Actualmente podemos usufruir de um trekk nos Himalaias ou nos Andes. Percursos programados, de vários dias com o objectivo de atingir o campo base do Everest ou fazer o Circuito dos Anapurnas, o caminho Inca a Machu Picchu no Perú. Em África são por vezes designados safaris e

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incluem, por exemplo, a ascensão do Kilimanjaro (5895 m), um percurso de cinco dias até ao topo do continente africano. Nos Himalaias, um considerável número de elevações são consideradas treekking peaks.

2.1. Dialéctica do Pedestrianismo

Fazendo uma breve resenha histórica, a prática de «andar a pé» apresenta uma evolução gradual nos tempos. Durante muito tempo secundarizado, o turismo de passeio pedestre constitui um desafio de desenvolvimento local. O pedestrianismo é uma das modalidades dos denominados desportos de Natureza, que são “todos aqueles cuja prática aproxima o homem da natureza de uma forma saudável e sejam enquadráveis na gestão das áreas protegidas e numa política de desenvolvimento sustentável” (Fraga, 2005).

Actualmente, trata-se de uma actividade muito divulgada entre a população dos países europeus, o passeio pedestre tendo evoluído, passa da categoria de um lazer informal para uma verdadeira acção turística, potencialmente geradora de benefícios económicos a nível local, numa estratégia de desenvolvimento sustentável.

Na actualidade, o pedestrianismo e os percursos pedestres promovem a conservação do património viário e a preservação do património cultural das regiões envolvidas, constituindo motores de desenvolvimento sustentável, contribuindo para a conservação da natureza e representando veículos privilegiados de ligação e de intercâmbio cultural entre os povos.

O pedestrianismo surge na Europa e conta com cerca de dois séculos de prática e tradição. A balizagem de percursos pedestres regista um século de implementação e constitui um inegável património cultural. O passeio pedestre teve a sua génese como actividade de grupo de pessoas que habitavam na cidade e que, organizados em clubes e associações, aproveitavam os trilhos como um terreno de jogo sem limites. A única regra básica era o prazer de andar, de percorrer caminhos comprometidos pela evolução da agricultura e a economia rural.

Referências

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