INDICADORES DE DESEMPENHO PARA O SISTEMA DE
PRODUÇÃO ENXUTO
PERFORMANCE MEASURES FOR LEAN PRODUCTION SYSTEM
Edwin Cardoza
Universidade de São Paulo - Escola de Engenharia de São Carlos - Programa de Pós-graduação do Departamento de Engenharia de Produção. Av. Trabalhador São-carlense n.400, São Carlos - SP.
Tel. (16) 3373-8287 - e-mail: edwin@sc.usp.br
Luiz C. Ribeiro Carpinetti
Universidade de São Paulo - Escola de Engenharia de São Carlos - Departamento de Engenharia de Produção. Av. Trabalhador São-carlense n.400, São Carlos - SP.
Tel. (16) 3373-9421 - e-mail: carpinet@prod.eesc.usp.br
RESUMO
No início do século XXI, é notório que uma série de paradigmas industriais está sendo revista e alterada pelas empresas e universidades. Entre as mudanças mais importantes destaca-se o processo de transição da produção em massa para a produção enxuta. A literatura específica da área de gestão de operações demonstra que existem diferenças significativas nesses métodos de produção. Uma das diferenças é o tipo de indicador de desempenho (ID) que é utilizado pelos gerentes de manufatura para avaliar os processos operacionais das fábricas. Porém, nota-se que existem poucas informações sobre como desenvolver os ID’s no sistema de produção enxuto. Considerando essa questão, o objetivo deste estudo é discutir o processo de desenvolvimento e implantação dos ID’s nesse sistema de produção. Apresentar-se-á de forma conclusiva um conjunto de indicadores de desempenho utilizados por empresas do setor agrícola que implantaram os conceitos desse novo sistema de manufatura e algumas considerações sobre os ID’s utilizados na produção enxuta.
Palavras-chave: Produção Enxuta; Indicadores de Desempenho. ABSTRACT
In the beginning of the XXI century, it has noticed that the paradigms for operation are review and altered by companies and universities. Among relevant changes, it is important to highlight the transition process of mass production to lean production system. A survey in the literature into operations management demonstrated that the differences between production practices exist mass production and lean production. One difference is performance measures (PM) that will be used by several managers to manage industrial operational process. However, it has noticed that few information exist on how to develop the performance measures to lean manufacturing system. Considering this question, the objective of this paper is to discuss a development process and implantation of the performance measures for this production system. The illustration of a group of performance measurement used by companies that implanted the concepts of this new model of manufacturing is presented and some considerations on performance measurement and lean production.
ISSN 1676 - 1901 / Vol. 5/ Num. 2/ Junho de 2005
1. INTRODUÇÃO
As exigências dos consumidores e o crescimento dos concorrentes (competitividade
dinâmica) obrigam as empresas a buscar novas práticas de manufatura. No início da década de
1960, essa dinâmica levou as empresas japonesas do setor automobilístico, em especial a
Toyota Motor Company, a desenvolver métodos diferentes de fabricar veículos em relação aos
utilizados pela indústria americana, na época onde o destaque era o sistema de produção em
massa da Ford Company e General Motor (OHNO, 1997; WOMACK et al., 1992;
CUSUMANO, 1989). A quebra desse paradigma resultou em um novo modelo de sistema de
produção, conhecido como Sistema de Produção Enxuto ou Sistema Toyota de Produção
(Lean Manufacturing/Lean Production).
Segundo Ohno (1997), o foco da produção enxuta é a absoluta eliminação ou
redução do desperdício. Isso envolve mudanças nas práticas de gestão de qualidade e gestão
de operações utilizadas para melhorar e gerenciar os processos produtivos. Uma das
alterações mais significativas diz respeito ao conjunto de indicadores de desempenho (ID’s)
que são utilizados pelos gerentes de manufatura para avaliar a qualidade industrial do
processo e dos produtos, o inventário dos estoques em processos (work-in-process - WIP), a
produtividade da célula, o tempo de fabricação, o tempo de preparação (setup), a satisfação
dos clie ntes e dos funcionários, entre outros.
Entretanto, na literatura específica da área de gestão de operações e melhoria da
qualidade existem poucas informações sobre como desenvolver tais ID’s nesse sistema de
manufatura. Considerando esse aspecto, o objetivo deste estudo é discutir o processo de
desenvolvimento e a implantação dos indicadores de desempenho do Sistema de Produção
Enxuto.
Nos itens que seguem serão apresentados os conceitos de produção enxuta, avaliação
Apresentar-se-á uma lista de indicadores utilizados por empresas que implantaram os conceitos de produção
enxuta no ano de 2003. Para finalizar, são realizadas algumas considerações sobre o processo
de gestão de avaliação de desempenho e produção enxuta.
2. SISTEMA DE PRODUÇÃO ENXUTO
A base de funcionamento do Sistema de Produção Enxuto é formada pelo método do
tempo propício (just-in-time - JIT) e da autonomação (Jidoka). O JIT determina que as
empresas necessitam eliminar ou reduzir os estoques de produtos e devem procurar trabalhar
em parceria com seus fornecedores a fim de nivelar e evitar o excesso de produção. O Jidoka
é o conjunto de práticas que fornecem aos equipamentos e, principalmente, aos operadores da
produção a habilidade de detectar quando uma condição anormal ocorre e interrompe
imediatamente o trabalho (OHNO, 1997).
Womack, et al. (1992) e Ohno (1997) ressaltam que esse sistema inovador é uma
resposta das empresas japonesas ao sistema de produção em massa utilizado pela indústria
americana. As mudanças surgiram porque esse processo demanda altos investimentos nos
equipamentos e a dedicação exclusiva dos mesmos às linhas de produção, utiliza profissionais
excessivamente especializados, elevados investimento nos moldes de fabricação e é um
processo limitado para atender as necessidades dos clientes. O resultado é a baixa
flexibilidade das linhas de produção em atender as mudanças solicitadas pelos clientes com
relação aos produtos.
É importante ressaltar que essas limitações apareceram pelas próprias características
do mercado doméstico japonês (poucos recursos, problemas de qualidade etc.) e não
significam que a produção em massa seja um modelo em desuso ou ultrapassado sem
vantagens industriais, conforme apresentado por Cooney (2002).
No Sistema de Produção Enxuto um dos objetivos é receber e produzir pequenos
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próxima estação quando o solicita ou avisa que o componente foi utilizado. Na maioria das
vezes o fluxo da informação ocorre por meio de um dispositivo visual que autoriza e dá
instruções para a produção, conhecido como cartões Kanban.
Segundo Cusumano (1989), para conseguir fabricar lotes menores de produção é
necessário reduzir o tempo de ressuprimento (lead time), o tempo de preparação (setup), criar
uma produção balanceada, modificar a rotina de trabalho das pessoas, eliminar os
desperdícios e o tempo de movimentação dos funcionários. Os sete desperdícios mais comuns
nas empresas são: superprodução, esperas, defeitos de qualidade, inventários desnecessários,
processamento inapropriado, transporte excessivo e movimentação desnecessária (OHNO,
1997).
Warnecke e Hüser (1995) definem, também, que a produção enxuta é representada
por um sistema de avaliação de desempenho e pelas práticas de melhoria contínua. Segundo
os autores, quando os métodos de melhoria são estendidos para todos os setores da empresa
(desenvolvimento de produtos, cadeia de suprimentos, processos de manufatura e serviços
oferecidos antes e depois das vendas), os desperdícios são eliminados e se pode alcançar um
desempenho melhor nos processos produtivos e de negócio. Além disso, nas empresas existe a
tendência de expandir esses conceitos aos seus fornecedores, formando assim estratégias
competitivas que criam perspectivas de crescimento e domínio do mercado.
Segundo Standard e Davis (1999), todas essas características determinam que as
empresas e, principalmente, as novas linhas de produção devem ser gerenciadas com novos
indicadores de desempenho integrados com os indicadores financeiros.
3. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
A partir do momento que as mudanças tecnológicas e as forças do mercado
(demanda e competitividade) passaram a pressionar as empresas, percebeu-se que os modelos
eram limitados para gerenciar os negócios. Segundo Neely (1998), no atual cenário
empresarial os novos modelos de avaliação de desempenho são necessários para: verificar e
comunicar a posição no mercado; motivar o progresso e o comprometimento dos funcionários
com as mudanças ou projetos de melhoria que são implantados; e para auxiliar na tomada de
decisão sobre o processo de implantação e gerenciamento das melhorias e mudanças
empresariais.
Os modelos descritos na literatura específica da área de avaliação de desempenho e
os mais utilizados pelas empresas para desenvolver tais indicadores são: Balanced Scorecard
(KAPLAN e NORTON, 1996), Performance Prism (NEELY e ADAMS, 2001), Integrated
Performance Measurement Systems (BITITCI et al., 1997) e Performance Pyramid (CROSS
e LYNCH, 1990). Todos esses modelos apresentam os objetivos, as áreas críticas de
desempenho, os processos e os tipos de indicadores que devem ser utilizados pelos gerentes
para avaliar o desempenho organizacional.
Paralelamente, surgiram os procedimentos de implantação dos projetos de avaliação
do desempenho (RENTES et al., 2002; MARTINS, 2002; VAN AKEN et al., 2001; NEELY
et al., 2000; BITITCI et al., 2001; FLAPPER et al., 1996). A figura 1 apresenta as etapas
envolvidas no desenvolvimento (projeto) e na utilização (implantação) do sistema de
avaliação de desempenho - SMD (CARDOZA et al., 2003).
A proposta desses autores é apresentar uma sistemática para integrar os objetivos das
unidades de negócios ou dos processos administrativos com os indicadores de desempenho
utilizado nos processos operacionais. Além disso, é importante ressaltar que essa proposta
surgiu porque se verificou que na literatura da área de medição de desempenho, apesar do
número elevado de referências bibliográficas, são poucos os trabalhos que abordam
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Figura 1: Etapas de desenvolvimento, implantação e utilização dos SMD’s
Fonte: Cardoza, et al. (2003).
Outro aspecto discutido nessas pesquisas é a Gestão Visual do sistema de avaliação
de desempenho. Ou seja, como é importante que as informações (qualidade, controle de
produção, atrasos na entrega, demanda dos componentes, produtividade etc.) estejam visíveis
para os usuários do sistema de informação.
Considerando as tendências e os desafios que as empresas estão enfrentando no
início do século XXI: demanda variável, baixos estoques, diminuição do tempo de
ressuprimento global de produção, ciclos de vida dos produtos menores, produtos
customizados etc., nota-se que cada vez mais será necessário utilizar métodos para
desenvolver indicadores de desempenho flexíveis e dinâmicos que se adaptem as mudanças
dos sistemas de manufatura.
4. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO NA PRODUÇÃO ENXUTA
Segundo Ohno (1997), um dos maiores problemas das fábricas é que os setores criam
visões diferentes sobre a companhia como um todo. Os problema s que surge m com esse tipo
Identificar os objetivos estratégicos PROJETO Definir as áreas críticas do
processo (A C P ’ s) Definir as métricas de desempenho das A C P S ’ s IMPLEMENTAÇÀO D E S E N V O L V I M E N T O U T I L I Z A Ç Ã O Implementação das métricas de desempenho Visualização e Comunicação do desempenho Identificar e implementar iniciativas de melhorias Rever o impacto no desempenho da empresa Apontar a necessidade d e medir Identificar os objetivos estratégicos PROJETO Definir as áreas críticas do
processo (A C P ’ s) Definir as métricas de desempenho das A C P S ’ s IMPLEMENTAÇÀO D E S E N V O L V I M E N T O U T I L I Z A Ç Ã O Implementação das métricas de desempenho Visualização e Comunicação do desempenho Identificar e implementar iniciativas de melhorias Rever o impacto no desempenho da empresa Apontar a necessidade d e medir
de configuração é que dificulta a tomada de decisão e a identificação das restrições que cada
setor possui, dificilmente é definido como a informação (métricas de desempenho) será
utilizada (MARTINS, 2002) e faltam métodos para assegurar a coleta, análise, interpretação e
disseminação dos dados na empresa (NEELY et al., 2000), existe uma integração frágil entre
os objetivos estratégicos e processo críticos de negócios (BITITCI et al., 2001) e as
informações não retratam os resultados das ações de melhoria (KAPLAN e NORTON, 1996).
Uma vantagem alcançada quando desenvolvido e implantado os conceitos de
avaliação de desempenho no sistema de produção enxuto é a quantidade de informações que
são reunidas das diversas áreas da empresa. Com isso é possível identificar com mais
segurança os problemas da fábrica e elaborar os eventos de melhoria (kaizen) com mais
eficiência.
Os ID’s são implantados simultaneamente com algumas das metodologias propostas
pela produção enxuta: layout da manufatura, gestão da demanda, planejamento da produção,
logística integrada (abastecimento interno e externo), milk run (um método de acelerar o fluxo
de materiais entre as unidades industriais no qual os veículos seguem uma rota para fazer
múltiplas cargas e entregas em muitas unidades industriais), Gestão de Conhecimento,
Sistema de Movimentação etc. (ROTHER e SHOOK, 1999).
Pode-se afirmar que o sistema de produção enxuto é um conjunto de projetos ou
subprojetos que são implantados e integrados com o objetivo de aumentar o desempenho
organizacional e, principalmente, alterar (mudar) os indicadores financeiros da empresa.
Algumas vezes esse princípio não ocorre automaticamente, conforme comprovado por Lewis
(2000). Entretanto, o autor ressalta que essa questão depende do tipo de empresa e,
principalmente, do tipo de produto. Além disso, a metodologia utilizada para o
desenvolvimento e a implantação dos conceitos é um aspecto que também influenciam o
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Assim, é evidente que o tema de produção enxuta e avaliação de desempenho estão
relacionados e ambos influenciam os processos administrativos e operacionais das empresas.
Destaca-se que essa integração permite com que o sistema de manufatura consiga absorver e
reagir rapidamente às transformações do mercado (demanda variável).
4.1 Tipos de indicadores de desempenho
O quadro 1 apresenta a compilação de alguns ID’s que podem ser utilizados no
Sistema de Produção Enxuto (SANCHEZ e PEREZ, 2001; STANDARD e DAVIS, 1999). A
seta representa a alteração ou a mudança da métrica (do desempenho) quando aplicados os
conceitos de produção enxuta.
Quadro 1: Indicadores de desempenho propostos para o sistema de produção enxuto
Definição Alteração
percentual de peças comuns para os produtos da empresa ?
giro do estoque ?
número de vezes que as peças são movimentadas ? distância que as peças percorrem na fábrica ? percentual da manutenção preventiva versus a manutenção total ?
número de sugestões dos empregados por ano ?
valor do refugo e re-trabalho com relação as vendas da empresa ? porcentagem de tempo do equipamento parado por mau funcionamento ?
porcentagem de sugestões implantadas ?
ganhos ou benefícios alcançados com as sugestões implantadas ? tempo de ressuprimento (lead time) do pedido dos clientes ? número de fornecedores para os componentes mais importantes ? porcentagem de empregados trabalhando em equipes ? porcentagem e número de tarefas realizadas pelas equipes ?
tamanho do lote de produção ?
inspeções visuais no controle de qualidade ?
controle estatístico do processo ?
controle kanban da produção ?
número de testes de qualidade das peças ?
tempo de preparação (setup) do processo ?
porcentagem das peças recebidas dos fornecedores pelo sistema JIT ? número de sugestões de melhoria realizadas pelos fornecedores ?
Para Sanchez e Perez (2001) são seis os grupos de indicadores que podem ser
multifuncionais, eliminação de atividades que não agregam valor, melhoria contínua, JIT de
produção e de entrega, integração de fornecedores e de vantagem competitiva. Ainda apontam
que uma lista de verificação (checklist) deve ser realizada para examinar se realmente essas
práticas estão sendo avaliadas por indicadores de desempenho.
O quadro 2 apresenta os principais indicadores utilizados por um conjunto de
empresas (fábricas de máquinas agrícolas) que implantaram os conceitos de produção enxuta
no ano de 2003, todas estão localizadas no interior do Estado de São Paulo.
Quadro 2: ID’s do sistema de produção enxuto de fábricas de máquinas agrícolas
Indicador Definição Fórmula
Índice de entrega ao cliente-fornecedor
o objetivo é acompanhar a capacidade da empresa (atraso) de entregar peças ao cliente-fornecedor (operação terceirizada)
número de pedidos entregues / número de pedidos solicitados Índice de atrasos do
cliente-fornecedor
o objetivo é acompanhar o cliente-fornecedor que atrasa o abastecimento de componentes
número de dias que o fornecedor está em atraso Itens comerciais
faltando na linha de produção
o objetivo é medir a eficiência do sistema de controle da produção
número de itens comerciais em atraso na linha de produção Causas das paradas
da linha de produção
o objetivo é identificar quais são os itens que faltaram na linha de produção
para cada parada é descrita a causa da interrupção da produção Avaliação do lead
time total de
montagem
o objetivo é medir a evolução do lead time total de montagem de máquinas em comparação com o lead time antes de implantar o sistema de produção enxuta
lead time anterior de montagem
de máquinas e lead time atual de montage m de máquinas Movimentação na
montagem final
visa avaliar a redução de movimentação de peças e operários na montagem final com a implantação do projeto enxuto
movimentação atual e movimentação antes do projeto
Giro de estoque o objetivo é avaliar a eficiência da compra de inventários em relação à sua utilização
compra de materiais / quantidade no estoque
Utilização de horas disponíveis de
mão-de-obra
o objetivo é comparar a quantidade mensal de horas disponíveis de mão-de-obra com a quantidade de horas necessárias para montar as máquinas
horas disponíveis no mês / horas necessárias para montagem de
máquina no mês Avaliação do
número de componentes carregados por dia
o objetivo é comparar o número de peças expedidas diariamente com uma meta estipulada
número de componentes expedidos por dia Número de
produtos montados acima do tempo
pitch
o objetivo é avaliar a eficiência das equipes de montagem final em cumprir o tempo estabelecido pelo pitch (significa o tempo que é necessário para completar um contêiner de produtos em uma área da produção)
número de produtos montados dentro do tempo pitch Eficiência do setor
“gargalo”
o objetivo é medir a eficiência diária do setor que restringe o ritmo de produção diariamente
produtos acabados / programação da produção diária Atendimento de
cartões
o objetivo é comparar o número de cartões comprados, número de cartões atendidos e o número de cartões vermelhos
contagem de cada um dos tipos de cartões
Número de itens no vermelho x milk run
o objetivo é medir a eficiência do novo sistema milk run implantado.
número de cartões no vermelho do
milk run e o número de cartões
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Essa lista de indicadores de desempenho foi reunida metodicamente a partir de
entrevistas com os participantes dos projetos de produção enxuta (membros do grupo de
pesquisa de Gestão e Mudança Organizacional (GMO), do Núcleo de Manufatura (ver
www.numa.org.br) da Escola de Engenharia de São Carlos) e publicações sobre esses projetos
(PASSAGEM, 2003).
Analisando-se tais pesquisas, ficou claro que os indicadores utilizados pelo Sistema
de Produção Enxuto podem ser classificados em dois tipos: estratégicos ou de projeto
(informam como as novas práticas são utilizadas pelas pessoas e quais são os efeitos do
projeto enxuto nos indicadores financeiros) e os operacionais ou de processo (são
indicadores de controle para mensurar a eficiência e eficácia dos processos individuais ).
Todas as empresas que implantaram o projeto enxuto desenvolveram e passaram a
utilizar novos indicadores de desempenho. Ao mesmo tempo, criaram meios (Gestão Visual)
para divulgar a informação aos usuários e outras áreas operacionais e administrativas.
5. COMENTÁRIOS FINAIS
No processo de elaboração e implantação dos indicadores de desempenho prevaleceu
a experiência das pessoas que participaram do projeto de produção enxuta. Nota-se que em
nenhum dos casos relatados nas entrevistas e publicações foi utilizado um método ou
procedimento sistemático para desenvolver o sistema de avaliação de desempenho para o
novo sistema de manufatura.
É importante ressaltar que isso não significa que o sistema deixou de apresentar
resultados satisfatórios para as empresas, porém, esse tipo de atitude pode levar a criar um
número elevado de indicadores, levantar informações desnecessárias do processo produtivo,
concluir precipitadamente ou até mesmo errar sobre o desempenho dos processos, falhar na
integração dos indicadores estratégicos e operacionais, entre outros aspectos, dificultando a
O quadro 3 indica as diferenças que existem no processo de medição de desempenho
do sistema de produção em massa e o sistema de produção enxuto. As mudanças surgem pelas
próprias características dos processos de manufatura. No sistema de produção em massa, a
produção é baseada na previsão da demanda (gerando estoques elevados de produtos
acabados ou intermediários), e no sistema de produção enxuto a produção é puxada, ou seja,
só é produzido um determinado produto quando existe uma demanda real.
Quadro 3: Diferenças do processo de medição de desempenho nos sistemas de manufaturas
Sistema de Produção em Massa Sistema de Produção Enxuto
− O sistema de indicadores de desempenho é utilizado para medir a eficiência dos processos, a produtividade da linha, o absenteísmo dos funcionários, a quantidade de refugo, número de acidentes etc., informações que às vezes não demonstram a situação real da empresa diante dos seus acionistas, fornecedores e clientes.
− O sistema valoriza apenas os índices específicos locais, desconsiderando a visão global de todo o processo produtivo.
− Nesse sistema de produção é comum utilizar meios informais para medir o desempenho dos processos produtivos.
− Na maioria das vezes os dados divulgados nos setores da empresas são desatualizados e falham na integração.
− As informações são centralizadas em aspectos que não necessariamente monitoram e avaliam a satisfação do cliente final.
− Os indicadores de desempenho criados a partir das atividades que agregam valor permitem monitorar constantemente os resultados individuais de cada um dos processos e globais do fluxo de valor.
− A análise visual (gestão visual) do fluxo de valor do produto é valorizada pelos gerentes e colaboradores (funcionários) da empresa. Neste caso, à visão de todas as atividades permite remover as restrições e melhorar o fluxo de valor.
− O sistema de indicadores de desempenho passa a determinar as fontes de variação e atividades que não agregam valor aos clientes. Consequentemente, os desperdícios podem ser identificados e eliminados.
− Os indicadores de desempenho permitem analisar e avaliar a situação atual da empresa. Com isso é possível diagnosticar e direcionar as ferramentas de melhoria contínua para as áreas que apresentam resultados insatisfatórios.
− Os resultados dos eventos de melhoria realizados no fluxo de valor são medidos. Formalizando o sistema de informação interno da empresa.
A produção enxuta é um novo paradigma que vêm se formando e crescendo nas
empresas manufatureiras e de serviços. Entretanto, o tema é incipiente no país e carece de
pesquisas. Entre os projetos de pesquisa se destacam os realizados pela Universidade de
Campinas, Universidade de São Paulo (GMO/NUMA), Universidade Federal de Santa
Catarina, Universidade Federal de São Carlos e do Lean Institute Brasil. Acredita-se que
várias mudanças ainda ocorreram nos conceitos, principalmente, quando se levam em
consideração as peculiaridades (barreiras culturais, falta de investimentos, resistência à
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