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O insucesso no ensino superior: perspectivas e situação dos alunos do 4º ano via ensino da Universidade da Madeira

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O INSUCESSO NO ENSINO SUPERIOR: PERSPECTIVAS E SITUAÇÕES DOS ALUNOS DO 4º ANO, VIA ENSINO, DA UNIVERSIDADE DA MADEIRA

António V. Bento

Departamento de Ciências da Educação Universidade da Madeira

De acordo com um estudo do Observatório da Ciência e Ensino Superior (OCES), sobre taxas de insucesso no ensino Superior relativas ao ano lectivo de 2002/03, cerca de 1/3 (36.5%) dos estudantes do ensino Universitário não termina o curso no tempo previsto. Já no Ensino Politécnico, os números são mais elevados, com um índice de insucesso de 46%.

Na Universidade da Madeira a taxa de insucesso no ano lectivo de 2002/03 foi de 42.3%, superior à média nacional das Universidades (36.5%). De um total de 642 alunos inscritos pela 1ª vez no 1º ano, apenas 370 concluíram os seus cursos no tempo normal.

Dados mais recentes (2004/05), indicam uma taxa de insucesso de 45.1%; de um total de inscritos de 459 no ano lectivo de 2001/02, somente 252 terminaram os seus cursos no ano lectivo de 2004/05.

Este estudo de investigação levado a cabo junto dos alunos do 4º ano, via ensino, da Universidade da Madeira pretende averiguar das razões do insucesso académico a nível universitário, determinar possíveis diferenças de género e investigar sugestões para a diminuição das elevadas taxas de insucesso.

FAILURE IN HIGHER EDUCATION: PERSPECTIVES AND REALITIES OF THE 4TH YEAR STUDENTS, TEACHING TRACK, ATTENDING THE UNIVERSITY OF MADEIRA.

António V. Bento

Department of Educational Sciences University of Madeira

According to a study done by the Observatório da Ciência e do Ensino Superior, about failure rates in Higher Education during the academic year of 2002/03, about one third (36.5%) of university students did not complete their courses in the regular time. In the Ensino Politécnico the numbers are even higher, with a failure rate of 46%.

At the University of Madeira the failure rate for the year of 2002/03 was 42.3%, higher than the national average (36.5%). Of a total of 642 students attending their first year for the first time, only 370 finished their degrees at a regular time. Recent data (2004/05) indicate a failure rate of 42.9%. Of a total of 498 students matriculated on the first year in 2001/02, only 214 finished their courses in the academic year of 2004/05.

This research study done with the 4th year students of the University of Madeira intends to find out the reasons for the academic failure at the University level, to determine the

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differences between sexes and list suggestions for decreasing the high rate of academic failure at the Higher Education level.

INTRODUÇÃO

45% dos jovens que saem do sistema de ensino não concluem o secundário (contra 18% da média europeia), o que coloca Portugal na cauda da Europa dos 25.

40.6% dos alunos que entram no ensino superior acabam por não concluir os respectivos cursos. O insucesso é mais notório nos Institutos Politécnicos – cifra-se nos 46% contra 36,5% registados na Universidade (OCES, ano lectivo de 2002/2003). Os censos de 2001 mostram que a percentagem de habitantes na Região Autónoma da Madeira com Ensino Superior (Politécnico ou Universitário) é de 7,44%, um pouco superior ao valor para a Região Autónoma dos Açores de 6,6%, mas inferior aos valores para a média do Continente de 10,8% e dos Concelhos de Lisboa com 24,53% e Porto com 21,46%. Mesmo ao nível das populações mais jovens – dos 25 aos 29 anos – apenas 13,3% da população da RAM possui qualificações superiores, enquanto este valor é de 17,6% para o todo Nacional.

Os mais baixos níveis de insucesso localizam-se na Universidade do Minho, onde essa taxa ronda os 27%, logo seguida pela Universidade do Porto (27,6%).

De acordo com António Martins (2004) o insucesso académico traduz-se em não atingir metas de fim dum ano lectivo, ou de ciclo de estudos pelos alunos dentro dos limites temporais estabelecidos. Os indicadores que traduzem este fenómeno são, na prática, as taxas de reprovação, taxas de repetência e taxas de abandono da Universidade.

Segundo Ratingan (in Santos, 2001, p. 17), a transição do ensino secundário para o ensino superior pode ser concebido como potenciadora de crises e vulnerabilidades, bem como fonte de desafios desenvolvimentais. O sucesso académico depende de uma adaptação do ensino superior a qual resulta, por sua vez, de interacção entre factores pessoais e variáveis associadas ao campus Universitário.

Assim, poderão ser consideradas várias dimensões que directa ou indirectamente, podem influenciar o percurso e o desempenho escolar dos alunos: os dados socio-económicos; os contactos pessoais; os factores psicológicos; a dimensão pedagógico-didáctica bem como os aspectos relacionados com a organização curricular e a transmissão de conhecimentos; e também as condições relativas à Universidade: a dimensão institucional; a condição de frequência; o grau de integração na Universidade; a participação em diversas actividades académicas, e, por último, a dimensão ambiental externa, ou seja, toda a envolvente à Universidade que implica a transição para novos espaços de vida sejam eles culturais ou geográficos (Correia et al.)

PROBLEMA

Para podermos perspectivar e controlar o insucesso académico universitário temos que compreender as razões que levam os alunos a permanecer demasiado tempo na Universidade ou mesmo a desistir.

O objectivo deste estudo é clarificar e compreender a dinâmica que envolve a adaptação, a retenção e a desistência dos alunos universitários de modo a podermos

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reflectir sobre esta importante temática para que possam ser introduzidas medidas que melhorem a situação.

Daí que, neste enquadramento, formulássemos as seguintes perguntas de investigação: 1) Quais as perspectivas dos alunos universitários em relação à retenção e

desistência no ensino universitário?

2) Quais as razões, na perspectiva dos alunos, para os altos níveis de insucesso universitário?

3) Qual o nível de auto-estima dos alunos universitários?

4) Que soluções apresentam os alunos para a redução do insucesso no Ensino Superior?

REVISÃO DA LITERATURA

Portugal, durante a 2ª metade do século XX e na actualidade assistiu a uma mudança de paradigma societário: o sistema educativo passou de uma escola de elites para uma escola de massas e sua massificação, primeiro no ensino secundário e depois no ensino superior (Arroteia, 1996; Pires, 1998). A escola/universidade de massas ao não ter alterado os objectivos, a organização dos currículos e os métodos didático-pedagógicos, típico da escola/universidade de elites, viu surgir uma infinidade de disfuncionalidades como é o caso do insucesso académico (Martins, 1991)

Apesar de várias mudanças socio-económicas a graduação universitária é ainda uma das mais importantes determinantes do sucesso económico e da obtenção de um bom estatuto social na vida adulta (Astin, 1997; Fernandes, 1995; Queiró, 1995; in Diniz, 2005, p. 51).

Segundo Henscheid (2000, in Diniz, 2005) os estudantes do primeiro ano aumentam as suas possibilidades de sucesso quando: (1) estudantes mais antigos lhes servem de mentores, de modelos e de professores; (2) se envolvem em actividades que os ajudem a perceber porque é que estão na Universidade; (3) a sua experiência de graduação é tratada como um todo, e não como um conjunto desorganizado de disciplinas; (4) as expectativas acerca do seu sucesso, por parte dos seus professores e da instituição, são elevados; e, (5) o que aprendem e como aprendem pode ser transposto para fora da instituição, reflectindo-se na maneira como vivem.

A Universidade do Minho tem tomado uma série de medidas que visam a qualidade do ensino. Deste modo, criaram uma “Pro-Reitoria para a Qualidade do Ensino” e integraram um “Gabinete de Avaliação e Qualidade do Ensino”. Actua junto dos docentes para melhorar a qualidade do ensino, nomeadamente através da realização de acções de formação para docentes, e de realização do “Questionário de Avaliação do Ensino Ministrado”, cujos resultados são analisados e publicitados (Santos, 2001). A Universidade do Porto, por sua vez, impôs medidas de adaptação dos alunos à Universidade: criaram a figura do “tutor” que faz um acompanhamento do aluno no seu percurso académico; também optaram por reduzir o número de disciplinas no primeiro ano.

De acordo com o grupo de Bolonha da Universidade da Madeira (http//bolonha.uma.pt/?page_id=7), mais de metade do abandono escolar acontece enquanto o aluno está inscrito no 1º ano do curso. As taxas de insucesso escolar são

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também mais elevadas no primeiro ano, bem como o número de pedidos de transferência e mudança de curso que acontecem preferencialmente para o primeiro ano. O mesmo grupo de Bolonha propõe a introdução de profundas alterações ao primeiro ano de estudos, com o objectivo de proporcionar aos alunos uma experiência mais enriquecedora centrada nas competências transversais, e que simultaneamente permita aos alunos explorarem diferentes áreas do saber antes de definirem o seu domínio de concentração. Por isso recomendam que a Universidade da Madeira proponha um modelo de acesso diferenciado que permita aos alunos escolherem a sua concentração (ou especialização) apenas no final do 1º ano.

Na realidade, o nosso país apresenta um número de analfabetos igual ao de licenciados, ou seja, nove por cento. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística são mais de 800 mil os analfabetos com 10 ou mais anos para pouco mais de um milhão de licenciados. No entanto, dados dos censos de 2001 revelam ainda que quase um milhão e meio de pessoas afirmem não ter qualquer nível de ensino.

Os alunos do género masculino não apenas frequentam em menor número a universidade como em termos médios as suas notas são mais baixas. Este facto, poderá resultar de frequentarem cursos em que os conteúdos são mais abstractos ou porque terão práticas sociais e de estudo diferentes das alunas (Tavares et al., 1998).

A desistência voluntária da universidade é uma consequência de uma decisão consciente de abandonar a Universidade por várias razões entre as quais as seguintes: desmotivação, falta de um desafio positivo, não gostar dos colegas ou dos professores, não gostar do curso ou não gostar das disciplinas, etc. (Bennett, 2003).

Um estudo feito por Davies (2000), revelou que os administradores e professores pensavam que os alunos desistiam por razões de ordem económica preferencialmente seguindo-se outras razões: baixa motivação, falta de preparação anterior, problemas de saúde e familiares e baixa auto-estima.

Martinez (2001), numa revisão da literatura concluiu que os melhores factores que previam sucesso académico estavam relacionados com bom ensino, satisfação e interesse pelas disciplinas dos cursos e gosto pelo curso em questão.

Tinto (1993) refere que a integração académica e social como os dois factores mais importantes no insucesso dos alunos. A integração académica significa o desenvolvimento académico, a percepção dos alunos sobre o seu progresso (evidenciado pelas notas) e se ele/a acreditava que os professores estavam pessoalmente comprometidos com o ensino e em ajudar os alunos. A integração social incorporava auto estima e a qualidade das relações interpessoais com colegas e com professores (especialmente relações informais).

Saenz et al. (1999), dum modo semelhante referiram a importância dos contactos regulares entre os alunos e os professores, relações com os empregados (e sua preparação para responderem às suas questões) e o ambiente de altas expectativas no decorrer das aulas.

O SUCESSO ACADÉMICO E A AUTO-ESTIMA

Auto-estima pode ser definida (in dicionário Webster) como “satisfação consigo próprio”.

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A auto-estima começa a desenvolver-se bem cedo na vida e tem sido estudada em crianças com sete anos de idade. Logo que as crianças começam a descrever aspectos de si próprios, tais como atributos físicos, habilidades e preferências elas também começam a avaliar-se.

Investigadores concluíram que ao contrário da intuição, os indivíduos têm não uma mas várias perspectivas de si próprios compreendendo vários domínios da vida, tais como capacidade académica, aparência física, competência profissional, etc.

Em Portugal, foi só na década de 1990, que se assistiu ao aparecimento dos serviços de apoio/aconselhamento, como consequência da verdadeira explosão demográfica que, nos anos de 1980, ocorreu no Ensino Superior, e das elevadas taxas de insucesso académico e de abandono, principalmente no primeiro ano de estudos (Diniz, 2005, p.25)

A literatura referente ao sucesso académico universitário reitera que os estudantes devem possuir um nível de auto-estima alto antes de terem uns bons resultados académicos.

De acordo com Bennet & Okinaka (1990) os sentimentos de solidão e o isoladamente podem também contribuir para a desistência universitária.

A motivação influencia a realização académica a qual por sua vez afecta a auto-estima. A baixa estima, por si só, tem um impacto negativo na motivação. Isto acontece porque influencia a confiança em si próprio e a crença em ter a capacidade de sucesso. Pessoas com alta auto estima tendem a lembrar-se de relações positivas interpessoais enquanto que pessoas com baixa auto estima têm recordações de relações negativas com maior profundidade (Story, 1998). Além disso, as pessoas com baixa auto estima tendem a amedrontar-se mais facilmente e desmotivam-se mais que os outros, sentem-se incapazes de responder a incertezas e são menos capazes de adquirir e processar mentalmente informação em situações desagradáveis ou de risco (Wiener et al., 1992). A motivação para aprender é definida por Hermine Marshal (1987) como “o valor significativo e os benefícios de tarefas académicas para o aprendente – sem ter em conta se ele está ou não intrinsecamente interessado”).

METODOLOGIA

A população deste estudo é constituída por 37 sujeitos, alunos duma Universidade Regional – Universidade da Madeira - que frequentavam o 4º ano, via ensino, no ano lectivo de 2005-2006.

Setenta e seis vírgula três por cento são do sexo feminino e vinte e três vírgula sete por cento são do sexo masculino. As idades dos sujeitos variam entre os 21 anos e os 43 anos de idade.

Quanto á nacionalidade, setenta e oito vírgula nove por cento tinham a nacionalidade Portuguesa, quinze vírgula oito por cento tinham a nacionalidade Venezuelana, dois vírgula seis por cento tinham a nacionalidade Sul-Africana e dois vírgula seis por cento tinham nacionalidade Luxemburguesa.

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Quarenta e quatro vírgula sete por cento dos sujeitos residiam no concelho do Funchal, treze vírgula dois por cento residiam no concelho de Santa Cruz, dez vírgula cinco por cento residiam no concelho de Machico, dez vírgula cinco por cento residiam no concelho da Ribeira Brava, cinco vírgula três por cento residiam no concelho de Santana, dois vírgula seis por cento residiam no concelho de São Vicente e dois vírgula seis por cento residiam no concelho da Calheta.

Quanto aos cursos frequentados, a distribuição era a seguinte: vinte e um por cento frequentavam o curso de Educação Física e Desporto, quinze por cento frequentavam o curso de Ensino da Informática, quinze vírgula oito por cento frequentavam o curso de Matemática, dezoito vírgula quatro por cento frequentavam o curso de Química, quinze vírgula oito por cento frequentavam o curso de Design e treze vírgula um por cento frequentavam o curso de Artes Plásticas.

A maior parte dos sujeitos (92,1%) frequentaram o ensino público durante o ensino secundário e 7,9% frequentaram o ensino particular.

Cinquenta e três por cento dos sujeitos não participavam em alguma actividade extracurricular e quarenta e sete por cento afirmaram participação. Registe-se que são os sujeitos do sexo feminino (31,6%) que mais participam versus 15,8% do sexo masculino.

Setenta e nove por cento dos sujeitos indicaram que o curso que estavam a frequentar tinha sido a sua primeira opção contra vinte e um por cento, aquando do seu ingresso na Universidade.

A maior parte dos sujeitos (43,7%) entrou para a Universidade com uma média entre os treze e os catorze valores e a variabilidade situou-se entre os 11 valores (2,7%) e os 17 valores (10,8%).

Foram administradas uma escala e um questionário: 1) “Rosenberg Self-Esteem Scale” (Rosenberg, 1965) destinada a medir o nível de auto-estima global dos sujeitos. Esta escala é um instrumento com 10 itens e com uma alta consistência interna (Cronbach alpha = 0.84).

A “Rosenberg Self-Esteem Scale (RSS)” foi desenhada para optimizar a facilidade de administração, economia de tempo, unidimensionalidade, e validade. Os itens desta escala requerem do respondente sentimentos acerca de si. Usa o formato de 4 pontos de resposta (concordo absolutamente, concordo, discordo, discordo absolutamente) resultando numa variação de 10-40 pontos em que a alta pontuação indica alta auto-estima.

Os itens da escala incluem proposições tais como: “Eu adopto uma atitude positiva em relação a mim próprio”; “Sinto que sou uma pessoa de valor (pelo menos numa base de igualdade com os outros); e, “No geral, estou satisfeito comigo próprio”. Os itens foram medidos numa escala de Likert a partir de Concordo Absolutamente (1) até Discordo Absolutamente (4). Os itens foram calculados de modo que um score maior indica auto estima mais elevada.

2) O questionário com 21 perguntas foi desenvolvido pelo autor e destinou-se a obter informações demográficas e percepções dos sujeitos em relação aos seus níveis de sucesso académico, percepções sobre as dificuldades sentidas durante a adaptação à Universidade e sugestões para a redução do insucesso académico universitário. Eis

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alguns exemplos de perguntas: “Alguma vez, durante o seu percurso universitário, sentiu vontade de desistir?”; “Que dificuldades sentiu no 1º ano em se adaptar à Universidade?”; “No seu ponto de vista, em que medida é que os seus professores se preocupam com o seu sucesso académico?”; “Conhece algum colega ou ex-colega que tivesse desistido da Universidade?”; “Que sugestões pode fazer para que o insucesso na UMa seja mais reduzido?”

A participação dos sujeitos foi voluntária e foram observados os princípios éticos da confidencialidade. Os instrumentos foram administrados no segundo semestre do ano lectivo de 2005-2006.

RESULTADOS

Todas as respostas foram codificados e inseridas no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) para análise estatística. Foram executados os seguintes testes: frequências, médias, qui-quadrados e t-testes.

No geral, os valores de auto-estima são bastante baixos em todos os alunos dos vários cursos: os valores variam entre um mínimo de 10 e um máximo de 24 (valores da escala: 10 a 40).

Foi feito um t-test para averiguar diferenças entre alunos do sexo masculino e feminino; não foram encontradas diferenças significativas. Os valores, no sexo masculino variam entre os 13 e os 20 (média = 16.3; desvio padrão = 2.7) e no sexo feminino variam entre os 10 e os 24 (média = 16.7; desvio padrão = 3.5).

Uma análise feita por curso denota o seguinte: valores mais baixos de auto-estima foram encontrados nos alunos de Artes Plásticas (média: 15.6) e Educação Física e Desporto (média = 15) e valores mais altos nos alunos de Matemática (média = 18.4) e Informática (média = 17.8).

Sessenta e três por cento dos sujeitos indicaram que já repetiram pelo menos uma cadeira. A maior parte das repetências verificou-se nos cursos de Matemática e Informática. É de notar que são os alunos do sexo feminino (52,6%) que mais repetiram disciplinas.

Quando se perguntou se alguma vez, dentro do percurso universitário tinham tido vontade de desistir, cinquenta e três por cento responderam afirmativamente e quarenta e sete por cento responderam negativamente. É de registar que são os cursos de Química e Artes plásticas que mais respostas afirmativas receberam quanto à vontade de desistir. Foram também os alunos do sexo feminino que mais respostas afirmativas deram. Quando se perguntou sobre os motivos para tirarem um curso superior, as respostas mais frequentes foram as seguintes: gosto de estudar e adquirir novos conhecimentos, garantir um futuro mais estável, realização pessoal, gosto pela área de estudo, melhores condições de vida, única possibilidade de ingressar na carreira pretendida.

Quanto às dificuldades de adaptação sentidas durante o primeiro ano, as respostas foram as seguintes: distanciamento dos professores, ritmo de trabalho, praxe, afastamento da família, avaliação exigente e complexidades das cadeiras, métodos de ensino e sistema de avaliação, turmas grandes, muita matéria, e aulas muito prolongadas.

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Sugestões apresentadas, pelos sujeitos, para reduzir o insucesso na UMa: • Formação pedagógica para os professores das áreas científicas.

• Maior acompanhamento (relação interactiva) entre professores e alunos. • Aulas menos expositivas.

• Aulas mais activas

• Redução do número de cadeiras por semestre. • Aproximação dos cursos à realidade

• Maior apoio aos alunos que entram pela primeira vez • Maior compreensão por parte dos professores na avaliação • Colocação de professores que gostem de ensinar

• Maior disponibilidade dos professores para tirar dúvidas • Maior interesse dos professores pelos alunos

• Maior apoio dos professores

Quando se perguntou pelo nível de preocupação dos professores pelo sucesso académico dos alunos, setenta e um por cento responderam que os professores se preocupam pouco, quinze virgula oito por cento responderam que os professores não se preocupam nada e treze virgula dois por cento responderam que os professores se preocupam muito. São os alunos dos cursos de Química, Matemática, Informática e Artes Plásticas que afirmaram que os professores se preocupam pouco ou nada com o seu sucesso académico. São os sujeitos do sexo feminino (68%) que afirmaram que os professores se preocupam pouco ou nada com o seu sucesso académico.

Finalmente, oitenta e nove vírgula quatro por cento dos sujeitos afirmaram que conhecem colegas ou ex-colegas que desistiram da Universidade.

CONCLUSÕES

Este estudo de investigação realizado junto dos alunos do quarto ano, via ensino, da Universidade da Madeira tinha por objectivos essenciais: a) perspectivar as suas percepções sobre o insucesso académico a nível Universitário; b) determinar o nível de auto-estima dos alunos; e c) reunir sugestões para reduzir o insucesso académico a nível do ensino superior.

No geral, os valores de auto-estima são bastante baixos nos alunos dos vários cursos, contudo são os alunos de Artes Plásticas e de Educação Física e Desporto que apresentam os níveis mais baixos e os alunos de Matemática e Informática que apresentam os índices mais elevados.

A maior parte dos alunos já repetiu pelo menos uma disciplina e a maior parte das repetências verificou-se nos cursos de Matemática e Informática.

A maior parte dos alunos indicou que durante o seu percurso universitário já sentiu vontade de desistir.

As dificuldades de adaptação à Universidade durante o primeiro ano estiveram relacionadas com o distanciamento dos professores, o ritmo de trabalho, a praxe, o afastamento da família, a turmas demasiado grandes, a quantidade da matéria dada e a duração das aulas.

A maior parte dos alunos considerou que os professores se preocupam pouco ou nada com o seu sucesso académico.

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Sugestão de algumas soluções:

• Realizar uma avaliação objectiva dos problemas e dificuldades sentidas pelos alunos.

• Planificar e desenvolver uma estrutura de apoio social, psicológico e académico a nível universitário.

• Implementar o regime de tutoria destinado a proporcionar um acompanhamento curricular e académico dos alunos

• Providenciar pela preparação pedagógica dos professores, de modo a facilitar um melhor enquadramento das práticas de ensino.

• Introduzir as cadeiras de carácter geral e transversal no primeiro ano. • Reduzir o número de cadeiras no primeiro ano.

SUGESTÕES PARA INVESTIGAÇÕES FUTURAS

Apresentam-se algumas sugestões pertinentes para futuras investigações.

Este estudo foi limitado aos alunos do 4º ano, via ensino, alunos provenientes de vários cursos. Por isso têm um âmbito de aplicação muito restrito e os resultados não se podem generalizar a toda a população universitária. Daí que sejam necessários outros estudos de modo a compreender melhor este fenómeno e intervir nele.

1) Estudo analítico por curso e por ano do insucesso académico na Universidade da Madeira.

2) Determinar o perfil geral do aluno da Universidade da Madeira.

3) Investigar a relação entre o nível de auto-estima e o sucesso académico.

4) Realizar estudos de caso de alunos que experienciam o sucesso e o insucesso académico ou desistiram da Universidade.

5) Realizar estudos de caso de carácter qualitativo, etnográfico ou naturalista sobre o fenómeno de adaptação universitária a fim de captar as várias complexidades do impacto da universidade: das realidades sociais e psicológicas criadas pelos estudantes e os importantes efeitos e condicionalismos (diferenças individuais).

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Como referir este artigo:

Bento, A. (2008). O insucesso no ensino superior: perspectivas e situações dos alunos do 4º ano via ensino da Universidade da Madeira. In C. Escallier & N. Veríssimo (Org.). Educação e cultura (pp. 147-156). Funchal: Grafimadeira.

Referências

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