68
Revista da Associação
dos Arqueólogos Portugueses Volume 68
2016
colóquio
Título
Arqueologia & História Volume
68 Edição
As sociação dos Arqueólogos Portugueses Largo do Carmo, 1200 ‑092 Lisboa
Tel. 213 460 473 / Fax. 213 244 252 secretaria@arqueologos.pt www.arqueologos.pt Direcção
José Morais Arnaud Coordenação
José Morais Arnaud e Andrea Martins Design gráfico
Flatland Design Fotografia da capa José Morais Arnaud Impressão
Europress, Indústria Gráfica Tiragem 300 exemplares Depósito legal 73 446/93 ISSN 0871-2735 Publicação Novembro de 2018
© Associação dos Arqueólogos Portugueses
índice
5 EditorialJosé Morais Arnaud
COLÓQUIO “TERRAMOTO DE LISBOA. ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA” 9 Colóquio “Terramoto de Lisboa. Arqueologia e História”
Mário Varela Gomes, Tânia Manuel Casimiro, Carlos Boavida
15 A Tripla Catástrofe contada ao Papa. Contributo da correspondência entre Portugal e a Santa Sé para o conhecimento dos factos ocorridos em Lisboa
Carlos Boavida
29 O Terremoto de 1755 A Partir do Códice 132 Do Arquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães, Alícia Duhá Lose
37 Após a catástrofe: a gestão da emergência e socorro no Terramoto de 1755
Amélia Ferreira, Alexandra Esteves
45 O Terramoto como factor de aceleração de urbanização do Cardal da Graça e do Vale de Cavalinhos – A Graça em 1755
João Castela Cravo
53 Um Outro Lado do Terramoto: Para uma revisão do ócio e espectáculos na Lisboa romana
Sara Henriques dos Reis
75 A Baixa de Lisboa, antes e depois do Terramoto
Jacinta Bugalhão
89 Sinais de um quotidiano que o Terramoto de 1755 interrompeu. Os vestígios detectados no Museu de Lisboa – Teatro Romano
Lídia Fernandes
103 O Aqueduto das Águas Livres e o Terramoto de 1755
Bárbara Bruno
111 Largo Duque de Cadaval (Lisboa): evidências de uma catástrofe
Tânia Manuel Casimiro, Mariana Almeida, Teresa Barbosa
127 O Terramoto de Lisboa – O Caso de Peniche
Adriano Constantino, Daniela Andrade, Inês Lourenço, Luís Rendeiro
139 La huella del Terremoto de Lisboa en la ciudad de Lugo. La crónica de los daños producidos y de las reformas emprendidas
Ana E. Goy Diz
155 Testemunhos arqueológicos do terramoto de 1755 em Silves
Mário Varela Gomes, Rosa Varela Gomes
ARTIGOS
169 Papéis, funções e disfunções do património arqueológico: o caso do povoado calcolítico de Vila Nova de São Pedro (Azambuja/Portugal)
181 Lapa do Suão (Bombarral): a organização da coleção lítica
Cláudia Manso
193 Arqueologia Experimental: Reflexões e apologia de um método a potenciar em Portugal
Ana Bica Dias Osório
213 Taça do Convento de Nossa Senhora da Graça, de Abrantes – Um achado singular?
Mário Varela Gomes
221 Miguel Torga e a Arqueologia
José d’Encarnação
229 D. Dinis e a Região Ribacudana
António Vermelho do Corral
RELATÓRIOS
241 Associação dos Arqueólogos Portugueses. Relatório de Actividades da Direcção – 2016 José Morais Arnaud
245 Secção de Pré‑História da AAP – Relatório de Actividades do Ano 2016
Mariana Diniz, César Neves, Andrea Martins
251 Secção de História da AAP – Relatório de Actividades do Ano 2016. Plano de Actividades para o Ano 2017
João Marques, Teresa Marques, Carlos Boavida
257 Comissão de Estudos Olisiponenses – AAP. Relatório de Actividades do Ano 2016 Mário Varela Gomes, Tânia Manuel Casimiro, Carlos Boavida
263 Comissão de Heráldica – AAP. Relatório de Actividades do Ano 2016 Pedro Sameiro, Lina Oliveira, João Portugal, Segismundo Pinto, Manuel Artur Norton
265 Museu Arqueológico do Carmo / Associação dos Arqueólogos Portugueses. Actividades Desenvolvidas pela Área da Conservação em 2016
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colóquio
“terramoto de lisboa.
arqueologia e história”
Nos dias 30 e 31 de Outubro de 2015 teve lugar no Museu Arqueológico do Carmo, o colóquio subordi‑ nado ao tema “Terramoto de Lisboa. Arqueologia e História”, de que se apresentam agora as respec‑ tivas actas. A iniciativa partiu da Comissão de Estudos Olisiponenses, em colaboração com a Secção de História, ambas da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Contou aquele evento ainda com o apoio do Instituto de Arqueologia e Paleociências e do Instituto de História Contemporânea, dois centros de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, assim como da empresa Lisboa Autêntica.
Além de assinalar os 260 anos do Terramoto de 1755, foi objectivo do encontro dar a conhecer contex‑ tos arqueológicos e informações históricas ou documentais relativas a tal cataclismo que, embora conheci‑ do como o Terramoto de Lisboa, não afectou exclusivamente esta cidade.
Na sessão de abertura, presidida pelo Dr. José Morais Arnaud, presidente da Direcção da AAP, inter‑ vieram a Dr.ª Teresa Marques e o Prof. Doutor Mário Varela Gomes, respectivamente em representação da Sessão de História e da Comissão de Estudos Olisiponenses. O último fez pequena resenha histórica sobre aquele acontecimento e as suas consequências na evolução da cidade e do país, destacando igualmente os “abalos” sociais e económicos, mas também ao nível das mentalidades e a forma como o Pensamento da Época interpretou a catástrofe.
As comunicações organizaram ‑se em dois grandes temas: “Visões, Relatos e Consequências” e “Sítios e Evidências”. Se em ambos casos se abordou o tema do ponto de vista histórico, realçando os aconteci‑ mentos daqueles dias de meados do século XVIII, no segundo foram analisados diversos locais, em Lisboa, mas também noutros sítios que, de algum modo, foram afectados pelo sismo.
Além de terem sido apresentados estudos sobre documentação contemporânea que relata os factos ocorridos na cidade de Lisboa, também se abordou a forma como as autoridades de então reagiram do ponto de vista da assistência e do apoio às populações.
10 ARQUEOLOGIA & HISTÓRIA, Vol. 68, 2016 A reconstrução da cidade foi igualmente tratada, nomeadamente no que respeitou à ocupação de espa‑ ços até aí periurbanos, mas também dos locais onde durante essa reconstrução foram descobertos alguns edifícios históricos do passado da cidade (em particular o Teatro Romano e as Termas ditas dos Cássios).
Os trabalhos da primeira sessão terminaram com a apresentação de conjunto de painéis de azulejos, onde se destaca exemplar que mostra vista do Terreiro do Paço, em momento anterior ao Terramoto.
No segundo dia do colóquio teve lugar a sessão dedicada ao tema “Sítios e Evidências”. Os trabalhos fixaram ‑se principalmente em torno da cidade de Lisboa, tendo sido abordada a área da Baixa e a sua evolução antes e após o sismo, mas também arqueossítios e edifícios da capital onde se identificaram evi‑ dências da catástrofe ou de que há registos histórico ‑documentais de que foram igualmente afectados. Destacam ‑se, entre outros, o Celeiro da Mitra, o Castelo de São Jorge, o Aqueduto das Águas Livres, a Igreja do Carmo e o Palácio dos Duques de Cadaval.
Foi também dado a conhecer edifício de construção anterior ao sismo, que lhe sobreviveu graças ao facto de na sua construção, ocorrida na década anterior, terem sido aplicadas técnicas construtivas que depois foram implementadas na reedificação da cidade, em particular, a designada “gaiola pombalina”.
Embora já publicado em diversos locais, uma vez mais, pela sua importância, foram divulgados publi‑ camente os achados ocorridos no sítio do novo edifício do Museu Nacional dos Coches, onde se identifi‑ caram vestígios do tsunami que atingiu a zona, então nos arredores de Lisboa.
Visto que os danos provocados pela catástrofe não se limitaram a Lisboa, foram igualmente apresenta‑ dos dados sobre as consequências daquela na vila piscatória de Peniche e na cidade galega de Lugo. Tan‑ to num caso como no outro, os dados apresentados são extremamente relevantes, visto que os estragos provocados pelo sismo em ambos locais eram praticamente desconhecidos, tanto dos investigadores, como do público.
A grande novidade deste encontro de dois dias passou não apenas pela apresentação de nova informa‑ ção e interpretações sobre as consequências do Terramoto, mas sobretudo pela consciencialização e con‑ solidação do conceito de Arqueologia do Terramoto, transversal a todas as comunicações. Mais do que uma arqueologia sísmica, trata ‑se de concepção teórica que engloba os vestígios materiais e documentais referentes ao Terramoto de 1755 e a forma como marcaram o quotidiano dos portugueses desde então.
Embora não fosse apresentada comunicação específica sobre os testemunhos arqueológicos do Terra‑ moto de 1755 na cidade de Silves, julgou ‑se relevante publicar texto sobre aquele tema, juntando ‑se assim mais um contributo para a História de tal cataclismo.
Os trabalhos foram encerrados com a exibição do documentário “A Ira de Deus”, episódio da série Catástrofes Extraordinárias, produzida pelo Smithsonian Channel, em parte gravado no espaço do actual Museu Arqueológico do Carmo.
No dia 7 de Novembro teve lugar a visita “Lisboa do Terramoto”, passeio pedestre realizado com o apoio da Lisboa Autêntica, tendo aquele sido dirigido pelo secretário da Comissão de Estudos Olisiponen‑ ses, e no qual participaram três dezenas de pessoas. Inicialmente previsto para dia 1 de Novembro, o pas‑ seio teve que ser adiado, devido às condições meteorológicas adversas que se verificaram naquela data.
11 PROGRAMA – COLÓQUIO “TERRAMOTO DE LISBOA. ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA”
PROGRAMA 30 Outubro 2015 15h00
Abertura
Visões, Relatos e Consequências
15h30
A Tripla Catástrofe contada ao Papa. Contributo da correspondência entre Portugal e a Santa Sé para o conhecimento dos factos ocorridos em Lisboa
Carlos Boavida IAP – FCSH/NOVA; AAP
15h55
O Terremoto de 1755 a partir do Códice 132 do Arquivo do Mosteiro de São Bento da Bahia Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães, Alícia Duhá Lose
Universidade Federal da Bahia
16h20
Após a catástrofe: a gestão da emergência e socorro no terramoto de 1755
Amélia Ferreira
Universidade Católica Portuguesa; Unidade Local de Saúde de Matosinhos
Alexandra Esteves
Universidade Católica Portuguesa; Lab2PT ‑ICS‑ ‑Universidade do Minho
16h45
Intervalo
17h05
A Graça em 1755. O Terramoto como factor de aceleração de urbanização do Cardal da Graça e do Vale de Cavalinhos
João Castela Cravo
Centro de Investigação em Território, Arquitectura e Design – Universidades Lusíada
17h30
O outro lado do Terramoto: para uma revisão do ócio e espectáculos na Lisboa romana Sara Henriques dos Reis
Faculdade de Letras – Universidade de Lisboa
17h55
Um painel azulejar do Terreiro do Paço antes do Terramoto e outras visões de Lisboa no palácio do Correio ‑mor, em Loures Augusto Moutinho Borges
CLEPUL, Cátedra Infante Dom Henrique Estudos Insulares e Globalização
18h20 Debate
Associação dos Arqueólogos Portugueses
Comissão de Estudos Olisiponenses e Secção de História Colóquio
“Terramoto de Lisboa. Arqueologia e História” 30 e 31 de Outubro de 2015 / 1 de Novembro de 2015 Museu Arqueológico do Carmo, Lisboa
12 ARQUEOLOGIA & HISTÓRIA, Vol. 68, 2016 31 Outubro 2015
Sítios e Evidências
10h00
A Baixa de Lisboa antes e depois do Terramoto Jacinta Bugalhão
Direcção ‑Geral do Património Cultural
10h25
Sinais de um quotidiano que o terramoto de 1755 interrompeu
Lídia Fernandes
Museu de Lisboa / Teatro Romano – C.M.L.
10h55
O terramoto de 1755 no Castelo de S. Jorge Alexandra Gaspar, Ana Gomes
Direcção ‑Geral do Património Cultural
11h20
Intervalo
11h50
Palácio Lavradio – Edifício pré ‑Terramoto Cor. José Paulo Berger
Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar
12h15
O Aqueduto das Águas Livres e os danos causados pelo Terramoto de 1755 Bárbara Silva Bruno
Empresa Portuguesa das Águas Livres – Museu da Água
12h40
Debate
13h00
Almoço
14h30
Igreja e Convento do Carmo: 600 anos de dinâmicas sísmicas
António Marques
Centro de Arqueologia de Lisboa – C.M.L Raquel Santos
Neoépica, Arqueologia e Património
14h55
Largo Duque do Cadaval. Evidências uma catástrofe.
Mariana Almeida, Tânia Casimiro IAP – FCSH/NOVA, IHC – FCSH/NOVA
15h20
O Terramoto de 1755 em Belém Ana Ramos ‑Pereira
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa
15h45
O Terramoto de 1755 – O caso de Peniche Adriano Constantino, Luís Rendeiro, Inês Lourenço, Daniela Andrade Associação Patrimonium – Centro de Estudos do Património da Região de Peniche
16h10
La huella del Terremoto de Lisboa en la ciudad de Lugo. La crónica de los daños producidos y de las reformas emprendidas
Ana E. Goy Diz
Universidad de Santiago de Compostela / Directora del Centro de Estudios de la Ciudad
16h35 Debate 17h00 Intervalo 17h30 Comunicações a anunciar 18h30 Encerramento
13 PROGRAMA – COLÓQUIO “TERRAMOTO DE LISBOA. ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA”
1 Novembro 2015 10h00
Lisboa do Terramoto – Passeio Pedestre Lisboa Autêntica
Organização
Associação dos Arqueólogos Portugueses Apoio
Instituto de Arqueologia e Paleociências – FCSH/ NOVA
Instituto de História Contemporânea – FCSH/NOVA Lisboa Autêntica
INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES olisiponenses.aap@gmail.com
(inscrições limitadas à capacidade da sala)
Para efectuar a inscrição é necessário enviar nome, contacto telefónico, NIF (para emissão de recibo) e comprovativo do pagamento.
TAXAS DE INSCRIÇÃO (inclui certificado de presença)
Sócios AAP € 0.00
Estudantes € 0.00
Não sócios / Público € 10.00 Dados para Transferência Bancária Associação dos Arqueólogos Portugueses BPI Balcão Chiado
NIB 0010 0000 0288 7800 0019 7
Enviar comprovativo da transferência bancária juntamente coma ficha de inscrição.
Os sócios que necessitem proceder à regularização das quo‑ tas deverão fazê ‑lo antecipadamente junto da secretaria da AAP e posteriormente enviara ficha de inscrição.
Os estudantes deverão enviar/apresentar o comprovativo.
LISBOA DO TERRAMOTO – PASSEIO PEDESTRE 1 Novembro 2015 – 10h
Às primeiras horas da manhã, a terra tremeu. Senti‑ do em toda a Península Ibérica e no Norte de África, o sismo de 1 de Novembro de 1755 destruiu grande parte da capital do reino de Portugal. Entre palácios, igrejas e mosteiros, poucos foram os edifícios que não ficaram danificados pelos sucessivos abalos e pelas centenas de incêndios que lhes sucederam.
A reconstrução obrigou a uma total alteração ur‑ banística do antigo burgo, com a criação de arrua‑ mentos, praças e aterros que apagaram parcialmen‑ te a memória da cidade, deixando apenas alguns vestígios…
Mas que vestígios são esses? Como era a Lisboa em Outubro de 1755? Que palácios, igrejas e outros edifícios grandiosos existiam? Como eram? Onde estavam? De quem eram?
Nos últimos anos, os arqueólogos tem encon‑ trado algumas das respostas…
Organização: Lisboa Autêntica
Ponto de Encontro: Praça Luís de Camões (Chiado / Bairro Alto)
Acessos: Metro: Estação Baixa ‑Chiado / Carris: 202, 758 / Eléctrico: 28E
Duração: 3h00
Preço: € 10.00 (€ 8.00 para os participantes no colóquio)
Inscrições e pagamento: durante o colóquio (inscrições limitadas)
14 ARQUEOLOGIA & HISTÓRIA, Vol. 68, 2016
Colóquio “Terramoto de Lisboa – Arqueologia e História”. A – Sessão de Abertura (José Morais Arnaud, Teresa Marques e Mário Varela Gomes); B – Amélia Ferreira; C‑ Rafael Marques Ferreira Magalhães; D – Sara Henriques dos Reis; E – Jacinta Bugalhão; F – Lídia Fernandes; G – Alexandra Gaspar e Ana Gomes; H – João Castela Cravo; I – Tânia Casimiro e Marina Almeida; J – Cor. João Paulo Berger; L – Bárbara Silva Bruno; M – Adriano Constantino, Inês Lourenço e Daniela Andrade; N – António Marques e Raquel Santos; O – Ana Ramos‑Pereira; P – Ana E. Goy Diz; Q – Documentário “Catástrofes Extraordinárias – A Ira de Deus” (fotos Carlos Boavida).
www.arqueologos.pt 1863–2018