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Key words Cloning; Media; Periodicals; Bioethics; Ethics Resumo Para este artigo, foram analisadas trezentas matérias extraídas dos principais jornais

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M ídia, clonagem e bioética

Me d ia, clo ning , and b io e thics

1 Cen tro de Ciên cias da Saú d e, Un iversid ad e Fed eral d o Piau í. Teresin a, PI 64049-550, Brasil. 2 N ú cleo de Estu dos e Pesqu isas em Bioética, Un iversid ad e d e Brasília. An is: In stitu to d e Bioética, Direitos Hu m an os e Gên ero. C. P. 04554 Brasília, DF 70919-970, Brasil. d ebd in iz @z az .com .br

Sérgio Ibiap in a Ferreira Costa 1

Débora Din iz 2

Abst ract Th is a rt icle w a s b a sed on a n a n a lysis of t h ree h u n d red a rt icles from m a in st rea m Brazilian p eriod icals over a p eriod of eigh teen m on th s, begin n in g w ith th e an n ou n cem en t of th e Dolly case in Febru ary 1997. Th ere w ere tw o m ain objectives: to ou tlin e th e m oral con stan ts in t h e p ress a ssocia t ed w it h t h e p ossib ilit y of clon in g h u m a n b ein gs a n d t o id en t ify som e of t h e m oral assu m p tion s con cern in g scien tific research w ith n on -h u m an an im als th at w ere p u blish ed ca relessly by t h e m ed ia . Th e a u t h ors con clu d e t h a t t h ere w a s a h a p h a z a rd sp rea d of fea r con -cern in g th e clon in g of h u m an bein gs rath er th an an eth ical d ebate on th e issu e, an d th at th ere is a seriou s gap betw een bioeth ical reflection s an d th e Brazilian m ed ia.

Key words Clon in g; Med ia; Period icals; Bioeth ics; Eth ics

Resumo Para este artigo, foram an alisad as trezen tas m atérias extraíd as d os p rin cip ais jorn ais d a m íd ia im p ressa brasileira sobre o tem a d a clon agem , em u m p eríod o d e d ezoito m eses, a con -tar d o an ú n cio d e Dolly, feito em fevereiro d e 1997. A an álise d o m aterial teve d ois gran d es obje-tivos: m ap ear os con stan tes m orais a qu e a p ossibilid ad e d a clon agem d e seres h u m an os esteve associad a e id en tificar algu n s d os p ressu p ostos m orais d a p esqu isa cien tífica com an im ais n ão-h u m a n os e q u e fora m rep rod u z id os irreflet id a m en t e p ela m íd ia . Além d o recon ão-h ecim en t o d e qu e h ou v e an t es u m a d ifu são irreflet id a d o m ed o d a clon agem em seres h u m an os qu e m esm o u m d ebate ético fren te à qu estão, a con clu são a qu e os au tores ch egaram com este estu d o foi qu e h á u m sério d escom p asso en tre as reflexões bioéticas e a m íd ia brasileira.

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CO STA, S. I. F. & DINIZ, D.

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Introdução

Na ed içã o d e m a rço -a b r il d e 1998 d a revista

Hastin gs Cen ter Rep ort, ed ita d a p o r u m d o s cen tro s m a is im p o rta n tes d o m u n d o n a p es-q u isa b ioética, foi p u b licad o o artigo “Bad Co-p ies: h ow Co-p oCo-p u lar m ed ia reCo-p resen t clon in g as an eth ical problem ”, d e au toria d e Patrick Hop kin s, q u e, co m u m a p ersp icá cia fo ra d o co -m u -m , a n a lisou co-m o a -m íd ia i-m p ressa e tele-visiva d o s Esta d o s Un id o s lid o u co m a clo n agem d e Dolly, a ovelh in h a n ascid a d e rep rod u -çã o a ssexu a d a , a p resen ta d a a o m u n d o em fe-vereiro d e 1997 in cialm en te p ela revista Natu re

(Ho p kin s, 1998). Ora , a co m eça r p elo títu lo

“Bad Copies”(“Cóp ias Mal-Feitas”), u m a iron ia in teligen te ao estilo n arrativo ad otad o p ela m í-d ia n o rte-a m erica n a fren te à clo n a gem í-d e Do lly, o a rtigo d e Ho p kin s fo i a n tes in ova d o r p o r seu a rgu m en to d e fu n d o q u e m esm o p o r su a s a n á lises d e ca so. Va le a co m p a n h a r a lgu -m a s d a s p a la vra s in icia is d o a u to r e q u e, e-m larga m ed id a, resu m em seu argu m en to-ch ave: “...a m aioria d os am erican os recebeu trein a-m en to sobre a ética da clon agea-m an tes de saber o qu e seria a clon agem p rop riam en te d ita...” (Ho p kin s, 1998:1). Ou seja , segu n d o o a u to r, p a ra u m gra n d e p ú b lico, a í in clu so s n ã o a p e-n as leigos e-n a m ed icie-n a m as tod os aq u eles e-n ão in icia d o s n o s segred o s d a gen ética , a ética d a clon agem veio an tes d a técn ica d a clon agem .

O fen ô m en o Do lly n a m íd ia , a o co n trá r io d o q u e se p od eria d ed u zir d a id éia d e Hop kin s

d a ética an tes d a técn ica, n ão su bverteu a lógi-ca d o p en sar-fazer cien tífico trad icion al, lógi- carac-terizad a p elo fato d e a reflexão ética, regra ge-ral, ser p osterior ao avan ço cien tífico. E, d e fa-to, n ão foi n este sen tid o q u e Hop kin s afirm ou qu e, p ara a clon agem d e Dolly, a “ética veio an -tes da técn ica” (Hop kin s, 1998:6). O qu e o au tor co n sid ero u fo i q u e a m íd ia n o r te-a m erica n a d eteve-se an tes n os asp ectos m orais d a técn ica (e, p rin cip a lm en te, em seu s p rová veis d esd o b ra m en to s em seres h u m a n o s) q u e p ro p ria -m en te n as su tilezas d a técn ica. Pou co se falou d a h istó ria d a clo n a gem , co m o d o s gir in o s e d os ratos clon ad os d esd e os an os 50. Ou m es-m o d o u so d a clo n a gees-m n a a gr icu ltu ra o u n a p ecu á ria d esd e o s a n o s 80. O tem p o h istó rico d a m íd ia foi ou tro. A m íd ia d eteve-se n o fu tu ro d a clon agem . Ou m elh or q u e isto: a m íd ia en -treteve-se em im a gin a r e, m u ita s vezes, em fan tasiar o fu tu ro d a clon agem .

Mas o fu tu ro fan tasioso n ão teve com o p ro-tagon istas os an im ais clon ad os n o tem p o p re-sen te d a clon agem , tais com o as ovelh as (Dolly, Polly e Molly), os m acacos (Neti e Ditto), os b e-zerros (Ch arlie e George) ou os ratos (estes d e

tã o co m u n s à p esq u isa cien tífica sã o a n ô n i-m o s). En q u a n to o s a n ii-m a is n ã o -h u i-m a n o s, já u tiliza d o s p ela clo n a gem a títu lo d e ro tin a d a p esq u isa cien tífica, en con tram -se n o p assad o e n o p resen te, n o fu tu ro estaria a p ossib ilid ad e d e a b ertu ra d a técn ica p a ra o s h u m a n o s. E, n este fu tu ro, in felizm en te, a tô n ica n ã o fo i a ética d a clon agem , en ten d id a aqu i em u m sen -tid o p ositivo d a reflexão cu id ad osa, m as sim a a n tiética d a m esm a . Fa lo u -se m u ito m a is d a s co n seq ü ên cia s n ega tiva s d a técn ica d e q u e seu s p ossíveis b en efícios à h u m an id ad e. Com o acertad am en te escreveu o om bu dsm and o jor-n a l Folh a d e São Pau lo, em m a téria d o d ia 2/ 3/ 97: “...A ovelh a n ão foi recebid a com oti-m isoti-m o, oti-m as an tes cooti-m o a p rova d a ioti-m in en te d ecad ên cia d a esp écie h u m an a, in cap az d e re-frear seu s in stin tos d ian te d as m órbid as p ossibilid ad es colocad as à su a d isp osição p ela ciên -cia...” (San tos, 1997:1-6). Na verd ad e, d u ran te o s p rim eiro s m eses d e d ivu lga çã o d a n o tícia , co m ra ra s exceçõ es, q u a se n ã o h o u ve esp a ço n a m íd ia p a ra a va lia r a s va n ta gen s d a técn ica em an im ais h u m an os.

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e ab u sos d a técn ica. O resu ltad o foi, en tão, u m con ju n to d e alegorias ap ocalíp ticas (“exército d e Hitler”, “fim d a d iversid ad e” ou “n ascim en to d e Fran ken stein s”) q u e tran sform ou o h ip oté-tico d efen so r d a clo n a gem em h u m a n o s n u m su jeito a n ô n im o ta m b ém tem ero so d e exp o r su as op in iões. Um exem p lo in teressan te d este p rocesso foi a m atéria p u b licad a n o jorn al Fo

-lh a de São Pau lo, em 2/ 3/ 97, em qu e n u m a p e-q u en a su b seção d o texto d e p ágin a in teira so-b re clon agem , in titu lad a “Com en tário”, lia-se: “...Con tra o p resid en te Bill Clin ton , o p ap a e as gran des au toridades m in isteriais eu rop éias, di-versos m éd icos ou vid os p or esta Folh a, ad m iti-ram , ‘n a con d ição d e an on im ato, é óbvio’,qu e n ão vêem em prin cípio n en h u m problem a ético n a d u p licação d e seres h u m an os...”[sem grifos n o origin al] (Sch wartsm an , 1997:1-6). Ou seja, so b o d o m ín io co letivo d o m ed o era m a is d o qu e “óbvio”qu e m édicos sim p atizan tes da id éia d a clon agem em h u m an os solicitassem o an o-n im ato.

O m ed o, n o en tan to, foi p arte con sid erável d o exp licitam en te exp osto p ela m íd ia. E p ara a su a com p reen são, o artigo d e Hop kin s foi fu n -d a m en ta l. O a u to r en u m ero u o s co n sta n tes m orais u tilizad os p ela m íd ia n orte-am erican a p or ocasião d a d ivu lgação d e Dolly. Na taxon om ia fin al, os con stan tes om orais om ais recorren tes fo ra m a gru p a d o s em três gra n d es ca tego -rias, assim estip u lad as p elo au tor: “... perda da u n icidade e in dividu alidade do h u m an o, as m o-tivações p atológicas d e qu em p od eria d esejar u m clon e e o m ed o d a ‘p erd a d e con trole’ d a ciên cia crian d o assim o ‘ad m irável m u n d o n ovo’” (Hop kin s, 1998:6). O m érito deste exercí-cio an alítico foi ter m ap eado o u n iverso sim b ó-lico d o m ed o existen te em to rn o d a p o ssib ili-d aili-d e ili-d e clon agem ili-d e seres h u m an os.

Neste a rtigo, rep etirem o s a id éia d e Ho p kin s ten d o co m o estu d o d eca so a m íd ia im -p ressa b rasileira. Usarem os a taxon om ia n orte-a m ericorte-a n orte-a co m o p orte-a n o -d e-fu n d o p orte-a rorte-a trorte-a çorte-a r-m o s a s ser-m elh a n ça s e a s p a r ticu la rid a d es d o fen ôm en o Dolly n a m íd ia b rasileira. Nosso ob -jetivo, a o a n a lisa r o estilo n a rra tivo d a m íd ia im p ressa n acion al fren te à Dolly, foi, con tu d o, a lém d o m era m en te d escritivo. Ap o n ta r o s co n sta n tes m o ra is co m u m en te referid o s p ela m íd ia b rasileira foi ap en as o p rim eiro p asso n a id en tifica çã o d o q u e, a q u i, ch a m a rem o s d e p ressu p osto id eológico d a p esq u isa cien tífica, q u e esteve p resen te em q u a se to d a s a s m a téria s a n a lisa d a s. Ou seja , u tiliza rem o s o fen ô -m en o Dolly co-m o in d ica d or d e u -m d os d a d os m ais im p ortan tes d a p esq u isa cien tífica e q u e, co m u m en te, en co n tra -se o cu lto : a id eo lo gia esp ecista (o con ceito d e esp ecism o qu e u tiliza

-rem o s n este a rtigo é o d efen d id o p o r Sin ger, 1993).

An tes, p orém , d e p assarm os à ap resen tação d e co m o fo i feita a p esq u isa , go sta ría m o s d e esclarecer algu n s d e n ossos p ressu p ostos p ara este artigo. O p rim eiro é qu e u m a an álise com o esta n ã o visa p ô r em ju lga m en to a m íd ia p ro -p ria m en te d ita n em ta m -p o u co a fo rm a co m o n oticia os fatos. Partim os d a id éia d e qu e a m í-d ia n ã o cria rea lií-d a í-d es, ela rep ro í-d u z e reí-d i-m en sion a realid ad es q u e existei-m an tes e aléi-m d ela. Diferen te d e Arlen e Klotzko qu e – ao an a-lisar com o a m íd ia n orte-am erican a d ifu n d iu o ca so Do lly em co m p a ra çã o à m íd ia in glesa – ju lga e rep rim e o estilo n arrativo d a m íd ia n or-te-am erican a, con sid eran d o-a u m a d as p rin ci-p ais resci-p on sáveis ci-p ela criação d o terror d a clo-n agem em seres h u m aclo-n os, clo-n ós, p or ou tro lad o, recon h ecem os qu e a m íd ia teve (e tem ) u m p a-p el fu n d am en tal n a rea-p rod u ção d o m ed o e, talvez, n a recria çã o d o m esm o, m a s co n sid era m os ta m b ém q u e o terror existe a n terior e in -dep en den tem en te do esforço da m ídia em criálo. Lo go, a m íd ia será u tiliza d a co m o o p o r ta -voz d e u m m ed o coletivo d a clon a gem em se-res h u m a n o s. Na verd a d e, a té m esm o en tre b io eticista s fa m o so s co m o é o ca so d e Leo n Ka ss, b io eticista n o rte-a m erica n o d e filia çã o religio sa , esta id éia irrefletid a d o m ed o fa ce à clo n a gem d e seres h u m a n o s é a ceita . Ka ss a con sid era com o p arte d o qu e ch am a w isdom of repu gn an ce(sab ed oria d a rep u gn ân cia), isto é, co n h ecim en to s q u e o s seres h u m a n o s p o ssu em e n ã o n ecessita m d e a rgu m en to s ra cio -n ais p ara su stn tá-los (Kass, 1998). Basta ap e-n a s o a p elo à sa b ed o r ia d a rep u ge-n â e-n cia p a ra ju stificá-los, d iz ele.

A pesquisa

Para este artigo, an alisam os trezen tas m atérias jorn alísticas, p u b licad as en tre os m eses d e fe-vereiro d e 1997 (a n ú n cio d e Dolly p ela revista

Natu re) e setem b ro d e 1998, n os segu in tes jor-n ais d e circu lação jor-n aciojor-n al d iária: Folh a de São Pau lo, Correio Braz ilien se, Gaz eta Mercan til, Jorn al do Brasil, O Estado de São Pau lo eO Glo-bo; além d e três sem an ários: Ép oca, IstoÉe Ve

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en treta n to, q u e u m a reflexã o so b re o m esm o seria d e extrem a va lia . Além d isso, a n tecip a -m o s ta -m b é-m q u e n ã o fo i p reo cu p a çã o d este a rtigo a va lia r o gra u d e p recisã o d a m íd ia im -p ressa n a d ivu lga çã o d a s n otítica s cien tífica s, ou seja, con sid eram os q u e u m ju lgam en to so-b re o cu id a d o d a m íd ia n o tra to d e q u estõ es cien tíficas é ou tra tarefa b em d istin ta d aq u ela a q u e n o s p ro p u sem o s a q u i (so b re este tem a d a ética d a com u n icação cien tífica n a m íd ia vi-d e, p o r exem p lo, Ja sm in , 1997; Leo n e, 1997 e Lu cas, 1997).

“Um mundo artificial vai substituir o mundo real”: as alegorias em torno da clonagem

Com ecem os p elos con stan tes m orais id en tifi-ca d o s p o r Ho p kin s em su a a n á lise d a m íd ia n orte-am erican a:

1) O m ed o d a p erd a d a u n icid ad e d e cad a ser h u m an o.

A id éia d e qu e a clon agem viria afetar a d ig-n id ad e h u m aig-n a, já qu e acab aria com a origiig-n a-lid ad e d e cad a ser foi o argu m en to m ais citad o p ela m íd ia n o rte-a m erica n a . O in teressa n te d esta recorrên cia m oral, a p erd a d a u n icid ad e d o in d ivíd u o, é su a referên cia à id eologia in d i-vid u alista, característica m arcan te d a socied a-d e n orte-am erican a qu e sob revaloriza o in a-d iví-d u o e to iví-d o s seu s iví-d eriva iví-d o s filo só fico s. Isto é, em u m co n texto d e in d ivíd u o co m o va lo r, a p o ssib ilid a d e d e p erd a d esta o rigin a lid a d e é m ais grave qu e em ou tras realid ad es sócio-cu l-tu rais. Hop kin s, ao an alisar u m trech o d a revis-ta Tim eso b re o a ssu n to, co m en to u co m u m certo ar d e iron ia: “...Isto con du z a u m vago m edo valorativo de qu e a clon agem é sim plesm en -te an ti-am erican a...Clon agem , a revista Tim e

tem e, está ao lado dos in setos robôs e da ideolo-gia com u n ista. A n ão-clon agem está ao lado do in d ivid u alism o am erican o e d o M istério...” (Hop kin s, 1998:9). Ou seja, a clon agem em h u -m a n o s n ã o a p en a s a feta ria o va lo r-in d ivíd u o, m a s, p rin cip a lm en te, iria d e en co n tro à p ró -p ria id éia d e con stru ção d e n ação -p ara os n or-te-am erican os. A p ossib ilid ad e d e clon agem d e h u m a n o s in co rp o ro u , em a lgu m a m ed id a , a sim b ologia d o in im igo.

2) O receio d o su rgim en t o d e p rojet os m egalom an íacos p or p arte d e in d ivíd u os egocên -tricos.

Esta idéia foi a qu e m aior referên cia fez a fil-m es e à literatu ra de ficção cien tífica, cofil-m o p or exem p lo ao film e Th e Boys from Brazil(Os Me-n iMe-n os do Brasil), ao livro Brave New Worldde Al-dou s Hu xley (Adm irável Mu n do Novo) e à

ideo-logia d o estad o n azista, esp ecialm en te à figu ra d e Hitler. En tre o s p ro jeto s m ega lo m a n ía co s p a ssíveis d e serem rea liza d o s p o r in term éd io da clon agem , estariam os m ilion ários qu e dese-jariam se rep licar ou os gran des in vestidores re-pletos de in im igos em busca de sócios con fiáveis ou m esm o m od elos ou can tores fam osos (Sh a-ro n Sto n e e Mich a el Ja ckso n en ca b eça ra m a lista dos clon áveis p ela m ídia n orte-am erican a). 3) O d esejo d e su bstitu ição d e u m a crian ça m orta.

Este p rojeto m oral ap on tad o com o p ossível p o r in term éd io d a clo n a gem fo i o q u e m a io r sim p atia teve d os am erican os com u n s, os am e-rica n o s cla sse-m éd ia , co m o ch a m o u o a u to r : “...Com u m en te con trastad a aos p rojetos m ega-lom an íacos ou egoístas, a m otivação d o casal p or clon ar, visan d o “su bstitu ir”a crian ça m or-ta, é a qu e tem a m aior sim p atia d a classe-m é-d ia” (Ho p kin s, 1998:10). A su b stitu içã o d o fi-lh o-qu erid o-m orto foi u m d os p ou cos p rojetos d e clo n a gem h u m a n a m o ra lm en te a ceitá veis ju n tam en te à id éia d e p rod u ção d e órgãos p ara tran sp lan tes ou d e u tilização d a clon agem co-m o técn ica rep ro d u tiva p a ra ca sa is ra d ica l-m en te in férteis.

Se p o r u m la d o esta s três gra n d es ca tego ria s fo ra m a s q u e m a io r reco rrên cia a p resen -t a ra m n a m íd ia d o s Es-ta d o s Un id o s, a m íd ia im p ressa b ra sileira , p or ou tro la d o, d esen h ou d u as gran d es ten d ên cias. An tes d e ap resen tá-las, vale lem b rar q u e n ão é n ecessário recorrer à s teo ria s d a co m u n ica çã o so cia l p a ra sa b er-m os q u e b oa p arte d o q u e se d ivu lga sob re te-m as cien tíficos in tern acion ais n a te-m íd ia b rasileira é rein terp retação d o já p u b licad o em ou -tros p eriód icos ou m esm o cópias m al-feitasd o já d ivu lgad o (h ou ve, é claro, algu m as exceções a esta s cóp ias m al-feitas, p u b lica d a s n a su a m a io ria p ela m íd ia esp ecia liza d a em d ivu lga-ção cien tífica; p or exem p lo Diegu ez, 1997: Co

-m o Foi Possível?; Sch ra m m , 1997: O Fan tasm a da Clon agem Hu m an ae Garrafa & Din iz, 1998:

Clon agem , Terror e Mídia). Ou seja, em algu m a m ed id a os con stan tes m orais id en tificad os p or Hop kin s em su a an álise d a m íd ia n orte-am eri-can a tam b ém p od em ser en con trad os n as m a-térias sob re clon agem extraíd as d a m íd ia b rasi-leira; p orém , o m ais in teressan te p ara n ós vem sen d o o recon h ecim en to d e con stan tes m orais n acion ais, se assim p od em os d en om in ar as p e-cu liarid ad es d a an gú stia m oral p rovocad a p ela clon agem n o con texto b rasileiro. Vam os, en tão, a o s co n sta n tes m o ra is en co n tra d o s n a m íd ia b rasileira:

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Em m a téria p u b lica d a n o Estad o d e São Pau lo, p o u co s d ia s a p ó s o a n ú n cio d e Do lly, 27/ 2/ 97 (Vlah ou , 1997), liase a segu in te m an -ch ete: “Vatican o p ed e p roibição d e clon agem h u m an a”, sen d o segu id a d e u m a en orm e foto-gra fia d o p a p a em m ovim en to d e b ên çã o. O texto d a m atéria, em en trevista a u m b ioeticis-ta iioeticis-ta lia n o, d e in sp ira çã o religio sa , d izia : “...A possibilidade de clon ar u m a pessoa traz à m en -te o -terrível caso d o n azista Men gu ele... esta se-ria a form a m ais forte de dom ín io do h om em so-bre o h om em ...” (Vlah ou , 1997). A referên cia ao

Evan geliu m Vitae, p rin cip a l d o cu m en to q u e su p orta os argu m en tos religiosos con trários à m an ip u lação d a rep rod u ção h u m an a, teve p or ob jetivo reforçar a au torid ad e d e Deu s n a cria-ção d a vid a e, ao m esm o tem p o, visou d estitu ir o ser h u m a n o d e seu p ro jeto co sm o gô n ico d e recon tar a origem d a vid a. A m etáfora m ais reco rren te fo i a q u e, a ssim reco m o o s físireco s reco n h eceram o p ecad o com a con stru ção d a b om -b a a tô m ica , o s cien tista s d e Do lly in ten ta ra m con h ecer a criação, u m p rojeto ved ad o aos h u -m an os. E-m u -m a -m atéria p u b licad a n o Correio Braz ilien se (1997b ), n o d ia 2/ 3/ 97, in titu la d a

“Religiões, in qu ietas, pedem cau tela”, on d e a fo-to d o p ap a ocu p ava q u ase a m etad e d a p ágin a d o jorn al, lia-se logo n as p rim eiras lin h as: “...A vid a ain d a é u m a exclu sivid ad e d e Deu s...”. Além d esse recu rso à au torid ad e d a Igreja Ca-tólica com o fon te n orm atizad ora d a p rática, o u so d a lin gu a gem religio sa p a ra d escrever a d escob erta foi u m a con stan te. Man ch etes com forte teor ap elativo com o as qu e se segu em fo-ra m m u ito co m u n s: “Hom em brin ca d e ser Deu s” (Correio Brazilien se, 1997a), “Os erros dos sócios d e Deu s”(O Esta d o d e Sã o Pa u lo, 1997),

“O h om em qu e qu er ser Deu s”(Gom es, 1998). 2) A referên cia a projetos m egalom an íacos.

Assim co m o o en co n tra d o p o r Ho p kin s, ta m b ém id en tifica m o s u m a referên cia co n s-ta n te à p o ssib ilid a d e d a clo n a gem rep ro d u zir in d ivíd u os qu e se ju lgam m elh ores qu e ou tros. Diferen te, n o en ta n to, d o d esen vo lvid o p ela m íd ia n orte-am erican a em qu e os clon áveis se-ria m Sh a ro n Sto n e o u Ro n a ld Rea ga n , p a ra a n ossa rea lid a d e, os a lvos d os p rojetos egóicos esta ria m fora d o Bra sil e n ã o en tre n ós. Sofre-ría m o s a s co n seq ü ên cia s d o ego d e u m lo u co clo n a d o. Se clo n a d o s, n ã o o sería m o s p a ra lid era r, m a s sim p a ra serm o s escra viza lid o s, se -ría m o s o e xé rcit o d o s m a n ip u la d o s. Assim , e n q u a n to n o s Esta d o s Un id o s a p ergu n ta fo i “q u em será clo n a d o ?”, en tre n ó s a certeza fo i d e q u e, co m ra ríssim a s exceçõ es d e clo n á veis com o Pelé ou Ron ald in h o com o in tu ito d e for-m arfor-m os u for-m tifor-m e d e fu teb ol p erfeito (vide, p or exem p lo, a foto d a m atéria d a revista Veja, em

5/ 3/ 97 (Alcâ n ta ra , 1997), q u e a n u n ciou Dolly, on d e se vê u m tim e d e fu teb ol com p osto ap e-n as p or Roe-n ald ie-n h os), e-n ão seríam os os cloe-n á-veis, u m a vez qu e p ara os p ad rões h ierárqu icos m u n d ia is o s n o sso s h u m a n o s ser ia m m en o s h u m a n o s. Ou tra p o ssib ilid a d e, em q u e b ra si-leiros clon áveis foram cotad os, m as em tom d e h u m or, teve a d an çarin a Carla Perez com o u m a d a s m a is vo ta d a s, em p esq u isa rea liza d a p elo jorn alFolh a de São Pau lo, em 1/ 3/ 97 (Gu tkoski, 1997). Se algu ém p en sar em clon ar b rasileiros, d izia ain d a o jorn alista, é p ara servir a in teres-ses escu sos, com o o su gerid o p elo film e Men i

-n os do Brasil.

3) A possibilidade da reprodu ção sem o m a-ch o.

Não tem os com o afirm ar se este tóp ico n ão esteve p resen te n o s a rtigo s d a m íd ia n o rte-am erican a ou se n ão foi recorren te a p on to d e o a u to r ca ta lo gá -lo. Cu rio sa m en te, en tre n ó s, en con tram os u m a série d e artigos qu e ap on ta-vam p ara o p ossível d escarte d o m ach o n o p ro-cesso rep rod u tivo com o ad ven to d a clon agem com o técn ica rep rod u tiva. Para u m a jorn alista, se, u m d ia, h ou ver a d ifu são e p op u larização d a clon agem , os h om en s correrão p erigo. Pod ere-m os ter, d izia ou tra jorn alista ere-m ais afoita, u ere-m a socied ad e d e m u lh eres. Um p sican alista, irôn i-ca e d eb och ad am en te, p roclam ou a era d a clo-n agem com o “o fim da era do esperm atozóide”; d izia ele em u m a m atéria p u b licad a n a Gazeta Mercan tilem 28/ 2/ 97: “...Prevê-se agora u m a n ova avalan ch e cu ltu ral d e fem in istas lev es e p esad as – d e Gloria Stein em a Cam ille Paglia. Dolly sign ifica n ad a m en os qu e o fim d a era d o esp erm atozóide...” (Escob ar, 1997). Dolly, d izia ele, fo i a p rim eira fêm ea a ter n a scid o d e três m ães e n en h u m p ai. Em ou tra m atéria, d atad a n o d ia 16/ 3/ 97, n o jo rn a lFolh a d e São Pau lo

(La ra , 1997), lia -se: “...N ão h á d ú vid a d e qu e u m avan ço tecn ológico en orm e foi alcan çad o. Ele n ão disp en sa, con tu do, o u so de óvu los. Eles são im p ortan tíssim os p ara o p rocesso...N esse caso, o qu e ficou dispen sado foi o m ach o!...”.

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se re s-Fra n ke n st e in s o u , a in d a , d e h u m a n o s co m ca ra cte rística s ge n é tica s p ré se le cio n a -d as, foi receb i-d a com p rofu n -d o -d esp rezo e, até m e sm o, fo i re je it a d a p e la m íd ia b ra sile ira , a cria çã o d e a n im a is n ã o -h u m a n o s sem p reced en tes n a n atu reza, com o o Ram a, foi, p or ou tro lad o, con sid erad a u m gran d e avan ço cien t ífico. Va le co n fe r ir t re ch o s d a re p o r t a ge m -a n ú n cio d o R-a m -a n -a Veja(1998), em 28/ 1/ 98: “...Para qu e foi criad o u m an im al assim ? ‘Es

-p eram os qu eele ven h a a ter asm elh ores qu ali-d a ali-d e sd e cad a u m a d as d u as esp écies’, afirm a Sk id m ore, u m a esp ecialista em rep rod u ção d e cam elo...Ela acred ita qu e o Ram a vai p rod u zir lã n obre com o a do lh am a, m as em qu an tidade m aior p or cau sa d o tam an h o...O exp erim en to foi p ossível p orqu e cam elo e lh am a d escen d em d eu m m e sm o a n ce st ra l q u e vive u h á 30 m i-lh õ es d e a n o s...”[sem grifo s n o o rigin a l]. Ora , a lgu m a s d a s e xp re ssõ e s u t iliza d a s p e la p e sq u isa d o ra , e sp e cia lm e n t e a s gr ifa d a s, a p o n -tam p ara as con seq ü ên cias d a id eologia esp e-cista n a p rá tica cien tífica , a s q u a is con d u zem o p esq u isa d o r a lid a r co m a técn ica so b p ers-p ectivas rad icalm en te d iversas a d eers-p en d er d o su je it o d a p e sq u isa , se h u m a n o s o u a n im a is n ão-h u m an os.

“M onstros de mil utilidades”: a ideologia especista e a clonagem dos animais não-humanos

Um a a n á lise d irecio n a d a à s m a n ch etes d o fen ôm efen o Dolly seria o m aterial etfen ográfico su -ficien te p ara refletir sob re a id eologia esp ecista d o p en sarfazer cien tífico. Na verd ad e, as con -seq ü ên cia s d o o lh a r esp ecista fo ra m tã o o u m ais m arcan tes q u e as p rovocad as p elo m ed o fren te à clo n a gem . Po r u m la d o, p o d ería m o s até m esm o con sid erar qu e os efeitos d a id eolo -gia esp ecista so b a m íd ia fo ra m a in d a m a is p ern icio so s q u e o s p rovo ca d o s p elo terro r d a p ossib ilid ad e d a clon agem em seres h u m an os. Co m o já fo i m en cio n a d o, a p ó s u m a n o d a d i-vu lgação d e Dolly, in iciou -se u m p equ en o m ovim en to p or p arte d a m íd ia n acion al com o in -tu ito d e revisitar a aversão d esm ed id a fren te à clon agem (u m exem p lo foi “Relatório vê van ta-gen s em clon ar h u m an os”, p u b licad o n aFolh a d e São Pau lo, em 13/ 1/ 98 – La u ra n ce, 1998). Foram m atérias isolad as, é claro, m as o m esm o n ã o se p ro cesso u d ia n te d o s p r in cíp io s d a id eologia esp ecista. A id eologia esp ecista p er-m a n eceu n o lu ga r silen cio so d o n ã o -d ito e, o m a is im p o rta n te, m a n teve-se in a b a lá vel. Seu u so foi ab solu tam en te irrefletid o, seja p or p ar-te d os cien tistas ou d os leigos.

O con ceito d e esp ecism o foi origin alm en te d ifu n d id o n a b io é tica p o r Pe te r Sin ge r, n o li-vro An im al Liberation, p a ra q u em a id eo lo gia e sp e cist a se r ia u m a fo r m a d e “...tiran ia d os h u m an os sobre os an im ais n ão-h u m an os...” (Sin ger, 1990:i). Ap ó s este livro, o a u to r p u b li-cou ou tros escritos sob re a qu estão, m as foi em

Ética Prática– a o b ra q u e o to rn o u m u n d ia lm en te con h ecid o – on d e Sin ger retolm ou algu -m a s d a s id éia s o rigin a is co n tid a s e-m An im al Liberation, reforçan d o ain d a m ais su as com p a -rações com os h u m an os, esp ecialm en te com o qu e d en om in ou os h u m an os n ãop essoas (Sin -ger, 1993). Assim , o au tor d efin iu o esp ecism o: “...Especism o – a palavra n ão é atraen te, m as n a au sên cia d e ou tra m elh or – é o p recon ceito ou u m a atitu de seletiva em favor dos in teresses dos m em bros da própria espécie em detrim en to dos m em bros de ou tras esp écies...” (Sin ger, 1990:6). A etim o lo gia d o co n ceito rem ete, p o rta n to, a ou tras p ráticas d iscrim in atórias já con h ecid as d o p en sa m en to co letivo, ta is co m o o ra cism o ou o sexism o. O au tor con sid era qu e, assim com o o ra ciscom o q u e se fu n d a com en ta n o p ressu -p o sto d a su -p erio rid a d e d e a lgu m a s ra ça s em d etrim en to d e ou tra s ou o sexism o q u e se b a-seia n a h ierarq u ia d e u m sexo sob re o ou tro, o esp ecism o p a rte, p o r u m la d o, d e u m a su p re-m acia d os h u re-m an os ere-m face d e ou tros an ire-m ais e, p o r o u tro la d o, d e u m certo d esp rezo p elo s a n im a is n ã o-h u m a n os. O esp ecism o é, en tã o, em la rga m ed id a , u m recu rso id eo ló gico q u e visa p roteger os m em b ros d a esp écie Hom o sa-pien squ an d o em con flito com os in teresses d e ou tros an im ais n ão-h u m an os.

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ro-d u zisse características gen éticas ro-d e u m an im al n ão-h u m an o em ou tro (com o os fra n go s q u e fo ra m p ro gra m a d o s p a ra ca n ta r co m o co d o r-n as) foi cor-n sid erad o “sócio de Deu s”ou m esm o fo i visto co m o ten d o p reten sõ es d ivin a s. Na verd ad e, o p ecad o d a m an ip u lação, ou m elh or d izen d o, o s lim ites ético s fa ce à m a n ip u la çã o gen ética, som en te com eçaram a ser d iscu tid os q u a n d o a ciên cia a m ea ço u to ca r em u m a d e su as m ais sagradas criatu ras: os seres h u m an os. A q u estão n ão esteve, p ortan to, n a técn ica d a clon agem p rop riam en te d ita ou em seu s b e-n efício s p a ra o s h u m a e-n o s p o r m eio d o s a e-n i-m a is n ã o -h u i-m a n o s, i-m a s n a p o ssib ilid a d e d e m an ip u lação d ireta d e h u m an os. Ou segu n d o p alavras d os jorn alistas: “...Dian te d o In stitu to Roslin , p ergu n ta-se ao fu tu ro: o qu e acon tecerá n estes laboratórios? Os m ais tem erosos im agi-n am qu e u m a agi-n ova m ald ição p od e agi-n ascer d ali, u m d ia: a p ossibilid ad e d e clon ar seres h u m a-n os...(Sá, 1997)”, “...A in ven ção de Dolly abre de fato a possibilidade de clon agem de seres h u m a-n os...” (Sá, 1997), “...m as as prin cipais qu estões levan tadas p elo artigo de W ilm u t dizem resp ei-to à p ossibilidade de clon agem h u m an a...” (Sá, 1997), som en te p ara citarm os algu n s exem p los. Logo, n ão é ved ad o aos h u m an os brin carem de Deu s; eles d evem , ap en as, selecion ar b em seu s b rin q u ed o s. To d o s o s a n im a is n ã o -h u m a n o s estão, à p rin cíp io, d isp on íveis, as ressalvas re-m etere-m a casos esp ecíficos core-m o a extin ção ou ao n ú m ero d e an im ais u tilizad os em cad a p ro-ced im en to, co m o co n sid ero u , p o r exem p lo, o p orta-voz oficial d e b ioética d a Igreja Católica: “...é d iferen t e a p osiçã o d a Igreja [Ca t ólica ] com relação à clon agem de an im ais. Segu n do o m on sen h or [diretor do In stitu to Católico de Bioé-tica], é aceitável, m as ap en as se for p raticad a em n ú m ero restrito de an im ais e n ão colocar em perigo a espécie...” (Vlah ou , 1997:A16).

Deixem o s d e la d o a p ergu n ta se o s seres h u m an os valem ou n ão este resp eito qu e ju sti-fiqu e u m a n ão-m an ip u lação em seu n om e. Es-se Es-seria tem a p a ra o u tro a rtigo. E a ssim co m o Sin ger qu e con sid erou “...o objetivo do m eu ar-gu m en to é elevar o statu s dos an im ais, e n ão di-m in u ir o d os seres h u di-m an os...” (Sin ger, 1993: 88), n o ssa in ten çã o n ã o é a va lia r se o s h u m a -n os são ou -n ão d ig-n os d e tam a-n h a d eferê-n cia, o q u e b u sca m o s, n a verd a d e, é a p o n ta r a lgu -m a s d a s co n seq ü ên cia s d este p ro tecio n is-m o irrefletid o. E, p a ra isto, o fen ôm en o Dolly for-n ece p istas sifor-n gu lares. Foram p rod u zid os cerca d e 277 em b riões an tes d o an ú n cio d efin itivo d e Dolly (Wilm u t et al., 1997). Segu n d o con sta, foram ovelh as m alform ad as, seres d ign os d o ad -jetivo “m on stro” tão com u m en te u tilizad o p e-los jorn alistas qu e escreveram sob re o assu n to.

Ora, as cen ten as d e ovelh as-m on stro foram u m fato, an tes m esm o q u e a p ossib ilid ad e d e cria-ção d e h u m an os-m on stro. E, p ara este fato, d o to ta l d e a rtigo s a n a lisa d o s, n ã o en co n tra m o s u m a m atéria seq u er q u e se p ron u n ciasse con trariam en te. Não n os d ep aram os com n en h u -m a en tid ad e d e d efesa ou d e p roteção d a vid a d e a n im a is n ã o -h u m a n o s d en u n cia n d o o s a b u so s d a técn ica . Do p o n to d e vista ético o u an tiético, falou -se ap en as d a p ossib ilid ad e d o u so d a técn ica em h u m an os. E sob re isto, tod os os “ad vogad os” d a esp écie h u m an a se p ron u n -ciaram : teólogos, b ioeticistas (estes em p equ e-n o e-n ú m ero), ciee-n tistas, ju ristas, ae-n trop ólogos, p sican alistas, filósofos, etc. Todos, qu an d o con -vid a d o s a fa la r, rep ro d u zira m n ã o a p en a s a id eologia esp ecista, m as tam b ém , e p rin cip alm en te, o p rin cíp io d a san tid ad e d a esp écie h u m a n a em d etrim en to d e o u tro s a n im a is n ã o -h u m an os (sob re o p rin cíp io d a san tid ad e d a vi-d a h u m a n a vid eKu h se, 1987). Eles rep etira m , q u a se q u e em co ro, o p rin cíp io d a in to ca b ili-d aili-d e ili-d a viili-d a h u m an a.

A qu estão d a clon agem d e Dolly fech ou -se, p ortan to, em torn o d e três p on tos fu n d am en -tais: o m ed o, a id eologia esp ecista d a ciên cia e o p rin cíp io d a san tid ad e d a vid a d os m em b ros d a esp écie h u m a n a . Assim , refletir so b re a s p ossib ilid ad es d e b en efício d a técn ica ou m esm o d e seu s u sos eesm h u esm a n os soesm en te p od e -rão ocorrer, caso se reflita an tes sob re esta tría-d e m oral arraigatría-d a ao p en sam en to cien tífico.

Para além do medo...

A principal lição de Dolly na mídia

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ioéti-CO STA, S. I. F. & DINIZ, D.

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