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“Você conhece uma cientista?”: investigação temática sobre a ausência da história das mulheres na ciência no ensino básico da cidade de Castanhal – PA / "Do you know a scientist?": thematic research on the absence of the history of women in science in the

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Academic year: 2020

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“Você conhece uma cientista?”: investigação temática sobre a ausência da

história das mulheres na ciência no ensino básico da cidade de Castanhal

– PA

"Do you know a scientist?": thematic research on the absence of the

history of women in science in the basic education of the city of Castanhal

– PA

DOI:10.34117/bjdv6n11-153

Recebimento dos originais: 09/10/2020 Aceitação para publicação: 09/11/2020

Joás Murilo Nunes

Graduando em Ciências Naturais com habilitação em Física Universidade do Estado do Pará

E-mail: joasmurilonunes@gmail.com

Rita Alvires da Silva Batista

Graduanda em Ciências Naturais com habilitação em Física Universidade do Estado do Pará

E-mail: ritaalviresb16@gmail.com

Wesley Lins Pimentel

Graduando em Ciências Naturais com habilitação em Física Universidade do Estado do Pará

E-mail: wesleylinspimentel@gmail.com

Jailson Ferreira de Oliveira

Graduando em Ciências Naturais com habilitação em Física Universidade do Estado do Pará

E-mail: jailsonferreira650@gmail.com

Luis Felipe Silva da Costa

Graduando em Ciências Naturais com habilitação em Física Universidade do Estado do Pará

E-mail: luisluisfelipe3006@gmail.com

Alan dos Reis Silva

Graduando em Ciências Naturais com habilitação em Física Universidade do Estado do Pará

E-mail: alanreissilva96@gmail.com

RESUMO

O aumento da participação feminina na Ciência, é uma realidade na maioria dos países. Entretanto, ainda possui um ritmo lento comparado com o número masculino. Outrossim, pela carência de divulgação da história, a batalha das mulheres para ter acesso à educação elementar, superior e os direitos civis, está quase esquecida diante da possibilidade atual de todas se

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educarem e da crescente participação nas escolas de todos os graus. Semelhante modo, esse cenário se repete quando se trata da história das mulheres que desempenharam papeis fundamentais para o avanço da ciência no Brasil. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo levantar dados sobre o grau de conhecimento de estudantes do ensino básico da cidade de Castanhal – PA, sobre a história das mulheres que foram pioneiras da ciência no Brasil, e como isso pode influenciar as próximas gerações de mulheres a optarem ou não na escolha da carreira cientifica futuramente. Com os resultados obtidos percebeu-se um contraste em que a maioria dos alunos do gênero masculino e a minoria do gênero feminino tem preferência ou familiaridade com a área das ciências da natureza.

Palavras-chave: Mulheres na Ciência, História da Ciência, Investigação Temática.

ABSTRACT

Increased female participation in science is a reality in most countries. However, it still has a slow pace compared to the male number. Moreover, due to the lack of dissemination of history, the battle of women to have access to elementary and higher education and civil rights is almost forgotten in the face of the current possibility of everyone being educated and the growing participation in schools of all grades. Similarly, this scenario is repeated when it comes to the history of women who played fundamental roles in the advancement of science in Brazil. Thus, this work aimed to gather data on the degree of knowledge of elementary school students in the city of Castanhal - PA, on the history of women who were pioneers in science in Brazil, and how this may influence the next generations of women to choose or not to choose a scientific career in the future. With the results obtained, a contrast was noticed in which the majority of male students and the minority of female students have preference or familiarity with the area of nature sciences.

Keywords: women in Science, History of Science, Thematic Research.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, é evidente as intensas transformações da situação feminina na sociedade brasileira: o aumento da sua escolaridade, inserção crescente e interrupta na força de trabalho, queda das taxas globais de fecundidade. Ruptura da moral sexual que impunha a preservação da virgindade feminina até o casamento, aceitação da sua liberdade sexual, mobilização contra a violência física e sexual feita às mulheres e alguma reestruturação do modelo familiar (MELO; RODRIGUES, 2006). No entanto, pela carência de divulgação da história, a batalha das mulheres para ter acesso à educação elementar, superior e os direitos civis, está quase esquecida diante da possibilidade atual de todas se educarem e da crescente participação nas escolas de todos os graus. Semelhante modo, esse cenário se repete quando se trata da história das mulheres que desempenharam papeis fundamentais para o avanço da ciência no Brasil.

No decorrer da história, a participação de mulheres na ciência foi marcada por ausências e presenças. Segundo Gonçalves et al (2019), um dos motivos dessa ausência, se dá no sistema

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machista que ressignifica e mantém ainda hoje o que tem sido feito ao longo de toda a História da Ciência, o apagamento da mulher na historiografia e consequentemente no Ensino de Ciências. Nos anos iniciais da Revolução Científica, muitas mulheres envolveram-se com atividades ditas científicas, tal como observando os céus através de telescópios, olhando através de microscópios, analisando plantas, insetos ou outros animais, juntamente com seus pais, irmãos, maridos ou filhos cientistas (SCHIEBINGER, 2001, apud SILVA, 2012).

Contudo, com a institucionalização e profissionalização da ciência e a separação entre público e privado, a participação da mulher ficou mais restrita. Por muito tempo, com exceções, as mulheres não puderam desenvolver pesquisas cientificas, impedidas de frequentar as instituições de ensino, o seu único dever era com os cuidados da casa e da família. Cabe destacar que as universidades, embora tenham sido criadas no século XII, só passaram a admitir efetivamente as mulheres em seu quadro de discentes e docentes no final do século XIX e início do século XX (SCHIEBINGER, 2001, apud SILVA, 2012).

No contexto brasileiro, por um longo período a educação feminina esteve restrita ao ensino elementar, uma vez que a educação superior era eminentemente masculina. As mulheres foram excluídas das primeiras faculdades brasileiras estabelecidas no século XIX (SILVA, 2012). Outrossim, de acordo com Kaizô Beltrão e José Alves (2009, apud SILVA, 2012), durante o século XIX e a primeira metade do século XX, um dos motivos que inviabilizou e restringiu a entrada das mulheres nos cursos superiores, deu-se na formação diferenciada para mulheres e homens, evidenciando-se uma desigualdade e discriminação.

Contudo, a participação feminina nas carreiras universitárias e científicas acentuou-se no país a partir dos anos 1970, depois que as mulheres venceram a luta para entrar no ensino superior. E o sucesso foi inegável, pois em 1991 assegurou-se definitivamente a vitória das mulheres na batalha educacional. Naquele ano, o censo demográfico mostrou que as mulheres brasileiras tinham mais anos de escolaridade que o sexo masculino. Todavia, a discriminação não foi vencida: persistiram desigualdades salariais e de acesso a carreiras profissionais e nas atividades científicas. E, na segunda década do século XXI, a ciência e a tecnologia ainda permanecem um reduto masculino no mundo e no Brasil (MELO; THOMÉ, 2018).

2 HISTÓRIA DAS PIONEIRAS DA CIÊNCIA NO BRASIL E NO MUNDO

Na historiografia da ciência, a mulheres que tiveram destaque com suas contribuições ciência. Eulalia Pérez Sedeño (1992, apud SILVA, 2012) aponta alguns exemplos marcantes na matemática, na física e na astronomia. No campo da matemática a autora enfatiza as contribuições de Maria Agnesi (1718-1799), destacada nos estudos de geometria; Sophie

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Germain (1776-1831), autora de trabalho na teoria dos números e sobre a vibração em superfícies esféricas; Sonya Kovalevsky (1850-1891) é referência quando se explicam integrais e funções abelianas, curvas definidas por equações diferenciais e a teoria das funções potenciais; Emmy Noether (1882-1935), que tem destaque por formulações matemáticas de diversos conceitos da teoria da relatividade e por seus trabalhos em operadores diferenciais e álgebra comutativa.

Na área da física e da astronomia, Eulalia Pérez Sedeño (1992, apud SILVA, 2012) faz referência a Caroline Herschel (1750-1848), considerada o maior nome feminino na astronomia, por suas observações e descobrimentos de oito cometas e quatro nebulosas; Maria Cunitz (1610-1664), que simplificou as tabelas dos movimentos planetários de Kepler; Maria Mitchel (1818-1889), estadunidense que descobriu um cometa e fez estudos significativos sobre a composição dos anéis de Saturno, e que, tendo iniciado seus estudos em um observatório que seu pai mantinha em casa, foi a primeira mulher a ser admitida na American Academy of Arts and Sciences e advogava a educação superior para as mulheres; Willimina Fleming (1857-1911), que classificou as estrelas a partir do espectro fotográfico; e Mary Orr Evershed (1867-1949), que escreveu um guia das constelações visíveis no hemisfério sul e estudou as protuberâncias solares.

Em relação ao Brasil, segundo Matos (2010) a história da ciência em nosso país é carente de investigação e registros, e o entrelace das ciências e tecnologia com gênero é completamente incipiente. No entanto, mesmo com poucos registros pode-se mencionar nomes das mulheres que foram pioneiras da ciência no brasil e tiveram o papel fundamental para as conquistas do movimento feminista. Tais exemplos a serem mencionados por Melo e Rodrigues (2006) seriam: Alice P. Canabrava e Eulália L. Lobo (historiadoras), Blanka Wladislaw (química), Carolina M. Bori (psicóloga), Elisa Frota-Pessoa, Neuza Amato e Sonja Ascher (físicas), Elza F. Gomide e Marília C. Peixoto (matemáticas), Graciela M. Barroso (botânica), Johanna Döbereiner (agrônoma), Maria Josephina M. Durocher (obstreta), Maria José von P. Deane (parasitologista), Marta Vanucci (bióloga), Nise da Silveira (médica psiquiátrica), Ruth S. Nussenzveig (bióloga) e Victória Rossetti (engenheira agrônoma).

Vale destacar Bertha Lutz (bióloga) e Maria da Conceição Tavares (economista) que desenvolveram também intensas atividades políticas: ambas foram deputadas federais, dedicadas à construção da cidadania feminina e a causas relacionadas a razão crítica na luta permanente pelo desenvolvimento, pela utopia de construir um país justo e inclusivo para brasileiros e brasileiras. No entanto, nomes como esses são desconhecidos entre a grande parcela da sociedade brasileira, principalmente entre os estudantes do ensino básico.

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Pois, embora a projeção da mulher seja evidente ao longo dos últimos anos no mercado de trabalho, na política, na economia e em tantos outros campos, tratando da ciência o número de mulheres aumentou, mas com ritmo lento comparado com o número masculino. Nos Estados Unidos essa discussão tem sido intensa nos últimos anos, e eles sustentam que o fato de muitas mulheres não almejarem a carreira científica não estaria relacionado a uma habilidade inata apenas dos homens nessa área, como se pensava no passado. Ao contrário, afirmam que isso se deve ao fato de as mulheres não serem motivadas a seguirem essa carreira, além de faltarem modelos femininos que as motivem (HANDELSMAN et al., 2005).

Dessa forma, pensando em minimizar tal problemática Melo e Rodrigues (2018) alerta que é necessário que as crianças e os jovens conheçam os nomes de mulheres que, mesmo esquecidas, estiveram nos meios acadêmicos. E saibam que as mulheres não estiveram ausentes no desenvolvimento da matemática e das ciências no mundo ocidental, e que no Brasil não foi diferente. Por certo, é importante que os alunos compreendam todo o contexto em que foi produzido o conhecimento com o qual estão estabelecendo contato (BRAGA et al, 2009, apud GONÇALVES et al, 2019). Ademais, é papel do professor de Ciências como mediador do processo educativo problematizar a ausência de mulheres na História da Ciência. Dessa maneira, instigando a discussão sobre gênero, igualdade de direitos e oportunidades para com as mulheres no campo da ciência e da tecnologia, o presente trabalho teve como objetivo levantar dados sobre o grau de conhecimento de estudantes do ensino básico do município de Castanhal – PA, sobre a história das mulheres que foram pioneiras da ciência no Brasil, e como isso pode influenciar as próximas gerações de mulheres a optarem ou não na escolha da carreira cientifica futuramente.

3 MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia utilizada possui caráter qualiquantitativo, alicerçada na aplicação de questionários. A pesquisa foi realizada no mês de outubro de 2019 em turmas do 1o, 2o e 3o ano

do ensino médio com um total de 70 alunos, 30 estudantes do gênero masculino e 40 do gênero feminino da Escola Estadual de Ensino Médio Lameira Bittencourt (Escola Pública Estadual), Localizada na cidade de Castanhal-PA. Tais questionários possuíam perguntas com respostas dicotômicas – que apresenta duas opções de respostas (facilitando no momento de realizar a análise das respostas), com objetivo de obter dados sobre o conhecimento entre os alunos sobre a história das pioneiras da ciência no brasil e no mundo que contribuíram para o avanço da ciência durante a história, e se conheciam alguma mulher cientista da atualidade. Outro objetivo

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foi levantar a preferência dos alunos entre as áreas de Linguagens e Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Além de, ao prestar vestibular, qual curso eles optariam. O questionário também possuía perguntas com respostas abertas – no qual os estudantes ficavam livres para responder com suas palavras, sem se limitarem a escolha entre um rol de alternativas – tais perguntas tinham o objetivo de coletar dados sobre como os estudantes avaliavam a divulgação cientifica através da mídia e do ensino básico, e se acreditavam que o campo cientifico é algo particular do gênero masculino. Além de observar as opiniões deles sobre a importância da divulgação cientifica através das histórias das mulheres que foram pioneiras da ciência no brasil, contribuindo para o avanço da ciência, da luta feminina pela igualdade de gênero, direitos e oportunidades.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao serem analisadas as respostas dos 30 estudantes do gênero masculino, sobre a preferência entre as áreas de linguagens e matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Foram obtidos os seguintes dados expressos no gráfico 1:

Gráfico 1 - Preferência entre os estudantes do gênero masculino

Fonte: Autores (2020)

A partir da verificação do gráfico 1, observa-se que do total de 30 alunos; 6 alunos (20%) tem preferência na área das linguagens e matemática, 3 alunos (10%) nas ciências humanas e 21 (70%) nas ciências da natureza.

Em relação as respostas das 40 estudantes sobre a preferência entre as áreas de linguagens e matemática, ciências humanas e ciências da natureza, foram obtidos os seguintes dados expressos no gráfico 2:

20% 10% 70% Preferência em Linguagens e Matemática Preferência em Ciências Humanas Preferência em Ciências da Natureza

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Gráfico 2 - Preferência entre as estudantes do gênero feminino

Fonte: Autores (2020)

A partir da verificação do gráfico 2, observa-se que do total das 40 estudantes; 14 alunas (35%) tem preferência na área das linguagens e matemática, 20 alunas (50%) nas ciências humanas e somente 6 (15%) tem preferência nas ciências da natureza.

Comparando os dados dos gráficos 1 e 2, verifica-se uma dissemelhança na preferência nas ciências da natureza, percebe-se um contraste em que a maioria dos alunos do gênero masculino e a minoria do gênero feminino preferiam tal área.

Para Silva (2008) é perceptível que desde as séries iniciais e evidentemente no ensino médio, são os meninos os que se tornaram/tornam os melhores alunos na área de exatas, em matemática especificamente. No entanto, o número de meninas que gostam de estudar matemática e que apresentam bons rendimentos é ínfimo, em relação ao número de meninos. Por certo, isso se dá, pelo reflexo de uma prática pedagógica sexista, conservadora dos estereótipos de gênero nos moldes mais tradicionais possíveis. Segundo Silva (2008, p. 139) “Nesta curta trajetória, a escola funciona como um dos mais eficientes ‘aparelhos ideológicos do estado’, no tocante a reprodução das desigualdades de gênero”.

Ao serem analisadas as respostas de quais cursos de graduação eles optariam em prestar o vestibular, observou-se que, de semelhante modo, como suas preferências, um número significante de meninos optaria por cursos ligados a ciências exatas, enquanto o total de meninas foi ínfimo na mesma área. Decerto, quando os estudantes conseguem chegar aos cursos de graduação, este que já são divididos por área de conhecimento, vão ocupar seus “devidos espaços”. Segundo Silva (2008) os meninos em sua maioria procuram pelos cursos das chamadas ciências “duras” (matemática, física, química e biologia), enquanto as meninas, preenchem as vagas dos cursos das chamadas ciências “moles”. Sem dúvida, é uma realidade flagrante das desigualdades de gênero, mas que é veiculada historicamente como um movimento “natural”, expressa nas chamadas aptidões masculinas e femininas.

35% 50% 15% Preferência em Linguagens e Matemática Preferência em Ciências Humanas Preferência em Ciências da Natureza

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Cabe destacar, que entre as 40 estudantes avaliadas, apenas uma aluna optaria por cursar Licenciatura em Física. Tal problemática pode ser observada através do estudo realizado por Brisolla e Vasconcellos (2006) que corrobora a baixa e estagnada participação das mulheres na física. O índice de aprovação de homens e mulheres nos vestibulares da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) indica que a Física é a área que apresenta menor índice na participação de mulheres ao longo do tempo.

Adicionalmente, foram analisadas as respostas dos estudantes em relação ao conhecimento sobre a história de alguma figura feminina brasileira ou estrangeira que contribui/contribuiu para o avanço da ciência. Logo, observou-se a unanimidade do desconhecimento da história das mulheres na ciência dentre os 30 alunos do gênero masculino.

Em relação as mulheres, foi possível analisar que somente duas entre as 40 alunas conheciam figuras femininas da ciência. Ambas conheciam a história da cientista Marie Curie (1867-1934) ganhadora do prêmio Nobel por duas vezes. O primeiro em 1903, na física, e o segundo em 1911, na química, conferidos pelas suas pesquisas sobre o isolamento de isótopos radioativos e a descoberta de dois elementos químicos, o polônio e o rádio, respectivamente. Primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel, Marie Curie foi também a primeira pessoa a ganhar dois prêmios e a única até hoje a vencer em duas áreas distintas. Sua extraordinária investigação científica resultou numa nova área de conhecimento, a radioquímica (BOLZANI, 2017). No entanto, somente uma delas conheciam a história de uma mulher de nacionalidade brasileira, se tratando de Anna Justina Ferreira Nery (1814-1860) que foi uma enfermeira brasileira entre os pioneiros da enfermagem no Brasil. Cabe destacar que tal aluna foi a mesma que escolheria cursar a Licenciatura em Física futuramente.

Segundo Gil-Pérez et al (2001), os estudantes (todos os níveis) e o público em geral, detêm de uma grande variedade de concepções ingênuas, mal fundamentadas e, as vezes falsas sobre a natureza das ciências e sua relação com a sociedade. Dessa forma, o ensino de Ciências através da divulgação científica tem o potencial de desmistificar a concepção de que durante o desenvolvimento da ciência as mulheres ficaram ausentes, sem realizar importantes contribuições. Pensando nisso, foram analisadas as respostas abertas dos estudantes, analisando suas opiniões sobre a importância da divulgação da história das mulheres que foram pioneiras da ciência no Brasil.

Logo, a estudante Rute (nome fictício para preservar a identidade da aluna) comenta:

“Seria ótimo a divulgação da história dessas mulheres. Pois iria fortalecer a luta do movimento feminista, trazendo as discussões de igualdade de gênero no âmbito escolar, mostrando que o gênero feminino não é inferior ao masculino. Além de despertar o interesse das garotas para

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a matemática e outras ciências”. Ratificando tal comentário, é evidente que os movimentos

feministas são imprescindíveis para o aumento das mulheres na carreira cientifica. Pois segundo Silva (2008) os movimentos feministas sempre estiveram preocupados com o escasso número de mulheres na história da Ciência. Ademais, através das investigações realizadas por esses movimentos, tiveram como resultados a recuperação de mulheres esquecidas pela história da ciência tradicional e a identificação de padrões de discriminação. Além disso, apontaram que as mulheres, quando inseridas no mundo da produção do conhecimento, se dedicaram e se dedicam muito mais às disciplinas consideradas “femininas” e que, na maioria das vezes, ocupam os lugares mais baixos no escalão profissional, uma vez que se “constata que o prestígio de uma disciplina é inversamente proporcional ao número de mulheres que a praticam”. Ademais, o estudante André (nome fictício) responde: “As mulheres iam se sentir mais

valorizadas vendo que outras mulheres não estiveram ausentes no desenvolvimento da matemática e das ciências no mundo. Mostrando que a ciência não precisa ser algo particular do gênero masculino”. Indubitavelmente, as contribuições que as mulheres podem trazer para

a ciência, tecnologia e inovação, são inúmeras. Mas para que esses avanços ocorram, no entanto, é preciso começar pela conscientização dos homens da importância de sua participação na construção de uma sociedade mais equânime (SILVA, 2019). Dessa forma, é de suma importância a conscientização e o posicionamento dos homens, para o avanço da divulgação da história das mulheres na ciência, já que a grande maioria, ainda, dos difusores e divulgadores da ciência são do sexo masculino.

Para a estudante Maria (nome fictício) a divulgação dessas histórias é importante pois:

“Nos dias de hoje, as pessoas buscam muito uma imagem para se inspirarem. E essas cientistas brasileiras servem como motivação e força para as outras mulheres lutarem por seus ideais. Além de mostrar que podemos ser grandes cientistas aqui no nosso país”. Outrossim, para

Joana (nome fictício): “A divulgação é de suma importância. Pois assim como o nome de

muitos estudiosos conhecidos, acho importante mostrar que muitas mulheres também contribuíram para o desenvolvimento da ciência, até para que as meninas venham desejar integrar nessas áreas”.

Destaca-se que as respostas individuais das alunas trazem a reflexão da importância da representatividade feminina na ciência. Pois é fundamental ver um exemplo de sucesso parecido com você através da representatividade (de todos os tipos), nesse caso, especificamente o feminino. Dessa forma, a divulgação da história das mulheres na ciência, principalmente a do âmbito nacional, tornam tais cientistas como figuras de inspiração e motivação para as próximas gerações femininas. Além de contribuir para projeção da mulher no mercado de trabalho, na

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política, na economia, na ciência e em tantos outros campos. Decerto, o espaço escolar deve contribuir para a formação das subjetividades, portanto é extremamente importante trabalhar questões relativas a gêneros, bem como, assegurar a construção de uma sociedade mais igualitária. Segundo Castilho (2009, p.116, apud GONÇALVES et al, 2019, p. 15471) “silêncio da escola sobre as dinâmicas das relações sociais no plano da raça e do gênero permite que seja transmitida aos (às) alunos (as) uma pretensa superioridade branca e dos homens.”

Em suma, segundo Bolzani (2017) a mudança desse quadro de desigualdade do número de mulheres na ciência comporta, algumas medidas básicas, que devem começar no ensino fundamental. Ademais, a escola é um espaço onde preconceitos podem ser reproduzidos ou desconstruídos e os professores podem atuar como mediadores nesse processo de desconstrução por meio do ensino (CASTILHO, 2009, apud GONÇALVES et al, 2019, p. 15471). A escola precisa despertar na criança, independente de gênero, a curiosidade e a consciência de que conhecer o universo é uma atividade que a torna mais rica como ser humano.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desse trabalho pode-se afirmar como a falta de divulgação da história das Cientistas brasileiras ainda persiste no ensino básico do país, e tal fato pode acarretar no desinteresse das mulheres em ingressarem em carreiras cientificas futuramente. Cabe destacar que são numerosos os esforços dos cientistas para mostrarem o real valor das pesquisadoras brasileiras e estrangeiras, sejam elas físicas, matemáticas, engenheiras, químicas, biólogas e cientistas sociais. No entanto, esse é um caminho ainda em construção, e esperamos que seja reforçado pelas novas gerações, através de trabalhos como esse criando futuros projetos de intervenção visando a divulgação de obras das figuras femininas na ciência nacional. Para finalizar, defendemos a necessidade de introduzir uma perspectiva de gênero no âmbito escolar considerando um processo cientifico investigativo de longo prazo e significativo, requerendo continuidade nas investigações.

REFERÊNCIAS

BOLZANI, V. da S. Mulheres na Ciência: por que ainda somos tão poucas? Ciência &

Cultura, vol. 69, p. 56-59, 2017.

BRISOLLA, S. N.; VASCONCELLOS, E. da C. C. As aparências enganam. Jornal da

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GIL-PÉREZ, D. et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência &

Educação, p. 125-153, 2001.

GONÇALVES, V. O. et al. A invisibilidade das mulheres na história da ciência: estudo de caso dos livros didáticos do sexto ao nono ano. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15463-15485 sep. 2019.

HANDELSMAN, Jo et al. More Women in Science. Science, v.309, August, p.1190-1191, 2005.

MATOS, M. da C. G. de. A Docência no Curso de Licenciatura em Física da UFPA: História e Gênero. 2010. 167 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências da Educação, Curso de Mestrado Acadêmico em Educação, Belém, 2010.

MELO, H. P. de; RODRIGUES, L. M. C. S. Pioneiras da ciência no Brasil, Rio de Janeiro, SBPC, 2006.

MELO, H. P. de; RODRIGUES, L. M. C. S. Pioneiras da ciência no brasil: uma história contada doze anos depois. SBPC 70 anos, 2018

MELO, H. P.; THOMÉ, D. Mulheres no poder, histórias, ideias, indicadores, Rio de Janeiro, Editora Fundação Getúlio Vargas, 2018.

SILVA, E. R. da. A (in)visibilidade das mulheres no campo científico. Revista HISTEDBR

On-line, Campinas, n.30, p.133-148, 2008.

SILVA, F. Mulheres na Ciência: vozes, tempos, lugares e trajetórias. 2012. 147 f. Tese (Doutorado em Educação em Ciência) – Universidade Federal do Rio Grande, Programa de Pós-Graduação em Ciências: Química da Vida e Saúde, RS, 2012.

SILVA, É. de M. Eles com elas pela igualdade de gênero. Revista Mulheres na Ciência. Vol. 1, p. 34-37, 2019.

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Gráfico 1 - Preferência entre os estudantes do gênero masculino
Gráfico 2 - Preferência entre as estudantes do gênero feminino

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