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Impacto do processo de resolução do BES no sistema bancário português

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Academic year: 2020

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Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

João Paulo Freitas de Sousa

junho de 2020

Impacto do processo de resolução

do BES no Sistema bancário Português

João P

aulo F

reitas de Sousa

Impacto do processo de resolução do BES no Sis

tema bancário P

or

tuguês

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João Paulo Freitas de Sousa

Impacto do processo de resolução

do BES no Sistema bancário Português

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Natália Maria Sá Figueiredo

Pimenta Monteiro

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Economia Monetária Bancária e Financeira

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição CC BY

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Agradecimentos

Aos serviços de apoio ao estudante, aos serviços de ação social da Universidade do Minho, aos serviços académicos da Escola de Economia e Gestão, os meus sinceros agradecimentos pois devido a qualidade do serviço prestado quer ao nível informativo, quer ao nível operacional, contribuíram em muito para que este percurso académico pudesse acontecer. Aos docentes do Mestrado em Economia Monetária Bancária e Financeira, os meus parabéns. Apesar da área do ensino não ser devidamente valorizada nos dias de hoje, todos contribuíram para enriquecer o meu conhecimento numa área no qual tenho gosto em aprender. Um muito obrigado.

À Professora Doutora Natália Pimenta Monteiro, não só por ter aceitado ser minha orientadora neste projeto, mas por todo o apoio e rigor que me incutiu. Não foi um percurso fácil, em alturas onde a dúvida e a frustração surgiam, sempre me incentivou a nunca desistir. Foi e é uma peça fundamental para a conclusão desta dissertação, e por esse motivo lhe estou imensamente grato.

Quero agradecer aos meus pais, Maria Celina Sousa e José Luís Sousa, que apesar da ausência física sempre se demonstraram orgulhosos do meu percurso académico. Além disso quero agradecer pelos valores que me incutiram. Sempre me ensinaram a lutar por tudo na vida, e foram exemplos de perseverança.

Ao meu braço direito, o meu irmão Luís Miguel Sousa, o meu obrigado. Sempre foi um motivo de admiração, não só pela inteligência que possui, mas também por ter me acompanhado a minha vida toda. Foi uma peça fundamental para que este meu percurso académico.

A Lia Vitória Abreu, Daniella Vieira, Joana Freitas, Luria Neves, Raquel Neves, Nicole Rodrigues, Sidónio Sousa, Ana Sousa, Robina Abreu, Fátima Barros, Alexandra Correia, Carlota Correia, Keegan Gouveia, Diogo Andrade, Catarina Garcia, Eduardo Medeiros, Marco António Freitas, Duarte Manuel Freitas, Dina Teles, Mary Margarett, Noélia Vieira, Leo Gouveia, Maria Abreu, Élvio Oliveira e a todas outras pessoas que me transmitiram positividade, e incentivo neste percurso, o meu muito obrigado.

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

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Impacto do processo de resolução do BES no Sistema bancário Português

Resumo

O estudo desenvolvido nesta dissertação consiste em avaliar os impactos que o processo de resolução do Banco Espírito Santo teve no sistema bancário português. Seguindo as diretrizes da obra “Caso BES – O Impacto da Resolução Na Economia Portuguesa” de José Esteves e Avelino de Jesus, e utilizando o Método Contrafactual Sintético (MCS), inicialmente criado por Abadie e Gardezabal (2003), que obteve a sua atual programação em Abadie, Diamond e Hainmueller (2010), foi estimado o produto bancário do BES num cenário onde este processo de resolução não ganhou vida. Para tal um produto bancário “sintético” foi criado de maneira a ser possível verificar como o processo de resolução afetou os resultados da instituição. Foi possível concluir que o processo de resolução causou efeito negativos nos resultados do produto bancário da instituição. A resolução causou uma redução de 91,7% do produto bancário da instituição (cerca de 759,9 milhões de euros) no ano de 2015, que devido a dimensão que a instituição tinha no setor nacional, tendo até a data sido considerado o maior banco privado português, os seus impactos afetaram a produtividade de todo o sistema nacional.

Palavra-Chave: BES, Método Contrafactual Sintético, Produto Bancário, Sistema Bancário Nacional.

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Impact of the BES resolution process on the Portuguese banking system Abstract

The study developed in this dissertation consists of evaluating the impacts that the resolution process of Banco Espírito Santo had on the Portuguese banking system. Following the guidelines of the work “Case BES - The Impact of Resolution on the Portuguese Economy” by José Esteves and Avelino de Jesus, and using the Synthetic Control Method (SCM), initially created by Abadie and Gardezabal (2003), which obtained its current programming in Abadie, Diamond and Hainmueller (2010), BES's banking product was estimated in a scenario where this resolution process did not come to life. For this purpose, a “synthetic” banking product was created to verify how the resolution process affected the institution's results. It was possible to conclude that the resolution process had a negative effect on the results of the institution's banking product. The resolution caused a 91.7% reduction in the institution's banking product (around 759.9 million euros) in 2015, which due to the size that the institution had in the national sector, having been considered the largest to date Portuguese private bank, its impacts affected the productivity of the entire national system.

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Índice Geral

Introdução ... 1

Enquadramento económico-financeiro ... 2

Os Efeitos da crise na Zona Euro ... 2

Resposta Europeia ... 4

Os Pilares da União Bancária ... 5

Planos de recuperação e intervenção antecipada ... 7

Em que se baseia o processo de resolução? ... 8

Instrumentos de Resolução e Enquadramento Jurídico ... 9

Processo de Resolução em Portugal ... 11

Medida de resolução aplicada ao Banco Espírito Santo, S. A ... 12

O Novo Banco ... 13

Metodologia ... 13

O método de contrafactual sintético para estudo de casos comparativos ... 13

O método de contrafactual sintético ... 14

Configuração e Implementação ... 14

Estimação ... 15

Inferência estatística ... 16

Atualizações à aplicabilidade do modelo de controlo sintético ... 18

Análise da utilização do método de controlo sintético para o estudo da variação do produto bancário do BES ... 20

Testes de qualidade no método controlo sintético ... 25

Testes de qualidade adicionais ... 27

Aplicabilidades diferenciadoras ao estudo original ... 31

Observação geral dos resultados ... 38

Conclusão ... 40

Bibliografia ... 42

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Índice de Quadros

Quadro 1 Matrix V ... 21

Quadro 2 Pesos das unidades de controlo ... 22

Quadro 3 RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético ... 23

Quadro 4 (resumo) - Diferenças Do Produto Bancário do BES Real e do BES Sintético (1000 milhões) ... 25

Quadro 5 Placebo no Espaço (no banco) ... 26

Quadro 6 Desvios pós-resolução ... 26

Quadro 7 (resumo) - Placebo no tempo (1ºS 2008) ... 27

Quadro 8 (resumo) – Placebo no tempo (1ºS 2009) ... 27

Quadro 9 Matriz V: Teste a introdução de valores desfasados ... 29

Quadro 10 (resumo)- RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético para valores desfasados ... 29

Quadro 11 (resumo) – Diferenças entre o BES Real e o BES sintético no pós-intervenção para os valores desfasados ... 30

Quadro 12 (resumo) - RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético na ausência das variáveis independentes ... 31

Quadro 13 Comparação das Matrizes V... 31

Quadro 14 Comparação dos pesos das unidades de controlo ... 32

Quadro 15 RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético com CT ... 32

Quadro 16 (resumo)- Diferenças Do Produto Bancário do BES Real e do BES Sintético com a introdução do CT (1000 milhões) ... 33

Quadro 17 Matriz V: Teste a introdução de valores desfasados ... 34

Quadro 18 (resumo)- RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético para valores desfasados ... 36

Quadro 19 (resumo) – Diferenças entre o BES Real e o BES sintético, com a utilização da variável CT, no pós-intervenção com a introdução dos valores desfasados ... 36

Quadro 20 Matrizes V (Extensão) ... 37

Quadro 21 Comparação dos pesos das unidades de controlo (Extensão) ... 37

Quadro 22 Diferenças Do Produto Bancário do BES Real e do BES Sintético (1000 milhões) (Tratamento Próprio) ... 45

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Quadro 23 Placebo no tempo (1ºS 2008) (Tratamento Próprio) ... 46 Quadro 24 Placebo no tempo (1ºS 2009) (Tratamento Próprio) ... 47 Quadro 25 RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético para valores desfasados

(Tratamento Próprio) ... 48 Quadro 26 Diferenças entre o BES Real e o BES sintético no pós-intervenção para os valores desfasados (Tratamento Próprio) ... 49 Quadro 27 RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético na ausência das variáveis

independentes (Tratamento Próprio) ... 51 Quadro 28 Diferenças no Produto Bancário do BES Real e do BES Sintético com a introdução do CT (1000 milhões) (Tratamento Próprio ... 53 Quadro 29 RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético para valores desfasados

(Tratamento Próprio) ... 54 Quadro 30 Diferenças entre o BES Real e o BES sintético, com a utilização da variável CT, no pós-intervenção com a introdução dos valores desfasados ... 55 Quadro 31 Produto Bancário BES (Extensão) ... 57

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Índice de Gráficos

Gráfico 1 Resultados do Método de Controlo sintético (Esteves e Jesus, 2018) ... 24 Gráfico 2 Resultados do Método controlo sintético (Estudo Atual) ... 24 Gráfico 3 Resultados do Método controlo sintético, extensão ... 38

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÔNIMOS

EUA – Estados Unidos da América UM - União Monetária

BCE – Banco Central Europeu

FMI - Fundo Monetário Internacional PIB – Produto interno bruto

EU – União Europeia

FEF - Fórum de Estabilidade Financeira BIS - Bank for International Settlements

BRRD - Banking Recovery and Resolution Directive

UEM- União Económica e Monetária MUS - Mecanismo Único de Supervisão MUR- Mecanismo Único de Resolução CUR - Conselho Único de Resolução

SREP - Supervisory Review and Evaluation Process FUR - Fundo Único de Resolução

FOLTF - Failing Or Likely to Fail

ARN - Autoridades de Resolução Nacionais RESD - Regime Europeu de Seguro de Depósitos MIA - Medidas de Intervenção Antecipadas ABE - Autoridade Bancária Europeia

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Introdução

O sistema financeiro português passou por um conjunto de eventos fundamentais, que permitiram alcançar o seu nível de desenvolvimento atual. Eventos como o processo de liberalização financeira da economia portuguesa, que se iniciou com a abertura à iniciativa privada em meados da década de 1980, como a consagração do princípio de livre estabelecimento e prestação de serviços no espaço da União Europeia em 1992. Outros como a participação da economia portuguesa na área do euro em 1999, e uma série de eventos internacionais que levaram ao aumento dos processos tecnológicos que levou a uma expansão de toda a atividade bancária. Neste período os pesos dos ativos do setor bancário sobre o PIB sofreram um grande aumento. Em 1990 representavam cerca de 100% do PIB, aumentando para cerca de 300% entre 2009 e 2012. Contudo com o surgimento de toda a crise financeira, o setor necessitou de um Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) entre 2011 e 2014, de modo a salvaguardar a credibilidade do mesmo. Cinco anos após PAEF, começasse a sentir uma recuperação gradual da atividade económica, muito orientada por uma política monetária acomodatícia, que tem na base um ambiente de baixas taxas de juro (Esteves, et al, BdP 2019).

Devido a toda a conjuntura, e pela importância que o setor bancário tem na economia portuguesa, nesta dissertação procurei analisar o impacto que o processo de resolução do Banco Espírito Santo (BES) teve na produtividade do setor bancário português. Para tal, irei replicar o estudo de Esteves e Jesus (2018) de maneira a analisar as variações do produto bancário da instituição, em um cenário onde este processo de resolução não ocorreu. Além disso, serão realizadas três extensões: alteração as variáveis independentes, inclusão de três desfasamentos do produto bancário e uma expansão do período de análise.

Começo, primeiramente, por fazer um enquadramento económico e financeiro do setor a nível nacional, e ao nível Europeu. Abordando temáticas como a crise sofrida e a resposta europeia à mesma, onde faço salientar os procedimentos que as autoridades quer de supervisão, quer de resolução, realizam quando se trata da resolução de uma instituição financeira. Dando como exemplo o processo de resolução do BES, e como este surgi-o, e como deu lugar a criação do atual Novo Banco.

Após todo este enquadramento, procuro demonstrar em que se baseia o Método Contrafactual Sintético, onde apresento o processo metodológico e o raciocínio por detrás

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do mesmo. Uma vez exposta a metodologia, aplico-a ao caso de estudo seguindo em parte o estudo realizado por Esteves e Jesus (2018). Comparo os meus resultados com os obtidos pelos autores, e tento identificar tendências semelhantes nos mesmos. Por fim, procuro fazer uma extensão a aplicabilidade, onde introduzo valores desfasado ao modelo, e faço uma comparação entres os resultados sintáticos e os resultados reais até 2017 (utilizando valores do Produto Bancário do Novo Banco).

Enquadramento económico-financeiro

No final do século XX o sistema financeiro sofreu mudanças radicais que originaram uma fase de “boom” económico (Gentile e Giodano, 2013). Este foi um período marcado por grandes medidas de desregulamentação, que acompanhada com novas técnicas de inovação financeira, originaram um mercado complexo de instrumentos derivados. Com o complemento de políticas governamentais que facilitavam a concessão de crédito hipotecário, verificou-se uma aceleração no nível de preços no setor imobiliário que levou a criação de uma “bolha” especulativa nos EUA, que originou a conhecida crise do subprime. Esta crise rapidamente tomou proporções globais devido à alta interconexão que o setor apresentava, principalmente após a falência do Lehman Brother’s que em setembro de 2008.

Inúmeras intervenções fiscais foram realizadas pelos governos a nível mundial com o intuito de restaurar a estabilidade no sistema e nos mercados financeiros. Nos dias que correm é possível encontrarmos danos em muitas economias, que devido a crise financeira global, demonstraram uma falta de capacidade em lidar com um setor financeiro em dificuldades, para além de terem demonstrado graves deficiências nos instrumentos disponíveis para gerir instituições problemáticas, sem que a prestação de serviços financeiros (função essencial para o bom funcionamento da economia) fosse afetada.

Os Efeitos da crise na Zona Euro

Com o avanço da crise, os seus efeitos transmitiram-se para a economia real. Na Europa foram verificadas fragilidades em grandes instituições bancárias, muito devido a sua influência na divida soberana dos países pertencentes à União Europeia (UE). Múltiplos membros da zona euro foram na época incapazes de pagar ou refinanciar a sua dívida

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pública e/ou resgatar os seus bancos nacionais sem a assistência do BCE ou do Fundo Monetário Internacional (FMI). Durante esse período a Comissão Europeia concedeu cerca de 3.892,6 milhões de euros (29,8% do PIB da EU em 2013) como garantias sobre passivos

entre 2008 e 20141. Tornou-se evidente a fragilidade da união monetária em situação de

crise e a falta de instrumentos macroeconômicos para uma intervenção eficiente (Basileia III).

A falta de meios se fez salientar principalmente nos mecanismos de intervenção quando as

instituições alvo são consideradas instituições consideradas “too big to fail”2 , isto devido ao

seu potencial impacto sistêmico. Os reguladores tentaram então desenvolver novas políticas e uma maior regulamentação ao nível nacional e internacional. Em 2009, O Fórum de Estabilidade Financeira (FEF) deu a conhecer uma série de princípios fundamentais para a cooperação transfronteiriça no que diz respeito a gestão de crises. No ano seguinte o Bank for International Settlements (BIS) publicou uma série de recomendações com intuito de fortalecer a cooperação nas operações bancárias transfronteiriças, salientando a necessidade de apoio a disciplina de mercado, encorajando assim as instituições a concentrarem-se mais precisamente no risco financeiro de uma instituição e a prestação de

ajuda na luta contra o risco moral (moral harzert3) das instituições.

O FMI e o Banco Mundial copublicaram um relatório que abordou o quadro jurídico, institucional e regulamentar do processo de insolvência bancária. O novo quadro de ação Basileia III tem como objetivo regulamentar o modo como as instituições bancárias devem ser organizadas, e quais os instrumentos que devem ser criados para preservar a estabilidade do setor, de modo que uma instituição sistemicamente falida não apresente custos elevados para soberanos e contribuintes (Gromova-Schneider, World Bank 2017). De modo a fortalecer os padrões mínimos de resiliência, para que as instituições financeiras fiquem menos propensas a falhar, Basileia III tem como requisitos o aumento da qualidade e do nível de capital das instituições, a melhorias do capital de risco, a inclusão de um

1Henri Maurer and Patrick Grussenmeyer, ECB, Statistics Paper Series, Financial assistance measures in the euro area from 2008 to 2013: statistical framework and fiscal impact (2017);

2 É uma classificação que é dada a uma empresa cuja atividade é tão essencial para a economia, cujo “default” seria catastrófico;

3 “moral hazert” é uma situação em que uma das partes se envolve em situações de risco sabendo que está protegida contra esse mesmo

risco, arrastando a outra parte em relação ao custo. Este tipo de situação surge quando ambas as partes têm informações incompletas uma sobre a outra.

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requisito de rácio de alavancagem, a introdução de buffers de capital de modo a diminuir as várias fontes de risco sistêmico, redução do risco de liquidez através de rácios de cobertura de liquidez e de financiamento estável líquido e o melhoramento dos “modelos de securitização” (Gromova-Schneider, World Bank 2017).

Resposta Europeia

Devido a falta de instrumentos adequados que regulassem o processo de resolução de instituições financeiras, a União Europeia teve como objetivo a criação de métodos que permitem a resolução destas de modo que a preservar a estabilidade do sistema e da economia. Contudo o foco principalmente destes métodos passa por prevenir que os contribuintes tenham de ser, de alguma forma, obrigados a socorrer instituições problemáticas. Surgiu então a Diretiva de Recuperação e Resolução Bancária (do inglês:

Banking Recovery and Resolution Directive (BRRD)) que se tornou um dos pilares mais

importantes da União Bancária.

A BRRD foi criada como estrutura comum para o processo de resolução bancária para todos os Estados-Membros da EU. Estas medidas fornecem às autoridades poderes para realizarem planos futuros para o sector com o intuito de melhorar, preparar e resistir aos possíveis choques que este poderá sofrer. Isto para prevenir que a sua grandeza e complexidade não seja uma barreira. De modo geral, a BRRD possui quatro elementos-chave: i) a preparação e prevenção do processo de resolução através do planeamento da recuperação e da resolução; ii) a tomada de medidas intervencionais precoces a medida do supervisor; iii) a utilização de ferramentas e poderes de resolução para o caso de ocorrer uma falha bancária real; e por último iv) a cooperação e coordenação entre as autoridades nacionais (Anastasia Gromova-Schneider, World Bank 2017).

Durante todo este período de stress econômico global, o quadro institucional da UE demonstrou fraquezas em particular no quadro da União Económica e Monetária (UEM). Devido ao ciclo negativo na relação entre as dívidas soberanas e as dívidas bancárias, toda a política de resposta à crise financeira na UE, foi prejudicada. Para tal os Estados-Membros tentaram combater a fragilidade dos seus sistemas bancários através da utilização de instrumentos de política nacional, tentando preservar os seus próprios mercados (Pamela Lintner & Lira Qefalia, World Bank 2017). Estas medidas criaram um aumento do risco de

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fragmentação do mercado bancário da UE, prejudicando os serviços financeiros do mercado único e a eficácia das transmissões da política monetária para a economia real ao longo da

zona euro 4.

Durante este período a Comissão Europeia propôs múltiplas regras de modo a garantir um desempenho financeira mais seguro, sólido e estável na UE. Entre essas regras destacam-se o Single Rulebook e a BRRD que têm como objetivo a restauração da confiança no euro, e uma maior integração económica e fiscal no longo prazo (Pamela Lintner & Lira Qefalia, World Bank 2017).

Os Pilares da União Bancária

A União Bancária surgiu do acordo entre os Chefes de Estado e de Governo pertencentes a UE, tendo como objetivo a aplicação centralizada de regras destinadas a regular as instituições bancárias pertencentes à UE (Lintner and Qefalia, World Bank 2017). Esta União Bancária permitiu a aplicação apropriada da regulamentação europeia através da criação de poderes centralizados de supervisão e de resolução. Criou-se então um conjunto de instrumentos comuns de supervisão micro e macroprudencial, para além de uma série de diretrizes cujo foco é a gestão de possíveis crises e a resolução das instituições bancárias, sendo estas aplicáveis a todos os países pertencentes a zona euro. Estes instrumentos consistem em três pilares principais, o Mecanismo Único de Supervisão (MUS) sendo o BCE o supervisor supranacional centralizado, o Mecanismo Único de Resolução (MUR) com o Conselho Único de Resolução (CUR) como responsável pela gestão das instituições bancárias

em caso de falha, e um sistema europeu de garantia de depósitos (ainda não centralizado)5.

Mecanismo Único de Supervisão (MUS):

O MUS providencia uma supervisão prudencial às instituições financeiras pertencentes aos Estados-Membros, liderado, por sua vez, pelo BCE que atua em conjunto com as autoridades de supervisão nacionais. Estas autoridades de supervisão nacionais têm como foco a supervisão indireta, permanecendo assim responsáveis por casos “menos significativos”. Este mecanismo funciona através de equipas de supervisão comuns, potencializando uma cultura de supervisão comum, promovendo assim, práticas e abordagens supervisionais

4 Communication from the Commission – A Roadmap towards a Banking Union (COM/2012/0510 final);

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consistentes. Além disso, efetuam uma supervisão contínua em instituições bancárias significantes, utilizando para tal exames de supervisão, como o Processo de Revisão e Avaliação de Supervisão (SREPs, do inglês “Supervisory Review and Evaluation Process”), sendo também responsáveis pela coordenação das equipas de inspeção locais (BCE, 2014). Mecanismo Único de Resolução (MUR):

O MUR permite que todo o processo de resolução possa ser lidado de maneira que os seus efeitos negativos sejam minimizados, tentando por sua vez evitar consequências negativas para os contribuintes e para a restante economia europeia. Todo o processo de resolução bancária dentro da zona euro é orientado pelo Conselho Único de Resolução (CUR), tendo esta a responsabilidade de planear todo o processo, de aplicar devidamente os instrumentos de resolução, como também a responsabilidade de utilizar o Fundo Único de Resolução (FUR).

Este mecanismo, tal como o MUS, tem como foco todas as instituições bancárias pertencentes à zona euro, além de outras instituições transfronteiriças (Lintner and Qefalia, World Bank 2017). Na sua capacidade como supervisor único e também quando atua ao abrigo do MUR, o BCE tem a suas ações e poderes parcialmente dependentes das intervenções do MUR. Enquanto o BCE é a autoridade principal com poderes para decidir se uma instituição é considerada FOLTF (do inglês “Failing Or Likely to Fail”), cabe ao MUR dar início ao processo de resolução e avaliar se as condições para todo o processo são cumpridas.

O CUR poderá aplicar os seus próprios instrumentos e poderes ao abrigo do regulamento do MUR. As decisões tomadas pelo CUR referentes ao esquema de resolução que irá ser utilizado, são como regras direcionadas às Autoridades de Resolução Nacionais (ARN) que irão fazer com que sejam um reforço às leis nacionais já existentes (Lintner and Qefalia, World Bank 2017). Caso a ARN não cumpra as decisões tomadas pela CUR, este poderá fazer com que as decisões sejam direcionadas para as instituições sob resolução. No caso geral, as ARN pertencentes à zona euro são responsáveis pela resolução das instituições bancárias nacionais que não são abrangidas pela CUR (instituições de pequena dimensão que não necessitem do auxílio do FUR).

Regime Europeu de Seguro de Depósitos (RESD):

O RESD não é um regime baseado num sistema centralizado, ao contrário dos mecanismos anteriormente referidos. Este regime tem como objetivo assegurar depósitos até 100.000

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EUR por pessoa e por instituição bancária, tendo por base o conceito tradicional de harmonização de regras, podendo assim ser possível assegurar um determinado tipo de seguro (como o anteriormente descrito) para um contexto comum.

Apesar do atual papel do RESD, que foi adotado em 2015, este se encontra em negociações para que se transforme em um Fundo Europeu de Seguro de Depósitos, que por sua vez

teria a sua gestão feita pela CUR, e que se tornaria totalmente operacional em 20246.

Objetivo desta alteração, provém do objetivo de se criar um sistema centralizado de seguro de depósitos em toda a zona euro.

Planos de recuperação e intervenção antecipada

Planeamento da Recuperação para Reduzir o Impacto das Falha Bancárias:

Antes da possibilidade de adoção do BRRD, os reguladores de várias jurisdições como forma de resposta à crise, pediram as instituições bancárias que elaborassem um Plano de Recuperação. Embora apresentassem algumas divergências, de uma maneira geral foram realizados esforços para o combate da crise numa fase inicial, de modo a que a estabilidade financeira e a confiança no setor bancário não fossem gravemente prejudicadas (Emmeline van Heukelem, World Bank 2017).

Todos os planos de recuperação são elaborados pelas próprias instituições bancárias, ao contrário do planeamento do processo de resolução cuja autoria pertence às autoridades monetárias.

No seu Plano de Recuperação, a instituição bancária tenta estabelecer um conjunto de processos cujo objetivo é o monitorar os possíveis cenários negativos que a instituição poderia experienciar. Ao tentar prever esses diversos cenários (por exemplo: cenários onde todo o sistema se encontra em crise) a instituição assegura que poderia tomar medidas antecipadas de maneira a combater a deterioração da sua posição de capital, e/ou de liquidez, não afetado permanentemente as suas funções diárias (Heaukelem, world bank 2017). Apesar da elaboração deste tipo de plano seja uma tarefa árdua e intensiva em recursos, o feedback disponibilizado pelas instituições é de maneira geral positivo, tendo

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este ajudado a melhorar a gestão de crises bancárias se traduzindo em melhorias na

qualidade interna das instituições7.

Medidas de Intervenção Antecipadas (MIA):

As MIA fornecem à autoridade supervisora um conjunto de instrumentos eficazes que ajudam a prevenir falhas nas instituições bancárias (Freudenthaler, world bank 2017). Estes tipos de intervenções são mecanismos de defesa que dão poderes aos supervisores para poderem reagir aos possíveis problemas financeiros que possam vir a surgir, principalmente numa fase inicial. Assim são devidamente separadas as funções da supervisão e da resolução. A autoridade de resolução só exerce funções quando o fracasso de uma instituição representar um risco para o sistema financeiro (Freudenthaler, world bank 2017).

Em que se baseia o processo de resolução?

O planeamento do processo de resolução inicia-se através da viabilidade e credibilidade do processo de liquidação em situações normais de insolvência. O processo de liquidação é normalmente a regra, e a aplicação de instrumentos de resolução, a exceção (Merc, World Bank 2017). O processo de resolução só dá início caso o mesmo esteja em consonância com o interesse público, ou caso o encerramento da instituição trouxesse consequências

demasiado negativas para o sistema financeiro8. Verificando-se o oposto, a instituição

poderá ser considerada resolúvel através de liquidação. De acordo com os estudos da Autoridade Bancária Europeia (ABE), a maior parte das instituições bancárias, mas especificamente as instituições de menor dimensão que não apresentem elevados níveis de risco sistêmico, serão consideradas elegíveis para liquidação.

As autoridades de resolução baseiam as suas decisões através dos resultados provenientes da avaliação dos ativos e passivos da instituição bancária. Este tipo de avaliações permite que a autoridade exerça funções em consonância com os objetivos da resolução, principalmente no que diz respeito a redução dos riscos para o erário público, pois minimizam a dependência de apoio financeiro público extraordinário e previnem o contágio,

7 Ver EBA/RTS/2014/12 Final draft regulatory technical standards on the assessment of recovery plans under article 6(8) of Directive

2014/59/EU (BRRD);

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preservando assim os interesses das partes envolvidas e respeitando os direitos de propriedade dos acionistas afetados e credores (Huber, world bank 2017).

Existem três requisitos principais para que todo o processo de resolução possa iniciar-se. Em primeiro lugar deverá ser determinado que a instituição bancária se encontra em situação de incumprimento ou que muito provavelmente irá falir, isto é, ser uma instituição com designação FOLTF (do inglês “Failing or Likely to Fail”). De seguida, não poderá haver quaisquer dúvidas de que as medidas alternativas providenciadas pelo setor privado em nada impediriam o incumprimento da instituição. E por último, a ação de resolução deverá estar sempre em consonância com o interesse público (FreudentThaler and Lintner, world bank 2017).

Uma instituição será considerada FOLFT caso sejam verificados um de quatro pré-requisitos

legais9: i) A instituição viola os requerimentos para a autorização contínua na medida que

seria justificada a retirada da mesma autorização; ii) Os passivos excedem os ativos (balanço “insolvência”); iii) A instituição é incapaz de fazer frente as suas obrigações (não consegue pagar as suas dívidas conforme vencem, devido a iliquidez ou insolvência no “fluxo de caixa”; ou iv) Caso seja necessário apoio financeiro público extraordinário;

Instrumentos de Resolução e Enquadramento Jurídico

O instrumento de Resgate (Bail-in):

O método de Bail-in passa inicialmente por impor, legalmente, aos proprietários da instituição e seus credores, as perdas e responsabilidades de uma instituição falida durante o seu processo de insolvência (Jennings-Mares, World Bank 2017). Através da conversão das responsabilidades (passivo) em instrumentos de património comum, tal como uma ação, ou

através de writing down or writing off 10 do montante da responsabilidade, este método

servira para restaurar e manter as funções da instituição. Tentando assim proteger assim o erário público, quem o próprio sistema financeiro.

9 Ver EBA/GL/2015/07 Guidelines on the interpretation of the different circumstances when an institution shall be considered as failing or

likely to fail under Article 32(6) of Directive 2014/59/EU;

10 Estas são medidas utilizadas pelas instituições, sendo a primeira, Write-down, uma medida que faz diminuir o valor de um ativo de

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Venda do instrumento de negócio:

O mecanismo de venda do instrumento de negócio dá poder às autoridades de resolução para que a instituição, ou parte da sua atividade, seja posta a venda no mercado não sendo necessário, para tal, o consentimento dos acionistas. Ações e outros tipos de instrumentos financeiros emitidos pela instituição alvo de resolução, poderão ser adquiridos por um comprador. As receitas obtidas pelo ato de venda beneficiarão os acionistas da instituição

em resolução, ou então cobrirão os custos provenientes de todo o processo de resolução11.

As autoridades de resolução deverão dar início a este processo de maneira aberta, transparente e não discriminatória, tendo sempre como objetivo a maximização do preço de venda. (Lazcano, world bank 2017).

Instrumento “Bridge Bank”:

O método Banco Ponte (“Bridge Bank”) tem como função a preservação das funções críticas de uma instituição bancária em incumprimento, tentando para tal “ganhar” tempo (no período máximo de dois anos) até que um investidor privado adquire a totalidade, ou uma quota parte, da instituição ponte. Todos os instrumentos pertencentes à instituição que não foram devidamente vendidos, são por sua vez liquidados. Durante todo o processo de aplicação deste mecanismo, o Estado é o único acionista podendo permanecer como tal, até que a totalidade do capital social do banco seja adquirida por privados (Lazcano, World Bank 2017).

Todo este procedimento começa através de avaliação rigorosa dos ativos e passivos, para assim ser possível determinar as perdas reais e os seus valores reais. Este procedimento servirá para determinar a quantidade de capital necessária para a recapitalização da própria instituição. Contudo, será preciso ter em conta que o valor total dos passivos transferidos não deverá exceder o valor total dos direitos e dos ativos, que servirá como base para a recapitalização da instituição (Lazcano, World Bank 2017). Para garantir a transferência de um balanço ajustado, as perdas conhecidas deverão ser absorvidas via resgate interno ou

externo (emissão de divida)12. O processo de capitalização da instituição ponte dependerá

11 Ver EBA/GL/2015/04 Guidelines on the effectiveness of the sale of business tool on factual circumstances amounting to a material threat

to financial stability and on the elements related to the effectiveness of the sale of business tool under Article 30(4) of Directive 2014/59/EU;

12 Ver Directive 2013/36/EU on access to the activity of credit institutions and the prudential supervision of credit institutions and

(23)

dos requisitos mínimos de capital (definidos pelas autoridades), mas também dos requisitos adicionais de capital que se encontram, por sua vez, relacionados com a natureza específica da mesma. Já no que diz respeito a atividade diária da instituição, esta deverá atender aos requisitos de autorização e de supervisão (como qualquer outra), embora com possíveis isenções a curto prazo.

Caso a instituição ponte seja devidamente adquirida por privados, os recursos obtidos poderão ser utilizados para pagar aos acionistas da instituição, ser utilizados como forma de compensação à autoridade de resolução pelo trabalho exercido, ou serem utilizado num acordo de financiamento da resolução pelos custos incorridos. Se dentro de um período máximo de dois anos, nenhuma solução for encontrada no sector privado, a instituição ponte, ou os seus ativos, passivos, e direitos residuais, deverão ser devidamente liquidados através de processos normais de insolvência (Lazcano, World Bank 2017).

Processo de Resolução em Portugal

Quando uma instituição de crédito se depara com dificuldades financeiras, sendo estas complexas o suficiente para não serem encontradas forma de as resolver privadamente, encontram-se disponíveis no enquadramento regulamentar português quatro opções de intervenção: A aplicação de uma medida de resolução, que foram introduzidas no enquadramento jurídico nacional em 2012, a recapitalização com recurso a investimento público, cuja decisão sobre a realização desta operação e a definição dos seus termos e condições competem ao Ministro das Finanças (no entanto, comporta riscos para o erário público). A nacionalização, que em princípio permite conter as perturbações sistémicas associadas às dificuldades financeiras da instituição de crédito, pois evita qualquer situação de incumprimento (só poderá ser adotada pela Assembleia da República, sendo os custos da operação suportados única e exclusivamente pelo erário público). Por fim, temos a liquidação judicial, que significa a cessação imediata da atividade da instituição.

Estas medidas de resolução são instrumentos jurídicos ao dispor do BdP que lhe permitem intervir em instituições que estejam em situação de potencial ou efetivo desequilíbrio financeiro, com vista a salvaguardar a estabilidade do sistema financeiro e os interesses dos depositantes. As medidas de resolução podem ser de Alienação (parcial ou total) da

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atividade, ou a constituição de um ou mais banco de transição e transferência (parcial ou total) da atividade da instituição com problemas financeiros para esse(s) novos(s) bancos(s).

Medida de resolução aplicada ao Banco Espírito Santo, S. A

No dia 30 de julho, devido a prática de atos de gestão gravemente prejudiciais aos interesses do banco, o BES anunciou prejuízos de cerca 3,577 mil milhões de euros, ultrapassando claramente quaisquer resultados até a data. Para além destas circunstâncias, as determinações do BdP que proibiam o aumento da exposição a outras entidades do grupo foram violadas. Este ato, traduziu-se num prejuízo adicional na ordem de 1,5 mil milhões de euros face ao expectável na sequência da comunicação do BES ao mercado datada de 10 de julho.

Esta situação originou múltiplas consequências, colocou o BES numa posição de incumprimento dos rácios mínimos de solvabilidade em vigor, determinou uma decisão de suspensão do acesso pelo banco a operações de política monetária, gerou uma crescente pressão sobre a tesouraria do BES, agravou a perceção pública do banco, que conduziu à suspensão das transações na tarde de 1 de agosto, com risco de contaminar a confiança das restantes instituições do sistema bancário português. Por fim, agravou a incerteza relativamente ao balanço do BES, inviabilizando uma solução de capitalização privada num curto espaço de tempo.

Toda a situação acima descrita fez com que a intervenção do BdP fosse inevitável e inadiável. Para tal, o BdP decidiu aplicar ao BES uma medida de resolução que consistiu na transferência da generalidade da sua atividade para um banco de transição, o Novo Banco, criado especialmente para o efeito. A medida em específico foi tomada com vista a minimizar a deterioração de valor da instituição, assegurar a proteção dos depósitos de particulares e de empresas no BES, assegurar a proteção dos créditos concedidos pelo banco, além de outros ativos, salvaguardar a continuidade dos serviços financeiros prestados pelo banco aos seus clientes e ao público, preservar a estabilidade e a confiança no sistema financeiro nacional, e salvaguardar os interesses dos contribuintes e do erário público.

(25)

O Novo Banco

O Novo Banco foi construído por deliberação do Conselho de Administração do BdP, a 3 de agosto de 2014, na sequência da aplicação pelo BdP de uma medida de resolução ao BES (como descrito em cima). Nos termos da medida de resolução foram transferidos para o

Novo Banco, os ativos, passivos e os elementos extrapatrimoniais do BES.

Apesar de inicialmente ter sido um banco de transição, o Novo Banco pode exercer todas as atividades permitidas aos bancos, no quadro do mandato de gestão determinado pelo BdP. O capital social do Novo Banco era inicialmente subscrito pelo Fundo de Resolução, contudo a 18 de outubro de 2017, o processo de venda do Novo Banco acabou, tendo sido adquiridos pela sociedade Nani Holdings, S.G.P.S., S.A. (entidade detida indiretamente por fundos de investimento geridos pelo grupo Lone Star) 75% do capital social (os restantes 25% ainda pertencem ao Fundo de Resolução). Após a conclusão da operação, cessou a aplicação ao Novo Banco do regime das transições de transição, passando a operar em total normalidade ainda que sujeito a algumas medidas limitativas à sua atividade impostas pela autoridade da concorrência europeia.

Metodologia

O método de contrafactual sintético para estudo de casos comparativos

A metodologia que irei demonstrar de seguida surgiu da necessidade em se conseguir medir efeitos causados por um determinado evento, num cenário onde as possíveis unidades de comparação são poucas. Normalmente, de maneira a se avaliar o impacto de um determinado evento de interesse, recorre-se a aplicação de métodos de casos comparativos. Estes estudos são viáveis em situações em que o evento que estamos a avaliar só afeta uma unidade de dentre todas as unidades suscetíveis à serem afetadas (Abadie, et al. 2010). Contudo num cenário em que temos poucas unidades suscetíveis a serem afetadas pelo evento de interesse, os modelos de comparação mais tradicionais apresentam dificuldade em conseguirem avaliar os efeitos desse mesmo evento. Uma vez que têm como critério fundamental a aleatoriedade amostral, necessitando para tal, de um elevando número de

(26)

unidades suscetíveis a serem afetadas, essa dificuldade não permite a avaliação em casos mais restritos (Abadie et al. 2010).

De modo a poder ultrapassar esta dificuldade, Abadie e Gardeazabal (2003) criaram o Método Contrafactual Sintético (MCS) que permite aplicar métodos de análise comparativa em situações que o grupo de unidades utilizadas para o estudo é reduzido, para além de ser permitido a escolha não imparcial dessas unidades.

O método de contrafactual sintético

No MCS as unidades avaliadas são entidades agregadas, como tal, e de maneira que os resultados apresentem maior qualidade, será criado um “controlo sintético”, proveniente da combinação de possíveis unidades de comparação, que reproduza as características da unidade afetada pelo evento de interesse. Por este motivo, a unidade de comparação no método de controlo sintético é selecionada através de uma média ponderada de todas as unidades de controlo que melhor se assemelham às características da unidade intervencionada, antes da ocorrência do evento de interesse. Caso tenhamos o grupo de comparação com observações muito distintas daquelas observadas para a unidade intervencionada, uma série de complicações poderão ocorrer durante a implementação do estudo. O que se pretende é uma seleção das unidades de controlo baseada em dados, que servirão de “matéria-prima” para a formação do controlo sintético. O que irá nos permitir saber quanto é que uma unidade irá contribuir para a formação do controlo sintético.

Configuração e Implementação

Supondo que são observadas 𝐽 + 1 unidades durante os períodos 1,2, . . , 𝑇. A unidade “um” é a unidade exposta a intervenção de interesse (a unidade “intervencionada”) durante os

períodos 𝑇0+ 1, … , 𝑇. As restantes 𝐽 unidades são um conjunto de potenciais unidades de

controlo (o “grupo de dadores”).

Sendo 𝑌𝑖𝑡𝑁 o efeito que seria observado para a unidade 𝑖 ao tempo 𝑡 na ausência da

intervenção, e 𝑌𝑖𝑡𝐼 o efeito observado que ocorreria caso a unidade 𝑖 ao tempo 𝑡 tivesse sido

exposta a intervenção nos períodos 𝑇0 + 1 𝑎𝑡é 𝑇. Procuramos por esta via estimar o efeito

(27)

𝛼1 𝑡 = 𝑌1𝑡𝐼 − 𝑌1𝑡𝑁 = 𝑌1𝑡− 𝑌1𝑡𝑁

para 𝑡 > 𝑇0, e 𝑌1𝑡 como o efeito observado para a unidade ao tempo 𝑡.

Sendo 𝑊 um vetor (𝐽 × 1) de pesos positivos e de soma um ( 𝑊 = (𝑤2, … , 𝑤𝐽+1)

com 𝑤𝑗 ≥

0 para 𝑗 = 2, … , 𝐽 + 1 e 𝑤2+ ⋯ + 𝑤𝐽+1= 1). Cada valor de 𝑊 representa uma média

ponderada das unidades de controlo disponíveis, isto é, um potencial controlo sintético.

Sendo 𝑋1 um vetor (𝑘 × 1) de características da unidade intervencionada para o período

pré-intervenção. Semelhantemente, 𝑋0 é uma matriz (𝑘 × 𝐽) que contém as mesmas

características para as unidades não afetadas.

O vetor 𝑊∗ = (𝑤2∗, … , 𝑤𝐽+1∗ )′ é escolhido de forma a minimizar a distância entre 𝑋1 e 𝑋0𝑊

, ∥ 𝑋1− 𝑋0𝑊 ∥, que, por sua vez, se encontra sujeito a restrições de peso. Por outras

palavras, 𝑊∗é escolhido de forma a minimizar as discrepâncias entre as características da

unidade intervencionada e as características do controlo sintético. Para cada valor de 𝑊∗é

definido um controlo sintético, e iremos escolher aquele que mais se assemelha às características da unidade intervencionada.

Sendo 𝑌𝑗𝑡 o valor do efeito observado para a unidade 𝑗 ao tempo 𝑡. Para um período

pós-intervenção 𝑡 (com 𝑡 ≥ 𝑇0) o estimador do controlo sintético é:

𝛼̂1𝑡 = 𝑌1𝑡− ∑

𝐽+1

𝑗=2

𝑤𝑗∗𝑌𝑗𝑡.

Estimação

Com o intuito de reproduzir o contrafactual 𝑌1𝑡𝑁 para 𝑡 > 𝑇0 queremos encontrar a

combinação de unidades não intervencionadas que melhor se assemelham a unidade intervencionada antes da intervenção em termos de valor de covariâncias relevantes 𝑘 (variáveis independentes do efeito de interesse observado).

É Considerado que ∥ 𝑋1− 𝑋0𝑊 ∥= √(𝑋1− 𝑋0𝑊)′𝑉(𝑋1− 𝑋0𝑊) (com objetivo de

minimizar a discrepância entre a unidade intervencionada e o controlo sintético), onde 𝑉 é uma matrix (𝑘 × 𝑘) simétrica e positiva. Tipicamente, 𝑉 é diagonal, com diagonal principal

(28)

𝑣1, … , 𝑣𝑘 . Os elementos dessa diagonal são ponderadores nos quais refletem a importância

das características presentes em 𝑋1 e 𝑋0.

Sendo 𝑋𝑗𝑚 o valor da m-ésima covariância para a unidade j, portanto os ponderadores do

controlo sintético 𝑤2∗, … , 𝑤𝐽+1∗ minimizam:

∑𝑘𝑚=1 𝑣𝑚(𝑋1𝑚− ∑𝐽+1𝑗=2 𝑤𝑗𝑋𝑚)2 ,

Onde 𝑣𝑚 é um ponderador que reflete a importância relativa que atribuímos a m-ésima

variável quando é medida a discrepância entre a unidade intervencionada e o controlo sintético.

Para reduzir viés de interpolação, é necessário restringir o grupo de dadores a unidades com

características 𝑋𝑗 semelhantes a 𝑋1. Poderão também ser incluídos termos de penalidade

para discrepâncias nas covariâncias na função objetiva:

∥ 𝑋1− 𝑋0𝑊 ∥ + ∑

𝐽

𝑗=2

𝜙(𝑊𝑗, ∥ 𝑋𝑗− 𝑋1∥),

Para uma função 𝜙(. , . ) positiva e não decrescente. Contudo estas penalidades não iram ser aplicadas no presente estudo.

A escolha de 𝑉 é importante, pois 𝑊∗ se encontra dependente de sua escolha. O controlo

sintético 𝑊∗(𝑉) tem como objetivo a reprodução do comportamento da variável

independente para a unidade intervencionada na ausência da intervenção, portanto, os

pesos 𝑣1, … , 𝑣𝑘 devem refletir o valor de previsão das covariâncias.

Todo este processo é, por sua vez, automático. Uma vez definida a base de dados, e esta ser devidamente formatada, ao utilizar o comando devido, todo um output será criado

fornecendo ao investigador um conjunto de informações possíveis de serem avaliadas13.

Inferência estatística

Durante a implementação do MCS é nos fornecido um indicador que mede os erros de previsão encontrado no ajustamento. O RMSPE, a raiz quadrada da média do quadrado dos erros de previsão (do inglês: “Root Mean Squared Prediction Error”) avalia assim as diferenças dos valores da variável dependente encontradas entre a unidade real e a unidade sintética.

(29)

𝑅𝑀𝑆𝑃𝐸𝑗 ≔∑ (𝑌𝑗,𝑡− 𝑌𝑗,𝑡 𝑁 ̂ )2/(𝑇 − 𝑇0) 𝑇 𝑡=𝑇𝑜+1 ∑ (𝑌𝑗,𝑡− 𝑌̂ )𝑗,𝑡𝑁 2/𝑇 0 𝑇0 𝑡=1

É nos possível avaliar o RMSPE em dois períodos, no período de pré intervenção e no período pós intervenção. De maneira que o ajustamento tenha qualidade, e como o objetivo é estimar um controlo sintético que melhor se assemelhe à unidade intervencionada no período de pré intervenção, é esperado que o RMSPE obtido para o período de pré intervenção seja baixo quando comparado com o RMSPE obtido no período de pós intervenção. Podemos averiguar esta situação através de um rácio de RMSPE que irá avaliar o impacto que o evento de interesse teve. É imposta uma condição fundamental na avaliação dos resultados, o rácio obtido tem de apresentar um valor significativamente superior a 1 de modo a consideramos os impactos do evento significantes.

𝑅á𝑐𝑖𝑜 𝑅𝑀𝑆𝑃𝐸 = 𝑅𝑀𝑆𝑃𝐸𝑃ó𝑠

𝑅𝑀𝑆𝑃𝐸𝑃𝑟é > 1

O MCS fornece, para além dos anteriormente referenciados, um conjunto de testes adicionais que permitem avaliar a qualidade de todo o ajustamento. Estes testes adicionais são denominados “estudos de placebo”, que permitem considerar se o efeito estimado resultou, ou não, do evento de interesse. Para tal, são realizadas estimações em cenários “falsos” onde são avaliados individualmente de modo a serem posteriormente comparados com os resultados de interesse. Os resultados “falsos” obtidos (resultados de Placebo) não poderão ter grandeza igual ou superior, aos resultados de interesse (Abadie, Diamond and Hainmueller, 2015).

Umas das aplicabilidades destes estudos baseia-se na avaliação dos resultados estimados quando as estimações ocorrem em datas distintas daquela verificada para o caso de interesse (Heckman and Hotz 1989). Estes estudos são denominados “placebos no tempo” (in-time placebos) e consistem em aplicar o método a unidade intervencionada em situações artificialmente construídas. Supondo que intervenção ocorreu em datas distintas da intervenção real, os efeitos verificados nessas datas fictícias não poderão apresentar grandeza igual ou superior quando, por sua vez, são comparados com os resultados à data real. Toda a estimação seria posta em casa caso verificássemos esse acontecimento.

(30)

Outra aplicabilidade consiste em atribuir a intervenção não no tempo, mas no espaço. Estes testes designados de “placebo no espaço” (in-space placebos), consistem em avaliar o efeito do evento de interesse quando as unidades avaliadas são aquelas pertencentes ao grupo de

doadores. Considerado cada uma das unidades doadoras como unidades

“intervencionadas”, os resultados de cada uma das estimações realizadas não poderão ter a mesma proporção, quando comparado com os resultados da unidade que queremos avaliar. Tal como nas estatísticas inferenciais tradicionais, uma comparação quantitativa entre a distribuição dos efeitos e placebo e o controlo sintético estimado poderá ser operacionalizada através do uso de p-values. Neste contexto, o p-value poderá ser construído estimando os efeitos de placebo no espaço para cada uma das unidades da amostra, e posteriormente calcular a fração dos efeitos iguais ou superiores, em comparação ao efeito verificado para a unidade de interesse:

𝑝 ∶= ∑ 𝟙

𝐽+1

𝑗=1 [𝑅𝑀𝑆𝑃𝐸𝑗 ≥ 𝑅𝑀𝑆𝑃𝐸1]

𝐽 + 1 ,

sendo 𝟙 o indicador do evento, que rejeita a hipótese nula de nenhum efeito caso o p-value for menor que um determinado nível de significância. Contudo na ausência de aleatoriedade, o p-value continua a ser interpretado como a probabilidade de se obter uma estimação pelo menos tão grande quanto a obtida para a unidade que representa o caso de interesse, quando a intervenção é direcionada aleatoriamente pela base de dados. Por exemplo, suponhamos que o p-value obtido é 0,1, e obtivemos um RMSPE elevado. Poderemos então referir que a probabilidade do RMSPE elevado, ser devido ao evento de interesse, e não ao acaso, é de 90% (1-0,1 = 0,9) (Esteves e Jesus, 2018).

Atualizações à aplicabilidade do modelo de controlo sintético

Desde da sua primeira aplicação em Abadie and Gardeazabal (2003), o método de controlo sintético tem vindo a ser utilizado em múltiplos estudos, por diversos investigadores. Contudo, e devido a ser um modelo relativamente recente, algumas críticas acerca da aplicabilidade do modelo têm surgido, onde os investigadores tentam apresentar correções ou mesmo novas versões deste método.

Em Abadie et al (2015) os autores alertam para o facto de que a utilização de uma combinação linear de pesos (W) positivos, com coeficientes compreendidos no intervalo de

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[0, 1], cuja soma é igual a 1 na construção do controlo sintético (critério fundamental no MCS), é algo pouco comum. De maneira a permitirem um pouco de extrapolação, os autores permitem que o modelo avalie coeficientes fora do intervalo [0, 1]. Os autores demonstram que que apesar destes coeficientes apresentaram valores fora do intervalo, podendo serem negativos, ou mesmo superiores a 1, a sua soma continuará a ser igual a 1, uma vez que a regressão linear irá extrapolar além das unidades de comparação existentes, fazendo com

que o critério, soma igual a 1, seja cumprido14.

Em Gaul e McClelland (2017) os autores examinam em que medida a introdução de valores desfasados na estimação poderá afetar toda a análise do MCS. No estudo realizado por Abadie, Diamond e Hainmueller (2015), os autores incluíram três valores desfasados ao estudo realizado, sendo estes os valores observados da variável dependente em três anos distintos. Gaul e McClelland compararam os valores utilizados por ADH (Abadie, Diamond e Hainmueller) com uma combinação valores desfasados por eles selecionados, que parte da utilização de um único valor desfasado como variável, e que acaba com a introdução de todos os valores desfasados possíveis como variáveis independentes. Além disso apresentam outras duas alternativas, a utilização de uma única variável desfasada que representa o valor médio observado da variável dependente para todo o período de pré-intervenção, ou a utilização de um só valor desfasado que representa o último período do período de pré intervenção. Os autores constataram que os resultados variavam notavelmente com as diferentes combinações de valores desfasados. A escolha dos valores desfasados influencia quais a unidades pertencentes ao grupo de doadores que irão contribuir na formação do controlo sintético.

Por fim, Gaul e McClelland (2017) examinam a importância das variáveis independentes. Para tal os autores removeram gradualmente as variáveis independentes, e ficaram exclusivamente com as variáveis desfasadas. Com a gradual remoção das variáveis independentes os autores observaram flutuações nos RMSPE do controlo sintético, que permitiu concluir que um modelo que utilize exclusivamente variáveis independentes, excluindo as possíveis variáveis desfasadas, criará um ajustamento mais precário. Contudo alertam para o facto de que as variáveis independentes deverão ser escolhidas de modo que a obtermos um RMSPE no período de pré intervenção reduzido.

(32)

Análise da utilização do método de controlo sintético para o estudo da variação do produto bancário do BES

No presente estudo de modo a aplicarmos todo o método de controlo sintético, e de maneira a interpretar os resultados obtidos, seguindo as diretrizes de Esteves e Jesus (2018), para além da normal aplicabilidade, serão realizadas extensões ao estudo, que servirão de complemento a análise já realizada. Contudo temos que considerar o seguinte cenário: será pretendido obter observações, que de alguma forma, seguirão uma tendência semelhante daquelas observadas no estudo de Esteves e Jesus (2018). Sendo tais tendências verificadas, será mais simples retirar conclusões quando aplicados testes de sensibilidade, alguns deles distintos daqueles que os autores realizaram, de maneira a diversificar o estudo apresentado. Isto assumindo que, numa situação em que o presente estudo se assemelhe ao estudo realizado por Esteves e Jesus (2018), é muito provável, que alterações nas tendências aquando a aplicação de testes de sensibilidade adicionais, poderão ser, por sua vez, traduzidas no estudo original no estudo dos autores.

Uma das medidas diferenciados ao trabalho feito por Esteves e Jesus (2018), será considerada a variável crédito total como variável independente de modo a se verificar a sua influência no nos resultados do produto bancário. Esta decisão teve com base na correlação

significativa que ambas apresentam (0,77015). Além desta diferenciação o período no

pós-resolução será alargado até 2017, de maneira a termos um enquadramento dos anos após resolução. Apesar da atividade do BES ter cessado nos períodos logo após a resolução, iremos utilizar os dados referentes ao Novo Banco (instituição criada através da resolução do

BES) para podermos ter uma visão mais alargada sobre os possíveis resultados16.

Utilizando então o produto bancário como variável dependente, as variáveis independentes escolhidas para o estudo foram as mesmas verificadas em Esteves e Jesus (2018): o ativo total, o capital próprio e as despesas com o pessoal. A escolha destas variáveis segundo os autores resultou “de um processo interativo que procurou chegar ao conjunto de variáveis independentes que otimizassem os resultados do modelo construído”. Também com base em índices de correlação os autores evidenciaram que estas variáveis independentes têm fortes relações com a variável dependente em causa, entre um mínimo de 0,616 e um

15 Ver Esteves e Jesus (2018).

16 A extensão do período no pós-resolução não irá pôr em causa a validade do modelo, pois esta é avaliada durante o período de

(33)

máximo de 0,881. Toda a análise toma lugar entre os anos 2001 e 2015, sendo as observações semestrais, 30 períodos no total, dos quais se encontram divididos em períodos de pré-intervenção (pré-resolução), de 1 até 27, e três períodos de pós-intervenção (pós-resolução), de 28 até 30. O método contrafactual sintético não invalida o estudo para um período de curta duração no período pós-intervenção. O período da intervenção utilizado para o modelo será o período mais próximo do anúncio do plano de resolução do BES, o segundo semestre de 2014.

As potenciais instituições que servirão para a formação do controlo sintético são todas aquelas que apresentam características mais próximas do BES. Estas são os seis maiores bancos não afetados: a CGD, BCP, Santander, BPI, Montepio e Crédito Agrícola. Estas instituições (as unidades de controlo) representaram em 2015 uma parte considerável do sistema bancário nacional, com cerca de 84,5% do produto bancário, 83,9% do ativo, e 82,1% do capital próprio (Esteves e Jesus, 2018).

Durante a aplicação do método contrafactual sintético, e como referido na descrição detalhada em cima, o método fornece um output que contêm a matriz V. Os valores presentes nesta matriz ditam a relação existente entre as variáveis independentes e a variável dependente, que serão a base da formação do controlo sintético. A seleção dos bancos dadores e as contribuições desses mesmos bancos na formação do controlo sintético dependerá dos valores dessa mesma matriz.

Quadro 1 Matrix V

Variáveis Ind.

Produto bancário (Trat. Próprio)

Ativo Total 0,4996

Capital

Próprio 0,1634

Desp. Pessoal 0,3370

Segundo a réplica realizada, o controlo sintético do produto bancário irá ser produzido, aproximadamente, através de 50% do ativo total, 16,3% do capital próprio, e 33,7% do custo com o pessoal. Através destes ponderadores, podemos averiguar que o ativo total entra com

(34)

uma maior contribuição para a formação do controlo sintético em relação as restantes variáveis independentes.

Depois de termos em conta a relação que cada variável independente possuí na formação do controlo sintético, averiguaremos as contribuições (𝑊) de cada banco, pertencente ao

grupo de controlo, para a formação do controlo sintético17. No estudo dos autores, a CGD e

o Santander são os bancos que contribuíram para a formação do BES sintético. Tendo a CGD com um peso de 48,3% e o Santander com 51,7% (Quadro 2).

Quadro 2 Pesos das unidades de controlo Pesos dos Bancos de Controlo

Bancos Pesos (𝑊) - Esteves e Jesus Pesos (𝑊) – Estudo Atual

BCP 0 0 BPI 0 0 Crédito Agrícola 0 0 CGD 0,483 0,509 Montepio 0 0 Santander 0,517 0,491

Contudo no atual estudo há uma ligeira diferença nos pesos das instituições de controlo. Apesar de serem a mesmas, a CGD é a instituição que mais contribui para a formação do BES sintético, com uma contribuição de 50,9%. Já o Santander contribui com 49,1%. A ligeira alteração aos valores dos bancos poderá estar relacionada com a diferenças nos valores presentes na base de dados utilizada para o estudo. Devido a ausência da base de dados detalhada utilizada em Esteves e Jesus (2018), foram utilizados os dados provenientes da Associação Portuguesa de Bancos (APB), referentes aos balanços e contas de demonstração de resultados consolidados, onde é fornecida informação referente a atividade do sistema bancário nacional.

O Quadro 3 mostra os valores dos RMSPE durante os períodos de pré e pós resolução, quer no estudo dos autores quer no atual estudo. Neste quadro é possível averiguar que para

17 Este é um processo automático que tem em consideração todas as unidades de controlo, e as seleciona de modo que o controlo sintético

(35)

ambos os casos, o RMSPE do período pré resolução é inferior ao RMSPE do período pós resolução. Contudo, convém relembrar que com base nas configurações do modelo, para uma melhor estimação é necessário que o RMSPE no período de pré intervenção seja o mais baixo possível, pois traduz-se numa maior aproximação entre o produto bancário sintético e o real no período anterior a resolução.

Quadro 3 RMSPE do Produto Bancário do BES Sintético

Esteves e Jesus (2018) Estudo Atual

Bancos RMSPE Pré RMSPE Pós Rácio RMSPE Pré RMSPE Pós Rácio

BES_NB 189727,8 313182,72 1,65 208005,2 381207,8 1,83

O rácio entre os RMSPE em ambos estudos é significativamente elevado, o que permite interpretar as diferenças entre os produtos bancários do BES real e do BES sintético como sendo resultado da resolução do banco. No Quadro 4 e nos Gráficos 1 e 2 são exibidos os resultados do MCS para o produto bancário, mostrando os valores do BES real e do BES sintético e as diferenças correspondentes para cada semestre.

Os valores do produto bancário referentes ao BES real e ao BES sintético no período pré-intervenção são relativamente próximos para ambos estudos. A diferença entre a média do produto bancário do BES real e do BES sintético no período de pré-intervenção para o estudo de Esteves e Jesus (2018) é cerca de 7,529 milhões de euros representando 0,8% do valor do BES (917,097 milhões de euros do BES e 909,568 milhões de euros do BES sintético). Por sua vez, no ano 2015 o BES real regista cerca de 828 milhões de euros contra 1560 milhões de euros do BES sintético, uma quebra de 732 milhões de euros, cerca de 88,4% do BES real. Como esperado, a diferença entre a média do produto bancário do BES Real e do BES sintético neste estudo é um pouco mais acentuada, cerca de 42 milhões de euros representando 4,58% do valor do BES (917,097 milhões de euros do BES e 875,072 milhões de euros do BES sintético). Já em 2015, o BES sintético apresenta um valor de 759,919 milhões de euros, cerca de 91,7% do valor do BES real.

(36)

Gráfico 1 Resultados do Método de Controlo sintético (Esteves e Jesus, 2018)

Gráfico 2 Resultados do Método controlo sintético (Estudo Atual)

0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000 1600000 1ºS 01 1ºS 02 1ºS 03 1ºS 04 1ºS 05 1ºS 06 1ºS 07 1ºS 08 1ºS 09 1ºS 10 1ºS 11 1ºS 12 1ºS 13 1ºS 14 1ºS 15 BES Real BES Sintético 0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000 1600000 1ºS 01 1ºS 02 1ºS 03 1ºS 04 1ºS 05 1ºS 06 1ºS 07 1ºS 08 1ºS 09 1ºS 10 1ºS 11 1ºS 12 1ºS 13 1ºS 14 1ºS 15 BES Real BES Sintético

Imagem

Gráfico 1 Resultados do Método de Controlo sintético (Esteves e Jesus, 2018)
Gráfico 3 Resultados do Método controlo sintético, extensão

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