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O O CONHECIMENTO JURÍDICO COMO RECURSO EMPRESARIAL SEGUNDO A TEORIA DO RESOURCE-BASED VIEW (RBV)

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Rev Cient da Fac Educ e Meio Ambiente: Revista da Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA, Ariquemes, v. 10, n. 2, p. 16-26, ago.-dez. 2019.

Artigo Original (Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo)

Paulo Roberto Meloni Monteiro-Bressan

Professor do curso de Direito na Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA. Pesquisador do Centro de Estudos Interdisciplinar em Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – CEDSA. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Rondônia. Advogado. E-mail: meloni.monteiro@gmail.com.

Hudson Carlos Avancini Persch

Professor do curso de Direito na Faculdade de Educação e Meio Ambiente- FAEMA. E-mail: hudsonpersch@hotmail.com.

Fernando Alves da Silva

Coordenador do curso de Administração na FANORTE. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Rondônia. E-mail: fernandoppga@gmail.com.

Leandra de Paula Maciel

Acadêmica do curso de Direito na Faculdade de Educação e Meio Ambiente -FAEMA. E-mail: leandramaciel09@outlook.com.

Resumo: O conhecimento é um recurso que vem ganhando espaço na Ciência da

Administração, no entanto este conhecimento acaba sendo direcionado para os modelos de gestão, para questões da atividade empresarial a que se propõe, enquanto o conhecimento jurídico é ignorado por muitos no meio empresarial. Este artigo tem como análise o conhecimento jurídico como um fator de vantagem competitiva sobre a perspectiva da Teoria da Visão Baseada em Recursos. Por meio de pesquisas documentais realizou a análise de conteúdo com abordagem qualitativa. A pesquisa demonstrou que há implicações empresarial no desconhecimento legal, gerando um custo operacional adicional a empresa, e concluiu que o conhecimento jurídico é um recurso que gera vantagem competitiva.

Palavras-chave:

Legislação. Visão Baseada em Recursos. Vantagem Competitiva.

O CONHECIMENTO JURÍDICO COMO

RECURSO EMPRESARIAL SEGUNDO A

TEORIA DO RESOURCE-BASED VIEW

(RBV)

LEGAL KNOWLEDGE AS A RESOURCE

ACCORDING TO THEORY RESOURCE-BASED

VIEW (RBV)

10.31072/rcf.v10i2.841

Submetido:

20 set. 2019.

Aprovado:

21 jan. 2020.

Publicado:

10 maio. 2020. E-mail para correspondência:

meloni.monteiro@gmail.com.

Este é um artigo de acesso aberto e distribuído sob os Termos da Creative Commons

Attribution License. A licença

permite o uso, a distribuição e a reprodução irrestrita, em qualquer meio, desde que creditado as fontes originais. Imagem: StockPhotos (Todos os direitos reservados).

Open Access

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Rev Cient da Fac Educ e Meio Ambiente: Revista da Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA, Ariquemes, v. 10, n. 2, p. 16-26, ago.-dez. 2019.

Abstract:

Knowledge is a resource that has been gaining ground in Management Science, however this knowledge ends up being directed to management models, to the business activity that it proposes, while legal knowledge is ignored by many in business. This paper analyzes legal knowledge as a factor of competitive advantage over the perspective of the Resource Based View Theory. Through documentary research conducted content analysis with qualitative approach. Research has shown that there are business implications for legal ignorance, leading to an additional operating cost for the business, and concluded that legal knowledge is a resource that generates competitive advantage.

Keywords: Legislation. Resource Based View. Competitive Advantage.

Introdução

A Ciência da Administração, para Gil (1), vem sendo cada vez mais desafiada a superar novos problemas decorrentes das mudanças ocorridas no mundo contemporâneo, transição que corresponde ao declínio da economia de base industrial e ao surgimento de uma nova ordem econômica, marcada por um novo recurso empresarial básico, que é o conhecimento. O presente artigo tem como escopo analisar a questão do conhecimento, em especial o jurídico, imposto pelo ordenamento jurídico, como recurso empresarial nos moldes da Teoria da Visão Baseada em Recursos (VBR).

O Brasil (2) emitiu o Decreto-Lei nº 4.657/1942 que prevê em seu artigo 3º que “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”, consagrando o princípio da obrigatoriedade da norma, este decreto impõe a necessidade do conhecimento jurídico a toda sociedade. Explica Tarture (3) que “ninguém pode deixar de cumprir a lei alegando não conhecê-la”, tecendo críticas a este dispositivo legal ao expor que “mesmo os aplicadores do Direito mais experientes não conhecem sequer 10% das leis em vigor em nosso país. O que dizer, então, do cidadão comum, que não estuda as leis?”, completando que este artigo perdeu aplicação prática, por falta de amparo e suporte social.

Discordando do fato que o artigo 3º perdeu sua aplicação, tem-se a necessidade de as pessoas, físicas ou jurídicas, terem conhecimento dos aspectos legais e utilizarem estes conhecimentos como um fator para o crescimento da organização, pois aqueles que desconhecem os conhecimentos jurídicos acabam em desvantagem empresarial. Por meio dos trabalhos de Birger Wernerfelt e Jay B. Barney, cita Gil (4), que se consolidou a Teoria do Resource-Based View, ou Teoria da Visão Baseada em Recursos, segundo a qual os recursos e as capacidades internas de uma empresa são a principal fonte de vantagem competitiva sobre outras empresas, nesta visão também pode-se incluir o conhecimento jurídico empresarial.

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Nesta teoria analisa, explica Gil (4) que, as empresas buscam competitividade conforme os seus recursos e as suas capacidades, de modo que alcançam a vantagem competitiva quando criam valor econômico, geralmente é em virtude da produção de bens ou serviços com maiores benefícios com o mesmo custo, ou quando há um custo menor em comparação com o de seus concorrentes. O conhecimento jurídico subsidia nas estratégicas empresariais e tomadas de decisões para que não haja condutas ilícitas, condutas que geram uma série de penalidades a empresa a exemplo das multas, custo este que os demais concorrentes não possuem.

Segundo Barney (5), os recursos empresariais incluem todos os ativos, capacidades, processos organizacionais, atributos da empresa, informação, conhecimento, entre outros, controlados por uma empresa que a permite conceber e implementar estratégias que melhorem sua eficiência e eficácia. Estes recursos, segundo o autor, estão classificados em recursos de capital físico, os recursos de capital humano e recursos de capital organizacional.

Para que um recurso seja relevante, Barney (5) aponta quatro atributos dos recursos valiosos: valor, raridade, imitabilidade, substituibilidade. Os recursos são valiosos quando permitem que uma empresa conceba ou implemente estratégias que impacte na sua eficiência e eficácia. Os recursos raros são aqueles que outras empresas não possuem e não consegue obtê-los facilmente. A imitabilidade consiste no fato de determinados recursos não serem controlados por empresas concorrentes e que não pode ser imitado. A substituibilidade está relacionada com o fato de não haver recursos estratégicos que possam ser utilizados pelos concorrentes ao implementarem as mesmas estratégias e que não há uma maneira diferente ou equivalentes de implementar tais estratégias.

De acordo com Barney (5), a concorrência de uma empresa deve ser analisada não se limitando apenas aos atuais concorrentes, mas também aqueles que em algum momento futuro possam se tornar um.

Cita Nascimentos e Lemos (6) que, na Gestão Socioambiental Estratégica há um compromisso contínuo com o socioambientalmente correto e com a criação de condições para melhorar a produtividade operacional quanto às opções de alocação de recursos e, principalmente, investir muito no conhecimento e no ser humano. Devendo, a organização, aprender a atuar frente a determinados desafios, como o

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do capital intelectual, por meio da capacidade de encontrar, assimilar, desenvolver, remunerar e manter os talentos.

Material e Métodos

A seguir apresenta-se na Tabela 01 um resumo dos procedimentos metodológicos seguidos neste estudo.

Tabela 01 - Resumo dos procedimentos metodológicos da pesquisa.

Tipo de pesquisa Definições Técnica de análise dos

dados

Quanto à

abordagem Quanto ao objetivo Pesquisa Fonte de Pesquisa

Qualitativa Exploratório-descritiva Revisão Bibliográfica Artigos e publicações científicas, livros, dissertação e tese Análise de conteúdo Documental Reportagens, Publicações em Diários da Justiça

Fonte: Elaborado pelos autores.

Buscou-se por meio de uma abordagem qualitativa, realizar uma pesquisa exploratória-descritiva para compreender o conhecimento jurídico como um fator diferencial no meio empresarial, descrevendo-o como um recurso identificado sob a ótica da Teoria da Visão baseada em Recursos.

Utilizou pesquisa documental em publicações jurídica, não científicas, visando identificar as situações que tiveram relação com o artigo 3º do Decreto-Lei nº 4.657/1942. Além das pesquisas na esfera jurídica, buscou-se identificar também notícias que citam o desconhecimento da sociedade no tocante as leis. Em relação à técnica de análise dos dados, utilizou-se o método de análise de conteúdo para interpretação de material textual identificado nos documentos pesquisados.

Resultados e Discussão

A Teoria do Resource-Based View (RBV) expõe que os recursos empresariais não se limitam apenas aos utilizados no processo produtivo, mas também se incluem os recursos intangíveis, como exemplo o conhecimento dos colaboradores que compõe as organizações. E ainda, conforme, Gil (1), estes recursos intangíveis, tornaram-se básicos e estão sendo evidenciados na nova ordem econômica.

Dentre os tipos de conhecimentos dos colaboradores, há o jurídico. Este ganhou espaço na sociedade com o artigo 3º do Decreto-Lei nº 4.657/1942 em que

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versa sobre o princípio da obrigatoriedade da norma, onde ninguém pode descumprir as leis sobre a alegação de desconhecê-la, e em caso de descumprimento são penalizados.

Na aplicação das penalidades por afronta ou descumprimento da legislação são impostas, independente do conhecimento jurídico dos envolvidos, pelos Entes e Órgão Público, ligados ao Poder Executivo, pois cabem a estes o dever de fiscalizar a sociedade. E eventuais discussões judiciais para anular tais penalidades não são frutíferas, devido ao Poder Judiciário estar mantendo as penalidades impostas. Assim, a empresa tem um custo com a penalidade imposta pelo Executivo e um custo pela judicialização, enquanto os concorrentes desta organização que detém o conhecimento jurídico não serão penalizados, evidenciando o conhecimento jurídico como um recurso a ser considerado nas estratégicas empresariais.

O posicionamento do Poder Judiciário brasileiro é pacificado no sentido de que se houve descumprimento de uma norma, os responsáveis devem arcar com as sanções legais, que na maioria das vezes é a aplicabilidade de uma multa. Diversos casos identificados nos Diários de Justiça Estaduais e Federal demonstram este posicionamento, que embora haja a alegação de desconhecimento da lei por meio do conhecimento, as penalidades são mantidas.

AUTO DE INFRAÇÃO E MULTA. AUSÊNCIA DE VACINA NO GADO NO PRAZO DETERMINADO EM LEI. ALEGAÇÃO DE DESCONHECIMENTO DA LEI. Alegação de desconhecimento da lei que não pode ser aceita. Trabalho do apelado. Disposição legal clara. Sentença modificada, para

julgar improcedentes os embargos. Recurso provido. (TJ-SP – APL:

994081622991 SP, Relator: José Luiz Germano, Data de Julgamento: 19/07/2010, 2ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 22/07/2010).

REPRESENTAÇÃO – DOAÇÃO IRREGULAR – ELEIÇÕES 2006 –

CAMPANHA POLÍTICA – PESSOA JURÍDICA – IMTEMPESTIVIDADE DA

REPRESENTAÇÃO – PRELIMINAR REJEITADA – ILICITUDE DA PROVA – DESCONHECIMENTO DA LEI – INESCUSABILIDADE – EMPRESA

INATIVA EM 2005 – INADMISSIBILIDADE DE DOAÇÃO PARA

CAMPANHA DE 2006 – CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE MULTA E À PROIBIÇÃO DE PARTICIPAR DE LICITAÇÕES E DE CONTRATAR COM

O PODER PÚBLICO – PROCEDÊNCIA DOPEDIDO. 1. O prazo

decadencial para propositura de representação por doação em excesso é o mesmo da legislatura a que concorreu o candidato beneficiário (Precedente: Acórdão TER/AC n. 1.765/2009 – Rel. Juiz Jair Facundes). 2. Considera-se lícito o documento objeto do cruzamento de dados entre a Receita Federal e a Justiça Eleitoral, quando destinado à averiguação de eventual ilicitude eleitoral e restrito aos valores dos rendimentos declarados em 2006, tendo por base o ano de 2005. 3. Nos termos no art. 3º da Lei de Introdução ao

Código Civil, ninguém pode alegar o desconhecimento da lei com o intuito de justificar conduta fraudulenta. 4. Em se tratando de empresa

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inativa no ano-calendário de 2005, conforme registros efetuados na Receita Federal, inadmissível a doação para a campanha de 2006, por faltar parâmetro para se aferir o limite do valor a ser doado, de acordo com a legislação, em relação ao rendimento bruto anual. Dessa forma, objetiva-se preservar a lisura do processo eleitoral e afastar eventual abuso do poder econômico. 5. Constatado o excesso de doação,

submete-se o réu às penalidades descritas no art. 81, §§ 2º e 3º, utilizando-se, como base de cálculo da sanção, o próprio valor doado, ante a inatividade da representada no ano-calendário 2005, por faltar o parâmetro – rendimento bruto – para aferição do limite legal de doação. 6.

Representação julgada procedente (TER-AC – REP: 3915 AC, Relator:

DENISE CASTELO BONFIM, Data de Publicação: DJE – Diário da Justiça

Eletrônico, Tomo 082, Data 12/5/2010, Página 02/03). (Grifo nosso).

Outro caso interessante, que merece ser destacado, é a venda de equipamentos de telecomunicações não certificados pela Anatel pela empresa Central da Informática, onde esta foi devidamente multada. A empresa buscou o Poder Judiciário para anular a multa, alegando que não era de telecomunicações e devido a isso não tinha como saber se os equipamentos que comercializava não podiam ser vendidos. O recurso judicial, no entanto, foi negado, mantendo a multa, com a justificativa de que “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. De acordo com o acórdão publicado no Diário de Justiça:

Nº - 55/2015-CD - Processo Nº - 53520.003862/2009 Conselheiro Relator: Rodrigo Zerbone Loureiro. Fórum Deliberativo: Reunião No - 769, de 12 de fevereiro de 2015. Recorrente/Interessado:

CENTRAL DA INFORMÁTICA LTDA. (CNPJ/MF No - 06.910.577/0001-17) EMENTA: RECURSO ADMINISTRATIVO. PADO. SUPERINTENDÊNCIA DE RADIOFREQUÊNCIA E FISCALIZAÇÃO. COMERCIALIZAÇÃO DE EQUIPAMENTO DE TELECOMUNICAÇÃO NÃO HOMOLOGADO PELA ANATEL. MULTA NO VALOR DE R$ 1.600,00 (UM MIL E SEISCENTOS REAIS). PELO CONHECIMENTO E NÃO PROVIMENTO DO RECURSO. 1. Aduz a empresa que não atua no ramo de telecomunicações e que desconhecia a necessidade de homologação dos equipamentos que comercializava. Alega que a infração é insignificante e a multa é desproporcional. 2. Alegações improcedentes ante a fiscalização i No - loco realizada, a qual constatou a comercialização dos equipamentos de telecomunicação não homologados pela Anatel. Não se trata de fatos insignificantes, como defende a Recorrente. 3. Ninguém se escusa de

cumprir a lei, alegando que não a conhece. 4. Comprovada a autoria e materialidade da infração e não havendo qualquer incongruência ou arbitrariedade na composição do cálculo que resultou na multa aplicada, entende-se que os argumentos trazidos em sede de Recurso não

se mostram hábeis a elidir as constatações dos autos e a infirmar a decisão recorrida. 5. Pelo conhecimento e não provimento do Recurso. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do Conselho Diretor da Anatel, por unanimidade, nos termos da Análise No - 27/2015-GCRZ, de 6 de fevereiro de 2015, integrante deste acórdão, conhecer do Recurso Administrativo interposto pela CENTRAL DA INFORMÁTICA LTDA., CNPJ/MF No - 06.910.577/0001-17, contra decisão

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exarada pelo Superintendente de Radiofrequência e Fiscalização por meio do Despacho No - 3.146, de 18 de abril de 2011, para, no mérito, negar-lhe provimento, mantendo-se, assim, os termos da decisão recorrida. Participaram da deliberação o Presidente João Batista de Rezende e os Conselheiros Rodrigo Zerbone Loureiro e Igor Vilas Boas de Freitas. Ausente o Conselheiro Marcelo Bechara de Souza Hobaika, em missão internacional oficial. Presidente do Conselho: João Batista de Rezende. (Grifo nosso).

Frente aos casos citados, o conhecimento jurídico deve ser considerado pelas empresas em razão do caráter sancionatório para aqueles que não cumprirem, e este cumprimento gera um diferencial competitivo, portanto, atender aos atributos: valor, raridade, imitabilidade e substituibilidade. Atributos que passaremos analisar individualmente.

Valor

Para o conhecimento jurídico ser um recurso valioso deve-se analisar como ele auxilia na implementação das estratégicas produzindo resultados tanto sob o prisma da eficiência quanto da eficácia.

Em sua obra, Gil (1) apresenta as mudanças que ocorreram nas organizações e expõe que “o capital humano passa a ser entendido como estratégia fundamental para enfrentar as transformações radicas. Não são apenas máquinas e equipamentos que se tornam obsoletos; os conhecimentos e habilidades também”. Completa o autor que “a capacidade de gerar novos conhecimentos e agregá-los ao processo produtivo é que se torna a grande vantagem competitiva”.

Nascimento, Lemos e Mello (6) apresentam a questão jurídica como uma variável importante do macroambiente, expondo que “esse ambiente influencia as estratégias organizacionais por meio de leis, regulamentações e pressões políticas”. Exemplifica os autores sobre as consequências do desconhecimento com o caso “de uma empresa brasileira que exportou produtos utilizando madeira nativa nas embalagens. Quando esses produtos chegaram ao porto de Rotterdam, não foram aceitos pelo importador, uma vez que a legislação local não permitia o uso de madeira nativa em embalagens. Isso implicou altos custos, decorrentes da troca das embalagens, do tempo de estocagem no porto e do frete de retorno da madeira nativa ao Brasil”.

Assim, tem a necessidade de mudança de foco dos colaboradores, explica Gil (1) que, os conhecimentos, habilidades e atitudes dos empregados devem fazer parte da cadeia de valor que a empresa está inserida.

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De modo que o intelecto profissional, explica Nascimento e Lemos (6), é o conhecimento cognitivo, as habilidades aprimoradas, a compreensão de sistemas e a criatividade automotivadora existente em pessoas-chave da organização.

Raridade

A raridade reflete quando algumas empresas possuem o recurso e outras não, e ainda considera a dificuldade de obtê-lo. Tartuce (3) afirma que mesmo os aplicadores do Direito mais experientes não conhecem sequer 10% das leis em vigor em nosso país, demonstrando que não é fácil ter um domínio do conhecimento jurídico no Brasil, fato este que deve ser considerado raro.

Algumas normas são mais difundidas na sociedade que outras, devidos as ênfases que a Imprensa coloca sobre elas ou sobre a incidência que determinada lei tem sobre os grupos sociais. Uma lei bem difundida na sociedade é as voltadas para a dignidade da pessoa humana, tem como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Gomes e Bunduky (7) apresentam o resultado de uma pesquisa realizada em 2010 em que 55% dos habitantes afirmaram nunca terem ouvido falar na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Detalha os autores que os maiores percentuais de desconhecimento dizem respeito a jovens - compreendidos aqueles que têm até 19 anos (66,5%) e os que têm de 20 a 29 anos (59,8%) – e aos maiores de 60 anos (56,4%), o que causa estranheza, já que os primeiros estão em fase de estudos e os últimos viveram em épocas próximas à adoção do documento (1948).

Conclui Gomes e Bunduky (7) que há uma alienação da população em relação aos direitos humanos e de qual seria o perigo de relativizá-los, apesar de o Estado Democrático ter sido conquistado à custa do sangue de muitos brasileiros. Tal alienação é fruto de uma educação precária, da difusão de informações tendenciosas e da falta de politização, fatores muito convenientes para aqueles que se mantêm, ou se revezam, no poder econômico e político do país.

Na esfera civil, há as relações de consumo em Lulio (8), que demonstrou que mais da metade da população brasileira desconhecem seus direitos, assim a pesquisa demonstrou que 67% dos brasileiros conhecem apenas um pouco ou não conhecem nada dos seus direitos enquanto consumidores, 26% afirmaram conhecer razoavelmente, enquanto apenas 7% conhecem muito bem.

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Luques e Litwak (9) demonstram uma pesquisa semelhante à de Lulio (8), que reforça que com o passar dos anos a sociedade não adquiriu o conhecimento jurídico.

Fonte: Luques e Litwak (9).

As pesquisas citadas demonstram como o conhecimento jurídico é escasso na sociedade, demonstrando ser um recurso empresarial raro.

Substituibilidade

Um conhecimento técnico-especializado dificulta a substitubilidade por decorrer do capital cultural de cada um dos colaboradores. Cita Bourdieu (10) que, “a acumulação de capital cultural exige uma incorporação que, enquanto pressupõe um trabalho de inculcação e de assimilação, custa tempo que deve ser investido pessoalmente pelo investidor (tal como o bronzeamento, essa incorporação não pode efetuar-se por procuração”, completa o autor que “aquele que o possui ‘pagou com sua própria pessoa’ e com aquilo que tem de mais pessoal, se tempo”.

Dessa forma, o conhecimento jurídico que cada indivíduo possui não é o mesmo, impedindo a substituibilidade desde recurso. Cita Nascimento e Lemos (6) que as organizações com maior habilidade de preservar o capital intelectual serão mais produtivas, bem como capazes de mudar, de atender às expectativas dos clientes e de ser mais competitivas que as concorrentes.

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Imitabilidade

Quando se analisa a imitabilidade de um recurso, pode ser visto sobre duas perspectivas. A primeira tem o funcionário com conhecimento jurídico que, por vínculo jurídico, em regra trabalhista, cede este conhecimento a empresa. Já numa segunda perspectiva, há empresas que prestam consultoria jurídica as empresas. No primeiro caso é o fator imitabilidade é preservado enquanto o colaborador não mudar de empresa, já no segundo caso haja a contratação da mesma consultoria haveria uma paridade entre as empresas.

Do mesmo modo que ocorre com o atributo substituibilidade, a imitabilidade está ligada a questão do capital cultural, que decorre de um longo processo de ensino-aprendizagem para se obter.

Conclusões

O conhecimento ficou evidente que se trata de um recurso empresarial que pode fazer a diferença dentro do ambiente empresarial e organizacional. O conhecimento, em especial o jurídico, tem todos os atributos exigidos sobre a perspectiva da Visão Baseada em Recursos, ainda foi identificado que ele gera uma vantagem competitiva.

Adverte Barney (5) que nem todos estes recursos são estrategicamente relevantes. A relevância dos recursos deve ser identificada pelos gestores e é neste ponto que as empresas falham, pois ignoram os conhecimentos jurídicos e cometem atos antijurídicos e com isso são penalizadas, tornando assim a sua atividade empresarial mais custosa, perdendo competividade, e podendo até ter suas atividades suspensas ou encerradas, conforme a gravidade do ato praticado.

O estudo demonstrou que há consequências para organizações que não buscam obter este recurso por meio de decisões judiciais que contestaram as ações fiscalizatórias do Poder Executivo. E diante da judicialização, houve a confirmação da aplicação das penalidades legais pelo descumprimento das normas vigentes, mesmo em caso de desconhecimento dos preceitos normativos.

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Referências

1 Gil AC. Gestão de Pessoas: Enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas; 2007.

2 Brasil. Decreto-Lei n] 4.657 de 4 de setembro de 1942. Dispões sobre a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial da União. 9 set 1942. 3 Tartuce F. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral. 15 ed. Rio de Janeiro: Forense; 2019.

4 Gil AC. Teoria Geral da Administração: dos clássicos à pós-modernidade. São Paulo: Atlas; 2016.

5 Barney J. Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management. 1991;17(1):99-120.

6 Nascimento LF, Lemos ADC, Mello MCA. Gestão Socioambiental Estratégica. Porto Alegre: Bookman; 2008.

7 Gomes LF, Bunduky MC. 55% da população brasileira nunca ouviu falar na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Revista Jus Navigandi. 2012:34(9). 8 Lulio M. 67% dos consumidores conhece pouco sobre seus direitos. São Paulo: Consumidos Moderno; 2018. [acesso em 2018 mar 16]. Disponível em:

https://www.consumidormoderno.com.br/2018/03/16/consumidores-conhecem-direitos/.

9 Luques I, Litwak P A. Brasileiro diz conhecer seus direitos, mas nível de reclamações é baixo. Rio de Janeiro: O Globo; 2016 [acesso em 2018 mar 15]. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/brasileiro-diz-conhecer-seus-direitos-mas-nivel-de-reclamacoes-baixo-18875885.

10 Bourdieu P. Escritos de Educação. 9 ed. Petrópolis: Vozes; 2007.

Imagem

Tabela 01 - Resumo dos procedimentos metodológicos da pesquisa.

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