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A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE PROFISSIONAL NO PLANEJAMENTO FAMILIAR

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Academic year: 2021

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Mário Antônio Sanches**, Valquíria Batista da Rocha***, Odirlei Arcangelo Lovo****

Resumo: o artigo apresenta a influência da atividade profissional no planejamento fa-miliar e é fruto de pesquisa com questionário validado em 863 participantes. A conclusão é que o emprego tem influência sobre o planejamento familiar. As dificuldades em conciliar atividade profissional e planejamento familiar já faziam parte da vida das gerações anteriores e novas gerações são mais impac-tadas por esta questão.

Palavras-chave: Família. Parentalidade. Planejamento familiar. Atividade profissional.

O

presente estudo no amplo contexto do planejamento familiar, aborda as ques-tões que analisam a influência da atividade profissional na escolha de ter filhos mais tarde e a sua relação com o planejamento familiar. O objetivo é mapear, no âmbito eclesial, a presença ou ausência de projeto de planejamento familiar em pessoas que já tiveram filhos e a sua relação com o trabalho.

A metodologia usada é a pesquisa de campo com aplicação de questionários e revisão narrativa sobre o assunto, mapeando as questões relacionadas ao conceito de família na atualidade. De modo que a questão que norteia este trabalho é: Qual o impacto da influência da atividade profissional na escolha de ter filhos mais tarde? As respostas a esta questão foram relacionadas com as categorias de gênero e idade dos entrevistados.

A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE

PROFISSIONAL NO PLANEJAMENTO

FAMILIAR*

–––––––––––––––––

* Recebido em: 15.01.2018. Aprovado em: 20.05.2018.

** Doutor em Teologia, pós-doutor em Bioética. Mestre em Antropologia. Professor na PUC/ PR. E-mail: m.sanches@pucpr.br

*** Bacharel em Teologia, mestranda em Bioética. E-mail: valquiria201161@hotmail.com. **** Doutorando em Teologia na PUC/PR, Mestre em Administração FEAD/MG. Graduado

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Ao tratar sobre o tema do planejamento da parentalidade é importante esclarecer o conceito de família que se tem atualmente, bem como apontar as mudanças que ocorreram desde o Código Civil de 1916. A transformação no conceito de família no Brasil perpassa, principalmente, o antigo Código Civil (1916), a Constituição Federal (1988), o atual Código Civil (2002), a Lei Maria da Penha (2006), e o Estatuto das Famílias (Projetos de 2013), além de outras leis e documentos. Observa-se uma ampliação do conceito legal de família, a saber: inicialmente a família era constituída a partir do vínculo do matrimônio em âmbito eclesial, posteriormente foi compreendida como a comunidade for-mada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. Por fim, importa questionar se o reconhecimento de família esgota-se nas relações constituídas de homem, mulher e filhos. Diante da necessidade de assegurar a cada indivíduo, dentro do modelo de família que ele constitui e no qual se sente inserido, a sua liberdade, igualdade e dignidade, fazem-se necessário uma constante atualização das leis que possam garantir e assegurar tais princípios a todos. João Paulo II (2004) acentua que “com a sua doutrina social, a igreja não persegue fins de estrutu-ração e organização da sociedade, mas de cobrança, orientação e formação das consciências” (DSI, 1981).

Com base nos dados do IBGE no senso de 2010 existem cinco tipos/modelos de famí-lias e cada uma delas com suas ramificações. São elas: Família Nuclear; Famí-lia Unipessoal; FamíFamí-lia Estendida; FamíFamí-lia Composta e União Estável. FamíFamí-lia nuclear é aquela composta por homem e mulher com ou sem os filhos. A fa-mília estendida identifica-se com a fafa-mília nuclear somados a outros parentes além da família nuclear, ou seja, acrescenta-se um ou mais parente a este lar. Família composta é a família nuclear e um não parente. Já a família unipessoal é aquela do indivíduo que mora sozinho; e famílias em união estável, inclui a relação de convivência estabelecida e duradoura entre dois cidadãos, e neste sentido inclui-se a família homoafetiva. De maneira simples menciona-se fa-mília como um conjunto de bens, direitos, obrigações e afetos de forma que os afetos tendem a serem mais fortes que as relações socioeconômicas, visto que o trabalho de uns contribuem efetivamente para o desenvolvimento e so-brevivência de outros. Pode-se observar que de alguma forma, fora da unidade familiar, alguns membros poderiam ter sérias dificuldades para sobreviver. Assim, observa-se que a instituição familiar sofreu intensas transformações na

socie-dade brasileira. Tal fenômeno pode ser associado, por exemplo, ao reconheci-mento da capacidade e dignidade plena da mulher, à regulamentação da união estável e das relações homoafetivas. De fato, é de se perceber que a possi-bilidade de se unir a uma pessoa não se faz sob a perspectiva da procriação, existem tantas outras formas de se unir em relações afetivas, todavia quando

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se enfatiza a capacidade de ter filho à capacidade de se manter unido pai, mãe e filho, preza-se pelo planejamento da parentalidade. Dado a estes o contorno de família nuclear, que com a devida participação dos membros desta família se colocam a administrar os bens, direitos, obrigações e afetos que os unem de forma que o pai/mãe subsidia os filhos até que se tornarem aptos ao trabalho. De alguma forma a sociedade espera que estes filhos também possam subsi-diar pai/mãe quando estes precisarem de ajuda diante do avançar da idade. No entanto, quando se analisa o conceito de família existe algo que é próprio de sua

função, de acordo com o que está na literatura os primeiros registros sobre a vida familiar são provenientes do Egito antigo. Nestes registros a família sur-ge com a necessidade de cuidar dos filhos. É importante a percepção de que houve transformação significativa no conceito de família sem perder de vista aquilo que é propriamente sua função. Sanches (2014, p. 18), faz uma abor-dagem sobre as novas configurações familiares ao apresentar o conceito de família e a família como contexto privilegiado da reprodução humana. No decorrer da história humana o ato de procriar é aceito cada vez mais por nascer de um dos impulsos mais fundamentais de preservar a espécie

Independente do seu modelo ou do arranjo, família é aquela que se abre ao desejo de preser-vação da vida. A possibilidade de viver plenamente a vida de duas pessoas e/ou de dar continuidade à vida humana em uma relação que se propõe a gerar uma nova vida, isso é fundamental porque “tudo é considerado a partir da pessoa e em vista da pessoa: ‘a única criatura que Deus quis por si mesma’” (DSI, 96). Diante desta realidade é louvável toda e qualquer disposição dos seres humanos em acolher, ajudar e elucidar a convivência de adultos e crianças em um ambiente que possa possibilitá-las a se desenvolverem diante do livre-arbítrio e dignidade da pessoa mesmo porque João Paulo II (2014) salienta que “a relação do homem com o mun-do é um elemento constitutivo da identidade humana. Trata-se de uma relação que nasce como fruto da relação, ainda mais profunda, do homem com Deus” (DSI, 452). Quando a procriação não é um ato consciente diz-se que não há o planeja-mento de parentalidade, mesmo sendo o fruto da potência de ter filhos, tão querido por Deus quanto ao concebido de um ato consciente de amor que arbitra uma nova vida ao mundo. Sanches et al (2015, p. 27) preconizam que:

[...] os projetos de parentalidade podem ter diferentes conteúdos e métodos, mas necessariamente demonstram um padrão ético diferenciado, pois exigem uma tomada de consciência dos processos que envolvem a reprodução humana, o que significa a superação do ‘ter filhos sem pensar o assunto’.

Assim é valido salientar que o planejamento da parentalidade se faz necessário diante de um cenário que tem por característica o desenvolvimento socioeconômico

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de um povo, de modo que quando se pensa só no desenvolvimento econô-mico, o humano tende a afastar-se da defesa da vida e por consequência das práticas e condutas que fortalece a unidade familiar. Por isso estudar a relação entre planejamento da parentalidade e o trabalho é investigar o modo como as pessoas legitimamente incluem as preocupações socioeconômicas no pla-nejamento de ter filhos, como também, questionar quando a excessiva preo-cupação com o econômico transforma a família em uma instituição fechada à procriação. Certamente deve ser respeitada na sociedade a decisão de alguns de não ter filhos, mas quando a motivação para tal se reduz aos aspectos socio-econômicos, surgem questionamentos que nascem da vocação da família em gerar e proteger a vida.

METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa exploratório-descritiva com abordagem qualitativa, desenvolvida pelo método de pesquisa transversal efetivada a partir da aplicação de ques-tionário intitulado “Planejamento da Parentalidade no Contexto da Bioética”. O instrumento de pesquisa consta de 56 questões relacionadas ao planeja-mento familiar e viabiliza identificar, entre outros eleplaneja-mentos, a influência da atividade profissional no planejamento da parentalidade. Neste artigo foram analisadas as questões relacionadas com a atividade profissional, a idade e o gênero do participante referentes ao momento da gravidez do primeiro filho, bem como se esta gravidez fora planejada ou não.

Deste modo esta pesquisa é parte de um projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-quisa da PUCPR com parecer: 770.977, de 27/08/2014, portanto, este trabalho é fruto de pesquisa de campo realizada com agentes de pastoral que exercem seu ministério em diferentes dioceses do Paraná, Sul do Brasil. Os participan-tes da pesquisa foram abordados por ocasião de eventos programados pelas próprias pastorais ou movimentos e o número de sujeitos da pesquisa – agen-tes entrevistados – foi de 960, com 863 questionários completos.

PERFIL DA AMOSTRA

Quanto ao perfil de gênero dos entrevistados, dos 863 participantes, 617 (71,5%) se identificaram como feminino, 239 (27,7%) como masculino e 7 não respon-deram.

Considerando a questão de idade (Tabela 1) pode-se observar que uma pequena parcela dos entrevistados (1,6%) está na faixa etária dos 18 a 25 anos, e 82,9% tem idade acima de 36 anos. Isto precisa também estar presente na interpretação dos dados, pois para a maioria dos entrevistados a gravidez do primeiro filho

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pode ter ocorrido há mais de vinte anos, isto indica que a pesquisa não reflete apenas a realidade atual, mas permite também um olhar retrospectivo.

Tabela 1: Idade atual do entrevistado

Alternativas do questionário Frequência Percentagem

Entre 18 e 25 14 1,6 Entre 26 e 35 101 11,7 Entre 36 e 45 297 34,4 Entre 46 e 60 317 36,7 Acima de 60 102 11.8 NR 32 3,7 Total 863 100,0 Fonte: Os autores (2017).

O número significativo de entrevistados, por outro lado, permite identificar tendên-cias que podem estar presente em outras amostras da população como um todo, além do contexto da pesquisa, específico da Igreja Católica. De qualquer modo, a análise dos dados precisa levar em consideração o perfil dos respon-dentes apresentados na Tabela 1.

A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE PROFISSIONAL NA ESCOLHA DE TER FILHOS MAIS TARDE

Para reconhecer que a atividade profissional é um direcionador na vida do ser humano, não é necessário muito esforço, ao olhar o cotidiano dos seres humanos se torna notório que a identidade do humano está de alguma forma conexa ao seu agir, “[...] o homem nasceu para trabalhar, como a ave para voar [...]” (QA, II, 1), “pois que é trabalhar, senão aplicar ou exercer as forças do corpo e do es-pírito nestas mesmas coisas ou por meio delas?” (QA, II, 3). Ressalta-se ainda que a atividade profissional tem possibilitado ou impossibilitado as pessoas de constituírem família e de serem reconhecidas socialmente como pessoas responsáveis ou não. O fato a ser observado é que: diante do cenário que se apresentam as dinâmicas do trabalho isso contribui para o desenvolvimento familiar, ou os filhos são um fardo a ser carregado na vida da pessoa que deseja ser um grande profissional no mercado de trabalho?

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Tabela 2: Atividade profissional influenciou na decisão de engravidar mais tarde

Alternativas do questionário Frequência Percentagem

Zero 606 70,2 1 27 3,1 2 45 5,2 3 58 6,7 4 100 11,6 NR 27 3,1 Total 863 100,0 Fonte: Os autores (2017).

Ao avaliar a questão que indaga sobre a influência da atividade profissional na escolha de ter filhos mais tarde, a pesquisa mostra (Tabela 2) que 11,6% dos entrevis-tados é fortemente influenciado a ter filhos após se estabelecer profissional-mente. Isso evidência que uma parcela significativa da sociedade clama por uma nova lógica na qual se possa conciliar trabalho, familia e possibilidade de ter filhos e que o atual cénario socioeconômico poderia impossibilitar al-gumas pessoas de formar familia e que tenha por objetivo o bem dos conjuges na geração da prole.

Diante dos dados há que se indagar: será que as pessoas que não se sentiram influen-ciadas pela atividade profissional a terem filhos mais tarde (70,2%), tiveram seus filhos com quantos anos? Ou ainda, a realidade socioeconômica destas pessoas as habilitavam a pensar o projeto de ter filhos sem se preocupar com as atividades profissionais? Ou ainda houve a superação do ter filhos ‘sem pensar o assunto’? Essa indagação sobre os dados se faz necessária porque ter filhos mais tarde pode ser já uma opção implícita das necessidades socioeconômicas. Somando aos índices das repostas com grau 4 e 3 chega-se a 18,3% de parti-cipantes indicando alto impacto da atividade profissional no planejamento de ter filhos ou não. Este aspecto se torna ainda mais relevante a partir dos dados intrínsecos desta mesma pesquisa que revela que 37,3% dos participantes as-sinalou a alternativa ‘zero’ para pergunta “Você planejou a gravidez do seu primeiro filho?” Neste contexto de alto índice de não planejamento familiar a percentagem acima que afirma ter adiado a gravidez por causa da atividade profissional se torna mais significativa, isso em se tratando de uma pesquisa com agentes pastorais da igreja.

Os dados apontam que, para uma boa percentagem da população, o planejamento fa-miliar exige uma reflexão prévia sobre as condições para o cuidado dos filhos e o bem da família. Esta realidade já estava presente no pensamento da Igreja, quando Paulo VI, (1968) reconhece que:

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Condições de trabalho e de habitação, do mesmo modo que as novas exigências, tanto no campo econômico como no da educação, não raro tornam hoje difícil man-ter convenientemente um número elevado de filhos (HV, 2).

Pensar nas formas de trabalho e o atual cenário socioeconômico sob a perspectiva de uma prosperidade participativa e compartilhada é, sim, pensar a economia sob a perspectiva da família. Nesta está implícita o planejamento da parentalidade, ou seja, pensar as condições e meios para que cada pessoa, segundo a própria consciência, possa se dispor a gerar os filhos e ter condições de estar presente com eles nas mais diversas situações que se possa ter.

A RELAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE PROFISSIONAL COM AS QUESTÕES DE GÊNERO

A Tabela 3 traz um refinamento sobre uma amostra dos 863 questionários, sendo ar-guidos agora sob o contexto de gênero, tendo em vista o perfil de gênero da amostra indiciado acima. O cruzamento de dados se faz necessário no sentido de mensurar qual o impacto da influência profissional na decisão de gerar fi-lhos mais tarde, para o homem e para a mulher e se há diferenças significativas na perspectiva de gênero.

Tabela 3: Tabulação cruzada: ‘Gênero’ com ‘Atividade profissional na decisão de en-gravidar mais tarde’

Identificação de gênero zero

Atividade profissional influenciou na decisão de

engravi-dar mais tarde Total

1 2 3 4 NR Feminino N. 427 22 34 37 76 21 617 % 69,2 3,6 5,5 6,0 12,3 3,4 100,0 Masculino N. 174 5 11 21 24 4 239 % 72,8 2,1 4,6 8,8 10,0 1,7 100,0 NR n. 5 0 0 0 0 2 7 % 71,4 0,0 0,0 0,0 0,0 28,6 100,0 Total N. 606 27 45 58 100 27 863 % 70,2 3,1 5,2 6,7 11,6 3,1 100,0 Fonte: Os autores (2017).

Os dados revelam que homens e mulheres são influenciados pela atividade profissional a ter filhos mais tarde, visto que 27,40% das mulheres e 25,50% dos homens sentiram-se impactados pela decisão de prolongar a idade de se ter o primeiro filho em prol da atividade profissional. Estes dados refletem a transformação do perfil do trabalho feminino, para Bruschini e Lombardi (2001):

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Tradicionalmente as mulheres tem se ocupado com o trabalho doméstico, atividades sem remuneração e produções para o consumo próprio e familiar. Porém, al-guns nichos femininos são continuadamente desafiados, onde inclui-se a En-fermagem e o Magistério. De outro lado, as mudanças apontam na direção de um pólo oposto, no qual ocorre a expansão da ocupação feminina em profis-sões de nível superior de prestígio, como a Medicina, a Arquitetura, o Direito e mesmo a Engenharia, áreas até há bem pouco tempo reservadas a profissionais do sexo masculino (BRUSCHINI; LOMBARDI, 2001, p. 98).

A percepção inicial da pesquisa era que a questão profissional teria maior impacto na vida das mulheres na hora de decidir adiar a gravidez. Porém, à medida que a pesquisa avançou os dados revelaram que os homens também são impactados por essa realidade, de ter filhos mais tarde em função da atividade profissional. Esta realidade pode ser percebida por meio da proximidade entre as percenta-gens (27,40%) para as mulheres e (25,50%) para os homens. É possível também que o planejamento da parentalidade ocorre na relação dos cônjuges, e que muitas das vezes a situação de trabalho de um dos cônjuges pode afetar direta-mente a decisão do outro sobre o ter filhos. De fato postergar o nascimento do primeiro filho pode ser feito em virtude da realidade de um dos cônjuges e não necessariamente da realidade de ambos. Um dos aspectos do planejamento fa-miliar altamente aceito e recomendado pelas sociedades seculares, bem como por líderes religiosos, é que o planejamento seja de fato consensuado, projeto de todos os envolvidos.

Destaca-se assim que este adiar os filhos pode ser visto como um autêntico exercício da parentalidade responsável, conforme salienta João Paulo II (2004),

Em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, a paternidade res-ponsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos gra-ves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento (DSI, 232).

Sendo assim, diante das realidades socioeconômicas, ter filhos pode não fazer parte da ordem natural da vida do homo economicus, aqui se tem a vida em sua dimensão prática e mesmo com as mudanças socioeconômicas ocorridas e ain-da diante ain-da revolução causaain-da pelos contraceptivos possibilitou alteração no modo como se pensa as relações familiares. De acordo com Teixeira (2005), “o avanço da industrialização transformou a estrutura produtiva, a continuida-de do processo continuida-de urbanização e a queda das taxas continuida-de fecundidacontinuida-de”, e neste sentido é valido o que enfatiza Francisco (2016):

Às vezes as angústias das famílias tornam-se dramáticas, quando têm de enfrentar a doen-ça de um ente querido sem acesso a serviços de saúde adequados, ou quando se prolonga o tempo sem ter conseguido um emprego decente. ‘As coerções

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econômicas excluem o acesso das famílias à educação, à vida cultural e à vida social ativa. O atual sistema econômico produz várias formas de exclusão social. As famílias sofrem de modo particular com os problemas relativos ao trabalho (Al, 44).

Mais que dizer que as famílias sofrem com os problemas relativos ao trabalho é neces-sário enfatizar que estes problemas impossibilitam a existência de famílias, se-gundo Teixeira (2005), essas transformações proporcionaram um aumento de oportunidade para mulheres se colocarem em postos de trabalhos. Com isso, é possível afirmar que são vários fatores somados que impactam na escolha de ter filhos mais tarde ou mesmo de reduzir o número de filhos, ou até não os tê-los. De uma maneira geral, se diminui o tempo no qual o humano (homem e mulher) se dedica a uma nova vida e neste sentido se faz fundamental enfatizar que a educação e formação.

Dos jovens deverá ser integrada, no momento conveniente e segundo as várias exigên-cias concretas, numa preparação para a vida a dois que, apresentando o ma-trimônio como uma relação interpessoal do homem e da mulher em contínuo desenvolvimento, estimule a aprofundar os problemas da sexualidade conjugal e da paternidade responsável, com os conhecimentos médico-biológicos es-senciais que lhe estão anexos, e os leve à familiaridade com métodos adequa-dos de educação adequa-dos filhos, favorecendo a aquisição adequa-dos elementos de base para uma condução ordenada da família (por exemplo, trabalho estável, dis-ponibilidade financeira suficiente, administração sábia, noções de economia doméstica). (FC, 66).

Por fim, há o reconhecimento que as preocupações com os fatores socioeconômicos e, nestes implícitos, a atividade profissional, tem direcionado boa parcela da população a pensar em ter filhos tardiamente, ou de não os tê-los. O que há de se observar é que diante da opção em adiar o primeiro filho, essas pessoas não adiam por igual período suas relações sexuais, por vezes nem o casamento. isso é revelado por um dado da pesquisa que aponta que entre as pessoas que estavam casadas na gravidez do primeiro filho 12,3% indicou a nota máxima para a pergunta se a atividade profissional influenciou na decisão de engravi-dar mais tarde. Segundo dados da pesquisa, revelando que a preocupação está presente independentemente do estado civil em que a pessoa se encontra no momento de planejar o filho.

A RELAÇÃO ENTRE A INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE PROFISSIONAL COM A IDADE ATUAL DOS ENTREVISTADOS

Os dados da Tabela 4 apontam que a preocupação em conciliar a atividade profissional com a vida familiar já fazia parte nos momentos de decisão sobre o primeiro filho(a)

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dos casais situados atualmente na faixa etária entre 46 e 60 anos de idade, tendo-se presente que o planejamento familiar nestes casos aconteceu há mais ou menos 20 anos atrás. Ainda é notório um alto índice (71,3%) dentre as pessoas situadas entre 26 e 35 anos apontando que a atividade profissional não teve qualquer relação e/ou influência na decisão de gerar o primeiro filho. Isso pode ser por influência de um ambiente socioeconômico propício para que se gerem filhos sem a devida preocu-pação com a situação profissional, ou pode ser também uma percentagem maior de gravidez sem planejamento. O número de participantes da pesquisa com menos de 25 anos é baixo, o que pode comprometer os dados, mas mesmo assim, nota-se que entre eles 35,7% revela que adiou a gravidez do primeiro filho por causa da atividade profissional. A preocupação com os jovens está particularmente presente no pronunciamento de Francisco (2016):

As possibilidades para os jovens são poucas e a oferta de trabalho é muito sele-tiva e precária. As jornadas de trabalho são longas e, muitas vezes, agravadas pelo tempo gasto na deslocação. Isto não ajuda os esposos a encontrar-se entre si e com os filhos, para alimentar diariamente as suas relações’ (AL, 44).

Tabela 4: Tabulação cruzada ‘Idade atual’ com ‘Atividade profissional na decisão de

engravidar mais tarde’

Idade atual do entrevistado

Zero

Atividade profissional influenciou na decisão de engravi-dar mais tarde

Total 1 2 3 4 NR Entre 18 e 25 N. 8 0 0 0 5 1 14 % 57,1 0,0 0,0 0,0 35,7 7,1 100,0 Entre 26 e 35 N. 72 3 8 6 11 1 101 % 71,3 3,0 7,9 5,9 10,9 1,0 100,0 Entre 36 e 45 N. 210 8 14 21 37 7 297 % 70,7 2,7 4,7 7,1 12,5 2,4 100,0 Entre 46 e 60 N. 224 10 14 27 31 11 317 % 70,7 3,2 4,4 8,5 9,8 3,5 100,0 Acima de 60 N. 75 4 3 3 11 6 102 % 73,5 3,9 2,9 2,9 10,8 5,9 100,0 NR N. 17 2 6 1 5 1 32 % 53,1 6,3 18,8 3,1 15,6 3,1 100,0 Total N. 606 27 45 58 100 27 863 % 70,2 3,1 5,2 6,7 11,6 3,1 100,0 Fonte: Os autores (2017).

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Sob a amplitude dos dados é verificável que 11,6% da amostra considerou que a ati-vidade profissional influenciou na decisão de ter filhos mais tarde, esse dado apresenta certa regularidade entre as diferentes faixas etárias, exceto para as pessoas com menos de 26 anos. Família e trabalho, assim estão estreitamente interdependentes na experiência da grande maioria das pessoas, impacta tam-bém na hora do planejamento familiar para boa parcela da população.

Percebe-se que a família ocupa um espaço privilegiado de atenção e cuidado, e a Igreja está atenta às mudanças e sempre oferece uma palavra de orientação, Francis-co (2013) fomenta que “A família atravessa uma crise cultural profunda, Francis-como todas as comunidades e vínculos sociais. No caso da família, a fragilidade dos vínculos reveste-se de especial gravidade, porque se trata da célula básica da sociedade” (EG, 2013). Diante destas afirmações enfatiza-se que existe uma relação absolutamente particular que liga a família e trabalho. Assim a Igreja reconhece que “com o seu trabalho e a sua laboriosidade, o humano, partícipe da arte e da sabedoria divina, torna mais bela a criação, o cosmos já ordenado pelo Pai” (DSI, 580). Aponta ainda que o trabalho é “o fundamento sobre o qual se edifica a vida familiar, que é um direito fundamental e uma vocação do homem” (DSI, 633). Assim se torna implícito que a família é impactada pelo mundo do trabalho, pois para João Paulo II (2004) “o trabalho assegura os meios de subsistência e garante o processo educativo dos filhos” (DSI, 634). Corrobora ainda Bento XVI: “Família, trabalho e festa. Trata-se de três dons de Deus, três dimensões da nossa existência, que devem encontrar um equilí-brio harmonioso para construir sociedades com um rosto humano” (Cateque-se, 6 de Junho de 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O adiamento da realização no mundo do trabalho pode estar inteiramente ligado ao adiamento da formação da família, favorecido pelo desejo de se ter estabili-dade patrimonial, financeira e até intelectual, a fim de proporcionar à prole melhores condições de vida. Ao analisar qual o impacto da influência da ativi-dade profissional no planejamento familiar, dados apresentam que a ativiativi-dade profissional tem influenciado na escolha de engravidar mais tarde. É notório que a pesquisa se faz diante de uma amostra que já tem filhos, e que diante de uma amostra para com pessoas que não tem filhos o impacto certamente será muito maior, ainda é de se considerar que a pesquisa não propõe verificar as condições de vida dos filhos, mas em reavivar a memória dos sujeitos em bus-ca de projetos da parentalidade para o primeiro filho.

É de se notar que o fato de postergar o planejamento da parentalidade, em busca de uma estabilidade financeira, patrimonial e até intelectual, pode indispor ao

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desejo de ter filho e a dificuldade de se ter filho em idade avançada. Deste modo o desejo por estabilidade socioeconômica acarreta por vezes uma vida sem filhos, ou por não conseguir a tão esperada estabilidade ou por conseguir a estabilidade em idade já imprópria para a geração dos filhos.

Com relação a esta questão, vimos a relação da influência da atividade profissional sobre o adiamento da gravidez do primeiro e último filho com questões de gênero. A pes-quisa mostrou que as características profissionais têm impacto tanto na vida das mulheres quanto na vida dos homens na hora de decidir ter filhos mais tarde. Mas para as mulheres, as consequências negativas tendem a se tornar mais evidente, pois as mulheres apresentam um ciclo reprodutivo menor que os homens, neste caso as mulheres não poderem gerar filhos, principalmente pela limitação da idade, aqui se refere às características biológicas do ser feminino. Sem dúvida, é necessário reco-nhecer também consequências positivas tais como: a segurança proporcionada pela idade que traz maturidade, estabilidade financeira e emocional para a qualidade de vida tanto da mãe como dos filhos e demais familiares. Todavia isso nos leva também a perceber a formação e educação inadequada que está sendo oferecida aos jovens. A relação da influência da atividade profissional sobre o adiamento da gravidez do primeiro

filho pode ter relação com a idade atual dos entrevistados, embora os dados não nos permitam ser conclusivos. Parece que a questão de adiar a gravidez por moti-vos profissionais já estavam presentes em gerações anteriores, visto que a questão estava presente em um bom número de entrevistados que estão acima de 60 anos. Isso mostra que há quarenta anos mais ou menos, a questão já estava presente no contexto das famílias, todavia revela também que se poderia ter um ambiente onde o “gerar filhos sem pensar o assunto” era e/ou é a realidade dos casais. Outro dado relevante da pesquisa é a evidência de que as gerações mais jovens apresentam uma maior preocupação com o planejamento da parentalidade.

Diante da necessidade de assegurar a cada indivíduo, dentro do modelo de família que ele constitui e no qual se sente inserido, a sua liberdade, igualdade e dignida-de, fazem-se necessário uma constante atualização das leis para que se possa garantir e assegurar tais princípios.

A Igreja católica reconhece a estreita relação entre família e trabalho e nas palavras dos últimos três papas percebe-se que a família ocupa um espaço privilegiado de atenção e cuidado, a Igreja está atenta às mudanças e continua a reconhecer que a família tem por missão dar suporte vital para cada um dos seus mem-bros, suporte este que também passa pelos aspectos socioeconômicos.

THE INFLUENCE OF PROFESSIONAL ACTIVITY IN FAMILY PLANNING Abstract: the article presents the influence of professional activity in family planning and is

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con-clusion is that the job work influences on family planning. The difficulties in recon-ciling professional activity and family planning were already part of life from that of previous generations and younger generations are more impacted by this issue. Keywords: Family. Parenthood. Bioethics. Family planning. Professional activity.

Referências

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Tabela 1: Idade atual do entrevistado
Tabela 2: Atividade profissional influenciou na decisão de engravidar mais tarde Alternativas do questionário Frequência Percentagem
Tabela 3: Tabulação cruzada: ‘Gênero’ com ‘Atividade profissional na decisão de en- en-gravidar mais tarde’
Tabela 4: Tabulação cruzada ‘Idade atual’ com ‘Atividade profissional na decisão de  engravidar mais tarde’

Referências

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