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Você quer brincar na neve?

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Academic year: 2022

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Sábado, 02 de Maio de 2020

Segmento: PUCRS

02/05/2020 | Correio do Povo | Caderno de Sábado | 1

‘Você quer brincar na neve?’

Professora da Famecos/PUCRS trata de empatia em tempos de pandemia a partir do boneco Olaf, da animação ‘Frozen’

Foi o convite que fez nascer Olaf, o boneco de neve mais querido desde “Frozen”, filme de animação musical lançado no Brasil em janeiro de 2014, com classificação indicativa livre para todos os públicos. Gerado por Elsa, ainda em sua infância, nos tempos em que seus poderes de gelo eram considerados absolutamente naturais e espontaneamente serviam à diversão em brincadeiras com sua irmã Anna, o bonequinho bem-humorado, para além do inegável talento em fazer uma sala de cinema cair na gargalhada, faz pensar.

Olaf transborda bom humor, pureza, intensidade, doçura e compartilha, de imediato, já em sua primeira aparição, seu grande sonho existencial, do qual está plenamente convicto: o sonho de viver no verão. Com espanto, em cochicho, um de seus companheiros de cena reage: “vou contar a ele”. De fato, como poderia um boneco de neve desejar viver no verão? Verão é estação de calor. Calor derrete gelo. Ele está desejando algo muito perigoso, está rumando para seu fim. Se é certo que estamos na vida para viver, seria ele ainda imaturo para compreender o tal do sentido da vida e, assim, poder tomar decisões mais adequadas e seguras para si? Sem hesitação, Olaf entregase às aventuras. Contagia-se com a vida alheia.

Na garupa de um cavalo em galope acelerado, lança aos ares o compromisso de ajudar as pessoas que ama. Mesmo que custe a necessidade de orientar-se pelos caminhos do desconhecido: “vamos beijar o Hans!”. Mesmo que precise reconhecer que seria tranquilizador poder obter certezas adicionais: “Peraí, quem é esse Hans?”. O boneco de neve confia nos elos de amor que unem as pessoas, aumenta suas doses de coragem em detrimento do medo e da dúvida. E conquista, no momento em que se sentia suficientemente feliz pelos sucessos dos outros, a ponto de parecer poder abrir mão dos próprios, seu sonho de verão. Elsa cria para ele uma nuvenzinha com neve constante, que se locomove conforme seus movimentos, e ele consegue sobreviver a esse novo ambiente, em princípio, contranatural. Em “Frozen 2”, lançado no Brasil em 2020, Olaf surge reflexivo sobre o que poderia vir a significar transformação. Procura compreender as mudanças constantes em sua vida e entender seus desconfortos. Provoca situações de pactos de eternidade e de permanência.

Justifica que sua inabilidade para lidar com mudanças é devido ao fato de ser ainda uma criança, e que crianças não sabem lidar com emoções. Chegando à fase adulta, pretende sua expectativa, atingirá um patamar avançado nesse quesito e saberá perfeitamente como lidar com qualquer infortúnio desestabilizante do já conhecido, já sentido, já vivido. Na adultez, tudo estará a salvo e sob controle. Curiosamente, ninguém aparece querendo “contar a ele”. Nem mesmo cogitando questionar se o crescer seria mesmo um movimento em linha reta, para frente, para cima. Tampouco intencionando refletir se ter mais idade significaria, de fato, o poder de tudo saber e de tudo poder fazer. Tão desejoso de chegar ao pódio da estabilidade, Olaf acaba por morrer. Acompanhando a estreia do filme em Paris, em novembro de 2019, e em Porto Alegre, janeiro deste ano, em salas de cinema repletas de crianças, o momento de sua morte inundou a atmosfera do mais profundo silêncio.

Algumas vozes de crianças, aquelas que se encorajavam a atravessar a espessa camada do pesar, emitiram: “Olaf morreu?”. Outros, incluindo-me, continham-se secando discretamente alguns pares de lágrimas. Pairava o sentimento de perplexidade. Como ousa o cinema matar o Olaf? Que motivo haveria para dar a ver o último suspiro daquele bonequinho tão querido? O cinema ousa demais.

Ousa nos mostrar o quanto podemos ser melhores, belos, felizes, realizados. Ousa nos fazer ver o quanto ainda somos precários, errantes, contraditórios. Ousa nos lembrar daquilo que por vezes preferimos esquecer, não saber, negar. Ele ousa. E a vida segue.

E segue tão intensamente que, mesmo sem Olaf, os protagonistas superam seus desafios com heroísmo. A jornada se completa quando há constatação e aceitação da indissociabilidade entre real e imaginário. Reintegra-se a magia, há muitos anos temida e renegada, na vida cotidiana. Um relativamente reconfortante happy end, não fosse o cinema ousar novamente e, via magia,

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ressuscitar o Olaf. Poderíamos nos permitir imaginar que, tal como Olaf, carregamos conosco, em nosso íntimo, um sonho de verão.

Aquele sonho nosso, muito nosso, já manifesto desde os primeiros anos, mais bem explorado por uns, ou mesmo bastante sufocado por outros. Mas que segue conosco, pulsante mesmo se adormecido, em alguma caverna misteriosa de nosso ser. Sonhar, revelar e encontrar ressonâncias hostis à sua realização poderia levar, por um lado, e que talvez seja o pior deles, ao menosprezo dos próprios desejos.

Nessas condições, talvez nos conformássemos em ir levando a vida como seres de sonhos sufocados, “zumbizando” pelos dias, seguindo rigorosamente o plano previamente estabelecido e autorizado pelos outros seres de sonhos sufocados. Muitos também poderiam ser os sonhadores que sonham, revelam, criam e conseguem, tal como Olaf, bancar os riscos envolvidos em se desejar algo jamais visto, jamais sentido, jamais operacionalizado. Publicitariamente falando, seriam seres que praticariam uma simples operação de criar, sem temor, o Novo. Estes provocariam e dinamizariam efervescências, desvios, calor cultural, nas palavras de Edgar Morin.

Mudariam os rumos e sentidos da existência. Ampliariam a consciência planetária. Abririam caminhos para a reconciliação com a complexidade e o acolhimento da condição de sermos, cada um e todos, inteiros na diversidade.

O bonequinho de neve faz pensar: o caminho se faz caminhando, nunca se trilha sozinho e as impermanências são constantes. Há grandioso valor no papel que cada um pode desempenhar na realização de sonhos de outros. Sonhos são grandes desafios e possuem carregadas doses de interdependência, estão profundamente conectados na zona do mistério. Para reintegrar nossas partes dormentes, renegadas, talvez seja mesmo preciso morrer, e muitas vezes.

JULIANA TONIN

* Pós-doutora em Sociologia da Infância (Sorbonne). Professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da FAMECOS/PUCRS. Líder do Gim Pesquisa, Grupo de Pesquisas Infâncias, Comunicação e Imaginários e Coordenadora do LabGim, Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias.

02/05/2020 | Diário Gaúcho | DG+ | 18

Novos hábitos que vieram para ficar

Os dias podem parecer iguais em meio ao distanciamento social, mas alguma coisa mudou na sua casa. Sete semanas de pandemia do coronavírus foram suficientes para criação de uma série de hábitos, muitos dos quais já prometemos levar para o famigerado

"depois que tudo isso passar".

Seja tirar os sapatos para entrar em casa ou fazer mais chamadas de vídeo com quem a gente gosta, várias foram as modificações.

Para especialista ouvida pela reportagem, estas intenções refletem uma esperança de que, apesar de traumático, esse seja um momento transformador em aspectos positivos.

A REDESCOBERTA DO TELEFONE

Antes de conversar com a repórter, a estudante Katiele Rezer Mangar, 26 anos, fez uma lista de costumes novos que acabou curtindo. Não é de se espantar que a organização norteie muitos deles - característica que ela não usava para se descrever antes do coronavírus. A jovem agora tem dia fixo para a faxina, tira os sapatos para entrar em casa, faz compras pela internet, aprende alemão online - coisas que pretende continuar fazendo. E redescobriu uma invenção de 1870: o telefone. Com o distanciamento social, ela começou a ligar com frequência para um amigo da época de cursinho pré-vestibular, que perdera o contato em razão das agendas que não fechavam. Ficam até duas horas conversando, retomando a proximidade que perderam há oito anos. Faz também mais chamadas de vídeo com amigas. Um dos grupos segue fazendo seu café semanal - mas pela tela do computador:

- Tinha muita preguiça de falar por telefone, e acredito que isso vai mudar. Tinha pessoas que a gente ficava esperando muito tempo para ver, ou que não conseguiria ver pessoalmente, em razão de horários ou correria. Ao mesmo tempo, a gente tinha o telefone na mão e não ligava. 0 exercício físico dentro de casa também é um costume que vai ser mantido em muitas casas brasileiras. Katiele inaugurou o tapete de ioga comprado há tempo.

O SAPATO NÃO ENTRA

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A consultora de moda Patricia Pontalti, 45 anos, já sentenciou: ninguém mais entra de sapatos na sua casa, em Porto Alegre. Era uma ideia que a autodeclarada neurótica com limpeza tinha na cabeça há algum tempo, por estimar a quantidade de sujeira que um calçado pode trazer da rua. A pandemia foi o empurrão para adotar o costume. - Ainda no começo das notícias, foi a primeira coisa que eu decidi: nunca mais! - anuncia.

Quando acontece um evento da gravidade de uma pandemia, historicamente, desenvolvem-se recursos para lidar com novos cenários, segundo a professora da Faculdade Imed e presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, psicanalista Mariana Steiger Ungaretti. E 2020 traz uma esperança de que, apesar de traumático, seja um momento transformador em aspectos positivos. - 0 ser humano passa a olhar para coisas que não eram vistas antes. A sensação é de que a s pessoas estão se redescobrindo em diferentes aspectos, de enxergar e desenvolver o que antes passava batido, pela correria ou por outros fatores - comenta a especialista.

Comidinha de mãe

Patricia ainda redescobriu a culinária Ela resgatou uma série de receitas de família, como o guisado com ovo da mãe e massa caruso do tio Vivaldo, sabores que deixam a consultora com a sensação de estar "aquecida e acarinhada". Quando a pandemia acabar, Patricia pretende montar um ambiente no corredor de entrada do apartamento, com uma cadeira, para as visitas cumprirem a regra de tirar os sapatos com mais conforto. Com a família em isolamento social, a filha Clara anda de meias Pela casa, enquanto Pah e o marido, Lucas, vivem descalços mesmo. E se têm hábitos que devem ficar, também têm hábitos que ela vai precisar reaprender. - Não sei nem como vou andar de salto - ri.

A ESTREIA NA COZINHA

Para Ana Carolina Nano, 34 anos, cozinhar um campo completamente novo do aprendizado. Morando sozinha, a flautista viu que tona do dor um jeito do preparar seus alimentos assim que começou o distanciamento social Começou com uma mossa bolonhesa, mas já foz até risota ao pesto o está louca para preparar uma Janta para a família e amigos quando a quarentena acabar. - Sempre fui da turma que lavava a louça, sou uma negação na cozinha. Opa, era uma negação na cozinha corrige-se, alertada pela repórter.

- Que bom usar esse verbo no passado. No Instagram, ela mostra sua conquista, ri dos erros com os amigos o alia a nova o a velha paixão: enquanto espera o bolo ficar pronto, ensaia com sua flauta, Acabou enxergando semelhança nas duas artes:

- As panelas são como uma sinfonia. E como se cada ingrediente fosso uma nota musical.

Costumes

A psicanalista Mariana acredita que muitos costumes devem se manter. Não todas, o talvez não na mesma frequência. mas os que fizerem sentido. Mas corno levar as mudanças em que você viu valor para depois da pandemia? Para Wagner do Lara Machado, professor da pós-graduação do Psicologia da PUCRS, talvez isso não ocorra automaticamente.

Cada um deve fazer um exame das suas atividades de rotina, estabelecer prioridades, horários paru cada atividade. Tudo passa por definir motas: pode existir um esforço ativo para que esses hábitos ultrapassem um período e sejam incorporados afirma.

CUIDADO COM O QUE SE TOCA

A autônoma Marina Fagundes, 23 anos, se apavora ao recriar na cabeça um cenário específico, ambientado em um shopping center.

Lembra que até dois meses atrás as pessoas iam às compras, encostavam em vários produtos, apoiavam-se em corrimãos. E depois estavam na praça de alimentação segurando um hambúrguer com as mãos para comer, sem lava-las, nem nada.

Se o álcool gel já estava na bolsa dela antes, passa a ser quase uma extensão do corpo em época de pandemia. E a preocupação não acabará na higienização das mãos: a lavagem mais criteriosa de frutas e verduras veio para ficar, garante ela. Antes, na hora de comer, passava uma água rapidinho. Atenta à pequena multidão que pode ter tocado naquela maçã eu tomate, coloca de molho por 30 minutos. com uma colher de sopa de água sanitária para um litro de água. e enxágua em água corrente depois, Marina está certa

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de que as pessoas "não vão passar ilesas por Isso tudo".

O brasileiro vai ser menos caloroso, na opinião dela: -- Vai demorar para a gente voltar a Interagir como antes. Linamara Riso Battistellas professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), também pensa assim. Ela diz que vamos voltar a estar perto de outras pessoas, mas com menos risco. - Estamos vivendo uma mudança de comportamento com o distanciamento social. Sem beijinhos, sem abracinhos, o talvez isso tenha que sor um modelo daqui pra frente. Porque estaremos envolvidos em muitos ambientes, com muitas pessoas ao longo do dia, e o bom senso pede que essas regras que estão sendo colocados hoje e mantenham.

Higiene

Para Juliana Scherer, biomédica o professora de Medicina na Unisinos, é Possível que, atentas a amplas possibilidades de doenças infectocontagiosas, as sigam usando álcool gel, mantendo ambientes arejados, evitando tocar em corrimões e superfícies potencialmente contagiosas e até usando máscaras de pano para evitar o contágio de outras pessoas quando estiverem gripadas. Ou, pelo menos, quer acreditar nisso:

- Com o passar dos anos, se não tomar a acontecer algo do gênero, as pessoas esquecem um pouco e diminuem a intensidade dos cuidados. Mas como vai levar um tempo ainda para tudo voltar à normalidade, então tem maior chance desses comportamentos benéficos se manterem. Algo que no momento está arramado, como já percebeu a especialista, é um olhar comunitário sobre etiquetas de de higiene em público. As pessoas estão aprendendo que precisam, pelo menos, colocar o braço na frente da boca ao tossir e espirrar. E cobram de quem não faz isso.

IOGA E BEM-ESTAR

O produtor de eventos e diretor audiovisual Rafa Ferretti 49 anos. também está descobrindo os benefícios do ioga. Ele começou em razão do condicionamento físico e como uma forma de "organização mental': pai de Dante, cinco anos, e de Martin, três, também dentro de casa em isolamento social, Rala precisava de um tempo para parar tudo e se acalmar. Deu tão certo que ele parou de fumar. Não chegava a se considerar um viciado: consumia apenas uma carteira por semana. Mas era um hábito que queria deixar.

- Agora mesmo estou tomando um café, coisa que não conseguiria fazer sem fumar um cigarro disse durante a conversa com a repórter por telefone, - Quando comecei a fazer ioga, essa vontade desapareceu. Rafa não vê mais o ioga fora da sua rotina: - E importante para manter o foco mental, atenção consigo mesmo, Eu não tinha muito disso, não. Mas vou fazer 50 anos, tenho crianças pequenas, tenho que me cuidar também.

02/05/2020 | Zero Hora | Túlio Milman | 3

Do bem III

. A Braskem e o Tecnopuc se uniram e estão produzindo escudos faciais para os profissionais da saúde da rede pública. Para solicitar a máscara, é necessário preencher um formulário disponível no bit.ly/tecnopuc-labs.

A ação já recebeu 90 demandas, tem 20 em atendimento e já atendeu cerca de 25 instituições.

. A cada cinco encomendas de marmita, o Grupo Fouet doa uma a iniciativas solidárias selecionadas pelo projeto DU99.

As primeiras doações foram entregues na quarta-feira para o Grupo Gente Que Faz, que auxilia bairros da região metropolitana de Porto Alegre. Na próxima semana, a ação beneficiada será o Banho Solidário.

02/05/2020 | Zero Hora | Vida | 6

O coronavírus e o autismo

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Mães de crianças com transtorno do espectro autista lutam para se adaptar ao distanciamento social, que desorganiza bastante a vida familiar

Quando Inácio era bebê, a mãe, Carla Costa, começou a perceber algumas particularidades no filho: ele não seguia nenhum comando, não interagia e sequer falava. Ao completar dois anos, o menino foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA), condição que afeta uma a cada 160 crianças no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Imediatamente, ele iniciou terapia, terapia ocupacional, fonoaudióloga e ingressou em uma escola de Educação Infantil. No momento em que o menino fez seis anos, Carla iniciou uma luta para que ele entrasse em uma escola regular. Porém, ouviu muitos nãos.

- Sou a favor da inclusão. Mas ele tem um grau bem severo, não sei se acompanharia. Acabei colocando-o em uma instituição especial, onde ele está até hoje. Ele teve aquisições, mas não fala ainda, não sei vai. Comunica-se através da pasta de figurinhas - relata a nutricionista.

Hoje, aos 12 anos, Inácio tem enfrentado um novo e enorme desafio: cumprir, junto da mãe e do labrador, Quilmes, o distanciamento social.

- Para mim, tem sido difícil. Uma quebra total de rotina. Ele tinha terapias de manhã e escola à tarde. Era bem movimentado. Minha agenda é a mesma dele, tudo o que faço é no intervalo da vida dele. Ele fica perdido, e eu também - desabafa.

Mudar os hábitos rotineiros é uma das questões mais impactantes para quem tem TEA. E da forma como tudo aconteceu, abruptamente, o desafio fica ainda maior.

- A rotina para nós, aquela com horários estabelecidos, em algum momento maçante, para as crianças com fragilidades psíquicas por vezes é organizadora. Sem elas, pode acontecer de ficarem mais ansiosos - avalia Raquel Alvarez Sulzbach, psicopedagoga do Centro Lydia Coriat e que também é professora na PUCRS.

Para contornar a situação, Carla criou o que ela intitula de "rotina fora da rotina":

- Tem hora para brincar, para fazer atividades estruturadas enviadas pela terapeuta. Ele gosta de tablet, mas não pode ficar o dia inteiro com a tela. Percebo que ele fica perdido se eu não direciono.

> "Ele não quer FAZER NADA

Mesmo com o esforço da mãe, Inácio dá sinais de que está entediado: aponta para a figurinha do carro, o que significa que ele quer sair, anda de um lado para o outro no apartamento, pega o tablet e o descarta em seguida, pede para tomar banho, ainda que já tenha tomado. Aos poucos, Carlas tenta incluir o menino nas rotinas domésticas: guardar roupas no armário, preparar o próprio leite de manhã.

- Ele não quer fazer nada - lamenta.

Apesar de não saber qual o nível de entendimento do filho sobre a situação atual, Carla fez questão de explicar, de maneira simples, o porquê do confinamento repentino. Usando uma linguagem acessível, ela disse que há um bichinho que deixa as pessoas doentes circulando na rua, o que justifica as raras saídas:

- Ele percebeu que tem alterações: entro no carro e fico passando álcool em gel. Uso máscara. Ele não pode ver a avó, nem o pai, que é médico.

SAUDADE APLACADA POR APPS

As histórias são variadas e mais ou menos duras, a depender do grau de autismo. Como moderador da Rede Gaúcha Pró-Autismo, Hugo Ênio Braz tem conversado muito com familiares e responsáveis e ouvido relatos sobre a nova rotina dentro de casa. Em comum, a angústia e o sofrimento para aprender a lidar com a situação.

- Como familiares, não somos profissionais, e, às vezes, ficamos sem saber o que fazer, agindo o tempo todo na base da tentativa -

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comenta.

Fora os obstáculos de que toma conhecimento, Braz ainda sente na pele as dificuldades do distanciamento. Avô de um menino autista, ele sofre a falta da convivência, antes diária, com o neto:

- Ele rompeu a rotina da escola, de almoçar com a vó e vô. É complicado. A saudade é grande, mas a gente se fala por aplicativos.

Minha filha vem aqui no condomínio, e a gente se fala pela cerca.

Como conselho, Braz sugere que os pais sempre busquem suporte especializado, especialmente nesse momento.

- Sempre tem profissionais que se dispõem a ajudar.

CIRCUITO DE ATIVIDADES

A enfermeira do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Maria Inês Bittencourt, de Santa Cruz do Sul, afastou o filho, de seis anos, das atividades em meados de março. Como Thiago tem rinite crônica, ela preferiu se antecipar. Diagnosticado com TEA aos três anos e meio, o menino apresenta dificuldades motoras importantes.

- Thiago sentou tarde, engatinhou tarde, não fala - descreve Maria Inês.

Longe da rotina, a mãe já notou uma piora na movimentação do menino. Ela diz que ele sente falta de se exercitar:

- Thiago tem problema de equilíbrio. Vou ter de planejar uma retomada. Sei que é preciso preservá-lo, mas não pode haver piora do ponto de vista clínico.

Para evitar perdas tão severas, a mãe tem mantido as atividades encaminhadas pela terapeuta ocupacional. Também reproduz práticas que já vivenciava nas sessões, como circuitos com obstáculos.

Por ser enfermeira, a mãe chegou a pensar em se afastar do filho, temendo contaminá-lo. Mas desistiu:

- A gente toma todas as precauções necessárias. Isolar-se ou não dele? Colegas que têm filhos em outra realidade conseguem tomar essa decisão. Ele tem uma ligação muito forte comigo, e eu com ele. Tentei deixá-lo por dois dias só com o meu marido. No segundo dia, meu marido disse que ele ficou triste.

COMO AUXILIAR QUEM TEM TEA

Confira recomendações de psicóloga clínica Maíra Ainhoren Meimes, especializada em autismo, e Raquel Alvarez Sulzbach, psicopedagoga do Centro Lydia Coriat e professora na PUCRS:

u A rotina começa com o adulto. No segundo momento, pensar onde inserir as crianças. Acordar cedo, começar com horários de alimentação, de brincadeira, de atividades da escola, de exercícios mais corporais. Não ficar à mercê da situação, mas se readaptar a ela a favor das necessidades.

u É importante usar recursos além da fala. Cartazes e pistas visuais, nas quais eles consigam enxergar a rotina e a hora, são positivos.

A partir daí, se consegue mapear os horários em que as crianças vão estar mais tranquilas para fazer atividades estruturadas e, nos horários de maior agitação, fazer coisas mais simples.

u Mantenha a criança situada no tempo. Os responsáveis podem oferecer materiais concretos, como calendários físicos. Vale desenhar também. Que as crianças simbolizem os momentos do dia, coisas que fizeram ou planejamento de algo a fazer, como brincadeiras ou confecção de algo para comerem junto.

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u Utilize os encontros online com os colegas de escola para pontuar os dias da semana. Isso pode ser a rotina agora: uma vez por dia, combinar com as mães uma conversa. Na segunda, encontra um coleguinha, na terça, outro. Um dia, vai ser com todos. Então, monta-se um calendário de encontros virtuais.

u Incluir as crianças nas atividades domésticas de forma lúdica também é uma boa dica para entreter e ainda trabalhar algumas capacidades. Pode ser ajudar na hora de separar roupas, como camisetas em uma pilha, juntar os pares das meias, que ainda estimula a motricidade fina. Outra opção é pedir ajuda dos pequenos para guardar talheres nas gavetas, fazendo com que eles percebam tamanhos, diferenças e semelhanças.

Mais oito dicas

u Se não entende a capacidade de compreensão da criança, lance mão de desenhos, fotos ou figuras u Explique o que está acontecendo, seja através da comunicação verbal ou visual

u Estimule atividades sensoriais. Brinque de enrolar e desenrolar a criança de um edredom, por exemplo u Use as telas com moderação

u Interrompa questões repetitivas com brincadeiras

u Não leve a recomendação de ficar preso em casa ao pé da letra. Quando for seguro, dê uma volta na quadra com a criança u Mantenha as terapias, mesmo que online

u Busque auxílio sempre

LIVES NA DIVERSÃO

Thomaz, nove anos, apresentou sinais de TEA aos três. O menino também é deficiente visual. Percebe luz e alguns vultos. Por isso, gosta de rotinas noturnas, como pequenas voltas de carro com a mãe, a professora Lucineia Dornelles da Silveira Machado

Em casa desde 19 de março, a dupla tem se reinventado para fugir da monotonia. Como tinha um dia a dia repleto de atividades, entre terapias e escola, o menino sentiu muito a ruptura imposta pelo confinamento.

- Os primeiros 15 dias foram muito complicados. Ele ia para a porta toda hora querendo ir para a escola, que adora. Ele gosta de rotina. Expliquei que não poderíamos sair, que brincaríamos dentro do apartamento - relembra.

Distante da vida com a qual estava acostumado, o menino começou a retroceder, diz a mãe. Voltou a balançar os braços e caminhar nas pontas dos pés.

- Procurei as terapeutas e pedi ajuda: "O que nós vamos fazer?" - diz Lucineia.

Foi então que a nova rotina começou a ser estabelecida: circuitos encaminhados pela fisioterapeuta passaram a ser cumpridos.

Exercícios com música, indicados pela fonoaudióloga, entraram na agenda. E assim, aos poucos, o menino começou a se acalmar.

Nas últimas semanas, também retomou, de forma online, as consultas com a psicóloga, o que também amenizou a ansiedade:

- Está dando certo. Duas vezes por semana, ela liga por vídeo e faz o atendimento. Senti que ele está mais calmo por ouvi-la, por brincarem.

Thomaz é fã de música, e uma das atividades mais prazerosas para a dupla são as lives feitas por cantores e bandas.

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- A do Jorge e Mateus, a gente amou. Eu desliguei a luz da sala, ficamos só com a TV, isso chamou a atenção dele. Aí ele dançou e se divertiu muito - comemora Lucineia.

Exercícios corporais, como pulos em cima da cama e rolar sobre uma bola de pilates com o auxílio da mãe, também entram no rol de atividades para passar o tempo e estimular o menino.

- Vamos nos divertindo - diz a mãe. - A gente tem de estar bem. Quanto mais os familiares estiverem calmos, melhor será.

02/05/2020 | Zero Hora | Notícias | 12

Ferida da desigualdade social deve aumentar na pandemia

Situação desafiará a economia quando a covid-19 passar. Especialistas defendem socorro aos mais vulneráveis neste momento Considerada uma das grandes feridas sociais do Brasil, a desigualdade deve voltar a crescer em razão do coronavírus. Ao dificultar a vida dos mais pobres, o cenário desafia o desenvolvimento econômico do país como um todo depois da pandemia. Para diminuir os estragos, especialistas destacam a necessidade de medidas de amparo aos mais vulneráveis durante a crise.

Uma das formas de medir o espaço que separa as camadas mais ricas das mais desfavorecidas é o Índice de Gini, que varia em uma escala de zero a um. Quando o indicador sobe, sinaliza aumento na desigualdade da renda do trabalho. Quando baixa, mostra que a diferença entre os ganhos das duas pontas da sociedade ficou menor.

No Brasil, o índice caiu no quarto trimestre do ano passado depois de 18 altas consecutivas, aponta o centro de estudos FGV Social, da Fundação Getulio Vargas. Significa que a última recessão enfrentada pelo país fez a desigualdade subir desde o início de 2015, até finalmente voltar a cair no fim de 2019.

Na ocasião, o Índice de Gini atingiu a marca de 0,6276, recuo de 0,12% frente ao quarto trimestre de 2018. A questão é que a nova crise gerada pelo coronavírus provoca resultados indigestos como o aumento do desemprego. Com a perda de renda em classes mais vulneráveis, nova piora aparece no cenário, diz o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

- A tendência é de que a desigualdade volte a subir com a parada ocorrida na economia - frisa o pesquisador, referência na análise sobre distribuição de renda no país.

Um dos motivos que explicam a projeção mais pessimista é o elevado nível de informalidade no Brasil. Com o distanciamento social imposto pela covid-19, trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ viram o faturamento desabar. É o caso, por exemplo, de vendedores ambulantes ou motoristas de aplicativos de transporte.

- Com alto nível de informalidade, países em desenvolvimento tendem a ampliar a desigualdade social. Muitos informais têm o ganha-pão no dia a dia. Precisam estar na rua para conseguir renda. Com o distanciamento, esse público sente mais - pontua o economista Felipe Garcia, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O número de informais passou a crescer com a recessão de 2015 e 2016, alcançando no Rio Grande do Sul a marca de 1,9 milhão de trabalhadores no quarto trimestre de 2019, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No país, o dado mais recente corresponde ao período de janeiro a março. No intervalo, o Brasil tinha 36,8 milhões de profissionais sem registro formal. O grupo respondia por 39,9% do mercado de trabalho nacional à época.

- A informalidade é uma das grandes chagas da desigualdade. É causa e consequência desse problema. Trabalhadores autônomos estão sendo muito penalizados pela pandemia - observa o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS.

Na pandemia, o governo Bolsonaro fechou acordo com o Congresso e anunciou o auxílio emergencial de R$ 600, por três meses, para informais. Diante da crise, Neri ressalta a importância da transferência de renda para a população. E ainda alerta sobre postura

"ambígua" do Planalto:

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- Ao aumentar os gastos fiscais, o governo quer viabilizar a permanência das pessoas em casa, só que o presidente fala em ir para a rua. É como se um carro fosse acelerado e freado ao mesmo tempo.

Nas últimas semanas, o auxílio de R$ 600 gerou filas em agências da Caixa no país. Para Garcia, que foi secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Economia em 2019, a dificuldade para fazer a ajuda chegar a quem mais precisa reflete erros históricos:

- Temos projetos sociais que não se conversam, foram construídos a partir de demandas momentâneas ao longo do tempo. Tanto é que o governo precisou correr para colocar uma porção de gente para dentro do auxílio de R$ 600.

Reflexos também no desenvolvimento

O aumento da desigualdade social é um dos fatores que podem comprometer o desenvolvimento de um país. No caso brasileiro, além de prejudicar os mais pobres, tende a abalar a produtividade da economia, sublinha Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS:

- A desigualdade atinge o capital humano. A consequência é a baixa produtividade da economia. Por exemplo, poderíamos espalhar fábricas de chips pelo Brasil, mas não teríamos profissionais capacitados para preencher todas as vagas.

Em 2019, o indicador de produtividade do trabalho no Brasil caiu 1% na comparação com 2018, aponta pesquisa da Fundação Getulio Vargas. Isso quer dizer que a capacidade do país de elaborar bens e serviços, em um mesmo recorte de tempo, registrou baixa.

Para Ely, o combate à desigualdade começa com a transferência de renda para a população. Na opinião do economista, o auxílio de R$ 600 a informais é uma "boa política", mas precisaria ser estendido para mais de três meses.

Professor da Universidade Federal de Pelotas, Felipe Garcia diz que a crise do coronavírus deixou à mostra a penúria fiscal vivida pelo país. As restrições nas contas públicas dificultam medidas de auxílio:

- A relevância do compromisso com o quadro fiscal aparece em períodos como este. Agora é hora de dar dinheiro aos mais pobres e crédito para as empresas. Depois da crise, isso tem de ser revisto.

02/05/2020 | Zero Hora | Geral | 24

Novos (e bons) hábitos podem se manter depois da pandemia

Conheça histórias de moradores de Porto Alegre que tiveram de readaptar suas rotinas nesse período de distanciamento social Os dias podem parecer iguais em meio ao distanciamento social, mas alguma coisa mudou na sua casa. Sete semanas de pandemia do coronavírus foram suficientes para criação de uma série de hábitos, muitos dos quais já prometemos levar para o famigerado

"depois que tudo isso passar".

A consultora de moda Patricia Pontalti, 45 anos, já sentenciou: ninguém mais entra de sapatos na sua casa, em Porto Alegre. Era uma ideia que a autodeclarada neurótica com limpeza tinha na cabeça há algum tempo, por estimar a quantidade de sujeira que um calçado pode trazer da rua. A pandemia foi o empurrão para adotar o costume.

- Ainda no começo das notícias, foi a primeira coisa que decidi: nunca mais! - anuncia.

Recursos

Quando acontece um evento da gravidade de uma pandemia, historicamente, as relações e as pessoas desenvolvem recursos para lidar com novos cenários, segundo a professora da Faculdade Imed e presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul,

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psicanalista Mariana Steiger Ungaretti. E 2020 traz a esperança de que, apesar de traumático, seja um momento transformador em aspectos positivos.

- O ser humano passa a olhar para coisas que não eram vistas antes. A sensação é de que as pessoas estão se redescobrindo em diferentes aspectos, de enxergar e desenvolver o que antes passava batido, pela correria ou por outros fatores - comenta a especialista.

Patricia ainda redescobriu a culinária. Ela resgatou uma série de receitas de família, como o guisado com ovo da mãe e massa caruso do Tio Vivaldo, sabores que deixam a consultora com a sensação de estar "aquecida e acarinhada".

A redescoberta do telefone

Antes de conversar com a repórter, a estudante de mestrado em Ciências Políticas Katiele Rezer Menger, 26 anos, fez uma lista de costumes novos que acabou curtindo. Não é de se espantar que a organização norteie muitos deles - característica que ela não usava para se descrever antes do coronavírus.

A jovem agora tem dia fixo para a faxina, tira os sapatos para entrar em casa, faz compras (conscientes, garante) pela internet, aprende alemão online - coisas que pretende continuar fazendo. E redescobriu uma invenção de 1870: o telefone.

Com o distanciamento social, ela começou a ligar com frequência para um amigo da época de cursinho pré-vestibular, que perdera o contato em razão das agendas que não fechavam. Ficam até duas horas conversando, retomando a proximidade que perderam há oito anos.

Faz também mais chamadas de vídeo com amigas. Um dos grupos segue fazendo seu café semanal - mas pela tela do computador.

- Tinha muita preguiça de falar por telefone, e acredito que isso vai mudar. Tinha pessoas que a gente ficava esperando muito tempo para ver, ou que não conseguiria ver pessoalmente, em razão de horários ou correria. Ao mesmo tempo, a gente tinha o telefone na mão e não ligava.

O exercício físico dentro de casa também é um costume que vai ser mantido em muitas casas brasileiras. Katiele inaugurou o tapete de ioga comprado há tempos, prática que o produtor de eventos e diretor audiovisual Rafa Ferretti, 49 anos, também adotou.

Ele começou em razão do condicionamento físico e como uma forma de "organização mental": pai de Dante, cinco anos, e de Martin, três, também dentro de casa em distanciamento social, Rafa precisava de um tempo para parar tudo e se acalmar.

Deu tão certo que parou de fumar. Não chegava a se considerar viciado: consumia apenas uma carteira por semana. Mas era um hábito que queria deixar.

- Agora mesmo estou tomando um café, coisa que não conseguiria fazer sem fumar um cigarro - disse durante a conversa com a repórter por telefone. - Quando comecei a fazer ioga, essa vontade simplesmente desapareceu.

Rafa mora em frente à orla do Guaíba. Claro que quer voltar a caminhar com essa vista quando a pandemia ficar na lembrança. Mas não vê mais a ioga fora da sua rotina:

- É importante para manter o foco mental, essa coisa da atenção consigo mesmo. Eu não tinha muito disso, não. Mas vou fazer 50 anos, tenho crianças pequenas, tenho de me cuidar também.

Aprendizados na cozinha

Para Ana Carolina Bueno, 34 anos, cozinhar é um campo completamente novo de aprendizado. Morando sozinha, a flautista viu que teria de dar um jeito de fazer refeições assim que teve início o distanciamento social. Começou com uma massa à bolonhesa, mas já fez até risoto ao pesto e está louca para preparar um jantar para a família e amigos quando a quarentena acabar - ela pensou em salmão com molho agridoce.

- Sempre fui da turma que lavava a louça, sou uma negação na cozinha. Opa, era uma negação na cozinha - corrige-se, alertada pela

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repórter. - Que bom usar esse verbo no passado.

No Instagram, ela mostra sua conquista, ri dos erros com os amigos e alia nova e velha paixão: enquanto espera o bolo ficar pronto, ensaia com sua flauta. Acabou enxergando semelhança nas duas artes:

- As panelas são como uma sinfonia. É como se cada ingrediente fosse uma nota musical.

A psicanalista Mariana Ungaretti acredita que muitos costumes devem se manter. Não todos, e talvez não em igual frequência, mas os que fizerem sentido. E como levar as mudanças em que você viu valor para depois da pandemia? Para Wagner de Lara Machado, professor da pós-graduação de Psicologia da PUCRS, talvez isso não ocorra automaticamente.

- Cada um deve fazer um exame das suas atividades de rotina, estabelecer prioridades, horários para cada atividade. Tudo passa por definir metas: pode existir um esforço ativo para que esses hábitos ultrapassem um período e sejam incorporados - afirma.

Quando a pandemia acabar, Patricia Pontalti pretende montar um ambiente na entrada do apartamento para visitas tirarem os sapatos com mais conforto. Com a família em isolamento social, a filha Clara (foto ao lado) anda de meias pela casa, enquanto Pati e o marido, Lucas, vivem descalços.

E se há hábitos que devem ficar, também existem hábitos que ela vai precisar reaprender.

- Não sei nem como vou andar de salto - ri a consultora de moda.

Cuidado com o que se toca

A autônoma Marina Fagundes, 23 anos, se apavora ao recriar na cabeça um cenário específico, ambientado em um shopping center.

Lembra que, até dois meses atrás, ia às compras de ônibus, encostava em vários produtos, apoiava- se em corrimãos. E depois estava na praça de alimentação segurando um hambúrguer com as mãos para comer, sem lavá-las nem nada.

Se o álcool gel já estava na bolsa dela antes, passa a ser quase uma extensão do corpo em época de pandemia. E a preocupação não acabará na higienização das mãos: a lavagem mais criteriosa de frutas e verduras veio para ficar, garante ela. Antes, na hora de comer, passava uma água rapidinho. Agora coloca de molho por 30 minutos, com uma colher de sopa de água sanitária para um litro de água, e enxágua em água corrente depois.

Marina está certa de que as pessoas "não vão passar ilesas por isso tudo". O brasileiro vai ser menos caloroso, na opinião dela:

- Vai demorar para a gente voltar a interagir como antes.

Linamara Rizzo Battistella, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), também pensa assim. Ela diz que vamos voltar a estar perto de outras pessoas, mas com menos risco.

- Estamos vivendo uma mudança de comportamento com o distanciamento social. Sem beijinhos, sem abracinhos, e talvez isso tenha de ser um modelo daqui para frente. Porque estaremos envolvidos em muitos ambientes, com muitas pessoas ao longo do dia, e o bom senso pede que essas regras que estão sendo colocadas hoje se mantenham.

Para Juliana Scherer, biomédica e professora de Medicina da Unisinos, é possível que, atentas a amplas possibilidades de doenças infectocontagiosas, as pessoas sigam usando álcool gel, mantendo ambientes arejados, evitando tocar em corrimões e superfícies potencialmente contagiosas e até usando máscaras de pano para evitar o contágio de outras pessoas quando estiverem gripadas. Ou, pelo menos, quer acreditar nisso:

- Com o passar dos anos, se não tornar a acontecer algo do gênero, as pessoas esquecem um pouco e diminuem a intensidade dos cuidados. Mas como vai levar um tempo ainda para tudo voltar à normalidade, então tem maior chance desses comportamentos benéficos se manterem.

Algo que no momento está arraigado, como já percebeu a especialista, é um olhar comunitário sobre etiquetas de higiene em

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público. As pessoas estão aprendendo que precisam, pelo menos, colocar o braço na frente da boca ao tossir e espirrar. E cobram de quem não faz isso.

02/05/2020 | Zero Hora | Artigo | 31

O inimigo do povo

Na peça de teatro de Henrik Ibsen (1882) - que se passa numa pequena cidade da Noruega cuja maior fonte de renda advém de sua estação balneária -, Dr. Stock- mann identifica que a água está poluída, aparentemente devido a lançamentos de impurezas dos curtumes da cidade. Médico dedicado à ciência, sente-se no dever de levar a verdade ao povo. A denúncia representará o encerramento do balneário, o que causaria um transtorno para a cidade, que deixaria de lucrar com o turismo. Ele é apontado então como inimigo do povo!

Nesta pandemia, enfrentamos um inimigo invisível que dizima populações. Não é de hoje que decisões duras impostas pelo dilema da preservação da vida e repercussões econômicas vêm ao debate público. A despeito das questões ideológicas, interesses mesquinhos e particulares, devemos entender que a pandemia é única, com padrões de transmissão, distribuição etária e viabilidade no meio externo desconhecidos. Ainda que o curso seja impossível de prever, sabemos que a fase inicial é o momento adequado de agir com celeridade.

Como na prática médica em geral, por vezes, os tratamentos são realizados em etapas ou ciclos e ocorrem em tempos diversos. A primeira etapa envolve conscientização da população, da academia e de toda a sociedade para preparo e entendimento da gravidade.

São medidas restritivas severas com repercussões na vida de cada cidadão e na economia. O distanciamento social nunca é popular.

E o objetivo não é conter a doença, mas reduzir mortalidade, atendimento hospitalar, mormente tratamento intensivo. Evitar a falência do sistema de saúde e as escolhas de Sofia!

Não podemos "matar da cura", mas temos que evitar de apontar o Inimigo do Povo. Infelizmente com custos para a vida e para a atividade econômica, pois sabemos que são inevitáveis, embora trabalhemos para minimizá-los. Estamos no primeiro ciclo do tratamento e precisamos evoluir para o seu aprimoramento contínuo. Não há caminhos mágicos. A prevenção no tempo certo é a melhor escolha para salvaguardar a vida e, ao mesmo tempo, uma economia voltada a sustentar uma casa compartilhada por todos.

JADERSON COSTA DA COSTA

Médico, diretor do Instituto do Cérebro (InsCer), vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) jcc@pucrs.br

02/05/2020 | Zero Hora | Contracapa | 48

Pandemia tende a aumentar abismo social

Páginas 12 e 13

Segmento: Outras Universidades 02/05/2020 | ABC | Geral | 4

Professor da região é referência sobre Covid-19

O professor da Universidade Feevale e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Fernando Spilki, é uma das referências nacionais para falar sobre o novo coronavírus. Ele tem sido fonte recorrente dos principais veículos de comunicação do País. Na manhã desta sexta-feira Spilki foi um dos entrevistados da GloboNews, direto de Novo Hamburgo.

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Ainda em janeiro ele falou na Rádio ABC, do Grupo Sinos, alertando que o vírus identificado na China se espalharia rápido pelo mundo. No fim de março o professor foi nomeado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações para compor o Comitê de Especialistas Rede Vírus. É o único pesquisador do Sul do Brasil a integrar o grupo.

02/05/2020 | ABC | Geral | 6

SUS: criticado por uns, aclamado por outros

Mais do que apenas longas filas e hospitais lotados, o sistema público de saúde brasileiro é um dos maiores do mundo. Saiba por que no raio X a seguir

De um lado, postos de saúde lotados, pacientes esperando leitos em macas nos corredores de hospitais – cenas comuns em algumas cidades maiores. De outro, distribuição gratuita de medicamentos, transplantes e atendimentos de alta complexidade que salvam milhares de vidas. Duas faces de um mesmo sistema de saúde, o SUS, que está disponível para todos os 211,4 milhões de moradores dos 5.570 municípios brasileiros. Neste ano, seu orçamento previsto é de R$ 152,2 bilhões, dinheiro proveniente dos impostos que toda a população paga.

Criticado por uns, aclamado por outros, é um dos maiores e mais inclusivos sistemas de saúde do planeta e sua importância ficou ainda mais evidente com o avanço da pandemia de coronavírus. Por isso, o ABC elaborou um extenso raio X para diagnosticar seus prós e seus contras, ouvindo especialistas, médicos e pacientes da região e também de outros países tidos como referência para traçar um comparativo. O Sistema Único de Saúde foi criado pela Constituição de 1988 e passou por constantes ampliações e aperfeiçoamentos. “É o grande sistema público de saúde em nível internacional. Poucos outros países no mundo têm a saúde como um direito e, os que têm, possuem populações infinitamente menores”, observa a professora da Escola de Saúde da Unisinos Nêmora Tregnago Barcellos.

Segundo o Ministério da Saúde, hoje são atendidos dois terços da população, cerca de 140 milhões de pessoas. Os demais 70 milhões contam com plano de saúde particular, mas também acabam utilizando o sistema público em emergências ou quando necessitam de procedimentos não cobertos pelas empresas. Estrangeiros Mas não são apenas os brasileiros que têm acesso ao atendimento universalizado: os refugiados de vários países, a exemplo dos venezuelanos, conseguem até marcar consulta. Em quantas outras nações isso é possível? Mas então por que tornou-se uma espécie de “esporte nacional” fazer críticas ao SUS, muitas delas infundadas?

“Porque os problemas são mais visíveis do que o que realmente funciona”, responde Nêmora. Para o geriatra e professor do curso de Medicina da Feevale Leandro Minozzo, todos são responsáveis por essa má impressão. “Mas, talvez, os políticos tenham grande culpa: enaltecem a si mesmos quando usam verbas do SUS localmente e, quando cobrados por falhas na área, põem a culpa no sistema”, lamenta. Outra explicação está no fato de que uma significativa parcela dos brasileiros desconhece como a saúde funciona em países tidos como referências. “Nos Estados Unidos, uma das maiores causas de falência de pessoas físicas refere-se a gastos com saúde”, revela a médica gaúcha Ana Luiza Mandelli, que mora no Colorado.

COMO FUNCIONA EM OUTROS PAÍSES ESTADOS UNIDOS

O sistema de saúde nos EUA (334 milhões de habitantes) se divide nos programas públicos, que são o Medicare e o Medicaid, e os seguros saúde (também conhecidos como planos de saúde). O primeiro destinado às pessoas com 65 anos ou mais e também àquelas com doenças e deficiências incapacitantes. O segundo é para populações de baixa renda, com algumas variações entre os Estados. Já o terceiro é particular, atendendo a quem possa pagar. Para fazer parte do Medicare, que é pago pela Previdência dos EUA, é preciso que o cidadão americano ou imigrante tenha contribuído durante seus anos de trabalho.

O programa é dividido em quatro partes Todos os beneficiados estão na parte A, que garante atendimento hospitalar e alguns cuidados médicos em casa. É possível ampliar os benefícios mediante o pagamento de uma taxa que o colocará na parte B, o seguro com outros serviços. Existem ainda as partes C e D, que são um seguro avançado, com cobertura de diversos tipos e medicamentos.

O Obamacare é o que se pode chamar de um sistema de saúde semipúblico. Foi criado pelo ex-presidente Barack Obama e aprovado em 2010 para aumentar o acesso aos planos e, consequentemente, o atendimento médico. Vinte milhões de pessoas foram incluídas,

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mas deverá sofrer revisões em 2021.

REINO UNIDO

O National Health System (NHS) é universal e gratuito, financiado por impostos. Foi fundado em 1948 e serviu de inspiração para a criação do SUS. Por todo o Reino Unido (67 milhões de habitantes), existe uma rede de hospitais e clínicas públicas. O centro do sistema britânico são os General Practitioner (GP), postos de saúde que existem em todos os bairros e onde um clínico geral acompanha e atende as pessoas registradas e encaminha para especialistas, se necessário.

Além dos GPs, o NHS conta com os walk-in centres, nos quais não é necessário agendar consultas, hospitais e postos de pronto-atendimento 24 horas. Alguns serviços são cobrados, como remédios, oftalmologia e odontologia. Falta de estrutura e de equipamentos Entrevista Nêmora Barcellos / Problemas são organizacionais e também financeiros, diz professora Professora da Escola de Saúde da Unisinos, Nêmora Tregnago Barcellos elenca, na entrevista a seguir, os principais avanços proporcionados pelo SUS desde a sua criação, em 1988, assim como os pontos em que ainda precisa evoluir. Qual a sua avaliação geral sobre o SUS?

Nêmora Barcellos - Respeitando princípios e diretrizes, o SUS vem sendo construído lentamente com o esforço de muitos, mas com avanços pequenos e grandes retrocessos, mostrando grande vulnerabilidade face a mudanças de governo, gestores e partidos.

O engessamento burocrático, a falta de estudos situacionais e planejamento e monitoramento dos resultados a longo prazo, acompanhados da carência de administração de qualidade, são companheiros do financiamento insuficiente do SUS e os principais problemas a serem enfrentados, não diferentemente do que ocorre com outros setores, como a educação. O SUS é um grande sistema de saúde. É único para um Brasil diverso e desigual. Quais os avanços obtidos pela saúde pública desde os anos 80, quando na época todos tinham a sua carteirinha do INPS? Nêmora - Em 1977 foi criado o INPS, em um período de urbanização crescente, caracterizando-se por ser hospitalocêntrico, centralizado, funcionando através de serviços médicos (pré-pagos) ou pagamento por unidade de serviço que davam margem à corrupção e ao clientelismo político, estimulando um complexo industrial privativista.

Tinham direito à saúde aqueles com emprego fixo, carteira assinada e carteirinha do INPS.

Produtores rurais, empregados informais e desempregados não tinham esse direito e ficavam nas mãos de entidades filantrópicas. O SUS surge nesse contexto a partir do Movimento da Reforma Sanitária, da 8ª Conferência Nacional de Saúde (1988), incluído no texto constitucional e regulamentado por leis, com o objetivo de atender às necessidades de saúde da população. Por que o SUS é tão criticado pelos brasileiros, na sua opinião? Nêmora - O SUS tem problemas, tanto organizacionais, quanto administrativos, quanto financeiros. Esses problemas têm impacto grande na qualidade da atenção prestada por falta quantitativa de profissionais e por deficiência qualitativa, por carência de um sistema potente de educação permanente. Faltam equipamentos, estruturas e pessoas. O controle social está em muitas situações muito envolvido com a política e deixa de exercer sua função principal de lutar por melhores ofertas de serviços. Ainda assim, os problemas são mais visíveis do que o que realmente funciona. Pensemos na nossa cobertura vacinal, nas estratégias de saúde da família, no programa de agentes comunitários de família, na mudança do foco da saúde para a atenção primária que representa a racionalização dos recursos mais especializados. Pensemos na disponibilização de medicamentos para a população, no acesso igualitário a procedimentos de alto custo como transplantes e substituição renal.

Nem sempre o que temos é suficiente e cabe a nós preservar o que temos, não dando abertura a tentativas de desestruturar o sistema e retroceder. O sistema é único, integral, igualitário e universal. É um SUS forte que queremos. E quando comparado com outros países? Nêmora - Os EUA têm dois planos limitados de saúde pública: Medicare para pessoas idosas e o Medicaid para os muito pobres. Todo o resto da população tem que pagar (e muito) para ter acesso ao sistema de saúde. A Inglaterra tem um sistema público de saúde bem organizado, efetivo e sério. É universal e eficientemente administrado.

A diferença em relação ao Brasil é que a área geográfica da Inglaterra é muito menor que a nossa (nosso País é um grande continente) e habitada por cerca de um quarto da população brasileira, com um nível sócio-econômico privilegiado e sem a desigualdade presente no Brasil. Cabe salientar também que na Inglaterra o sistema é todo controlado, protocolos são utilizados em todo o sistema, fruto de sólidos estudos de custo de efetividade de cada ação recomendada em saúde.

02/05/2020 | ABC | Geral | 8

Cerca de 30 milhões de norte-americanos estão desassistidos

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A maior desvantagem do sistema norteamericano é que há entre 20 milhões e 30 milhões de pessoas sem qualquer tipo de atendimento de saúde e, quando precisam ser atendidas em emergências, as contas são muito salgadas. Mesmo aquelas que têm planos particulares às vezes precisam pagar co-participação”, aponta a médica e cirurgiã oncológica Ana Luiza Mandelli Gleisner, 47, que está nos EUA desde 2005 e atualmente mora em Denver, no Colorado, atuando no hospital da Universidade do Colorado.

Antes de ir para a América do Norte, também trabalhou no Hospital Municipal de Novo Hamburgo.

Por excluir parte da população, o atendimento de saúde atualmente tem sido alvo de muitos debates. “A diferença é que, neste momento de pandemia, o governo garantiu que vai pagar a conta de todos”, acrescenta. A vantagem por lá é que as empresas são gerenciadas pela iniciativa privada, então há eficiência e competição. “Mesmo norte-americanos que nasceram aqui e não têm uma renda que lhes permita pagar um plano, não terão acesso a um bom atendimento de saúde”, ressalva. Ela considera que o maior problema do SUS é o gerenciamento dos recursos, somado à corrupção que existe em diversas esferas públicas no Brasil. “Por isso cabe aos usuários do Sistema Único exigir constantes melhorias”, sugere. O Hospital de Clínicas, na sua avaliação, é modelo de bom funcionamento do SUS, atribuindo a eficiência à parceria com a Ufrgs e à qualificação dos funcionários.

Mortalidade Nos EUA, o número de mortes de pacientes negros pela pandemia é proporcionalmente maior em muitas cidades. Isso acontece porque, a exemplo do que ocorre em muitos países, como o Brasil, os negros estão em classes sociais mais baixas, condição que, nos EUA, acaba dificultando o acesso ao atendimento de saúde. Sem condições de arcar com os custos que posteriormente serão cobrados, acabam adiando ao máximo a busca por atendimento, o que se reflete em índices de mortalidade mais altos.

“Como os Estados têm leis próprias, creio que a demora em fazer o isolamento contribuiu para o avanço da pandemia. No caso de Nova York, há o agravante da densidade populacional e o fato de ser uma cidade turística”, avalia Ana Luiza Mandelli.

02/05/2020 | ABC | Geral | 9

Uma enorme vitória do povo brasileiro

Uma enorme vitória do povo brasileiro. É assim que o cientista político e professor nos cursos de Relações Internacionais e Jornalismo da Unisinos, Bruno Lima Rocha, define o SUS. “O atendimento de saúde pública, gratuita e universal, é uma conquista concretizada na Constituição de 1988 e tem como origem a reivindicação das pastorais sociais, a tradição de medicina social e sanitária brasileira, além da luta de médicas e médicos residentes a partir do último governo da ditadura com Figueiredo.

O sistema e as políticas de saúde são bem montados e passam por um bom nível de controle social”, pondera. “O que se vê de conflito interno é a presença de secretários municipais e estaduais da saúde, além de autoridades do Ministério da Saúde, de vários governos de turno, que não têm vocação nem identidade com o serviço público e fazem desses postos e cargos um trampolim carreirista. Isso sim prejudica, além do corte de verbas”, acrescenta. As críticas feitas pela população, na sua ótica, ocorrem porque os recursos não chegam. “E se há problema de gestão, esse é secundário, é um bode expiatório no argumento contra o SUS.

Outro problema é que o sistema não dá conta de tudo porque a tributação no Brasil não incide sobre a riqueza e sim sobre o salário e o consumo. Temos a ideia da excelência de mercado e aí parece que um status no Brasil é ter plano de saúde e não toda a sociedade ter direito a uma carteira nacional de saúde”, adverte.

02/05/2020 | ABC | Especial | 26

Como ficam as universidades da região

As universidades da região anunciaram como serão as atividades letivas até o final do semestre. Confira os detalhes das diferentes instituições:

Feevale As aulas na Universidade Feevale vão seguir acontecendo em ambiente virtual até, pelo menos, a metade do mês de maio. A instituição anunciou, através de suas redes, que manterá as aulas na modalidade online até o dia 15 de maio. A data, porém, poderá

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ser modificada conforme as orientações dos decretos.

Unisinos As atividades de sala de aula se manterão no ambiente virtual até o final do primeiro semestre na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). A instituição comunicou a medida quinta-feira (30) em seu portal, salientando que o objetivo é evitar aglomerações e o contágio pelo novo coronavírus.

Ulbra A reitoria da Ulbra informou em nota divulgada nesta sextafeira, 1º, que irá concluir o semestre letivo de todos os cursos pela plataforma digital da instituição, incluindo avaliações e provas finais. A nota esclarece que a suspensão de estágios e residências médicas devem obedecer às regras da unidade concedente e que professores com cargos de gestão seguirão à disposição da universidade para o planejamento e adequação das atividades pedagógicas ao formato digital.

La Salle A Universidade La Salle suspendeu na quintafeira, 30, a reabertura dos atendimentos presenciais na unidade de Canoas que estava previsto para segunda-feira, 4. Os espaços destinados aos alunos com dificuldades de acesso ao conteúdo on-line também estarão fechados. Em nota, a La Salle informa que o retorno das atividades está previsto para o dia 18 de maio, conforme orientação do Ministério da Educação. Até lá, todo o conteúdo dos cursos segue disponível na plataforma digital da instituição.

02/05/2020 | Correio do Povo | Ensino | 12

Agenda do ensino

Marcha pela Ciência: A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizará, dia 7/5, a Marcha Virtual pela Ciência no Brasil, visando destacar a importância da Ciência no enfrentamento da pandemia da Covid-19. As atividades serão transmitidas pelas redes sociais da SBPC, envolvendo seminários, debates on-line e tuítes. Um dos convidados é o pesquisador Fernando Spilki, do mestrado em Virologia da Feevale. Acessos: www.facebook.com/SBPCnet e outube.com/user/canalsbpc.

Dia do Trabalhador: Buscando compreender a relação histórica, social, econômica e comportamental do ser humano com o trabalho, o Jornal da Universidade, da Ufrgs, traz reportagem com seis professores da Universidade Federal do RS que desenvolvem pesquisas acerca destas questões. O texto aponta que este 1° de maio, apesar de diferente dos anteriores, possui semelhanças “de reflexão, de lutas, mas, acima de tudo, de resgate da coletividade”. Conferir, na íntegra, em: bit.ly/3bV1GEE.

02/05/2020 | Correio do Povo | Geral | 16

Hospital Militar faz treinamento

O Hospital Militar de Área de Porto Alegre promoveu treinamento de capacitação em intubação orotraqueal, voltado aos médicos da unidade. As demonstrações práticas foram realizadas nos manequins de simulação realística, emprestados pela Universidade Luterana do Brasil. “Optamos por profissionalizar os nossos médicos, uma vez que muitos ainda não têm a expertise das técnicas corretas de intubação, aprimorando os cuidados necessários contra a contaminação”, apontou o médico Major Leandro Tavares, falando sobre o processo de simulação.

02/05/2020 | Diário de Santa Maria | Geral | 28

Ulbra decide manter aulas virtuais até fim do semestre

Nesta quinta-feira, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) de Santa Maria decidiu manter as aulas apenas via ambiente virtual até o final do primeiro semestre de 2020. Para as disciplinas práticas e de estágio, o calendário ainda está sendo definido.

CALENDÁRIO

Segundo o reitor da instituição, Mauro Cervi, desde o inicio do isolamento social, as disciplinas teóricas estavam sendo ministradas

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pelo Aula, ambiente virtual de aprendizado da universidade. Assim, ficou definido que esse sistema será mantido até a finalização do semestre. Quanto ao próximo, o reitor disse que aguardará as novas definições do Ministério da Educação. Para as disciplinas práticas e os estágios, o calendário para finalização dos créditos ainda está sendo definido e deverá ser divulgado para os alunos em breve.

02/05/2020 | Folha do Mate | Opinião | 6

Estado melancólico

Melancolia é um estado emocional, semelhante ao processo de luto, mas não há a perda que o caracteriza. Esta mensagem é dedicada a todas as ESCOLAS e a todos aqueles que fazem parte dela. Especialmente ao Colégio Gaspar! Na pracinha, ninguém brinca. Na escada, ninguém sobe e ninguém desce. Na biblioteca, ninguém lê. No pátio, um enorme vazio. Num piscar de olhos, tudo mudou... No lugar da lousa, uma tela. Um cantinho sossegado em casa substitui, por enquanto, a sala de aula.

A escola continua vazia, mas as salas virtuais estão cheias. As palavras esforço e dedicação se tornaram sinônimos de ALUNO e de PROFESSOR. A educação não para. Vamos aprender e ensinar diante de qualquer situação! Vamos crescer e evoluir. Com o apoio de todos, direção, professores, alunos, pais e funcionários, os sonhos se tornarão possíveis de realizar. Basta que o empenho e a determinação casem com o desejo de saber mais e melhor todos os dias. Não permitam que a PANDEMIA esmague vocês, que ela os jogue para trás.

Não permitam que isso aconteça. Lembrem-se de quem vocês são e de tudo aquilo que ainda vão conquistar. Todos nós estamos lutando contra um inimigo que nem se vê e que nos provoca medo e dúvidas. Obstáculos na vida são inevitáveis. Em tudo e qualquer objetivo que tentarmos realizar enfrentaremos barreiras. Pode ser só um dia ruim em que não conseguiremos estudar por diversos motivos. Mas o mais importante, que se deve manter em mente, é NUNCA DESISTIR. Barreiras e obstáculos existem para serem superados, assim aumentando nosso conhecimento e experiência. Tenho feito da dificuldade a minha motivação. A volta por cima vem na continuidade de cada dia tentar ser e fazer melhor. Espero que em um piscar de olhos tudo fique bem!

JÓICE DAIANE DA SILVA

Professora de Geografia e Auxiliar de Biblioteca do Colégio Gaspar Silveira Martins Acadêmica do curso de Geografia – Universidade de Santa Cruz do Sul

02/05/2020 | Folha do Mate | Sérgio Klafke | 8

Brasil, o maior produtor de soja

Tenho utilizado o espaço do sábado para destacar boas notícias em tempos de pandemia de coronavírus e instabilidade política, onde o que mais se tem é notícia ruim. Pedro Juchem, engenheiro agrônomo formado pela UFRGS, que atuou na fumicultura desde 1974, quando ainda era LM do Brasil, e prestou consultoria na sucessora Alliance One e Philip Morris, atualmente curte sua aposentadoria.

Sempre atento, ele postou nesta semana em página de rede social, uma boa notícia. O Brasil como maior produtor mundial de soja, ultrapassando os Estados Unidos. Para a safra 2019/2020, mesmo com a seca que castiga boa parte do Sul do país, a projeção da Conab é o total da safra brasileira de grãos atingir o recorde de 245,8 milhões de toneladas. A soja é o carro-chefe, com 124,5 milhões de toneladas.

O milho tem 99,7 milhões de toneladas. Depois vêm arroz e feijão, abaixo de 12 milhões de toneladas, mais trigo. Essa produção sustenta a base da cadeia alimentar humana e animal do Brasil e em muitos outros países para quem vendemos grãos, mas deveríamos vender produtos prontos, agregando maior valor. A área total cultivada com grãos no Brasil soma 63,9 milhões de hectares, apenas 7,6% do território nacional. Só a soja ocupa 35,8 milhões de hectares. Mais da metade. ESCALADA DA SOJA Em 1980, a produção de soja no mundo era de 86 milhões de toneladas. Os Estados Unidos produziam 36% do total (31 milhões de toneladas), o Brasil 13% (11 milhões de toneladas) e o resto do mundo produzia 51% (44 milhões de toneladas).

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Hoje, 40 anos depois, o Brasil é o maior produtor mundial de soja, com 37% do total (124,5 milhões de toneladas). Estados Unidos, com 29% do total, reduz produção para 96,8 milhões de toneladas. O resto do mundo fi ca com 34% (116,8 milhões de toneladas).

No Brasil, o estado que mais produz soja é o Mato Grosso, com 34 milhões de toneladas projetadas nesta safra. O Paraná tem 19,9 milhões de toneladas e, o Rio Grande do Sul, devido à estiagem, cai para terceiro, com 18 milhões de toneladas.

Em Venâncio Aires, conforme números que me repassa Vicente Fin, engenheiro agrônomo e chefe da Emater, a safra de soja é de 3.950 hectares, mas terá perda de 57% e deve colher uma média de 1.545 kg/ha, o que soma 6 milhões de kg. Na safra passada, a soja ocupou 3.750 hectares em Venâncio, com produtividade de 3.650 kg/ha, somando 13 milhões de kg. É uma alta produtividade, pois no país foi de 3.206 kg/ha e, nos Estados Unidos, de 3.468 kg/ha.

02/05/2020 | Folha do Mate | Noticias | 13

Aulas nas escolas públicas só em junho

Medida foi anunciada pelo governador Eduardo Leite na tarde da quinta-feira, 30 de abril, durante coletiva de imprensa virtual.

Objetivo é prevenir a propagação da Covid-19 no Rio Grande do Sul

Suspensas desde meados de março em Venâncio Aires por causa da pandemia do novo coronavírus, as aulas nas escolas municipais e estaduais devem retornar apenas do no mês de junho. A prorrogação da suspensão do atendimento na rede pública, o que também inclui universidades, foi anunciada pelo governador Eduardo Leite na quinta-feira, 30, durante coletiva de imprensa on-line. De acordo com Leite, em maio haverá 15 dias de suspensão das atividades e serão adiantados 15 dias referentes ao recesso de inverno, que sempre ocorre na metade do ano.

Com a adoção dessas ações, a intenção é que as aulas recomecem em junho e o ano letivo encerre em janeiro de 2021. Além disso, para que as aulas retornem, diversas medidas de prevenção já estão sendo organizadas. Conforme informações do Governo do Estado, ao longo do mês de maio serão estabelecidos protocolos para que alunos, professores e servidores possam retomar as aulas com segurança. Isso pode exigir a compra de materiais ou equipamentos de proteção e reforço de recursos humanos, cujos processos de aquisição e contratação podem levar mais tempo.

REDE PRIVADA

Em relação à rede privada, Eduardo Leite explicou que existe a possibilidade de que o retorno das aulas seja antecipado para maio.

Contudo, ele destaca que no momento as aulas nessas instituições seguem suspensas e é necessário aguardar um novo decreto com as medidas que deverão ser adotadas. Segundo o Governo do Estado, no caso desses estabelecimentos de ensino, será levado em consideração a região onde eles funcionam e as regras de distanciamento controlado que passam a vigorar no Rio Grande do Sul na próxima semana. “Vamos definir o protocolo para a educação e a rede privada, se tiver condições de atender esses protocolos, poderá retomar as aulas antes”, explicou.

Universidades

• A Universidade do Vale do Taquari divulgou na tarde da quinta-feira, 30, que, alinhada às orientações do Governo do Estado e com a situação de Lajeado – considerado um dos municípios do estado que apresentam maior risco em relação à pandemia da Covid-19 - a instituição manterá as aulas virtualizadas. O trabalho de professores e técnico-administrativos também segue sendo realizado em formato home office. Ainda conforme o comunicado divulgado pela universidade, a Comissão de Prevenção seguirá analisando, diariamente, a evolução das medidas tomadas e informará caso as aulas presenciais retornem.

• Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) informou à comunidade acadêmica de que atenta às deliberações dos órgãos públicos e das autoridades sanitárias no que diz respeito à pandemia da Covid-19, a instituição tem convicção que o retorno das aulas presenciais não ocorrerá na segunda-feira, 4. Assim, as atividades acadêmicas continuam sendo realizar no ambiente virtual.

Estágios e atividades práticas têm regramentos específicos e as singularidades estão sendo estudadas. Além disso, o estabelecimento de ensino segue com o diálogo e apoio às atividades remotas de estudantes e professores.

Referências

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