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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

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Academic year: 2022

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DE SEM-TERRA A “POSSEIRO”, A LUTA PELA TERRA E A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO CAMPONÊS NO ESPAÇO DA REFORMA AGRÁRIA: O CASO DOS ASSENTADOS NAS FAZENDAS RETIRO E VELHA – GO

MARTA INEZ MEDEIROS MARQUES

Tese de doutorado apresentada ao curso de Pós- Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia FFLCH – USP como requisito para obtenção do Título de Doutor.

Orientador: Prof. Dr. Ariovaldo U. de Oliveira

SÃO PAULO 2000

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Dedico esta tese que fala de luta a Fred, meu irmão querido, que me ensinou que na vida se deve lutar até o fim.

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APRESENTAÇÃO

1

INTRODUÇÃO 11

Iª PARTE: CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL 34

1º Capítulo – A GESTAÇÃO DE UMA MENTALIDADE RADICAL ENTRE OS CAMPONESES DE GOIÁS VELHO E DESDOBRAMENTOS RECENTES NO CAMPO DE LUTAS DA QUESTÃO AGRÁRIA

35

1.1. A ruptura do contrato: mudanças nas relações sociais no interior da

fazenda 36

1.2. Luta e resistência camponesas no estado de Goiás 46 1.3. O trabalho da “Igreja do Evangelho” e da CPT em Goiás Velho 51

1.4. Outros mediadores: MST e STR 65

1.5. Latifundiários e fazendeiros 76

1.6. O Estado, do nacional ao local 82

IIª PARTE: O CASO DOS ASSENTADOS NAS FAZENDAS RETIRO E

RETIRO VELHO 96

2º Capítulo: DE SEM-TERRA A “POSSEIRO”: ENTRE PROJETOS E

IDEOLOGIAS, A REALIZAÇÃO DA PASSAGEM 97

2.1. A origem das famílias e o projeto camponês dos assentados em Retiro

e Retiro Velho 99

2.2. A política de Reforma Agrária do INCRA 103 2.3. O movimento de luta pela terra enquanto processo ritual e o

surgimento de novas identidades 112

(4)

3º Capítulo: A LUTA PELA TERRA 126 3.1. Os sem-terra: formação do grupo e preparação para a luta 126 3.2. Da ocupação à conquista da terra: história e memória 132 3.3. O acampamento: organização social e política e forma de

espacialização 139

4º Capítulo: A LUTA NA TERRA 161

4.1. A organização da produção 165

4.2. A família e o lote 186

4.3. A comunidade e o assentamento como território 207 4.4. A relação com a sociedade envolvente 218

IIIª PARTE: CONSIDERAÇÕES FINAIS 223

BIBLIOGRAFIA 226

ANEXOS

(5)

Este trabalho analisa a organização social e forma de espacialização dos trabalhadores assentados nos assentamentos de Reforma Agrária Retiro e Retiro Velho- GO, nas fases de luta pela terra e luta na terra. A pesquisa teve como objetivo refletir através da perspectiva geográfica sobre as seguintes questões: em que base se organiza a luta dos trabalhadores sem-terra e como estes reconstróem suas vidas no assentamento.

O grupo estudado se organiza e inicia a luta pela terra num contexto regional marcado pela emergência de uma série de lutas envolvendo posseiros e sem-terra a partir do final dos anos 70 e pelo apoio decisivo prestado a estes trabalhadores pela Diocese de Goiás. A luta destes sem-terra é motivada por um projeto de vida camponês e vivida como um ritual de passagem. O espaço do acampamento é construído a partir da vivência de uma comunidade utópica mobilizada pela luta política.

A abordagem da fase de luta na terra, que tem início com a criação do assentamento, visou apreender como eles constróem a sua relação com a terra neste novo espaço a partir da análise da forma como organizam sua produção, a unidade familiar e as relações comunitárias estabelecidas entre eles neste período. O que permitiu a identificação de um complexo processo de mudança social que caminha no sentido da recampesinização dos trabalhadores assentados e da construção de um território camponês na área dos assentamentos, entrando em conflito com os ideais de modernidade que orientam o Programa de Reforma Agrária do Estado Brasileiro. Neste processo, que envolve aspectos objetivos e subjetivos, o aprendizado político destes trabalhadores, realizado a partir da experiência de luta e de sua trajetória como assentado do INCRA, constitui o principal fator de inovação.

Palavras-chave: camponês, sem-terra, luta pela terra, reforma agrária, assentamento, território, campesinidade, cultura e geografia.

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ABSTRACT

This study analyses the social organization and the form of spatialization of the settled rural workers in the land reform settlements of Retiro and Retiro Velho during the “struggle for land” and the “struggle in the land” periods. From a geographic perspective, the research aimed at reflecting on the following issues: the basis upon which the struggle of the landless workers is organized and how they reconstruct their lives in the settlement.

The group organized itself and starts its struggle for land in a regional context characterized by the emergence of a series of conflicts involving posseiros and landless workers from the end of the seventies and by the decisive support given to these rural workers by the Diocese of Goiás. Motivated by a peasant project of life, the struggle of the landless workers is experienced as a rite of passage. The settlement‟s space is constructed from the experience of a utopic community mobilized by the political struggle.

The study of the “struggle in the land” period, initiated with the settlement formation, intended to understand how they construct their relationships with the land in this new space from the analysis of the organization of production, the familiar group and the communitarian relations established between them in this period. The research allows the identification of a complex process of social change towards the re- peasantrynization of the settled rural workers and the building up of a peasant territory in the settlement‟s area, in a conflict with the modern ideals that orient the Brazilian Land Reform Program. In this process, in which are involved objective as well as subjective aspects, the political apprenticeship of the rural workers, realized from their experience of struggle and their trajectory as land reform‟s beneficiares, constitutes the main factor of innovation.

Keywords: peasant, landless workers, struggle for land, land reform, settlement, territory, peasant ethics, culture and geography.

(7)

Agradeço a todos aqueles que, de diferentes maneiras, me ajudaram nesta longa caminhada e em especial:

Ao casal de assentados e amigos Maria José e Wilson Costa - sem a especial acolhida deles, este trabalho teria sido muito mais difícil – e a todos os assentados dos assentamentos Retiro e Retiro Velho;

Ao Prof. Ariovaldo U. de Oliveira, pela amizade e por dividir comigo os seus ensinamentos;

A José Roberto Pereira, amigo e companheiro no trabalho de campo realizado para esta pesquisa;

À Prof. Ellen Woortmann, pela gentileza em discutir comigo questões sobre campesinato e cultura;

A Regina Sueli de Sousa, que me apresentou ao campesinato Goiano;

Ao CNPq, que me concedeu a bolsa de doutorado;

À toda minha família, que me deu suporte em todos os momentos deste trabalho, e, em especial, a João e Pedro.

(8)

Apresentação

1. O objetivo da pesquisa e estrutura do trabalho

O presente trabalho de tese se insere numa trajetória acadêmica de mais de dez anos voltados para o conhecimento do campesinato brasileiro e suas diferentes formas de luta por sua reprodução social. Ao refletir sobre a Reforma Agrária hoje em andamento no país, duas importantes questões se impuseram à análise: (1) em que base se organiza a luta dos trabalhadores sem-terra e (2) como estes trabalhadores reconstroem suas vidas depois de assentados.

Esta pesquisa foi o caminho concebido para responder a estas questões a partir de uma perspectiva geográfica e assim contribuir para a reflexão mais geral a respeito do significado do movimento de luta pela terra e do processo de Reforma Agrária para os trabalhadores sem-terra e para a sociedade brasileira. Ela se refere a um estudo de caso realizado nos assentamentos Retiro e Retiro Velho em Goiás com o objetivo de compreender a organização social e a forma de espacialização dos trabalhadores aí assentados, nas fases de luta pela terra e luta na terra.1

Os assentamentos Retiro e Retiro Velho foram criados pelo INCRA em terras contíguas dos municípios de Goiás e Itapirapuã, respectivamente.2 Eles abrigam famílias originárias de um mesmo grupo de sem-terra que ocupou a área pela primeira vez em abril de 1988 e constitui hoje uma única comunidade.3 As duas propriedades foram desapropriadas em momentos distintos, 1989 e 1991. Com a liberação da primeira, Fazenda Velha, o grupo instalou-se no interior da mesma e lá permaneceu acampado aguardando a liberação da outra. O longo período de existência destes

1 Fernandes (1996), baseado em Oliveira (1992), analisa a expressão espacial apresentada pelo MST de São Paulo nestes dois momentos do processo de Reforma Agrária, assumindo uma posição teórica diferente daquela por nós adotada, conforme será visto na parte final da introdução.

2 Por motivo de praticidade e em conformidade com a nomenclatura local, também será empregada a expressão “Retiro e Velho” para se referir aos dois assentamentos.

3 Segundo Nisbet (1977:256): “Na tradição sociológica, de Comte e Weber, o contraste conceitual entre o comunitário e o não-comunitário é evidente e está perfeitamente definido. Foi Tönnies quem, em fins do século passado, lhe deu expressão através dos termos Gesellschaft e Gemeinschaft.” Entende-se comunidade conforme definido por Tönnies, ou seja, como um princípio de organização social caracterizado por relações pessoais, face a face, vínculos de vizinhança, em que o envolvimento interpessoal é integral e direto. Tönnies trabalha a oposição entre Gemeinschaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade), esta última marcada por relações impessoais e laços contratuais. (cf. Nisbet, 1986:41-61)

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política de Reforma Agrária de maneira mais aprofundada.

A tese se encontra dividida em três partes e quatro capítulos: a primeira refere-se à contextualização do caso estudado e é formada pelo primeiro capítulo apenas; a segunda trata da análise do caso propriamente dito, sendo composta pelo segundo e terceiro capítulos e a terceira corresponde às considerações finais.

Esta estrutura é antecedida por uma introdução que procura situar a atual questão agrária na história do conflito entre diferentes territorialidades4 que marca a reprodução social camponesa na sociedade brasileira a partir da segunda metade do século XIX e que se relaciona de forma direta com a luta pela terra e pela Reforma Agrária que surge em momentos distintos do século XX. Além disso, é discutida a origem cultural dos sem-terra e, apresentada a teoria do espaço adotada.

O primeiro capítulo trata do contexto sócio-cultural e político em que se dá o aparecimento da luta pela terra em Goiás Velho. Tal contexto é marcado, por um lado, por mudanças verificadas ao longo de gerações nas condições de vida e de produção dos trabalhadores rurais e pelo consequente surgimento de tensões sociais crescentes e, por outro, pela atuação de mediadores junto aos trabalhadores como “alavancas de consciência” em resposta a este processo.5 Em decorrência disso, verifica-se uma reação violenta dos grandes proprietários, que se organizam na UDR e formam milícias particulares para defender a sua terra.

A atuação do grupo estudado só pode ser compreendida se considerada a sua interação com os outros sem-terra e os demais atores sociais que participam ativamente do campo de lutas definido em torno da questão agrária na região.6 São eles, os agentes de mediação7 – como a Diocese de Goiás e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o

4 Entende-se territorialidade como um conjunto de relações associadas à organização do espaço em áreas distintas e exclusivas, ao menos parcialmente, para seus ocupantes ou aqueles que as definem. Para Raffestin, a territorialidade “reflete a multidimensionalidade do „vivido‟ territorial pelos membros de uma coletividade”. (1993:158) Retomando o pensamento de Soja, este autor afirma que ela é composta por três elementos distintos: senso de identidade, senso de exclusividade e compartimentação da interação humana no espaço. (op. cit.:162)

5 Sobre o que se entende a respeito da atuação dos mediadores como “alavancas de consciência”, sobretudo no que se refere ao trabalho de base desenvolvido pela Diocese de Goiás, ver os itens que tratam especificamente destes atores no primeiro capítulo.

6 Campo social ou campo de lutas é um conceito adotado por Bourdieu em sua teoria da prática. O campo é o locus onde se trava uma luta concorrencial entre os atores em torno de interesses específicos que caracterizam a área em questão. (cf. Ortiz, R., 1994:19)

7 Entende-se mediação como o ato de traduzir, e ou introduzir falas e linguagens, o que pressupõe diferenças culturais e assimetria econômica e política entre as partes em contato. (cf. Novaes, 1994:178- 179) Toda tradução dá origem a uma versão e esta sempre aparece comprometida com uma determinada

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Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR‟s) -, o Estado em seus diversos níveis e os grandes proprietários.

Cada um destes atores apresenta uma ação distinta em seu conteúdo, forma, espacialidade e significado, com variações ao longo do tempo, como se verá ainda no primeiro capítulo. A maioria deles possui também atuação em escala nacional, o que dá aos embates travados localmente maior expressão política e confere à realidade enfocada certa representatividade em relação ao que acontece no conjunto do país.

No segundo capítulo, contrapõe-se o objetivo da luta pela terra para o grupo estudado ao objetivo apresentado pelo Programa de Reforma Agrária do INCRA e constata-se que, enquanto para o primeiro a razão principal de sua luta é a realização de um projeto de vida camponês por meio da conquista da terra, para o segundo a Reforma Agrária visa a integração dos sem-terra na sociedade de mercado.

Também é analisada neste capítulo, a forma como ocorre o envolvimento das pessoas do grupo no processo de luta, que é vivido como um processo ritual nos termos de Turner (1974), constituído pelas fases de separação, transição e reagregação. A primeira etapa do processo tem início quando os trabalhadores, juntamente com as suas famílias, assumem a identidade de sem-terra e entram na luta. As fases seguintes correspondem aos períodos de luta pela terra, no qual o termo sem-terra torna-se sinônimo de acampado, e luta na terra, no qual eles passam a se ver como “posseiros do INCRA” ou simplesmente “posseiros”.8

O terceiro capítulo trata da fase de luta pela terra, que se inicia com a ação de ocupação e se estende por todo o tempo de acampamento. Esta fase é vivida como um estado transitório. As famílias acampadas, inspiradas por um discurso político-religioso, partilham uma experiência de ruptura em relação a modos normais de ação social e se submetem a situações extremas como um meio para alcançar o objetivo desejado. O acampamento é um espaço de luta e resistência e é também o lugar “provisório” de morada dos sem-terra. Nele, a vida se organiza em função da luta política e o cotidiano é marcado pela imposição de uma forte disciplina.

visão de mundo. São considerados agentes de mediação, seja entidades de apoio e assessoramento, seja entidades de representação dos trabalhadores. Muito frequentemente, estes agentes defendem posições, direcionam a luta e falam por eles próprios embora em nome do seu público, atuando como agentes externos no sentido empregado por D‟Incao (1995), dada a sua exterioridade e interferência sobre o grupo.

8 Emprega-se aqui o conceito de identidade como representação conforme Bourdieu (1989).

Referências

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