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33º Encontro Anual da ANPOCS. GT 30 Pensamento Social no Brasil. Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos: para além de um debate

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33º Encontro Anual da ANPOCS

GT 30 – Pensamento Social no Brasil

Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos: para além de um debate

Tatiana Gomes Martins

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INTRODUÇÃO

O objetivo central deste trabalho1 é inserir o debate entre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos sobre os fundamentos da Sociologia no Brasil no conjunto das discussões sobre a questão nacional brasileira de meados do século XX, ou seja como parte das disputas pela definição e orientação de um projeto de desenvolvimento para o país. Para isso, toma como ponto de partida a identificação e a análise dos temas papel intelectual, desenvolvimento e projeto de desenvolvimento nos dois intérpretes principais e em autores contemporâneos. Trata-se de uma reconstrução do contexto intelectual de circulação dessas idéias fundamental para a apreensão dos diálogos e posicionamentos com as principais teses que se desenvolveram em torno daquelas questões. Somado a isso, o levantamento dos dilemas do período de expansão da sociedade moderna capitalista brasileira sustenta o estabelecimento dos pontos de intersecção entre as interpretações particulares e as tensões vividas pela sociedade brasileira como um todo.

Desse modo, um dos principais pressupostos do trabalho consiste na definição do intervalo que compreende a segunda metade dos anos 1950 e os primeiros anos da década de 1960 como momento de crise da sociedade brasileira, ou seja, como quadro de alterações profundas na configuração da realidade brasileira. De maneira geral, essas transformações estão relacionadas ao salto econômico do Brasil de meados do século XX, ao fortalecimento do empreendedorismo estatal como alternativa de construção do capitalismo brasileiro, ao jogo de forças políticas que cercou essa tendência e à expansão do estilo de vida urbano-industrial. No plano das idéias, em especial no registro das ciências sociais, a relação com esse quadro de mudanças pode ser observada tanto na disseminação de temas diretamente relacionados a essas transformações quanto na configuração particular que envolve as relações entre o contexto de crise e a produção intelectual que dele emerge.

A identificação de um contexto intelectual e linguístico torna possível associar os temas e teses que circulavam, nesse caso nas ciências sociais e,

1 Trata-se de uma versão sumária da Tese de Doutorado defendida em 2008.

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em especial, na Sociologia, ao contexto político e histórico social constituindo uma porta de entrada para a compreensão da relação entre pensamento e política2. No primeiro caso, que expressa as repercussões do contexto de crise nas ciências sociais e a contrapartida das interpretações na área, pode-se identificar um contexto de circulação de idéias tais como as de mudança social, atraso/moderno, dualismo, desenvolvimento, subdesenvolvimento, planejamento social, secularização, racionalização, técnica social, reforma social, crise, revolução social, imperialismo, nação, nacionalismo, alienação transplantação, consciência científica3. Dessa forma, compreende-se a maneira pela qual as ciências sociais absorveram e se envolveram com os problemas e dilemas colocados pelo momento de transição da sociedade brasileira, entendido tanto em termos de consolidação do capitalismo brasileiro quanto de modernização da sociedade brasileira. Se, de um lado, essa reconstrução contextual permite identificar um universo comum de discussões entre Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos e autores contemporâneos, de outro, auxilia o reconhecimento do sentido atribuído a essas noções e temas por cada autor envolvido nas discussões, marcando as diferentes perspectivas.

O contexto de crise, contudo, não se expressa apenas na definição dos temas e das questões em pauta no plano intelectual. Sendo esse entendido como quadro particular de configuração das tensões sociais em que essas se revelam de forma mais clara, tornam-se mais perceptíveis as relações que os autores estabelecem com as forças em conflito4. Dessa forma, torna-se fundamental o conhecimento das tensões que se colocavam à sociedade brasileira no período chamado ciclo ideológico do desenvolvimentismo ou período populista5. Considerando as aproximações e distanciamentos que os

2 Para Skinner (1996, 200) e Pocock (2001) o contexto linguístico é indicativo do contexto político e histórico-social.

3 A definição desses temas partiu das interpretações dos autores principais da pesquisa, ou seja, Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos e, então, relacionada às análises de autores contemporâneos.

4 Segundo Lukács (1965), a conjuntura de crise coloca em evidência as forças em conflito, permitindo identificar as polarizações e os posicionamentos encampados pelos agentes sociais.

5 Bielschowsky (2004) considera os anos de 1956 a 1964 como período que envolve o auge e a crise do desenvolvimentismo, sendo esse entendido como projeto político que visava a industrialização como via de superação do subdesenvolvimento, o planejamento econômico, o empreendedorismo estatal. Para Octávio Ianni (1975), o populismo corresponde a um modelo de desenvolvimento baseado na industrialização por via da substituição de importações, na política de massas e no dirigismo estatal, consolidados entre 1945 e

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autores estabelecem com os projetos em disputa no cenário político-social, que se exprimem em forma de teses, interpretações e sistematizações teóricas, as idéias podem ser compreendidas como forças sociais, ou seja, como integrante das lutas políticas e sociais que compõem a vida em sociedade e que se intensificam nos momentos de crise. Dessa forma, as diferentes formas de abordagem das temáticas destacadas acima, caracterizam diferentes posicionamentos políticos em um período marcado por uma ambiência desenvolvimentista.

De maneira específica, essa noção de crise, configurada pela reconstrução do contexto histórico-social e intelectual, é a porta de entrada para compreender o debate entre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos sobre os fundamentos e o papel da Sociologia no Brasil como parte das discussões que giravam em torno da questão do desenvolvimento e da modernização do Brasil dos anos 1950, problema central na agenda política do período. Em primeiro lugar porque a definição dos fundamentos teórico-metodológicos está intimamente ligada à idéia, compartilhada por ambos os autores, de que cabia à Sociologia não apenas analisar e responder os problemas emergentes do contexto de transformações estruturais da sociedade brasileira, ou seja, formular um diagnóstico, como também, propor as alternativas viáveis de consolidação das mudanças. Apesar da diferença que caracteriza as proposições, essa perspectiva baliza, de maneira geral, o debate. Em segundo lugar, esse pressuposto de necessidade de intervenção do conhecimento sociológico no processo social é sustentado pela percepção da crise da sociedade brasileira.

Ainda que de maneiras diferentes, os autores compreenderam o papel da Sociologia no Brasil como uma exigência social de um contexto de crise estrutural.

Essa construção que estabelecia uma vinculação estreita entre a Sociologia e as transformações decorrentes dos processos de industrialização, urbanização e modernização da sociedade brasileira, identificada em ambos os autores, abre espaço para o desdobramento do debate para as questões

1964.

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específicas a esses processos. Dessa forma, ao lado das teses que nortearam o debate entre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos figuram as interpretações daqueles processos e as formulações que sustentavam um projeto para o Brasil dos anos 1950 e 1960.O debate é, então, ampliado, não apenas por via do desdobramento da problemática do papel e da objetividade na Sociologia, para as questões do desenvolvimento e do projeto de desenvolvimento mas, também pela identificação da proximidade dessas discussões com as tensões político- sociais características do período de auge e crise do desenvolvimentismo.

Nesse sentido, torna-se possível compreender o sentido político e dessas idéias.

SOCIOLOGIA E SOCIEDADE

O debate entre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos envolve divergências teórico metodológicas dos autores que se revelam nos critérios de objetividade propostos por cada autor6. Florestan Fernandes tem no horizonte o processo de modernização brasileiro e, para análise do processo, põe em evidência o método de interpretação funcionalista como instrumental para identificação dos indicativos de mudança social e dos fatores que operavam como obstáculos (FERNANDES, 1972 [1953]). Dessa forma, põe em destaque os processos de secularização e de racionalização como desencadeadores e catalizadores da mudança social no Brasil, o que baliza a interpretação da Sociologia no Brasil e seu papel. Nesse sentido, o desenvolvimento da disciplina é entendido como parte do processo de modernização da sociedade brasileira e o papel da Sociologia é diretamente relacionado à capacidade de instrumentalizar a expansão desse processo por via de uma Sociologia Aplicada7. Guerreiro Ramos, em contrapartida, propõe a redução sociológica como mecanismo de relativização das categorias e métodos universais e como

6 Acusações recíprocas podem ser encontradas em “O padrão de trabalho científico dos sociólogos brasileiros” (FERNANDES, [1958] 1980) e em prefácio à segunda edição de A Redução Sociológica (RAMOS, 1963). Em “Tendências teóricas da moderna investigação etnológica no Brasil”, Florestan Fernandes também questiona o pragmatismo da proposta de Guerreiro Ramos (FERNANDES, 1958).

7 Essa perspectiva também está presente nas discussões no interior do CBPE (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais) e do CLAPCS (Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais).

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metodologia de interpretação da especificidade nacional. Essa especificidade seria caracterizada pelas leis estruturais que determinariam a fase de desenvolvimento do país, o que denomina método faseológico8. Dessa forma, a proposta tem como objetivo adequar a reflexão sociológica às condições do país e com isso, garantir a aplicabilidade do conhecimento na realidade brasileira, de acordo com o perfil nacionalista e desenvolvimentista do ISEB da segunda metade dos naos 19509.

Os pontos que levantados no debate expressam esses pressupostos. O sociólogo paulista critica veemente duas teses apresentadas por Guerreiro Ramos ao II Congresso Latino-Americano de Sociologia em 1953 que procuravam delimitar os problemas a serem pesquisados aos aspectos gerais da sociedade, bem como os recursos utilizados nas pesquisas. Para Florestan Fernandes, essas propostas implicariam obstáculos ao desenvolvimento da Sociologia enquanto ciência, uma vez que estabelecia restrições à pesquisa empírica e ao financiamento de pesquisas. Esses são pontos fundamentais do estatuto científico que Florestan Fernandes se empenha em consolidar nos anos 1950 e 1960, tanto em termos de sistematização teórica e interpretativa quanto na construção de condições para a realização de pesquisas de caráter empírico10. Além disso, essas afirmações também se expressam na sistematização das contribuições de uma Sociologia Aplicada11 formulada pelo autor, sobretudo no que dizem respeito à capacidade de identificar os indícios e os obstáculos do desenvolvimento e à propor soluções para o encaminhamento do processo em termos de uma reintegração funcional a uma Ordem Social Moderna12. De outro lado, as propostas de Guerreiro Ramos condizem com a

8 Segundo Guerreiro Ramos, a definição de leis estruturais é pautada na idéia de principia media de Mannheim. Para Mannheim (1962), essa noção procura estabelecer as leis gerais que regem a estrutura social.

9 Guerreiro Ramos recorre à critérios econômicos para a definição da fase de desenvolvimento da sociedade brasileira. A definição da fase nacional-desenvolvimentista do ISEB está baseada em Toledo (1997).

10 Além dos livros produzidos nos anos 1950 e 1960 que revelam essa preocupação, Florestan Fernandes também gerenciou as pesquisas da Cadeira de Sociologia I.

11 Para Florestan Fernandes (1972 [1953]), esse objetivo contaria com as contribuições do método de interpretação funcionalista.

12“Embora o progresso teórico nos demais campos da Sociologia possa ampliar o alcance e a segurança da previsão, ele jamais eliminaria a necessidade da investigação empírica dos “problemas sociais”. Outro ponto essencial, aqui, é que nenhuma disciplina sociológica estuda as próprias condições de intervenção

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perspectiva nacionalista de suas formulações que estabelecem como prioridade o desenvolvimento econômico nacional, por isso os horizontes da produção científica serem definidos em função desse pressuposto. É nesse registro que rebate as críticas de Florestan Fernandes acusando-o de isolamento intelectual e de alienação cultural, social e política e reforçando os pressupostos apresentados no Congresso. São as qualidades propostas na definição de Papel da Sociologia explicitada por Guerreiro Ramos em outros momentos13.

Esse embate, contudo, não se resume a essas acusações envolvendo, além dos pressupostos teóricos em torno da definição dos princípios científicos da Sociologia e do Papel da Sociologia na Sociedade Brasileira, que os autores constroem, os pontos de contato com questões e diagnósticos que se colocavam às ciências sociais na década de 1950 e 1960. Em primeiro lugar, pode-se destacar que a concepção de papel da Sociologia se assentava na compreensão da disciplina como forma de autoconsciência da sociedade, dessa forma como instrumental que levaria a coletividade a compreender e a solucionar os próprios problemas. Essa percepção justificava o destaque atribuído ao desenvolvimento e à consolidação da Sociologia enquanto ciência.

Ao mesmo tempo, essa justificativa era alimentada pela ambiência dos anos 1950 caracterizada pela idéia de que o progresso se construiria naquele momento, o que expandia o caráter de inovação à ciência e, nesse caso, à Sociologia14. Um dos aspectos que caracterizam esse clima de renovação nas ciências sociais é a maneira pela qual os autores procuraram marcar as diferenças em relação a uma Sociologia produzida anteriormente e considerada como “pré-científica”.

deliberada ou artificial nos processos sociais e seus efeitos possíveis. Essa intervenção, nas sociedades em que ela pode ser praticada, tecnicamente, constitui um processo sócio-cultural e, como tal, pode ser considerada em termos de seus alvos sociais, das condições de seu desenvolvimento e dos valores que a fundamentam culturalmente, do suporte institucional indispensável e de suas probabilidades de modificar a situação numa direção desejada ou de piorá-la. (FERNANDES, 1960, p.28)”. Essa perspectiva também envolve as propostas do CLAPCS e do CBPE.

13 “É cada vez mais crescente a demanda de especialistas em sociologia capazes de vincular as suas atividades científicas às tarefas de promoção da autarquia econômica do país. Quero dizer, uma sociologia

“em mangas de camisa” pode viver, hoje, no Brasil, dos proventos de sua efetiva utilidade para o esforço de construção nacional.” (RAMOS, 1995 [1954])”. Essa proposta está em consonância com os objetivos do ISEB (TOLEDO, 1997).

14 Esse clima de afirmação de uma Sociologia Científica caracterizou as discussões na área no Brasil e na América Latina (LIEKE FILHO, 2003; TAVARES-DOS-SANTOS; BAUMGARTEN, 2005).

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Florestan Fernandes ([1957] 1980) reconhece como critério de definição do caráter científico da Sociologia a incorporação dos padrões universais da ciência expresso pelos desdobramentos da institucionalização das ciências sociais, sobretudo no que representou como desenvolvimento da pesquisa empírica e pelas iniciativas de sistematização teórica15. Dessa forma, a concepção de uma nova fase da Sociologia conta com o pressuposto do avanço e expansão desses padrões na década de 1950. A análise de Guerreiro Ramos sobre o desenvolvimento da Sociologia Brasileira que procura estabelecer um marco divisório para a disciplina nesses anos é pautada em critérios distintos de objetividade. Para ele, o que define o caráter científico da Sociologia é o caráter pragmático que vincularia o conhecimento científico aos problemas particulares à realidade nacional. A interpretação do desenvolvimento da Sociologia passa, portanto, pela identificação das iniciativas de desvendamento da especificidade e dos problemas nacionais16.

Levando-se em conta interpretações realizadas no mesmo período é possível reconhecer uma proximidade entre os diagnósticos de Florestan Fernandes e de Costa Pinto (1955)17 que procurou identificar o desenvolvimento do ensino e da pesquisa na área. De outro lado, a interpretação de Guerreiro Ramos está em consonância com a ambiência isebiana focada no diagnóstico da emergência de uma consciência nacional e de uma cultura nacional nos anos 1950 portadora de um projeto emancipatório para o país. Compartilhavam desse

15 Florestan Fernandes elenca como representantes da fase inicial da Sociologia Científica os autores:

Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Hollanda, Fernando de Azevedo, Nelson Werneck Sodré e as influências docentes de Emílio Willems, Donald Pierson, Roger Bastide, Claude Lévi-Strauss. São consideradas já como as primeiras manifestações de contribuição teórica da produção sociológica realizada no país determinados trabalhos de Roger Bastide, Pontes de Miranda, Fernando de Azevedo, Mario Lins, Arthur Ramos, A. Carneiro Leão, Donald Pierson, Herbert Baldus, Emílio Willems. O método histórico-social, considerado como pré-científico é atribuído à Euclides da Cunha e Alberto Torres.

16 Para Guerreiro Ramos, os autores identificados a uma Sociologia Autêntica seriam Silvio Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres e Oliveira Vianna. Por outro lado, são considerados expressão de uma Sociologia Enlatada os autores Tobias Barreto, Pontes de Miranda, Tristão de Ataíde, Pinto Ferreira e Mário Lins, Nina Rodrigues, Gilberto Freyre e Arthur Ramos (RAMOS, 1953; 1954).

17 Florestan Fernandes e Luiz de Aguiar Costa Pinto participaram do CBPE (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais), do CLAPCS (Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais) e das pesquisas sobre relações raciais patrocinado pela Unesco. Ao lado dessa identificação, em que se observa a valorização do desenvolvimento institucional e teórico das ciências sociais, também vale destacar as divergências entre os autores acerca as relações entre Sociologia e Sociedade (FERNANDES, 1960 [1947];

VILLAS BÔAS, 2006).

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diagnóstico da cultura brasileira, que define o passado atrasado, alienado e dependente, Roland Corbisier (1959; 1960) e Hélio Jaguaribe (1957) 18.

Desse diagnóstico do “estado das artes” da Sociologia no Brasil pode-se identificar distintas concepção de crise das ciências sociais. Florestan Fernandes problematiza a questão de duas formas: de um lado, compreende o momento como o início de uma nova fase para a Sociologia no Brasil em que a incorporação dos padrões universais da ciência estabeleceriam as bases para a Sociologia Científica no Brasil; de outro, levanta os problemas institucionais e financeiros que dificultariam não somente esse salto, mas o próprio desempenho do papel da Sociologia19. Por outro lado, Guerreiro Ramos define a crise da Sociologia Brasileira enquanto limitação teórica relacionada aos pressupostos pragmáticos e nacionalistas o que em suas palavras corresponde à qualificação de alienação e imaturidade. Isso também estabelece os parâmetros para a proposta do papel da Sociologia que deveria atender às exigências do desenvolvimento econômico da sociedade brasileira20.

18 No primeiro caso, trata-se de uma crítica à cultura brasileira, considerada colonizada e alienada e o diagnóstico de emergência de uma cultura autêntica associada aos problemas do país. Para Jaguaribe, a Filosofia brasileira seria a representante dessa nova tendência emancipatória da sociedade brasileira. A perspectiva nacionalista de interpretação da cultura brasileira também está presente em Álvaro Vieira Pinto e Nelson Werneck Sodré que eram representantes da orientação marxista na primeira fase do ISEB. Para isso, as interpretações lançam mão das noções de alienação, originalidade, inautenticidade, transplantação ou importação de idéias, pragmatismo e colonialismo. Naquela perspectiva, também se enquadram as teses de João Cruz Costa (1956), professor uspiano, que caracterizavam a filosofia brasileira a partir da influência do passado colonial e definiam a filosofia autêntica como aquela que se aproximava dos problemas do país.

19 “A situação, descrita de modo tão sucinto, pode ser apreciada de dois ângulos. De uma perspectiva

“teórica”, ela ilustra algo bem conhecido pelos cientistas sociais: a incapacidade dos países subdesenvolvidos de transplantar para o seu meio cultural, e aproveitá-los adequadamente, técnicas, conhecimentos e valores de países plenamente desenvolvidos. Do ponto de vista “prático”, ela demonstra que os países subdesenvolvidos enfrentam condições de vida que podem atuar como obstáculos perigosos ao progresso interno, pois não se deve apreciar diversamente a tendência a constranger a expansão do sistema científico. (...) As ciências sociais poderão preencher funções construtivas, como fator de desenvolvimento da sociedade brasileira. Mas isso não poderá ocorrer sem que se criem condições satisfatórias de trabalho e sem que se dê aos cientistas sociais o mínimo de recursos financeiros, técnicos e humanos de que precisam. Por aí se vê que é indispensável dar maior atenção ao que significa, para o Brasil, a ameaça de colapso que está pesando sobre os cientistas sociais de São Paulo.” (FERNANDES, 1980 [1957], p.87). Florestan Fernandes critica fortemente o Governo Jânio Quadros no estado de São Paulo a respeito da limitação de verbas para pesquisa (FERNANDES, [1957] (1980); ROMÃO, 2003).

20 “Além de “consular”, esta é uma sociologia que pode ser dita enlatada, visto que é consumida como uma verdadeira conserva cultural. (...) Esse exemplarismo é um dos aspectos do que se pode chamar de

“doença infantil” da sociologia nos países coloniais, doença que torna a disciplina referida uma

“gesticulação”, vazia de significados, um ato em oco, uma ação ilusória, mas capaz de satisfazer a certos indivíduos.” (RAMOS, 1995 [1957], p.109)

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De maneira geral, o debate entre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos é atravessado pela idéia de crise, tanto na atribuição de uma papel social ao conhecimento sociológico quanto na definição dos anos 1950 e 1960 como momento particular de consolidação das Ciências Sociais, em especial da Sociologia. Essa é a chave para a compreensão dos liames que ligam as idéias dos autores, sobre o papel da sociologia e seus fundamentos teórico- metodológicos, aos dilemas da sociedade brasileira. Em primeiro lugar, é possível associar as propostas de intervenção da sociologia como parte do fortalecimento das idéias de missão intelectual e de protagonismo estatal em curso desde os anos 1920 e 1930 e que, nos momentos de crise, se colocaram de forma acentuada21. Dessa forma, passando pelo projeto de construção nacional e de democratização que definiam polarizações sobre a questão até o Pós-Segunda Guerra, a questão se recoloca com a efervescência desenvolvimentista que situava a ciência em lugar privilegiado na concepção de progresso. Nas ciências sociais, em especial na Sociologia, que já detinham a primazia de interpretação da sociedade brasileira, essa perspectiva orientou a institucionalização de pesquisas e de ensino na área22.

No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, têm-se um momento de revisão do desenvolvimentismo, no qual se observam novas propostas, sobretudo de valorização do papel intelectual para o desenvolvimento da sociedade brasileira, movimento acompanhado por Florestan Fernandes e por Guerreiro Ramos. Dessa forma, o debate expressa os caminhos e as ambiguidades de um contexto marcado pelas idéias de desenvolvimento e de progresso, de cunho universalista, e de superação do atraso ou do subdesenvolvimento, que. enquanto questão nacional. exigiam o enfrentamento das questões relativas à especificidade histórico-social brasileira e criava condições de difusão e fortalecimento do discurso nacionalista. O debate, então, revela maneiras distintas de problematização e de resolução dos problemas

21 Em Bastos e Leão Rêgo (1999) e em Bobbio (1997) pode-se compreender a crise como momento em que questão do papel intelectual se torna paradigmática.

22 A idéia de contribuição do conhecimento sociológico para o desenvolvimento da sociedade brasileira está presente no CBPE, no CLAPCS e no ISEB, guardadas as devidas distinções (MICELI, 1995;

PÉCAUT (1990); MOTA, 1980).

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levantados por essa ambiência, o que caracteriza a dimensão política da idéia de papel da Sociologia. De outro lado, pela entrada da concepção de protagonismo estatal, expressa nas medidas de centralização político- administrativas dos governos Vargas e nas iniciativas de planejamento econômico percebe-se a receptividade da idéia de incorporação da ciência na política por essa esfera. Sendo concebida de formas variadas, abre espaço para a sistematização de proposta de intervenção intelectual, na qual se inserem as discussões no âmbito das ciências sociais, sobretudo em relação à questão do desenvolvimento brasileiro. Dessa maneira justificam-se as inciativas de interpretação dos processos de modernização e de industrialização brasileiros nos aos 1950 e 1960.

O DIAGNÓSTICO DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO

O diagnóstico do desenvolvimento brasileiro realizado por Florestan Fernandes e por Guerreiro Ramos está estreitamente relacionado aos pressupostos de aplicação do conhecimento sociológico. As análises de Florestan Fernandes sobre a questão da mudança social e do desenvolvimento exprimem a marca das contribuições que o autor atribui ao método de interpretação funcionalista, ou seja, identificar e analisar as tendências e os obstáculos à mudança. O critério de definição do desenvolvimento consiste na compreensão dos processos racionalização e de secularização como operadores de uma mudança estrutural na sociedade brasileira. Esses processos, observados na esfera comportamental das relações sociais, sustentam a identificação das tendências e dos obstáculos que residiriam na esfera da cultura, sendo a essa atribuída a responsabilidade pela integração, manutenção e transformação da estrutura social23. Nesse sentido, identifica-se a equivalência das noções de mudança social e de mudança cultural.

Nesse sentido, o que caracterizava a mudança social era a identificação

23 Nesses casos observa-se a presença de autores como Parsons (1952) e Merton (1970 [1949]). No primeiro caso, nas concepções de integração, diferenciação e de modernização e, no segundo, pela perspectiva empírica aberta pelas noções de função manifesta e de função latente.

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dos valores liberais-burgueses, sobretudo no que diziam respeito à concepção moderna, racional, do mundo e à superação do estilo de vida tradicional, processo esse denominado mudança social espontânea. Contudo, a definição do desenvolvimento pressupunha não apenas a presença dos valores e do estilo de vida modernos, mas, principalmente, a incorporação desses princípios por todas as esferas da vida social, o que denomina como mudança social provocada. A nova configuração social resultante da ampliação desses valores teria, para Florestan Fernandes, caráter democrático porque contaria com a participação dos cidadãos na escolha dos destinos da coletividade, já que dotados de capacidade de avaliação racional24.

Em Guerreiro Ramos, também é possível identificar os fatores destacados como expressão de tendências ao desenvolvimento, mesmo que formulado em outros termos. Os pressupostos da análise são aglutinados na concepção de fase de desenvolvimento que, como já indicado, procura apreender as leis gerais que determinavam a estrutura social. Nesse caso, o foco sobre os processos econômicos se expressa na caracterização da condição de atraso à agrário-exportadora a partir da perspectiva cepalina, por isso a denominação dessa como fase de complementaridade25. Em contrapartida, o prosseguimento do processo de industrialização estabeleceria, segundo o sociólogo, as condições para uma mudança de ordem estrutural em que predominaria a lei de autodeterminação, em referência aos processos de substituição de importações e de consolidação do capitalismo brasileiro e às possibilidades abertas de uma inserção autônoma do país no mercado internacional. Além disso, o pressuposto de autonomia nacional está vinculado ao nacionalismo característico das interpretações do autor concebido por meio

24 “O que distingue a mudança cultural provocada da mudança cultural espontânea, portanto, não é o conteúdo intencional dos processos que as produzem, mas a maneira pela qual ele é elaborado. Assim, na primeira espécie de mudança, o conteúdo intencional adere a um horizonte cultural que confere aos agentes humanos a possibilidade de escolher fins alternativos ou exclusivos e de pô-los em prática através de meios que asseguram, no mínimo, controle racional do desencadeamento e das principais fases do processo. Em outras palavras, isso quer dizer que o horizonte cultural em questão permite basear a escolha dos fins e dos meios na desiderabilidade de certos efeitos, cuja relação com determinadas necessidades pode ser posta em evidência antes de eles serem produzidos e cuja produção pode ser prevista, regulada e dirigida pelos agentes humanos.” (FERNANDES, 1976, p.171).

25 Prebisch (1982 [1949]).

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da acomodação de categorias existencialistas, à nação que passa a ser analisada a partir de conceitos que imprimiam caráter subjetivo como alienação, consciência e emancipação. Nesse registro, à concepção de desenvolvimento do autor se soma o diagnóstico de emergência de uma consciência nacionalista entendida como autoconsciência da sociedade26.

No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, configura-se um quadro de crise a partir do qual a reflexão sistemática sobre os obstáculos ao desenvolvimento são expressivas, sobretudo no que dizem respeito à crítica ao desenvolvimentismo e à reavaliação das principais teses do período. Em Guerreiro Ramos, pode-se observar a preocupação em destacar o aspecto social e político do desenvolvimento identificando os limites à consolidação das tendências nacionalistas. Esse período coincide com sua saída do ISEB, que passa a compor um dos focos das críticas que o autor formula no período27. Florestan Fernandes, por sua vez, destaca a influência dos padrões de comportamento tradicionais que constituiriam forças contrárias ao desenvolvimento e que marcavam a especificidade histórico-social brasileira, também em diálogo direto com os problemas do desenvolvimentismo. Contudo, nos dois autores, ainda se podem observar os mesmos referenciais metodológicos característicos dos anos 195028.

26 “Considerar-se-á, para efeito deste estudo, em sua acepção econômica, isto é, definida basicamente pela distribuição da força de trabalho nos setores da atividade produtiva. Uma estrutura será tanto mais elevada quanto mais força de trabalho liberar das atividades primárias (agropecuária e extração) e se transferir para as atividades secundárias (industriais) e terciárias (serviços). O desenvolvimento é uma promoção mediante a qual as regiões e nações passam de uma estrutura a outra superior. Diz-se que uma região se encontra em desenvolvimento quando, em sua estrutura, estão surgindo os fatores genéticos de outra superior. Da transformação da estrutura atual em outra superior, decorrerá a substituição dos problemas atuais por outros menso grosseiros ou mais refinados. Não há, no domínio da realidade histórico-social, nenhuma idade de outro, na qual cesse a problematicidade da vida humana. Para todo grau de desenvolvimento por mais elevado que seja, haverá sempre outro seguinte superior.” (RAMOS, 1958, p.11-112).

27 “A industrialização deve ser entendida como categoria sociológica. Em tal acepção é um processo civilizatório, que se propaga por todos os setores da atividade econômica e não apenas pelo setor restrito do que normalmente se chama de indústrias. É esse fato que precisa ser evidentemente compreendido para que se perceba que o desenvolvimento industrial não prejudica necessariamente a agricultura. A industrialização é um processo global que não se restringe a um setor restrito da economia. Ao invés, suas conseqüências transcendem mesmo o âmbito da economia e alcançam os outro níveis da sociedade, promovendo verdadeiras mutações históricas.” (RAMOS, 1960, p.126-127)

28 “A esfera que tem atraído atenção absorvente dos vários círculos sociais e recebido incentivo governamental intensivo é a da economia. Ainda se mantém a ilusão de que “desenvolvimento” significa, essencialmente, “crescimento econômico”. Pensa-se e age-se socialmente como se a economia constituísse um sistema autônomo, capaz de diferenciar-se e de expandir-se independentemente do substrato estrutural e dinâmico da vida social organizada. Em apoio dessa convicção generalizada conta, sobre quaisquer outras

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Esses diagnósticos, colocados nos termos da identificação das tendências e dos obstáculos ao desenvolvimento, compõe, de forma específica, o conjunto de tensões e de discussões do período desenvolvimentista. Nesses anos, o salto da industrialização impulsionado pelo Governo Juscelino Kubitschek promove o setor à principal atividade econômica do país. A urbanização acelerada faz sobressair os agentes sociais da sociedade moderna, como o empresariado, o trabalhador urbano e as classes médias e a nova sociabilidade associada a esse novo estilo de vida. Ao lado desse quadro, que alimentava o clima progressista, a emergência desses agentes como força política gera tensões que se expressam nos planos político-social e político governamental, intensificando-se na medida do esgotamento das conquistas desenvolvimentistas e da pressão das forças conservadoras. No plano internacional, se coloca a influência da nova configuração das relações internacionais do Pós-Segunda Guerra.29 Em estreita relação com essas transformações que marcaram a segunda metade dos anos 1950 e início dos anos 1960, as discussões no plano intelectual, na qual se inserem as interpretações de Florestan Fernandes e de Guerreiro Ramos, giravam em torno de questões como desenvolvimento, modernização, mudança social, nacionalismo, imperialismo e seus desdobramentos e permitem identificar aproximações, filiações e contrapontos entre as teses e os autores que faziam parte dessa ambiência30.

As teses de Guerreiro Ramos estão em sintonia com as idéias que circulavam no ISEB e que passaram a constituir um léxico característico na fase

circunstâncias, a importância do crescimento econômico como fulcro do aumento da população, do aproveitamento dos recursos naturais e das energias humanas, da alteração da mentalidade do homem, da ordem social e da cultura. Com freqüência, são de natureza econômica os “fatos irreparáveis”, que vêm fomentando a dissolução do antigo regime e a formação do novo estilo de vida social. Apesar disso são psicossociais ou sócio-culturais os principais fatores que têm interferido, direta ou indiretamente, na limitação ou no solapamento do crescimento econômico. Por paradoxal que pareça, os limites estritamente econômicos desse processo decorrem da organização social.” (FERNANDES, 1976 [1962], p.250)

29 Essa breve caracterização está pautada em Baer (1995); Ianni (1975), Mello e Novais (1988) e Hobsbawm, 2005).

30 Hobsbawm (2005) destaca como temas centrais desse período: bem-estar social, pleno emprego, subdesenvolvimento, países em desenvolvimento, nacionalismo, crise, socialismo, guerra fria, democracia social. Octávio Ianni (1988), elenca como núcleo temático característico da Sociologia os pares dialéticos:

comunidade e sociedade, ordem e progresso, ideologia e utopia, tradição e modernização, anomia e alienação, revolução e contra-revolução.

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nacional-desenvolvimentista. Esse vocabulário comum está pautado na valorização da economia como critério de definição do desenvolvimento e no nacionalismo. No primeiro caso, pode-se identificar a penetração das teses cepalinas, sobretudo no que diziam respeito ao incentivo ao processo de industrialização e de substituição de importações, à intervenção estatal e às noções de centro/periferia31. Como identificado em Guerreiro Ramos, grande parte das teses nacionalistas são formatas a partir de princípios existencialistas.

Assim, são utilizadas para definição e interpretação da nação brasileira as noções de alienação, consciência, autonomia e heteronomia32. Em conjunto, Esses argumentos se associam largamente ao salto qualitativo e quantitativo realizado pela economia brasileira na segunda metade da década de 1950 que colocou em destaque o processo de substituição de importações e o desenvolvimento do capitalismo brasileiro.

No caso da abordagem de Florestan Fernandes a respeito dos processos de mudança social e de desenvolvimento da sociedade brasileira, pode-se destacar as interpretações que lançavam mão das noções de sistema social, integração social, sociedade tradicional, sociedade moderna, sociedade industrial ou capitalista, função social, secularização e racionalização. O recurso a noções de caráter estruturalista ou funcionalista, para interpretação do processo de mudança social brasileiro em vários aspectos da realidade brasileira do final dos anos 1950, pode ser encontrado em teses apresentadas no Seminário Resistências à mudança: fatores que impedem ou dificultam o desenvolvimento organizado pelo CLAPCS em 195933. De maneira geral, os processos de secularização e de racionalização são tomados como chave de interpretação do desenvolvimento. Além do texto apresentado por Florestan Fernandes, pode-se destacar as apresentações de Gino Germani, Octávio Ianni

31 Esse princípios podem ser identificados no manifesto de 1949 de Prebisch (1982), mas são desdobrados e ampliados em outros autores cepalino, com destaque para Celso Furtado (LOVE, 2001).

32 São pressupostos encontrados em Hélio Jaguaribe (1958), Ignácio Rangel (1957) e Roland Corbisier (1959). A idéias existencialistas não aparecem no pensamento de Nelson Werneck Sodré (TOLEDO, 1997;

1998).

33 Segundo Gláucia Villas Bôas (2006) o Seminário é um marco da interpretação do desenvolvimento nas ciências sociais.

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e Fernando Henrique Cardoso34. Mesmo sendo esse um momento de transição entre a predominância da perspectiva funcionalista e o movimento de revisão crítica – que acompanhava o contexto de crise política, econômica e intelectual do início dos anos 1960 e que inaugura novas tendências interpretativas – o enfoque sobre a dimensão sócio-cultural das interpretações ainda se mostra bastante marcante.

Em direção oposta às interpretações que valorizavam os indícios de industrialização e de modernização na sociedade brasileira, orientavam-se os diagnósticos que evidenciavam os limites desses processos. Essas análises problematizavam tanto a maneira pela qual o desenvolvimento nos chamados países subdesenvolvidos se afastava dos modelos clássicos de desenvolvimento do capitalismo e de modernidade, quanto as disparidades com que se realizava nessas sociedades. Nesse cenário – em que se observam indicativos de um processo acelerado de desenvolvimento urbano-industrial convivendo com elementos de conservação da sociedade agrário-exportadora tradicional – tornam-se bastante características interpretações que, ao inserirem esses dois aspectos na reconstrução da totalidade analisada, expressam uma visão dualista da realidade brasileira. Essa perspectiva permeou de forma significativa as interpretações produzidas durante o auge e a crise do desenvolvimentismo, divulgando a imagem de um país bipartido na qual se observavam duas realidade antagônicas e coexistentes.

De maneira geral, contudo, o caráter dualista das contribuições no Seminário consistiram na identificação dos descompassos de ritmo de desenvolvimento, em especial, aqueles referentes à dimensão sócio-cultural. O diagnóstico encontrado nessa ambiência concluiu que, ao lado das transformações apontadas como tendências ao desenvolvimento, como a industrialização, a urbanização e, em especial, a racionalização, concorriam fatores que exprimiam a preservação de valores, comportamentos e interesses conservadores relativos ao modelo de sociedade tradicional. Essa é a chave da compreensão do caráter desintegrado e heterogêneo do desenvolvimento

34 Os textos das apresentações estão publicados no anais do Seminário (1960).

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brasileiro que, além de ser esse definida como o objetivo do Seminário por Costa Pinto e contar com a presença de um dos grandes representantes da visão dualista, Jacques Lambert, pode ser observada nas apresentações de Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, J. Roberto Moreira, Octávio Ianni e Gino Germani.

O livro Dualidade Básica da Economia Brasileira (1957) de Ignácio Rangel, além das teses de Jacques Lambert, é indicativo da presença do dualismo no interior do ISEB. O autor identifica dois condicionantes do capitalismo no Brasil, um acionado pelas relações capitalistas internas e, o segundo, pela dinâmica do capitalismo internacional35. Essa influência perpassa as interpretações que, no ISEB, procuraram definir o caráter do subdesenvolvimento brasileiro tendo em vista as implicações internacionais na composição da realidade social e econômica brasileira. Desse modo, pode-se verificar a incorporação direta dessas teses nos trabalhos de Guerreiro Ramos (1956) e Roland Corbisier (1959), sobretudo no que dizem respeito à definição do caráter dependente da cultura brasileira.

Na passagem dos anos 1950 para os anos 1960 configura-se um novo momento de debate sobre a questão do desenvolvimento nas ciências sociais., em que são questionadas as principais teses do período de auge do desenvolvimentismo, ou seja, nos primeiros anos do Governo JK. Esse movimento se alimenta da crise vivenciada pela sociedade brasileira em vários planos. Na economia, os problemas tornam-se evidentes com o aumento da inflação e a diminuição dos índices de crescimento. Conseqüentemente, as disparidades sociais e regionais se acentuam, dando impulso a manifestações sociais e protestos que colocam na ordem do dia a exigência de reformas sociais. Somada a isso, a atmosfera de incertezas que cercava a campanha eleitoral que substituiria o governo Kubitschek e o clima de tensão política, gerada pela renúncia e sucessão do presidente Jânio Quadros e intensificada pela Campanha das Reformas de Base, contribuíam para o acirramento das

35 Vale destacar que essa tese de Ignácio Rangel (1957) também expressa uma versão da problemática da definição do caráter feudal ou capitalista do passado colonial brasileiro que permeou as discussões na esquerda brasileira nos anos 1950 e início de 1960.

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diferenças político-sociais36. No plano intelectual, esse quadro de crise incidiu, principalmente, sobre as teses que fundamentavam o desenvolvimentismo, dando ensejo a propostas e alternativas de avaliação e condução do desenvolvimento brasileiro. Dessa ambiência, dois alvos de crítica merecem destaque: a política-econômica desenvolvimentista e a análise tecnicista do desenvolvimento. O primeiro é questionado quanto sua capacidade de garantir o crescimento econômico, de democratizar os benefícios do desenvolvimento econômico e de dinamizar a autonomia econômica do país. Ao segundo é direcionada a crítica aos limites de uma interpretação focada nos índices de crescimento econômico para análise do desenvolvimento.

No caso do Seminário organizado pelo CLAPCS, a tentativa de concorrer para uma reformulação do critérios de interpretação do desenvolvimento brasileiro constitui o próprio objetivo do evento. A valorização da dimensão sócio-cultural na interpretação dos obstáculos ao desenvolvimento expressa a maneira pela qual os autores procuraram ampliar o debate sobre a questão.

Como já indicado, foi esse ponto de vista que fundamentou a apreensão de tendências democráticas do desenvolvimento por meio do pressuposto da generalização do valores racionais na composição social e dos obstáculos enquanto atraso sócio-cultural. Se, de um lado, essa perspectiva parecia ameaçada pelo quadro revisão crítica, de outro, a percepção da manutenção do comportamento tradicional abria caminho para a interpretação dos limites das classes sociais em desempenhar seu destino histórico. Essa brecha expressa um momento de transição no qual se observa tanto o recurso de retomada da interpretação de caráter funcionalista como a incorporação do discurso marxista37. Trata-se do início de um processo de vitalização do marxismo que progressivamente penetra nas interpretações sobre o Brasil e que se coaduna com a visibilidade que os problemas sociais adquirem em uma conjuntura de crise tal como o enfrentado pela realidade brasileira daqueles anos38.

36 Sobre as tesões nos diferentes planos consultar Baer (1995), Ianni (1975), Skidmore (1988).

37 Desse movimento resultaram a incorporação do marxismo na academia, a abertura de novas perspectiva teóricas a partir da realização do Seminário d'O Capital, os resultados das pesquisas do Cesit (Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho) e formulação da Teoria da Dependência, já a partir da segunda metade da década de 1960.

38 Os diálogos e incorporações, nesse caso, acompanharam as ingerências do marxismo soviético,

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Nesse momento, o autores do ISEB, referência do discurso nacional- desenvolvimentista, vêem frustradas as teses que associavam o desenvolvimento econômico à derrocada do imperialismo e à consolidação da autonomia nacional, hegemônicas no Instituto na segunda metade dos anos 1950 (TOLEDO, 1997). No final da década, inicia-se o fortalecimento de uma vertente que procurava, se não completamente, pelo menos criticamente, se desvincular da orientação anterior na qual vigorava o nacional- desenvolvimentismo e realizar uma reavaliação do governo Kubitschek a partir da incorporação de outra forma de abordagem do marxismo, tal como observado em Wanderley Guilherme (1963 [1961]). Essa nova fase coincide, também, com a saída de Helio Jaguaribe e de Guerreiro Ramos cuja produção fora do Instituto, como já indicado, se voltou para as críticas ao governo JK, para os critérios de definição do desenvolvimento, ao marxismo e ao próprio ISEB.

Essas interpretações expressam a maneira pela qual Florestan Fernandes Guerreiro Ramos e outros analista da área se inseriram nos debates sobre o desenvolvimento brasileiro. Estabelecendo os termos das discussões na área, ligam-se de forma particular ao alargamento dos processos de industrialização e de urbanização, à emergência e fortalecimento de novos atores sociais e das tensões correspondentes, a ampliação do papel do Estado, ao efeito demonstração, ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, dentre outros fatores que caracterizavam as profundas transformações da realidade brasileira dos anos 1950 e 1960. Ao mesmo, tempo, essas conexões expressam os fundamentos dos projetos dos autores para o desenvolvimento brasileiro, revelando projetos políticos dos autores.

principalmente o movimento de revisão impulsionado pela crise do Stalinismo (HOBSBAWM, 1989).

Nesse caso, as questões levantadas acerca da proeminência da URSS e do Partido Comunista da União Soviética como modelo de Revolução Socialista e de prática revolucionária abrem as portas para novas formas de problematização do desenvolvimento e do subdesenvolvimento sobretudo no que dizem respeito à identificação e compreensão da especificidade histórica dos países de passado colonial. Nesse debate são colocados os problemas da caracterização desse passado, se feudal ou capitalista, da análise dos obstáculos ao desenvolvimento capitalista, da questão nacional e da questão agrária (HOBSBAWM, 1989; 1995). São temas e abordagens cuja relevância se verifica na permeabilidade que adquirem no contexto do auge do desenvolvimentismo, na segunda metade dos anos 1950 e na conjuntura de crise que se instaura na virada da década de 1960 até 1964. Nesse quadro de renovação e crítica das teses desenvolvimentistas se observa uma tendência de fortalecimento do discurso marxista e de incorporação de temas candentes no cenário político da época como os referentes aos movimentos sociais e as reformas de base.

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BRASIL: UM PAÍS DO FUTURO

Ao lado dos diferentes diagnósticos sobre o desenvolvimento brasileiro, tônica das interpretações do Brasil daqueles anos, emergem projetos de desenvolvimento como alternativas aos dilemas da sociedade brasileira. As questões que brotaram desse contexto, e que se sistematizaram no plano das idéias, são representadas pelas noções de desenvolvimento, planejamento, nacionalismo, reforma, revolução, partidos políticos, populismo, democracia, capital estrangeiro, imperialismo, povo. É nesse universo de efervescência de interpretações que procuravam compreender as transformações em curso, ao mesmo tempo em que buscavam alternativas de resolução dos problemas e de orientação das mudanças, que se inserem as propostas de Florestan Fernandes e de Guerreiro Ramos.

Desse modo, um dos caminhos para se reconhecer os diferentes projetos presentes nas interpretações do período desenvolvimentista é identificar o foco das análises, os pontos considerados estratégicos, e a definição do modelo de sociedade proposto, dando forma a diferentes teses de linha progressista.

Retomando os critérios de definição do desenvolvimento de Guerreiro Ramos, destacam-se o desenvolvimento econômico e o nacionalismo como dimensões fundamentais que estruturavam seu projeto de desenvolvimento. As medidas propostas pelo autor priorizavam o desenvolvimento econômico, o que envolvia a convocação dos diferentes agentes, em especial, o Estado, nesse empreendimento. O atendimento dos interesses do desenvolvimento econômico brasileiro correspondia à defesa dos interesses nacionais e, portanto, à criação das condições para a emancipação nacional. Diretamente associada a essa definição de prioridades, a concepção de fase de desenvolvimento é a porta de entrada para compreender como, para Guerreiro Ramos, certas medidas de solução de problemas referentes ao subdesenvolvimento são consideradas impróprias e ineficazes para a realidade brasileira, já que são vistas como problemas inerentes à fase de desenvolvimento vivenciada pelo Brasil, ou seja,

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uma fase transitória entre a condição de país periférico e a fase de desenvolvimento e de autonomia econômica e cultural nacional. Isso define os moldes do projeto de desenvolvimento encampado pelo autor que centralizava as medidas de desenvolvimento na esfera econômica projetando os benefícios sociais para um segundo momento39. O segundo aspecto destacado por Guerreiro Ramos qualifica esse desenvolvimento como nacional, contrapondo- se à intervenção estrangeira no processo. O projeto nacional é definido como representante legítimo do interesses gerais da sociedade brasileira e esse é o registro da dimensão social do projeto40. No projeto de sociedade de Florestan Fernandes, as noções chave são as de modernização, de secularização e de racionalização que colocam a esfera cultural e comportamental como centro propulsor. Trata-se do pressuposto da constituição de uma nova sociedade estruturada a partir da expansão dos valores racionais e democráticos a todos os níveis das relações sociais. Esse instrumental define o desenvolvimento brasileiro como momento de consolidação de uma Ordem Social Democrática na qual os indivíduos, munidos de uma consciência racionalizada, deliberariam sobre os destinos da coletividade41.

39 “Os critérios analógicos têm justificado raciocínio como este: os países adiantados exibem baixas percentagens de analfabetos e reduzidas taxas de mortalidade porque mantêm em funcionamentos escolas e serviços de saúde em proporções elevadas; por conseguinte, os países periféricos devem prover-se de tais facilidades educacionais e sanitárias em análogas proporções. Ora, este raciocínio é falso. Altos níveis de instrução e de saúde são, grosso modo, efeitos, frutos do desenvolvimento. As disponibilidades de recursos das regiões subdesenvolvidas, sem prejuízo de certos imperativos humanos inadiáveis, devem ser aplicadas de modo prioritário no estabelecimento dos fatores promocionais do desenvolvimento.”

(RAMOS, 1958, p.117, grifos meus) Essas propostas podem ser identificadas em Cartilha brasileira do aprendiz de sociólogo (1995 [1954]), A Redução Sociológica (1958), Condições sociais do poder Nacional (1957a)

40 Em debate com Hélio Jaguaribe destaca: “O nacionalismo é o único modo possível de serem hoje universalistas os povos periféricos. Somente organizando-se como personalidades nacionais podem ingressar no nível da universalidade e da civilização. O nacionalismo não é fim. É meio. Certamente deixarão de ser nacionalistas no futuro os povos que realizarem com êxito a sua revolução nacional. Não sabemos dizer que pretensões terão no futuro. Mas inéditas serão as formas de integração e convivência mundial quando todos os povos tiverem satisfeito as suas reivindicações nacionalistas. Nós, povos periféricos, não atingiremos aquelas formas sem nos constituirmos em personalidades nacionais soberanas.” (RAMOS, 1960 [1959], P.226, grifos meus). O livro O nacionalismo na atualidade brasileira (1958) de Helio Jaguaribe foi foco de duras críticas dos setores nacionalista, desencadeando uma crise no Instituto e o desligamento do autor (TOLEDO, 1997; PÉCAUT, 1990).

41 “O que caracteriza a mudança cultural provocada, em relação ao elemento racional, é a extensão dos limites da ação intencional. Além da escolha deliberada dos alvos, ela envolve o conhecimento objetivo dos meios e das condições e dos mecanismos através dos quais aqueles precisam se atingidos. Em outras palavras, o elemento racional penetra em todos os níveis do comportamento inteligente dos agentes, de modo a ordenar as atividades por eles desenvolvidas no plano relativamente abstrato, em que se definem

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O projeto de desenvolvimento de Florestan Fernandes e de Guerreiro Ramos também se expressa na concepção de Estado presente nas propostas já que essa é uma das principais questões que polarizavam o debate político do período desenvolvimentista. Para Florestan Fernandes, o Estado tem papel importante tanto no momento de construção quanto no de consolidação da Ordem Social Democrática proposta. No primeiro caso, considerando as dificuldades enfrentadas pela sociedade brasileira para a superação do estilo de vida tradicional, e que, segundo o autor, estava na contramão das tendências de racionalização e democratização das relações sociais, o Estado teria a função de promover as condições para o alargamento do processo de racionalização a diferentes esferas da vida social e de garantir a generalização de formas de comportamento de caráter racional42. Na vigência do Planejamento Democrático, que é a versão política do projeto, o papel do Estado seria o de, incorporados os princípios científicos e tecnológicos, garantir o controle social por vias democráticas43. No contexto de revisão crítica do desenvolvimentismo, essa perspectiva fundamenta a crítica ao desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, à política populista e aos partidos políticos44.

A ação Estatal, na proposta de Guerreiro Ramos, está vinculada, da mesma forma, aos referenciais de definição do desenvolvimento da sociedade brasileira. Tendo em vista o foco no desenvolvimento econômico e no nacionalismo, atribui ao Estado brasileiro a função de adequar as instituições

suas intenções de intervir na realidade, seja em função dos fins, seja em função dos meios e das condições da própria intervenção”. (FERNANDES, 1960, p.188) Aqui se insere a noção de racionalidade substancial de Mannheim (1962) que destaca a capacidade de compreensão racional da totalidade social.

42 Nesse caso a Educação aparece como setor estratégico (FERNANDES, 1960, 1966; MANNHEIM, 1972)

43 Aqui, estão presentes as concepções mannheimianas de técnica social e de Planejamento Democrático (MANNHEIM, 1973 [1943]; (1962 [1951]; 1972 [1946]).

44 “O fortalecimento e a expansão de padrões democráticos de comportamento social constituem o principal requisito para o crescimento econômico e para o desenvolvimento. Em maior ou menor grau, tanto nas camadas dominantes, quanto nas camadas populares e intermediárias, a ausência ou a inconsistência de convicções e de identificações altruísticas, cívicas e patrióticas são nocivas para a coletividade e prejudiciais ás manipulações construtivas do comportamento coletivo. A solidariedade existe e opera em planos restritos, como acontecia no seio das parentelas, no “antigo regime”, ou apenas se atualiza, em escala societária, em fases de crise social. Aquelas convicções e identificações ainda não se polarizaram, extensa e fortemente, nas diferentes obrigações explícitas e implícitas forjadas pela ordem nacional democrática.” (FERNANDES, 1976, p.280-281) Essa críticas podem ser identificadas em diferentes momentos do livro A sociologia numa era de revolução social (1962).

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para o estímulo ao desenvolvimento do capitalismo nacional e para a defesa da soberania45. A porta de entrada para a problematização da questão da democracia, nesse caso, refere-se à dimensão institucional que instrumentalizaria os projetos de industrialização e de emancipação nacional enquanto atendimento dos interesses da sociedade como um todo. Nesse sentido, justifica as críticas ao Governo JK, a Jânio Quadros e à atuação e organização dos partidos políticos que formula principalmente no período de crise do desenvolvimentismo46.

Finalmente, um aspecto importante que permite identificar as interpretações de Florestan Fernandes e de Guerreiro Ramos nos marcos de um projeto de desenvolvimento para o Brasil consiste na compreensão da maneira pela qual os autores caracterizaram o período de auge e crise do desenvolvimentismo enquanto revolução social. Trata-se de uma idéia corrente sobretudo no contexto de crise dos anos 1960, sendo incorporada no discurso de diversas tendências políticas. Para Guerreiro Ramos, o nacionalismo e o desenvolvimento econômico aparecem como fatores que caracterizariam um quadro de revolução social por serem os catalizadores da mudança estrutural da sociedade. O que define essa mudança estrutural, como já foi dito, é a consolidação da autonomia política, econômica e cultural do país. Por outro lado, vale destacar que, no momento de revisão crítica e de intensificação do discurso de esquerda, característicos da virada e primeira metade dos anos 1960, a idéia de revolução torna-se mais evidente, procurando colocar em relevo a política e o povo como fonte das mudanças. Contudo, as propostas seguem orientadas pelo projeto nacionalista entendido como condensador dos

45 Aqui, o recurso à Mannheim se inscreve na noção de racionalidade funcional ,enfatizando a racionalidade econômica, a ação social com finalidades objetivas e, dessa forma, corroborando os pontos estratégicos de desenvolvimento definidos e marcando distinção importante em relação à Florestan Fernandes que, ressaltando os princípios do racionalismo iluminista, se remete à noção de racionalidade substancial (MANNHEIM, 1962 [1951]).

46 “O desenvolvimento econômico é atualmente problema político. Sua promoção é ato político. Depende da racionalidade da decisão política, do encaminhamento, deliberado politicamente, dos fatores disponíveis de produção. A tônica do problema se deslocou do aspecto propriamente econômico para o político.

Condições recentes, inéditas na história universal transcorrida, mudaram a equação do desenvolvimento.

(RAMOS, 1960, p.181) Essas discussões podem ser observadas nos livros: O problema nacional do Brasil (1960), A crise do poder no Brasil (1961) e Mito e verdade da revolução brasileira (1963).

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