XXV ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI - BRASÍLIA/DF
DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO II
MARIA ROSARIA BARBATO
LEONARDO RABELO DE MATOS SILVA
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D598
Direito do trabalho e meio ambiente do trabalho II [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UnB/UCB/ IDP/UDF;
Coordenadores: Leonardo Rabelo de Matos Silva, Maria Rosaria Barbato, Rodrigo Garcia Schwarz – Florianópolis: CONPEDI, 2016.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-159-3
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: DIREITO E DESIGUALDADES: Diagnósticos e Perspectivas para um Brasil Justo.
1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Direito do Trabalho. 3. Meio Ambiente do Trabalho. I. Encontro Nacional do CONPEDI (25. : 2016 : Brasília, DF).
CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________
Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br
XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF
DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO II
Apresentação
A presente publicação, concebida no marco do XXV Congresso do CONPEDI, realizado sob
o tema “Direito e desigualdades: diagnósticos e perspectivas para um Brasil justo”, que tem
por escopo problematizar as questões da justiça e da democracia sob o viés do diagnóstico de
problemas e da projeção de perspectivas para um Brasil justo, que possa superar as muitas
vulnerabilidades históricas que ainda assolam o seu povo e a sua democracia, (re)pensando as
relações entre Direito, Política, Democracia e Justiça, seja nos seus aspectos
analítico-conceituais e filosóficos, seja no aspecto das políticas públicas e do funcionamento das
instituições político-jurídicas, oferece ao leitor, através dos diversos artigos apresentados no
Grupo de Trabalho "DIREITO DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO II"
durante o XXV Congresso do CONPEDI, a diversidade e a pluralidade das experiências e do
conhecimento científico das quais se extrai, no seu conjunto, o "espírito", ou seja, o sentido e
a essência do Direito do Trabalho na atualidade, a partir da apreensão do que está sendo
produzido, no âmbito da cultura jurídica brasileira, a respeito do Direito do Trabalho,
sobretudo no âmbito do que o Direito do Trabalho tem a oferecer para a superação das
severas desigualdades e vulnerabilidades que ainda assombram o nosso país, revelando,
assim, no seu conjunto, a partir de distintas vozes e de distintos espaços e experiências, os
rumos não só da pesquisa científica a respeito do Direito do Trabalho no Brasil, mas do
próprio Direito do Trabalho enquanto ciência, ordenamento e práxis no Brasil, e das
correspondentes instituições político-jurídicas e das suas possibilidades de produção de
justiça social, em termos axiológicos, filosófico-normativos e teórico-dogmáticos.
Somam-se, assim, as vozes de Alyane Almeida de Araújo, Ana Paula Azevêdo Sá Campos
Porto, Angela Barbosa Franco, Augusto Cezar Ferreira de Baraúna, Candy Florencio Thomé,
Carla Liguori, Everaldo Gaspar Lopes de Andrade, Fernanda Demarco Frozza, Fernando
Franco Morais, Francislaine de Almeida Coimbra Strasser, Gabriela Caramuru Teles, Isabele
Bandeira de Moraes Dangelo, Ivo Massuete Oliveira Teixeira, Jefferson Grey Sant'anna, João
Hélio Ferreira Pes, Leonardo Cordeiro Sousa, Leonardo Rabelo de Matos Silva, Lourival
José de Oliveira, Luciana Alves Dombkowitsch, Luiza Cristina de Albuquerque Freitas,
Maria Cristina Gontijo Peres Valdez Silva, Maria Rosaria Barbato, Michelli Giacomossi,
Natalia Xavier Cunha, Rangel Strasser Filho, Rodrigo Espiúca dos Anjos Siqueira, Rodrigo
Garcia Schwarz, Sandra Mara Franco Sette, Saul Duarte Tibaldi, Tereza Margarida Costa de
Figueiredo, Thais Janaina Wenczenovicz, Ursula Miranda Bahiense de Lyra, Valena Jacob
perspectiva das dimensões materiais e eficaciais do direito fundamental ao trabalho decente,
assim compreendido o trabalho exercido em condições compatíveis com a dignidade
humana, e, portanto, do Direito do Trabalho enquanto possibilidade de produção de justiça
social e concomitante instrumento efetivo de superação das muitas vulnerabilidades
históricas que ainda assolam o nosso povo e a nossa democracia.
Nesses artigos, são tratadas, assim, distintas questões de crescente complexidade e de
crescente relevância para o próprio delineamento dos campos de ação e das possibilidades do
Direito do Trabalho da atualidade: dos direitos e princípios fundamentais no trabalho, com a
abordagem das questões pertinentes à ação sindical e à negociação coletiva, à erradicação do
trabalho infantil, à eliminação do trabalho forçado e à promoção da igualdade de condições e
de oportunidades no trabalho, sobretudo na questão de gênero, envolvendo múltiplos
coletivos tradicionalmente subincluídos nos mundos do trabalho, às questões do meio
ambiente do trabalho, da saúde e da intimidade no trabalho e dos novos horizontes do Direito
do Trabalho em tempos de crises, com a abordagem das novas morfologias das relações de
trabalho, dos processos de desregulamentação do trabalho e de precarização e flexibilização
do Direito do Trabalho, das novas tecnologias e de seus impactos sobre os mundos do
trabalho, dos próprios marcos renovados do direito processual do trabalho na efetivação do
Direito do Trabalho e, assim, do acesso à Justiça do Trabalho e da efetividade desta, e,
portanto, e sobretudo, das novas formas de inclusão e exclusão nos mundos do trabalho, com
ênfase para os mecanismos de aplicação e de promoção do Direito do Trabalho e para os
novos arranjos criativos de proteção do trabalho.
Daí a especial significação desse conjunto de artigos, que, entre o Direito e as desigualdades,
a Democracia e a Justiça, fornece ao leitor, contribuindo com diagnósticos e perspectivas
para um Brasil justo, uma considerável amostra do que vem sendo o agir e o pensar no
âmbito do Direito do Trabalho brasileiro, das dimensões materiais e eficaciais do direito
fundamental ao trabalho decente e da promoção da justiça social.
Os Coordenadores,
Maria Rosaria Barbato
Leonardo Rabelo de Matos Silva
1 Mestre e Doutor em Direito do Trabalho pela Pontífice Universidade Católica (PUC) de São Paulo, professor adjunto e diretor da Faculdade de Direito da UFMT.
2 Mestrando em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Bolsista da CAPES. Estudante integrante do Grupo de Pesquisa Direito do Trabalho Contemporâneo da Faculdade de Direito da UFMT.
1
2
DIGNIDADE E FUNDAMENTALIDADE NA PROTEÇÃO JURÍDICA AO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO
DIGNIDAD Y FUNDAMENTALIDAD EN LA PROTECIÓN JURÍDICA AL MEDIO AMBIENTE DE TRABAJO
Saul Duarte Tibaldi 1
Leonardo Cordeiro Sousa 2
Resumo
Este artigo, através do método de pesquisa bibliográfico, visa explicitar o alcance que deve
ser dado ao direito fundamental ao trabalho em sintonia com a dignidade da pessoa humana e
com a proteção ao meio ambiente de trabalho, haja vista as dificuldades e particularidades da
concretização dos direitos do trabalhador nos tempos atuais. Para tanto, cumpre estudar as
relações existentes entre estas categorias jurídicas, de modo a deixar claro que o
fortalecimento de cada uma delas implica na proteção de todo o conjunto.
Palavras-chave: Meio ambiente de trabalho, Direito fundamental ao trabalho, Dignidade humana
Abstract/Resumen/Résumé
Este artículo, a través del método de búsqueda en la literatura, tiene como objetivo aclarar el
alcance que debe darse al derecho fundamental al trabajo en armonía con la dignidad humana
y la protección del medio ambiente de trabajo, teniendo en cuenta las dificultades y
peculiaridades de la realización de los derechos de los trabajadores de los tiempos modernos.
Por lo tanto, hay que estudiar la relación entre estas categorías jurídicas, con el fin de dejar
claro que el fortalecimiento de cada una implica en la proteción del conjunto.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Medio ambiente de trabajo, Derecho fundamental al trabajo, Dignidad humana
1. Introdu ção
Est e arti go , através do m étodo de pesqui sa bibli ográfi co, vi sa expli cit ar
o alcance que deve ser dado ao di rei to fundam ent al ao t rabalho em s intoni a com
a di gni dade da pessoa hum ana e com a proteção ao m eio am bi ent e de trabal ho ,
haj a vi sta as dificul dades e parti cul aridades da concretização dos di reitos do
trabalhador nos tempos atuais .
Não é incom um encontrar es tudos sobre o direit o ao t r abalho num a
perspectiva reduci onista de s eu cont eúdo, dis soci ado da função herm enêut ica
que o pri ncípio da dignidade da pess oa hum ana des empenha no ordenamento
jurí dico e sem l evar em cont a a relação i ntrí ns eca com a hi gi dez do am bient e
de trabalho.
Out ross im, é precis o l ançar um olhar arguto em di reção às distint as
condi ções encont ráveis no ambi ent e de t rabalho , a fim de perceber
parti cul aridades nas urbes e no cam po . Daí es te estudo confi gurado com o um
es forço de compreensão acerca das nuances que o t ema carrega.
Im port a delinear a rel ação ent re a di gnidade da pessoa humana e a
fundam entalidade do di reito do t rabalho, desenvolvido em ambi entes
especí ficos, urbanos e rurais , identificando bas es hist óri cas e filosóficas
envolvi das, e t ent ando encont rar panor am a demonst rável de apli cação no
Direit o brasil ei ro.
2. Evolu ção da Noção de Dignidad e Hu mana
A di gni dade da pes soa hum ana const it ui princípio fundam ent al da
Repúbli ca Federativa do Brasi l, em decorrênci a do di spos to no arti go 1 º, III,
da Constit ui ção Fede ral (BRAS IL, 1988)1, confi gurando evol ução qualit ativa
no ordenam ent o jurí dico nacional quanto à proteção do cidadão, não obst ant e
ainda haj am es forços cont ínuos para m el hor interpretar a ext ensão do princí pio.
Não obst ant e, não há dúvi das quanto ao fato que est am os a fal ar de uma
pedra de toque do sis tem a constituci onal vi gent e.2
A idei a de di gnidade humana3 deita raíz es t ant o na filos ofi a cl ássi ca
quanto no pens a m ent o reli gios o judai co -crist ão (S AR LET, 2015a, p. 32), m as
os conceitos ori gi nados destas duas font es não se confundem.
Na perspectiva fi losófi ca cl ás sica , a di gni dade (dig nita s) est ava
umbili calm ent e li gada ao sta tus pessoal; àquel e que ocupava determinadas
funções públi cas , bem como àquel e que se dest acava por real izações pessoais
ou por sua int egridade moral , era at ribuída di gnidade (BARR OS O, 2012, p. 13) .
Di gni dade hum ana não era vist a como al go inerente ao s er humano, mas ,
sim, al gum a cois a a s er conqui stada e cont inuament e col ocada à prova para s er
merecida (R IDOLA, 20 14, p. 24) .
A i nfl uência do rom ano M arco Túl io Cícero trouxe ai nda a acepção de
di gni dade hum ana l igada à proem inência do s er hum ano na hi erarqui a da
nat ureza , por seu carát er racional que o di ferenci a d e out ros seres vivos
(SAR LET, 2015a, p. 34) .
À i nfl uência do pensam ent o j udai co -cris tão decorreu que a dignidade
da pess oa hum ana perdeu a caract erí sti ca de est ar li gada a fat os exterior es ao
indiví duo, os quais defini am pes soas m ais e m enos di gnas, pass ando a fazer
refer ênci a a t odos os homens, porqua nt o, no pens am ent o j udaico -crist ão, o
hom em havia sido feito à im agem e semelhança de s eu C ri ador (Ima go D ei)
(R IDO LA, 2014, p. 25 -26).
O Renascim ento , por sua vez, t rouxe a concepção de di gnidade hum ana
apartada da Ima go D ei, m as, i sto sim , como al go inerente à fi gura humana , com
abandono gradual do as pect o reli gioso.
O pri mei ro aut or a conceber est e formato t eóri co foi Pi cco D ell a
Mirandol a (S AR LET, 2015a, p. 36). A di gnidade hum ana s e afast a por compl eto
da influênci a divi na, fi rm ando al icerce na n aturez a racional do s er hum ano . A
2 P a r a u ma c r í t i c a d o u s o i nd i s c r i mi n a d o d o p r i nc í p i o d a d i g ni d a d e d a p e s s o a h u ma n a , c o n f e r i r G u i l h e r me e H e r r e r a ( 2 0 1 1 , p . 4 5 -6 3 ) .
liberdade pass a a deriva r da capacidade de autodet erminação do homem
(R IDO LA, 2014, p. 34) .
Em seguida, o fil ósofo que mais si gnifi cat ivament e influenciou o
pensam ento jurídi co acerca da matéri a em ques tão foi Imm anuel Kant . P ara o
al emão, a autonomi a da vont ade é expressão e fundam ento da di gnidade da
nat ureza hum ana (CORDEIR O, 2012, p. 64 -65). C ada indiví duo tem a
capaci dade de dar a s i m esm o um a l ei obj eti va da razão, s em nen huma
motivação ou conces são subjetiva (BARR OSO, 2012, p. 71) .
O hom em, jus tam ente por s eu caráter raci onal (aut onomia), tem
di gni dade, pelo que os s eres hum anos devem t rat ar uns aos outros como fi ns
em si mesmos , na forma de um a l ei objeti va da razão , verdadei ro sist em a moral
raci onal que repudi a toda form a de coisi ficação (C ORDEIR O, 2012, p. 65) e
instrum ent aliz ação do s er hum ano (SAR LET, 2015a, p. 44) .
Após o genocídio de duas grandes guerras m undi ai s , os docum ent os
jurí dicos int ernaci onais pass am a reconhecer expres sam ente a di gni dade da
pes soa humana.
Neste s enti do, Carm en Lúci a Antunes Rocha (2001, p. 52) ens ina:
Se m Auc hwi t z t al ve z a di gni dade da pessoa hu mana não fosse, ai nda, pri ncí pi o mat r i z do di rei t o c ont e mporâneo. [ . ..] Os desast r es hu manos da s guerras, es peci al me nt e aqui l o a que assi st i u o mundo no p erí odo da Se gun da Gra nde G uerr a, t r ouxe a di gni dade da p essoa hu mana par a o mu nd o do Di r ei t o, c o mo cont i ngê nci a que mar cava essênci a do pr óp ri o si st ema sóci o -pol í t i co a ser t raduzi d o no si st e ma j urí di co.
Como al go inerente ao ser hum ano, a di gni dade será reconheci da e
garantida pel o Direito e não concedida por est e. A di gnidade tam bém é
irrenunci ável e inal ienável, just am ent e por confi gurar el ement o quali dade
intrí ns eco da pessoa hum ana (SAR LET, 2015a, p. 51) .
Dess a forma, a C arta das Nações Unidas (1945) t raz em s eu preâmbul o
Nós, os p o vos das N ações Uni das , resol vi dos a preser var as gerações vi n dour as do f l agel o da guerra , que por duas ve zes, n o espaço da nos sa vi da, t rouxe sofri men t o s i ndi zí vei s à hu mani dade , e a reaf i r mar a fé nos di r ei t os funda ment ai s do ho me m, na di gni dade e no val or do ser hu m ano [.. .] ( BR AS IL , 1945) .
Na m esm a linha , a Declaração Uni vers al dos Di reitos Hum anos, em s eu
Consi derand o que o r econheci ment o da di gni da de i nerent e a t odos os me mbros da f a mí l i a hu man a e de se us di rei t os i guai s e i nal i enávei s é o f un da ment o da l i berdade, da j ust i ça e da paz no mundo [...] ( USP , 194 8).
No Brasil , a C arta C onstit uci onal de 1988 não cuidou de identifi car o
conteúdo do princípio da di gni dade da pes soa humana , de modo que o s eu
deli neam ent o j urí dico t em ficado a cabo da doutri na e da j uri sprudênci a.
A di gnidade da pes s oa hum ana não s e reduz a aspectos mais ou m enos
especí ficos da exist ênci a huma na, embora a aus ênci a de al guns del es poss a
result ar num quadro de indi gnidade, tais com o a int egridade físi ca , a
intimidade, a vi da , dent re outros (SAR LET, 2015a, p. 49) .
Luís Roberto Barros o (2012, p. 71) , no i ntento de traçar um conteúdo
mínimo para o conceito de di gnidade da pes soa humana , m as sem perder de
vist a o carát er plural ista que o envolve , l eciona que el e deve explici tar
1. O val or i nt rí nseco d e t odos os seres hu ma nos; assi m co mo 2. A aut on o mi a de cada i ndi ví duo; e 3. Li mi t ada por al gu ma s res t r i ções l egí t i mas i mpost as a el a e m no m e de val ores soci ai s ou i nt eresses est at ai s ( val or co muni t ári o ) .
O valor comunitári o da di gni dade hum ana opera como li mi tador da
aut onomi a indivi dual . Isto porque o conteúdo da di gnidade humana é definido
também pel as rel ações dos indivíduos entre si e com o mundo ao seu redor
(BARR OSO, 2012, p. 87) .
A rest ri ção à liberdade pes soal operado pelo val or com unit ári o é
legít imo na m edida em que objet iva a proteção dos di reitos e da di gnidade de
tercei ros; a prot eção d os di reitos e da di gnidade do próprio indivíduo e a
prot eção dos valores soci ai s compartilhados (BARR OSO, 2012, p. 88) .
Dess e modo, o princípi o da di gnidade da pess oa hum ana i mpõ e ao
Est ado o dever de respeito e proteção à pess oa hum ana e a obri gação de
prom over as condi ções que vi abilizem ou rem ovam os obst áculos que estejam
a im pedir as pes soas de viverem com di gnidade.
Tem ganhado rel evo a const rução doutri nári a que int egra a qualidade e
segurança ambi ent al ao conteúdo do mínimo existenci al , porquant o a
concretização da vida hum ana em níveis di gnos depende tam bém da existência
des envol vimento de todo o pot enci al humano (S AR LET; FENSTERS EIFER ,
2011, p. 90) .
3. Dignid ade Hu mana e Fundamen tal idad e Lab oral
Embora a Constituição Federal de 1988 traga em di vers os arti gos um
rol des critivo dos direitos fundament ai s , el e não é t axati vo por força do
disposto em s eu art i go 5º, § 2º que, m edi ante a abert ura do cat álogo dos di reitos
fundam entais, permit e ident ifi car out ros direitos fundam ent ai s decorrent es do
regim e e dos pri ncí pi os por ela adotados , ou dos trat ados int ernacionai s em que
a R epúbli ca Federati va do Brasil s eja parte .
Ingo Wolfgang S arl et (2015b, p. 78 ) define os direit os fundam ent ai s
com o:
... t odas a quel as posi ções j urí di cas concernent es às pessoas, que, do pont o de vi st a do di r ei t o const i t uci on al posi t i vo , for a m, por seu cont eúdo e i mpor t ânci a (funda ment a l i dade em sent i do mat er i al ) , i nt e gradas ao t ext o da Co nst i t ui ção e, port ant o, ret i radas da esfer a de di sponi bi l i dade dos po deres const i t uí dos (f unda ment al i dade f or mal ) , be m co mo a s qu e, por seu cont eúdo e si gni fi cado, possa m l hes ser equi parado s, a gre gando -se à Const i t ui ção mat er i al , t endo, ou não, assent o na Const i t ui ção for mal (aqui consi der a da a abert ur a mat eri al do Cat ál o go) .
Direit os fundam ent ais são cl as sifi cados pel a dout rina em gerações ou
dimensões . Em s ínt es e, de prim ei ra geração s ão os di reit os de liberdade
(di reitos ci vis e polít icos ) ; de s egunda geração s ão os direit os s oci ais , culturais ,
econômicos, col etivos ou de coletivi dades (BONAV IDES, 2010, p . 564); de
tercei ra geração vão além da prot eção especí fi ca dos di reitos indivi duais ou
col etivos, aqui s e enquadram o di reito ao des envol vim ento, o direito à paz, o
direito ao m eio ambi ent e, o direit o de propri edade sobre o patrimônio comum
da hum ani dade e o di rei to de comunicação (BONAV IDES, 2010, p. 569) .
Fal ar de direit os fundamentais no âm bi to dos di rei tos soci ais importa
também em fal ar ao respeit o (garant ia) de aces so ao míni mo existenci al at ravés
de im posi ções, positi vas ou negat ivas, aos órgãos do Poder Público, limit ati vas
de sua condut a, para ass egurar a obs ervânci a ou, no caso de vi olação, a
titul ares form as de acol himento e im posi ção d o res peito e exigi bilidade de s eus
direitos fundam entai s (S ILVA, 2010, p. 189) .
Com efei to, os di rei t os fundam ent ais apresent am não só um a relação com
o princí pio da di gnidade da pes soa hum ana, m as tam bém s ão em grande medida
interdependent es , ou sej a, cada um depende da concretiz ação de out ro direit o
fundam ental para que s e realize.
Ness e parti cul ar, o di rei to fundam ent al ao meio ambi ent e ecologi cam ent e
equilibrado, previst o no arti go 225, ca put, da Constitui ção Federal , surge como
prim ordial para a garanti a da di gnidade da pes soa hum ana , na m edida em que
não se pode imaginar que haj a di gni dade em um am bi ent e insalubre, peri gos o,
mórbido.
Tal também pode ser dito com relação ao direit o ao trabal ho, que não
se confunde com o di rei to do t rabalho. O direito ao t rabalho engloba não só as
rel ações em pregatí ci as , mas t ambém outras formas de pres tação de l abor
(autônomo, t rabalho fam ili ar rural, cooperat ivas dentre out ros ), ao pass o que o
direito do t rabalho d iz res peito apenas às rel ações de t rabalho as salari adas,
regidas t ant o pel a C onstit uição com o pel a Cons olidação das Lei s do Trabalho
(C LT).
Tal diferenciação não é t ão comum na doutrina, que costum a t rat ar o
direito ao t rabalho como direit o do t rabalho. C a rmem Lúci a Ant unes R ocha
(2001, p. 60) l eciona que:
[...] a soci edade oci dent al , de u ma for ma mui t o especi al , assi mi l ou , desde a Re v ol ução Indust ri al , o t ra bal ho ao e mpre go. Passou -se a gar ant i r o e mpre go c o mo di rei t o funda ment al e não mai s ape nas o t rabal ho , o que est abel eceu, en t ão, a val ori za ção do e mpr e gado e não do ci dadão t rabal ha dor . Ao e mpr e go associ ou -se a i dei a de t r abal ho e de f or ça de t rabal ho na soci edade e o e mpre ga do passou a ser di gni fi cado e m det ri ment o do t r abal hador não e mpre gado . O de no m i nado t rabal hador aut ôno mo não se f e z o pr of i ssi onal mai s fre quent e enco nt r ado, poi s esse co mo o den o mi nado profi ssi onal l i beral passaram a const i t ui r f at i as mí ni m as da soci edade.
Para piorar o cont rat o de emprego é anali sado, em boa part e das vez es,
com o um simpl es negócio jurí dico. Bus cando romper ess a vi são reduci onis ta
do direit o fundam ental ao t rabalho previ sto na Constitui ção Federal , o autor
dimensionamento, em harmoni a com o princí pio da di gnidade da pes soa humana
e com prometido em s er m eio de realização de out ros di reit os fundam ent ais.
O m encionado autor se s erve das cat egorias conceituais marxistas de
trabalho vivo e t rabalho obj etivado para el aborar a fundam entação t eóri ca do
conteúdo do di reito ao trabal ho.
Em sínt es e, o at o de laborar na soci edade capit alist a ass ume um carát er
duplo: de um lado o t rabalhador ali ena a s ua força de trabal ho ao t om ador, que
a ut iliza com o i ntuito de auferi r l ucro, residi ndo aí o caráter o bj eti vo do
trabalho, e de out ro, agora na qualidade de t rabalho vivo, aquel e que trabalha
também é di ret am ent e afet ado pel a ati vidade que des empenha, ciment ando, a
parti r do l abor, s ua personali dade, idioss incrasi as , feli cidade, s aúde,
aut oes tim a, solidari edade para com a com unidade et c.4
E ess a dimens ão do trabalho vivo encontra respaldo no pri ncí pio da
di gni dade da pessoa hum ana, porquanto o ato de t rabalhar s e t rans form a em
caminho para a reali zação de um pl ano de vida.
Ness e s enti do, perti nente é o ens inam ento de Fábi o Rodri gues Gom es
(2008, p. 66):
Port ant o, qua ndo nos d a mos c ont a de que o i n di ví duo não apena s vi ve, mas vi ve e m at i vi dade, e q ue é at ravés dest a at uação que di na mi za a sua ex i st ênci a e l he con fere u m sent i do ( mat er i al i zando suas i di ossi nc rasi as), t orna -se i n del é vel a conexão ent r e a real i zação do (e no) t rabal h o e a concret i zação pl ena da di gni dade da quel e que consci ent e m ent e (e não apenas mecani ca me nt e) o (e s e) real i za.
O cont eúdo do direito ao t rabalho, portant o, é result ado da t ens ão
constant e ent re t rabalho vivo e objetivado. Não im port a a ati vidade realiz ada,
a qualidade viva do t rabalho s empre est ará pres ent e, m esm o em um um a linha
de mont agem de um a fábri ca (i ndústri a automotiva, por exem plo).
Assim , t emos que:
No exer cí ci o do seu di rei t o funda ment al , a quel e que t rabal ha não só o f a z par a out re m, desi ncu mbi ndo -se d e sua obri gação de pr est ar t rabal ho e m pr ovei t o al hei o, mas t a mbé m o f a z par a si mes mo , c onsi go mes mo e co m out re m. A i me nsa reperc ussão pessoal , soci a l e pol í t i ca, const i t uci onal ment e al ber gada, dessa di mensão necessári a da at i vi dade hu mana é t ut el ada por u m
di rei t o f ormal e mat eri al me nt e f unda me nt al (WAND ELL I, 2012, p. 295) .
O direito fundamental ao t rabalho na perspectiva des envolvida por
Leonardo Vi ei ra W andelli s e amol da ao pri ncí pio da di gnidade da pess oa
hum ana e, s e concretizado, serve com o meio de realização dos s eguint es
direitos fundam ent ais , s em prejuízo de outros : di reito à vida, di reito à
integri dade fís ica e psí qui ca, di reito ao livre dese nvolvimento da
personal idade, direit o à s aúde, di reito à al iment ação, direit o à moradi a e di reito
ao mei o ambi ente de trabalho ecologi cam ent e equilibrado.
4. Ambi en tes d e T rabalho: Urbano e Ru ral
O Di reito do Trabal ho contemporâneo atende a necessidades hi stóricas
ori ginadas de compromis so hum ani tário de produção concret a de j usti ça e
equilíbrio social no sei o das s ociedades capit alist as . Obs erva -s e que as
soci edades organizadas do S éculo XX I estão experim entando novas sit uações
produti vas que geram a neces si dade de trans form ação quant o aos s entidos e
modos de apli cação das prot eções l aborai s fundam ent ais .
Os a vanç os da re vol u ção t ecnol ó gi ca não per mi t i rão que as i nst i t ui ções per maneç a m i nal t er adas. O c api t al i smo sof r er á consi derávei s t r ansf ormações, e m f ace da c o mpet i ção q ue s e desen vol ver á e m ní ve i s i nt ernaci onai s, j á que os capi t ai s, a t ecnol ogi a e as i dei as passarão a f l ui r co m f ac i l i dade por ci ma das f ront ei r as ( ROM IT A, 20 12, p . 402) .
O Di reito do Trabal ho pass a, ent ão, por uma met am orfose que requer
um aperfei çoam ento conceitual de modo a aproximar s eus pri ncí pios daquel es
que int egram o Di rei to Am bient al, em parti cul ar os pri ncípios da P revenção e
da P recaução.
Para que haj a um des envolvim ento sust ent ável , faz -se necessário novas
formas de produção vin cul ado neces sari ament e a condi ções di gnas de t rabalho
e isto requer uma reflex ão am pl a quant o aos paradi gm as urbanos e rurai s de
des envol vimento econômi co, padrões de consum o e m odos de vida.
As novas form as de produção, as sim com o as j á t radicionais , ali a das à
condi ções ambientai s laborais di gnas . P ara tanto, o obj eti vo pri ncipal desta
tutel a am bient al t rabalhi sta, deve ser, em últim a anális e , não s omente a situação
de t rabalho propri am en t e di ta, mas t ambém a s aúde e a s egurança do t rabalhador
em t oda a s ua amplit ude (fís ica, ment al, emoci onal et c).
A prot eção ao m ei o ambi ent e de trabal ho guarda um a cert a si militude
com o di reito ao t rabal ho na m edi da em que o primei ro não s e reduz a um a
prot eção ao m eio ambi ent e de emprego, m as, como di reito hum ano e
fundam ental que é, al cança todos os am bientes de t rabalho (aqui incl uído o
trabalho autônomo, a rel ação de emprego, o trabalho familiar rural, as
cooperativas dent re outros ) e t em com o finalid ade mai or a prot eção à vi da, à
saúde e à di gnidade hum ana.
O mei o ambi ent e de t rabalho s audável, ali ás, é um com ponente ess enci al
para a confi guração do trabal ho d ecent e, um a das pri ncipais bandei ras da
Organização Internacional do Trabal ho (OIT). O concei to de trabalho decent e
propost o pel a O IT si ntetiz a a sua mi ssão históri ca de promover oportunidades
para que homens e m ulheres poss am t er um trabal ho produtivo e de qualidade,
em condi ções de liberdade, equidade, s egurança e di gnidade humana.
Os avanços da t ecnologi a t êm oport uniz ado grandes avanços tant o na
confi guração do que s e t em cham ado trabalho decent e como também n a
prom oção do m ei o ambiente de trabal ho s audável . Os em pregos verdes , que s ão
assim chamados por serem enquadrados como post os de trabal h o decent es e de
baixa emi ss ão de g ases pol uentes , contri buem muit o para a hi gidez t ant o do
meio ambi ent e nat ural como do t rabal ho. As ati vidades econômi cas
rel acionadas ao des envolvimento e aperfei çoamento das energi as renováveis
contri buem para que, cada vez mais, o m eio ambi ente de trabalho seja
prot egido.
Mas há também as pectos negati vos , e o trabalho urbano é o primei ro a
ser afet ado com o avanço t ecnológi co. Coexistem , sobretudo nas grandes
cidades , modelos produti vos que se aproximam da m anufatura – como é
obs ervado ainda hoj e na fabri cação de roupas – at é ativi dades dest inadas à
produção de inform ação, de idei as , em que o obj eto de t rabal ho mais preci oso
é o conhecim ento e a cri ati vidade – caract erí sti co dos s et ores rel acionados à
A arena da prestação de s erviço deixa progres sivam ent e o chão de
fábri ca e pass a a novas form as de exploração dos serviços que incluem o
trabalho à dist ânci a e a subordinação exerci da por m eios di git ais de cont rol e.
Tal mudança abre a dis cuss ão sobre os pot enci ais m al efí ci os que a nova
organiz ação do t rabalho pode t raz er para a saúde do t rabal hador , s em ol vidar
dos desafios que ai nda exist em para a promoção do m eio am bient e de trabal ho
ecologicam ent e equil ibrado :
Di t o de out ro mo do, o sofr i me nt o no t r aba l ho não foi ext i nt o ne m sequer at enuad o co m a aut o mação (meca ni zação e robot i zação) da pr o dução. Pel o cont r ár i o, t rabal hador es cont i nua m sendo expo st os a mal efí ci os de t o da orde m, c o mo por exe mpl o, a a gent es agr essi vos , co mo a m i ant o, ben zeno; a i mposi ções se ve r as n a or gani zação do t ra bal ho; e ao recei o const ant e do desl i ga ment o do post o de t rabal ho (RO CH A, 2 013 , p. 117) .
Com iss o, novas formas de degradação do m eio am bi ent e de t rabalho
tomam corpo e ganham rel evânci a, com o o ass édio m oral – referent e a condut a s
abusivas reit eradas no ambi ent e corporativo com o intuito de constranger o
trabalhador (M INAR DI, 2010, p. 135) –, e a sí ndrom e de Bur n out – que traduz
o es got am ento daquele que l abora, refleti ndo na perda de s ent ido del e com o
trabalho (M INARD I, 2010, p. 145). A concretiz ação do di reito fundam ental ao
trabalho no meio urbano, i nevit avelm ent e, pass a pel a s uperação dest es
problemas.
Muta tis mut a ndi s , em seu contexto específi co, o t rabal ho agrí col a
também traz entraves para a efi cáci a do di rei to ao t rabalho . O prim eiro im pass e
rel evante diz respeit o à di fi cul dade, que existe no t rabal ho prest ado no m eio
urbano, mas é bem m ais evident e no m ei o rural , de s e cri ar uma cons ci ência na
cl ass e t rabalhadora a respeito de s eus direitos bem como li mitar o pret enso
poder absoluto na rel ação de trabal ho que muitos empregadores rurai s arrogam
a si , em desres pei to às m ai s com ezinhas norm as de proteção ao trabal ho rural.
A soci edade rural, ou o que res tou del a, chega ao século XXI ainda
impregnada de todo um códi go de tr adições em s uas rel ações que t orna tanto
mais compl exo o equacionam ent o das situações .
Em virt ude dest a t endênci a, que podemos vincular a noss a tradição pré
sua cult ura e ordem sóci o-políti ca, t ais com o o autoritaris m o, o eli tismo, a
est ratifi cação, a hi erarquiz ação, o bacharelism o e o corporativismo.
No mei o agrário , est es privil égi os podem s er abarcados num el emento
ess enci al: a concent ração da propri edade. Daí res ult a estruturas d e suj ei ção da
popul ação rural que si gnificam probl em as de ordem institucional , com
conexões aos m ecani smos j urídi cos , polít icos e culturais .
A concretiz ação do direit o à organi zação s audável do trabalho
nat uralm ent e envol ve a prot eção do mei o am bi ent e do t rabal ho, sej a no âmbit o
urbano; s ej a no âmbi to rural, sobretudo no as pect o preventi vo. Ou s ej a: é dever
do empregador (ou do tom ador de servi ço) e do Est ado promover t odas as
medi das necess ári as e previst as em lei para que o trabal hador (empregado ou
não), t enha condi ções adequadas para l aborar, sem comprom etim ent o de sua
saúde e s egurança. Esta prot eção preventi va é import ant e na medi da em que a
reparação do dano de forma i ntegral , conduzindo ao st a tus quo a nt e, nos cas os
que envolvem a s aúde e i ntegridade humana, raramente é possí vel .
5. Afirmação do Di reito Fundamental ao trabalh o
O combat e à mal éfi ca t endênci a que refrei a a concretiz ação do di reito
fundam ental ao t rabalho é , sem dúvida, at ravés da educação . A desinform ação
quanto aos direitos que possuem di fi cul ta qualquer m obiliz ação do trabal hador
rural contra as investidas de em pregadores que desres peitam as norm as de
prot eção ao trabal ho rural .
O t rabalhador deve s er inseri do soci alment e através de práti cas
educacionais que visem a el aboração, sist em a tiz ação e di fus ão de
conhecim entos , novas capacidades e habi lidades, atitudes e valores, t ant o no
que s e refere ao processo de produção quanto à est rut ura de poder e sis te m as
ideológi cos de legiti mação (T IBA LD I, 2001, p. 43) .
Est as práti cas em ancipatóri as não podem des cuidar dos as pectos de
atuação si ndi cal e políti ca dos t rabal hadores de m odo que o acúm ulo de
conhecim entos s ej a art iculado com preocupações de ampli ação e m anut enção
de condi ções s adi as de t rabalho , divul gando e es grim ando di rei tos e garanti a s
O patamar de prot eção jurídi ca à saúde do t rabalhador, que guarda
rel ação com a prom oção de um m eio ambiente de t rabalho sadio, tam bém é
ess enci al. J ulio Ces ar de S á da R ocha, ao anali sar al guns ordenam ento s
jurí dicos, classi fica os paradi gm as de t ut el a ao mei o ambi ent e de trabal ho em
três t ipos (em ordem cres cent e de proteção à saúde do trabal hador): paradi gm a
tradi cional , paradi gma em t rans ição e paradi gm a preventivo emergent e.
Os Est ados enquadrados n o paradi gma protetivo tradici onal , regra geral,
dão um a maior at enção mai or à neutraliz ação/ diminuição dos agent es i ns alubres
existentes no am bi ente de t rabalho, por m eio do forneci mento de equipam ent os
de proteção indi vidual , sem , contudo, atuar de forma contun dente na prevenção
dos ris cos . Exist e compens ação financei ra pela exposição ao ris co (R OCHA,
2013, p. 121 -122) .
Os ordenam entos cl assifi cados como paradi gm a em t ransi ção, e aqui o
aut or cl assi fi ca o Brasil , cami nham para uma tut el a primordi al ment e preventi va
do meio ambi ent e do trabalho, combi nando elementos t anto do paradi gma
tradi cional como do preventivo em ergent e. Há prevalênci a das m edidas
prot eti vas col etivas às indivi duais (ROC HA, 2013 , p. 147 -148) – a exemplo d a
ação civil públi ca ambiental t rabalhi s ta, que pode s er manejada t anto pelo
Minist ério P úbli co do Trabalho como pel as ent idades sindi cai s.
Ress alt e -s e que as m edi das process uais s ão ferram entas i mport ant es em
noss o ordenam ent o para a prot eção e m anutenção de um m eio am bient e de
trabalho sadio. A tut el a ini bitóri a e a de remoção de i lícito – ambas podem s er
tratadas tanto na ação civil pública como na ação civil coletiva – são bons
exempl os de tut el as process uai s com gran de potenci al preventivo.
A ação ci vil colet iva é outro bom exempl o de ação a s er manejada para
a prot eção do m eio ambi ente de trabal ho e da s aúde do t rabalhador, pois
oportuniza que os t rabal hadores, em conjunto, pl eit eiem indeni zações por danos
morais e mat eri ais causados a el es e decorrênci a da i nobservância, pelo t om ador
de s ervi ços , ou pel o Poder P úbli co, das normas de s aúde e s egurança no
trabalho (S OAR ES, 2004, p. 198) .
Por fim , o paradi gm a preventivo emergent e cent ra -s e na prevenção dos
danos à s aúde do trabal hador, de modo que a utiliz ação dos equipam entos de
prot eção i ndi vidual pode s er considerada como práti ca s ecundári a , porquant o
trabalho (ROC HA, 2013 , p. 185-186). Est e model o é o que mai s contri bui para
a afirmação do di reit o fundam ental ao tra bal ho e vai ao encontro do princí pio
da di gnidade da pes s oa hum ana, razão pel a qual deve s er o i deal a s er efetivado
na realidade brasil ei ra.
6. Con clusão
A concretização do direito fundam ental ao t rabalho (no m ei o urbano ou
rural ) t om ando como bas e a funç ão herm enêutica do princí pio da di gni dade da
pes soa hum ana e a rel ação com os outros di reitos fundament ais , m as em
especi al com o di reit o fundam ent al ao m eio am bi ent e de t rabalho equi librado,
é m edi da que se impõe .
O t rabalho (as sal ariado ou não) deve s er encarado, jurídi ca e
pragm ati cament e, como uma m edi ação para a vi da di gna, garanti ndo todas as
condi ções para que o t rabalhador s e des envolva e s e realize , m esmo vi vendo
em um cont exto de produç ão capit alist a que, naturalm ent e, al mej a o lucro.
Para t anto, será necessário que o j uri sta entenda conteúdo do direito ao
trabalho não numa perspectiva reducioni sta, na qual o trabal hador vende s ua
força de trabal ho a outrem em troca de uma cont raprest ação pecuni ária, mas,
sim, num a vi são que abarque o labor como vi ga mestra para a const rução de
uma vida di gna e alcance t am bém a efetiva prot eção ao m eio ambi ente de
trabalho, t ant o o urbano como o rural.
O t rabalho urbano, ainda que vist o frequent ement e com o si gno da
modernidade e pós -modernidade, ainda com porta si t uações de at raso e des cas o
com os di reitos m ai s bási cos do cidadão t rabalhador, s ej a por aus ênci a de
est rut ura fis calizat ória do Es tado; s ej a por aus ênci a de ação si ndi cal efetiva na
arena das relações trabalhi stas coti di anas .
O t rabalho rural, por s ua vez , dadas as s uas fragil idades e
peculi aridades , merece es peci al at enção a fi m de encont rar a superação dos
ent raves que impendem a concret ização do di rei to fundamental neste cont exto
tão comum ent e es quecido .
Confi gura-s e assi m um panoram a de t rans form ação d os modos de pens ar
diante dos novos desafios apres ent ados pel o compl exo mundo novo que s e
avizinha.
A prevenção dos danos ao m eio ambi ente do t rabal ho – e
consequent em ent e à saúde do t rabalhador – deve s er a ordem do di a. Sobretudo
por que cons ent ânea com o princípi o da di gnidade da pessoa hum ana e
fortemente li gada à afirmação do direit o fundam ent al ao trabal ho.
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