XXV CONGRESSO DO CONPEDI -
CURITIBA
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
HUMANOS III
JAMILE BERGAMASCHINE MATA DIZ
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D598
Direito internacional dos direitos humanos III [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UNICURITIBA;
Coordenadoras: Andressa De Oliveira Lanchotti, Jamile Bergamaschine Mata Diz –Florianópolis: CONPEDI,
1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil –Congressos. 2. Direito Internacional. 3. Direitos
Humanos. I. Congresso Nacional do CONPEDI (25. : 2016 : Curitiba, PR).
CDU: 34 _________________________________________________________________________________________________
Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br
Profa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR
Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBA Comunicação–Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-327-6
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: o papel dos atores sociais no Estado Democrático de Direito.
XXV CONGRESSO DO CONPEDI - CURITIBA
DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS III
Apresentação
A obra que ora se apresenta ao leitor é fruto direto das atividades do Conselho Nacional de
Pesquisa em Direito (CONPEDI) no marco do XXVI ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI realizado sob os auspícios da UNICURITIBA – PR, ocorrido em Curitiba, no
período de 07 a 09 de dezembro de 2016. Os trabalhos que foram apresentados no Painel
Direito Internacional Dos Direitos Humanos III tiveram como ponto central a discussão sobre
o papel da internacionalização dos Direitos Humanos que surge justamente a partir de uma
proteção de natureza global. O GT ocorreu no dia 08 de dezembro de 2016, sob a
coordenação conjunta dos Professores Dra. Andressa de Oliveira Lanchotti (FDMC) e Dra.
Jamile Bergamaschine Mata Diz (UFMG-UIT).
Impende ressaltar que os trabalhos submetidos e apresentados no GT possuem uma
importância fundamental para a consolidação do espaço de debate e amadurecimento sobre a
temática dos Direitos Humanos alinhado a uma perspectiva internacional, a partir de assuntos
complexos e de essencial relevância, como é o caso do tráfico internacional de pessoas, da
atuação dos tribunais internacionais face às constantes violações perpetradas pelo próprio
Estado e pelos particulares e, ainda, questões de sensível tratamento, caso dos sistemas
normativos de proteção aos grupos considerados vulneráveis a partir de um espectro
internacional que tem, posteriormente, impacto sobre os ordenamentos jurídicos nacionais.
A interface entre Direito Internacional e Direitos Humanos revela-se na totalidade dos
trabalhos apresentados, justificando como a interconexão entre ambas as áreas jurídicas
merece ser tratada de forma interdisciplinar e coerente, buscando ainda ressaltar o aspecto
dinâmico que cerca os temas objeto do painel.
Portanto, esta coletânea é produto direto da reunião dos artigos selecionados por um grupo de
trabalho, cujo escopo é reunir pesquisas acadêmicas de jovens e também experientes
investigadores, a fim de constituir-se num foro institucionalizado que oportuniza a discussão
e a socialização daquilo que vem sendo produzido na área. Foram apresentados 22 trabalhos
agrupados por assuntos, a fim de facilitar a compreensão da problemática de cada trabalho
durante a apresentação em bloco. Tal apresentação, feita de modo presencial por cada um dos
autores, resultou em profícuo debate e discussão, enfatizando a necessidade de que se possa
cada vez mais estabelecer as premissas necessárias para o adequado cumprimento da
observa um aprofundamento de discursos descolados, em maior ou menor medida, de
medidas protetivas que amparem os direitos elencados em nossa Constituição.
Espera-se que a obra represente uma importante contribuição para o aprofundamento do
debate e, talvez, possa também servir de incentivo para a ampliação de pesquisas na área.
Profa. Dra. Andressa de Oliveira Lanchotti - FDMC
1 Mestrando em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Graduado em
Direito pela UFMT.
2 Doutor e Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 1
2
O PAPEL DO BRASIL NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS
EL PAPEL DE BRASIL EN EL SISTEMA INTERAMERICANO DE DERECHOS HUMANOS
Leonardo Cordeiro Sousa 1 Saul Duarte Tibaldi 2
Resumo
Este trabalho, através do método de pesquisa bibliográfico, tem como objetivo analisar o
papel do Brasil no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, ao explicitar sua postura em
diferentes momentos que contribuíram ora para o fortalecimento, ora para o enfraquecimento
do Sistema de Proteção.
Palavras-chave: Direitos humanos, Sistema interamericano de direitos humanos, Papel do
brasil
Abstract/Resumen/Résumé
Este trabajo, a través de método de investigación bibliográfica, tiene como objetivo analizar
el papel de Brasil en el Sistema Interamericano de Derechos Humanos, para explicar su
posición en diferentes momentos que han contribuido tanto para reforzar, quanto enfraquecer
el Sistema de Protección.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Derechos humanos, Sistema interamericano de
derechos humanos, Papel de brasil
1. Introdu ção
Est e estudo, at rav és do m étodo de pesqui sa bibli ogr áfi co, s e dest ina a
analis ar o papel do Brasil no Sist em a Interameri cano de Di rei tos Humanos
(S IDH). Ao longo da hi stória do S IDH, a R epúbli ca Federati va do Brasil , na
maior part e do t empo, t em sido um a im port an t e ali ada.
O Brasil , no período com preendi do ent re 1948 at é 1985, foi um grande
percuss or da const rução do Sist em a Interam eri cano, com atuação i ncisiva
incl usive para que uma Convenção Am eri cana de Direit os Humanos foss e
el aborada e um a C ort e Int erameri cana de Direit os Hum anos cri ada. Não
obst ant e, s obret udo em vi rtude do regim e milit ar im post o, não houve avanços
com rel ação à rati fic ação de t ratados i nt eram eri canos de prot eção de direit os
hum anos .
Com a redem ocratiz ação, a parti r de 1985 ini ciou -se uma fas e de
rat ifi cação dos t ratados int erameri canos de di reitos hum anos e impl em ent ação
do Governo de esforços no âm bito int erno do país para a promoção e prot eção
dos direit os hum anos. Tai s fat os se deram sobretudo após a prom ul gação da
Constit ui ção Federal de 1988.
Contudo, a parti r de 1º de abril de 2011, dat a em que a Comiss ão
Int eram eri cana de Di rei tos Humanos determinou ao Brasil uma série de m edi das
rel ati vas à suspens ão do licenci am ent o am biental e obras da usi na hi droelét ri ca
de Belo Mont e, no âmbito da M edida C autel ar 382/2010 (Bel o Mont e), o Brasil
acabou enfraquecendo o Si st ema de P rot eção.
Por fim, dedicaremos uma an ális e es peci al at enção à influênci a da Ação
Penal 470 (m ensal ão) com rel ação à postura do Brasil para com o Sis tem a
Int eram eri cano de Di rei tos Humanos .
2. A atuação do Estad o b rasil ei ro com relação ao Sis tema
Interameri cano de Direi tos Hu manos (SIDH ) até março d e 2011
A R epúbli ca Federativa do Brasil , com efeito, t em uma tradi ção
se dest ina exatam ente abordar est a t radi ção com rel ação ao S ist ema
Int eram eri cano de Di rei tos Humanos (S IDH) at é março de 2011.
Ness e perí odo, o Es tado bras ilei ro m ost rou uma evolução s alut ar em
mat éri a de promoção e prot eção dos direit os humanos e t am bém com rel ação ao
fortalecim ent o do Sis tem a Interameri cano. A políti ca externa brasil ei ra, mesmo
durant e o regi me m ili tar, s empre foi ativa com relação à formul ação de trat ados
interam eri canos li gados à proteção dos di reitos hum anos, ainda que a
rat ifi cação del es não tenha se dado at é 1985. Adem ais , pouco era feit o com
rel ação à prot eção interna dos direit os humanos n o Brasil.
Foi no perí odo da redem ocratização , sobretudo a partir da Constitui ção
Federal de 1988, que o país ali ou o seu pi oneirismo di plomát ico com a
rat ifi cação dos trat ados int eram ericanos de di reitos humanos . Som ado a i sto,
dest aca-s e t am bém o desenvol vim ent o de uma políti ca int erna de di rei tos
hum anos que l evou o Brasil a um a es calada na proteção e prom oção dos direit os
hum anos , ai nda que muit o tenha que s er feito para um ní vel de prot eção
satis fatório.
2.1. O períod o an teri or à red emocrati zação (1948 -1985 )
O Brasil , no período ant erior à redemocrat ização (1948 -1985), t eve um a
postura bastant e ativa com rel ação à promoção do fortalecim ent o do Si stema
Int eram eri cano de Direit os Hum anos. A at itude do Est ado, entret ant o, não
deixou de s er cont raditór ia em ce rtos aspectos, ist o s e confrontarmos a pos tura
diplom áti ca brasil ei ra int ensa na elaboração dos t rat ados regi onais de di reitos
hum anos com a reali dade políti ca do país , sobretudo a parti r da inst auração do
regim e mili tar em 1964 .
Não obst ant e es sa incongru ência, a qual nos reportaremos m ais a diante,
o Brasil t eve part icipação import ant e na IX Conferênci a Internacional
Ameri cana, realiz ad a em Bogot á, quando foram adot adas a C art a das
Organizações dos Es tados Ameri canos e a Decl aração Ameri cana de Direit os e
Deveres do Homem . O prot agoni smo bras ilei ro em m atéri a de direitos hum anos
bem s e not a pel a proposi ção feit a por i nterm édio da Del egação do Bras il de
uma Cort e Interam ericana de Direit os Humanos. A t es e brasil eira foi adot ada
resolução “ress alt ava a necessidade da criação de um órgão judi ci al
internacional para t ornar adequada e eficaz a prot eção jurí dica dos di rei tos
hum anos int ernacionalm ent e reconhecidos” (TR INDADE, 2000, p. 39).
Dess a form a, j á no ano de 1948 o Brasil reconhec i a a necess idade de cri ar
um Tribunal Int eramericano para tornar m ais efi caz a prot eção dos direitos
hum anos na Am éri ca, em vi rtude das recorrent es viol ações perpetradas pelos
Est ados .
Na X C onferênci a Int eram eri cana, ocorri da em C aracas, capit al da
Venezu el a, em 1954, o Brasil propugnou pelo reconhecim ent o da personali dade
jurí dica do i ndi víduo no âmbito i nt ernaci onal (VENTUR A; C ETRA, 2013) . Na
V R eunião de Minist ros das R el ações Ext eriores, realizada em Santi ago, capi tal
do Chil e, em 1959, quando foi cri ada a Comiss ão Int eram e ri cana de Di reitos
Hum anos, o Es tado Brasil eiro s ust entou que os Est ados Am ericanos deveriam
se empenhar a tornar obri gat óri as as normas do Sist em a Int eram eri cano, por
meio de um a convenção de prot eção de di rei tos hum anos (CAS TRO, 2013 , 82).
Como cons equênci a, na II C onferê nci a Int eram eri cana Extraordinári a,
ocorrida no Rio de J anei ro, em 1965, o Brasil apresent ou um proj eto que foi
utilizado como base à R esolução XX IV da C onferência rel ati va ao P roj eto de
Convenção Am ericana sobre Di rei tos Humanos. O Brasil, na III Conferên ci a
Int eram eri cana Extraordi nári a, ocorrida em Buenos Ai res, em 1967, novam ent e
real çou urgência da Convenção Am eri cana de Di rei tos Humanos (C ASTR O,
2013, 82) .
Ent ret anto des de 1º de abril de 1964 o Est ado Bras ileiro estava s ubm etido
ao regim e mil itar. O ano de 1968 foi par ti cularm ent e m arcado pelo
recrudes cim ento da ditadura milit ar, haj a vist a que em 13 de dezem bro de 1968
foi edit ado o A I-5, que agravou a repres são políti ca e a viol ênci a do regim e.
Mesm o assim , o Bras il parti ci pou de form a ativa da Conferência Especial izada
Int eram eri cana sobre Di reitos Hum anos, realizada em S an J osé da C ost a Ri ca,
em novembro de 1969, que result ou na assi natura da Convenção Ameri cana
sobre Di reitos Hum anos.1
1 C f. C o n ve nç ã o A me r i c a n a s o b r e D i r e i t o s H u ma no s . D i s p o ní v e l e m:
A des peito das críti cas em vi rtude do regim e dit atori a l inst aurado, a
postura do Brasil na Conferênci a, at ravés de s eus represent ant es, foi
eminent em ente t écni ca. Tanto é que o paí s apresentou considerações ao proj et o
da C onvenção Am eri cana sobre Direit os Hum anos, m as o que cham a atenção é
que o Est ado Brasi l ei ro, “na Exposi ção de Motivos, observava que s eri a
inoport una a cri ação de um a C orte Int eram ericana de Direitos Hum anos”
(CAS TRO, 2013, p. 84) . Não obs tant e i s to a Convenção s ó foi aprovada no
Brasil pelo Decreto Legi sl ativo 27, de 25 de set em bro de 1992, e promul gada
pel o Decr et o 678, de 6 de novem bro de 1992.
2.2. O períod o pós à red emocrati zação (1985 até março de 2011)
Foi no período pós redemocrat ização, s em dúvida al guma, que o Brasi l
mais cont ri buiu, nacional e int ernacional ment e, para a prom oção dos direit os
hum anos . Ist o, por que som ente após 15 de m arço de 1985 – fim da dit adura
militar – o paí s, al ém do protagonismo diplom áti co em elaborar trat ados de
direitos hum anos, passou também a rati fi cá -l os, tornando -os obri gatórios em
solo brasi lei ro.
Foi mais preci sament e a part ir da promul gação da Constituição Federal
de 1988, a qual al çou o princípi o da preval ênci a dos di reitos hum anos como
nort eador do país em suas rel ações internacionai s, que o Bras il vem el aborando
medi das com o i ntui to de adot ar os m ais diversos t rat ados i n ternaci onais de
direitos hum anos (M AZZUOLI, 2002, p 327-333).
Fl ávi a Pi oves an bem dest aca os principais trat ados que foram
rat ifi cados após a prom ul gação da C onstitui ção de 1988, a s aber: 1) a
Convenção Int eram ericana para P reveni r e Punir a Tort ura, em 20 de jul ho de
1989; 2) a Convenção cont ra a Tortura e outros Trat am entos C ruéis , Desum anos
ou Degradant es, em 28 de s etem bro de 1989; 3) a C onvenção s obre os Di reitos
da Cri ança, em 24 de set em bro de 1990; 4) o P acto Int ernacional dos Direit os
Civis e Polí ticos, em 24 de j anei ro d e 1992; 5) o P acto Internacional dos
Direit os Econômi cos , Soci ais e Cult urai s, em 24 de j anei ro de 1992; 6) a
Convenção Ameri cana de Direit os Hum anos, em 25 de s et embro de 1992; 7) a
Convenção Interamericana para Prevenir, Puni r e Erradicar a Viol ênci a con tra
referente à Abolição da Pena de Mort e, em 13 de agost o de 1996; 9) o P rot ocol o
à C onvenção Americana em m atéri a de Di reitos Econômicos, Sociai s e
Culturai s (Protocolo de S an Sal v ador), em 21 de agost o de 1996; 10) o Estat uto
de R oma, em 20 de junho de 2002; 11) o Prot ocolo Facult at ivo à Convenção
sobre a Eli minação de todas as form as de Di scrimi nação contra a M ulher, e m
28 de junho de 2002; e 12) os dois Protocolos Facul tat ivos à C onvenção sobre
os Direitos da C ri ança, em 24 de janeiro de 2004 (P IOVES AN, 2006, p . 1 1-12).
A j uri sdi ção da Corte Int e rameri cana de Di reit os Humanos tam bém s ó foi
reconhecida em dez embro de 1998 .
A par dis so, o período pós Constit ui ção Federal de 1988 apres entou a “m ais vast a produção norm ativa de di rei tos humanos de toda a históri a legi slativa brasil ei ra” (P IOVES AN, 2006, p. 11 -12) .
E como Luiz Fl ávi o Gom es e Val ério de Olivei ra M azzuoli bem
dest acam:
No Br asi l , a p ol í t i ca naci onal de Di rei t os H u manos co meço u a ser desen vol vi da, ef et i va ment e, a part i r do re t orno, e m 19 85, do go ver no ci vi l , qua n do ho u ve o desl i ga ment o aut ori t ár i o i nst i t uí do nos i dos d os anos 70 , onde re i nava a vi ol ênci a ar bi t r ári a e o desrespei t o às garant i as i ndi vi duai s. Apesar de passado mai s de mei o sécul o da p r ocl a ma ção da Decl ar ação Uni ver sal dos Di rei t os Hu manos, pel a pri m ei ra ve z o Est ado brasi l ei ro er i gi u os Di r ei t os Hu manos co mo obj et o de sua pol í t i ca naci onal .2
Im port a ai nda dest acar que 97% dos cas os cont ra o Brasi l na Comiss ão
Int eram eri cana de Di rei to s Humanos foram propostos após 1992, ano em que o
Brasil rati fi cou a Convenção Am eri cana sobre Di reitos Hum anos. O
interess ant e é que m uitos del es s e referem a fatos ocorridos antes dest e ano, o
que est á a demonstrar a i nfl uência posit iva que a rati fi cação da Convenção,
ali ada à nova post ura do Est ado brasil ei ro com rel ação à prom oção dos direit os
hum anos no âm bito i nterno do país (P IOVESAN, 2009, p. 337 -338). A respeito
disso, Fl ávi a Pi oves an traz núm eros i nt eressantes :
( ...) se no per í odo de 1 970 a 19 92, ou sej a, em 22 anos, 11 ações f ora m i mpet r adas co n t r a o Br asi l , a part i r da rat i fi cação da Con venção A mer i cana e m 1992 , e consi der ando o perí odo de 1992 a 20 04, e m 12 a nos port ant o, u m t ot al de sessent a e set e ações foi i mpet rado ( P IOV E SA N, 2 009, p. 3 38) .
2 D i s p o n í ve l e m: < ht t p : / / w w w. e g o v. u f s c . b r / p o r t a l / s i t e s / d e fa u l t / fi l e s / a n e x o s / 1 5 2 9 0 1 5 2 9 1
É certo que o Est ado brasil ei ro , não t em cum pri do s ati sfatori am ent e as
recomendações da Comiss ão Int eram ericana. Ocorre que o país, m ais
recent em ent e, com a submis são de cas os à Cort e pela Comi ss ão, t em m ost rado
ao m enos um di álogo m aior com a Comi ss ão Int eram ericana no que diz res pei to
ao cumprim ent o das recomendações, ao pass o que al guns país es, a ex em plo dos
Est ados Unidos, permanecem relutant es em aceitar as recom endações da
Comiss ão. O comportamento do Est ado brasil ei ro com rel ação ao Sist em a
Int eram eri cano de Direit os hum anos, contudo, vei o a sofrer si gni fi cativa
alt eração com a edição da M edi da C autel ar 382/ 10, com o vam os abordar l ogo
mais .
3. A pos tu ra d o B ras il a parti r d e ab ril d e 2011
Como vist o alhures , o Estado brasil eiro exerceu uma import ante função
com rel ação ao fortal ecimento do Si st ema Int eram eri cano de Di rei tos Hum anos.
Tal sit uação, contudo, sofreu um a si gni fi cativa alt eração a parti r de 1º de abril
de 2011, dat a em que a Comis s ão Interam eri cana de Di rei tos Hum anos
det erminou ao Brasil uma s éri e de medi das rel ativas à sus pens ão do
licenci amento ambi ental e obras da usi na hi droel ét ri ca de Belo Mont e , no
âmbit o da Medida C autel ar 382/2010 (Bel o Monte).
O tópi co t am bém abordará a in fluênci a da Ação Penal 470 (m ens al ão)
na postura do Brasil com relação ao Sis tema Int eram ericano, ao fazer um a breve
anális e da possibili dade de os réus que acionarem o Sist ema de Proteção
obt erem judici alm ent e (Cort e Interam eri cana) o direito a um novo ju l gam ento,
em virtude do princí pio do duplo grau de jurisdi ção, insert o no arti go 8º, 2, h,
da C onvenção Am eri cana sobre Di reitos Hum anos
3.1. O comportamen to do Estado b rasi lei ro com a edi ção d a Medida
O proceder da República Federativa do Brasil com relação ao Sist em a
Int eram eri cano de Direit os Hum anos (S IDH) mudou s ubst anci alm ent e com
outorga pel a C omis são Interam eri cana de m edidas caut el ares no âmbi to da
Medi da C aut el ar 382, em 1º de abril de 2011, a s aber:
A C ID H s ol i ci t ou ao Go vern o Brasi l ei ro que suspen da i me di at a ment e o pr o ce sso de l i cenci a ment o do pr oj et o da UH E de Bel o Mont e e i mpe ça a real i zação de q ua l quer obr a mat er i al de execução at é que s ej am obser vadas as se gui nt es c ondi ções mí ni mas: ( 1) r eal i zar processos de cons ul t a, e m cu mpri ment o das obr i gações i nt er n aci onai s do Brasi l , n o sent i do de que a consul t a sej a prévi a, l i vre, i nf or mat i va, de bo a f é, cul t ur al ment e adequada, e co m o obj et i vo de c he gar a u m acordo, e m rel ação a cada u ma das co mu ni dades i ndí genas af et adas, be nefi ci ár i as das pr esent es medi das caut el ares; (2) gar an t i r, previ a ment e a r eal i zação dos ci t ados pr ocessos de consul t a, para que a consul t a sej a i nf or mat i va, que as co mu ni dades i ndí genas benefi ci ár i as t enha m acesso a u m Est ud o d e Impact o Soci al e A mbi en t al do pr oj et o, e m u m f or mat o aces sí vel , i ncl ui ndo a t r adução aos i di o mas i ndí ge nas respect i vos; (3) adot ar medi das para prot e ger a vi da e a i nt e gr i dade pess oal dos me mbros dos po vos i ndí ge nas e m i s ol a ment o vol unt ár i o d a baci a d o X i n gú, e para pr eveni r a d i sse mi nação de doenças e epi de mi as ent re as co muni dades i ndí gena s benefi ci ári as das medi das caut el ar es co mo c onsequênci a da const rução da hi droel ét ri ca Bel o Mont e, t ant o daquel as d oenç as der i vadas d o au m ent o popul aci onal massi vo na zona , c o mo da exacer baçã o dos vet ores de t r ans mi ssão aquát i ca d e doenças co mo a mal ári a (C ID H, 2 011) .
As m edi das caut el ares foram prescrit as em favor das com unidades
indí genas da Bacia do Rio Xi ngu, sit uada no Est ado do Pará, quais s ej am: Arara
da Volt a Grande do Xingu; J uruna de P aqui çam ba; Juruna do “Kilómetro 17”;
Xikrin de Trinchei ra Bacaj á; As uri ni de Koati nem o; Kararaô e Ka yapó da t erra
indí gena Kararaô; P arakanã de Ap yt erewa; Araweté do Igarapé Ipixuna; Arara
da t erra i ndí gena Arara; Arara de C achoeira S eca; e t ambém as comuni dades
indí genas em is olam ent o volunt ário (C IDH, 2011) .
Tai s com unidades não havi am sido consul tadas no process o de
licenci amento am bi ental e const rução da Usi na Hi droel ét ri ca de Belo M ont e,
contrariando expres s a dis posi ção constitucional . Do caso resul tou a Ação Civil
Públi ca 2006.39.03.00711/ 8, jul gada pelo Supremo Tribunal Federal (S TF), o
qual decidi u que os povos afet ados poderi am ser ouvidos ao l ongo do process o
de li cenci amento. As obras foram ret omadas , ent ão, em janei ro de 2007
De acordo com indí genas e m embros do Mi nist ério Públi co Federal , que
pres enci aram o fat o aqui narrado, os represent ant es da FUNAI vi sit aram não
mais que duas aldei as e foram inci sivos em afirmar que o encontro n ão era um a
consult a, m as, sim , uma apres ent ação de um rel atóri o com o fi m de preparar as
com unidades afet adas para um a consul ta futura (TE IXEIR A, 2011, p. 22 0-221 ).
O Estudo de Im pact o ambi ental e o R el atório de Impacto Ambiental
(E IA -R IMA), com mais de 20 mil pági nas de i nform ação t écni ca, só foi
ent regue aos repres ent ant es das comunidades afet adas dois dias ant es das
audiênci as públi cas . À m ai or part e dos membros indí genas não foi oferecido
transporte e hos pedagem para parti cipar das audi ênci as. Quando da realiz ação
das audiênci as públi cas, não foram disponibiliz ados int érpretes de português
para as li nhas d e ori gem dos indí genas (TEIXE IR A, 2011, p. 221 ).
A cons trução da usina im portari a em uma séri e de i mpact os ambientais
e danos à s aúde dos i ndí genas (TE IXEIR A, 2011, p. 222 -224). Segundo Gust avo
de Fari a Morei ra Tei xeira:
Os sol i ci t ant es das medi das caut el ares e nu mer ara m co m o prej uí zos à pop ul ação l ocal deco rrent es dos i mpact os ne gat i vos de Bel o Mont e, a vi ol a ção do di rei t o à vi da , i nt egri dade e saúde; i nsegur ança al i ment ar e hi drol ógi cas; perda de propri edade das co muni dades t r adi ci onai s e mi graçã o desordenada e m decor rênci a das obras ( 2011, p. 224) .
Em respos ta às m edi d as cautel ares, o Governo brasil eiro, por mei o de
not a do M inist ério das R el ações Exteri ores , afirm ou que recebeu com
perpl exidade as det erm inações da Comi ssão e as considerou precipit adas e
injusti fi cáveis (M IN IS TÉR IO DAS R ELAÇÕE S EXTER IOR ES, 2011, nota
142). Em 26 de abril o governo envi ou res post a s obre o caso, m as não divul gou
o t eor (TE IXE IRA, 2011, p. 225) .
O Governo brasileiro reti rou a candi dat ura de Paulo Vannuchi a um a
vaga na Comis são de Di reitos Hum anos da Organização dos Est ados
Ameri canos (OEA) em 2012, convocou o em baixador Ru y C as aes na
Organização e sus pendeu o repass e de US$ 800 (oit ocentos mil dól ares ) em
forma de col aboração vol unt ária à OEA para o ano de 2011.3
3 D e c l a r a ç õ e s d o d i r e t o r i nt e r i no d o D e p a r t a me n t o d e D i r e i t o s H u ma no s e T e ma s S o c i a i s d o
-Não só o governo, m as outras aut oridades brasil ei ras t ambém
prom overam consi derações trucul ent as contra a C omissão In ter am eri cana de
Direit os Hum anos (VENTUR A; CETRA, 2013) . O Poder Legis l ativo não t ardou
a dem onst rar apoio ao governo, porquant o, em 9 de junho de 2011, por
inici ati va da Comi s são de Rel ações Exteriores e de Defes a Naci onal, “o
plenário do S enado Federal aprovou um vot o de solidari edade ao governo
brasil ei ro e um voto de cens ura à Cm IDH” (VENTUR A; C ETR A, 2013) .
Não bas tass e os at aques advi ndos do Bras il, o própri o S ecret ário Geral
da OEA à época, J osé M i guel Ins ulza , decl arou à i mprensa que esperava
sincerament e que a Comiss ão revis ass e a decis ão e que o Brasil não fez nada
de condenável ao não acat ar a decis ão .4
A Comis são Interam eri cana, com o res ult ado, mudou o t eor das medi das
caut elares, não mai s suspendendo o l icenci amento e const rução da usina, mas
soli cit ando que o Es tado brasil ei ro adot asse m edi das para proteger a vi da, a
saúde, a int egridade pess oal e a int egri dade cultural dos grupos indí genas
afet ados (C IDH, 2011) .
Contrari ando toda a hist ória brasil ei ra com rel ação ao Sistem a
Int eram eri cano de Direit os Hum anos, est e l am ent ável epi sódio, como é
evi dente, des gast ou a im agem da Comis são Int erameri cana e enfraqueceu o
Sistem a.
3.2. A A ção Pen al 470 (men salão) e sua influênci a na pos tu ra d o Brasil
Não obst ante o episódio referent e à M edi da C aut el ar 382/ 10, o Governo
brasil ei ro não t ardou em renovar bons âni mos com rel ação à C omiss ão
Int eram eri cana de Direit os Hum anos e, por cons eguint e, com o Si stema
Int eram eri cano de Di rei tos Humanos , s obretudo ante à possi bili dade de os réus ,
condenados no processo da Aç ão P enal 470 -M (m ensal ão) no S upremo Tribunal
0 4 / r e p r e s e n t a n t e d o i t a ma r a t y d i z q u e b r a s i l n a o d e s l e g i t i ma o e a p o r me d i d a c a u t e l a r -s o b r e -b e l o - mo n t e > . A c e -s -s o e m: 2 1 d e a go -s t o d e 2 0 1 5 .
4 Comissão da OEA deve “revisar decisão” sobre Belo Monte, diz secretário- g e r a l .
D i s p o ní v e l e m: <
Federal (STF), recorrendo ao Sis tem a R egi onal, obterem di reito a um novo
jul gamento .
Queremos aqui não nos aprofundar na análise políti ca do jul gament o do
mens al ão, porquanto não é t em a afeto à formação do juris t a, m as , sim, do
ci entis ta pol íti co. A int enção é demonst rar , com arrimo em not ável dout rina
(MAZZUO LI, 2014, p. 833 -847), que existe a possibil idade, por m ei o do
Sistem a Interam eri cano de Direit os Humanos, de os condenados na Ação Penal
470 receberem um novo jul gam ent o. Evi dentem ente que s e muitos dos réus
forem aliados do Governo brasil eiro , pode haver uma propensão para que o
Brasil volt e a fort al ecer o Sis tem a Interam eri cano de P rot eção dos Direit os
Hum anos.
Os réus do proces so do m ensalão que foram condenados o foram em
úni ca i nst ânci a, t endo em vis ta que o STF é o órgão de cúpul a do Pode r
J udici ári o. Em virt ude das regras de conexão ins tituí das pel o Códi go de
Processo Penal brasi lei ro ( art. 76, III e 78, III) , os 38 réus da Ação P enal 470
foram j ul gados, em única instância, pelo S uprem o, m as apenas t rês del es
exerci am o mandato e estavam amparados pel o foro privil egi ado perante a C ort e
Suprem a.
Ocorre que o arti go 8º, 2, h, da C onvenção Am eri cana s obre Direit os
Hum anos, já ratifi cada pelo Bras il, dis põe o seguinte: toda pessoa acus ada de
delit o t em o direito de recorrer da s ent ença para j u iz ou t ribunal superi or. Com
efeit o, a Convenção não abre exceção para os j ul gam ent os a s erem feitos
ori ginari am ent e pel as Suprem as Cort es dos país es que a rati ficaram,
possi bilidade existente no Si stem a Europeu de Di reitos Humanos (GOM ES;
MAZZUOLI, 2010, p. 135) .
Como os réus do process o do m ensalão foram j ul gados em única e últi ma
inst ância, há a pos si bilidade, caso eles recorram ao Sist em a Interam eri cano, de
ganharem o di reit o a um novo jul gam ent o. O precedente da Cort e Interamericana referente ao caso “Barreto Leiva vs. Venezuela” abordou situação s emelhant e, o qual Val ério de Ol ivei ra M azzuoli trat a com preci são:
Bar ret o Lei va , cont ud o , não det i nha a prer ro gat i va do foro co mo os de mai s réus. Poré m, mes mo assi m, e m razã o da r e gr a da conexão, f oi j ul gado pel a i nst ânci a má xi ma d o J udi ci ár i o vene zuel ano, t endo si do conde nado a u m a no e doi s meses de pri são por cri mes c ont r a o pat r i môni o públ i co prat i cados durant e a sua gest ão , e m 198 9. Após c onden ado, Barret o Lei va recorr eu à Co mi ssão Int era meri cana de Di re i t os Hu man os, que, e m 2008, ad mi t i u a q uei xa e fez reco mend ações à V enezuel a. Ausent e qual quer r es post a do Est ado, a C o mi ssão sub met eu, ent ão, a ca usa à j uri sdi ção da C ort e In t er ameri cana , que ent endeu, ao f i nal , que a V ene zuel a vi ol ar a o di r ei t o (consagr ad o na Con ve nção A meri cana) r el at i vo ao dupl o gr a u de j ur i sdi ção ao não o port uni zar a o Sr. Barr et o Lei va o di r ei t o de apel ar par a u m t r i bunal superi or , ei s que a conde na ção sof ri da por est e úl t i mo pr o vei o de u m t ri buna l que conhe ceu do caso e m úni ca i nst ânc i a. E m out ras pal a vras , ent endeu a C or t e que o sent enci ado não di spôs, e m conse quên ci a da co nexão, da possi bi l i dade de i mp ugnar a sent ença co ndenat óri a, o que est ari a a vi ol ar a garan t i a do du pl o grau pre vi st a (se m r essal vas) na Con ve nção (MA ZZ UOL I, 2014 , p. 837) .
Assim , pode o Brasil ser condenado tanto pel a Comi ss ão Int eramericana
de Direit os Humanos como pel a Cort e Int eram ericana de Direi tos Humanos . E
não se di ga que a int erposi ção de emba rgos decl aratórios (al guns com efeit os
infringentes), como acont eceu no caso do m ensal ão, t em o condão, com
abs olut a cert eza, de suprimi r a garant ia do duplo grau, porquanto a Cort e pode
interpretar com lit eral idade a referênci a no arti go 8º, 2, h, da Conv enção Americana, do direito de recorrer a um “juiz ou tribunal superior” (MAZZUO LI, 2014, p. 846) .
O i nt eress ante é obs ervar que, após o imbrógl io da const rução da usi na
de Belo Mont e, o Governo brasi lei ro com uni cou em not a o lançam ent o da
candi dat ura de P aulo Vannuchi à Comissão Int eram ericana de Direit os
Hum anos (M IN IS TÉR IO DAS RELAÇ ÕES EXTER IORES, 2013) . C om a
el eição de Vannuchi, o Governo l ançou outra nota des tacando que a eleição do
candi dat o à C IDH fortalece o comprom is so do Brasil com o fort al eci mento do
Sistem a Int eram ericano de Di reitos Hum anos (M IN IS TÉR IO DAS RELAÇÕES
EXTER IOR ES, 2013, not a 196) . A dúvida que fi ca é a s egui nte: s e, aos olhos
do Governo brasileiro, a el eição do candi dat o brasi lei ro aum enta o empenho do
Est ado com o fort al ecimento do Sis tem a Int eram ericano, a retirada de sua
candi dat ura, como ocorreu ant eriorm ente, não servi ri a para dem onst rar o
4. Con clusã o
Quanto ao papel do Brasil no Si st em a Interam eri cano de Direitos
Hum anos, na m aior part e do tem po o Est ado agiu de modo a fortal ecer o
Sistem a, morm ent e a parti r da promul gação da Constitui ção Federal de 1988,
quando inúm eros t rat ados de direit os hum anos foram rati ficados, l eis
infraconstit ucionais publi cadas e políti cas públi cas de prot eção e promoçã o de
direitos humanos im plem ent adas, ainda que não s e considere que o Estado
brasil ei ro ost ent e um nível adequado de prot eção.
As det erminações da C omiss ão Int eram eri cana no âmbito da M edida
Caut el ar 382/2010 (Belo Mont e) provocaram uma reação trucul enta d o Governo
brasil ei ro, que s erviu para des gast ar a im agem da própria Comi ss ão e
enfraquecer o Si st em a Int erameri cano de P roteção, ao pass o que o
questionam ento do j ul gamento da Ação P enal 470 em úni ca i nstânci a pel o STF
abre a pos sibili dade para m ais um a mu dança do Governo bras ilei ro no s enti do
de fort al ecimento do Sist ema.
Ess e infeliz quadro de idas e vindas não pode mai s subsist ir, há que se
respeit ar o princí pio const itucional da preval ênci a dos di reitos humanos e os
direitos fundam ent ai s ins cul pidos na Constitui ção Federal de 1988. Para t anto,
é preci so que o Bras il não s ó fortal eça o Sistem a Int erameri cano dando apoi o
diplom áti co, ratificando as convenções e publi cando l eis em m at éri a de direit os
hum anos , m as , s im, que cumpra com maior ri gor as recom end ações da C omiss ão
Int eram eri cana de Di rei tos Humanos .
5. Referên ci as bibli ográficas
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