MAPEAMENTO POR MEIO DE DOCUMENTOS PATENTÁRIOS DEPOSITADOS NO BRASIL DAS TECNOLOGIAS DO SETOR DE CORANTES E TINTAS
Maria Elisa Marciano Martinez – melisa@inpi.gov.br Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI
Resumo - O presente artigo tem como objetivo, realizar um mapeamento tecnológico por meio do monitoramento de documentos de patentes depositados no Brasil entre 1999 e 2008, avaliando a evolução das tecnologias envolvidas no setor de corantes e tintas, a fim de oferecer subsídios e reforçar o apoio à tomada de decisões baseadas em fatos importantes e evidências concretas sobre a dinâmica do desenvolvimento tecnológico do setor de corantes e tintas em território nacional. Para a execução do panorama das tecnologias desse setor foram inicialmente utilizados os dados dos documentos patentários extraídos da base do INPI-BR de abrangência nacional, utilizando os seguintes critérios: (1º) Uso da base de dados do INPI-BR; (2º) Seleção do espaço territorial a ser analisado - país = BR; (3º) Uso dos códigos da classificação internacional de patentes (IPC): especificamente - subclasse “C09B”, “C09C” e
“C09D”; e, (4º) Restrição do intervalo temporal da busca - período: entre 1999 e 2008. Nos resultados obtidos, as principais tecnologias relacionadas a corantes e tintas são: (a) C09D - composições de revestimento, p. ex., tintas, vernizes ou lacas; pastas de enchimento; removedores químicos de tintas para pintar ou imprimir; tintas para imprimir; líquidos corretivos; corantes para madeira; pastas ou sólidos para colorir ou imprimir; uso de materiais para esse fim; principalmente: (i) C09D5/00 - composições de revestimento, p. ex., tintas, vernizes ou lacas caracterizadas por sua natureza física ou efeitos produzidos; Pastas de enchimento; e, (ii) C09D11/00 – tintas.
Palavras-chave: Corantes, Tintas, Documentos Patentários, Mapeamento Tecnológico.
Abstract — This article aims to conduct a technology mapping through the monitoring of patent documents deposited in Brazil between 1999 and 2008, by evaluating the evolution of the technologies involved in dyes and paints sector in order to provide insight and to strengthen support for making important decisions based on facts and concrete evidence on the dynamics of technological development of dyes and paints in domestic sector. They were initially used data extracted from patent documents on the INPI-BR nationwide database, using the following criteria for the execution of the panorama of the technologies in this sector: (1) Using the database INPI-BR; (2) Selection of the territorial space to be analyzed - country code = BR; (3) Use of the codes of the international patent classification (IPC): subclass "C09B", "C09C" and "C09D"; and (4) restriction of the temporal search range - period:
between 1999 and 2008. In the results, the main technologies related to dyes and paints are: (a) “C09D” - COATING COMPOSITIONS, e.g. paints, varnishes or lacquers; filling pastes; chemical paint or ink removers; inks; correcting fluids; woodstains; pastes or solids for colouring or printing; use of materials therefor; particularly: (i) C09D5/00 - coating compositions, e.g. paints, varnishes or lacquers, characterised by their physical nature or the effects produced; filling pastes; and (ii) C09D11/00 - inks.
Keywords — Dyes, Paints, Patenting Documents, Technological Mapping.
I. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização sobre o setor de corantes e tintas
Os corantes, idealmente, os corantes devem ser estáveis à luz e aos processos de lavagem, são usualmente aplicados em solução e se fixam de maneira uniforme em todo substrato (tecido, papel, cabelo, couro ou outros materiais). Também deve apresentar fixação uniforme com as fibras em todo o substrato. No início do século XX os corantes sintéticos substituíram, quase totalmente, os corantes naturais. Assim mesmo, hoje todos os corantes e pigmentos comerciais disponíveis são substâncias sintéticas, exceto alguns pigmentos inorgânicos importantes. As principais categorias dos corantes, de acordo com os processos de tingimento aplicados, são:
Corantes vat;
Corantes diretos;
Corantes dispersos;
Corantes azo;
Corantes trifenilmetilênicos;
Ftalocianinas (KRELL, 2014).
Já, tinta é uma composição química, que pode ser pigmentada ou não, que se transforma em um revestimento após sua aplicação, proporcionando às superfícies características, tais como: acabamento, resistência e proteção. È sabido que com o passar do tempo todas as superfícies sofrem algum tipo de desgaste, seja devido ao uso, intemperismo natural ou outros agentes externos; por exemplo: os metais que sofrem os efeitos da corrosão, a madeira que acaba apodrecendo, empenando ou rachando e a alvenaria que vai absorvendo água e acaba trincando.
Para proteger essas superfícies, ou seja, bloqueando e/ou retardando esse desgaste, existe no mercado uma enorme gama de tintas, com uma infinidade de cores, tipos de acabamentos e texturas, além de alta durabilidade. Conforme a superfície, ou seja, o substrato a ser pintado, as tintas desempenham funções específicas (DONADIO, 2011). A Figura 1 mostra a composição básica das tintas enquanto que a Figura 2 mostra os principais tipos de tinta (ANGHINETTI, 2012).
Figura 1: Composição básica das tintas (Fonte: KRELL, 2014)
Figura 2: Principais tipos de tinta (Fonte: ANGHINETTI, 2012) 1.2. Documentos patentários como fonte de informação tecnológica
Dentre os documentos disponíveis nas bases de dados, os documentos patentários possuem características que os tornam uma das mais ricas fontes de informações tecnológicas, uma vez que a descrição técnica detalhada da invenção é um dos pressupostos necessários pelo sistema internacional de patentes, os outros são: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Durante o prazo de vigência da patente, o titular tem o direito de excluir terceiros, sem sua prévia autorização, de atos relativos à matéria protegida, tais como fabricação, comercialização, importação, uso e venda (INPI, 2014).
Quanto à sua vigência jurídica, os documentos patentários podem ser classificados como: (i) documentos de pedidos de patente; e, (ii) Patentes (documentos de patentes concedidas). O primeiro conjunto de documentos se refere aos documentos são depositados em um escritório de patentes, enquanto que ao segundo conceito, imputa-se o entendimento de um título outorgado pelo Estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação do invento, durante o período de sua vigência (INPI, 2014).
A Classificação Internacional de Patentes (IPC1) surgiu da necessidade de se ter uma ferramenta de busca e recuperação de documentos de patente, e permite a indexação de um grande número de documentos, em diferentes idiomas e não utilizando palavras com uniformidade. A IPC é um instrumento que possibilita a organização dos documentos de patente, usado com a finalidade de facilitar o acesso às informações tecnológicas e legais contidas nos mesmos. As versões mais atuais da IPC podem ser acessadas no site da WIPO (World Intellectual Property Organization)2 (WIPO, 2012).
Assim, este artigo tem como objetivo fazer o panorama da evolução das tecnologias que envolvem o setor de corantes e tintas por meio do monitoramento de documentos de patentes depositados no Brasil entre 1999 e 2008.
1 A Classificação Internacional de Patentes (IPC) é um sistema hierárquico em que todos os setores tecnológicos são divididos em um número de seções, classes, subclasses e grupos. Este sistema é essencial para recuperar os documentos de patentes para a avaliação da novidade e inventiva de uma invenção, ou para determinar o estado da arte em um campo específico da tecnologia e foi definido após o Acordo de Estrasburgo de 1971, qu e permitiu estabelecer uma classificação comum para patentes, modelos de utilidade e títulos semelhantes.
II. METODOLOGIA
Para a execução do panorama das tecnologias do setor de corantes e tintas foram utilizados os dados dos documentos patentários extraídos da base do INPI-BR de abrangência nacional. Nas buscas realizadas, em 2013, para recuperação de documentos patentários foram utilizados os seguintes critérios:
(i) país = BR;
(ii) classificação principal: subclasses “C09B”, “C09C” e “C09D”; e, (iii) período: entre 1999 e 20083.
Dos documentos patentários recuperados levantou-se: número de documentos patentários depositados por ano e as principais tecnologias com base na classificação internacional de patente, tanto por ano quanto por tecnologia, para as duas principais categorias foi realizada uma análise mais aprofundada das tecnologias relevantes do setor de corantes e tintas.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram ao todo 3020 documentos recuperados, empregando-se a seguinte estratégia de busca: (i) país = BR;
(ii) classificação principal: subclasses “C09B”, “C09C” e “C09D”; e, (iii) período: entre 1999 e 2008; apresentados nas Figuras 3 e 4. A evolução temporal apresenta um patamar de 1999 até um pico em 2005 e retorna a um patamar ligeiramente superior até 2008.
Figura 3: Evolução temporal dos documentos patentários depositados no Brasil relacionados ao setor de corantes e tintas (1999 -2008).
2 As versões mais atuais da IPC podem ser acessadas no site da WIPO ou diretamente pelo http://ipc.inpi.gov.br/ipcpub/#refresh=page
3 Este período foi escolhido devido ao período de sigilo, de 18 meses, entre a data de depósito e a data de publicação, pois os pedidos só ficam disponíveis para consulta após o período de sigilo; e também devido ao prazo de 30 meses que os períodos PCT têm para dar entrada na fase nacional a partir da data de depósito.
Em relação à distribuição nas IPC´s nota-se uma grande concentração nos pedidos “C09D” - composições de revestimento, p. ex., tintas, vernizes ou lacas; pastas de enchimento; removedores químicos de tintas para pintar ou imprimir; tintas para imprimir; líquidos corretivos; corantes para madeira; pastas ou sólidos para colorir ou imprimir; uso de materiais para esse fim. Considerando a evolução temporal das IPC´s nota-se que a “C09D”
apresenta dois picos um em pequeno em 2000 e outro significante em 2006; a curva “C09B” apresenta um patamar estável, um pico em 2006, seguido por uma tendência decrescente e a curva de menor significância, a “C09C”, apresenta dois picos, um em 1999 e outro em 2005.
Figura 4: Distribuição das IPC's encontrados nos documentos patentários depositados no Brasil relacionados ao setor de corantes e tintas (1999 -2008).
A tabela 1 apresenta a descrição das IPC´s encontradas nos documentos patentários depositados no Brasil relacionados ao setor de corantes e tintas.
Tabela 1: Descrição das IPC´s encontradas nos documentos patentários depositados no Brasil relacionados ao setor de corantes e tintas.
Como a classificação de maior impacto no setor de corantes e tintas é a “C09D” necessitou uma ampliação do estudo, avaliando assim os grupos principais envolvidos, obtendo-se assim um melhor detalhamento das tecnologias e aplicações relacionadas à tecnologia de corantes e tintas, apresentados a seguir. A descrição das IPC´s encontradas nos documentos patentários depositados no Brasil relacionado ao setor de revestimento (“C09D”) pode ser consultada na sua forma mais completa e detalhada na página do INPI http://ipc.inpi.gov.br/ipcpub/#refresh=page.
Tabela 2: Descrição das principais IPC´s encontradas nos documentos patentários depositados no Brasil relacionado ao setor de revestimento (“C09D”).
Figura 5: Evolução temporal dos documentos patentários depositados no Brasil relacionados ao setor de composições de revestimento (1999 -2008).
Figura 6: Distribuição das IPC's encontradas nos documentos patentários depositados no Brasil relacionados a composições de revestimento (1999 -2008).
A evolução temporal dos pedidos do setor de revestimentos (“C09D”) apresente um pequeno pico em 2000 e um pico maior em 2006 (Figura 5). Na Figura 6 observa-se a distribuição dos grupos do “C09D” e dentre eles os principais são: (i) “C09D5/00” - composições de revestimento, p. ex., tintas, vernizes ou lacas caracterizadas por sua natureza física ou efeitos produzidos; Pastas de enchimento; e, (ii) "C09D11/00” – tintas. A evolução temporal do
“C09D5/00” apresenta dois picos, um em 2000 e outro em 2006; já a “C09D11/00” apresenta um único pico em 2005. A tabela 2 apresenta a descrição das principais IPC´s encontradas nos documentos patentários depositados no Brasil relacionado ao setor de revestimento (“C09D”).
IV. CONCLUSÕES
Com a elaboração deste panorama, pode-se demonstrar o potencial de informação estratégica contidas nesses documentos patentários para o processo de gestão e monitoramento tecnológico para as tecnologias que envolvem o setor de corantes e tintas.
O mapeamento da evolução temporal dos depósitos dos documentos patentários nos mostra a evolução histórica da proteção patentária de uma tecnologia sobre um tema/assunto ao longo dos anos, e, neste trabalho foi possível concluir que o número de depósitos no período de 1999 a 2008 se manteve estável até 2004 quando apresenta um pico em 2006.
Aprofundando nas tecnologias relacionadas à corantes e tintas por meio de documentos patentários, tem-se destaque as seguintes áreas:
(a) C09D - composições de revestimento, p. ex., tintas, vernizes ou lacas; pastas de enchimento;
removedores químicos de tintas para pintar ou imprimir; tintas para imprimir; líquidos corretivos; corantes para madeira; pastas ou sólidos para colorir ou imprimir; uso de materiais para esse fim; principalmente:
(i) C09D5/00 - composições de revestimento, p. ex., tintas, vernizes ou lacas caracterizadas por sua natureza física ou efeitos produzidos; Pastas de enchimento; e,
(ii) C09D11/00 – tintas.
A partir do panorama elaborado por meio dos documentos patentários depositados no Brasil entre 1999 e 2008 pode-se concluir que as principais tecnologias do setor de corantes e tintas são C09D, com mais de 60%, e dentro dela, destacam-se: (i) C09D5/00 e (ii) C09D11/00.
REFERÊNCIAS
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DONADIO, A., Jan/2011 – Manual Básico sobre tintas – Águia Química - Disponível em:
<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CC0QFjAA&url=http%3A%2 F%2Fwww.aguiaquimica.com%2Fupload%2Ftiny_mce%2Fmanual%2Fmanual_basico_sobre_tintas.pdf&ei=y6A9 U72ALdPfsATl_oDoBQ&usg=AFQjCNFYdrMs1o-
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GNECCO, C., MARIANO, R. e FERNANDES, F., Instituto Brasileiro de Siderurgia/ Centro Brasileiro da Construção em Aço. Tratamento de superfície e pintura. 2003. 94f. Série Manual de Construção em Aço. Rio de Janeiro.
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Submetido em 06/05/2014 Aprovado em 08/07/2014
