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Justiniano José da Rocha: política e sociabilidade ( ) Claudia Adriana Alves Caldeira*

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Academic year: 2021

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Justiniano José da Rocha: política e sociabilidade (1812-1836) Claudia Adriana Alves Caldeira*

Em seu ensaio intitulado Os protagonistas: da biografia, o historiador Phillipe Levillain observa, a partir das teses acadêmicas produzidas na França nas décadas de 1960 e 1970, uma retomada da história política e, paralelamente, um retorno dos estudos biográficos

1

. Esses dois temas haviam sido eclipsados pela ascensão da História Social, representada pelos Annales, e também pela influência marxista na produção historiográfica.

Deve-se ressaltar que a biografia exerceu importante papel nos quadros da história política no século XIX, momento de construção e consolidação dos estados nacionais.

Como assinala Del Priory, a ela coube imortalizar os heróis e os mitos fundadores, passando, mais tarde, sob a égide dos positivistas, a enaltecer políticos e chefes de estado

2

. Ainda na segunda metade do XIX, pôs-se em curso, segundo Malatian, uma reação à exaltação dos indivíduos. As obras de Michelet e Marx indicavam novos caminhos: o primeiro apontando o herói como um representante das paixões coletivas, e o segundo chamando a atenção para a importância das classes sociais para a compreensão dos movimentos de transformação histórica

3

. Esta reação se completaria com o declínio da história política e ascensão da história social no século XX.

Vale ressaltar que, mesmo durante a hegemonia da história social, ocasião em que se privilegiavam os sujeitos coletivos, a biografia não desaparecera de todo. Conforme destaca Malatian, historiadores de diferentes gerações dos Annales também se arriscaram neste gênero, como pode ser observado na obra de Fevbre sobre Lutero, George Duby (Guilherme o marechal) e Jacques Le Goff (São Luis e Francisco de Assis)

4

.

*Doutoranda em História pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

1

LEVILLAIN, Philippe. Os protagonistas: da biografia. In:RÉMOND, René. Por uma história política.Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 141.

2

DEL PRIORY, Mary. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Revista Topoi, v. 10, n. 19, 2009.

Disponívell em: http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi19/topoi%2019%20-

%2001%20artigo%201.pdf.

3

MALATIAN, Teresa Maria. A Biografia e a História. Cadernos Cedem.Ano 1, n. 1, Janeiro de 2008.

Disponível em http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/cedem/article/view/518.p 18

4

Idem, Ibidem. p.20-21

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Pode-se observar que, apesar das obras anteriormente citadas, o gênero, de fato, parecia pouco estimulante para os quadros da história social.

A crise enfrentada pelo marxismo e o declínio das técnicas quantitativa e serial, abriram espaço para que, na década de 1980, o retorno da biografia ganhasse força, com a organização de seminários e publicação de artigos. Neste bojo, novas possibilidades no estudo biográfico são trazidas a lume, a partir da proximidade com outros campos de conhecimento como a Sociologia, a Psicologia e a Psicanálise.

O presente comunicado tem como tema parte da trajetória do jornalista, advogado, escritor, tradutor e professor Justiniano José da Rocha (1812-1864), geralmente lembrado pela autoria do opúsculo Ação; reação; transação. Duas palavras acerca da atualidade política do Brasil. Atuou, por aproximadamente vinte cinco anos, na imprensa do Rio de Janeiro, nos seguintes jornais: O Atlante (1836), O Chronista (1836-1837), O Brasil (1840-1852), O Correio do Brasil (1852-1853), O Velho Brasil (1853-1854), O Constitucional (1860), O Regenerador (1860-1861). Em sua maioria, eram eles ligados ao partido Conservador. Personagem controvertido, com sua atuação como jornalista, arrancou elogios e críticas de seus contemporâneos. Entre os elogios, feitos postumamente, figuram os do Barão de Rio Branco, apontando-o como primeiro jornalista de seu tempo. Joaquim Manuel de Macedo ratifica esta opinião, afirmando ter o jornalista herdado o cetro da imprensa política de Evaristo da Veiga, a quem havia

“excedido em ilustração e em máxima habilidade de escritor estrategista”. Em vida, porém, o jornalista conheceu referências bem menos elogiosas, entre elas, a de pena de aluguel a serviço dos conservadores. Busca-se, neste trabalho, ainda em fase inicial de pesquisa, refletir sobre um período menos conhecido da trajetória de Justiniano José da Rocha (1812-1836), destacando sua formação e a importância de alguns espaços de sociabilidade do qual participou, como a Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência Nacional, a fim de melhor compreender a relação desses com a imprensa e a política.

Breves considerações:

Não são muitos os trabalhos biográficos sobre Justiniano José da Rocha. Entre

eles, destacam-se três, produzidos por membros do IHGB nas décadas de cinquenta e

sessenta. O primeiro foi escrito pelo jornalista e biógrafo Magalhães Jr. que,

conjugando o interesse por biografias e história da imprensa, escreveu, ao longo de sua

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carreira, alguns trabalhos ligados a esta temática, como as biografias dos jornalistas José de Alencar, José do Patrocínio, entre outros. Na obra Três Panfletários do Segundo Reinado, publicada em 1956, reuniu, em único volume, os panfletos O libelo do povo, escrito por Francisco de Salles Torres Homem; Ação; reação; transação. Duas palavras acerca da atualidade política do Brasil, de autoria de Justiniano José da Rocha e A Confederação dos Divinos, de Ferreira Vianna. Cada um desses opúsculos foi acompanhado por um ensaio biográfico de seus respectivos autores. Em relação a Justiniano, esse ensaio assume maior importância, porque pode ser considerado como uma das primeiras biografias sobre o jornalista.

Neste texto, Magalhães Jr. estabeleceu um painel das atividades e polêmicas relacionadas à trajetória de Justiniano. Destacou seu trabalho na imprensa, descrevendo seu desempenho à frente das folhas em que atuou e algumas das posições políticas que assumiu, como, por exemplo, no Atlante, no qual combateu a regência da princesa Januária e criticou o descumprimento da lei que proibia o tráfico de escravos. Outras questões, como o combate à maioridade de d. Pedro II e a crítica aos liberais, foram temas que marcaram sua atuação n’O Brasil, representante, na imprensa, do partido Conservador.

Para Magalhães Jr., a atuação de Justiniano na imprensa superava a do conceituado Sales Torres Homem, no volume e na clareza de seus artigos. Destaca a influência do texto “Ação; reação; transação”, na obra “Um estadista do Império”, de Joaquim Nabuco. Faz referência, também, ao político liberal Tavares Bastos, que lhe teria copiado o estilo

5

. Em relação ao texto de Justiniano, Magalhães Jr aponta-o, ainda, como obra elogiosa à política de Conciliação.

Além do jornalismo citou, também, outras atividades exercidas por Justiniano, como professor, advogado e político, sem tecer, porém, maiores comentários.

Após a publicação de Magalhães Jr., seria a vez do historiador conservador Hélio Viana, autor da obra Contribuições à história da imprensa brasileira (1812-1869)

6

. Em 1959, produziria para a revista do IHGB, um artigo intitulado Justiniano José da Rocha

7

. Nele, o historiador indica as atividades de Justiniano, destacando seu interesse

5

MAGALHÃES JR. , Raimundo de. Três panfletários do Segundo Reinado. São Paulo: Cia editora Nacional, 1956, p. 144.

6

VIANNA, Helio. Contribuições à história da imprensa Brasileira (1812-1869). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. 1945.

7

VIANNA, Helio. Justiniano José da Rocha. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, Revista

IHGB, v. 243, abril- junho, 1959.

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pela região do Prata e seu conhecimento sobre ela, sua produção literária e, obviamente, sua atuação no partido Conservador como jornalista e deputado. Em relação à política, defende, sem maiores explicações, a ideia de que Justiniano não aprovava a Conciliação promovida por Honório Hermeto Carneiro Leão, discordando, neste aspecto, de Magalhães Jr. O artigo reafirma a posição de destaque de Justiniano na imprensa do Segundo Reinado.

Este ensaio influenciou a construção da biografia Justiniano José da Rocha, escrita pelo jornalista e membro do IHGB, Elmano Cardim

8

. Neste trabalho o autor seguiu a mesma estrutura elaborada por Vianna, embora se estendendo um pouco mais na abordagem dos temas. Escrito em 1964, origina-se do texto apresentado pelo autor, por ocasião do centenário de falecimento do biografado promovido por aquele instituto.

Neste trabalho, a crise entre o jornalista e Honório Hermeto Carneiro Leão foi mostrada com maior riqueza de detalhes que nas obras anteriormente citadas. Deve-se destacar que, apesar da influência de Helio Vianna, Cardim afirma ser o opúsculo elogioso à Conciliação.

A obra de Cardim aponta várias possibilidades para a ampliação do estudo biográfico sobre o jornalista, pois procura situá-lo em seu tempo, destacando sua fidelidade ao partido Conservador e comparando essa postura com a de outros jornalistas que lhe foram contemporâneos.

Com um posicionamento diferente dos autores anteriormente citados, o historiador marxista Nelson Werneck Sodré, em sua obra História da Imprensa no Brasil, reproduz a imagem de pena de aluguel a serviço dos conservadores, que a imprensa política ligada aos liberais atribuía ao jornalista.

Deve-se ressaltar que, nestes trabalhos, observam-se algumas lacunas, entre elas, referências a associações ou grupos dos quais o jornalista teria participado, e que contribuem para melhor compreensão de sua atuação na imprensa e na leitura de suas obras, a partir do conhecimento dos debates ali desenvolvidos. Assim, recorreu-se a um referencial teórico que possibilitasse maior compreensão da trajetória de Justiniano José da Rocha, considerando a necessidade de se empreender um estudo que estabeleça a relação do indivíduo com seu meio social, sua formação, os espaços de sociabilidade dos quais fez parte. Destaca-se aqui, a observação desses espaços, a partir da concepção de sociabilidade presente na obra de Maurice Agulhon, e adaptado para o contexto

8

CARDIM

, Elmano. José Justiniano da Rocha. São Paulo: Companhia e editora Nacional, 1964.

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estudado por Marco Morel, que classifica as associações em informais e formais. A primeira refere-se aquelas que se formam sem estatutos e não possuem uma hierarquia.

A segunda, ao contrário da anterior, possui estatutos e uma estrutura hierárquica

9

. A partir dessa referência, busca-se verificar a possibilidade de ascensão social através da formação de rede de relacionamentos nestes locais, sua finalidade, a composição de seu quadro de associados, sua formação hierárquica e as posições nelas ocupadas pelo jornalista ao longo de sua vida, além da relação desses espaços com os grupos políticos e as atividades profissionais desempenhadas por Justiniano.

Entre esses locais, no período aqui abordado, destaca-se a Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência, fundada em 1831, pelo publicista Borges da Fonseca.

Inicialmente, esta apresentou um quadro de associados que abrigava diferentes tendências políticas, porém, mais tarde, acabaria por se tornar uma extensão da facção moderada, tendo permanecido em atividade até 1835, ano em que Justiniano foi eleito membro de seu conselho diretor. Esta informação indica que, embora tenha estreado na imprensa em 1936, sua ligação com a política já se estabelecera antes disso. Alguns temas defendidos por Justiniano no jornal o Atlante,como o fim do tráfico de escravos, foram alvo de intensa discussão na Sociedade Defensora

10

. Essa informação ganha outra dimensão se considerada a partir da perspectiva de que apenas uma minoria de seus associados, entre eles Evaristo da Veiga, defendia sua extinção

11

.

A Sociedade Defensora da Liberdade Nacional encerrou suas atividades, em meados de 1835. Mas, como destaca Guimarães, isto não teria significado o fim do projeto conservador que ali se vinha desenvolvendo, pois este legado teria sido incorporado pela facção regressista, liderada por Bernardo Pereira de Vasconcellos

12

, da qual Justiniano faria parte.

Esta pesquisa, ainda em fase inicial, procura, a partir da observação dos espaços de sociabilidade como a Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência, um

9

MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1820-1840). São Paulo; Hucitec, 2005, p. 109.

10

GUIMARÃES, Lúcia. Em nome da ordem e da moderação: A trajetória da Sociedade defensora da Liberdade e da Independência Nacional. Rio de Janeiro: IFCS-UFRJ, 1990, p. 14.

11

Idem, Ibidem. p. 14-15.

12

Idem, Ibidem, p. 16

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conhecimento mais amplo da trajetória de Justiniano José da Rocha, considerando sua atuação para além da imprensa.

Bibliografia

CARDIM, Elmano. José Justiniano da Rocha. São Paulo: Companhia e Editora Nacional, 1964.

DEL PRIORY, Mary. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Revista Topoi,

v. 10, n. 19, 2009. Disponível em

: http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi19/topoi%2019%20-

%2001%20artigo%201.pdf.

GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Ação; reação; transação: a pena de aluguel e a historiografia. In CARVALHO, José Murilo de. Nação e Cidadania no Império: Novos Horizontes. Rio de Janeiro: Civilização, 2007.

________. Em nome da ordem e da moderação: A trajetória da Sociedade defensora da Liberdade e da Independência Nacional. Rio de Janeiro: IFCS-UFRJ, 1990.

LEVILLAIN, Philippe. Os protagonistas: da biografia. In:RÉMOND, René. Por uma história política.Rio de Janeiro: FGV, 2003

MAGALHÃES JR, Raimundo. Três panfletários do Segundo Reinado.São Paulo: Cia Editora Nacional, 1956.

MALATIAN, Teresa Maria. A Biografia e a História. Cadernos Cedem.Ano 1, n. 1,

Janeiro de 2008.

http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/cedem/article/view/518.

MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1820-1840). São Paulo; Hucitec, 2005

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. no Brasil. Rio de Janeiro:

Maud, 1998.

VIANNA, Helio. Contribuição à historia da imprensa brasileira. Rio de Janeiro:

Imprensa Nacional, 1945.

____________. Justiniano José da Rocha.In RIHGB Rio de Janeiro: Departamento de

Imprensa Nacional, , v. 243, abril- junho, 1959.

Referências

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