“FELIZMENTE HÁ LUAR!”
1- Completa os espaços em branco, recorrendo às palavras abaixo.
personagens Luís de Sttau Monteiro marxista épico (2) sociedade sentir perseguição crítica Inglaterra Beresford revolução francesa hipocrisia salazarista (2) moral irónicos narrativo Brasil PIDE abuso Brecht liberal
Caraterísticas da obra
“Felizmente há luar!” é uma obra literária de caráter épico, publicada em 1961, pelo dramaturgo Luís de Sttau Monteiro.
As personagens são psicologicamente densas e vivas. Os comentários são essencialmente irónicos e mordazes.
A obra representa uma denúncia da ausência de moral e da hipocrisia da sociedade, oferecendo-nos uma análise crítica da mesma.
Contextualização
A história desta peça passa-se na época da revolução francesa.
Para evitar a rendição, D. João V foge para o Brasil. Portugal pede auxílio à Inglaterra e enviam-nos o general Beresford.
O autor denuncia a opressão vivida na época do regime salazarista. Assim, as injustiças praticadas no início do século XIX, permitiu-lhe colocar em destaque as iniquidades do seu tempo: o abuso de poder do Estado Novo e as ameaças da PIDE, polícia deste regime.
Caráter
“Felizmente há luar!” é um drama narrativo de caráter épico e social.
O autor tem Brecht como referência e a sua preocupação fundamental é levar os espetadores a pensar, a refletir sobre os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade em que se inserem.
Pretende-se, por isso, substituir o “sentir” por o “pensar”, evocando situações e personagens do passado (movimento liberal oitocentista), usando-as como pretexto para falar do presente (ditadura salazarista) e, assim, pôr em evidência a luta do ser humano contra a tirania, a opressão, a injustiça e todas as formas de perseguição.
2- Completa o quadro, fazendo o paralelismo entre o passado e as condições históricas dos anos 60: denúncia de violência, tendo em conta os dados que te são fornecidos.
Século XIX - 1817 Século XX – Anos 60
Época c) f)
Regime político m) j)
Classes
dominantes d) e)
Situação económica do
país
a) o)
Povo p) g)
Ambiente social h) b)
Organismos de
apoio ao poder c) l)
Poder jurídico i) n)
a) Desvio de grandes somas de dinheiro para a corte real, então instalada no Brasil.
b) Oposição de intelectuais ao poder político; contestações sociais, greves e movimentos estudantis.
c) Forças militares comandadas por oficiais ingleses; polícia ao serviço do poder político;
delatores corruptos também de origem popular.
d) Clero, nobreza e forças militares aliadas por interesses comuns.
e) Salazar apoiado pela Igreja, forças militares e classes detentoras de poder social e económico.
f) Portugal na década de 60 do século XX.
g) Explorado e oprimido pelas classes dirigentes privilegiadas. Taxas de alfabetização muito baixas. Aumento da emigração para a Europa.
h) Descontentamento geral; tentativas de implantação do Liberalismo.
i) Condenações arbitrárias e sem provas.
j) Ditadura.
k) Portugal no início do século XIX (1817).
l) Forças militares e a PIDE ao serviço do regime; denunciantes corruptos no seio das camadas populares («bufos»).
m) Absolutismo.
n) Tribunais controlados pelo poder político.
o) Gastos financeiros avultados com a Guerra Colonial em Angola (início de 1961).
p) Miserável, ignorante e oprimido pelas classes privilegiadas. Incapaz de agir contra o regime opressor e controlador.
3- Estabelece a correspondência entre as personagens nomeadas e o breve retrato que delas é apresentado.
Coluna A Coluna B
5.1. Revela um caráter calculista, presunçoso e prepotente. Despreza o povo, opondo-se às ideias liberais por razões de ordem pessoal que o levam a condenar, sem provas, os que ameaçam o seu poder. f)
a) Matilde
5.2. Mostra-se desiludido e frustrado face à miséria e à opressão que o cerca. A sua incapacidade para mudar a situação degradante em que vive, acentua a sua revolta contra o poder repressivo e corrupto instituído. c)
b) Sousa Falcão
5.3. Personagem de grande densidade psicológica, combativa, corajosa e apaixonada. Luta contra a injustiça, a deslealdade e a cobardia, procurando salvar o amor da sua vida. De caráter digno e lutador enfrenta heroicamente os representantes do poder. a)
c) Manuel
5.4. Mostra-se a favor da ignorância do povo para mais facilmente exercer o seu domínio sobre ele. Cúmplice e comprometido com o poder, é hipócrita e falso nas suas atitudes e considerações. g)
d) Vicente
5.5. Apresenta-se como um traidor, corrupto e ganancioso, que, embora consciente das injustiças sociais, procura subir na hierarquia através da astúcia e da denúncia sem escrúpulos. d)
e) Beresford
5.6. Amigo fiel de Matilde e do marido, demonstra-se solidário com a sua dor. Defensor dos princípios liberais, nutre grande admiração pela coragem de Gomes Freire de Andrade, questionando-se a si próprio pela sua postura passiva e cobarde. b)
f) D. Miguel Forjaz
5.7. Detentor de grande poder, revela-se autoritário e prepotente. Procura denunciar e castigar os traidores por interesses de índole pessoal. É extremamente irónico, trocista e insensível, assumindo uma postura de superioridade face ao que o rodeia. e)
g) Principal Sousa
TEMPO Tempo histórico ou tempo real: séc. XIX - 1817
Tempo metafórico ou tempo da escrita: séc. XX – anos 60
ESPAÇO Espaço físico: diversos locais (interiores e exteriores)
Espaço social: meio social em que as personagens estão inseridas: vestuário, linguagem…
ESTRUTURA
A peça está dividida em dois atos (estrutura externa); o primeiro com onze sequências e o segundo com treze (estrutura interna). No ato I, trama-se a morte de Gomes Freire; no ato II, põe-se em prática o plano do ato I.
SÍMBOLOS
- Saia Verde: “alegria no reencontro”, esperança em vida: esperança, liberdade, pureza e inocência. Esperança que a morte do General não seja em vão.
- Título: segundo D. Miguel: efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne um exemplo; segundo Matilde: revolta contra a tirania; busca da liberdade.
- Luz: vida, saúde, felicidade, símbolo de vitória contra a escuridão.
- Noite: mal, castigo, morte.
- Lua: dependência (do sol), periodicidade, renovação.
- Luar: Para os opressores: mais pessoas ficam avisadas; para os oprimidos: mais pessoas poderão seguir essa luz e consegue a liberdade.
- Fogueira: D. Miguel: ensinamento ao povo; Matilde: a chama mantém-se viva, a liberdade há- de chegar
- Moeda de 5 réis: desrespeito dos mais poderosos para com os outros; traição da igreja (contraria os mandamentos de Deus).
- Tambores: repressão do povo.
LINGUAGEM E ESTILO
- Recursos estilísticos / expressivos;
- Funções da linguagem: apelativa, emotiva, informativa e metalinguística;
- Marcas da linguagem e estilo: provérbios, expressões populares, frases sentenciosas;
- Texto principal: fala das personagens;
- Texto secundário: as didascálias / indicações cénicas.
PERSONAGENS Há três grupos importantes de personagens na obra:
1. Povo
Rita, Antigo Soldado, Populares
Personagens coletivas
Representam o analfabetismo e a miséria
Escravizado pela ignorância
Não tem liberdade
Desconfiam dos poderosos
São impotentes face à situação do país (não há eleições livres, etc.)
Manuel
Denuncia a opressão
Assume algum protagonismo por abrir os dois atos
Papel de impotência do povo
Usa linguagem popular que combina com o realismo da obra
É lúcido e consciente
Matilde
Personagem principal do ato II – símbolo de força (está desesperada)
Companheira de todas as horas de Gomes Freire e devota a ele
Forte, persistente, corajosa, inteligente, apaixonada, digna, culta e vivida
Não desiste de lutar, defendendo sempre o marido, forte e destemida
Põe de lado a autoestima (suplica pela vida do marido)
Acusa o povo de cobardia mas depois compreende-o
Personifica a dor das mães, irmãs, esposas dos presos políticos
Voz da consciência junto dos governadores (obriga-os a confrontarem-se com os seus atos)
Desmascara o Principal Sousa, que não segue os princípios da lei de Cristo
Luta por lealdade, justiça e verdade
Por vezes, parece um pouco alucinada
Grande poder de argumentação
Oscila entre dois polos:
- uma mulher feminina, frágil, consumida pela angústia, a suplicar pelo amor da sua vida, não temendo sequer contrariar princípios;
- uma mulher forte, destemida, que acusa os males do seu povo e denuncia a corrupção e a falta de índole, a tirania.
Sousa Falcão
Amigo de Gomes Freire e Matilde
Partilha das mesmas ideias de Gomes Freire mas não teve a sua coragem
Autorecrimina-se por isso
Medroso 2. Delatores
Representam os “bufos” do regime salazarista.
Vicente
É a única personagem que evolui na obra: começa como membro do povo e acaba no grupo dos delatores, elevado a chefe da polícia
É do povo, mas trai-o para subir na vida
Tem vergonha do seu nascimento, da sua condição social
Faz o que for preciso para ganhar um cargo na polícia
Demagogo, hipócrita, traidor, desleal, sarcástico, subtil, inteligente, calculista e egoísta
Falso humanitário, pois desrespeita e despreza o povo
Movido pelo interesse da recompensa
Adulador do momento
É contra o general
Andrade Corvo e Morais Sarmento
Querem ganhar dinheiro a todo o custo
Funcionam como “bufos” também pelo medo que têm das consequências de estar contra o governo
Mesquinhos, oportunistas e hipócritas
3. Governadores
Representam o poder político e são o cérebro da conjura que acusa Gomes Freire de traição ao país; não querem perder o seu estatuto; são fracos, mesquinhos e vis; cada um simboliza um poder e diferentes interesses; desejam permanecer no poder a todo o custo
Beresford
Representa o poder militar
Tem um sentimento de superioridade em relação aos portugueses e a Portugal
Ridiculariza o nosso povo, a vida do nosso país e a atrofia de almas
Odeia Portugal
Está sempre a provocar o principal Sousa
Não é melhor que aqueles que critica mas é sincero ao dizer que está no poder só pelo seu cargo que lhe dá muito dinheiro
Tem medo de Gomes Freire (pode-lhe tirar o lugar)
Oportunista, severo, disciplinar, autoritário, mercenário, calculista e ardiloso (trama a confusão, mas não a integra)
Bom militar, mau oficial – mau soldado, mas bom estratega
Lúcido, consciente e pragmático
Principal Sousa
É demagogo e hipócrita
Não hesita em condenar inocentes
Representa o poder clerical/Igreja
Representa o poder da Igreja que interfere nos negócios do estado
Não segue a doutrina da Igreja para poder conservar a sua posição
Não tem argumentos face ao desmascarar que sofre de Matilde
Tem problemas de consciência em condenar um inocente mas não ousa intervir para não perder a sua posição confortável no governo
Fanático religioso
Corrompido pelo poder eclesiástico
Desonesto e cínico
Odeia os franceses
Defende o obscurantismo
É contra o liberalismo e odeia os franceses por causa das suas ideias
Devia semear a paz e semeia o confronto
Antiprogressista
D. Miguel Forjaz
Representa o poder político e a burguesia dominadora
Quer manter-se no poder pelo seu poder político-económico
Personifica Salazar
Prepotente, autoritário, calculista, servil, vingativo e frio
Corrompido pelo poder
Primo de Gomes Freire
Falso demagogo “Deus, Pátria e Família”
Antiprogressista, retrógrado e conservador
Medroso
Sem escrúpulos, mercenário
Vê o liberalismo como anarquia e caos
Acha-se superior - absolutista
Gomes Freire D’Andrade
Representa Humberto Delgado
Personagem virtual/central
Sempre presente nas palavras das outras personagens
Caracterizado pelo Antigo Soldado, por Manuel; D. Miguel e Beresford
Idolatrado pelo povo
Acredita na justiça e na luta pela liberdade
Soldado brilhante
Estrangeirado
Símbolo da esperança e liberdade
Politicamente liberal, igualitário
Com valores, íntegro
Polícias: representam a PIDE
Frei Diogo de Melo
Representa a Igreja consciente da situação do país
O lado bom da Igreja
Homem com compaixão
Conforta Matilde
Defende Gomes Freire – corrobora a sua inocência
Opõe-se ao Principal Sousa
OBJETIVOS DA OBRA:
- Levar a sociedade (público) a tomar consciência da realidade. Porquê? Porque a tomada de consciência leva à ação e esta leva à mudança.