PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL
SARA SEBASTIANA NOGUEIRA
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, FÍSICA, COLORIMÉTRICA E DURABILIDADE NATURAL DA Mimosa tenuiflora
MOSSORÓ - RN
2020
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, FÍSICA, COLORIMÉTRICA E DURABILIDADE NATURAL DA Mimosa tenuiflora
Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, Câmpus Mossoró como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Florestal.
Orientador: Prof. Dr. Vinicius Gomes de Castro – UFERSA.
MOSSORÓ-RN
2020
9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n°9.610/1998. O conteúdo desta obra tomar-se-á de domínio público após a data de defesa e homologação da sua respectiva ata. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.
Setor de Informação e Referência
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CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, FÍSICA, COLORIMÉTRICA E DURABILIDADE NATURAL DA Mimosa tenuiflora
Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Florestal.
Defendida em: 06 / 02 / 2020.
BANCA EXAMINADORA
A Deus, que sempre tem me mostrado seu cuidado nos momentos mais difíceis, me direcionando durante toda essa jornada.
Aos meus pais e minha família, que me deram todo apoio e auxílio e que me motivam cada dia mais a buscar pelo meu melhor enquanto ser humano e profissional.
Ao meu orientador Vinícius, que me auxiliou durante a graduação, desde a execução deste trabalho até os conselhos e orientações profissionais.
Aos professores do curso de Engenharia Florestal na UFERSA que contribuíram com meu crescimento profissional através de todos os conhecimentos partilhados e de todo auxílio e orientações.
A banca examinadora, que me apoiou durante as minhas decisões, me ajudando a seguir com elas e por contribuírem no fechamento de mais um ciclo em minha vida.
A Lucas, Rayane e Karol que foram meu alicerce em boa parte desta caminhada e que me acolheram em momentos difíceis em Mossoró e também me proporcionaram momentos de alegria.
A Daniel, Jenickson, Cirilo, Giliard, Cleyton, Lili e a todos os meus colegas de curso e futuramente de profissão que compartilharam noites de estudo, de boas risadas, dias de luta e dias de glória, tornando mais leve a caminhada.
A Lidiane, David, Francoyse, Elen, Nardela e a todos aqueles que compõem os Laboratórios de Tecnologia da Madeira e Patologia Florestal que de alguma forma se prontificaram e se mostraram disponíveis durante todas as minhas análises.
Enfim, agradeço a todos aqueles que contribuíram para o meu crescimento e que tenha
ajudado a deixar minha marca nestes anos de UFERSA, seja na instituição ou na vida
daqueles que conheci.
É de suma importância conhecer e estudar as características de cada espécie, para que se possa dar uma melhor destinação destas no mercado. Para tanto, este trabalho visou avaliar as propriedades químicas, físicas e colorimétricas da Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret) em diferentes alturas (Base, Diâmetro a altura do peito e Topo), bem como a resistência natural desta ao ataque de podridão branca por meio do fungo Ganoderma sp.. A espécie demonstrou-se altamente resistente ao fungo independente da altura. Em solubilidade em NaOH 1%, todas as alturas apresentaram médias estatisticamente iguais, tanto antes quanto depois do ensaio. Contudo, apresentou variações quanto ao teor de extrativos a diferentes alturas, com maior teor de extrativos na base da Jurema-preta e menor teor de extrativos no topo, que denotou influência na cor da madeira e na perda de massa. A madeira de Mimosa tenuiflora exibiu maior fator anisotrópico na base com valores próximos de 1,0.
Através das análises realizadas, foi possível observar o potencial de aplicação da espécie no setor moveleiro, tendo em vista sua alta durabilidade natural e propriedades físicas com menor predisposição da peça a empenamentos e rachaduras.
Palavras-chave: Caatinga. Biodeterioradores. Podridão branca. Massa Específica.
It is extremely important to know and study the characteristics of each species to be able to recommend their best destination for the market. Thus, this work aimed to evaluate chemical, physical and color properties of Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret) at different heights (Base, Chest high diameter and Top), as well as natural resistance to white rot attack by the fungus Ganoderma sp.. The species showed to be highly resistant to the fungus at any height. For solubility in NaOH 1%, all heights presented statistically equal averages, for both before and after deterioration test. However, it showed variation of extractive amounts at different heights, higher extractive amounts at Jurema-preta base's sample and lower at the top, which influenced the wood color and the weight loss. The Mimosa tenuiflora wood showed a higher anisotropic index at the bottom wood with values close to 1.0. Based on the analisys, it was possible to see the potential to apply the species wood in the furniture sector, since the wood's high natural resistance and physical properties with low propensity to warp and split.
Key word: Caatinga. Biodeterioration agents. White rot. Specific gravity.
Figura 1-Preparo das amostras de Jurema-preta a diferentes alturas (0%, 25%, 50%, 75% e
100%) em moinho de facas ... 18
Figura 2-Equipamento Soxhlet utilizado para extração em acetona... 20
Figura 3–Amostras usadas para análise colorimétrica de Jurema-preta a diferentes alturas
(base, diâmetro a altura do peito e topo) ... 22
Figura 4-Realização de análises nos corpos de prova de Jurema-preta (base, diâmetro a altura
do peito e topo) com Colorímetro Konica Minolta CR-410 ... 23
Figura 5-Corpo de prova de Jurema-preta para ensaio de apodrecimento com dimensões
2,5x2,5x1,0 cm ... 24
Figura 6-Preparo do ensaio de deterioração em Câmara de fluxo laminar ... 25
Figura 7-Solubilidade em hidróxido de sódio a 1% ... 26
Figura 8-Teor de extrativos em água fria e água quente da Jurema-preta a cinco diferentes
alturas (0%, 25%, 50%, 75% e 100%) ... 28
Figura 9-Teor de extrativos em solvente orgânico da Jurema-preta a cinco diferentes alturas
(0%, 25%, 50%, 75% e 100%) ... 29
Figura 10-Teor de extrativos totais da Jurema-preta a cinco diferentes alturas (0%, 25%, 50%,
75% e 100%)... 30
Figura 11-Massa específica da Jurema-preta a cinco diferentes alturas (0%, 25%, 50%, 75% e
100%) ... 31
Tabela 1-Classificação da resistência da madeira ao ataque de fungos ... 26 Tabela 2-Propriedades físicas da Jurema-preta a cinco diferentes alturas (0%, 25%, 50%, 75%
e 100%) ... 32
Tabela 3-Parâmetros colorimétricos da Jurema-preta a três diferentes alturas (Base, DAP e
topo) ... 34
Tabela 4-Perda de massa da Jurema-preta a três diferentes alturas (Base, DAP e topo) ... 35
Tabela 5-Solubilidade em NaOH 1% da Jurema-preta antes e após o ensaio de apodrecimento
... 37
1 INTRODUÇÃO...11
2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 13
JUREMA-PRETA ... 13
PROPRIEDADES FÍSICAS ... 14
PROPRIEDADES QUÍMICAS ... 14
PROPRIEDADES COLORIMÉTRICAS ... 15
DURABILIDADE NATURAL ... 15
FUNGOS XILÓFAGOS ... 16
3 MATERIAIS E MÉTODOS ... 18
PREPARO DAS AMOSTRAS ... 18
ANÁLISES QUÍMICAS ... 19
3.2.1 Teor de Extrativos ... 19
3.2.2 Solubilidade do hidróxido de sódio a 1% (NaOH)... 20
PROPRIEDADES FÍSICAS ... 21
3.3.1 Massa Específica ... 21
3.3.2 Índices de Contração e Fator Anisotrópico ... 21
PROPRIEDADES COLORIMÉTRICAS ... 22
RESISTÊNCIA NATURAL À PODRIDÃO BRANCA ... 23
3.5.1 Isolamento do fungo ... 23
3.5.2 Preparação das amostras de madeira ... 24
3.5.3 Ensaio acelerado ao ataque de fungos ... 24
3.5.4 Avaliação da deterioração ... 25
ANÁLISE ESTATÍSTICA ... 27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 28
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA ... 28
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA ... 31
CARACTERIZAÇÃO COLORIMÉTRICA ... 33
4.4 RESISTÊNCIA AO ATAQUE DE FUNGO ... 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38
REFERÊNCIAS ... 39
1 INTRODUÇÃO
A madeira possui uma infinidade de funções, servindo desde sua forma bruta até como matéria prima para inúmeros produtos além de apresentar diversas aplicações dentro da indústria. Por exemplo, a madeira pode ser utilizada para produção de carvão vegetal, que gera energia para funcionamento de máquinas, sendo que seus resíduos também podem ser utilizados na fabricação de briquetes, produto que desempenham uma mesma função energética. Além disso, a madeira é fundamental na fabricação de móveis, celulose, papel e produtos diversos. Apesar de proporcionar bastantes funcionalidades, necessita-se de mais estudos que visem demonstrar a melhor aplicação das espécies de madeira dentre os diversos mercados, principalmente no que diz respeito a espécies nativas da Caatinga.
O Brasil possui diversos biomas com características bastante peculiares. O bioma Caatinga é um destes, compreendendo uma vegetação diferenciada das demais por conter características que permitem maior resistência às condições semiáridas. Contudo, ainda que este seja rico em espécies e bastante diversificado, existe a necessidade de estudos mais profundos que visem identificar sua aplicabilidade e seu potencial madeireiro. Tais estudos permitiriam conhecer propriedades químicas, físicas e mecânicas de cada espécie e dariam uma destinação adequada, uma vez que, de acordo com Almeida (2010), em sua maioria são utilizadas apenas como fonte de energia. Isto pode provocar um desperdício do potencial de certos indivíduos que poderiam ser aplicados em produtos de maior valor agregado, como por exemplo no setor moveleiro.
Um fator determinante dentre as várias características da madeira é a sua durabilidade natural, podendo ser definida como a capacidade de suportar ao ataque de biodeterioradores (GOMES; FERREIRA, 2002). Com isso, é possível classificar a finalidade do material trabalhado e para qual uso ela deve ser destinada, tendo em vista que existe indivíduos mais propensos a agentes deterioradores do que outros. Isso pode estar associada a diversos motivos como por condições climáticas, aspectos relacionados a própria espécie, teor de cerne e alburno, dentre outros.
Caso seja susceptível, especialmente quando em contato com o solo por longo
período, em condições favoráveis, o indivíduo apresenta elevadas perdas de massa. Segundo
Blanchette (2000), a podridão branca é um destes responsáveis, sendo um agente biótico, mais
precisamente um fungo, que proporciona a perca das propriedades da madeira por meio das
suas atividades enzimáticas atuando na deterioração dos seus componentes primários
(celulose, hemiceluloses e lignina).
Ao se conhecer as características de cada espécie, é possível indicar uma melhor
destinação dentro da indústria, identificando assim a qualidade desta e como se comporta em
determinadas circunstâncias. Para tanto, este trabalho visou avaliar as propriedades químicas,
físicas e colorimétricas da Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret) em diferentes
alturas (Base, Diâmetro a altura do peito e Topo), bem como sua resistência natural ao ataque
de podridão branca por meio do fungo Ganoderma sp.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Cada indivíduo florestal possui propriedades físicas, químicas e mecânicas próprias.
Por meio destas e diversos outros aspectos, é possível diferenciar a madeira de cada espécie das demais. Araújo (2007) relatou a influência de propriedades físicas e mecânicas da madeira para a indústria, tendo em vista que através dos conhecimentos delas, em conjunto com outras informações (resistência a degradação biótica e abiótica, por exemplo), é possível indicar uma melhor destinação e classificá-las quanto ao uso. Outro fator muito importante é o teor de extrativos na madeira e como isso vem a interferir nas suas características, refletindo na resistência ao apodrecimento e ao ataque de insetos (PAES et al., 2016)
JUREMA-PRETA
A Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir., popularmente chamada de Jurema-preta, é uma espécie nativa da região semiárida, facilmente encontrada em áreas degradadas (AZEVÊDO et al., 2012). Esta leguminosa caracteriza-se por possuir presença de espinhos e abscisão foliar como estratégia as condições climáticas impostas pelo bioma no qual está inserido (PEREIRA FILHO et al., 2005).
A Jurema-preta apresenta inúmeras aplicabilidades, destacando-se pelo seu potencial calorífico, podendo ser empregada na produção de carvão (MEDEIROS, 2018). Os frutos são utilizados na alimentação animal, a casca usada para produção de taninos, além da madeira que se destaca pela elevada resistência mecânica e boa durabilidade natural, usadas na produção de estacas (BAKKE, 2005). Podendo ainda ser aplicada na construção civil como moirões, vigas, caibros, ripas, painéis, entre outros, substituindo assim outras espécies comumente usadas neste setor (FERREIRA, 2018).
Segundo Silva et al. (2011), a Jurema-preta possui casca grossa e rugosa, apresenta coloração escura, o que da origem ao seu nome popular. Dispõe de cerne e alburno bem distintos, com coloração de alburno variando de amarelo a vermelho e cerne escuro, bastante avermelhado. Além disto, os autores caracterizaram a espécie anatomicamente e relataram:
vasos possuindo arranjo difuso de forma solitária ou múltipla de dois ou casualmente de três
ou mais de três, com placas de perfuração simples e pontoações intervasculares multisseriadas
alternas guarnecidas; fibras libriforme, apresentando paredes espessas e ainda fibras
gelatinosas; seus raios exibem estratificação irregular; e contendo ainda parênquima axial em
seu lenho com presença de células com cristais prismáticos de forma subdividida.
PROPRIEDADES FÍSICAS
O conhecimento das propriedades físicas é essencial para que se possa identificar uma melhor destinação, bem como o uso adequado da madeira. De acordo com Calil Junior, Lahr e Dias (2003), a densidade é um importante parâmetro de definição para melhor aplicabilidade da madeira. A densidade básica, definida por meio da massa seca sobre o volume saturado, é imprescindível na caracterização da madeira. Tanto no que diz respeito a sua determinação, quanto a variação dentro da árvore nos seus diferentes sentidos (OLIVEIRA, HELLMEISTER, TOMAZELLO FILHO, 2005).
Outro parâmetro necessário para definição qualidade da madeira é a sua variação dimensional que se dá por meio da absorção e perda de água, ocorrendo abaixo do ponto de saturação das fibras (VALE, DIAS, SANTANA, 2010). A variação pode ser atribuída ao fato de características internas do indivíduo, ou seja, a química e a anatomia da madeira (FERREIRA, 2018).
Esta variação dimensional, permite ainda a caracterização de um atributo muito importante da madeira, a retratibilidade, expressando diretamente o comportamento das peças, tendo em vista que são susceptíveis a empenamentos e rachaduras (RODRIGUES et al., 2008). Além disto, a anisotropia torna-se outro caráter bastante determinante quanto ao comportamento das peças, já que madeiras tendem a variar em suas diferentes dimensões. O fator anisotrópico é expressado através da razão entre a contração tangencial e radial, e reflete assim no fendilhamento e empenamento da peça de acordo com a relação estabelecida entre seus eixos (OLIVEIRA; SILVA, 2003).
PROPRIEDADES QUÍMICAS
A madeira é tida como um biopolímero tridimensional composto por celulose, hemiceluloses, lignina e ainda, em menor quantidade, extrativos e cinzas. Apesar destes serem encontrados em menor quantidade na madeira, os extrativos podem influenciar em diversas características, como sua cor, durabilidade, além de influir negativamente na sua aplicação dentro dos processos industriais (SANTOS, 2008).
No geral, a madeira é um material heterogêneo, poroso e com características distintas
nos seus diferentes eixos. Porém, quanto a sua diferenciação química independente da
espécie, é pouco notável, no que diz respeito a sua constituição elementar (carbono,
hidrogênio, oxigênio e nitrogênio). Já nos constituintes da parede celular, a lignina e
hemiceluloses diferem em quantidade nas espécies, enquanto que a celulose se apresenta de
forma regular. Já os extrativos são encontrados de formas diversas. Em análises químicas da madeira, a principal dificuldade encontrada não é a quantidade de elementos presentes, mas sim a associação dos constituintes na parede celular que se apresentam intimamente ligados (KLOCK et al., 2005).
PROPRIEDADES COLORIMÉTRICAS
A composição química presente nas substâncias do xilema é o que define a cor da madeira. Esta cor, pode apresentar variações com o decorrer do tempo, devido a oxidação causada pela presença de luz interagindo com componentes da madeira como a lignina (HON, 2001). Na presença de intempéries, a madeira pode apresentar modificação da cor, além de comprometer outras propriedades. Através de equipamentos especializados, é possível sua melhor caracterização por meio da descrição da composição desta (TELES, COSTA, 2014).
As propriedades colorimétricas são um importante fator no mercado moveleiro, principalmente no que diz respeito às madeiras tropicais. Tendo em vista a importância dessa propriedade, faz-se o uso do sistema CIE-L*a*b*, em que: L representa a claridade variando de 0 (preto absoluto) a 100 (branco absoluto); a* indica o quão vermelho é o material, caso seja positivo remete ao vermelho, sendo negativo remete ao verde; b* diz respeito a matriz amarela, positivo indica amarelo, negativo indica azul; a saturação (C) demonstra a pureza da cor; e o ângulo de tinta (H) indica a dominância de alguma tonalidade (ZANUNCIO, FARIAS, SILVEIRA, 2014).
DURABILIDADE NATURAL
A madeira é um importante produto dentro dos vários setores da construção civil. Pode ainda ser utilizada na produção de móveis, dormentes de estradas de ferro (GOMES, SILVA, MELO, 2005). Porém, existem alguns fatores que limitam sua aplicação, como a durabilidade natural, sendo fundamental estudos que visem conhecer sua resistência quando submetida a agentes deterioradores, para assim utilizá-la corretamente (SILVA, LOPEZ, OLIVEIRA, 2004).
Um dos maiores desafios encontrados pelos pesquisadores tem sido conseguir resolver
problemas referentes a durabilidade natural e a instabilidade dimensional da madeira
(POUBEL et al., 2013). Em decorrência da falta de estudos científicos, o mercado acaba se
restringindo a determinadas espécies, o que contribui para escassez e as colocando em risco
de extinção (CARDOSO et al., 2012).
Por ser um material orgânico, a madeira é naturalmente susceptível a agentes bióticos e abióticos. No entanto, é importante levar em consideração circunstâncias que favorecem sua vulnerabilidade ao ataque dos organismos xilófagos. Uma destas variáveis é o ambiente no qual a madeira em uso está inserida, já que interfere diretamente em diversos outros termos como umidade, temperatura e pH (ARCHER; LEBOW, 2006).
Segundo Trevisan, Tieppo e Carvalho (2008), é necessário estudar processos que envolvam a deterioração natural de cada indivíduo levando em consideração o ambiente e buscando identificar o potencial de cada um. Desta forma se contribui para o maior aproveitamento da peça e se evita desperdícios desnecessários. Assim, para melhor definição da durabilidade natural das espécies, dois ensaios podem ser efetuados, são estes desenvolvidos em campo ou em laboratório (STANGERLIN, 2012).
FUNGOS XILÓFAGOS
Os fungos xilófagos são responsáveis pela deterioração da madeira e desempenham um importante papel na natureza através da decomposição de seus constituintes, contribuindo assim na entrada e na troca de energia no ecossistema por meio da ciclagem de nutrientes (ALEXOUPOULOS, MINIS, BLACKWELL, 1996). Porém esta característica não é desejável comercialmente devido o comprometimento da qualidade das peças. Visa-se, portanto, indivíduos resistentes a agentes deterioradores, evitando assim a necessidade do uso de tratamentos preservativos (SILVA, LOPEZ, OLIVEIRA, 2004).
Dentre os fungos que degradam a madeira, estão os apodrecedores, especialmente os basidiomicetos, responsáveis pelas podridões parda e branca, possuindo características peculiares quanto a forma de deterioração. O primeiro é evidenciado através de uma cor pardacenta nas peças, ocasionado pela decomposição dos polissacarídeos da parede celular. Já madeiras atacadas por podridão branca apresentam uma coloração mais clara, o que ocorre porque, além de degradar polissacarídeos, também há degradação simultânea da lignina (OLIVEIRA et al., 2005).
Fungos causadores de podridão-branca têm ganhado interesse na área de microbiologia industrial e ambiental por serem capazes de degradar vários poluentes xenobióticos e recalcitrantes através das atividades enzimáticas (COELHO et al., 2010) atuando na recuperação de ambientes contaminados por meio da degradação de corantes e compostos de processos têxteis (KAMIDA et al., 2005).
Entre os responsáveis pela podridão branca, pode-se destacar o gênero Ganoderma sp.
possuindo espécies presentes tanto em ambientes tropicais como temperados. Este gênero dispõe de grande importância econômica e ambiental pela sua atuação na ciclagem de nutrientes (FERNANDES, 2014), suas propriedades medicinais por meio da contribuição na produção de fármacos (GILBERTSON, 1980), além disso, pesquisas vem fazendo o uso de fungos do tipo basidiomicetos no estudo da descoloração e degradação de corantes têxteis (SANTOS, 2016). Este gênero pode também ser responsável pela degradação da madeira através da podridão do cerne ou infectando regiões elevadas do tronco.
Essa podridão ocorre através da entrada do fungo por aberturas naturais ou injúrias no
indivíduo, tendo como estratégia seu desenvolvimento no cerne, já que este possui células
mortas e, portanto, uma fase gasosa mais extensa quando comparada ao alburno, o que leva a
ser um critério para ser atacado (SILVA, 2017). As espécies do gênero Ganoderma sp. podem
se apresentar de forma saprófito degradando a madeira ou ainda fitopatogênica, degradando o
indivíduo vivo. Além disto, possuem uma ampla gama de hospedeiros, o que permite uma
ampla adaptação a condições climáticas (SILVA, 2014).
3 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no prédio dos Laboratórios de Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró/RN. As análises foram realizadas no Laboratório de Tecnologia da Madeira e no Laboratório de Patologia Florestal.
PREPARO DAS AMOSTRAS
Três indivíduos de Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret) foram coletados na Fazenda Baixa da Oiticica localizada a 15 km da cidade de Upanema/RN (coordenadas:
latitude de 05º 30’ 20,8’’ e longitude de 037º 20’ 37,0’’). Os troncos foram seccionados em discos de 5 cm de espessura nas alturas de 0% (base), 25%, 50%, 75% e 100% (topo) referente à altura comercial, constituindo assim, cinco tratamentos.
A madeira residual da produção das amostras foi aproveitada para análise das propriedades químicas. A madeira foi moída em um moinho de facas tipo Wiley (Figura 1), para cada altura separadamente. O pó da madeira foi peneirado e utilizou-se o passante em peneira de abertura de 40 mesh e retido na peneira de 100 mesh, de acordo com a recomendação da norma TAPPI 257 (2012).
Figura 1 - Preparo das amostras de Jurema-preta a diferentes alturas (0%, 25%, 50%, 75% e 100%) em moinho de facas.
Fonte: A autora (2020).
ANÁLISES QUÍMICAS 3.2.1 Teor de Extrativos
Foram realizados extração em água fria e em água quente (TAPPI 207, 2008) e extração em acetona, como solvente orgânico (TAPPI 204, 2007). Para determinação dos teores de extrativos, foram realizadas três repetições para cada tratamento.
Na extração em água quente, as amostras foram pesadas em balança analítica obtendo- se 10g cada. Em seguida, adicionou-se água destilada e levou-se estas a banho-maria por 3h.
Logo após, realizou-se a filtragem das amostras e levou-se a estufa a uma temperatura de 105ºC por 24 h.
Para extração em água fria, 10g das amostras foram pesadas em balança analítica e agitadas constantemente por 48h. Logo após, foram para filtragem, sendo posteriormente levadas a estufa a 105ºC por 24 h.
Para calcular a solubilidade em água quente e água fria utilizou-se a seguinte equação:
Solubilidade em água (%) = (
(𝐴−𝐵)𝐴