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Transferência e Contratransferência: Manejo clínico Transferência

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Academic year: 2021

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Transferência e Contratransferência: Manejo clínico

Transferência

A transferência é um fenômeno que tem uma dinâmica no interior do tratamento psicanalítico e sua compreensão e manejo são essências para a condução desse tratamento. No artigo sobre a técnica que Freud escreveu em 1912 – A Dinâmica da Transferência – ele realiza um exame teórico desse fenômeno e da maneira pela qual ele opera no tratamento psicanalítico. Freud alerta que o fenômeno transferencial aparece em diversas situações humanas, não apenas no interior de um processo analítico. Mas interessa ao psicanalista quando conduzindo o tratamento, saber o lugar que ocupa o processo transferencial, ou seja, a serviço do que ele aparece no decorrer de uma análise.

Segundo Freud cada indivíduo criou um método próprio de conduzir-se na vida de relações, inclusive na vida amorosa, que é constantemente repetido e reimpresso na vida da pessoa. Apenas uma parte dos impulsos libidinais passa por todo processo de desenvolvimento psíquico e é dirigido à realidade e permite fazer uso dele. Outra parte dos recursos libidinais é retida no decorrer do desenvolvimento, e desconhecida. Esta catexia libidinal (investimento inconsciente de energia) recorre aos modelos de relações arcaicos, presentes no indivíduo. Assim, essa catexia incluirá o analista numa das séries psíquicas que o paciente já formou. Desse modo, a necessidade de descarga dos impulsos eróticos que não está consciente não é satisfeita pela realidade, ou seja, fica parcialmente insatisfeita. Esse investimento de energia (a catexia libidinal insatisfeita) dirige-se para a figura do analista e é estabelecido por ideias antecipadas conscientes e também pelas inconscientes, estabelecendo-se assim a transferência.

Segundo Freud, a resistência acompanha o tratamento passo a passo, sendo que, em cada associação e em cada ato da pessoa no tratamento, deve-se levar em conta o aspecto da resistência, representando uma tentativa de conciliação entre forças que estão lutando no sentido do reestabelecimento e as que se lhe opõem. Freud nota em sua clínica que nos momentos onde o acesso ao material patogênico se aproximava, e quando algo do material recalcado servia para se aferrar à figura do médico, entrava em

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cena a transferência, contribuindo com os propósitos da resistência. Nos ensina Freud:

“Reiteradamente, quando nos aproximamos de um complexo patogênico, a parte deste complexo capaz de transferência é empurrada em primeiro lugar para a consciência e defendida com a maior obstinação” (FREUD, 1912/1988, p. 138). Conclui-se que a transferência no tratamento analítico é a arma mais forte da resistência, sendo que a maior intensidade e persistência da transferência constituem o efeito e expressão da resistência.

Mas você deve estar se questionando: será que os processos transferenciais servem unicamente como meio de resistência? Supor que o analista está no lugar do pai protetor, recebendo do paciente uma carga libidinal amistosa, que abriria caminho para as confissões do material recalcado, não facilitaria as coisas no processo analítico? Em alguns casos a relação de dependência afetuosa e dedicada poderia ajudar a pessoa a superar suas dificuldades, facilitando-lhe as confissões. Na frente do analista, que ocuparia um lugar importante, a transferência facilitaria o processo... E agora? Como resolver essa aparente contradição? Por um lado, a transferência a serviço da resistência e por outro a transferência abrindo a via para o acesso ao material recalcado, superando as resistências... Freud diz, então, que a transferência também é um poderoso aliado do processo analítico, pois com a transferência, vêm à tona todas as angústias, fantasias, desejos arcaicos ligados aos modelos infantis de relação.

Freud finaliza brilhantemente seus estudos sobre a dinâmica da transferência neste texto fundamental e fundante em relação a este conceito psicanalítico, realçando que se por um lado o psicanalista deve “controlar” (manejar) este fenômeno, por outro é através do que surge em termos transferenciais que o psicanalista pode acessar aos conteúdos eróticos recalcados, ocultos e esquecidos do paciente, permitindo o avanço do processo analítico. Indicamos ao leitor a consulta a mais dois textos sobre a técnica que abordam o tema da transferência. São eles: "Recordar, repetir e elaborar " (FREUD, 1914) e

"Observações sobre o amor transferencial" (FREUD,1915). Nestes textos Freud afirma que no decorrer do processo a neurose primitiva do paciente se transforma em neurose de transferência, e a análise e manejo da transferência na análise será uma ferramenta essencial para a direção e conclusão do processo analítico. Além disso Freud enfatiza a importância da neutralidade, da abstinência e do controle da contratransferência (adiante abordada). Assim, a partir da compreensão sobre a dinâmica da transferência, e em

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especial sua relação com as resistências, podemos construir a importância deste fenômeno na clínica psicanalítica, bem como pensarmos as estratégias técnicas que permitem seu manejo contribuindo com os propósitos da psicanálise.

Contratransferência

S. Freud introduziu o termo “contratransferência” em um artigo de 1910 chamado “As Perspectivas Futuras da Terapia Psicanalítica”. Ele a definiu como a resposta emocional do psicanalista aos estímulos que provêm do analisando, como influência deste sobre os sentimentos inconscientes do médico.

Mas foi alguns anos depois, em 1915, que Freud discutiu o que se passa com o analista, a propósito da temática da transferência amorosa da paciente. É em torno da questão ética – especificamente da questão de como lidar com essa espinhosa situação – que Freud aborda os sentimentos do analista. O analista precisa fundamentalmente trabalhar com a transferência erótica da paciente, sendo capaz de não responder aos apelos desejosos por seu amor, compreendendo de onde vêm suas fantasias, como elas são formadas e sua razão de ser.

A contratransferência, portanto, para S. Freud, precisa ser detectada pelo analista, caso exista. Ela é algo que obstrui o processo psicanalítico. Quando o analista sente algo pelo paciente, como o desejo, por exemplo, um sinal vermelho se acende! O analista deve ser capaz de detectar seus sentimentos e respostas emocionais para, em seguida, afastar esses obstáculos da relação analítica. Somente assim, o processo psicanalítico pode voltar a transcorrer bem. O analista deve elaborar seu desejo pela paciente em sua própria análise pessoal, jamais responder aos apelos da paciente, e prosseguir com o trabalho analítico com ela.

Ao longo da história da Psicanálise, depois de S. Freud, surgiu uma outra ideia acerca da contratransferência, no final dos anos 1940 e início de 1950. Essa outra ideia surgiu de maneira muito semelhante em duas partes do mundo muito distantes (lembre-se de que nessa época ainda não havia internet): em Londres (Inglaterra), por uma analista

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chamada Paula Heimann; e em Buenos Aires (Argentina), por um analista chamado Henrich Racker. Como resultado de sua experiência clínica, esses dois analistas chegaram à conclusão de que a contratransferência – aquilo que se passa no mundo interno do analista – não é invariavelmente um obstáculo ao processo psicanalítico como S. Freud supunha, mas pode ser um instrumento a auxiliar o analista na compreensão do que se passa com o paciente!

Paula Heimann, em seu seminal artigo “Contratransferência” (1950), afirma que ela, não é só parte da relação analítica, mas é uma criação do paciente. Afirma também que, nessa relação, não há o que temer, há o que analisar. O analista pode sentir um leque de sentimentos e sensações na hora analítica e isso, aliado àquilo que o paciente fala durante a sessão, informa sobre sua psicodinâmica. O analista experimenta “na carne”

um pouco da vida do paciente e deve ser capaz de pensar sobre essa experiência, usá-la em benefício do processo psicanalítico do seu paciente.

Rejeição, piedade, amor, raiva, desejo e assim por diante, são elementos do mundo interno do paciente. Sentir e analisar fazem parte do trabalho do analista. Jamais colocar os sentimentos em ato, mas pensar sobre eles, sobre o modo como eles funcionam no psiquismo do paciente, pois eles não foram acionados no psiquismo do analista à toa.

Afinal, como S. Freud mesmo disse, a contratransferência é a resposta emocional do analista aos estímulos que provêm do próprio paciente.

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Referências

FREUD, S (1910). As Perspectivas Futuras da Terapia Psicanalítica. Rio de Janeiro:

Imago, 1974. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v.XI)

FREUD, S. (1912) A dinâmica da transferência. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.VII)

FREUD, S. (1914) Recordar, repetir e elaborar (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II). Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.VII)

FREUD, S. (1915) Observações sobre o amor transferencial (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise III). Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.VII)

HEIMANN, P. (1950) Contratransferência. IN: Klein, M.; Heimann, P.; Money-Kirley, R.E. (orgs). Novas Tendências na Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar. 1969.

Assinale a alternativa correta:

Há uma luta a ser enfrentada, entre o médico e as forças resistenciais, sendo que muitas vezes, em especial nos momentos onde o recalcado está prestes a ser revelado. Nestas horas os processos de transferência dão lugar à transferência erótica. Incorreto. Não é possível dizer qual transferência irá surgir, pois isso depende da história do sujeito.

As transferências positivas estão sempre a favor do processo analítico, enquanto que as transferências negativas sempre se opõem à análise. Incorreto! Transferências positivas

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não se referem à qualidade de estarem a favor do processo analítico tampouco negativo, contra.

A transferência se presentifica, seja sob a forma de hostilidade dirigida à figura do médico (transferência negativa) ou sob a forma de sentimentos amorosos de cunho erótico (um dos tipos de transferência positiva). Correto. São essas as modalidades transferenciais.

Segundo Freud, quando nos aproximamos de um complexo patogênico, a parte deste complexo capaz de transferência sofre prejuízo e submerge desaparecendo do processo psicanalítico. Incorreto. Freud considera que essa parte é empurrada em primeiro lugar para a consciência e defendida com a maior obstinação.

Assinale a alternativa correta sobre o fenômeno da transferência:

Transferência positiva pode ser o sentimento de paixão pelo psicólogo. Correto. Essa é uma das formas da transferência positiva.

Transferência negativa é a transferência que assume a forma de resistência ao processo de cura. Incorreto. Transferência negativa é a de sentimentos hostis dirigidos ao objeto.

A transferência sempre irá obstruir o processo psicanalítico e estará fundamentalmente a serviço da resistência. Incorreto. Freud considera que a transferência também é um poderoso aliado do processo psicanalítico.

A transferência positiva de sentimentos ternos é, em geral, uma forma tenaz de resistência. Incorreto. Essa forma de transferência é, em geral, uma forma de transferência em que o analisando está produtivo no processo analítico.

A contratransferência:

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Segundo Freud, é a resposta emocional do analista aos estímulos que provêm do paciente. Correto! Essa é a definição dada por Freud em 1910.

Sempre foi considerada um poderoso instrumento para compreensão do que ocorre com o paciente, pelos psicanalistas. Incorreto. Somente a partir da década de 50, algumas vertentes da Psicanálise consideram assim a contratransferência.

A contratransferência jamais foi considerada um instrumento para compreensão do que ocorre com o paciente por analistas como Paula Heimann e H. Racker. Incorreto. Foram justamente esses os analistas que inauguraram essa visão na Psicanálise.

Melanie Klein e Freud manejavam a contratransferência de modo a obterem, por meio dela, uma compreensão profunda de seus pacientes. Incorreto. Ambos os analistas consideravam a contratransferência como um obstáculo ao processo, a ser detectado e controlado pelo analista.

Referências

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