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ALTERAÇÕES NO ARTIGO 467 DA CLT DECORRENTES DA LEI N. 10.272

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D E C O R R E N T E S D A LEI N. 10.272

S É R G I O P I N T O M A R T I N S 1'»

I. I N T R O D U Ç Ã O

Determinava a redação originai do artigo 4 6 7 da C L T q u e “e m caso de rescisão d o contrato d e trabalho, motivada pelo e m p r e g a d o r o u pelo empregado, e h avendo controvérsia sobre parte d a importância dos salá­

rios, o primeiro é obrigado a pagar a este, à data do seu comparecimento a o tribunal de trabalho, a parte incontroversa dos m e s m o s salários, s ob p e n a d e ser, quanto a essa parte, c o n d e n a d o a pagá-la e m dobro".

A Lei n. 10.272, de 5 d e setembro d e 2001, d e u nova redação ao artigo 4 6 7 d a CLT: " E m caso d e rescisão d e contrato d e trabalho, h avendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o e m p r e g a d o r é obri­

g a d o a pagar a o trabalhador, à data do comparecimento à Justiça d o Tra­

balho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pe n a d e pagá-las acresci­

das d e cinqüenta por cento".

A no v a disposição d e m a n d a interpretação dos seus novos contornos e adaptação à jurisprudência até então existente.

II. O B J E T I V O

O objetivo d a redação origina! do artigo 4 6 7 da C L T foi d e evitar pro­

cedimentos protelatórios por parte do empregador, d e m o d o a reter o saldo d e salário do e m p r e g a d o e só o pagar a o final d o processo. Assim, houve por b e m o legislador ordinário determinar q u e se os salários são incontro­

versos d e v e m ser pagos n a primeira audiência, sob p e n a de p a g a m e n t o e m dobro.

A nova redação d o artigo 4 6 7 da CLT, determinada pela Lei n. 10.272/

01, t a m b é m teve o m e s m o objetivo, m a s agora diz respeito a verbas resci­

(•) Juiz Titular d a 33* Vara d o Trabalho d e S ã o Paulo e Professor Titular d e Direito d o Trabalho d a Fac u l d a d e d e Direito d a USP.

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D O U T R I N A N A C I O N A L 103

sórias e n ã o a saldo de salário, além d o q u e n ã o h á mais p a g a m e n t o e m dobro, m a s acréscimo d e 5 0 % , O acréscimo de 5 0 % às verbas rescisórias p o d e ter representatividade muito maior do q u e o p a g a m e n t o d e salários incontroversos e m dobro, d e p e n d e n d o d a hipótese, principalmente q u a n d o as verbas rescisórias são várias. H o u v e u m redução da penalidade, m a s a b a s e d e cáiculo passou a ser mais ampla.

III. R E Q U I S I T O S

Alguns requisitos d e v e m ser observados para a aplicação d o artigo 4 6 7 d a CLT. Primeiro, é mister a existência d e rescisão d o contrato de tra­

balho. Inexistindo a rescisão d o contrato d e trabalho, porque o obreiro ain­

d a continua trabalhando n a empresa, n ã o deve ser utilizado o preceito e m comentário. Assim, a observância do artigo 4 6 7 d a C L T s ó p o d e ser anali­

s a d a se houver rescisão d o contrato d e trabalho, pois se este m a n t é m - s e integro n ã o h á q u e se falar e m p a g a m e n t o acrescido d e 5 0 % das verbas rescisórias incontroversas. É a hipótese d e o e m p r e g a d o continuar a traba­

lhar na e m p r e s a e postular o p a g a m e n t o de horas extras o u outras verbas, inclusive salários, ocasião e m q u e é indevido o acréscimo d e 5 0 % , por inexistir rescisão d o contrato d e trabalho.

E m s e g u n d o lugar, tanto faz q u e a rescisão seja motivada pelo e m ­ pregador c o m o pelo empregado, p o d e n d o envolver tanto pedido d e d e m i s ­ são, dispensa c o m ou s e m justa causa e até rescisão indireta. A lei não mais men c i o n a q u e a rescisão é motivada pelo e m p r e g a d o r ou peio e m p r e ­ gado, pois faz referência ape n a s a rescisão d o contrato de trabalho. Logo, p o d e ser e m qualquer hipótese de rescisão d o pacto laboral. O mais impor­

tante, porém, é q u e n ã o haja controvérsia a respeito d a importância das verbas rescisórias, pois s e houver controvérsia, o acréscimo de 5 0 % não p o d e ser aplicado. E o q u e ocorre q u a n d o h á necessidade de se apurar os salários por perícia, pois a controvérsia fica patente, ou e m certos casos de se depender de apurar a verba e m liquidação d e sentença, pois não se sa b e quanto eia representa.

S e h á discussão e m torno d o vínculo empregatício não s e p o d e falar e m verbas rescisórias acrescidas de 5 0 % , justamente porque as verbas s ã o controvertidas. N a jurisprudência encontramos acórdão no seguinte sentido:

"Salário incontroverso — Inocorrência — S e n d o objeto de pro­

vimento jurisdicional o saldo d e salário da autora, que restou delimi­

tado ap ó s apreciação da prova dos autos, não h á q u e se falar de aplicação do disposto n o artigo 4 6 7 da C L T ( T R T 2- R., 7 a T , R O 02930414647, Ac. 02950311339, Rei. Gualdo A m a u r y Formica, D O E 17.8.95, pág. 48}."

Entretanto, o deferimento d o acréscimo d e 5 0 % é devido q u a n d o a

e m p r e s a a p e n a s afirma q u e p a g o u as verbas rescisórias, p o r é m n ã o faz

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n e n h u m a prova nesse sentido nos autos, juntando o termo de rescisão do contrato de trabalho assinado pelo empregado. N o m e s m o sentido a orien­

tação d a jurisprudência:

"Dobra salarial. Art. 4 6 7 da CLT. Interpretação. S e não h á c o n ­ testação específica do p a g a m e n t o d o saldo de salários, n e m prova do seu pagamento, os valores são incontroversos. Devida a diferença para a dobra. ( T R T 2a R., 3°T., R O 20000496094, Ac.2001593084, j. 18.9.01.

Rei. Juiz Sérgio Pinto Martins).

Saldo d e salário e m dobro. Simples alegação de q u e o saldo de salário foi pa g o n ã o gera controvérsia, d e sorte a elidir o p a g a m e n t o e m dobro ( T R T 2 a R., 4 a T„ R O 02930411389, Ac. 02950223375, Rei.

Juiz Jo s é R i b a m a r da Costa, D O S P 23.6.95, pág. 33).”

H a v e n d o dúvida a respeito d e reajustes salariais q u e v ã o ser c o n c e ­ didos a o empregado, seja de n o r m a coletiva ou de lei, n ã o há acréscimo de 5 0 % . E m c a s o semelhante a jurisprudência já julgou no m e s m o sentido:

“S o m e n t e é devida a dobra salarial prevista n o art. 4 6 7 d a CLT, q u a n d o se trata d e salários atrasados devidos a o empregado, d e for­

m a incontroversa. A questão e m torno d a aplicação d e índices de reajuste d e 2 6 , 0 6 % e m julho/87,2 6 , 0 5 % e m fevereiro/89 e de 8 4 , 3 2 % e m março/90, porque n ã o previstos e m lei, a o contrário, subtraídos pela lei nova, gera razoável controvérsia, q u e inibe a aplicação da dobra salarial ( T R T 9» R., 2 3 T., R O 8980/91, Ac. 7912/92, Rei. Juiz J o s é Montenegro Antero, D J P R 16.10.92, pág. 160).”

Poder-se-ia afirmar q u e o acréscimo d e 5 0 % só seria aplicável q u a n ­ d o houvesse controvérsia e m torno d a totalidade das verbas rescisórias devidas. Contudo, o artigo 4 6 7 d a C L T usa as expressões “parte Incontro­

versa dessas verbas” e “pagá-las (as verbas rescisórias incontroversas) acrescidas d e 5 0 % ’’. Assim, se o e m p r e g a d o alega q u e a s verbas rescisó­

rias e r a m devidas n a importância de R S 1.000,00 e o e m p r e g a d o r informa q u e m o n t a m R S 300,00, m a s m e s m o assim não p a g a esse valor, deve ser c o n d e n a d o a pagar a parte incontroversa (RS 300,00) acrescida d e 50 % , pois os restantes R S 700,00 são controvertidos.

N a justa c a u s a o u na rescisão indireta, a forma da rescisão é contro­

vertida, e m q u e seriam discutíveis aviso prévio, férias proporcionais, 13®

salário proporcional, m a s os dias trabalhados p o d e m n ã o ser. Assim, ha v e ­ rá o p a g a m e n t o c o m acréscimo d e 5 0 % d o saldo d e salário incontroverso.

IV. D I S T I N Ç Ã O

N ã o se confunde a penalidade contida n o artigo 4 6 7 d a C L T c o m a

previsão d o § 8® d o artigo 4 7 7 da CLT.

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D O U T R I N A N A C I O N A L 105

A regra do artigo 4 6 7 d a C L T consiste n u m a penalidade determinada no curso do processo pelo fato d e que o empregador n ã o p a g a as verbas rescisórias incontroversas n a primeira audiência e m q u e comparecer na Justiça d o Trabalho. Representa situação d e m o d o a forçar o empregador a pagar as verbas rescisórias incontroversas na primeira audiência trabalhista.

A previsão d o § 8 2 d o artigo 4 7 7 d a C L T p o d e ocorrer fora d a e m p r e s a e n ã o ap e n a s no processo. Diz respeito à multa pelo atraso no p a g a m e n t o d a s verbas rescisórias. A s verbas rescisórias p o d e m não ter sido p a g a s ao e m p r e g a d o porque este deu causa a o respectivo atraso. Assim, a multa do

§ 8 fi d o artigo 4 7 7 d a C L T seria indevida. Entretanto, se as verbas rescisó­

rias incontroversas não forem p a g a s n a primeira audiência q u e o e m p r e g a ­ dor com p a r e c e r na Justiça d o Trabalho, haverá u m acréscimo d e 5 0 % .

A s du a s hipóteses n ã o representam bis in iderv, m a s situações dis­

tintas, que, portanto, p o d e m ser aplicadas cumulativamente1'1.

V. V E R B A S R E S C I S Ó R I A S

O artigo 4 6 7 d a C L T passa a usar a expressão verbas rescisórias. O q u e s ã o verbas rescisórias?

O s dicionários especializados não co n t ê m tal verbete.

É claro q u e são verbas decorrentes d a rescisão d o contrato d e traba­

lho, m a s q u e tipo de verbas?

Seria possível dizer q u e s ã o todas as verbas p a g a s n o termo d e res­

cisão do contrato d e trabalho.

Penso, porém, q u e a expressão tem d e ser interpretada de forma res­

trita, n o sentido de q u e são ap e n a s as verbas decorrentes d a rescisão do contrato d e trabalho e não outras, ainda q u e p a g a s no termo d e rescisão d o contrato d e trabalho.

Serão, portanto, o saldo d e salários, o aviso prévio, as férias venci­

das e proporcionais acrescidas d e u m terço, a gratificação de Natal, a inde­

nização por t e m p o d e serviço {arts. 4 7 7 , 4 7 8 e 4 9 2 d a CLT) e a indenização adicional d o artigo 9S da Lei n. 7.238/84. N ã o são mais verbas rescisórias o F G T S e a indenização sobre os depósitos do F G T S , q u e são depositadas n a conta d o F G T S d o trabalhador.

M e s m o q u e a verba tenha natureza d e Indenização, m a s seja verba rescisória, c o m o as férias indenizadas e as indenizações acima citadas, se forem incontroversas, serão acrescidas d e 5 0 % .

O acréscimo de 5 0 % do artigo 4 6 7 d a C L T só se aplica ao saldo de salários devido na rescisão do contrato. A lei não usa mais a expressão

"salários” incontroversos, m a s verbas rescisórias incontroversas. A referi­

d a n o r m a deve ser utilizada t a m b é m e m relação às rubricas previstas no

¡1) N o m e s m o sentido Luiz Eduardo Gunther(“O n o v o artigo 4 6 7 d a CLT", S u p l e m e n t o Trabalhista LTr 163/01, págs. 781/2).

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§ 19 d o artigo 4 5 7 d a CLT, pois “integram o salário n ã o só a importância fixa estipulada, c o m o t a m b é m as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e a b o n o s p a g o s pelo empregador", justa­

m e n t e porque estas verbas são consideradas salário, p o r é m é mister que haja rescisão d o contrato de trabalho, o n ã o p a g a m e n t o de tais importân­

cias, q u e sejam incontroversas e s e j a m verbas rescisórias. Q u a n t o às diárias, só terão natureza salarial d e s d e q u e e x c e d e r e m 5 0 % d o salário d o empregado.

O preceito e m comentário não deve ser aplicado e m relação a outras rubricas, m e s m o q u e d e natureza salarial, c o m o horas extras, adicional de insalubridade o u outros adicionais, pois n ã o s ã o verbas rescisórias, m e s m o q u e p a g a s no termo de rescisão do contrato d e trabalho.

N ã o se observa o artigo 4 6 7 da C L T e m relação ao salário-família, q u e n ã o é salário, n e m exatamente verba rescisória, m a s benefício da Previdência Social.

A expressão verbas rescisórias deve, portanto, ser interpretada res­

tritivamente, pois as penalidades d e v e m ser assim observadas. Encontra­

m o s aiguns acórdãos nesse sentido:

"Dobra salarial. Art. 4 6 7 da CLT. Diferenças d e horas extras. A dobra salarial prevista n o art. 4 6 7 d a C L T é aplicável a p e n a s q u a n d o s e trata d e salários e m sentido estrito incontroversos. Por isso não incide sobre diferenças d e horas extras d e m a n d a d a s , m o r m e n t e se contestado o pedido ( T R T 9 a FL, 1a T, R O 4712/90, Rei. Juiz A r m a n d o d e S o u z a Couto, j. 12.9.91, D J P R 8.11.91, pág. 129).

Horas extras — Dobra d o art. 4 6 7 d a C L T — Inapllcabilidade. A dobra e m discussão se refere a parcelas salariais incontroversas, strictu sensu, não se estendendo a outros direitos trabalhistas, ainda q u e de natureza salarial, latu sensu. Contestado o direito das horas extras anotadas e m cartões de ponto, sob o fundamento d e q u e haviam sido pagas, está criada a controvérsia sobre essa parcela, sendo certo que o reconhecimento de diferenças s omente decorre d o e x a m e das pro­

vas produzidas ( T R T 2 a R „ 2 a T, R O 02920325994, Ac. 02940510690, Rei. Gilberto Alain Baldacci, D O S P 29.9.94, pág. 127).

A legislação trabalhista vigente n ã o contempla a possibilidade d e ser deferido o p a g a m e n t o e m dobro... Por tratar d e sanção, deve o artigo 4 6 7 da C L T ser interpretado restritivamente, aplicando-se a p e ­ nas aos salários strictu sensu ( T R T d a 6 a R., Ia T , R O 6491/92, j.

3.5.93, Rei. Juiz Ivanildo Andrade, D J P E 12.6.93, pág. 42)."

VI. A P L I C A Ç A O

P o d e o artigo 4 6 7 d a C L T ser aplicado de ofício, isto é, s e m provoca­

ção, pois é u m a n o r m a d e o r d e m pública, u m c o m a n d o dirigido a o juiz e

n ã o à parte, al é m do q u e o trabalhador necessita das verbas rescisórias

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D O U T R I N A N A C I O N A L 107

para poder fazer face às despesas q u e irá ter n o período de desemprego.

M e s m o não h a v e n d o pedido na petição inicia!, o juiz po d e deferir a aplica­

ç ã o d o artigo 4 6 7 da C L T de oficio, i mpondo a sa n ç ã o d o acréscimo de 5 0 % a q u e m não quer pagar as verbas rescisórias incontroversas ao e m ­ pregado n a primeira audiência.

Para q u e n ã o exista discussão e m torno da situação, pois pode-se entender q u e o juiz só p o d e deferir aquilo q u e foi pedido (arts. 128 e 4 6 0 do CPC), é recomendável q u e haja pedido na inicial a respeito d a aplicação do acréscimo d e 5 0 % previsto no artigo 4 6 7 d a CLT. N a jurisprudência há acordãos determinando a sua aplicação de ofício:

“D o b r a salarial — Artigo 467, d a CLT. A dobra salarial d e que trata o artigo 467, d a CLT, é deferível independentemente d e provo­

cação d o empregado-reclamante, m a s incide exclusivamente sobre salários e m sentido estrito, d e s c a b e n d o sua aplicação havendo c o n ­ trovérsia ( T R T da 9 8 FL, 1a T„ R O 4.084/87, Rei. Juiz Pedro Ribeiro Tavares, D J P R 6.7.88, pág. 38).

A c o n d e n a ç ã o e m salário retido d e forma dobrada é u m impera­

tivo legal q u e independe de postulação da parte ( T R T d a 8 a R., R O 1.329/86, Rei. Juiz José Jacy Aires, D O P A 5.2.87, pág. 07)."

O artigo 4 6 7 da C L T n ã o poderá, porém, ser observado n a execução, se n ã o constar a sua apreciação d a sentença, pois, d o contrário, tal deter­

m i n a ç ã o violaria a coisa julgada (art. 5®, X X X V I d a Constituição).

V I I . T R A B A L H A D O R

U s a o artigo 4 6 7 d a C L T a palavra trabalhador .Trabalhador é gênero, d o qual e m p r e g a d o é espécie.

O § 3 S d o artigo 15 d a Lei n. 8.036 ( F G T S ) traz u m conceito legai de trabalhador: "considera-se trabalhador toda pessoa física q u e prestar ser­

viços a empregador, a locador ou tomador de mão-de-obra, excluídos os eventuais, os a u t ô n o m o s e os servidores públicos civis e militares sujeitos a regime jurídico próprio". E s s e conceito, contudo, diz respeito a trabalha­

dor para efeito d o F G T S , pois inclui o diretor não empregado.

N ã o há dúvida q u e e m relação ao e m p r e g a d o urbano aplica-se o ar­

tigo 4 6 7 da CLT, pois ele é regido pela referida consolidação.

O e m p r e g a d o rural é u m trabalhador. A ele n ã o se aplica a CLT, salvo disposição e m contrário (art. 7 fi, b, d a CLT). O R e g u lamento das Relações Individuais e Coletivas de Trabalho Rural (Decreto n. 73.626/74) determina no artigo 4 S a aplicação do artigo 4 6 7 da C L T ao rural.

Descabida a utilização d o artigo 4 6 7 d a C L T e m relação a verbas

rescisórias Incontroversas n ã o pagas a e m p r e g a d o s domésticos. E m b o r a o

artigo 4 6 7 d a C L T use a palavra trabalhadore o doméstico seja u m traba-

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ihador, a C L T não se aplica ao doméstico (artigo 7 8, a, d a CLT}. A l é m disso, as penalidades d e v e m ser interpretadas restritivamente e n ã o por analogia ou extensivamente121. N o m e s m o sentido a jurisprudência:

“A regra do art. 4 6 7 d a C L T n ã o po d e ser aplicada a favor dos domésticos, pois há v e d a ç ã o expressa do art. 7® da CLT, alínea a, n ã o comportando, outrosslm, analogia, face a o seu caráter apenante ( T R T 2° R., 2 a T., R O 02940419390, Ac. 02960097089, Rei. Juiz Paulo Dias d a Rocha, D J S P 28.2.96, pág. 36).”

Entendo q u e o artigo 4 6 7 d a C L T é observado e m relação aos traba­

lhadores temporários, q u e são trabalhadores. N a verdade, s ã o e m p r e g a ­ d o s regidos pela Lei n. 6.019/74, m ediante u m contrato d e trabalho de t e m p o determinado.

Deveria o artigo 4 6 7 d a C L T ser aplicado e m relação aos trabalhado­

res avulsos, q u e t a m b é m são trabalhadores. O s trabalhadores avulsos têm o s m e s m o s direitos d os trabalhadores c o m vínculo empregatíclo p e r m a ­ nente (art. 7®, X X X I V d a Constituição). Entretanto, os trabalhadores avul­

sos n ã o t ê m direito exatamente a verbas rescisórias, pois n ã o há rescisão d e contrato, q u e ele não tem. O avulso n ã o tem contrato d e trabalho, m a s relação d e trabalho, q u e é o gênero, q u e engloba a relação d e emprego.

Assim, a ele n ã o se observa o artigo 4 6 7 d a CLT.

VIII. E N T E S P Ú B L I C O S

Havia afirmações de q u e contra a F a z e n d a Federal, Estadual e M u ­ nicipal n ã o poderia ser aplicado o artigo 4 6 7 d a CLT. Estes entes n ã o têm numerário de imediato para p a g a m e n t o a o empregado, al é m d o q u e os p a g a m e n t o s decorrentes d e decisão judicial d e v e m ser feitos por inter­

m é d i o d e precatório (art. 100 da Constituição), n ã o p o d e n d o ser imposta penalidade.

Por meio de me d i d a provisória foi instituído o parágrafo único ao arti­

g o 4 6 7 d a CLT, determinando q u e tal artigo n ã o s e aplica à União, aos Estados e aos Municípios. Assim, seria observado e m relação a o Distrito Federai.

E m reedições posteriores da me d i d a provisória foram incluídos o Dis­

trito Federal e as autarquias e fundações públicas d e todas as referidas pessoas. Atualmente, trata d o t e m a a Me d i d a Provisória n. 2.180.

Logo, a regra d o acréscimo d e 5 0 % n ã o p o d e ser aplicada à União, aos Estados, a o Distrito Federal, aos Municípios e a suas autarquias e fundações públicas, m a s po d e ser observado e m relação a fundações pri­

vadas, pois o dispositivo faz referência a p e n a s a fundações públicas131. 2 3

(2) Veja m e u livro “M a n u a l d o trabalho doméstico", 5 a ed., S ã o Paulo: Atlas, 2000, pág. 133.

(3) N o m e s m o sentido o m e u “C o m e n t á r i o s à C L T ’, 4 a ed., S ã o Paulo: Atlas, 2001. pág. 423.

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D O U T R I N A N A C I O N A L 109

Será, po r é m , o b s e r v a d a a orientação d o artigo 4 6 7 d a C L T e m relação às e m p r e s a s públicas q u e exploram atividade e c o n ô m i c a e às s o ­ ciedades d e e c o n o m i a mista, pois n ã o se e n q u a d r a m na exceção d o pará­

grafo único d o artigo 4 6 7 d a C L T e ainda d e v e m obedecer às regras do Direito d o Trabalho (art. 173, § 1e, II, d a Constituição).

IX. R E V E L I A

Inicialmente havia entendimento d e q u e a o revel (que é aquele que n ã o c o m p a r e c e para se defender n o processo) não poderia ser aplicada a dobra salarial, n a redação anterior d o artigo 4 6 7 d a CLT, pois aquele não teria comparecido à audiência e, na verdade, haveria dupla penalidade: a própria c o n d e n a ç ã o à revelia d o réu e mais a dobra salarial.

O En. 69 d o T S T resolveu a questão dizendo q u e "havendo rescisão contratual e s e n d o revel e confesso o emp r e g a d o r quanto à matéria d e fato, deve ser c o n d e n a d o a o p a g a m e n t o e m dobro dos salários incontroversos (CLT, art. 467)”.

O e m p r e g a d o r revel demonstrou, porém, falta de interesse e m c o m ­ parecer e m juízo, t o m a n d o incontroversas as verbas rescisórias, daí por q u e deve ser c o n d e n a d o no p a g a m e n t o d o acréscimo d e 50 % .

A norma, entretanto, não p o d e ser aplicada e m favor d o revel, q ue n ã o quis se defender e ainda é beneficiado c o m o n ã o p a g a m e n t o c o m acréscimo de 5 0 % das verbas rescisórias incontroversas. C a s o fosse essa a intenção d o legislador, deveria estar expressa a ressalva na lei. Seria u m verdadeiro contrasenso m a n d a r pagar o acréscimo de 5 0 % das verbas res­

cisórias incontroversas e m relação à e m p r e s a q u e vai a juízo e assim não proceder quanto à q u e n ã o comparece. D e s s a forma, o revel deve pagar c o m o acréscimo d e 5 0 % as verbas rescisórias incontroversas postuladas na petição inicial, n ã o p o d e n d o ser feita a interpretação literal d a norma.

X. M A S S A S F A L I D A S

À s m a s s a s faiidas o artigo 4 6 7 da C L T n ã o p o d e ser observado, pois estas n ã o t ê m numerário e m caixa para o p a g a m e n t o incontinenti de salá­

rios, o q u e d e p e n d e inclusive d e liberação determinada por ato d o juiz da falência. Assim, n ã o se p o d e ordenar q u e a m a s s a falida faça p a g a m e n t o s d e imediato, inclusive porque há a necessidade da habilitação d o s créditos perante o juízo universal d a falência.

N o m e s m o sentido o entendimento d o TST:

“D o b r a salarial — E m p r e s a e m regime de falência. Iniciado o

processo d e falência, os créditos todos são atraídos pelo Juízo fali-

mentar, ficando a m a s s a inibida de praticar qualquer ato referente à

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satisfação d e eventual credor, fora do respectivo procedimento. E m ­ bargos conhecidos e rejeitados. {TST, SDI, E R R 6.100/83, j. 24.8.89, Rei. Min. Almir Pazzianotto, D J U I 12.12.89, pág. 17.806).

M a s s a falida — Dobra salarial e multa d o art. 4 7 7 d a C L T — N ã o há c o m o a m a s s a falida honrar o p a g a m e n t o das verbas rescisó­

rias n o prazo da lei, b e m c o m o efetuar o p a g a m e n t o d o saldo salarial e m audiência, por impossibilidade jurídica, visto q u e o síndico não está autorizado a fazer p a g a m e n t o fora do juízo faiimentar. E m b a r g o s conhecidos e desprovidos {TST, SBDI-1, E R R 433.433/98.4-2â R., j.

12.4.99, Rei. Min. Candeia de Souza, D J U 1 14.5.99, pág. 43).”

XI. D I R E I T O I N T E R T E M P O R A L

A s modificações decorrentes d a Lei n. 10.272/01 são aplicáveis a partir d e 6 d e setembro de 2001, q u a n d o a referida n o r m a foi publicada no Diário Oficial d a União.

A s verbas rescisórias incontroversas devidas a partir de audiências iniciais realizadas d e 6 d e setembro d e 2001 e m diante deverão ser pagas c o m o acréscimo d e 50 % .

A s audiências iniciais q u e se realizarem até 5 de setembro d e 2001, os salários incontroversos deverão ser pagos e m dobro, m e s m o q u e a s e n ­ tença seja proferida e m período posterior, pois a Lei n. 10.272/01 n ã o po d e ter aplicação retroativa.

Xli. C O N C L U S Ã O

O m o m e n t o d o p a g a m e n t o das verbas rescisórias incontroversas é na primeira audiência e não e m outro qualquer. Assim, n ã o seria n ecessá­

rio q u e s e fizesse o p a g a m e n t o na secretaria d a Vara logo ap ó s a citação, m a s na primeira audiência, e m q u e seria oferecida a defesa, isso quer di­

zer q u e se o p a g a m e n t o for feito e m audiência diversa d a primeira, o juiz irá condenar a e m p r e s a a pagar as verbas rescisórias incontroversas c o m o acréscimo de 50 % .

Talvez melhor seria se falar q u e além das verbas rescisórias incon­

troversas t a m b é m outras verbas salariais q u e não t e n h a m natureza d e ver­

bas rescisórias fossem acrescidas de 5 0 % , caso o e m p r e g a d o r n ã o as p a ­ gasse n a primeira audiência, m e s m o n ã o h avendo rescisão d o contrato de trabalho, pois o e m p r e g a d o d e p e n d e d e tal verba para sobreviver, que, por­

tanto, t e m natureza alimentar. Todavia, isso representa ap e n a s m e r a pro­

posta de reforma legislativa.

Referências

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