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OS NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO SOCIAL Atuação do Educador Social em Vila Velha-ES: Limites e Possibilidades na Grande Terra Vermelha

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Marcelino Marques

OS NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO SOCIAL

Atuação do Educador Social em Vila Velha-ES

:

Limites e Possibilidades na Grande Terra Vermelha

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

(2)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais

MARCELINO MARQUES

OS NOVOS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO SOCIAL

Atuação do Educador Social em Vila Velha-ES

:

Limites e Possibilidades na Grande Terra Vermelha

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais – Sociologia sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley.

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M357n MARQUES, Marcelino. 1972-

Os novos paradigmas da educação social. Atuação do educador social em Vila Velha-ES: limites e possibilidades na Grande Terra

Vermelha. 2014. 228 f.

Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

Orientador: Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley

1. Educador social. 2. Educação social. 3. Pedagogia social. Educação integral. 5. Profissão. I Título

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais

MARCELINO MARQUES

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais – Sociologia sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley.

Aprovada em 21 de agosto de 2014.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________ Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley (orientador)

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP

__________________________________________________________ Lúcia Maria Machado Bógus

Pontifícia Universidade Católica PUC/SP

__________________________________________________________ Maria Stela Santos Graciani

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC/SP

__________________________________________________________ Roberto da Silva

Universidade de São Paulo USP

__________________________________________________________ Antonia de Lourdes Colbari

Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

SUPLENTES

_________________________________________________________ Marisa do Espírito Santo Borin

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC/SP

________________________________________________________ Jacyara Silva de Paiva

(5)

À

(6)

AGRADECIMENTOS

Confesso que não é fácil agradecer a todos nessa longa caminhada desde 2010. Seria injusto tentar citar os Educadores Sociais que contribuíram para os resultados desta pesquisa. Agradeço a todos.

Ao meu orientador Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley que acreditou no meu projeto e com sua experiência e dedicação à educação popular conseguiu me despertar mais ainda para a compreensão do mundo social e educaional. Meus sinceros agradecimentos.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pela Bolsa. Sem ela eu não teria como financiar meus estudos e me deslocar do Estado do Espírito Santos para São Paulo em busca do sonho de qualificação do doutorado.

Agradeço também aos colegas de trabalho do Comitê Municipal de Educação Integral de Vila Velha-ES e a todas as escolas, diretores, coordenadores e professores pelo apoio na obtenção de dados.

(7)

Ao grupo de Pesquisa de Pedagogia Social e a Jacyara Silva de Paiva que sempre tem algo a contribuir e que fez uma belíssima tese de doutorado sobre Educador Social de Rua.

Ao PEPGCS/PUC que sempre que precisei fui atendido.

À minha mãe Francisca Motta Marques que faleceu aos 84 anos durante esta pesquisa e não pode ver o filho caçula se tornar doutor. Ela estudou somente até a terceira séria do primário. Para ela, ser doutor era ser médico. Tentei explicar por várias vezes mas ela, na sua simplicidade, nunca entendeu. Saudades.

(8)

“A arte de escutar, tranqüila e atentamente, é algo que todo sociólogo deve aprender antes de se empenhar em estudos empíricos”

(9)

MARQUES, Marcelino. Os novos paradigmas da educação social – atuação do educador social em Vila Velha-ES: limites e possibilidades na Grande Terra Vermelha.

RESUMO

Esta pesquisa aponta os novos paradigmas da educação social que vem sendo construídos nos âmbitos nacional e internacional por meio da pedagogia social. A justificativa se pauta pela crescente inserção dos Educadores Sociais nas escolas. Identifico o perfil e atuação desses Educadores Sociais por meio da educação em tempo integral. Escolhi a Grande Terra Vermelha, no Município de Vila Velha-ES, por ser uma região com crescente presença de Educadores Sociais. Mostro os debates em torno da regulamentação da atividade de educação social, possibilitando o exercício da profissão. A metodologia é focada nos discursos dos sujeitos da pesquisa e não seguem as metodologias tradicionais que apresentam os resultados no final da pesquisa. Decidi apresentar os referenciais teóricos junto com os discursos dos sujeitos da pesquisa, o que possibilitou uma compreensão maior da realidade. Os referenciais teóricos são da educação social, pedagogia social e educação popular, todos com um olhar sociológico. Exponho algumas reflexões que tem sido feitas sobre o social e começo a lançar os discursos dos Educadores Sociais sobre a visão que eles têm do social. Exponho um breve panorama da educação popular na perspectiva freiriana e a educação em tempo integral no Brasil. Exponho sobre as mudanças na organização do trabalho e na educação e mostro que a atuação dos Educadores Sociais acontece num momento de globalizações e novas reconfigurações do trabalho a partir das reformas educacionais dos anos 1990. Lanço o diálogo dos Educadores Sociais para enfatizar que mesmo com as mudanças muitas práticas continuam as mesmas e a precarização das condições de trabalho persiste. Mostro as inquietações, as dificuldades de espaços que prejudicam o trabalho dos Educadores Sociais e apresento também em seus discursos a discriminação que eles sofrem dentro da escola pelos outros profissionais da educação. Por fim, os depoimentos dos Educadores Sociais confirmam as condições precárias de trabalho. Apresento algumas (in)conclusões sobre a importância dos Educadores Sociais nas escolas como um novo espaço de atuação por meio da educação social e mostro que a regulamentação da atividade de educação social pode melhorar a educação no Brasil.

(10)

MARQUES, Marcelino. New paradigms of social education – performanse of the social education in Vila Velha-ES: limits end possibilities in the big red earth.

ABSTRACT

This research points to the news paradigms of social education that has been built in the national and international spheres by means of social pedagogy. The justification if the agenda by the growing integration of Social Educator in schools. I identify the profile and the performance of social educators through the full-time education. I chose the big red earth, in municipality of Vila Velha-ES for being a region with growing presence of Social Educators. I show the debates around regulation of the activity of Social Education, enabling the practice of the profession. The methodology is focused on speeches of the subjects of research and do not follow the traditional methodologies that present the results at the end of research. I decided to present the theoretical references along with the speeches of the subjects of the research, which enabled a greater understanding of reality. The references are frameworks of social education, social pedagogy and popular education, all with a sociological gaze. Expose some thoughts that have been made about the social and start launching the discourses of social educators popular in freiriana perspective and full-time education in Brazil. Expose about changes in the organization of work and education and show that the performance of Social Educators happens at a time of globalization and new labor reconfigurations from educational reforms of the years 1990. Throw the dialogue of Social Educators to emphasize that even with the changes many practices stay the same and the precariousness of working conditions persists. Show the concerns, difficulties in spaces that undermine the work of Social Educators and also present in their speeches that they suffer discrimination within the school by other education professionals. Finally, the testimony of educators confirms the precarious working conditions. Present some (in) conclusions about the importance of Social Educators in schools as a new performance space through social education and show that regulation of social education activity can improve education in Brazil.

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SIGLAS

AA – UMEF Prof. Aylton de Almeida

ABRAPSocial – Associação Brasileira de Pedagogia Social ARB – UMEF Alger Ribeiro Bossois

CDLF – UMEF Gov. Christiano Dias Lopes Filho DR – UMEF Prof. Darcy Ribeiro

DUAS – Educador Social que trabalha em duas escolas FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IJ – UMEF Ilha da Jussara

MEC – Ministério da Educação e Cultura NDB – UMEF Nair Dias Barbosa

NEE – Necessidade Educacional Especial PCV – UMEF Paulo Cesar Vinha

PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola PEA – Programa Escola Aberta

PME – Programa Mais Educação

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar PSC – Prestador de Serviço a Comunidade

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SEMED – Secretaria Municipal de Educação

TN – UMEF Dr. Tuffy Nader

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo USP – Universidade de São Paulo

TRÊS – Educador Social que trabalha em três escolas

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GRÁFICOS E QUADROS

Quadro 1 – Escolas, localização e alunos em tempo integral...35

Quadro 2 – Situação financeira das escolas...36

Gráfico 1 – Você sabe o que é educação social?...150

Gráfico 2 – Gênero...151

Gráfico 3 – Vínculo com a escola...152

Gráfico 4 – Faixa etária...152

Gráfico 5 – Alunos atendidos em tempo integral no município...153

Gráfico6 – Alunos atendidos em tempo integral na Grande Terra Vermelha...154

Gráfico 7 – Escolaridade...155

Gráfico 8 – Áreas de estudo...157

Gráfico 9 – Áreas de atuação na escola...158

Gráfico 10 – Religião/Crença...160

Gráfico 11 – Na faculdade você estuda ou estudou educação popular?...160

Gráfico 12 – Atuação em mais de uma escola...161

Gráfico 13 – Renda familiar...162

Gráfico 14 – Programa em que atua...162

Gráfico 15 – Comunidade atendida nos finais de semana...168

(13)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...16

1 INTRODUÇÃO...19

2 LOCAL DE ATUAÇÃO DOS EDUCADORES SOCIAIS...28

2.1 A REGIÃO DA GRANDE TERRA VERMELHA...29

2.1.1 O início de Terra Vermelha...30

2.1.2 População e área...30

2.1.3 Violência...31

2.1.4 Panorama socioeconômico...31

2.1.5 Perspectivas futuras...33

2.1.6 Escolas com educação integral...35

3 EDUCAÇÃO SOCIAL...38

3.1 SOCIALIZAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL...44

3.2 REFLEXÕES SOBRE O SOCIAL...49

3.3 EDUCAÇÃO POPULAR NA PERSPECTIVA FREIRIANA...58

4 PEDAGOGIA SOCIAL...67

4.1 PANORAMA INTERNACIONAL DA PEDAGOGIA SOCIAL...72

4.2 PANORAMA NACIONAL DA PEDAGOGIA SOCIAL...87

5 TRABALHO E EDUCAÇÃO...94

5.1 A CATEGORIA TRABALHO...94

5.1.1 Mudanças na organização do trabalho...100

5.2 O TRABALHO DOS EDUCADORES SOCIAIS...103

(14)

6 REFORMAS DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO...123

6.1 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA ESCOLA...131

7 EDUCADORES SOCIAIS E EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL...138

7.1 EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL...138

7.2 EDUCAÇÂO INTEGRAL EM TERRA VERMELHA (PME)...150

7.3 RELAÇÃO ESCOLA E COMUNIDADE (PEA)...163

CONSIDERAÇÕES FINAIS...187

REFERÊNCIAS...196

ANEXO A – Projeto de Lei...208

ANEXO B – Relatório...214

(15)

APRESENTAÇÃO

Esta pesquisa apresenta a atuação de Educadores Sociais na escola por meio da educação em tempo integral na Região da Grande Terra Vermelha, no município de Vila Velha-ES. Aponta o desenvolvimento dos novos paradigmas da educação social por meio da pedagogia social e discute a regulamentação da atividade de educação social para garantir o exercício da profissão de Educador Social no Brasil.

A pesquisa está dividida em sete capítulos. No primeiro capítulo faço uma introdução ao cenário pesquisado. Mostro que a pesquisa se utilizou de uma metodologia focada nos discursos dos sujeitos da pesquisa e que não seguem as metodologias de trabalhos acadêmicos tradicionais que apresentam os referenciais teóricos e no final os resultados da pesquisa. Os resultados da pesquisa são apresentados durante todo o texto concomitante ao debate teórico. Confesso que a dificuldade foi maior, porém o resultado valeu o esforço.

No segundo capítulo faço uma caracterização geral da Região da Grande Terra Vermelha, local foco desta pesquisa. Apresento a história do bairro e depois o crescimento da região, a área ocupada, os dados econômicos e sociais, a questão da violência e as perspectivas futuras, além de mostrar as escolas que possuem educação em tempo integral que são os locais de atuação dos Educadores Sociais.

(16)

No quarto capítulo mostro as reflexões que tem sido feitas sobre a pedagogia social nos panoramas nacional e internacional. Cito experiências que vem dando certo em alguns países e situo o Brasil no cenário internacional. As diversas experiências contribuem para compreender o debate atual e sistematizar as análises sobre a pedagogia social.

No quinto capítulo entro no debate sobre trabalho e educação. Exponho uma breve visão sobre o trabalho e as mudanças na organização do trabalho. Justifico que a bibliografia sobre o tema é vastíssima e minha intenção neste capítulo é mostrar que a atuação dos Educadores Sociais acontece num momento de globalizações e novas reconfigurações do trabalho. Estou ciente que existem vários autores significativos da sociologia do trabalho e das profissões e que não foram citados. Apresento então o debate sobre a criação da profissão de Educador Social que na verdade devemos dizer que se trata de regulamentação da atividade de educação social como previsto no projeto que regulamenta essa atividade.

No sexto capítulo apresento as reformas na educação no contexto das globalizações que vem acorrendo a partir dos anos 1990. Essas reformas alteram a organização do trabalho escolar e sugerem novas formas de educar por meio da educação em tempo integral. Lanço o diálogo dos Educadores Sociais para enfatizar que, mesmo com as mudanças muitas práticas continuam as mesmas e a precariedade das condições de trabalho persiste. Os depoimentos dos Educadores Sociais confirmam as condições precárias do trabalho não só deles como também da precariedade da estrutura escolar.

(17)

Apresento também em seus discursos a discriminação que eles sofrem dentro da escola pelos outros profissionais da educação. Apresento ainda dados em forma de gráficos sobre a origem social dos Educadores Sociais, sua formação, faixa etária, áreas de atuação na escola, entre outros dados.

(18)

1 INTRODUÇÃO

Eu criei a “Liga da Justiça”. Eu passo para

meus alunos como eles são super-heróis e mostro que eles têm poderes para mudar o mundo (Educador Social).

A educação social tem surgido no debate acadêmico com bastante ênfase a partir dos anos 1990. O profissional que trabalha com educação social, o Educador Social, está cada vez mais presente em programas e projetos sociais. Eles atuam em diversos locais e com diferentes ações. Estão na saúde em programas de saúde da família e combate a epidemias; no serviço social principalmente como Educadores Sociais de rua em abordagens sociais; nas secretarias de justiça e cidadania em programas que atendem adolescentes em conflito com a lei; nas secretarias de esporte, lazer e cultura com atividades esportivas e culturais. Além de atuarem nas escolas e comunidades.

O presente estudo discute a inserção do Educador Social na escola e comunidade por meio da educação em tempo integral desenvolvida pelos Programas Mais Educação e Escola Aberta em escolas públicas de ensino fundamental da região da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha-ES.

Uma hipótese é que o papel do Educador Social é fundamental para aproximar a família da escola e promover uma educação comunitária que possa contribuir para a educação escolar, possibilitando uma melhoria na qualidade da educação pública no Brasil. A pesquisa também aponta a necessidade de uma educação que vá além da sala de aula possibilitando a apropriação de novos saberes em diferentes territórios educativos e a aproximação da escola com a comunidade. Além disso, é enfatizado e defendido a profissionalização do Educador Social enquanto trabalhador1 docente. Neste contexto, é apontado o debate sobre a regulamentação da atividade de educação social a ser exercida

(19)

pelo Educador Social2 e a emergência de novos paradigmas da educação social por meio da pedagogia social.

O que justifica o estudo da educação social, da pedagogia social e a atuação de Educadores Sociais nas escolas de tempo integral? Nos últimos anos tem sido cada vez mais presente na academia o debate sobre a pedagogia social e os papéis do pedagogo e do Educador Social. Políticas públicas sociais e educacionais têm sido implementadas em comunidades periféricas do Brasil com mais freqüência, porém ainda insuficientes e com forte tendência ao assistencialismo, o que de certa forma degrada e precariza o trabalho dos profissionais da educação, seja professor ou Educador Social.

Neste momento de globalizações3, a noção superficial de educação não formal deve ser substituída por educação social. Não faz mais sentido no atual contexto histórico chamar a educação não escolarizada de educação informal. No entanto, historicamente, toda educação não escolarizada e sistematizada, tem sido chamada de informal.

Neste sentido, analisar o perfil e a atuação do Educador Social em uma comunidade periférica bem como o processo de regulamentação da atividade de educação social constitui um recorte fundamental. É possível regulamentar uma profissão tão heterogênea como a de Educador Social? Assim, pretendo defender a tese de que, apesar do Educador Social ter uma forte atuação em escolas utilizando métodos e técnicas educacionais, sua preocupação maior reside no social e não necessariamente no educacional, ou seja, o Educador Social tem uma prática mais social do que educacional.

Por que a Grande Terra Vermelha e porque Vila Velha? A justificativa em estudar o Educador Social nessa região partiu da grande inserção deste sujeito

2 O projeto de Lei 5.209/2009 fala da regulamentação da atividade de educação social e

não cria a profissão. As profissões, de acordo com pareceres ao projeto de lei, não são criadas por lei. Por isso não se trata de criar a profissão de Educador Social, mas, sim, regulamentar a atividade de educação social que pode ser exercida por portadores de diplomas de educação social, em nível médio ou superior. Em anexo a fase atual de tramitação do projeto.

3

Utilizo o termo globalizações por sugestão do meu orientador, Professor Luiz Eduardo

(20)

em programas e projetos do município. Portanto, de forma a delimitar o objeto de estudo, a preocupação se pauta na análise e atuação desses Educadores Sociais na Região da Grande Terra Vermelha, periferia da Grande Vitória-ES, no município de Vila Velha.

Outra justificativa tem sido a minha atuação enquanto cientista social em programas e projetos educacionais em comunidades em situação de vulnerabilidade social. Quando comecei a trabalhar com educação nos anos 1990 na rede estadual no município de Viana-ES eu era professor de uma escola de ensino médio que funcionava em um galpão. Já naquele momento percebi que não bastava ser professor, era preciso ser professor e Educador Social ao mesmo tempo já que além de ensinar tínhamos que resolver outras questões sociais na escola e comunidade. Percebi então que éramos praticamente largados pelos órgãos públicos e eu não me identificava apenas como professor. Eu era mais que isso, eu era Educador Social mesmo sem saber.

No entanto, apesar de sempre faltar tudo na educação pública e viver cotidianamente com essas ausências, com a falta de continuidade de projetos, com baixos salários e desvalorização, eu sempre acreditei na educação pública e na educação popular. Em 2010 participei do III CIPS4 (Congresso Internacional de Pedagogia Social) na USP tive certeza que a educação popular, com os novos olhares da educação social e da pedagogia social, pode contribuir e muito para melhorar a educação pública de milhares de crianças, adolescentes e jovens do Brasil. Por isso me dedico à educação pública há quase vinte anos e permaneço porque não sou apenas professor, aprendi também a ser Educador Social.

A leitura do livro Pedagogia Social organizado por João Clemente de Souza Neto, Roberto da Silva e Rogério Moura (Expressão e Arte Editora, 2009) me proporcionou uma nova visão da educação no Brasil. A partir de então comecei a participar de eventos acadêmicos no Brasil relacionados com a educação social. No IV CIPS (2012, USP, UNICAMP, PUC) apresentei comunicação oral, publiquei

4 Os CIPSs vêm ocorrendo a cada dois anos em São Paulo, na USP e outras

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um artigo5 e percebi o quanto tem aumentando o debate sobre a pedagogia social e a educação social.

Desde então o olhar que eu já tinha sobre a educação popular e os referenciais de Paulo Freire me aproximaram mais ainda da educação social e da pedagogia social e decidi estudar o perfil e atuação de Educadores Sociais, buscando compreender as relações de precarização do trabalho e a luta constante por reconhecimento e valorização por meio da regulamentação da atividade de educação social e o exercício profissional.

Os Educadores Sociais estão presentes em diversos programas e projetos sociais, sendo sua atuação bastante diversificada e ampla. Nesta pesquisa é feito um recorte da atuação dos Educadores Sociais na educação em tempo integral (Programas Mais Educação e Escola Aberta) dentro do espaço escolar e comunidade próxima a escola.

Utilizo a técnica da entrevista por meio do diálogo, deixando o Educador Social falar de suas práticas, suas vivências, àquilo que ele vê como bom e as dificuldades enfrentadas. Retiro de suas falas as angústias, as incertezas, as inquietações, as mudanças e continuidades que inibem suas práticas e ao mesmo tempo percebo em suas falas e em seus olhares novas perspectivas e possibilidades.

No projeto inicial de regulamentação da atividade de educação social fala-se que o espaço de atuação do Educador Social é todo aquele em que ocorre educação fora do espaço escolar. Por esse motivo surgiram algumas questões/problemas desta pesquisa. O Educador Social também é um trabalhador da educação? Trabalhando dentro da escola ou fora dela, mas com alunos da escola não o torna um trabalhador da educação? Por que o Educador Social deve se dedicar apenas a espaços não escolares? Existem conflitos com o

5

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profissional docente?

Partindo destes questionamentos, o foco desta pesquisa contempla os espaços escolar e não escolar do contra turno durante a semana, e a abertura do espaço escolar, nos finais de semana, para as comunidades, como alternativas para a promoção da educação social. Não se trata de estudar a educação em tempo integral como espaço alternativo para suprir as carências de políticas públicas sociais não resolvidas por outras esferas do governo.

Sabemos que os Programas Escola Aberta e Mais Educação, entre outros, são insuficientes para solucionar os desafios da educação social no Brasil. A pesquisa não tem essa pretensão. O objetivo fundamental é compreender a atuação do Educador Social nesse espaço por meio dos programas. Busca-se contribuir para o debate nacional e internacional sobre a educação social. Por isso, a experiência da Região da Grande Terra Vermelha, no município de Vila Velha, na Grande Vitória, pode contribuir.

A metodologia é desenvolvida ao longo do texto e aparece na forma quantitativa e qualitativa. Os dados são analisados com base no perfil socioeconômico e nos discursos dos sujeitos da pesquisa. Os depoimentos e os diálogos em grupo sempre gravados constituem a principal ferramenta. Procurei, na medida do possível, deixar os Educadores Sociais bem à vontade e na maioria das vezes eu gravei as conversas com vários presentes. Tive muita dificuldade em ouvir as gravações já que em muitos casos eles falavam ao mesmo tempo, mas deixei que falassem para retirar da melhor forma possível e o mais original dos depoimentos que eles expressavam.

A fundamentação teórica se dá por meio da educação social, educação popular e pedagogia social e algumas passagens pela sociologia do trabalho e das profissões. Usei com mais freqüência o livro pedagogia do oprimido e

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Educação popular: metamorfoses e veredas (CORTEZ, 2010), entre outras.

Roberto da Silva, da Faculdade de Educação da USP, que possui um grupo de pesquisa em Pedagogia Social e que agrega pesquisadores de todo o Brasil tem sido um dos principais teóricos que contribui para esta pesquisa juntamente com Maria Stela Santos Graciani professora e coordenadora do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC/SP. Ambos são referências na educação social no Brasil. Também não poderia deixar de me pautar em Moacir Gadotti que tanto contribui para a educação popular na perspectiva freiriana. Algumas publicações do Instituto Paulo Freire foram fundamentais para o meu referencial teórico.

Não seria possível citar aqui todas as contribuições de diversos autores que pautaram meu referencial teórico, no entanto é possível destacar alguns: João Clemente de Souza Neto (Mackenzie), Rogério Moura (Unicamp), Hans-Uwe Otto (Universität Bielefeld), Bernd Fichtner (Universidade Siegen, Alemanha), Geraldo Caliman (PUC-Brasília), Sanna Ryynänen (Universidade de Tampere, Finlândia), Manuel Joaquim Loureiro (Universidade da Beira Interior, Portugal), Susana Torío López (Universidade de Oviedo, Espanha), Jorge Camors (Univerdiad de la República, Uruguai), Evelcy Monteiro Machado (Universidade de Santiago de Compostela), Antonio Carlos Gomes da Costa (prêmio nacional de direitos humanos-1998), Sueli Maria Passagno Caro (PUC-Campinas), Carlos Pedro Cláver Yoba (Cuba), Martín Gonzáles Gonzáles (Cuba), José Antonio Caride Gomes (Universidade de Santiago de Compostela), Peter Berger, Pierre Bourdieu, Claude Dubar, Francóis Duber, Paulo Freire, Moacir Gadotti, Vitor Paro, Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley (PUC/SP), Roberto da Silva (USP), Maria Stela Santos Graciani (PUC/SP), entre tantos outros.

Muitos desses pesquisadores da educação social participam dos CIPSs que vem ocorrendo na USP e por isso o foco do referencial teórico são eles que apresentam grande contribuição nos estudos da pedagogia social na Europa, América Latina e Cuba.

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Sociais, sendo cinco no Mais Educação e quatro na Escola Aberta. No entanto, em muitas escolas o mesmo Educador Social que trabalha durante a semana no Mais Educação também trabalha nos finais de semana na Escola Aberta, o que diminuiu o universo de Educadores Sociais pesquisados. Em muitos casos também os Educadores Sociais trabalham em duas e até três escolas e quando eu chegava para acompanhar seu trabalho me deparava com o mesmo Educador Social que já tinha observado em outra escola. No entanto, o que poderia ser uma dificuldade acabou contribuindo, pois pude perceber a atuação do mesmo Educador Social em escolas diferentes e com isso percebi que a gestão e apoio da equipe das escolas é fundamental para o desempenho eficiente do Educador Social. Os Educadores Sociais relatam diferenças significativas entre as escolas.

Inicialmente a intenção era pesquisar somente os Educadores Sociais do Mais Educação, totalizando quarenta. No decorrer da pesquisa percebi que a abertura das escolas para a comunidade nos finais de semana também era um espaço e tempo no território fundamental para a atuação dos Educadores Sociais e resolvi incluir os finais de semana também, o que considero uma decisão certa para a pesquisa, pois contribuiu em muito para se pensar a educação em tempo integral na sua vertente não formal. Eu acreditava que o público pudesse aumentar o que não se confirmou. Assim, a pesquisa finalizou com trinta e um Educadores Sociais pesquisados num universo de cerca de quarenta. Portanto, nove não puderam ser pesquisados não porque não foram localizados, mas, sim por não existir nas escolas, ou seja, escolas que poderiam funcionar com cinco Educadores Sociais durante a semana em alguns casos só tinham três ou quatro devido à rotatividade alta.

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esta tese tem um diferencial, ela foge do padrão tradicional de apresentar os resultados somente no final do texto. Ao mesmo tempo em que aponto as concepções teóricas também lanço o olhar dos Educadores Sociais por meio dos depoimentos. Logo após a citação de um autor lanço o discurso do Educador Social. Inicialmente parecem estranho e meio deslocado, mas a intenção é essa mesma, ou seja, fazer um paralelo entre o debate teórico junto com o discurso dos Educadores Sociais que estão atuando na prática. O texto ficou mais leve de ser lido sem perder sua consistência e metodologia teóricas como requer uma tese.

Os sentimentos de pertencimento e identidade dos Educadores Sociais estão sempre presentes, ou seja, mesmo trabalhando de forma precária, ainda são motivados e têm esperanças de uma sociedade melhor, mesmo que essa sociedade seja sua própria comunidade. Portanto, a preocupação com a educação social tem sido grande porque muito tem se discutido sobre educação não formal por meio de projetos e programas, governamentais ou não.

É nesse cenário de transição de uma educação tida como informal que a atuação do Educador Social acontece. Vários Educadores Sociais estão trabalhando com crianças, adolescentes e jovens na periferia do Brasil e dizer que sua ação é vista como não formal significa desqualificar um trabalho que merece mais atenção mesmo porque a constituição já coloca que a educação será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade e a LDB coloca também que a educação deve se desenvolver tanto na vida familiar como na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Portanto, não se pode deixar que a educação seja essencialmente escolar e que o papel de educar se restrinja apenas ao professor.

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2 LOCAL DE ATUAÇÃO DOS EDUCADORES SOCIAIS

O bairro é problemático mas a gente consegue manter o nível de organização. Os pais deixam as crianças aqui porque confiam na escola. A gente fala que tem as câmeras filmando e isso inibe um pouco mas nem sei se essas câmeras funcionam, aí eu falo para eles não fazerem coisas erradas aqui dentro porque senão as câmeras registram e fecham a escola e eles só têm aqui para jogar bola. Eu acho o policiamento falho em geral mas, de vez em quando, um policial passa na escola e dá uma olhadinha e penso que ajuda (Educadora Social-DR).

Vila Velha faz parte da Região Metropolitana da Grande Vitória, Estado do Espírito Santo. A Grande Vitória é formada por sete municípios: Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e a capital Vitória.

A cidade de Vila Velha se divide em cinco regiões administrativas. A Grande Terra Vermelha faz parte da região cinco. Como toda cidade média ou grande Vila Velha não conseguiu escapar do crescimento acelerado a partir das décadas de 60 e 70 do século passado e conseqüentemente das aglomerações desorganizadas.

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2.1 A REGIÃO DA GRANDE TERRA VERMELHA

A parte central da Região V corresponde ao que a população chama atualmente de Terra Vermelha. A Região V, segundo dados municipais, em 2011, corresponde a 23 bairros e loteamentos. Por esta razão ela é chamada de Grande Terra Vermelha.

No final das décadas de 70 e 80 do século passado algumas aglomerações começam a se concentrar às margens da Rodovia do Sol, onde situa a região administrativa V. No início o bairro ficou conhecido como Tangará (referência a uma novela global que possuía uma cidade de mesmo nome), devido à distância que era do resto da cidade de Vitória. Moradores contam que o nome de Terra Vermelha surgiu devido à cor vermelha do barro existente na região.

No final dos anos 1970 começaram as primeiras ocupações na região. Inicialmente as terras eram conhecidas como o Bairro Terra Vermelha. As primeiras famílias ocuparam o local chamado de Brunela I, não legalizado. O Governo do Estado foi então acionado atendendo a oito movimentos pró-moradia que surgiram. O governo desapropriou as terras e fechou uma parceria com a empresa Vale do Rio Doce para a construção de 500 casas para os desabrigados ocupantes.

Em 1988 teve início a construção das primeiras 235 residências. Um ano depois, o Governo do Estado entregou a primeira chave das 235 casas de Terra Vermelha, sendo este ano a data oficial de surgimento do bairro. Em 1990 e 1991 foram entregues as demais casas.

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2.1.1 O início de Terra Vermelha

Moradores contam que no início as casas da região eram improvisadas e não possuíam rede de esgoto, energia elétrica e calçamento. Atualmente o município, com recursos do Governo do Estado, tem feito vários investimentos em infraestrutura, mas ainda é insuficiente para atender toda a demanda.

Não havia ônibus que desse acesso ao bairro, obrigando os moradores a descer na Rodovia do Sol, na Barra do Jucu, e ir a pé mata adentro até Terra Vermelha. Esses primeiros anos marcaram muito a vida dos moradores, principalmente o fato de ter que andar quilômetros até chegar a suas casas. A primeira linha de ônibus ligava Terra Vermelha a Vitória e era insuficiente para atender toda a demanda.

2.1.2 População e área

A estimativa da população de Vila Velha é de 458.489 habitantes (IBGE, Cidades, 2013). A área do município é de 210,07 Km2. A área ocupada pelos bairros que fazem parte da região denominada Grande Terra Vermelha se situa a cerca de 30 quilômetros ao sul da capital Vitória e 15 km do Centro do município de Vila Velha, na altura dos quilômetros 13 e 17 da Rodovia do Sol que liga o litoral sul do Estado (Guarapari) a Região Metropolitana.

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2.1.3 Violência

Costuma-se associar ocupações desordenadas com violência. A região de Terra Vermelha teve entre 1993 e 2003, segundo dados do Atlas da Violência Criminalizada da Grande Vitória, 503 homicídios e 445 tentativas de homicídios, uma média de 86 homicídios e tentativas de homicídios por ano e cerca de 7 por mês. Considerando o encontro de cadáveres, ameaças e lesões corporais teríamos ao total 2.440 casos de crimes graves contra a pessoa no período de 10 anos, ou seja, 222 por ano em média e mais de uma ocorrência a cada dois dias. As ocorrências violentas são em parte associadas aos chefes do tráfico que controlam a área e gangues de terras além daqueles ligados ao jogo de bicho e comércio clandestino de diferentes produtos.

Alguns líderes comunitários alegam que a região é usada como desova, se referindo aos homicídios cometidos por bandidos de outros bairros que matam e jogam em Terra Vermelha os corpos. No geral os moradores sentem certo receio por parte da população de se associar os bairros de Terra Vermelha à violência. Por isso, a associação sugere aos moradores chamar a Grande Terra Vermelha pela designação administrativa dada pela Prefeitura – Região V – que compreende, além do bairro Terra Vermelha, todos os outros e mais aqueles bairros que não fazem parte da Grande Terra Vermelha, mas compõem a Região V.

Apesar de existir viaturas da Polícia Militar, os moradores se sentem inseguros e afirmam que o policiamento é insuficiente.

2.1.4 Panorama socioeconômico

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médio. No fundamental tem se atendido a demanda e no ensino médio alguns estudantes precisam se deslocar para outras regiões. Já na educação infantil ainda o número de vagas é mínimo e não atende a toda demanda.

Quanto ao comércio, possui supermercados de médio porte, lojas de roupas, padarias, farmácias, locadoras de filmes e jogos, lojas de cosméticos, oficinas de motos e carros, materiais de construção e várias mercearias e bares. Os bares são, em sua maioria, botecos. Possui agência do Banco do Estado do Espírito Santo (BANESTES).

Quanto ao lazer a maioria freqüenta as praias do outro lado da Rodovia do Sol. Também possuem times de futebol e campo de várzea. A oferta de praças e equipamentos públicos praticamente não existe. Para Zanotelli, trata-se de um lugar cheio de penúrias e de extrema pobreza que podem ser constatadas pela falta de políticas públicas. Também é presente o desemprego, os baixos salários, as especulações imobiliárias, entre outros problemas que vem provocando, segundo Zanotelli, uma explosão de ocupações ilegais no entorno da cidade (ZANOTELLI, 2004).

A região tem sido desde os anos 1980 e 1990 explorada com retiradas de areias para construção civil. Em algumas áreas a população é atingida com problemas de queda de casas e rachaduras, devido ao aterro precário e desordenado e também por estar abaixo do nível do mar. Os buracos abertos para retirada de areia contribuem para o problema.

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adequada a água a todos os moradores.

Muitos moradores trabalham na construção civil e é comum utilizarem bicicletas para chegarem ao trabalho. Alegam que o transporte público além de precário é muito caro. Vários acidentes com morte já ocorreram na Rodovia do Sol devido ao uso de bicicletas. Como a especulação imobiliária tem ocorrido nas orlas das Praias da Costa, Itaparica e Itapoã, com prédios de cerca de 20 andares ou mais, de frente para o mar, é possível chegar ao local de trabalho pela Rodovia do Sol.

A maior parte dos moradores tem dificuldades em legalizar seus lotes ou áreas. Uns porque foram enganados por especuladores imobiliários nos anos 1980 e 1990 e outros simplesmente porque ocuparam as áreas6.

2.1.5 Perspectivas futuras

A região da Grande Terra Vermelha tem recebido investimentos em infraestrutura como a construção de escolas de educação infantil e ensinos fundamental e médio. Com investimentos do Governo do Estado muitas ruas têm sido pavimentadas, casas populares têm sido construídas pelo Programa Minha Casa Minha Vida, além de tratamento de água encanada, tratamento de esgoto e

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Nos anos 70 do século passado surgem diversos “loteamentos” na Grande Vitória. Os “donos”

desses loteamentos vendiam essas terras para a população que chegava a Grande Vitória em busca de emprego seja nos projetos de desenvolvimento do Estado com a CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão, atual Arcelor Mital), VALE (Companhia Vale do Rio Doce), CIVIT (Centro Industrial de Vitória) e na construção da Terceira Ponte ligando Vitória-Vila Velha e na construção civil. Essa população vinha do interior do Estado e do sul da Bahia e leste de Minas Gerais. O discurso desses vendedores de lotes se pautava no desenvolvimento e progresso do Estado do Espírito Santo. Esses lotes eram totalmente sem infraestrutura e não tinham escrituras. Muitos contratos falsos ou de gaveta se alastraram. Segundo Zanotelli (2004), na segunda metade dos anos 80 do século passado figuras políticas de Vila Velha conhecendo a situação jurídica complexa estimularam movimentos de ocupação de partes da área por populações excluídas. Um ex-prefeito de Vila Velha estaria envolvido. Ainda segundo Zonatelli (2004), na área se montou, com a ajuda de certos políticos, verdadeira estrutura de controle político-criminoso-especulativo.

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expansão da rede elétrica.

Com os investimentos a população tem sido beneficiada. Apesar de insuficientes, tais investimentos são os maiores que a região já teve nas últimas décadas. Isso tem contribuído para um sentimento de pertencimento e valorização de imóveis da região.

Um Shopping foi inaugurado recentemente às margens da Rodovia do Sol e deve atender a população, valorizando a região. A grande Terra Vermelha está próxima do bairro Barra do Jucu, considerado um bairro cultural e boêmio por ter vários moradores que utilizam as artes como forma de expressão.

A região tem clubes de lazer e bancos, um aeroclube que serve de treinamento do exército. A região tem um processo dinâmico em movimento e crescimento e a população tem se organizado em associações. A região parece que tem dinâmica própria, sujeitos enraizados, o que até já se sugeriu a criação de um novo município, tendo em vista essa identidade própria, o que difere das demais regiões administrativas do município.

A participação política tem sido grande por parte da população e a região exerce forte peso na disputa por vagas no executivo e legislativo municipal. São atores ativos que apostam em candidatos de sua região para representá-los. Não tem demonstrado apoio a políticos tradicionais e assumem claramente a posição de eleger candidatos compromissados com o desenvolvimento da região.

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contexto o apartheid social urbano vem sendo criado, delimitando e estigmatizando lugares como Terra Vermelha pela falta de recursos econômicos, sem considerar que ali se constitui vários grupos que criam a seu modo os mais diversos mecanismos de superação das penúrias da vida diária em favor da essência humana, que é viver em conjunto.

2.1.6 Escolas com educação em tempo integral

Quadro 1: escolas, localização, alunos e alunos em tempo integral.

UMEF SIGLA BAIRRO ALUNOS INTEGRAL

1 Alger Ribeiro Bossois ARB Cidade da Barra 1.121 300 2 Prof. Aylton de Almeida AA Brunela II 703 300

3 Darcy Ribeiro DR Morada da Barra 1.013 300

4 Gov. Christiano Dias Lopes Filho CDLF São Conrado 1.007 300

5 Ilha da Jussara IJ Ilha da Jussara 957 300

6 Nair Dias Barbosa NDB Ponta da Fruta 692 150 7 Prof. Paulo Cesar Vinha PCV Ulisses Guimarães 1.399 600

8 Dr. Tuffy Nader TN Barra Jucu 657 150

INEP/MEC - Censo 2012. No final de 2013 com a ampliação do Programa Mais Educação a escola Nair Dias Barbosa (NDB) passou a oferecer o programa.

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Quadro 2: situação financeira das escolas 2011-2013

UMEF 2011 2012 2013 TOTAL

1 Alger Ribeiro Bossois 36.909,60 39.129,65 56.918,25 132.957,50 2 Prof. Aylton de Almeida 52.676,10 42.102,70 9.097,20 102.876,00 3 Darcy Ribeiro 66.145,92 64.742,20 87.192,34 218.080,46 4 Gov. Christiano Dias Lopes Filho 0,00 53.886,30 92.909,58 146.795,88 5 Ilha da Jussara 57.005,22 52.086,70 78.223,08 187.315,00 6 Nair Dias Barbosa 0,00 0,00 45.000,00 45.000,00 7 Prof. Paulo Cesar Vinha 47.877,80 46.931,30 111.898,65 206.707,75 8 Dr. Tuffy Nader 0,00 37.603,20 55.465,35 93.068,55

Fonte: FNDE/PDDE 2011-2013

As escolas só contam com recursos federais. A Secretaria Municipal de Educação não repassa recursos municipais para as escolas, apesar de muitas precisarem já que reclamam que somente os recursos federais não tem sido suficientes para a educação integral.

Os valores de cada escola são diferentes porque depende do plano de atendimento (atividades) que a escola define e também pela quantidade de alunos atendidos por escola. A escola Paulo Cesar Vinha apesar de ter cadastrado 600 alunos não tem atendido a todos.

No geral os recursos são suficientes para atender a proposta do MEC destinados a compra de materiais e ressarcimento dos Educadores Sociais. No entanto, os Educadores Sociais reclamam muito dos baixos valores pagos e como o município não complementa esse valor muitos Educadores Sociais acabam desistindo, já que o vínculo é de trabalho voluntário.

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Por outro lado, alguns diretores alegam que fazem as prestações de contas da forma correta e evitam colar as planilhas nos quadros de aviso da escola para não expor a escola na comunidade, ou seja, eles alegam que como a comunidade não entende que são recursos públicos eles acham que a direção da escola tem esse dinheiro dentro da escola e ficam com medo devido à violência do bairro de algum elemento seqüestrar o diretor para sacar o dinheiro ou emitir cheques. Segundo alguns diretores, a comunidade pensa que o diretor pode sacar dinheiro da conta que na verdade é bloqueada para saque. No entanto, em algumas escolas essa alegação não procede, pois a comunidade é participativa, tem representantes do Conselho Escolar e sabem que recursos públicos são utilizados de forma oficial e tem uma burocracia para isso. Nesse caso eles alegam sim que diretores escondem as planilhas e notas fiscais.

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3 EDUCAÇÃO SOCIAL

O protagonismo de todos os agentes dedicados à educação popular exige um entendimento crescente das metamorfoses do passado e do presente, em todos os campos e sob o foco educativo, e atrelá-lo aos engajamentos vigentes e ao encontro das novas veredas que se abrem. Recuperar, ressignificando e revitalizando, as notáveis contribuições, teóricas e práticas, de tudo o que foi concretizado no campo da educação popular (Luiz Eduardo W. Wanderley).

Partindo da perspectiva social podemos perceber que a educação social tem uma forte presença na perspectiva inclusiva. A educação social pode ser definida como a busca de ligação entre os processos sociais e pedagógicos, focando sua ação no social. Vale destacar que a experiência da educação social na relação entre educador e educando pode contribuir, não só com as questões sociais, como também possibilitar melhorias na educação escolar. Isso é possível se levarmos em consideração o público atendido pela educação social que geralmente, mas não exclusivamente, são aqueles excluídos historicamente.

A escola seria, então, a agência legal de formação escolar, um direito constitucional de todos os cidadãos, enquanto instituição legitima de socialização do patrimônio cultural da humanidade. Todavia, apesar de um direito constitucional previsto na Carta Magna de 1988 e em vários outros documentos nacionais e internacionais, o acesso e a permanência no ambiente escolar ainda parece legítimo somente para alguns, aqueles que conferem identidade a uma abstração construída e compartilhada

histórico socialmente, “o aluno normal”, consentâneo a um padrão de

expectativa e de desempenho escolar. Os outros, os que diferem, encontram uma série de obstáculos até a exclusão. Uma relação possível entre educação social e escolar conflui e/ou delineia-se, a meu ver, na premência de abertura à diferença – o que implica em (re) pensar a noção de sujeito, de subjetividade e modos de subjetivação encaminhados pelas ações sociais pedagógicas ou não, mas, que passam pelos afetos ou condição de afetarmos e sermos afetados (LIMA, 2012, p. 6).

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em situação de risco e vulnerabilidade social, porém vejo a necessidade dos Estados e Municípios criarem políticas públicas para a educação integral e torná-la realmente um direito para todos os alunos das escolas públicas. Um exemplo bacana foi de um aluno que foi na casa de uma Educadora Social daqui e contou que passou de ano, ele é um aluno com sérios problemas de relacionamentos na escola. Esse aluno abraçou a atividade de capoeira e melhorou muito seu comportamento, mas alguns professores queriam reprovar o aluno porque ele estava muito tempo na capoeira. Falavam que ele só queria saber de capoeira, mas antes esse aluno não queria saber de nada. Com o tempo esse aluno melhorou em português, em matemática, melhorou em tudo. Vejo que nos Conselhos de Classe tem muita discriminação. Os professores não têm formação em educação social (Educadora Social-V).

A educação social trabalha freqüentemente em contexto de vulnerabilidade e pobreza. Trabalha com pobres e com recursos pobres. A essa precariedade acabou possibilitando o trabalho voluntário em vários campos de atuação do Educador Social.

Eu vejo o social e a educação social como algo que vai além de ler e escrever, como o aluno se comportar diante da comunidade, como se deve ser uma boa pessoa fora da escola, a gente tenta passar o melhor que a gente aprendeu, o que foi bom para a gente então a gente deve passar para o aluno, então vejo que talvez isso seja educação social (Educadora Social-ARB).

Para mim educação social é aquilo que vai muito além da escola, ultrapassa a barreira da escola e é fundamental para criar o cidadão melhor fora da escola, no meu modo de pensar é dessa maneira e é preciso saber lidar com as diferenças dentro e fora da escola. A princípio toda diferença é complicada de se lidar, mas a partir do momento que você começa a mostrar que o que é diferente faz parte da vida então você pode conviver bem com todos, você quebra esse paradigma de diferente não fazer parte do meu contexto, temos que criar o mundo para todo mundo (Educador Social-CDLF).

Por muito tempo e ainda em alguns segmentos da sociedade, a educação social foi separada da educação escolar e não era vista com bons olhos pelos professores. Educadores Sociais que atuam com animação sociocultural e educação no tempo livre na Espanha, Portugal e outros países europeus passaram a se dedicar também a colônias de férias e outras atividades consideradas escolares.

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em termos de complementaridade. E, claro, uma coisa que se apresenta como complementar de uma coisa já não pode abominá-la, pois o desejável é que colaborem entre si (TRILLA, 2003, p. 43).

Eu vejo que o Mais Educação cumpre as duas coisas, ou seja, é um programa educacional e social, mas no meu caso eu dava aula de matemática e via o programa mais do lado educacional que social, mas para o governo eles vêem como mais social, quando eu dava aula eu não ficava preocupada se o menino estava ou não na rua, eu dava a minha aula de matemática e queria que ele aprendesse (Educadora Social-DR).

Vejo que o Mais Educação é um programa voltado mais para o social, a gente procura envolver uma criança com a outra e isso já é um trabalho social. Como eu aprendi com Vigotsky através de jogos, brincadeiras e até mesmo matemática, então eu trago palavras cruzadas, cálculos cruzados e através disso eu trabalho muito em grupo, não para facilitar o trabalho, mas para eles terem um contato um com o outro para facilitar o conhecimento do colega, começar a respeitar um ao outro, esse é o trabalho social que eu acredito (Educador Social-DUAS).

O que podemos perceber é que a cada dia tenta-se uma aproximação maior entre a educação social e a escolar, mesmo porque a escola não pode estar desvinculada da realidade, do social e da família.

As educações formais, não-formais e informais, o escolar e o social, estão cada vez mais entremeados, o que tem muito de positivo. Por isso já não valem certos maniqueísmos, típicos em seu momento, do ar de família da educação social. Em todas as famílias pesam muito as tradições e os vícios, por isso ainda há quem persista em sua versão pela escola. Mas os ares estão mudando (TRILLA, 2003, p. 43).

Sim, vejo o Mais Educação como um programa social porque a maioria dos pais vê o Mais Educação como uma maneira de não ter como deixar seu filho em casa e não ter como cuidar dele, então o programa passa a ser um tipo de creche, então no meu ponto de vista passa a ser mais social do que educacional e a ter um caráter assistencialista. Apesar de ter disciplinas que o aluno não teria na grade curricular, a não ser a parte pedagógica de letramento e matemática, ele passa ser mais social porque os pais confundem o objetivo do programa que é proporcionar mais educação por meio de apropriação de novos saberes e mandam o filho como se fosse para ele ficar numa creche. Querem que a gente cuide dos filhos deles (Educador Social-CDLF).

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instituição criada pelo homem moderno, mas deve ser repensada e adaptada às novas necessidades do mundo de hoje devido às transformações tanto nas tecnologias e na ciência como no comportamento social.

A educação é, além de instrução, aquisição de competências sociais, é

participação social. Realmente, a educação é uma didática das relações sociais, e é fora da aula que se configura a personalidade do cidadão. Como diz Diltey, a educação é uma função de toda a sociedade (PETRUS, 2003, p. 53).

Eu penso assim que quando a gente fala em educação social não tem como desvincular da educação escolar, mas na educação social você começa a ver o indivíduo como um todo e não só como aquele que fica num banco de escola. Temos que perceber e influenciar, eu penso que quando a educação sai de dentro daquele quadradinho da escola e entra em contato com as coisas fora daquele espaço de sala de aula as coisas começam a mudar. O que eu vejo é que atualmente os professores têm o compromisso com o ato de ensinar, o tempo é restrito, são só 50 minutos em sala de aula, já na questão da educação social eu vejo como fora daquele tempo, na sala tem os professores específicos para conteúdos e fora temos o Educador Social para trabalhar outros assuntos que na verdade muitos são os mesmos assuntos, mas o tempo não é suficiente, na sala de aula se trabalha com um todo, já na educação social se trabalha com um foco no indivíduo. Vou citar um exemplo: em outra escola eu era pedagoga durante a semana e no fim de semana eu era Educadora Social e um professor me disse para eu conversar com um aluno que vinha para a escola cheirando mal, um menino de 12 anos e eu sei da realidade desse aluno, a mãe não vive com o pai, o irmão estava preso, a mãe é doméstica o dia todo, aí eu comecei a conversar com ele no sábado, aí ele falou da mãe, falou do irmão que estava preso, aí eu entrei no assunto que eu queria e conversei com ele, quando foi na segunda feira ele estava até com um tênis, ele só ia de chinelo, achei até engraçado porque o tênis eu acho que estava apertado e ele andava todo tortinho, achei esse momento muito importante e causou uma transformação na vida dele, esse momento a gente não tem durante a semana mesmo como pedagoga por causa das questões burocráticas e o próprio professor não tem tempo para falar com o aluno se ele só tem 50 minutos e vai para outra sala e uma questão dessa mais delicada não tem como falar dentro de sala de aula. Vejo que o pai e a mãe também são educadores, mas esses meninos não têm nem pai e nem mãe e nós estamos aqui para ajudar (Educadora Social-CDLF).

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resolverem os problemas educacionais e sociais. Por isso, reduzir a educação a educação escolar é ver apenas uma parte da realidade. Daí a necessidade de se pensar cada vez mais numa educação que vá além da realidade escolar. A ousadia da educação social se justifica porque a sociedade é global e os comportamentos são sociais e acontecem ao longo da vida e em diferentes espaços e tempos.

Vejo que o Mais Educação é um programa mais social, mais social porque pelo menos na região onde eu trabalho [Região V], que é uma região periférica de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, a escola se torna um ambiente acolhedor, não um ambiente educacional e sim acolhedor onde eles encontram pessoas que os recebem, pessoas que os compreendem, e é onde eles recebem uma educação mais social, mesmo que informal, mas é onde tem alimentação, onde eles têm a liberdade de escolher aquilo que eles querem fazer, aquilo que eles gostam. Por outro lado o Mais Educação às vezes até fecha os olhos para aquilo que realmente necessita que é a formação do aluno, a gente tem um certo grau de repetência justamente por falta de querer estudar e muitos alunos querem mais brincar do que estudar, não sei por que mas acho que as atividades do Mais Educação são mais interessantes que a sala de aula (Educador Social-DUAS).

Em autores como TRILLA (2003), percebemos que, em alguns casos, a escola não é o espaço mais adequado para solucionar problemas educativos, daí porque a educação social viria para completar esse vazio deixado pela escola. Assim, para PETRUS (2003, p. 61), “reduzir a educação à instituição escolar é pedagogicamente incorreto”.

O pilar da educação do século XXI deve ser “aprender a viver juntos”.

Quer dizer, a educação deverá facilitar aos cidadãos as competências sociais necessárias para descobrir a realidade e os direitos do outro, assim como capacitar para a participação em projetos comuns. Se, como se afirma de maneira rotunda, aproveitar a oportunidade da Europa implica que os cidadãos exijam o cumprimento de seus direitos constitucionais e que os defendam dentro de uma sociedade do bem-estar, entre eles se inclui, sem dúvida nenhuma, a educação social

(PETRUS, 2003, p. 61).

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a parte dela para encarar o conjunto e eu tenho que fazer a minha parte também. Na escola eu vejo que tem muitas áreas isoladas, como a piscina, eu estou ensinando volume e peguei a quadra para ensinar perímetro e eles pensam que nesses espaços só pode ter esporte, mas é possível fazer coisas diferentes. Tem professores que tem janelas em seus horários e poderiam estar ajudando, mas existe sim dificuldade na interação com o professor, mas te pergunto: qual o trabalho que não tem dificuldade? Quando os professores recorrem a mim eu estou sempre disponível, mas eles pedem mais favor do que interagem. São os próprios pais que vêm na escola me pedir para ensinar mais um determinado conteúdo que o filho não aprendeu em sala de aula, não é o professor que me fala. Os próprios alunos também me procuram quando tem prova, entre eles mesmos se organizam e me pedem uma revisão de matemática (Educador Social-TRÊS).

Muitos jovens hoje rejeitam o modelo de educação escolarizada que temos. A escola tem perdido seu espaço para outros espaços de sociabilidade. Essa crise da instituição escolar provoca uma incapacidade nos educadores (professores e pedagogos) de resolver, por meio da educação, problemas como violência, drogas, intolerância, entre outros. Por meio das ferramentas pedagógicas, a escola precisa ser mais social e menos escolarizada. A educação faz parte do social e não faz sentido a instituição escolar se fechar nos saberes tradicionais e conteudistas da escolarização. Portanto, a educação precisa ser dialógica, cooperativa e, fundamentalmente, social.

A pior coisa é quando o gestor, o professor comunitário ou o coordenador não acredita na Educação Integral. Eles vêem simplesmente como uma verba que vem a mais. Para o professor comunitário algumas horas que vem a mais no seu contracheque, para o coordenador é um dinheirinho que vem a mais de ajuda de custo, mas quando a gente conhece o projeto, conhece a realidade da finalidade para a qual foi criado o projeto a gente vê que é muito maior que isso. Quando não existe essa visão por parte dos gestores da escola então o projeto naufraga porque a gente espera aquele retorno então a gente não tem e acaba se limitando. Eu conheço casos de duas escolas no mesmo bairro em que uma tem projetos totalmente diferentes, numa tem vários cursos, tudo organizado, estão sempre modificando as oficinas, já na outra não, é somente um lazer, não tem perspectiva de aumentar, então nessa escola a gente enquanto Educador Social, embora queira buscar melhorias, a gente esbarra na burocracia porque o gestor, os professores comunitários e os coordenadores não estão muitos a fim de trabalhar (Educador Social-DUAS).

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formação de professores, creio eu que as instituições de formação em educação hoje são muito antigas, não tem estrutura no sentido de renovar, não existe renovação pedagógica, os cursos os quais tem no mercado às vezes são até comprados e não tem qualidade mesmo, não exigem do aluno um contato social realmente, então as dificuldades dentro do ambiente escolar são muitos, mas eu digo sempre que a gente está tentando burlar isso aí e buscar meios de interagir com os professores da escola e tentar tornar o ambiente mais harmonioso possível (Educador Social-DR).

3.1 SOCIALIZAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL

Alguns questionamentos dos Educadores Sociais nos levam a retomar as concepções de socialização e identidade social. Para se discutir a atuação profissional de Educadores Sociais é preciso levar em consideração o processo de socialização profissional presente entre os jovens. Também a socialização é importante nas análises sobre a relação entre a escola e a comunidade. A categoria sociológica socialização é fundamental para se atingir os objetivos desta pesquisa. Embora muito já se tenha dito sobre socialização, essa categoria se torna cada vez mais importante no mundo de hoje devido a diversas transformações tecnológicas provadas pelas globalizações.

Não se trata aqui de falar das imposições sociais feitas às crianças para que estas obedeçam as regras sociais e se tornem jovens adultos obedientes. Pelo contrário, trata-se de pensar a socialização como processo de inserção no mundo social de forma autônoma e que essa socialização possa garantir a formação de identidades sociais. Os jovens precisam ter uma identidade social e o emprego ou trabalho pode contribuir muito para sua identidade. Por isso é preciso pensar na qualificação e formação de jovens para o mundo do trabalho.

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a socialização se baseia em modelos exteriores. Dubar cita as visões de Piaget e Durkheim:

Piaget e Durkheim estão de acordo no reconhecimento da individualização crescente da vida social à medida que as trocas se desenvolvem e se complexificam. A passagem de uma solidariedade

mecânica por „imitação exterior‟ para a solidariedade orgânica através da

„cooperação e complementariedade‟ desenvolve a individualização e a

diferenciação das relações sociais. Ora, a vida social, à medida que se individualiza, torna-se mais interiorizada. É necessário, por isso, apelar para a autonomia da vontade mais do que para o medo da repressão. A socialização torna-se, assim, cada vez mais voluntária (DUBAR, 1997, p.12).

A socialização é importante e contribui para a formação da identidade social dos indivíduos. Os indivíduos vão formando suas identidades por meio do processo de socialização. Muito se tem falado atualmente sobre as identidades sociais e as crises de identidade. Quando o jovem consegue perceber que possui uma identidade e que essa identidade não tem sido afetada por exclusão, desemprego e fracasso escolar podemos dizer que esse jovem está no caminho certo. No entanto, as crises sociais podem provocar problemas nos indivíduos independente do esforço de cada um.

Por isso, não podemos separar a identidade da socialização. Não podemos reduzir a socialização a qualquer forma de integração social. A socialização se forma junto com a construção da identidade. Para se formar a identidade é preciso passar por um processo de socialização e a escola tem um papel fundamental. Assim, a socialização primária por meio da relação entre família e escola continua essencial na atualidade. A escola legitima a socialização e por esse motivo é preciso que ela, enquanto instituição socializadora, cumpra seu papel de educar, de garantir a formação de indivíduos por meio da construção de identidades sociais.

Imagem

Gráfico 3
Gráfico 6
Gráfico 11
Gráfico 14

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