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Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul vol.31 número1

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Academic year: 2018

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A origem da Liga Brasileira de Higiene

Mental e seu contexto histórico

The origin of The Brazilian League of Mental Hygiene and its historical context

André Augusto Anderson Seixas1, André Mota2,

Monica L. Zilbreman3

1 Pós-graduando, Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina,

Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP. 2 Doutor. Professor de

Pós-Graduação, Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Me-dicina, USP. 3 Doutora. Professora de Pós-Graduação, Departamento de

Psiquiatria, Faculdade de Medicina, USP.

Os achados preliminares foram apresentados no XIV Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em setembro de 2008, em Praga, República Tcheca.

Caros Editores,

Em 1857, Morel introduziu o conceito de degeneração. A ideologia dominante era então o positivismo, carac te ri zado por ideais de modernidade, ordem, progresso e racionalidade. Os psiquiatras acreditavam não apenas que as doenças mentais tinham componentes biológicos e genéticos, mas também que tendiam a piorar à medida que eram transmitidas de geração para geração, causando a degeneração progressiva das árvores genealógicas e da população como um todo1.

Para eles, a degeneração era mais que uma doença individual: tratava-se de uma ameaça social. A idéia de degeneração começou a estimular políticas sociais como esterilização, eutanásia e perseguição de indivíduos “degenerados”1.

A influência da higiene mental era especialmente im-portante. Esta acrescentava a noção de uma origem social da loucura à idéia já existente de que haveria uma base hereditária para a doença mental. Alcoolismo, miséria, ignorância2 e religiosidade3 extremas passaram a ser vistas

como possíveis causas de loucura2,3. Enquanto isso, o Brasil

passava por grandes mudanças e enfrentava sérios desafios sociais. A escravidão fora abolida em 1888, e a República fora declarada em 1889. Havia um fluxo considerável de imigrantes para o país. A urbanização descontrolada se in-tensificou, causando sérios problemas sociais e sanitários4.

Na terceira década do século passado, um regime político denominado “Estado novo” entrou em vigor, armado de ideias antiliberais e atitudes repressivas. Uma nova constituição

foi adotada, e alguns de seus artigos discutiam políticas de imigração que determinavam o número máximo de indivíduos de cada grupo étnico cuja entrada no país seria permitida. Nesse contexto, o movimento de higiene mental surgiu com a criação da Liga Brasileira de Higiene Men-tal. Fundada no Rio de Janeiro, em 1923, pelo psiquiatra Gustavo Riedel, a Liga tinha como objetivo primordial a melhoria na assistência aos doentes mentais, através da modernização do atendimento psiquiátrico5.

A Liga era uma entidade civil, reconhecida publi-camente através de subsídios federais, e composta pelos mais importantes psiquiatras brasileiros. De 1923 a 1925, a Liga seguiu a orientação de Riedel. A partir de 1926, influenciados pelo contexto político e pelo contato com ideias alemãs, francesas e norte-americanas, os diretores da Liga mudaram sua orientação, de modo que uma clara tentativa de “normalizar” a população tornou-se o prin-cipal objeto para os médicos em seus esforços para inibir os deficientes mentais5. Os princípios da eugenia e da

higiene mental incentivavam psiquiatras que pretendiam colaborar para a criação de uma nação próspera, moderna e mais saudável4.

“O que queremos é gente de saúde mental e físico forte [.]. Eugenisemos o brasileiro, selecionemos os tipos arianos que nos procuram, escapemos à infiltração de nova dose de sangue mongólico [.]”4

Além de enfatizar a importância das ideias de degene-ração no desenvolvimento da Liga Brasileira de Higiene Mental, gostaríamos de destacar o contexto histórico que cerca seu surgimento, a influência de conceitos eugênicos em nossa conceitualização de doença mental e a forma como isso serviu de modelo para nossas ideias atuais.

Referências

1. Shorter E. A History of Psychiatry: from the era of the Asylum to the age of Prozac. New York: John Wiley & Sons; 1997.

2. Huertas R. Madness and degeneration, Part I. From ‘fallen angel’ to mentally ill. Hist Psychiatry. 1992;3(12):391-411.

3. Moreira-Almeida A, Neto FL, Koenig HG. Religiousness and mental health: a review. Rev Bras Psiquiatr. 2006;28(3):242-50.

4. Moreira-Almeida A, Silva de Almeida AA, Neto FL. History of “Spiritist madness” in Brazil. Hist Psychiatry. 2005;16(61 Pt 1):5-25.

5. Costa JF. História da Psiquiatria no Brasil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Garamond; 2007.

Carta aos Editores

Correspondência:

André Augusto Anderson Seixas, Instituto de Psiquiatria, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, CEP 05403-010, Cerqueira César, SP. Tel.: (11) 3069.6972. E-mail: aaaseixas@protoc.com.br.

Não há confl itos de interesse associados à publicação desta carta. Copyright © Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul – APRS

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