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Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul vol.28 número1

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Academic year: 2018

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Resenha

Rev Psiquiatr RS jan/abr 2006;28(1):94-97

Psicanálise e

sexualidade: tributo ao

centenário de “Três

ensaios sobre a teoria da

sexualidade” – 1905-2005

Sociedade Psicanalítica de Porto

Alegre (org.)

São Paulo, Casa do Psicólogo, 2005

Ane Marlise Port Rodrigues*

Resenha

Numa iniciativa da diretoria da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre para o ano de 2005, através da coordenação do Dr. Sérgio Lewkowicz, foi editado este tributo ao centenário de “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), de Sigmund Freud.

Merecida homenagem a um dos textos mais originais e impactantes de Freud, principalmente se o situarmos numa época de rígida moral vitoriana, na qual a “inocência” das crianças era considerada inquestionável, e predominava a idéia de que a sexualidade só viria a manifestar-s e a p a r t i r d a p u b e r d a d e, d ev i d o a o amadurecimento dos órgãos sexuais. A audácia e a coragem de Freud ao revelar sua teoria causaram veementes críticas da sociedade médica vienense e anos de isolamento.

Como diz o Dr. Sérgio Lewkowicz, em sua apresentação do livro: “Trata-se de um artigo que, por seu caráter inovador, causou sobre a cultura ocidental de sua época um impacto definitivo, ao lançar uma nova compreensão

* Psiquiatra de crianças, adolescentes e adultos. Membro efetivo, Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Professora colaboradora, Curso de Psicoterapia da Infância e Adolescência, Centro de Estudos Luís Guedes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS. Supervisora de Psiquiatria Infantil, Fundação Universitária Mário Martins, Porto Alegre, RS. Egressa do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, Porto Alegre, RS.

sobre o desenvolvimento emocional do ser h u m a n o, t a n t o e m s e u s a s p e c t o s d e normalidade como de psicopatologia”.

O caráter atual e instigante do texto de Freud é revisitado por 10 destacados autores, sendo três estrangeiros – Antonino Ferro (Itália), Ethel Spector Person (EUA) e Dana Birksted-Breen (Reino Unido) – e os demais brasileiros, membros efetivos e analistas didatas da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.

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Rev Psiquiatr RS jan/abr 2006;28(1):94-97 uma defenestração dos fenômenos psíquicos.

A psicanálise persiste na defesa desse ser psíquico, cujo inconsciente comanda muito mais do que o consciente. As descobertas de Freud e m r e l a ç ã o à p s i c o s s ex u a l i d a d e e a o inconsciente geram intensas resistências, mesmo nos dias atuais.

2 - A Dra. Ethel Person, após revisar a teoria da libido e a sua articulação com a teoria da p u l s ã o, d i s c u t e, e n q u a n t o p e r s p e c t i va s contemporâneas, quatro temas: 1) a teoria das relações de objeto; 2) as teorias de gênero; 3) a s o r i g e n s d a h e t e r o s s ex u a l i d a d e e homossexualidade; e 4) o impacto da cultura sobre sexo e gênero. Destaca que a questão atual sobre bissexualidade é se deveria ser entendida como um interesse sexual em ambos os sexos ou como uma sensação de ser ao mesmo tempo homem e mulher. Tanto neuroses como perversões passaram a ser vistas como r e s u l t a d o d e c o n f l i t o i n e r e n t e a o desenvolvimento sexual. Destaca que, com os “Três ensaios”, Freud cria uma teoria unificada da mente, na qual a vida sexual é vista como ativa a partir da infância.

3 - O Dr. Luiz Carlos Mabilde considera que uma justa homenagem a esse clássico de Freud começa com estudá-lo novamente e pensá-lo mu i t o, e n c o n t ra n d o n ovo s â n g u l o s d e obser vação e elaboração. Destaca as três descobertas sexuais fundamentais: as pulsões componentes ou parciais, a sexualidade infantil e a s é r i e c o m p l e m e n t a r. O i n c o n s c i e n t e dinâmico, a sexualidade infantil e o complexo de Édipo são três grandes descobertas que abalaram o mundo e seguem centrais para a psicanálise. O autor revisa os vários ângulos dos “Três ensaios” e lembra que, atualmente, a perversão é vista não só como defesa contra os derivados pulsionais, mas também frente ao relacionamento objetal.

4 - Segue-se a pergunta do Dr. Antonino Ferro: “Que tipo de sexualidade nos diz respeito enquanto analistas?”, e também sua “hipótese radical”. Enfatiza a sexualidade como um gênero narrativo, ou dialeto, na sala de análise. T r a z s e u s c a m i n h o s m a i s p e s s o a i s d e pensamento, sempre nas costas de Freud e Bion, como ele próprio refere. Assim, fala do acasalamento mental entre analista e paciente durante a sessão, do funcionamento onírico d a s m e n t e s , d o d e s e n v o l v i m e n t o d a c a p a c i d a d e d e t r a n s f o r m a r “ n o v e l o s e m a r a n h a d o s ” d e s e n s o r i a l i d a d e e protoemoções (elementos b) em emoções, pensamentos, afetos, através da função a. Traz vários exemplos onde considera que o relato

da “sexualidade” é um “derivado narrativo” do pensamento onírico de vigília do analista e do paciente, que narra também a qualidade de seu contínuo acasalamento mental, segundo várias modalidades ( , , , , e t c . ) . A c a r a c t e r í s t i c a d a “ n a r r a ç ã o ” p s i c a n a l í t i c a e s t á n a s u a f l u i d e z , provisoriedade e no validar-se somente a partir do seu interior. Relativiza a fenotipia dos casais que podem ser heterossexuais, mas, na realidade, bastante homossexuais, ou vice-versa. Assim, a psicanálise segue abrindo vértices de pensamento “escandalosos”, nos quais ficaria evidente que existem verdades m a i s v e r d a d e i r a s d o q u e a q u e l a s q u e aparecem ( ).

5 - Em “Sexualidade, pós-modernidade e clínica psicanalítica contemporânea”, o Dr. Cláudio Eizirik considera que os “Três ensaios” nos fornecem as bases sólidas para um edifício que constitui a perspectiva psicanalítica atual sobre a sexualidade. Questões sobre identidade de gênero, especificidades da masculinidade e da feminilidade, as neo-sexualidades, as diferentes formas de entender as perversões, os estados sexuais da mente, as peculiaridades sexuais de cada etapa do ciclo vital e como s i t u a r o h o m o s s ex u a l i s m o s ã o n ovos desdobramentos dentro do tema da sexualidade. Em sua intensa interação com a cultura, destaca que a psicanálise apresenta um crescente pluralismo teórico, em que diferentes teorias dialogam, em contraste com hegemonias fechadas de décadas anteriores; uma abertura maior para aprender, discutir e enfrentar a complexidade, a fragmentação e as incertezas, que são marcas da cultura contemporânea, e outras características atuais. Finaliza com personagens de Kafka e Roth e uma vinheta clínica para ilustrar o homo freudianus e o h o m e m p ó s - m o d e r no, o ú l t i m o bu s c a n d o desenfreadamente uma sexualidade sem limites e sem consideração pelo objeto, num vazio emocional intenso. Em tempos de fragmentação, de incerteza e de perda de espaços para a subjetividade, a psicanálise surge como teoria e como método de tratamento incidindo sobre a subjetividade moderna em crise.

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Resenha

Rev Psiquiatr RS jan/abr 2006;28(1):94-97 d e i n ve s t i r e r e c e b e r, r e p e t i n d o

s i m b o l i c a m e n t e o m o d e l o b i o l ó g i c o d a c o n j u g a ç ã o e n t r e m a s c u l i n o e fe m i n i n o. Descreve os processos de identificação como componentes formadores e como expressão do equilíbrio dinâmico da estrutura, que é v i s t a c o m o p r o d u t o e c o m o g u a r d i ã d a sexualidade. Assim, a estr utura opera no sentido de manter a estabilidade possível. Correlaciona as organizações perversas ao pólo mais próximo do nível biológico (o da descarga mental), as estruturas psicóticas ao p ó l o n a r c í s i c o ( d a c o n f u s ã o s e l f / o b j e t o decorrente dos processos de dissociação e de identificação projetiva) e as estruturas n e u r ó t i c a s a o p ó l o o b j e t a l ( d a s r e l a ç õ e s diferenciadas entre self e objeto por um ego que se organiza em torno da repressão, com possibilidades de sublimação). Considera que a e t a p a g e n i t a l d o d e s e nv o l v i m e n t o s e caracteriza pela atividade criativa da função sintética do ego, quando a estrutura, ao atingir seu nível mais elaborado de estr uturação, encena, na dimensão interna e simbólica, o equivalente ao nível biológico de procriação. 7 - O Dr. Roaldo N. Machado traz “ A q u e s t ã o d o m a s o q u i s m o o r i g i n á r io” p a r a p e n s a r m o s n o “ e n i g m á t i c o p r o bl e m a d o masoquismo”. A partir de Empédocles (ação de dois princípios fundamentais eternamente em luta), o autor percorre Freud e destaca as duas propriedades fundamentais da libido – a viscosidade e a mobilidade – e a luta constante entre pulsão de vida e pulsão de morte. No m a s o q u i s m o e r ó g e n o o r i g i n a l , o u sadomasoquismo primordial, o eu é destruído através da silenciosa atuação da pulsão de morte. Destaca a importância da presença da angústia como sinal da ruptura desta unidade p r i m e i r a d e n a r c i s i s m o a b s o l u t o (indiferenciação eu/outro; destruição do eu). A angústia seria, então, a expressão primeira da presença de Eros e indica esta projeção primária fundamental, onde o interno busca o exter no como modo de operacionalizar a criação do espaço psíquico representacional. O m o d e l o b á s i c o d o m a s o q u i s m o é o i nve s t i m e n t o l i b i d i n a l nu m a d e t e r m i n a d a excitação (quantidade), sem a transformação e m r e g i s t r o s d e ex p e r i ê n c i a d e d o r o u satisfação (qualidade). Cria-se, assim, uma adesividade da libido ao estímulo tóxico e um desatendimento da autoconser vação, como v i s t o n a s a d i ç õ e s a d r o g a s, q u a d r o s p s i c o s s o m á t i c o s, c o m p r e d o m í n i o d o pensamento operatór io ou sobreadaptado, exemplificados clinicamente pelo autor.

8 - Em “Os transtornos da sexualidade no adulto”, o Dr. Joel A. Nogueira demonstra sua preocupação quanto à liquefação que sofreram vários conceitos basais da psicanálise, como inconsciente dinâmico e repressão, sexualidade infantil perversa polimorfa, Édipo e castração. Aponta para uma acomodação simpática e “politicamente correta” de muitos psiquiatras e psicanalistas, na tentativa de maior aproximação entre a cultura e a psicanálise. Exemplifica, com a questão do homossexualismo, que ter ia perdido sua ligação com a patologia, tornando-se, simplesmente, uma opção pessoal e, muitas vezes, i d e a l i z a d a . A n e g a ç ã o d o i n t e n s o s o f r i m e n t o e m o c i o n a l , a a d a p t a ç ã o homossexual para manter uma estabilidade emocional que evita a desintegração mental e a psicose também são destacadas pelo autor. A formação da sexualidade adulta tem por base a sexualidade infantil e suas vicissitudes.

9 - A Dra. Dana Birksted-Breen acrescenta sua experiência clínica e seu pensamento teórico ao tratar da “Representação inconsciente da feminilidade”. Faz um apanhado teórico, a partir da questão freudiana da inveja do pênis nas mulheres, de como se pensa a feminilidade em Klein e nas psicanálises britânica, francesa (Lacan e outros) e americana. Contribui com a idéia de uma dualidade que está no cerne da feminilidade, na contradição entre a feminilidade negativa (que se baseia na experiência da falta) e a feminilidade positiva (que se refere à riqueza de experiências ligada ao fato de ter um corpo de mulher). Através de um caso clínico, aponta que as mulheres que mais invejam os homens são aquelas que não conseguem valorizar sua feminilidade (muito ligada à agressão oral e anal). O caráter defensivo da negação da feminilidade é relacionado com a fuga do confronto com a mãe rival e invejosa, bem como com graves ansiedades sobre o potencial danificador da vagina e do útero. A atitude fálica se configura numa fuga da falta (tanto masculina quanto feminina) e do feminino assustador. A feminilidade passa por uma negociação entre a aceitação da falta e a aceitação do cor po feminino.

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Rev Psiquiatr RS jan/abr 2006;28(1):94-97 tendência inata à integração, da qual decorrem

as tarefas e as necessidades vitais, quais sejam, as de ter de continuar a ser e amadurecer. Para isso, depende de uma relação especial e primitiva com a mãe, que independe da situação edípica e que ainda não é objetal, pois o bebê ainda não é uma unidade. Assim, o bebê não tem desejos, mas necessidades, e as forças instintivas estão tão fora dele quanto os fenômenos naturais. Através do relato de atendimentos de díades mãe-bebê, a autora referenda a importância fundamental do vínculo primitivo e do espaço do “vir a ser”, básico para o desenvolvimento da sexualidade. Considera que o tema da sexualidade do bebê é muito complexo, quer pelo fato de o bebê (um ser dependente total) não a possuir, quer pelo fato de o meio ambiente interfer ir, saudável ou p a t o l o g i c a m e n t e, n o d e s e nvo l v i m e n t o d a sexualidade.

Como vemos, é uma leitura que contribui para uma revisão atualizada dos pensamentos de Freud nos “Três ensaios” e traz novos d e s d o b ra m e n t o s e m r e l a ç ã o a o t e m a d a sexualidade, que segue atual e polêmico.

Title: Review of the book entitled Psicanálise e sexualidade: tributo ao centenário de três ensaios sobre uma teoria da sexualidade – 1905-2005 Título: Reseña del libro Psicanálise e sexualidade: tributo ao centenário de três ensaios sobre uma teoria da sexualidade – 1905-2005

Correspondência:

Dra. Ane Marlise Port Rodrigues Rua Germando Gündlach, 127/15 CEP 91330-350 – Porto Alegre – RS E-mail: anempr@via-rs.net

Referências

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