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CAPÍTULO NONO ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA FORMAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL DOS ALUNOS DO ENSINO ESCUNDÁRIO

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Academic year: 2021

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DA FORMAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL

DOS ALUNOS DO ENSINO ESCUNDÁRIO

0. Premissa

Após uma análise interpretativa à volta da dimensão moral dos alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, abrangendo alguns aspectos que mais realçam os seus comporta-mentos e atitudes pessoais, em particular, a utilização dos meios de comunicação de massa, as relações psico-afectivas e sexuais e a experiência religiosa e interiorização dos valores éticos, passaremos a desenvolver um segundo bloco, deste estudo integral dos alunos, que se interes-sa, essencialmente, da dimensão profissional nas suas duas vertentes complementares: a for-mação pessoal do estudante e a sua orientação à profissão segundo os ciclos do ensino, acima referido. Ser pessoa e ser profissional é para o estudante uma tarefa educativa e instrutiva que se aprende num espaço bem determinado que é a escola, além de outras instituições análogas, onde ele desenvolve todas as suas faculdades mediante o exercício de auto-domínio e equilí-brio da sua personalidade e de actualização dos seus conhecimentos teóricos e técnicos adqui-ridos.

O estudo sobre a formação pessoal e profissional dos adolescentes estudantes está enquadrado no âmbito das escolas secundárias de Cabo Verde, às quais compete a tarefa da educação-instrução, para que os alunos possam crescer como pessoa humana na sua integri-dade e sejam orientados para a realização pessoal através da escolha de uma profissão. Portan-to, a escola deve exercer as suas funções em relação aos seus alunos, quer a nível de “educa-ção”, enquanto transmissão de valores de condutas comportamentais e de atitudes, quer a nível de “instrução”, enquanto, transmissão de conteúdos, de noções, de competências

especí-ficas, segundo o plano curricular1. Para que as escolas possam exercer essas funções no acto

educativo e em prol do desenvolvimento integral dos alunos, o Sistema Educativo deve

1 R. MANTEGAZZA et ali., Pensare la Scuola. Contraddizioni e interrogativi tra storia e quotidianità, Milano, Mondatori, 2006, p. 25.

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cer o instrumento necessário e que seja realmente pedagógico e independente das ideologias partidárias e do sectarismo religioso, embora se saiba que as escolas reflectem a imagem da sociedade e da cultura que se vive internamente. Todavia, seria bom que o sistema do ensino cabo-verdiano pudesse resgatar em todas as disciplinas os valores éticos, estéticos e religiosos como modelos educativos de personagens históricas e culturais que tiveram sucesso na vida do ponto de vista moral, profissional e religioso para serem apresentados aos alunos. Essa modalidade exortativa está bem patente no pensamento de E. Catarsi: percorrendo a história dos programas curriculares no seio das escolas, os alunos acabarão por aprender os fundamen-tos das disciplinas, como também, muifundamen-tos outros ensinamenfundamen-tos morais e indicações para o

melhoramento das suas condutas e das suas atitudes em relação à vida social e profissional2.

Além daquilo que já foi dito sobre a formação moral psico-afectiva e religiosa dos alunos, pode-se acrescentar, ainda, que a formação pessoal dos estudantes do Ensino Secundá-rio mira desenvolver a sua personalidade e dotá-los de instrumentos e recursos necessáSecundá-rios para que possam assumir um comportamento autónomo e responsável e sejam capazes de enfrentar problemas com racionalidade e com espírito criativo e inovador. A outra face da mesma personalidade, a formação ou orientação profissional incide sobre o desabrochamento das potencialidades dos alunos. Os quais devem ser apoiados e orientados a produzirem os seus próprios instrumentos, avaliando as suas competências, habilidades, os seus interesses e

desejos para a realização do seu projecto de vida profissional ou vocacional3.

Portanto, todo o trabalho de investigação à volta da dimensão pessoal e profissional tem como finalidade hipotética demonstrar a necessidade de uma efectiva orientação dos alu-nos que estudam a disciplina curricular, “Formação Pessoal e Social”, implementada pelo Sistema Educativo, quer a nível de metodologia quer a nível de conteúdos que serão apresen-tados como resultado operativo na IV parte deste estudo empírico. E o estudo que se pretende analisar neste capítulo mira, antes de tudo, focalizar o uso que os alunos fazem do seu tempo livre como momento de crescimento pessoal, em segundo lugar, a importância das escolas secundárias na formação pessoal e profissional dos alunos, enfim, a percepção que os alunos têm de si mesmos e do seu projecto de vida.

2 Cf. E. CATARSI, Storia dei programmi della scuola elementare, Firenze, La Nuova Itália, 1990. 3 B. P. CAMPOS, Educação e desenvolvimento pessoal e social, Porto, Afrontamento, 1991, p. 121

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1. A formação pessoal-profissional

no Ensino Secundário de Cabo Verde

O estudo sobre a utilização do tempo livre que acabamos de realçar quis demonstrar, antes de tudo, o aspecto de uma educação informal que merece ser tomado em consideração quer por parte das famílias quer por parte das escolas em benefício da formação pessoal dos estudantes do Ensino Secundário e com objectivos de torná-los agentes e protagonistas do seu desempenho na sociedade, do ponto de vista moral, profissional e social. O tempo livre, como já foi dito, deve ser encarado, na perspectiva dos alunos, como um processo contínuo do tem-po escolar, precisamente tem-porque o fim que se mira é a formação integral da personalidade de cada indivíduo que se encontra nesse processo de ensino e aprendizagem.

Após essas considerações, procuraremos analisar um conjunto de dados que reflec-tem a importância da formação pessoal e profissional dos alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, com o objectivo de compreender em profundidade não só o aspecto material das escolas, mas, sobretudo, o seu aspecto relacional como factores indispensáveis nesse processo de formação do indivíduo em fase de crescimento. De facto, a compreensão das reais necessi-dades, dos interesses profundos, das habilidades e competências dos alunos não depende somente daquilo que os professores e os educadores ensinam materialmente, mas, também do tipo de “relacionamento educativo” que estes instauram com aqueles e vice-versa. É impor-tante que todos os professores saibam enxergar essas dimensões relacionais-materiais no acto educativo e formativo, como factores indispensáveis quer para a formação de carácter pessoal quer para a formação de competência profissional dos alunos. Precisamente porque o relacio-namento entre alunos e professores baseia-se na confiança recíproca, na promoção de auto-nomia e liberdade pessoal e interpessoal, como também no processo do ensino-aprendizagem através do programa curricular e de tudo aquilo que configura a identidade de um determina-do estabelecimento escolar. São condições essenciais que exigem de todetermina-dos um esforço e pro-jecção colegial no ensino e aprendizagem de modo que os alunos e os professores tenham a consciência do papel que compete a cada um no acto educativo e que saibam conhecer o

limi-te de um bom e são relacionamento4.

Embora a escola seja uma agência fundamental no processo de ensino-aprendizagem, na sociedade actual ela não é considerada como única que desempenha um papel formativo e educativo. Apesar de muitos outros canais sociais que veiculam as informações e contribuem

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para a formação pessoal e profissional da juventude, é bom que a escola mantenha no meio de tudo isso a sua centralidade como factor catalizador de tudo aquilo que a sociedade produz em termos de material, de ideias e culturas, e que ela seja capaz de criar novos modelos culturais como forma de satisfazer as expectativas e os interesses dos seus alunos, e que saiba, ainda, valorizar todos os seus recursos humanos através da actualização e formação permanente segundo as necessidades do tempo presente.

É nessa perspectiva que as escolas secundárias de Cabo Verde devem envidar todo o esforço para manter a sua centralidade no campo formativo e educativo através duma profun-da renovação e reestruturação dos seus estabelecimentos, a remodelação profun-da metodologia e estratégia do ensino-aprendizagem envolvendo todo o pessoal do sistema, os pais e a socieda-de civil, nessa dinâmica socieda-de reconstrução socieda-de uma sociedasocieda-de competitiva moral e profissional-mente capaz de dar respostas e oferecer oportunidades a todos os cidadãos. É também nesse sentido que vamos analisar os dados inqueridos debruçando-nos sobre os aspectos que carac-terizam os estabelecimentos do ensino e as suas carências; as expectativas dos alunos e as tarefas das escolas secundárias; de forma particular, analisaremos as funções da formação pessoal e social nos liceus; enfim o envolvimento dos pais nas actividades escolares ou extra-escolares.

1.1 Os estabelecimentos escolares e suas carências

O enquadramento analítico dos estabelecimentos do ensino escolar de Cabo Verde não mira somente uma constatação daquilo que os alunos sabem e conhecem, mas são uma tentativa de valorizar essas estruturas numa perspectiva de compreender que a escola não é somente uma representação social, mas um meio capaz de produzir cultura e de transformar a própria sociedade através de conhecimentos e formação pessoal e profissional dos sujeitos que devem contribuir para esse fim. Mais do que conhecimentos teóricos e desarticulados dos interesses sociais, é urgente que o Sistema Educativo cabo-verdiano pense na estruturação e organização dos estabelecimentos do ensino em função de preparar os alunos para o seu futu-ro como pessoas e como pfutu-rofissionais, segundo as reais necessidades do País. Daí a necessi-dade de transformar as escolas secundárias, como já foi dito, num instrumento eficaz para o desenvolvimento do país, no sentido que deve elaborar «modelos formativos para os cidadãos

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e abrir-se para fora de si e perguntar o que a sociedade espera da sua instrução»5 e da educa-ção dos cidadãos.

A formação académica dos alunos depende da eficácia das estruturas e apetrecha-mento dos estabeleciapetrecha-mentos, da formação e competência profissional e moral dos professores, dum conjunto de relações que as escolas conseguem estabelecer com pais, encarregados da educação e com a sociedade civil, das metodologias e estratégias do ensino e dos subsídios didácticos e técnicos que facilitam a aprendizagem. São pressupostos fundamentais para motivar e sensibilizar os alunos no processo da sua formação pessoal, moral e profissional. São essas e outras condições que vamos analisar através das percepções dos próprios alunos, protagonistas primários da sua formação e educação.

Em termos de edifícios para as escolas do Ensino Básico Integrado e Secundário, o arquipélago de Cabo Verde está bastante beneficiado. O que falta é a sua organização e o ape-trechamento com meios necessários para o seu bom funcionamento, de modo a orientar os alunos para a formação profissional em vista da sua integração social no futuro. E no que se refere ao Ensino Superior, pode-se dizer que está em fase embrionária e com boa perspectiva para o futuro. De acordo com os dados colhidos junto dos alunos, Cabo Verde tem, na genera-lidade, todos os estabelecimentos do ensino (cf. Fig. 30).

Fig. 30: Conhecimento dos alunos sobre os estabelecimentos do ensino em Cabo Verde (em %)

É de salientar que os Institutos do Ensino Médio e Superior e as Universidades (41,1%) se encontram somente nas Ilhas de Santiago e S. Vicente. Ao passo que os Estabele-cimentos do Ensino Básico Integrado (77,6%) e Ensino Secundário (97%) estão presentes em

5 M. RIGHETTI, imparare ad essere, Bologna, Pitagora, 2000, p. 80. 77,6 97 58,5 56,1 41,1 47,7 55,6 53,5 54,5 9,3 0 20 40 60 80 100 120 E . B á s ic o E .S e c u n d á ri a E . T é c n ic a O fi c in a p ro fi s s io n a l E n s in o S u p e ri o r S e m in á ri o re lig io s o E s c o la d e m ú s ic a E s c o la d e d a n ç a E s c o la d e ju d o e k a ra té O u tr o s

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todas as ilhas, e a Ensino Técnico (58,5%) nas ilhas de Santiago, S. Vicente e S. Antão (cf. Fig. 30).

Isso demonstra que os alunos já têm um conhecimento básico de todos os estabele-cimentos presentes nas ilhas de Cabo Verde. É a partir desse conhecimento objectivo dos alu-nos, que os professores e educadores devem explicar o sentido, o significado e a finalidade de cada estabelecimento escolar, para que os alunos possam interiorizar a importância que as escolas têm na sua vida pessoal e profissional, e no desenvolvimento da sociedade, em geral.

Continuando no campo do nosso estudo, nota-se que há um certo desequilíbrio pro-porcional no sistema do Ensino Secundário em Cabo Verde, aliás, não há uma divisão equita-tiva em termos de estabelecimentos e de programas curriculares entre as Escolas Secundárias e Escolas Técnicas. Embora o programa curricular seja demasiadamente teórico para ambas as escolas, a necessidade de encontrar um equilíbrio proporcional entre as duas vias e com uma presença equitativa em todas as ilhas é mais do que urgente nesta época fortemente marcada pelo conhecimento informático e tecnológico. A atenção ao desenvolvimento das tecnologias que abrange todos os sectores da sociedade é indispensável para revermos a instrução escolar do país e criar condições operativas nos estabelecimentos, tendo em conta que a era de

globa-lização afecta a vida de todos, individual e colectivamente6.

Conforme os dados recolhidos e segundo a opinião dos alunos, apuramos que os estabelecimentos do ensino em Cabo Verde estão condicionados pelas carências de vária

ordem, que merecem ser tomadas em considerações para o prosseguimento e revisão do

sis-tema do ensino escolar. E para uma melhor compreensão desses condicionamentos, analisa-remos os níveis de carências que afligem as escolas do País na sua generalidade. Antes de tudo, as escolas enfrentam carências de recursos materiais didácticos, tecnológicos, activida-des exescolares e nota-se ainda que há uma separação entre formação profissional e o tra-balho produtivo; em segundo lugar, há necessidade de maior formação de quadro docente especializado na área da educação e um maior envolvimento dos professores, dos alunos e dos pais na vida da escola; em terceiro lugar, verifica-se que reina conflito entre professores e alunos e há falta de pessoal especializado na área do comportamento e da saúde psico-afectiva dos alunos; enfim, é bastante visível o desinteresse do Ministério da Educação e o isolamento das escolas em relação ao centro da cidade. São estes grupos de carências que, muitas vezes, desmotivam todo o corpo do sistema escolar e, por isso, os alunos são termómetros

6 Cf. A. GRAMIGNA, Manuale di pedagogia sociale. Scenari del presente e azione educativa, Roma, Armando, 2003, p. 89.

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sáveis para conhecermos, de facto, como é a situação das escolas, enquanto instituições edu-cativas.

O contexto material da escola – espaço, carga horária, corpo de pessoal, códigos,

objectos7 – é fundamental para que haja a implementação do ensino-aprendizagem com

eficá-cia e capacidade de formar os alunos, pessoal e tecnicamente instruídos. Para além de tudo isso, é importante que verifiquemos o nível de recursos didácticos, tecnológicos, actividades

extra-escolares e o tipo de relacionamento entre a formação profissional e o mundo do traba-lho produtivo. O ensino escolar pressupõe um conjunto de materiais didácticos para o normal

desenrolar do estudo dos alunos. 29,1% dos alunos entrevistados acham que ainda existe uma certa carência de materiais didácticos para o acompanhamento das lições e para o estudo de cada disciplina. Os alunos das ilhas de Sotavento (34%) denotam essa carência mais do que os alunos de Barlavento (24,8%). Nesse âmbito de meios didácticos, acrescentamos mais um aspecto bastante pertinente, que é a falta de uma presença efectiva da nova tecnologia no seio dos estabelecimentos do ensino escolar. Trata-se de laboratório científico e dos meios infor-máticos para a actualização prática daquilo que se aprende em teoria. De facto, 51,8% dos alunos confirmam essa carência nas escolas de Cabo Verde. A diferença entre as ilhas é rela-tivamente insignificante. Todos os alunos aprovam e sentem a mesma necessidade de acom-panhar o tempo com uma formação à altura do seu conhecimento.

Como já foi referido anteriormente, a escola não é a única agência no campo de for-mação e inforfor-mação, e para manter a sua centralidade no acto educativo é bom que entre em jogo de colaboração com outros sectores e instituições sociais devidamente organizados a fim de oferecer aos alunos um leque de actividades extra-escolares. Dos que foram entrevistados apuramos que 38,1% dos alunos são de opinião que existe nos estabelecimentos do ensino

uma carência de organização de actividades extra-escolares. Isso demonstra uma certa

auto-exclusão e pouca flexibilidade e abertura ao mundo externo da parte das escolas. Essa caracte-rística é mais sentida pelos alunos das ilhas de Barlavento (40,4%) do que pelos alunos das outras ilhas de Sotavento (35,8%).

Além de muitos outros objectivos preconizados pelo sistema do ensino, também, o desejo de estreitar as ligações do ensino e da formação profissional ao campo do trabalho

produtivo continua a ser para os estudantes (37,4%) uma das tantas carências encontradas no

seio dos estabelecimentos do ensino cabo-verdiano. Os alunos das ilhas estão unanimemente de acordo em afirmar que existe essa lacuna: Barlavento (37,5%) e Sotavento (37,3%). É um indício de que é necessário rever a formação académica e profissional dos alunos em vista de

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um trabalho efectivo como forma de engajamento e integração social. O aproveitamento esco-lar depende muito da objectividade dos alunos, isto é, em vista de um trabalho rentável do ponto de vista económico e cultural.

Um segundo nível de carências constatado pelos alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, refere-se à actualização ou reciclagem formativa dos professores e o

envolvi-mento destes, dos alunos, pais e encarregados de educação nas actividades escolares. Os

alunos do Ensino Secundário têm uma gama de possibilidade para confrontar os níveis e as competências dos professores. Não é o caso ser indiferente à sua percepção, porque cada tur-ma tem a possibilidade de assistir às aulas de 7 ou 9 professores ao logo do ano lectivo. Per-cebem muito bem se o nível de formação e de conhecimento do professor vai para além dos conteúdos escolares. Certo é que os dados conferidos apontam que 42,3% dos alunos acham que há uma carência de reciclagem ou de actualização dos professores. Essa preocupação para com a formação dos professores é mais manifestada pelos alunos de Sotavento (45,5%) do que pelos alunos de Barlavento (39,7%). Certo é que a competência profissional dos pro-fessores é um incentivo para a formação moral, profissional e social dos alunos, e se isso não se verificar, teremos como resultado o fracasso, a frustração e a indisciplina quer da parte dos alunos quer da parte dos próprios professores.

Se partirmos do princípio que a escola é um espaço educativo e formativo da pessoa humana, então, ela deve desempenhar um papel de maior envolvimento de todo o seu pessoal, (professores, alunos, empregados, funcionários, pais e encarregados da educação). É sobre esse tipo de sinergia em termos de relacionamento e de capacitação dos recursos humanos, que gostaríamos que os alunos exprimissem o seu ponto de vista como pessoas que vivem em primeira pessoa esse protagonismo na criação de uma escola à altura dos seus objectivos. Constatamos que 37,2% dos alunos assinalam um fraco de envolvimento dos professores na participação das actividades escolares. Embora a diferença não seja alta, verifica-se que os alunos de Barlavento (39,2%) apontam mais para esse tipo de carência do que os de Sotavento (35%). Doutro lado, são os próprios alunos que não se sentem envolvidos, totalmente, pelas escolas (48,1%). Essa sensação é manifestada unanimemente quer pelos alunos de Barlavento (47,1%) quer pelos alunos de Sotavento (49,3%). Enfim, além dos professores e alunos, os dados revelam que 47,1% dos alunos é de opinião que há um fraco envolvimento dos pais nas actividades dos estabelecimentos do ensino escolar. Essa carência é mais elevada nas ilhas de Sotavento (50,5%) do que nas outras de Barlavento (44,2%).

A individualização de um terceiro nível de carência nos estabelecimentos do ensino aponta, essencialmente, para o conflito entre professores e alunos e a fraca presença de

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compor-tamento e o estado emocional dos alunos e do corpo docente. A questão do conflito é uma situação não pouco pedagógica, e é a consequência de uma certa promiscuidade no tipo de relacionamento e da perda de autoridade moral dos professores. Nesse sentido, evidenciamos que 46% dos alunos admitem que há relações conflituosas entre professores e alunos. Essa situação é notória quer nas ilhas de Barlavento (46,9%) quer nas outras de Sotavento (45,1%).

Daí a necessidade de uma equipa de orientação ou de um consultório psico-pedagógico capaz de intervir e prevenir os alunos e a escola toda em relação dos comporta-mentos não condizentes com os objectivos e finalidades da educação que se pretende através dos estabelecimentos do Ensino. Na verdade, 48,9% dos alunos afirmam que há uma escassez

de presença do pessoal especializado (pedagogos, psicólogos, médicos e assistentes sociais)

no seio das escolas do País. Os alunos de Barlavento (51,4%) sentem um pouco mais essa necessidade do que os de Sotavento (45,9%).

Tab. 28: As carências nos estabelecimentos do ensino em Cabo Verde Segundo os alunos das ilhas Barlavento e Sotavento (em %)

Grupo de ilhas Total Barlavento Sotavento

Carência de subsídios didácticos 29,1 24,8 34,0

Carências de novas tecnologias 51,8 53,1 50,3

Carências de actividades extra-escolares 38,1 40,4 35,8

Carências de relações entre escola e o trabalho produtivo 37,4 37,5 37,3

Carência de reciclagem dos professores 42,3 39,7 45,5

Fraco envolvimento dos professores 37,2 39,2 35,0

Fraco envolvimento dos alunos 48,1 47,1 49,3

Fraco envolvimento dos pais 47,1 44,2 50,5

Relações de conflito - professores-alunos 46,0 46,9 45,1 Escassez de pessoal especializado (pedagogos, psicólogos …) 48,9 51,4 45,9

Desinteresse do Ministério da Educação 23,7 25,3 21,8

Isolamento/distância da escola em relação às zonas de residência 25,1 22,1 28,5

Outros 4,0 5,4 2,5

Não respondido 3,1 3,4 2,9

Por último, os alunos apontam outros elementos nesse arco de carências, mais con-cretamente, o desinteresse do Ministério da Educação e o isolamento das residências em

relação às escolas do centro urbano. A presença encorajadora, contínua e sistemática do

pes-soal do Ministério da Educação fortalece a participação e o envolvimento de todo o corpo pessoal dos estabelecimentos do ensino. Segundo os dados relativos a essa carência, 23,7%

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dos alunos é de opinião que há um certo desinteresse do Ministério da Educação em relação aos estabelecimentos do Ensino. Essa sensação é mais expressa pelos alunos de Barlavento (25,3%) do que pelos alunos de Sotavento (21,8%). Um outro problema que dificulta muitos os alunos é o isolamento ou a distância das escolas em relação às zonas de residência. De facto, 25,1% dos alunos admitem que há essa dificuldade. Isso é mais sentido pelos alunos das ilhas de Sotavento (28,5%), onde muitas aldeias estão distantes dos centros urbanos, do que nas ilhas de Barlavento (22,1%), onde elas são um pouco mais concentradas. (cf. Tab. 28).

Os dados que acabamos de apontar demonstram as reais preocupações dos alunos perante uma série de carências que afectam os estabelecimentos do Ensino Secundário e, por conseguinte, põem em causa a sua própria formação pessoal e profissional. No que se refere aos meios didácticos e tecnológicos, é importante que se diga que nessa nova conjuntura socio-económica e cultural do mundo actual o manuseamento da tecnologia e da informática está sendo uma necessidade indispensável para todos os estudantes, também, para os alunos cabo-verdianos. Perante o processo de globalização que se avizinha dia após dia, os alunos da era pós-moderna não podem ficar indiferentes, precisamente, porque, como afirma A. Gra-migna, «não se pode viver no mundo actual, com legítimas pretensões de emancipação e par-ticipação, sem a percepção do espaço sistémico da informação-comunicação que torna

instan-tâneos e uniformes também os lugares mais distantes»8. O direito à educação implica

necessa-riamente os meios apropriados para o desenvolvimento da própria potencialidade interna e a competência profissional do saber fazer como factor de integração social. Além disso, é fun-damental que as escolas envolvam todo o seu pessoal (professores, alunos, empregados, pais e encarregados de educação, entidades civis) como suporte que dá credibilidade às suas activi-dades educativas e formativas, e incentivam os alunos na busca de projectos concretos para a sua realização como pessoas e como profissionais.

Um outro aspecto que merece encontrar um justo equilíbrio educativo, consiste no modo como as escolas se situam em relação a tudo aquilo que os alunos aprendem fora do contexto escolar. É que as escolas do Ensino Secundário não podem ficar indiferentes perante um conjunto de acções educativas extra-escolares. Antes, tudo aquilo que os alunos aprendem no extra-escolar é um complemento da instrução formal que recebem no ensino escolar. Não há nenhuma incompatibilidade entre o escolar e o extra-escolar como observa muito bem C. Scurati, quando diz que: «são dois modos distintos mas não incompatíveis para realizar o apoio educativo para o crescimento da pessoa numa continuidade que não os aniquila, mas os

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deixa subsistir nas suas justificações de natureza histórica, institucional e metodológica»9. É bom que as escolas saibam valorizar todos os conhecimentos e informações extra-escolares como meios eficazes para tornar os alunos mais sensíveis e críticos perante os problemas soais, sociais e mundiais. Essa modalidade extra-escolar não só desperta o sentido de ser pes-soa aqui e agora como, também, pode despertar o sentido de um maior engajamento no campo profissional para a sua realização pessoal e social.

Numa sociedade competitiva nem sempre é visível uma ligação objectiva entre esco-la e o mundo do emprego e do trabalho produtivo. Entretanto, é justo que os alunos apreciem ao longo da sua formação académica a possibilidade de uma eventual ligação entre o estudo e o campo de trabalho, porque a falta dessa perspectiva real e objectiva cria neles sentimentos de desânimo, desmotivação e frustração nos estudos, por conseguinte, compromete o seu futu-ro.

1.2 As tarefas dos liceus e as expectativas dos alunos

Uma abordagem empírica que abrange as tarefas implementadas nas escolas do Ensino Secundário e as reais expectativas dos alunos, pretende, essencialmente, conhecer mais de perto a maneira como os próprios alunos avaliam as tarefas formativas dos liceus, e se tudo isso satisfaz as suas exigências intrínsecas e extrínsecas, e enxerga os objectivos prioritá-rios na planificação das actividades didácticas. Perante esse quadro de interesses e expectati-vas é possível individualizar alguns aspectos que merecem ser apoiados, reforçados e incenti-vados para que a educação e a formação dos alunos sejam realmente enquadradas consoante os objectivos que propusemos neste estudo e na implementação de um plano de formação moral, profissional e social dos estudantes do Ensino Secundário.

A interpelação dos alunos a avaliar os aspectos educativos das escolas é um modo correcto e científico de averiguar no terreno a credibilidade das actividades didácticas admi-nistradas pelas escolas secundárias em função das hipóteses que se quer verificar à volta daquilo que os estabelecimentos ensinam. Isso leva-nos a ter uma ideia objectiva sobre o nível da sua relevância na formação pessoal-profissional, moral e social dos alunos. Muitas vezes, a rapidez que os professores têm no cumprimento do programa académico, acaba por atropelar outros factores importantes que devem concorrer na formação integral dos alunos.

9 C. SCURATI, Scuola ed extrascuola nella prospettiva italiana, in La scuola de base, “Ricerche Pedagogiche”, numero monografico 100-101, luglio-dicembre, 1991, p. 53, citato por A. GRAMIGNA, Manuale di pedagogia

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É bom que se diga, sem complexo, que a maioria dos alunos cabo-verdianos provêm de famílias em desvantagem cultural e social, por conseguinte, têm muita dificuldade na assi-milação dos conteúdos escolares, dos modelos e das atitudes comportamentais preconizados pelas escolas. Daí a necessidade de muito cuidado e atenção no acto educativo e na instrução escolar para que a socialização dos alunos seja efectiva e respeite a liberdade e os direitos de saber as razões daquilo que é proposto como valor, norma e lei. Muitas vezes acontece, como observa o R. Marques: «A dimensão socializadora do currículo é dificultada por um modelo de escola que não fixa nem estabiliza os professores, que fomenta relações interpessoais e desumanizadas e que se preocupa mais com a competição e o individualismo do que com a

tolerância, a preocupação pelos outros, o respeito pela diferença e a cooperação»10.

E para que se evite essa dificuldade, analisaremos os pontos de vista dos alunos, na esperança de poder encontrar uma estratégia viável e que venha ao encontro das suas necessi-dades, dos seus interesses e que respeite o seu modo de encarar a sua formação pessoal, cultu-ral e mocultu-ral além dos conteúdos didácticos que se lhes quer ensinar.

1.2.1 A avaliação das tarefas formativas nos Liceus

As actividades escolares miram, em princípio, a formação integral dos alunos e a sua integração social mediante o desenvolvimento da sua competência profissional e a sua reali-zação pessoal através dum projecto de vida. Partindo destes pressupostos, é fácil conceber o plano curricular, os estabelecimentos do ensino, o quadro docente e o corpo pessoal, numa perspectiva mais ampla de uma simples instrução escolar, antes, são meios indispensáveis para a construção de um país através do investimento na formação dos cidadãos. É nessa perspectiva que se considera todo o ensino-aprendizagem que se realiza no interior dos esta-belecimentos escolares e todas as tarefas formativas desenvolvidas nos liceus de Cabo Verde como um investimento na formação moral, cultural, social, pessoal e profissional das crian-ças, adolescentes estudantes.

É sobre esses objectivos que gostaríamos que os alunos fizessem uma avaliação segundo as suas experiências e vivências pessoais. Além dos resultados na sua totalidade, verificamos os pontos de vista dos alunos de Barlavento e Sotavento para termos uma ideia geral. Antes de tudo, debruçar-nos-emos sobre os dados que caracterizam o nível da formação

moral, pessoal-profissional e social dos alunos. Sabe-se que a instrução mira essencialmente

10 R. MARQUES, Educação cívica, e desenvolvimento pessoal e social – objectivos, conteúdos e métodos, Lis-boa, Texto Editora, 1995, p. 7.

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o desenvolvimento cognitivo ou intelectual dos alunos e, por conseguinte, transmite o patri-mónio cultural como factor exógeno para o cumprimento do processo desse desenvolvimento integral do indivíduo. Segundo os alunos, a formação cultural na escola secundária é, em primeiro lugar, suficiente (32,4%); em segundo lugar a classificação é de boa (25,4%); em terceiro lugar, os alunos acham que é fraquíssima (19,4%). Ainda, 11,6% são de opinião que essa formação é insuficiente e 9,4% dos alunos atribui uma avaliação de muito bom. Compa-rando os resultados das várias ilhas, nota-se que os de Sotavento (M.3.05) fazem uma avalia-ção um pouco mais elevada do que os de Barlavento (M.2.83).

A instrução e a educação nas escolas servem para ajudar os alunos a cultivar o senti-do moral e ético na sua vida. Os dasenti-dos que foram apurasenti-dos apontam para uma certa insufi-ciência nesse sentido. De facto, 29% dos alunos acham que a formação moral é suficiente, ao passo que 28% são de opinião que isso é insuficiente. Apenas 18,3% afirmam que isso é bom, 13,6% que é fraquíssimo, ao passo que somente 7,4% são de opinião que é muito bom. Quer no Barlavento quer no Sotavento, os alunos têm a mesma opinião acerca dessa avaliação (M.2.77).

A assimilação dos conteúdos escolares não só aumenta o conhecimento, como tam-bém, prepara os alunos em vista de uma profissão. Embora não seja uma maioria qualificada, os dados indicam que os alunos das escolas secundárias reconhecem que esse objectivo está presente no acto de ensinar. Conforme os entrevistados, 32,1% admitem que é suficiente; 24,2% são de opinião que isso é bom; somente 18,9% dos alunos concordam que é insuficien-te. Dos outros entrevistados, identificamos que 12,1% aplicam uma avaliação de muito bom, apenas 8,8% acham que esse modo de preparar é fraquíssimo. Nessa avaliação verificamos que há uma diferença pouco consistente entre os alunos de Sotavento (M.3.17) e os alunos de Barlavento (M 3.08).

Certo é que a instrução escolar contribui para que a socialização dos alunos aconteça de forma progressiva e abranja vários aspectos da sua vida. Além do desenvolvimento da sua sociabilidade, leva os alunos a ter uma consciência positiva da sua participação activa na polí-tica, enquanto cidadãos, a relacionar-se com o seu meio ambiente, com o intuito de ajudá-los a compreender o valor da natureza na sua vida e na vida de todos os seres vivos. Na perspec-tiva de uma avaliação objecperspec-tiva no seio da escola secundária acerca da formação social,

polí-tica e ambiental, 34,7% dos alunos são da opinião que esse aspecto é suficiente; 22% acham

que isso é bom; somente 18,6% afirmam que isso é Insuficiente. Entretanto, atestamos que um pequeno grupo de alunos (10,6%) é de opinião que essa formação é muito boa. Apenas, 9,6% considera-a fraquíssima. Nessa linha de avaliação, verificamos que é um pouco mais elevada para os alunos de Sotavento (M.3.11) do que para os alunos de Barlavento (M.3.01).

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Tudo aquilo que o aluno aprende através do ensino escolar é para despertar a sua capacidade e torná-lo mais hábil na sua forma de pensar e agir. De facto, 33,2% dos alunos são de opinião que a formação da escola secundária contribui de forma suficiente para a

valo-rização das suas capacidades, e 27,7% dos alunos acham que esse aspecto é bom; 15% é de

acordo que isso é muito bom; somente 11,1% dos alunos afirmam que esse aspecto valorativo é Insuficiente; 7,6% são do parecer que isso é fraquíssimo. Há uma diferença relativa entre os alunos de Sotavento (M.3.41), onde se regista uma tendência mais elevada do que os de Bar-lavento (M.3.26).

A formação pessoal aprende-se através do relacionamento de pessoas e de institui-ções como critério ético e valorativo para o crescimento da própria pessoa. É importante para os alunos que a escola secundária estabeleça relação de colaboração e cooperação com

outras escolas. De facto, a interiorização desse relacionamento da parte dos adolescentes

estudantes, além do ambiente familiar, acontece através da escola, sobretudo, no seu modo de colaborar com outras instituições educativas. Na opinião dos alunos, o intercâmbio que as

escolas secundárias fazem com outras escolas é, em primeiro lugar, suficiente (30,2%); em

segundo lugar, 21,8% dos alunos são de opinião que isso é bom. Apenas, 17,4% dos alunos acham que esse aspecto é fraquíssimo, e 14,5% que é insuficiente. Somente, 11,7% fizeram uma avaliação superlativa (muito bom). Entretanto, constatamos que há uma diferença entre os alunos das ilhas de Sotavento (M.3.20) com uma avaliação relativamente mais elevada do que os de Barlavento (M.2.74).

Sempre nessa linha de colaboração, a escola tem um papel importante na formação e na educação dos alunos ao valor de solidariedade e altruísmo. Nesse sentido, registamos que 30,7% dos alunos fazem uma avaliação suficiente, dizendo que a escola secundária de Cabo Verde orienta os alunos a colaborar com os outros; 29,9% são de opinião que essa avaliação é boa; 15% acham que é muito boa; somente, 13,5% são de opinião que isso é insuficiente, e 6,9% acham que é fraquíssima. Embora a diferença não seja relevante, os alunos do Sotavento (M.3.43) apresentam uma avaliação mais elevada do que os de Barlavento (M.3.26).

As actividades formativas e educativas administradas pelos estabelecimentos do ensino, conforme as leis de base presentes no Sistema Educativo, têm como objectivo, entre tantos outros, preparar os alunos para o futuro, quer do ponto de vista profissional quer do ponto de vista pessoal, enquanto realização do seu projecto vida familiar, religiosa e profis-sional. Directa ou indirectamente os estudantes devem perceber essa abertura à vida futura no desenrolar do acto educativo. Daí a necessidade de averiguar os juízos que os alunos fazem sobre esse aspecto formativo nas escolas secundárias de Cabo Verde. Antes de tudo, os alunos entrevistados são interpelados a avaliar um aspecto bastante pertinente para a sua inserção

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social no futuro médio e longo prazo, isto é, se a formação escolar oferece a possibilidade de

encontrar um trabalho. Entre os alunos, topamos que 28,6% acham que isso é apenas

sufi-ciente; 20,7% deram um parecer de bom, igualmente, 20,7% diz que essa possibilidade é Insuficiente, ao passo que 13,5% dos alunos manifestam o seu juízo dizendo que é fraquíssi-mo, e 13,4% que é muito bom. Nessa perspectiva, nota-se uma diferença entre os estudantes das ilhas de Sotavento (M.3.05) em relação aos estudantes das ilhas de Barlavento (M.2.96).

O estudo no Ensino Secundário é sempre encarado pelos estudantes como uma fase

para prosseguir o Ensino Superior. De facto, os alunos deram uma cotação bastante alta nesse

aspecto, tendo 33,1% afirmado que esse aspecto é bom e 20,5% que é muito bom. Entretanto, 29,3% dos alunos acham que isso é suficiente. Os outros, não relevantes, são de opinião que é insuficiente (8,5%) e fraquíssimo (7%). Os alunos das ilhas de Sotavento (M.3.60) fazem uma avaliação mais elevada do que os alunos de Barlavento (M.3.46).

Tab. 29a: A avaliação dos aspectos formativos da Escola Secundária em Cabo Verde Segundo os alunos (em % - em M: média ponderada: mínima frequência = 1.00 e máxima = 5.00)*11

1 2 3 4 5 Não resp. Fraquí ssimo Insufi ciente Sufici ente Bom Muito Bom Mp. Formação cultural 1,8 19,4 11,6 32,4 25,4 9,4 2.94 Formação moral 3,7 13,6 28,0 29,0 18,3 7,4 2.77

Formação em vista de uma profissão 3,8 8,8 18,9 32,1 24,2 12,1 3.12 Formação social, política e ambiental 4,5 9,6 18,6 34,7 22,0 10,6 3.06 Valorização das próprias capacidades 5,4 7,6 11,1 33,2 27,7 15,0 3.33 Intercâmbio com outras escolas 4,4 17,4 14,5 30,2 21,8 11.7 2.96 Orientação para saber colaborar com os outros 4,0 6,9 13,5 30,7 29,9 15,0 3.34 Possibilidade de encontrar um trabalho 3,4 13,5 20,4 28,6 20,7 13,4 3.00 Preparação para prosseguir os estudos 1.6 7,0 8,5 29,3 33,1 20,5 3.52 Preparar para a responsabilidade familiar e

social

1,7 7,8 10,8 32,1 28,6 19,1 3.41

Outros 88,9 3,0 1,2 2,4 2,4 2,1 2,95

É importante que as escolas secundárias se preocupem com o projecto de vida dos alunos e que os orientem na sua escolha para o futuro. Por isso, os adolescentes estudantes são convidados a atribuir um juízo de valor sobre a maneira como as escolas incidem na

prepara-ção dos alunos para assumir responsabilidade familiar e social. Os alunos inquiridos fazem

11 * Média ponderada: os valores da M. em escala: 1 = Fraquíssimo; 2 = Insuficiente; 3 = Suficiente; 4 = Bom; 5 = Muito Bom

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uma apreciação bastante positiva: 32,1% acham que é suficiente; 28,6% que é bom; 19,1% que é muito bom. Somente, 10,8% são de opinião que isso é insuficiente e 7,8% que é fra-quíssimo. Verificamos que há uma diferença bastante elevada entre os alunos do Sotavento (M.3.52) e os de Barlavento (M.3.38) (cf. Tabs. 29a e 29b).

Tab. 29b: A avaliação dos aspectos formativos da Escola Secundária em Cabo Verde Segundo os alunos das ilhas (em M: média ponderada: mínima frequência = 1.00 e máxima = 5.00)

Ilhas de Cabo Verde Barlavento M.p Sotavento M.p Formação cultural 2.83 3.05 Formação moral 2.77 2.77

Formação em vista de uma profissão 3.08 3.17 Formação social, política e ambiental 3.01 3.11 Valorização das próprias capacidades 3.26 3.41

Intercâmbio com outras escolas 2.74 3.20

Orientação a saber colaborar com os outros 3.36 3.43 Possibilidade de encontrar um trabalho 2.96 3.05 Preparação para prosseguir os estudos 3.46 3.60 Preparar à responsabilidade familiar e social 3.32 3.52

Outros 2.81 3.15

Conforme os dados apontados, constatamos que a formação moral, pessoal, profis-sional e social, as Escolas Secundárias de Cabo Verde, do ponto de vista valorativo, encon-tram-se ainda num nível de “suficiente”. Nessa linha de suficiência, os alunos indicam um pouco mais a necessidade de as escolas valorizarem as suas capacidades (M.3.33). Assim, os dados indicam a necessidade de incrementar mais a formação moral e profissional dos alunos. Nessa linha formativa, os dados apontam que as ilhas de Sotavento estão mais acima da média (M.3.00), excepto a formação moral dos alunos, (M.2.77) comparadas com as outras ilhas de Barlavento.

Na perspectiva dos alunos, as escolas devem fazer muito mais no que tange ao aspec-to de relacionamenaspec-to e colaboração com as outras escolas e instituições civis e religiosas. Segundo os alunos, as escolas secundárias das ilhas do Sotavento contribuem muito mais para essa abertura do que as outras das ilhas do Barlavento.

Embora estejam dentro e acima da M.3.00 (suficiente), os alunos acham que as esco-las secundárias contribuem para a preparação do futuro dos estudantes, proporcionando possi-bilidade de um trabalho, do prosseguimento do estudo e de preparação para assumir a

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respon-sabilidade familiar e social. Isso é mais evidente nas ilhas do Barlavento do que nas do Sota-vento.

1.2.2 As exigências dos alunos em relação aos Liceus

A formação pessoal e profissional dos alunos nas escolas secundárias é uma condi-ção indispensável para que eles possam crescer e desenvolver-se em todos os aspectos da sua personalidade. Além do programa curricular, na sua especificidade, previsto pelo Sistema do Ensino em Cabo Verde, todas a disciplinas curriculares deveriam mirar esse objectivo funda-mental. A preocupação primária do ensino curricular não é a materialização do programa, em si, mas satisfazer as exigências e as necessidades existenciais e as ideias dos alunos enquanto pessoas que devem ser educadas e formadas do ponto de vista moral, profissional e social. Daí a necessidade de averiguar no terreno em que medida a escola secundária do País responde às exigências dos alunos, sobretudo, no que tange a sua formação pessoal e profissional. Para isso, era necessário que os próprios alunos se pronunciassem a respeito, a fim de poder saber como orientá-los através dum plano metodológico e pedagógico para a sua formação integral.

Certo é que o Ensino Secundário deve satisfazer as exigências profundas dos alunos, sobretudo no que concerne à sua formação académica e profissional; formação moral, psico-afectiva e religiosa; formação social e a educação aos valores. É sobre essas exigências que vamos efectuar uma análise partindo dos dados concretos para termos um melhor conheci-mento daquilo que as escolas secundárias conseguem transmitir aos alunos através dos seus programas curriculares. Essa abordagem tentará especificar alguns aspectos que merecem maior cuidado na elaboração de um plano formativo capaz de apoiar e ajudar os alunos a suprirem algumas dificuldades na área do ensino e aprendizagem.

1.2.2.1 A exigência de formação académica e profissional

Uma vez que frequentam um estabelecimento do Ensino, é normal que os alunos primem pela sua formação académica e profissional. Para isso, os adolescentes estudantes exigem que os professores sejam competentes e actualizados na sua área de ensino, do ponto de vista pedagógico e metodológico para que a sua aprendizagem seja efectiva e tenha suces-so. Assim, os alunos exigem que a escola se interesse pela formação permanente dos seus

professores. Conforme os dados apurados, 31,8% dos alunos avaliam como Suficiente esse

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bom. Apenas 11,8% consideram-no fraquíssimo e 8,4% insuficiente. Essa avaliação é mais elevada entre os alunos de Sotavento (M.3.39) do que entre os alunos de Barlavento (M.3.23).

Sabe-se que muitos alunos cabo-verdianos provêm de zonas com poucos recursos e de ambientes sociais e familiares com pouco estímulo a nível cultural, além de outros proble-mas de natureza psíquica e emocional. Isso pode dificultá-los no ritmo de aprendizagem e na assimilação dos conteúdos. Perante essa dificuldade de carácter pessoal, é justo que os estu-dantes digam até que ponto a escola os apoie no sentido de superarem as dificuldades de

aprendizagem. Dos alunos entrevistados, apuramos que 32,4% qualificam esse apoio de

Sufi-ciente; 24,4% são de opinião que é bom e 16,8% acham que é muito bom. Apenas 16,5% dos alunos acham que esse apoio é insuficiente e 7,8% fraquíssimo. A diferença entre os alunos Barlavento (M.3.25) e os do Sotavento (M. 3.27) não são consistentes. Esse tipo de apoio não só contribui para a formação da pessoa, como também, para o desenvolvimento da sua capa-cidade profissional.

Em princípio, a escola secundária deve preparar os alunos para inserção activa na sociedade. Isso acontece, normalmente, através duma profissão e dum emprego. Todavia, essa preparação para aquisição de uma profissão parece ainda bastante distante na opinião dos estudantes. Conforme os dados, verificamos que 24,9% dos alunos atribuem um valor de bom, 24,6% de suficiente e 22,4% de insuficiente. Enquanto que 17,3% acham que isso é muito bom, apenas 7,7% consideram-no de fraquíssimo. Nesse sentido, verificamos que os alunos de Barlavento (M.3.25) atribuem um valor um pouco maior do que os outros de Sota-vento (M.3.20).

Antigamente, o Ensino Secundário em Cabo Verde era reduzido e para poucos alu-nos. Isso facilitava um emprego e uma profissão. Com o aumento do número dos estabeleci-mentos em todas as ilhas e a oportunidade de estudos liceais para todos, emerge a necessidade de prosseguir os estudos académicos. Actualmente, os alunos encaram o Ensino Secundário como uma via para prosseguimento dos estudos superiores dentro ou fora do País. Nessa perspectiva, apuramos que 34,4% dos alunos acham bom que a escola secundária responde a essa exigência, 26,8% afirmam que isso é muito bom e 20,4% são de opinião que é suficiente. Dos outros, identificamos apenas 6,25% que o classificam de insuficiente e 6% de fraquíssi-mo. Entre os alunos das ilhas de Barlavento (M.3.74) e Sotavento (M.3.75) a diferença não é relevante.

(19)

1.2.2.2 A exigência psico-afectiva e moral-religiosa

Além da exigência académica e profissional, os alunos têm outras exigências mais profundas que o Ensino Secundário não pode negligenciar. Trata-se, essencialmente, da exi-gência de Formação moral, afectiva, religiosa. Embora essa dimensão tenha sido analisada no capítulo anterior, apresentamos neste momento somente o juízo valorativo que os alunos fazem à volta da escola, no que diz respeito à sua exigência pessoal e profissional. O ensino-aprendizagem escolar tem, pela sua própria natureza, uma autoridade moral, no sentido que deve tornar os alunos livremente responsáveis dos seus compromissos. A interiorização dos valores éticos e morais na idade escolar torna o indivíduo responsável, maduro e autónomo nas suas decisões, progressivamente, até atingir a idade adulta. Os dados provam esse interes-se da escola pelo deinteres-senvolvimento da liberdade responsável. Efectivamente, 42,5% dos alu-nos acham que é suficiente, e 22,4% consideram-no bom. Dos outros alualu-nos, 15,1% confe-rem-no a nota de insuficiente, apenas 10,8% afirmam que é muito bom, e 7,1% que é fraquís-simo. Esse interesse é visto um pouco mais elevado pelos alunos de Sotavento (M.3.21) do que pelos alunos de Barlavento (M.3.09).

No desenrolar do programa curricular é bom que os professores saibam detectar as exigências psico-afectivas dos seus alunos para que o seu relacionamento seja coerente e con-gruente, quer na arte do saber falar quer no modo de comportar-se. Conforme os dados apura-dos, nota-se um baixo nível nesse processo de colaboração para a maturidade afectiva dos

alunos. Em primeiro lugar, 25,3% dos alunos são de opinião que essa preocupação da escola é

suficiente; 24,2% dos alunos acham que é insuficiente; 24,1% atestam que é bom. Dos outros, apuramos que 12,6% a consideram-no muito bom, ao passo que 9,5% a atribuem-no a classi-ficação de fraquíssimo. A diferença entre os dois grupos de ilhas é relativamente consistente, sendo que o grupo de Sotavento (M.3.13) prevalece em relação ao grupo de Barlavento (M.3.01).

Às vezes, acontece que os professores estão mais preocupados com a sua ideologia filosófica e convicção política e religiosa do que com a diversidade de sensibilidade dos seus alunos. É importante que a escola, través do seu quadro docente, reconheça e transmita os valores de tolerância e respeito pela diversidade cultural e religiosa dos alunos. Sobre essa exigência, 22,5% dos alunos indicam é bom esse interesse da Escola; 20,9% que é suficiente; 19,3% que é muito bom. Entretanto, constatamos que 17,9% dos alunos pensam que essa ati-tude é insuficiente e 16% que é fraquíssimo. Os alunos de Barlavento (M.3.14) tendem a ser mais elevados nessa avaliação do que os de Sotavento (M.3.09).

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1.2.2.3 A exigência de formação sócio-valorativa

Partindo do princípio de que a escola é um espaço especial para o processo de socia-lização dos indivíduos em fase de crescimento, então, é natural que os alunos exijam dela uma maior atenção para a sua formação social e educação aos valores como contributos necessá-rios para o desenvolvimento da sua sociabilidade e habilidade comunicativa e para assimila-ção de valores éticos que servem para nortear os seus comportamentos humanos e sociais. Nessa perspectiva, os alunos exigem que as escolas secundárias contribuam para que se sin-tam emancipados, livres e com a capacidade crítica perante os desafios sociais e pessoais. Segundo os dados apurados, o nível de interesse para o desenvolvimento do sentido crítico dos alunos é bastante baixo nessas escolas. De facto, 29,5% dos alunos consideram esse inte-resse Insuficiente; 27,4% são de opinião que isso é suficiente; somente 20,2% acham que é bom. Dos outros entrevistados, aparecem 12% que o consideram fraquíssimo e apenas 6,3% muito bom. Esse nível baixo de interesse é bastante evidente entre os dois grupos de ilhas de Barlavento (M.2.74), uma cotação menor do que a dos alunos de Sotavento (M.2.83).

Se por um lado, o desenvolvimento desse sentido crítico é relativamente baixo, por outro constatamos que os alunos apreciam, um pouco mais positivamente, a preocupação das escolas secundárias pela sua capacidade de socializar e de comunicar como atitudes impor-tantes para o desenvolvimento das relações sociais no grupo e no campo de trabalho num futuro próximo. Os dados indicam que 36.8% dos alunos admitem que esse interesse por res-ponder às exigências dos das escolas é Suficiente; 31,5% asseguram que é bom; 17,4% afir-mam que é muito bom. Entretanto, há uma percentagem irrelevante dos que acham que é insu-ficiente (7,7%), e fraquíssimo (5,4%). Há uma diferença relativa entre os alunos de Sotavento (M.3.51), uma prevalência mais alta do que os alunos de Barlavento (M.3.40).

Além do desenvolvimento da dimensão social, a escola tem o papel de educar e for-mar os alunos a serem activos e comprometidos com a sociedade na qual se encontram inseri-dos. Portanto, é justo que os alunos exijam das escolas uma formação finalizada ao

empe-nhamento social, sobretudo no que se refere à participação nas actividades culturais e o

inte-resse pelo desenvolvimento cívico e político do país. Do ponto de vista positivo, verificamos que 40,6% dos alunos admitem que essa formação implementada pelas escolas secundárias é suficiente; 24,2% acham que é bom; somente 10,7% afirmam que é muito bom. Do ponto de vista negativo, identificamos que 12,5% dos outros alunos são de opinião que essa modalida-de é insuficiente e que 8,2% a consimodalida-deram-na fraquíssima. No que se refere aos dois grupos modalida-de ilhas, os alunos de Sotavento (M.3.28) reconhecem essa modalidade mais do que os de Barla-vento (M.3.08).

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A escola como espaço educativo é, naturalmente, inclinada a transmitir o património cultural e valorativo presente no País. E os alunos do Ensino Secundário demandam que as escolas secundárias estejam à altura de desenvolver a cultura da Paz, justiça e solidariedade para que se sintam promotores de uma convivência humana e construtores de uma sociedade mais justa e fraterna. De facto, os dados exprimem um pouco melhor a forma como as escolas satisfazem essa exigência pessoal dos alunos. Entre os entrevistados, 33,2% são de opinião que as escolas transmitem de forma suficiente esses valores sociais para os seus alunos; 26,3% afirmam que essa transmissão é boa; e 23,4% acham que esse processamento é muito bom. Dos que julgam um pouco mais negativamente, 9,4% declaram insuficiente a transmis-são desses valores e 6,3%, fraquíssima. A diferença entre os alunos de Barlavento (M.3.51) e os de Sotavento (M.3.53) não é consistente nessa escala de valor (cf. Tabs. 30a e 30b).

Tab. 30a: A avaliação da medida em que a escola secundária responde às exigências dos alunos (em % - em M: média ponderada: mínima frequência = 1.00 e máxima = 5.00)*12

1 2 3 4 5 Não resp. Fraquí ssimo Insufi ciente Sufici ente Bom Muito Bom MP. Formação permanente dos professores 3,2 11,8 8,4 31,8 30,9 13,9 3.28 Apoio a superar dificuldades na aprendizagem 2,1 7,8 16,5 32,4 24,4 16,8 3.26 Aquisição de uma profissão 3,2 7,7 22,4 24,6 24,9 17,3 3.22 Possibilidade de prosseguir os estudos 6,3 6,0 6,2 20,4 34,2 26,8 3.74 Desenvolvimento da liberdade responsável 2,1 7,1 15,1 42,5 22,4 10,8 3.15 Maturidade afectiva dos alunos 4,4 9,5 24,2 25,3 24,1 12,6 3.06 Respeito pela diversidade cultural e religiosa 3,2 16,0 17,9 20,9 22,5 19,3 3.12 Desenvolvimento do sentido crítico 4,5 12,0 29,5 27,4 20,2 6,3 2.78 Capacidade de socializar e de comunicar 3,2 5,4 7,7 36,8 31,5 15,4 3.45 Formação ao empenhamento social 3,8 8,2 12,5 40,6 24,2 10,7 3.17 Aumentar cultura, paz, justiça e solidariedade 1,4 6,3 9,4 33,2 26,3 23,4 3.52

O ensino e a educação de qualidade são direitos fundamentais que os alunos têm para o desenvolvimento das suas faculdades mentais, psicológicas e morais. As escolas, enquanto representações sociais e educativas, têm por objectivo satisfazer as exigências dos seus alunos educandos. Na perspectiva de formação académica e profissional dos professores e dos pró-prios alunos, constatamos que os dados indicam que as escolas secundárias respondem a essas

12 * Média ponderada: os valores da M. em escala: 1 = Fraquíssimo; 2 = Insuficiente; 3 = Suficiente; 4 = Bom; 5 = Muito Bom

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exigências dos alunos acima da avaliação de suficiente (M.3.00). A resposta mais elevada que vem ao encontro da exigência dos alunos refere-se à possibilidade de prosseguir os estudos.

Tab. 30b: A avaliação da medida em que a escola secundária responde às exigências dos alunos (em M: média ponderada: mínima frequência = 1.00 e máxima = 5.00)

Ilhas de Cabo Verde Barlavento

M.p.

Sotavento M.p. Formação permanente dos professores 3.18 3.39 Apoio a superar dificuldades na aprendizagem 3.25 3.27

Aquisição de uma profissão 3.25 3.20

Possibilidade de prosseguir os estudos 3.74 3.75 Desenvolvimento da liberdade responsável 3.09 3.21

Maturidade afectiva dos alunos 3.01 3.13

Respeito pela diversidade cultural e religiosa 3.14 3.09 Desenvolvimento do sentido crítico 2.74 2.83 Capacidade de socializar e de comunicar 3.40 3.51

Formação ao empenhamento social 3.08 3.28

Aumentar cultura, paz, justiça e solidariedade 3.51 3.53

Na perspectiva de formação moral, afectiva e religiosa dos alunos, certificamos que as escolas secundárias de Cabo Verde conseguem responder ligeiramente acima da suficiência (M.3.00) e muito inferior em relação às outras exigências. Os dados indicam que os alunos fazem uma avaliação mais positiva no que concerne à formação social e à educação aos valo-res, com M.3.00 mais acima do suficiente. Isso significa que as escolas estão a contribuir para o aumento de uma consciência crítica e com a capacidade de uma maior socialização, comu-nicação e promoção pelos valores sociais. Todos os dados apontam que os alunos de Sotaven-to fazem uma avaliação mais positiva do que os alunos de BarlavenSotaven-to.

1.2.3 A prioridade dos objectivos didácticos e as expectativas dos alunos

Os objectivos traçados pela Lei de Bases do Sistema Educativo cabo-verdiano deve-rão concretizar-se na planificação das actividades didácticas e materializar-se no acto educati-vo, a fim de que os alunos possam realizar-se como pessoas e como profissionais. Antes, é na planificação das actividades didácticas que os professores devem estabelecer quais são as

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prioridades dos objectivos a serem implementados para atingir a meta preconizada. Entre os vários objectivos, há um que é prioritário e catalizador de todos os outros. Trata-se do desen-volvimento integral dos alunos. Precisamente, como já dissemos na parte teórica, porque o aluno-educando é o fim da educação e da formação que se pretende realizar nas escolas e em qualquer outro estabelecimento educativo ou formativo. Embora a escola seja um espaço de trabalho para os professores, é importante que estes não descurem o valor da escola como ambiente vital dos alunos, isto é, onde eles passam uma grande parte do seu tempo.

Se partirmos do princípio que a escola é um ambiente vital, então, é um dever moral de todos os professores e pessoal de serviço «aproveitar as potencialidades educativas da escola, tornando-a um espaço onde se vive, se aprende a viver e se prepara para a vida, o que não só é uma necessidade, mas também uma exigência, numa época em que a incerteza e a complexidade das decisões originam uma desorientação geral e uma ausência de referenciais

éticas»13. É com base nessas prerrogativas que vamos delinear uma análise à volta da

planifi-cação das actividades didácticas para percebermos quais são os objectivos prioritários segun-do as expectativas segun-dos alunos segun-dos liceus cabo-verdianos. Não basta traçar os objectivos a

priori por mais interessantes que sejam, é preciso ter um conhecimento a posteriori das

expectativas, exigências e necessidades dos alunos. Entre os objectivos prioritários na planifi-cação das actividades didácticas, agrupamos três níveis de formação: cultural e profissional; formação de carácter e competência; de consciência moral e cívica. Nessa análise, tentaremos explicitar, também, as expectativas dos alunos dos dois grupos de Ilhas de Cabo Verde.

Segundo as expectativas dos alunos, os objectivos prioritários são essencialmente de cariz cultural e profissional. De facto, segundo os dados, os alunos têm uma concepção mate-rial da formação ou do Ensino Escolar. Por isso, a maioria dos alunos, 65,9%, esperam

adqui-rir um bom método de aprendizagem. Quando se estabelece um método de ensino é bom que

os professores conheçam as áreas geográficas, sociais, culturais e familiares que envolvem os alunos. Sobre essa expectativa, certificamos que os alunos de Barlavento (63,1%) esperam menos do que os de Sotavento (68,8%). Em segundo lugar, os alunos são de opinião que as actividades didácticas devem priorizar a formação profissional. Se para os alunos das ilhas há uma diferença relativa, os de Barlavento (64,8%) pensam nisso mais do que os de Sotavento (57,4%). Isso demonstra que, de facto, muitos alunos pensam numa profissão para a sua reali-zação pessoal e a escola secundária deve encontrar um modelo justo para orientar os seus alu-nos na vida profissional. Sempre nessa perspectiva, os alualu-nos pensam numa formação mais ampla e aprofundada, a fim de poder ter uma base cultural à altura de responder às demandas

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da sociedade. Portanto, uma terceira prioridade na planificação das actividades didácticas é a

formação de base cultural mais ampla. De facto, 42,5% dos alunos esperam que as escolas

secundárias estejam em condições de ajudar os professores na realização desse objectivo. A diferença entre os alunos de Barlavento (44,1%) e Sotavento (40,7%) não é muito proeminen-te.

Um segundo nível de objectivos prioritários que responde às expectativas dos alunos do Ensino Secundário enquadra-se na formação de carácter e competência. Um grupo de alu-nos está consciente de que o Ensino Escolar é algo que incide profundamente no seu tempe-ramento de vida pessoal. Assim, 28,3% dos estudantes esperam que o ensino didáctico contri-bui para o amadurecimento do seu carácter. É importante que os professores demonstrem que através do ensino é possível que o indivíduo encontre auto-domínio e tenha bom temperamen-to como condições indispensáveis para um bom relacionamentemperamen-to interpessoal. Ainda, 21,6% dos alunos acham que a planificação das actividades didácticas deve contribuir para a

forma-ção global da sua personalidade. A diferença entre os alunos dos dois grupos de ilhas é

rela-tivamente inconsistente (confere Tab. 31) nestes dois objectivos. Enfim, 18,8% dos alunos são de opinião que essas actividades devem contribuir para a aquisição de habilidade finalizada à

autoformação permanente. A nível desse objectivo, constatamos uma diferença entre os

alu-nos da Barlavento (15,7%), uma percentagem menor em relação aos de Sotavento (22,2%).

Tab. 31: Os objectivos prioritários e as expectativas dos alunos

Segundo os alunos do Ensino Secundário das ilhas de Barlavento e Sotavento (em %) Grupo de ilhas Total Barlavento Sotavento Adquirir bom método de aprendizagem 65,9 63,1 68,8

Formação profissional 61,2 64,8 57,4

Formação de base cultural mais ampla 42.5 44,1 40,7

Madurecimento de carácter 28,3 28,8 27,5

Formação global da personalidade 21,6 20,3 22,9 Aquisição de habilidade à auto-formação 18,8 15,7 22,2

Formação moral 32,5 30,5 35,0

Formação de uma consciência crítica 11,0 12,1 9,8 Formação de uma consciência cívica 8,8 9,5 8,0

Outros 1,3 1,8 0,8

Não Respondido 1,9 2,0 1,7

Um outro aspecto dos objectivos prioritários que merece ser tomado em considera-ção, durante a planificação das actividades didácticas, é a formação da consciência moral e

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cívica dos alunos. Uma parte dos alunos tem a consciência de que o ensino é, instrutivo,

tam-bém educativo para o equilíbrio moral das condutas humanas e sociais. Conforme os dados apurados, certificamos que 32,5% dos alunos esperam que essas actividades mirem a

forma-ção da consciência moral. Embora a diferença não seja muito substancial, nota-se uma certa

prevalência nesse sentido entre os alunos de Sotavento (35%) em relação aos alunos de Barla-vento (30,5%). Não há dúvida que o ensino escolar ajuda, também, os alunos a libertarem-se de condicionalismos pessoais, sociais e familiares. Em relação a este pressuposto, 11% dos alunos pensam que as actividades didácticas devem mirar a formação da consciência crítica dos estudantes, como forma da própria emancipação. Ainda, na opinião dos alunos do Ensino Secundário (8,8%) essa planificação deve contribuir para a formação de uma consciência

cívica dos alunos. A diferença entre os alunos das ilhas de Barlavento e Sotavento é

relativa-mente inexistente (cf. Tab. 31).

Perante estes níveis de objectivos didácticos é fácil detectar que a expectativa de uma formação orientada a uma profissão é prioritária para os alunos. Esse objectivo não significa que os outros são menos importantes. Trata-se de um indicativo pertinente quer para o Siste-ma Educativo quer para as escolas secundárias, em particular, e que implica a busca de um modelo educativo e formativo capaz de orientar os alunos para uma vida activa na sociedade. É importante que as escolas secundárias encontrem um justo equilíbrio na sua planificação didáctica capaz de transmitir os objectivos com moderação segundo as reais expectativas dos alunos, para o bem pessoal e da sociedade, sabendo que o Sistema Educativo prevê directa ou indirectamente o Ensino Secundário como meio formativo dos jovens à vida activa, isto é, integrados na sociedade mediante um serviço qualificado.

Se no passado ou ainda hoje, a formação profissional foi encarada como algo extra-escolar e que é gerida pelas entidades privadas e religiosas, na perspectiva do Sistema Educa-tivo e com o aumento dos estabelecimentos do Ensino Secundário no País é urgente que seja feito um novo enquadramento entre os programas didácticos das escolas secundárias e os pro-gramas finalizados à aprendizagem de uma das tantas profissões presentes na sociedade. Essa ideia deve prevalecer no campo formativo dos adolescentes e jovens estudantes cabo-verdianos, concordando com a posição analítica de S. Chistolini, o qual afirma que a pesquisa de confrontação entre percursos formativos da escola e da formação profissional evidenciou a necessidade de renovar esta última dando espaço a uma renovação sistemática que envolve tanto os aspectos internos didácticos e organizativos quanto aos aspectos externos em relação

ao mundo do trabalho e às outras estruturas formativas14.

(26)

Pode-se afirmar que as expectativas dos alunos são uma chave de leitura para inter-pretar a condição actual das escolas secundárias no desempenho das suas tarefas e, ao mesmo tempo, apontam a necessidade de uma profunda remodelação do ensino secundário capaz de proporcionar aos alunos uma formação adequada e equilibrada do ponto de vista profissional, pessoal e moral.

1.3 A formação pessoal e social nos Liceus de Cabo Verde

A “Formação Pessoal e Social” é uma disciplina curricular do Ensino Secundário que foi implementada na altura em que se fez a Reforma do Programa Curricular em Cabo Verde, com o intuito de responder às exigências da Lei de Bases do Sistema Educativo. Mais do que isso, a mudança de mentalidade, de comportamentos e de valores, imposta pela sociedade moderna, que aceleram a ideia de prevenir fenómenos anómalos através da formação e da consciencialização pessoal e social dos alunos sobre a importância dos valores fundamentais que devem reger a humanidade e a sociedade, em particular. De facto, um dos objectivos pre-conizados pelo Sistema Educativo, é que essa formação deveria «facilitar ao aluno o entendi-mento dos valores fundamentais da sociedade em geral e sensibilizá-lo para os problemas da

sociedade cabo-verdiana e da comunidade internacional»15. Isso demonstra claramente que há

uma profunda necessidade de moralidade e de critérios de orientação vocacional dos alunos no seio dos estabelecimentos do Ensino Secundário.

A eminência dos problemas comportamentais e sociais dos adolescentes e jovens estudantes parece que continua a ser uma preocupação para o sistema do ensino e para as escolas secundárias do País. Isso significa que a disciplina da “Formação Pessoal e Social”, a forma como ela foi pensada e estruturada, não conseguiu responder aos objectivos preconiza-dos pelo Sistema Educativo. A comprovação é que no percurso do seu andamento foi suspen-sa no III Ciclo devido à falta de conteúdos programáticos, de metodologia e de professores qualificados. Talvez não tenha havido um estudo a posteriori sobre as reais exigências e necessidades dos alunos antes da sua implementação. Antes de uma análise crítica e funda-mentada, pensamos que seja justo analisar a frequência com que essa disciplina responde às exigências dos alunos e o perfil dos professores segundo o ponto de vista dos estudantes.

15 ASSEMBLEIA NACIONAL, As Leis de base do sistema educativo cabo-verdiano, in “Boletim Oficial”, n° 38, Lei n° 113/V/99, de 18 de Outubro, Praia, 1999, art. 22 (d).

Referências

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