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Caracterização das populações de Salmo trutta e de Squalius torgalensis nos rios Paiva e Mira

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Caracterização das populações de Salmo trutta e de Squalius torgalensis nos rios Paiva e Mira

Relatório final das campanhas de monitorização da ictiofauna efectuadas pelo Centro de Biociências do ISPA, no âmbito da execução

do projecto LIFE+ ECOTONE

Outubro 2015

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2 Título: Caracterização das populações de Salmo trutta e de Squalius torgalensis nos rios Paiva e Mira

Ano: 2015

Entidade contratante: Quercus, ANCN Execução: Centro de Biociências do ISPA

Equipa técnica:

Carla Sousa Santos Cristina Lima Joana Robalo Sara Francisco

Âmbito:

Relatório final das campanhas de monitorização da ictiofauna efectuadas pelo Centro de Biociências do ISPA, no âmbito da execução do projecto “ECÓTONE – Management of riparian habitats towards the conservation of endangered invertebrates”, co- financiado pelo Programa LIFE+ da União Europeia, através do contrato LIFE09 NAT/PT000073.

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3

Índice

1. Enquadramento ... 4

2. Área de estudo ... 5

3. Metodologia ... 6

3.1 Amostragem ... 6

3.2 Variáveis ambientais ... 7

3.3 Amostragem da ictiofauna ... 8

3.4 Análise de dados ... 9

4. Resultados ... 10

4.1. Rio Paiva ... 10

4.1.1 Caracterização dos habitats ... 10

4.1.2 Composição da comunidade piscícola ... 11

4.1.3 Distribuição espacial da comunidade piscícola ... 12

4.1.4 Distribuição por classes etárias ... 14

4.1.5 Variação da comunidade piscícola entre 2012 e 2015 ... 18

4.2.1 Caracterização dos habitats ... 21

4.2.2 Composição da comunidade piscícola ... 22

4.2.3 Distribuição espacial da comunidade piscícola ... 23

4.2.4 Distribuição por classes etárias ... 26

4.2.5 Variação da comunidade piscícola entre 2012 e 2015 ... 32

5. Considerações finais ... 34

7. Anexos ... 39

7.1 Anexo I ... 39

7.2 Anexo II ... 41

7.3 Anexo III ... 48

7.4 Anexo IV ... 49

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1. Enquadramento

O presente relatório é o produto final do trabalho desenvolvido pelo Centro de Biociências do ISPA – Instituto Universitário (cBio/ISPA-IU), no âmbito da execução do projecto “ECÓTONE – Management of riparian habitats towards the conservation of endangered invertebrates”, co- financiado pelo Programa LIFE+ da União Europeia, através do contrato LIFE09 NAT/PT000073.

De acordo com o contrato realizado, coube à equipa técnica do cBio/ISPA-IU a realização de saídas de campo no SIC “Rio Paiva” e no SIC “Costa Sudoeste” com o objectivo de caracterizar as populações de Truta Salmo trutta Linnaeus, 1758 no Rio Paiva e de Escalo do Mira Squalius torgalensis (Coelho, Bogutskaya, Rodrigues & Collares-Pereira, 1998) no Rio Mira. Estas duas espécies são hospedeiras obrigatórias das naíades de Margaritifera margaritifera e Unio tumidiformis que se alojam nas brânquias dos peixes nos primeiros estádios de vida. O recrutamento das populações destas espécies de bivalves ameaçados está, pois, dependente de densidades de peixes suficientemente altas na altura em que os adultos emitem as larvas para a coluna de água para que haja uma probabilidade considerável de infestação dos hospedeiros.

A existência de populações estáveis e numerosas de Truta Salmo trutta e de Escalo do Mira Squalius torgalensis é, portanto, crucial para a conservação das populações ameaçadas de bivalves Margaritifera margaritifera e Unio tumidiformis nos rios Paiva e Mira.

Este trabalho foi efectuado em dois momentos distintos, em 2012 e 2015, para que fosse possível a monitorização dos impactes das intervenções realizadas no âmbito do projecto ECÓTONE. Assim, o presente relatório inclui os resultados das campanhas efectuadas em 2015 e estabelece as devidas comparações com a situação de referência (em 2012), identificando os contrastes detectados e propondo medidas a implementar no futuro.

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2. Área de estudo

O Rio Paiva é um tributário da margem esquerda do Rio Douro, com uma bacia hidrográfica de cerca de 77 km2 e um regime hidrológico de carácter permanente. Pelo contrário, o Rio Mira, com uma bacia hidrográfica de 1575 km2, é um rio tipicamente Mediterrânico, com um regime hidrológico temporário que inclui caudais turbulentos no Inverno e acentuadas reduções de caudal durante os meses de estio, frequentemente com interrupção da conectividade fluvial.

No que respeita à ictiofauna, os dois rios apresentam composições específicas díspares, embora predominem os ciprinídeos em ambos os casos. As espécies nativas com ocorrência registada para o Rio Paiva são a Truta Salmo trutta Linnaeus, 1758, o Escalo-do-Norte Squalius carolitertii (Doadrio, 1987), o ruivaco Achondrostoma oligolepis (Robalo, Doadrio, Almada &

Kottelat, 2005), a Boga-de-boca-recta Pseudochondrostoma duriense (Coelho, 1985), o Barbo- comum Luciobarbus bocagei (Steindachner, 1864), a Enguia Anguilla anguilla Linnaeus, 1758 e a verdemã Cobitis paludica (De Buen, 1929) - Ribeiro et al. 2007. Por outro lado, as espécies nativas que ocorrem no Rio Mira são o Escalo-do-Mira Squalius torgalensis (Coelho, Bogutskaya, Rodrigues & Collares-Pereira, 1998), o Barbo-do-Sul Luciobarbus sclateri (Günther, 1868), a Boga-do-Sudoeste Iberochondrostoma almacai (Coelho, Mesquita & Collares-Pereira, 2005), a Enguia Anguilla anguilla Linnaeus, 1758, o Esgana-gata Gasterosteus aculeatus Linnaeus, 1758 e a Verdemã Cobitis paludica (De Buen, 1929) - Ribeiro et al. 2007.

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3. Metodologia

3.1 Amostragem

Foram amostrados, em Julho e Agosto de 2015, os 21 locais seleccionados como pontos de amostragem para a ictiofauna nos Rios Paiva e Mira (n=9 e n=12, respectivamente), com base no tipo de habitat presente e na acessibilidade ao rio, e previamente amostrados em 2012 (Figuras 1 e 2). As coordenadas geográficas e fotografias de cada ponto de amostragem são apresentadas, respectivamente, nas Tabelas I.1 e I.2 do Anexo I e nas Figuras II.1-20 do Anexo II.

Figura 1 | Localização geográfica dos pontos de amostragem no Rio Paiva.

Figura 2 | Localização geográfica dos pontos de amostragem na Ribeira do Torgal, Rio Mira.

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7 3.2 Variáveis ambientais

Com vista à caracterização ambiental dos pontos de amostragem, foram analisados os seguintes parâmetros (ver Anexo III - Ficha de campo), baseados no protocolo de campo sugerido pelo Programa Nacional de Monitorização de Recursos Piscícolas e de Avaliação da Qualidade Ecológica de Rios (Oliveira et al. 2007):

1. Largura máxima (metros)

2. Profundidade máxima (centímetros)

3. Transparência (0: transparente, 1: turvo, 2: muito turvo)

4. Ensombramento do sector (0: ausente, 1: <30%, 2: 30-60%, 3: >60%) 5. Cor da água (0: sem cor, 1: esverdeada, 2: acastanhada)

6. Percentagem relativa de cada habitat fluvial: rápido (riffle), escorrência (run) e remanso (pool) 7. Abrigos disponíveis (T: troncos, P: pedras, R: raízes, V: vegetação)

8. Vegetação dominante (A: algas filamentosas, M: musgos, P: plantas superiores)

9. Abundância de macrófitos hidrófitos e helófitos (0: ausente, 1: esparsa, 2: intermédia, 3:

abundante)

10. Abundância de detritos lenhosos (0: ausente, 1: esparsa, 2: intermédia, 3: abundante)

11. Substracto dominante e sub-dominante (<0.5mm: silte e argila, 0.5-5mm: areia, 5-50mm:

gravilha pequena, 50-100mm: gravilha grande, 100-200mm: pedras pequenas, 200-300mm:

pedras grandes, 300-600mm: blocos pequenos, >600mm: blocos grandes, RM: rocha mãe) 12. Percentagem de finos

13. Complexidade da galeria ripícola (0: ausente, 1: uniforme, 2: simples, 3: complexa)

14. Continuidade das margens (100%: contínua, 75-100%: semi-contínua, ~50%: interrompida,

<50%: esparsa, 0%: ausente)

15. Vegetação nas margens (B: briófitos, ERb: Ervas e relvas baixas, Era: ervas e relvas, Ab: arbustos, Ar: Árvores)

16. pH

17. Temperatura da água (ºC) 18. Condutividade (uS/cm)

19. Sólidos dissolvidos totais (TDS - ppm) 20. Oxigénio dissolvido (ppm e %) 21. Concentração de nitritos (mg/L) 22. Concentração de nitratos (mg/L) 23. Concentração de amónia (mg/L) 24. Concentração de fosfatos (mg/L)

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8 A largura e profundidade máximas do sector foram medidas com recurso a fita métrica extensível e vara graduada, respectivamente. Os parâmetros 16 a 20 foram medidos com sonda multiparamétrica (Hanna instruments®, modelo HI 9829-00042) e os parâmetros 21 a 24 foram calculados através de testes colorimétricos (kit comercial JBL®). Os procedimentos adoptados foram registados na Figura IV.1 do Anexo IV.

3.3 Amostragem da ictiofauna

A amostragem da ictiofauna foi efectuada recorrendo à técnica de pesca eléctrica com dois operadores, de acordo com os procedimentos descritos por Oliveira et al. (2007) – Figura 3. Foi utilizado um aparelho portátil de pesca eléctrica (SAMUS® 725G), com ajustamento das características da corrente eléctrica de acordo com a condutividade do local e de modo a maximizar a eficácia da amostragem. Este método permite a captura de indivíduos sem comprometimento da sua sobrevivência, sendo os mesmos devolvidos ao habitat natural após a aquisição dos dados necessários.

Figura 3 – Amostragem com recurso a pesca eléctrica.

O sector a amostrar foi percorrido lentamente, no sentido jusante-montante, descrevendo um movimento de zig-zag entre as duas margens, cobrindo todos os microhabitats e fazendo sair os peixes abrigados sob rochas e/ou vegetação. O comprimento do sector

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9 amostrado foi variável, de acordo com as características hidrológicas do local e/ou com a heterogeneidade dos habitats. Para posterior padronização do esforço de pesca, foram registados o comprimento do sector (em metros) e o tempo de amostragem (em minutos).

Todos os indivíduos capturados foram mantidos em recipientes com arejamento permanente para serem posteriormente identificados, pesados (com a excepção de juvenis inferiores a 40 mm) e medidos. O comprimento à furca foi a medida morfométrica escolhida para caracterizar o tamanho dos espécimes capturados. Deste modo obviaram-se os erros associados à utilização do comprimento total, nomeadamente aqueles que derivam do facto dos peixes poderem apresentar lobos caudais de comprimentos distintos ou lobos caudais danificados por doença ou predação. A única excepção foi a medição de exemplares de Cobitis paludica, uma vez que a barbatana caudal desta espécie não apresenta furca – neste caso tomou-se como medida o comprimento total. Após o registo dos dados necessários, todos os indivíduos foram devolvidos ao curso de água.

3.4 Análise de dados

Em termos globais, a caracterização da ictiofauna em cada rio incidiu sobre os seguintes parâmetros: riqueza específica total, composição específica, número total de capturas, número de capturas por espécie, proporção relativa entre espécies nativas e exóticas, e frequência de ocorrência para cada espécie (definida como a razão entre o número de pontos de amostragem em foram efectuadas capturas da espécie e o número total de pontos de amostragem).

Complementarmente, para cada ponto de amostragem, procedeu-se às seguintes análises, comummente utilizadas para a caracterização populacional da ictiofauna:

caracterização da composição específica e riqueza específica total;

cálculo da percentagem relativa de espécies exóticas e nativas;

análise da distribuição das classes de comprimento das espécies-alvo;

cálculo da percentagem de juvenis amostrados;

capturas totais e por espécie;

abundâncias globais e por espécie (ver abaixo)

Uma vez que as amostragens realizadas através da pesca eléctrica não foram padronizadas, e de modo a possibilitar o estabelecimento de um estudo comparativo das abundâncias relativas de indivíduos entre pontos de amostragem (e entre campanhas de

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10 amostragem), o comprimento do sector e o tempo de pesca foram utilizados para calcular a unidade de esforço (UE, em metros/minuto): comprimento do sector/tempo de amostragem.

Posteriormente, o número de capturas efectuadas por unidade de esforço (CPUE), traduzido pelo número de indivíduos capturados por unidade de esforço (UE), foi utilizado como estimador da abundância de peixes em cada ponto de amostragem. As abundâncias relativas (globais e por espécie) foram utilizadas para o estabelecimento de comparações entre pontos de amostragem e entre campanhas de amostragem.

4. Resultados

4.1. Rio Paiva

4.1.1 Caracterização dos habitats

Os sectores amostrados no Rio Paiva, com uma largura máxima entre os 5.1 e os 42 metros e profundidade máxima entre 31 e 92 cm, são maioritariamente troços onde estão presentes os três tipos de habitats fluviais (pools, runs e riffles), ensombrados por galerias ripícolas complexas (quatro ou mais tipos de vegetação), contínuas ou semi-contínuas, constituídas maioritariamente por briófitos, ervas altas e baixas, arbustos e árvores (Tabela 1).

O leito do rio na maior parte dos pontos amostrados é constituído por blocos grandes (>600mm) ou rocha-mãe, coberto por uma reduzida percentagem de finos (<30%) e com esparsos detritos lenhosos. A vegetação aquática mais frequente é constituída por macrófitos (principalmente helófitos) e plantas superiores e os abrigos disponíveis incluem maioritariamente pedras, raízes e vegetação (Tabela 1).

Relativamente aos parâmetros físico-químicos da água, os teores de oxigénio dissolvidos são superiores a 5.25ppm, com o pH a variar entre 6.94 e 7.20, valores de condutividade entre 43 e 67 us/cm e sólidos dissolvidos totais entre 21 e 33ppm – Tabela 1. A água é transparente em todos os pontos de amostragem e não apresenta cor (com excepção do ponto PAI9 onde a água se apresentava esverdeada) – Tabela 1. No entanto, nos pontos de amostragem PAI3, PAI4 e PAI7 foram detectados teores de nitratos e amónia ligeiros e teores de fosfatos moderados a elevados em todos os pontos de amostragem, com excepção do ponto PAI5 (Tabela 1).

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11

Tabela 1 – Dados qualitativos e quantitativos relativos aos habitats e qualidade da água dos pontos de amostragem – Rio Paiva.

Legendas: * T-troncos, P–pedras, R-rochas, V–vegetação; ** A-algas, M–macrófitas, P-plantas aquáticas; *** RM-rocha-mãe; x – presença; ver ponto 3.2 para interpretação dos atributos das variáveis qualitativas (transparência, hidrófitos, helófitos, detritos e

galeria ripícola).

Ponto de Amostragem PAI1 PAI2 PAI3 PAI4 PAI5 PAI6 PAI7 PAI8 PAI9

Temperatura (ºC) 21.16 19.26 22.45 23.98 23.73 23.64 20.87 22.34 21.5

Condutividade (us/cm) 63 62 62 61 58 62 67 43 44

O2 dissolvido (ppm) 7.22 5.88 7.62 7.55 7.19 7.06 5.25 5.86 6.08

pH 7.01 7.12 6.94 7.18 7.2 7.14 7.13 7.14 7.12

Sólidos dissolvidos (ppm) 31 31 31 31 26 31 33 21 22

Salinidade 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.03 0.02 0.02

Nitritos (mg/L) 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Nitratos (mg/L) 0 0 10 0-10 0 0 10 0 0

Amónia (mg/L) 0 0 0 0.5 0 0 10 0 0

Fosfatos (mg/L) >2 2 1 >2 0 2 0.5 >2 0.25

Transparência 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Ensombramento (%) 30-60% <30% <30% <30% <30% 30-60% >60% >60% <30%

Cor 0 0 0 0 0 0 0 0 1

Largura máxima (m) 8.9 22 15 42 34 22 18.5 5.1 40

Profundidade máxima (cm) 41 90 45 85 60 81 31 41 92

% Pools 10 100 60 40 80 60 20 20 80

% Runs 30 - 35 45 20 30 60 50 15

% Riffles 60 - 5 15 0 10 20 30 5

Abrigos * PRV TPRV TPRV R PV PRV TPRV TPRV PRV

Vegetação dominante ** M P P MP P AM MP M P

Hidrófitos 0 1 0 0 0 0 0 0 0

Helófitos 1 2 1 2 2 1 0 1 1

Detritos 0 1 1 1 0 1 1 1 1

Substrato dominante *** 300-600 >600 >600 RM >600 RM RM 100-200 >600 Substrato sub-dominante 200-300 5-50 300-600 200-300 5-50 >600 >600 200-300 RM

% de finos 0 20 10 15 30 0 0 5 30

Galeria ripícola 3 3 3 3 3 3 3 3 3

margem esquerda 100% 75-100% 50% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

margem direita 100% 75-100% 100% 100% 75-100% 100% 100% 100% 50%

Briófitos x x x x x x x x x

Ervas baixas x x x x x x x x x

Ervas altas x x x x x x x x x

Arbustos x x x x x x x x x

Árvores x x x x x x x x x

4.1.2 Composição da comunidade piscícola

Em termos ictiofaunísticos, foi detectada a ocorrência das seguintes espécies nos pontos de amostragem do Rio Paiva: truta (Salmo trutta), escalo do Norte (Squalius carolitertii), ruivaco (Achondrostoma oligolepis), bordalo (Squalius alburnoides), barbo (Luciobarbus bocagei) e boga de boca recta (Pseudochondrostoma duriense) – Figura 2. Não foi detectada a presença de qualquer espécie exótica.

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12

Figura 2 | Espécies capturadas no Rio Paiva: 1- truta (Salmo trutta), 2 - escalo do Norte (Squalius carolitertii), 3 - ruivaco (Achondrostoma oligolepis), 4 - bordalo (Squalius alburnoides), 5 - barbo (Luciobarbus bocagei), 6 - boga de boca recta (Pseudochondrostoma duriense).

As capturas totais por espécie e por local de amostragem são apresentadas na Tabela 2.

Foi capturado um total de 850 indivíduos, 7.29% (N=62) dos quais pertencentes à espécie-alvo Salmo trutta e os restantes 92.70% (N=788) a uma das cinco espécies de ciprinídeos nativos listados acima.

Globalmente, a boga de boca recta (P. duriense) e o bordalo (S. alburnoides) foram as espécies com maior expressão nas capturas, representando respectivamente 42.82% (N=364) e 36.82% (N=313) do total de indivíduos capturados – Tabela 2. O barbo (L. bocagei) e o ruivaco (A. oligolepis) foram, pelo contrário, as espécies com menor número de indivíduos capturados, representando apenas 2.00% (N=17) e 4.24% (N=36) do total de indivíduos capturados – Tabela 2.

Tabela 2 – Número de indivíduos capturados e frequência de ocorrência (FO) de cada espécie – Rio Paiva.

Local A. oligolepis L. bocagei P. duriense S. trutta S. alburnoides S. carolitertii

PAI1 75 2 2 3

PAI2 2 2 12 3 119

PAI3 1 7 76 12 134 1

PAI4 1 20 10 6

PAI5 12 7 2 5 4

PAI6 1 76 6

PAI7 56 1

PAI8 6 7 38 26 34

PAI9 14 4 10 43 10

total 36 17 364 62 313 58

FO 66.67% 44.44% 100% 88.89% 66.67% 66.67%

4.1.3 Distribuição espacial da comunidade piscícola

A análise da composição específica por ponto de amostragem revela que, em média, a riqueza específica nos locais amostrados no Rio Paiva é de 4.33 espécies (mínimo 2 – máximo 6), não parecendo existir uma relação entre o número de espécies presentes e a localização do

1 2 3

4 5 6

(13)

13 ponto de amostragem no perfil longitudinal do rio, uma vez que os maiores e menores valores de riqueza específica foram observados tanto a montante como a jusante da área amostrada.

Relativamente à distribuição das espécies, é de salientar que a truta (S. trutta) e a boga de boca recta (P. duriense) revelaram ser espécies ubíquas com ocorrência detectada, respectivamente, em 88.89% e 100% dos pontos de amostragem (Tabela 2).

Pelo contrário, o barbo (L. bocagei) parece ter uma ocorrência menos frequente, tendo sido detectado em apenas quatro (44.44%) dos nove pontos de amostragem – Tabela 2. As restantes espécies (bordalo, ruivaco e escalo do Norte) foram detectados em seis (66.67%) dos nove pontos de amostragem – Tabela 2.

A comparação das abundâncias relativas, normalizadas para ter em conta o comprimento do sector amostrado e o tempo de pesca despendido, revela que os pontos de amostragem localizados mais a jusante (PAI1 a PAI3) e os locais mais a montante (PAI8 e PAI9) apresentam um maior número de indivíduos do que os locais situados na zona intermédia da área de amostragem – Tabela 3.

Tabela 3 – Abundância relativa por ponto de pesca, utilizando como estimador as capturas por unidade de esforço (CPUE), calculadas com base no tempo de pesca e no comprimento do sector amostrado (ver descrição na secção “Metodologia”) – Rio

Paiva.

Local

total indivíduos

sector (m)

tempo pesca (min)

UE

(m/min) CPUE

PAI1 82 30 28 1.07 76.53

PAI2 138 50 23 2.17 63.48

PAI3 231 50 30 1.67 138.60

PAI4 37 63 22 2.86 12.92

PAI5 30 84 20 4.20 7.14

PAI6 83 54 30 1.80 46.11

PAI7 57 110 30 3.67 15.55

PAI8 111 57 30 1.90 58.42

PAI9 81 35 30 1.17 69.43

Relativamente à espécie-alvo (S. trutta), as estimativas de abundância relativa indicam que esta é mais abundante nos pontos PAI3, PAI8 e PAI9 – Figura 3. As abundâncias desta espécie são, comparativamente, bastante diminutas nos pontos PAI4, PAI5 e PAI7 – Figura 3.

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14

Figura 3 | Abundâncias relativas de truta (Salmo trutta) nos nove pontos de amostragem efectuados no Rio Paiva.

4.1.4 Distribuição por classes etárias

Dos 850 indivíduos capturados, 305 (35.88%) eram juvenis (<40mm de comprimento) de cinco espécies: S. alburnoides (N=241), P. duriense (N=47), A. oligolepis (N=14), S. carolitertii (N=2) e L. bocagei (N=1) - Tabela 4. Não foi detectada a presença de indivíduos juvenis de S.

trutta.

A fracção de juvenis excedeu a de adultos nos pontos PAI2 e PAI3, representando, respectivamente, 73.91% e 59.31% do número total de indivíduos capturados nestes locais – Tabela 4. No ponto de amostragem PAI9, o número de juvenis capturados foi ligeiramente inferior ao número de adultos, representando 46.91% do total de capturas – Tabela 4. A percentagem de juvenis capturados foi inferior a 23% do total de indivíduos capturados nos restantes seis pontos de amostragem (sendo nula nos pontos PAI5 e PAI6) – Tabela 4.

Analisando os resultados por espécie, verifica-se que apenas foram capturados indivíduos juvenis de ruivaco A. oligolepis, barbo L. bocagei e escalo do Norte S. carolitertii num ponto de amostragem para cada uma destas espécies – Tabela 4. Os juvenis das restantes espécies foram detectados em seis e três pontos de amostragem, respectivamente, no caso da boga de boca recta P. duriense (em média, 17.35% do total de capturas em cada ponto) e do bordalo S. alburnoides (em média, 70.49% do total de capturas em cada ponto) – Tabela 4.

1,87

1,38

7,20

0,00 0,48

3,33

0,27

13,68

8,57

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Pontos de amostragem

(15)

15

Tabela 4 – Número de juvenis capturados e respectiva percentagem relativamente ao total de capturas, por espécie, em cada local de amostragem – Rio Paiva.

Local A. oligolepis L. bocagei P. duriense S. alburnoides S. carolitertii Nº total de juvenis % do total de capturas/ponto

PAI1 0 0 10 (13.33%) 0 0 10 12.20%

PAI2 0 0 1 (8.33%) 101 (84.87%) 0 102 73.91%

PAI3 0 1 (14.29%) 10 (13.16%) 126 (94.03%) 0 137 59.31%

PAI4 0 0 5 (25.00%) 0 0 5 13.51%

PAI5 0 0 0 0 0 0 -

PAI6 0 0 0 0 0 0 -

PAI7 0 0 13 (23.21%) 0 0 13 22.81%

PAI8 0 0 8 (21.05%) 0 2 (5.88%) 10 9.01%

PAI9 14 (100%) 0 0 14 (32.56%) 0 38 46.91%

total 14 1 47 241 2 305

A análise da distribuição das classes de comprimento dos indivíduos de S. trutta capturados permite verificar que a população de trutas do Rio Paiva é maioritariamente composta por indivíduos com um tamanho entre os 41 e os 100mm de comprimento à furca (N=53, 86.89%). Não tendo sido capturado qualquer indivíduo com menos de 40mm, as restantes classes de comprimento representam apenas 14.75% (101-200mm: 8.20% e 201- 300mm: 6.56%) do total de indivíduos capturados.

A distribuição das classes de tamanho por ponto de amostragem é apresentada nas Figuras 4 a 11. Na generalidade, foram capturados indivíduos pertencentes a uma ou duas classes de comprimento em todos pontos de amostragem, excepto no caso do ponto PAI9, onde os indivíduos capturados pertenciam a três classes de comprimento (Figura 11).

Verifica-se que os indivíduos de maior dimensão (pertencentes à classe de comprimentos 201-300mm) ocorrem apenas nos pontos de amostragem PAI1, PAI3 e PAI9, enquanto os indivíduos de menor dimensão (pertencentes à classe de comprimentos 41-100) foram detectados em todos os pontos de amostragem, com excepção do ponto PAI1.

(16)

16

Figura 4 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI1 (N=2).

Figura 5 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI2 (N=3).

Figura 6 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI3 (N=12).

0 5 10 15 20 25 30 35

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI1

0 5 10 15 20 25 30 35

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI2

0 5 10 15 20 25 30 35

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI3

(17)

17

Figura 7 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI5 (N=2).

Figura 8 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI6 (N=6).

Figura 9 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI7 (N=1).

0 5 10 15 20 25 30 35

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI5

0 5 10 15 20 25 30 35

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI6

0 5 10 15 20 25 30 35

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI7

(18)

18

Figura 10 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI8 (N=26).

Figura 11 | Distribuição das classes de comprimento de Salmo trutta no ponto de amostragem PAI9 (N=10).

4.1.5 Variação da comunidade piscícola entre 2012 e 2015

Os resultados obtidos nas campanhas de amostragem realizadas em 2012 e 2015 mostram que a comunidade piscícola do Rio Paiva se mantém idêntica, com uma riqueza específica global de 6-7 espécies (em 2015 não foi detectada a presença de A. anguilla), exclusivamente nativas, e uma riqueza específica média de 4.22/4.33 espécies por ponto de amostragem – Tabela 5. Na campanha de 2015 verificou-se um acréscimo do número de juvenis capturados para cerca do triplo relativamente ao valor obtido na campanha anterior – Tabela 5.

0 5 10 15 20 25 30

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI8

0 1 2 3 4 5 6 7 8

0-40 41-100 101-200 201-300

Frequências albsolutas

Classes de tamanho (mm)

PAI9

(19)

19

Tabela 5 – Comparação dos dados populacionais e relativos à espécie-alvo S. trutta, obtidos nas campanhas de 2012 e 2015.

2012 2015

Riqueza específica global 7 sp. 6 sp.

Riqueza média/ponto 4.22 sp./ponto 4.33 sp./ponto

% espécies nativas 100% 100%

% juvenis 10.95% 35.88%

S. trutta

% do total de capturas 4.46% (33/740) 7.29% (62/850)

Total de indivíduos 33 62

Nº juvenis 0 0

Frequência de ocorrência global 66.67% (6/9) 88.89% (8/9) Espécie ausente PAI4, PAI7 e PAI8 PAI4

Classes tamanho: 0-40mm 0% 0%

41-100mm 69.70% 85.25%

101-200mm 21.21% 8.20%

201-300mm 9.09% 6.56%

Relativamente à espécie-alvo S. trutta, verificou-se um aumento do número de indivíduos capturados e da frequência de ocorrência (de 66.67% para 88.89% dos pontos de amostragem), havendo apenas um local onde a espécie continua a não ser capturada (PAI4) – Tabela 5. De 2012 para 2015 a distribuição das classes de tamanho é idêntica: sem ocorrências na primeira classe de tamanho (<40mm) e maior representatividade da segunda classe de tamanho (41-100mm). Salienta-se, no entanto, um aumento da percentagem de indivíduos pertencentes à classe 41-100 e uma diminuição das percentagens referentes às maiores classes de tamanho de 2012 para 2015 – Tabela 5.

A comparação das abundâncias relativas da espécie-alvo S. trutta em cada ponto de amostragem (traduzidas pelas capturas por unidade de esforço), nas duas campanhas de amostragem, mostra que houve um ligeiro incremento nos pontos PAI1, PAI7 e PAI9 e um incremento mais acentuado nos pontos PAI3 e PAI8 – Tabela 6. Pelo contrário, registou-se um ligeiro decréscimo de abundância nos pontos PAI2 e PAI6, e um decréscimo acentuado no ponto PAI5 – Tabela 6.

(20)

20

Tabela 6 – Abundâncias relativas da espécie-alvo S. trutta por ponto de amostragem, calculadas com base no número de capturas por unidade de esforço, obtidas nas campanhas de 2012 e 2015 e respectivas tendências de incremento ou de redução.

2012 2015 Tendência

PAI1 1.00 1.87

PAI2 4.80 1.38

PAI3 0.80 7.20 ↑↑

PAI4 0 0 -

PAI5 12.00 0.48 ↓↓

PAI6 6.00 3.33

PAI7 0 0.27

PAI8 0 13.68 ↑↑

PAI9 5.33 8.57

(21)

21 4.2. Rio Mira

4.2.1 Caracterização dos habitats

O Rio Mira, tal como a maior parte dos rios de tipo mediterrânico, apresenta desconectividade fluvial na época estival, ou seja, com o abaixamento dos caudais, o curso de água fica reduzido uma série de pêgos com comunicação reduzida ou inexistente. A situação de caudal reduzido em que se encontravam os locais de amostragem é notória nas Figuras II.10 a II.20, sendo de salientar a total ausência de água no ponto de amostragem MIR11 (Figura II.19 – Anexo II) e uma situação de pêgo isolado nos pontos MIR2, MIR9 e MIR10.

Tabela 7 – Dados qualitativos e quantitativos relativos aos habitats e qualidade da água dos pontos de amostragem – Rio Mira.

Legendas: * T-troncos, P–pedras, R-rochas, V–vegetação; ** A-algas, M–macrófitas, P-plantas aquáticas; *** RM-rocha-mãe;

presença (x) e ausência (-); ver ponto 3.2 para interpretação dos atributos das variáveis qualitativas (transparência, hidrófitos, helófitos, detritos e galeria ripícola).

Ponto de

Amostragem MIR1 MIR2 MIR3 MIR4 MIR5 MIR6 MIR7 MIR8 MIR9 MIR10 MIR12

Temperatura (ºC) 20.66 18.82 21.31 25.56 23.34 22.11 19.41 18.84 21.43 19.93 20.43

Condutividade (us/cm) 706 688 663 645 645 626 602 843 743 973 744

O2 dissolvido (ppm) 1.89 1.29 2.52 5.00 3.96 3.91 6.94 2.48 5.46 2.09 2.02

pH 7.25 7.36 7.29 7.22 7.31 7.54 7.37 7.43 7.32 7.36 7.34

Sólidos dissolvidos (ppm) 351 344 332 322 322 313 301 422 371 487 372

Salinidade 0.34 0.34 0.32 0.31 0.31 0.3 0.29 0.42 0.36 0.48 0.36

Nitritos (mg/L) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Nitratos (mg/L) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Amónia (mg/L) 0 0 0 0/10 0 0/0.5 0 0 0.5 0 0

Fosfatos (mg/L) 2 0 1 0.25/0.5 1 0.25 1 0.25 1 1 1

Transparência 1 1 1 1 0 0 0 1 1 1 1

Ensombramento (%) >60% 30-60% >60% >60% <30% 30-60% >60% >60% >60% >60% >60%

Cor 2 2 2 2 0 2 2 2 2 2 2

Largura máxima (m) 7.98 2.9 11.6 4.8 2.94 7.2 6.68 9.04 8.9 6.5 14

Profundidade máxima (cm) 110 54 83 46 32 73 80 92 80 73 94

% Pools 100 100 100 100 95 100 90 100 100 100 100

% Runs - - - - 5 - 10 - - - -

% Riffles - - - - 0 - 0 - - - -

Abrigos TPR TPRV TPR TPRV V TPRV TPR TPR TPR TP TPR

Vegetação dominante - A - A P AP - A A A -

Hidrófitos 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0

Helófitos 0 0 0 0 3 1 0 0 0 0 0

Detritos 3 2 2 3 0 3 2 2 2 2 3

Substrato dominante 200-300 300-600 100-200 100-200 300-600 >600 RM >600 RM 5-50 RM Substrato sub-dominante 5-50 <0.5 5-50 5-50 50-100 RM >600 <0.5 50-100 RM >600

% de finos 85 80 70 80 <30 60 70 80 50 90 80

Galeria ripícola 2 2 3 2 1 3 3 3 3 3 3

margem esq >75% <50% >75% <50% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

margem dta <50% <50% 100% 75-100% 75-100% 75-100% 100% 100% 100% 100% 100%

Briófitos - - - - - x x x x x x

Ervas baixas x x x x x x x x x x

Ervas altas x - x x x x x x x x x

Arbustos x x x - - x x x x x x

Árvores x - x x - x x x x x x

(22)

22 Os sectores amostrados no Rio Mira, com uma largura máxima entre os 2.9 e os 14 metros e profundidade máxima entre 32 e 110 cm, são maioritariamente troços com apenas um tipo de habitat fluvial (pool), bastante ensombrados, com galerias ripícolas complexas (quatro ou mais tipos de vegetação), contínuas ou semi-contínuas, constituídas maioritariamente por ervas altas e baixas, arbustos e árvores (Tabela 7). A granulometria dos substratos dominante e sub-dominante é bastante variável entre pontos de amostragem, sendo, no entanto muito frequente uma elevada cobertura por sedimentos finos (>60%) – Tabela 7. A abundância de detritos lenhosos é na generalidade intermédia ou abundante, a vegetação aquática que ocorre mais frequentemente são algas filamentosas, e os abrigos disponíveis incluem maioritariamente troncos, pedras e raízes (Tabela 7).

Relativamente aos parâmetros físico-químicos da água, os teores de oxigénio dissolvidos variam entre 1.89 e 6.94ppm, com pH entre 7.22 e 7.54, valores de condutividade entre 602 e 973us/cm e sólidos dissolvidos totais entre 301 e 487ppm – Tabela 7. A água é acastanhada em todos os pontos de amostragem (excepto no ponto MIR5) e turva na maior parte dos pontos de amostragem (Tabela 7). Não foram detectados nitritos ou nitratos em qualquer ponto de amostragem, embora tenham sido detectados teores reduzidos de amónia nos pontos MIR4, MIR6 e MIR9 (Tabela 7). Relativamente aos fosfatos, os teores são intermédios a elevados em todos os pontos de amostragem, com excepção do ponto MIR2 (Tabela 7).

4.2.2 Composição da comunidade piscícola

Em termos ictiofaunísticos, foi detectada a ocorrência das seguintes espécies nos pontos de amostragem do Rio Paiva: escalo do Mira (Squalius torgalensis), enguia (Anguilla anguilla), barbo do sul (Luciobarbus sclateri), verdemã (Cobitis paludica), boga do Sudoeste (Iberochondrostoma almacai), perca-sol (Lepomis gibbosus) e esgana-gata (Gasterosteus aculeatus) – Figura 12.

Figura 12 | Espécies capturadas no Rio Mira: 1- escalo do Mira (Squalius torgalensis), 2-enguia (Anguilla anguilla), 3-barbo do sul (Luciobarbus sclateri), 4-verdemã (Cobitis paludica), 5-boga do Sudoeste (Iberochondrostoma almacai), 6-perca-sol (Lepomis gibbosus) e 7-esgana-gata (Gasterosteus aculeatus).

1 2 3

4 5 6 7

(23)

23 Das sete espécies capturadas, apenas a perca-sol é uma espécie exótica, sendo as restantes seis (85.71%) espécies nativas.

As capturas totais por espécie e por local de amostragem são apresentadas na Tabela 8. Foi capturado um total de 792 indivíduos, a maior parte dos quais (63.64%, N=504) pertencentes à espécie-alvo Squalius torgalensis. As outras duas espécies com maior expressão nas capturas, embora com valores substancialmente inferiores, foram a enguia A. anguilla (15.53%, N=123), a perca-sol L. gibbosus (7.70%, N=61) e o esgana-gata G. aculeatus (5.93%, N=47) – Tabela 8.

O barbo do Sul (L. sclateri), a verdemã (C. paludica) e a boga do Sudoeste (I. almacai) foram, pelo contrário, as espécies com menor número de indivíduos capturados, representando apenas 3.41% (N=27), 3.54% (N=28) e 0.25% (N=2) do total de indivíduos capturados – Tabela 8.

Tabela 8 – Número de indivíduos capturados e frequência de ocorrência (FO) de cada espécie – Rio Mira.

Local S. torgalensis A. anguilla L. sclateri C. paludica I. almacai L. gibbosus G. aculeatus

MIR1 9 13 1 7 5

MIR2 52 10

MIR3 56 2 3 1 2

MIR4 132 20 17 18

MIR5 41 7 4 4 8

MIR6 6 29 1 9 1 4

MIR7 44 22

MIR8 2 1 14

MIR9 6 10

MIR10 207 3 1 1

MIR12 1 16 2

total 504 123 27 28 2 61 47

FO 90.91% 90.91% 54.55% 36.36% 9.09% 36.36% 54.55%

4.2.3 Distribuição espacial da comunidade piscícola

A análise da composição específica por ponto de amostragem revela que, em média, a riqueza específica nos locais amostrados no Rio Mira é de 3.73 espécies (mínimo 2 – máximo 6), não parecendo existir uma relação entre o número de espécies presentes e a localização do ponto de amostragem no perfil longitudinal do rio, uma vez que os maiores e menores valores de riqueza específica foram observados tanto a montante como a jusante da área amostrada.

Relativamente à distribuição das espécies, é de salientar que o escalo do Mira (S.

torgalensis) e a enguia (A. anguilla) são as espécies mais ubíquas, tendo sido capturadas em

(24)

24 todos os pontos de amostragem excepto no ponto MIR2 (FO=90.91%) – Tabela 8. Pelo contrário, a boga do Sudoeste (I. almacai) foi detectada apenas em um (9.09%) dos 11 pontos de amostragem – Tabela 6. As restantes espécies (barbo do Sul, verdemã, esgana-gata e perca-sol) foram detectados em quatro (36.36%) ou seis (54.55%) dos 11 pontos de amostragem – Tabela 8.

As espécies exóticas representam em média 9.77±25.28% (mínimo: 0, máximo: 83.87%) das capturas e estão restringidas a pontos de amostragem no sector mais a jusante do Rio Mira (Tabela 9). Por outro lado, excluindo a espécie migradora A. anguilla, as espécies nativas representam em média 62.30±32.66% das capturas (Tabela 9).

Tabela 9 – Percentagem de espécies exóticas (L. gibbosus), espécies nativas não migradoras (S. torgalensis, L. sclateri, C. paludica, I. almacai e G. aculeatus) e espécies nativas migradoras (A. anguilla) capturadas em cada ponto de amsotragem.

% Espécies % Espécies nativas Local exóticas não migradoras migradoras

MIR1 20.00% 42.86% 37.14%

MIR2 83.87% 16.13% 0.00%

MIR3 1.56% 95.31% 3.13%

MIR4 0% 89.30% 10.70%

MIR5 0% 89.06% 10.94%

MIR6 2.00% 40.00% 58.00%

MIR7 0% 66.67% 33.33%

MIR8 0% 94.12% 5.88%

MIR9 0% 37.50% 62.50%

MIR10 0% 98.58% 1.42%

MIR12 0% 15.79% 84.21%

média 9.77% 62.30% 27.93%

mín 0.00% 15.79% 0.00%

max 83.87% 98.58% 84.21%

dp 25.28% 32.66% 29.24%

A comparação das abundâncias relativas, normalizadas para ter em conta o comprimento do sector amostrado e o tempo de pesca despendido, revela que os pontos de amostragem MIR4 e MIR10 apresentam um maior número de indivíduos capturados por unidade de esforço, enquanto os pontos MIR9 e MIR12 apresentam os menores números de indivíduos (Tabela 10).

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