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A SAÚDE PRISIONAL E A IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE NO PRESÍDIO REGIONAL DE ERECHIM

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CAMPUS DE ERECHIM

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO

MÁRCIA FABIAN

A SAÚDE PRISIONAL E A IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE NO PRESÍDIO “REGIONAL” DE ERECHIM

ERECHIM 2017

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MÁRCIA FABIAN

A SAÚDE PRISIONAL E A IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE NO PRESÍDIO “REGIONAL” DE ERECHIM

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel de Direito, Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim.

Orientadora: Esp. Alessandra Biasus

ERECHIM 2017

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MÁRCIA FABIAN

A SAÚDE PRISIONAL E A IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE NO PRESÍDIO “REGIONAL” DE ERECHIM

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel de Direito, Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim.

Erechim, 13 de Novembro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________ Prof.ª Esp. Alessandra Biasus URI – Campus de Erechim

__________________________________ Prof. Me Simone de Albuquerque

URI – Campus de Erechim

__________________________________ Prof. Me. Luciano Alves dos Santos

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Em especial agradecimento a minha família e tias que durante estes cinco anos de faculdade souberam compreender a minha falta de tempo de estar mais presente nas atividades junto com eles. Aos meus amados sobrinhos que estão tão longe. As colegas Ana Paula e Luciane e respectivas famílias que pude conviver no decorrer desse tempo. Não podendo deixar de mencionar as enfermeiras Fabiani Breancini e Eclesan Palhão que me ajudaram na escolha do tema e primeiros materiais para o desenvolvimento deste trabalho de conclusão.

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AGRADECIMENTOS

A Deus Pai, pois dele emana toda a sabedoria.

A minha mãe e irmão, ao meu pai e avós in memorian por terem me ensinado o real significado da dignidade e da perseverança e nunca deixado desistir.

Aos meus sobrinhos que eu amo tanto, estando tão longe são motivadores nesse percurso árduo.

As minhas tias e tios por estarem sempre me apoiando, ensinando e compartilhando de todas as dificuldades e felicidades nestes anos de faculdade.

A Professora Orientadora Esp. Alessandra Biasus, pela postura, conhecimento e atenção. E pela amizade!

Às amigas e colegas Ana Paula Zambra Benits e Luciane Cardoso pelo apoio recebido ao longo do curso e respectivamente a suas famílias por me acolherem nesta caminhada.

Às enfermeiras da rede municipal de Saúde Fabiani Brancini e Eclesan Palhão por me ajudarem a definir meu tema do trabalho de conclusão do curso, bem como na disponibilização de informações e materiais.

Aos meus chefes e colegas de trabalho por me ajudarem quando precisei sair do trabalho e fazer minhas atividades da faculdade.

Ao Curso de Direito da URI, Campus de Erechim – seus professores, seus abnegados e atenciosos funcionários que contribuíram para minha formação.

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Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar a efetivação do direito à saúde das pessoas em privação de liberdade, dos direitos humanos enquanto cidadãos nesta condição. A estruturação e a compilação de legislação específica iniciaram após a Segunda Guerra Mundial aprimorando-se nos dias atuais, cada vez mais com a realidade dos presídios, da população carcerária e dos profissionais da área da saúde pública. Cabe ao Estado a tarefa de zelar pelos presos, sendo que os mesmos ao adentrar ao sistema prisional estão sobre sua responsabilidade, e o que o mesmo tem o dever de manter financeiramente através de verbas destinadas aos atendimentos em saúde e de prestar contas de como a verba pública está sendo utilizada no município. Analisaremos o entendimento de Jurisprudência que tratam sobre a permanência do apenado na instituição penal para o tratamento na Unidade de Saúde Prisional e também da impossibilidade do tratamento neste espaço público.

Palavras-chave: Direitos; Saúde Pública; Estado; Prisioneiros; Responsabilidade;

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ABSTRACT

The objective of this work is to analyze the effectiveness of the right to receive proper public health care when it comes to people deprived of liberty, as well human rights of citizens under such condition. Additionally, this project covers the structure and offers a compilation of the specific legislation that started after the World War II, up until the contemporary times, regarding the incarcerated population and also public health care professionals. It is a State duty to care and protect the incarcerated population, as well to maintain these population financially assisted through public funding designated to health care. Furthermore, this budget needs to be verified in terms of expenditure in a municipality level. Finally, in this work, we aim to understand the jurisprudence regarding the permanency of the incarcerated individual in the penal institutions and their available health care treatments, as well the challenges and difficulties for treating those individuals in such public space. Key words: human rights; public health care; state; incarcerated population; responsibility; management

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1 - Resoluções Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária ... 16

Tabela 2 - Portarias Estaduais PNAISP ... 17

Tabela 3 - Composição técnica na Unidade de Saúde Prisional ... 31

Tabela 4 - Piso da Atenção Básica Variável... 31

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SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO ... 10

2HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EM SAÚDE E DIREITOS HUMANOS... 12

2.1 Dos atendimentos aos apenados no Brasil...15

2.2 Evolução na Legislação Brasileira...16

3DAS RESPONSABILIDADES DO ESTADO ... 21

3.1 Diferença entre Obrigação e Responsabilidade...21

3.2 O atendimento na Unidade de Saúde Prisional e a jurisprudência...23

4IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE PRISIONAL ... 27

4.1Carandiru uma história de atendimentos aos apenados no Brasil...27

4.2Da população carcerária a organização dos serviços em saúde...29

4.3Dotação orçamentária ... 31

4.4Levantamento da população carcarária no município ... 33

5CONCLUSÃO ... 35

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1 INTRODUÇÃO

A problemática sobre a saúde dos apenados é dos muitos temas de discussões entre os legisladores, operadores do direito, profissionais da área da saúde e cidadãos em todo mundo. É um assunto complexo e com diversos posicionamentos, ideias e soluções no que diz respeito aos sujeitos privados de sua liberdade e que estão sob a tutela do Estado.

O Sistema Único de Saúde - popularmente conhecido como SUS é responsável pela organização do plano de saúde da população brasileira de maneira acessível e com recursos disponibilizados com a finalidade do atendimento ser realizado de forma gratuita, sendo único nesta modalidade em nosso país.

Com adesão à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional - PNAISP, o Estado do Rio Grande do Sul é pioneiro na implantação institucional da Unidade Básica de Saúde Prisional. No ano de 2014 foi editada a Portaria Interministerial para que fossem criadas Unidades Básicas de Saúde nos presídios, com critérios específicos como a quantidade de apenados e com quadro de profissionais envolvidos.

A estrutura disponibilizada para os atendimentos nos serviços em saúde em nosso no município é ampla e muito bem organizada. São componentes da estrutura ligada à Saúde no munícipio de Erechim: Unidades Básicas de Saúde - UBS, Estratégia de Saúde da Família – ESF e a Rede de Saúde propriamente dita, que está apta a atender os moradores do nosso município.

A instalação da Unidade de Saúde Prisional no Presídio “Regional” de Erechim, para atendimento dos cidadãos encarcerados segue padrões discutidos mundialmente, passando a ser uma realidade. Os mesmos estabelecidos em protocolos e legislação internacional específica.

Em determinada fase do trabalho será exposto a quantidade de detentos que cumprem pena em nosso município, distribuídos pelo tipo de regime pelo qual ingressaram no sistema prisional, assim como os atendimentos em saúde realizados aos privados de liberdade.

O papel do Estado é importantíssimo, pois a ele cabe a tarefa do atendimento e zelo do cidadão, a responsabilidade pelo repasse do orçamento, e serviços

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relacionados à saúde e da dignidade do individuo que estiver sob sua guarda e proteção.

O sistema prisional possui uma legislação ampla que tem a intenção de garantir os direitos básicos e fundamentais de sobrevivência, no entanto, a falta de políticas públicas mais efetivas acaba por transformar o sistema carcerário em um deposito de seres humanos com problemas com a lei.

O método de pesquisa utilizado para o desenvolvimento deste trabalho foi analítico descritivo e a utilização de doutrina, jurisprudências, leis e sites com referências de banco de dados foi de suma importância para sua construção.

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2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO EM SAÚDE E DIREITOS HUMANOS

Quando falamos em seres humanos, temos que ter em mente a importância, respeito e o zelo, seja eles cidadãos privados de liberdade ou libertos. A efetivação dos seus direitos como saúde, educação, lazer entre tantos outros foi possível somente com registros em documentos que são base para diversos países que aderem a esses protocolos, que elaboram Leis específicas e que também podem estar previstas no texto constitucional.

Assim nasce a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, carta compilada por pessoas residentes em diversas partes do mundo, fruto do término da Segunda Guerra Mundial com objetivo de delimitar o poder na forma da lei. A partir desta união dos povos, iniciou-se o registro formal do texto onde os valores universais foram pontuados com o objetivo de trazer a paz aos povos, como refere Aruanã Emiliano Martins Pinheiro Rosa

A Organização das Nações Unidas (ONU) surge, em 1948, após o colapso da Segunda Guerra Mundial, como entidade promotora dos valores universais dos direitos humanos e no intuito de trazer a sociedade uma paz que as nações não experimentavam há alguns anos, devido às corridas imperialistas que se travaram nos séculos anteriores. (ROSA, 2015, p. 01).

Segundo Laufer (1995, p.01), ”É um direito novo, fruto do resultado da Segunda Guerra Mundial”, um direito que até então não era disponibilizado na forma da lei.

A referida declaração, pela primeira vez tratou do respeito aos seres humanos que nascem livres e iguais e que podem chamar para si seus direitos sem nenhuma distinção. Sejam de ordem político ou jurídico nacional e ainda internacional, em quaisquer locais do mundo, sem nenhuma limitação. Refere, também, que nenhuma pessoa poderá ser mantida sob o regime de escravidão ou servidão, torturada, ou estar sujeita e expostas a penas ou tratamentos, degradantes ou cruéis. De acordo com o texto da Declaração dos Direitos Humanos

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião

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política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3° Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. (HUMANOS, 1948)

Apesar disso, foi preciso pensar, avaliar e criar regras de comprometimento internacional sobre as condições e tratamentos dos presos no mundo. Desta forma, a Assembleia Geral da ONU pela Resolução 39/46 na data de 10 de dezembro de 1984 a elaborou as Regras Internacionais para o Enfrentamento da Tortura e maus Tratos.

Neste contexto o Brasil aderiu as Declarações dos Direitos Humanos, através do então presidente José Sarney, com o Decreto 98.386 de 09 de dezembro de 1989, que promulgou as Regras Internacional para o Enfrentamento da Tortura e maus tratos a apensa ao Decreto uma cópia que deverá ser cumprido e executado. Teve sua ratificação pelo Decreto n°40 no governo de Fernando Collor de Melo em 15 de fevereiro 1991.

Porém, com o Decreto 6085 de 19 de abril de 2007 o então presidente Fernando Collor de Melo, levou ao Congresso Nacional para aprovação um adendo que ratificou o Decreto anterior quando os possíveis encargos viriam a onerar os cofres públicos, de acordo com as Regras Internacionais para o enfrentamento da tortura e mau-tratos

Art. 2º - São sujeitos a aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão do referido Protocolo ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição. (MAUS-TRATOS, 2016, p. 19)

Em 2015 com o documento Regras de Mandela, uma nova compilação das Regras Mínimas para o Tratamento de Presos, que, ao longo de 55 anos nortearam a Justiça e o sistema penal, e introduziu-se a importância do ensinamento sobre os Direitos Humanos, tentando aproximá-lo e reestruturá-lo à realidade do sistema penal e a demonstração da função do confinamento para o ambiente social. No que tange as Regras de Mandela

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Ao longo de 55 anos, os Estados usaram as “Regras Mínimas para o Tratamento de Presos” como um guia para estruturar sua Justiça e sistemas penais. Ocorre que essas regras nunca tinham passado por revisão até o ano passado, quando, finalmente, em 22 de maio de 2015, as Nações Unidas oficializaram novo quadro de normas, incorporando novas doutrinas de direitos humanos para tomá-las como parâmetros na reestruturação do atual modelo de sistema penal e percepção do papel do encarceramento para a sociedade. Editaram-se, pois, as chamadas Regras de Mandela. (MANDELA, 2016, p.06)

Ficou assegurada na construção deste regramento, em especial a atenção com serviços médicos e de saúde com a mesma qualidade disponível à população livre, que é de responsabilização do Estado esta prestação deste serviço. Sem a discriminação com a sua situação jurídica. Dos cuidados pessoais e higiene dos indivíduos privados de sua liberdade, da supervisão da alimentação, do serviço de saúde formado por uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais das mais diversas áreas, tais como psicólogos, psiquiatras, odontólogo, conforme referido nas Regras de Mandela

Serviços de saúde Regra 24

1. O provimento de serviços médicos para os presos é uma responsabilidade do Estado. Os presos devem usufruir dos mesmos padrões de serviços de saúde disponíveis à comunidade, e os serviços de saúde necessários devem ser gratuitos, sem discriminação motivada pela sua situação jurídica.

2. Os serviços de saúde serão organizados conjuntamente com a administração geral da saúde pública e de forma a garantir a continuidade do tratamento e da assistência, inclusive nos casos de HIV, tuberculose e outras doenças infecciosas, abrangendo também a dependência às drogas. Regra 25

1. Toda unidade prisional deve contar com um serviço de saúde incumbido de avaliar, promover, proteger e melhorar a saúde física e mental dos presos, prestando particular atenção aos presos com necessidades especiais ou problemas de saúde que dificultam sua reabilitação.

2. Os serviços de saúde devem ser compostos por equipe interdisciplinar, com pessoal qualificado suficiente, atuando com total independência clínica, e deve abranger a experiência necessária de psicologia e psiquiatria. Serviço odontológico qualificado deve ser disponibilizado a todo preso. (MANDALA, 2016).

O indivíduo ao ingressar no sistema carcerário, seja por sentença condenatória transitada em julgado ou em prisão preventiva, sofre, todavia não somente o cerceamento de sua liberdade, suas restrições vão mais além. Sofrem também privações físicas, psíquicas, sexuais, restrições alimentares, de lazer dentre

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outras, sabendo que estes esses seres humanos têm as mesmas necessidades dos que na condição de livres. Como na obra de Foucault

(...) Sem dúvida, a pena não mais se centralizava num suplicio como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou um direito. Porém, castigos com trabalhos forçados ou prisão – nunca funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: redução alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra. Consequências não tencionadas, mas inevitáveis da própria prisão? Na realidade, a prisão, nos seus dispositivos mais explícitos, sempre aplicou certas medidas de sofrimento físico. A crítica ao sistema penitenciário, na primeira metade do século XIX (a prisão não é bastante punitiva: em suma, os detentos têm menos fome, menos frio e privações que muitos pobres ou operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente levantado: é justo que o condenado sofra mais que os outros homens? A pena se dissocia totalmente de um complemento de dor física. Que seria então um castigo incorporal? (Foucault, 2013, p. 20).

Não cabe aos cidadãos a tarefa de punir – ius puniendi – tarefa esta é de competência exclusiva do Estado, através das Leis. No caso do Direito Penal a codificação está no Código Penal e em Leis complementares a tipificação dos crimes puníveis, bem como a pena imposta ao delito correspondente. De acordo com Beccaria

O direito de punir não pertence a cidadão algum em particular; pertence às leis, que são o órgão da vontade de todos. Um cidadão ofendido pode renunciar à sua porção desse direito, mas não tem nenhum poder sobre a dos outros. (BECCARIA, 2013, p. 67).

2.1 Dos atendimentos aos apenados no Brasil

No Brasil, os cuidados relacionados com a saúde e os atendimentos prestados pelo Sistema Único de Saúde, é um programa do Governo Federal. Sendo responsável pelas políticas públicas de atendimento e assistência pública de saúde à população residente no país, não havendo distinção entre os cidadãos livres ou encarcerados, por isso a importância de ser um direito social protegido e vinculado dignidade do homem.

Neste contexto, não podemos excluir do atendimento os cidadãos privados de sua liberdade. Resguarda o direito da população em geral ao atendimento à saúde, sendo que tal prestação é apresentada na Constituição Federal, nos artigo 23 Inciso II de competência comum da União, Estados, do Distrito Federal e Municípios “cuidar da saúde e assistência pública, da proteção das pessoas

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portadoras de deficiência”. Ainda no artigo 30 Inciso VII “prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde população”.

A Lei de Execuções Penais – LEP 7210 de 11 de julho de 1984 que trata sobre a execução da pena, do condenado ou internado, em seu artigo 1º expressa o objetivo do cumprimento “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. A assistência que o estado deve proporcionar aos indivíduos se refere: à saúde, assistência jurídica, social, religiosa e de educação. Em havendo necessidade a assistência em alojamento especial, desde que comprovada à necessidade, será de 02 anos, prorrogável por igual período.

2.2 Evolução na Legislação Brasileira

A legislação brasileira sempre preocupada com a saúde física e mental dos integrantes sob a sua tutela, uma vez que cabe a ele zelar pela integridade física e mental, organizou-se para poder atender com presteza. Neste sentido, foram editadas várias normas a serem seguidas:

Tabela 1 - Resoluções Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

Resoluções do CNPCP (Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária)

Assuntos

Resolução conjunta n°1, de 15 de abril de 2014

Do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária p CNPCP e do Conselho Nacional de Combate a Discriminação – CNCD/LGBT. Estabelece parâmetros de acolhimento de LGBT em privação de liberdade no Brasil Resolução n°1, de 10 de fevereiro de

2014, do Conselho Nacional de Políticas Criminal e Penitenciária - CNPC

Indica o serviço de avaliação e acompanhamento às medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei, consignado na Portaria MS/GM n° 94, de 14 de janeiro de 2014.

Resolução CNPCP n°03, de 1° de junho de 2012

Recomenda que não sejam utilizadas algemas ou outros meios de contenção em presos que sejam conduzidos ou permaneçam em unidades hospitalares, salvo por razões de segurança, ou para evitar uma fuga ou frustrar

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resistência.

Resolução CNPCP n°02, de 1° de junho de 2012

Proíbe o transporte de pessoas presas ou internadas em condições ou situações que lhes causem sofrimentos físicos ou morais, sob pena de responsabilidade administrativa, civil ou criminal

Resolução n°07, de 14 de abril de 2003

Recomenda a adoção de um elenco mínimo de ações de saúde no sistema prisional em diálogo com as diretrizes de atenção básica.

Resolução n°02, de 03 de maio de 2011 Refixa, em caráter precário, até 2015, a existência de seis para oito vagas por cela coletiva

Resolução CNPCP n°02, de 13 de novembro de 2009

Estabelece a proporção mínima entre o contingente de agentes penitenciários e profissionais da equipe técnica e o número de detentos

Resolução CNPCP n°02, de 08 de maio de 2008

Fixa diretrizes básicas para a condução de presos durante o atendimento a saúde e condições mínimas de sua realização

Fonte: Legislação em Saúde no Sistema Prisional/Ministério da Saúde, 2014

O Estado, em relação ao atendimento da saúde das pessoas privadas de sua liberdade, editou as portarias abaixo mencionadas, todas tratando sobre da estruturação e implantação das referidas políticas públicas, tais como:

Tabela 2 - Portarias Estaduais PNAISP

Portarias Estaduais Assuntos

Portaria Interministerial n°1, de 2 de janeiro de 2014

Institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Portaria n° 482, de 1° de Abril de 2014

Institui normas para a operacionalização da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Portaria n°94, de 14 de Janeiro de 2014

Institui o serviço de avaliação e acompanhamento de medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

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acompanhamento às medidas terapêuticas aplicáveis ao paciente judiciário, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Portaria n°305, de 10 de abril de 2014

Estabelece normas para o cadastramento no SCNES das equipes e serviços que farão parte da Atenção Básica de Saúde Prisional e inclui na tabela de Tipos de Equipes do SCNES, os tipos de Equipe de Saúde no Sistema Prisional (ESP).

Portaria n°142, de 28 de abril de 2014

Estabelece normas para o cadastramento no SCNES das equipes que realizarão serviços de avaliação e acompanhamento de medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei (EAP).

Fonte: Legislação em Saúde no Sistema Prisional/Ministério da Saúde, 2014.

A adesão do município de Erechim ao programa foi de maneira facultativa, porém, teve como pré-requisito a anuência do Estado ao programa PNAISP. Um dos critérios, importantíssimos, foi a existência de um presídio com um contingente significativo de pessoas privadas de sua liberdade, segundo Portaria Interministerial Nº 1

Art. 2º Entende-se por pessoas privadas de liberdade no sistema prisional aquelas com idade superior a 18 (dezoito) anos e que estejam sob a custódia do Estado em caráter provisório ou sentenciados para cumprimento de pena privativa de liberdade ou medida de segurança, conforme previsto no Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código Penal) e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. (LEGISLAÇÃO, 2014, p. 17).

Para aderir ao programa o município precisou assinar e seguir os requisitos constantes no Termo de Adesão Municipal, de acordo com os moldes da Portaria Interministerial Nº 1, de 2 de janeiro de 2014. Após encaminhar toda a documentação ao Ministério de Saúde para aprovação, sendo que esta fora autorizada por ato específico do Ministro da Saúde. Com isso, o município garantiu a aplicação de um índice complementar de valores a serem repassados pela União a título de incentivo. Para a adesão ao programa, o município precisou seguir os requisitos constantes na Portaria Interministerial Nº 1

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Art. 14. A adesão municipal à PNAISP será facultativa, devendo observar os seguintes critérios:

I - adesão estadual à PNAISP;

II - existência de população privada de liberdade em seu território;

III - assinatura do Termo de Adesão Municipal, conforme modelo constante no anexo II a esta Portaria;

IV - elaboração de Plano de Ação Municipal para Atenção à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade, de acordo com o modelo constante no anexo III;

V - encaminhamento da respectiva documentação ao Ministério da Saúde para aprovação.

§ 1º A adesão municipal, uma vez aprovada pelo Ministério da Saúde, será publicada no Diário Oficial da União por ato específico do Ministro de Estado da Saúde.

§ 2º Ao Município que aderir a PNAISP será garantida a aplicação de um índice para complementação dos valores a serem repassados pela União a título de incentivo financeiro, que será objeto de ato específico do Ministro de Estado da Saúde. (LEGISLAÇÃO, 2014, p. 20).

O programa PNAISP tem como principais objetivos disponibilizar o acesso à Rede de Atenção Básica de Saúde objetivando o cuidado completo ao indivíduo preso. Assegurando aos profissionais de saúde a liberdade no atendimento, de maneira integra, sem deixar de incorporar as áreas da justiça e saúde. Desta forma qualificando e humanizando a atenção à saúde. Também priorizando as políticas de Direitos Humanos e Justiça Criminal, fomentando a participação e o controle social, como consta na Portaria Interministerial Nº 1

Art. 6º São objetivos específicos da PNAISP:

I - promover o acesso das pessoas privadas de liberdade à Rede de Atenção à Saúde, visando ao cuidado integral;

II - garantir a autonomia dos profissionais de saúde para a realização do cuidado integral das pessoas privadas de liberdade;

III - qualificar e humanizar a atenção à saúde no sistema prisional por meio de ações conjuntas das áreas da saúde e da justiça;

IV - promover as relações intersetoriais com as políticas de direitos humanos, afirmativas e sociais básicas, bem como com as da Justiça Criminal; e

V - fomentar e fortalecer a participação e o controle social. (LEGISLAÇÃO,

2014, p.19)

Assim, o município de Erechim após o encaminhamento da documentação legal de inclusão ao programa de Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional - PNAISP aderiu ao atendimento aos privados de liberdade no Presídio “Regional” de Erechim no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).

A contar desta adesão, a responsabilidade pelos atendimentos aos detentos no que diz respeito à saúde ficou dividido entre os profissionais estaduais e

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municipais, que formaram parceria nesta divisão entre o Estado e o Município de Erechim para atuarem conjuntamente.

Até o presente momento, foi possível com a construção desta pesquisa, resgatarmos um pouco de história mundial e o que colaborou na efetivação de tratados e leis, na busca da valorização do ser humano, dos seus direitos e deveres no decorrer dos tempos. Também foram referidas as adequações feitas no atendimento em saúde pública aos apenados e citadas as principais Leis que vieram a viabilizar o atendimento dos mesmos. Passaremos no próximo capítulo para a análise da responsabilidade do Estado em relação a saúde dos detentos.

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3 DAS RESPONSABILIDADES DO ESTADO

Compreender o conceito de responsabilidade é perceber um compromisso, obrigação ou incumbência. Em termos jurídicos essa ideia tem o mesmo sentido, pois a responsabilidade está ligada a noção de distanciamento de atitude comportamental praticada de maneira prejudicial à alguém. É o dever de reparar um infortúnio, resultante de infração, uma violação a um dever legal. A responsabilidade civil é um múnus que vem para reconstituir um dano proveniente da quebra do dever constitucional. Segundo Cavalieri

Em sentido etimológico, responsabilidade exprime a ideia de obrigação, encargo, contraprestação. Em sentido jurídico, o vocabulário não foge dessa ideia. A essência da responsabilidade está ligada a noção de desvio de conduta, ou seja, foi ela engendrada para alcançar as condutas praticadas de forma contrária ao direito e danosas a outrem. Designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da violação de outro dever jurídico. Em apertada síntese, responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. (CAVALHEIRI, 2014, p.14)

3.1 Diferença entre Obrigação e Responsabilidade Civil

O conceito de obrigação e reponsabilidade se mesclam, porém a distinção entre é ambos visível: a obrigação é um dever de origem, ou seja, primitivo, responsabilidade é um dever consecutivo e ininterrupto.

Os profissionais da área da saúde envolvidos têm a obrigação da prestação deste serviço como um dever jurídico natural que a partir deste momento é responsabilidade, o dever de reparar o dano causado a outrem proveniente do descumprimento de uma obrigação. Defini Cavalieri

Obrigação é sempre um dever jurídico originário; responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, consequente à violação do primeiro. Se alguém se compromete a prestar serviços profissionais a outrem, assume uma obrigação, um dever jurídico originário. Se não cumprir a obrigação (deixar de prestar serviços), violará o dever jurídico originário, surgindo daí a responsabilidade, o dever de compor o prejuízo causado pelo não cumprimento de uma obrigação. (CAVALHEIRI, 2014, p.14-15)

A responsabilidade de cuidar dos apenados é exclusiva do Estado, uma vez que toda a atenção ou cuidados por ele deve ser prestado a quem estiver sob os seus cuidados, e quando não houver zelo pelos cuidados denominamos de culpa in

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vigilando, decorrente da não atenção e falta de desvelo sob quem está sobre sua vigilância.

A culpa in vigilando, por sua vez, decorria da falta de atenção ou cuidado com o procedimento de outrem que estava sob sua guarda ou responsabilidade do agente. (CAVALHEIRI, 2014, p. 55)

A expressão serviço público é uma espécie de ofício administrativo, prestado por servidor público concursado ou em cargo de confiança e compreende uma tarefa que está sobre a tutela da administração pública e demais atividades devem estar sob os cuidados de quem no momento do dano realizava uma determinada tarefa ou função. Desta maneira, artigo 37 da Constituição Federal, §6° “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa” e uma vez estando sob o exercício de sua função o dano é causado é objetivo, assim se excluem o critério subjetivo e orgânico. De acordo com Pacheco

Tendo sido usada a expressão “serviço público”, há que concebê-la como gênero, de que o serviço administrativo seria mera espécie, compreendendo a atividade ou função jurisdicional e também legislativa, e não somente a administrativa do Poder Executivo; e, no que se refere ao “agente”, deve ser entendido no sentido de quem, no momento do dano, exercia atribuição ligada à sua atividade ou função. Desse modo, abrange o §6° art. 37 da CF a responsabilidade da União, dos Estados, do Distrito Federal, Municípios e autarquias; dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo; das empresas, sociedades de economia mista e sociedades privadas, quando no exercício de serviço público e por dano diretamente causado pela execução desse serviço, para cuja caracterização exclui-se o critério orgânico ou subjetivo. (Pacheco, RT, 635:103 apud Gonçalves, 2014, p.177)

As Nações Unidas integraram aos seus princípios um dos preceitos fundamentais da deontologia médica, qual seja grifar o elo entre o aprisionado e o especialista na área médica, que tem como requisitos a proteção e de analisar e recuperação a saúde do recluso. Portanto, esta análise do quadro de saúde do detento não visa a aplicação de uma sanção ou tortura, pois se assim fosse não estaria de acordo com as normas éticas dos profissionais da área da saúde, que visam somente a proteção, avalição e a melhoria . Relato do Protocolo de Istambul

Os princípios das Nações Unidas incorporam também uma das regras fundamentais de deontologia médica ao sublinhar que a única relação

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conforme à ética entre o recluso e o profissional de saúde é a que se destina a avaliar, proteger e melhorar a saúde do primeiro. Assim, a avaliação do estado de saúde do detido com o objectivo de facilitar a sua punição ou tortura é claramente contrária às normas éticas. (ISTAMBUL, 2001)

O Comitê no decorrer de dez anos elaborou critérios para que as pessoas privadas de liberdade fossem amparadas por um conjunto de normas gerais, onde foram estabelecidos parâmetros relacionados a detenção e às garantias do processo: como a permissão de poder avisar um familiar se desejar sobre a sua prisão, o consentimento da presença de um advogado e médico, podendo ser o segundo de escolha própria. De acordo com o Protocolo de Istambul

41. No desenrolar das suas actividades ao longo dos últimos dez anos, o Comité desenvolveu gradualmente um conjunto de critérios para o tratamento das pessoas privadas de liberdade que constituem normas gerais. Estas normas dizem respeito, não apenas às condições materiais de detenção, mas também às garantias processuais. Por exemplo, o Comité defende o reconhecimento, às pessoas privadas de liberdade à ordem de autoridades policiais, dos seguintes direitos:

a) O direito de informar imediatamente uma terceira parte (membro da família) da detenção, se a pessoa detida assim o desejar;

b) O direito da pessoa privada de liberdade de ter imediatamente acesso a um advogado;

c) O direito da pessoa privada de liberdade de ter acesso a um médico, incluindo, se assim o desejar, a médico da sua escolha. (ISTAMBUL, 2001, p.25)

3.2 O atendimento na Unidade de Saúde Prisional e o entendimento Jurisprudencial

A importância do atendimento do apenado na própria unidade de saúde do presídio que cumpre pena, já é amplamente reconhecido em diversas jurisprudências nos Tribunais do nosso país.

Como exemplo, temos o caso em que a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul impetrou Habeas Corpus Nº 298.242 em favor do paciente/apenado Orlando Valentin Queiroz contra o acórdão publicado pelo Tribunal de Justiça do Estado que o condenou ao cumprimenta de pena de 13 anos 04 meses e 04 dias de reclusão, no regime semiaberto, fundamentando seu pedido em razão de problemas graves de saúde do apenado o que dificultariam sua estada no sistema prisional. O pedido de habeas corpus, fora denegado em Brasília - DF, em 03 de março de 2016, pelo Ministro Ribeiro Dantas, que renovou a pretensão da sua condenação.

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Neste caso, de acordo com os esclarecimentos, que o Tribunal obteve sobre o apenado, no sentido de que o mesmo apresentava problema no pé esquerdo e que utilizava muletas, e teve indicação médica de realização de cirurgia e fisioterapia, e que o está sendo liberado para a continuidade do tratamento na rede de atendimento pública. Não ficou exposto o impedimento para o tratamento concomitante com o cumprimento da pena, sendo assim foi denegado o habeas corpus. De acordo com Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 298.242 Superior Tribunal de Justiça RS (2014/0160362-7)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS

IMPETRANTE: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ADVOGADO: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

IMPETRADO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PACIENTE: ORLANDO VALENTIN QUEIROZ EMENTA

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO. NÃO CABIMENTO. PRISÃO DOMICILIAR EM RAZÃO DE DOENÇA. ACOMPANHAMENTO PELA UNIDADE DE SAÚDE DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.

1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.

2. O Superior Tribunal de Justiça tem decidido que é possível a concessão de prisão domiciliar aos condenados em cumprimento de pena em regime diverso do aberto, quando devidamente comprovada a debilidade extrema do sentenciado por doença grave e a impossibilidade de recebimento do tratamento adequado no estabelecimento prisional.

3. No caso dos autos, o preso ostenta problemas no pé esquerdo e faz uso de muletas, com indicação de cirurgia e fisioterapia e, em que pese a impossibilidade de tratamento dentro da Penitenciária, o paciente vem sendo liberado para manutenção do tratamento de que necessita na rede pública. Inexistência de constrangimento ilegal.

4. Habeas Corpus não conhecido. (BRASIL, STJ, 2014)

Neste segundo caso, podemos observar que oriundo do Tribunal de Justiça de Santa Catariana, impetrou o Habeas Corpus n° 94.358 no Supremo Tribunal Federal e obteve a decisão proferida em 29 de abril de 2008, pela Segunda Turma, concessão de seu pedido a paciente Maria Pereira Gomes, idosa, sob a custódia do Estado, portadora de patologia grave cardíaca, com distúrbios neuro-circulatórios, com risco de morte iminente, em face de laudos médicos emitidos por peritos, e do inadequado atendimento especializado no próprio ambiente penitenciário e da impossibilidade do Estado em proporcioná-lo.

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Levando com consideração o resguardo dos cuidados físicos e morais tanto dos presos com sentença já transitado em julgado, ou dos que estão em medidas cautelares é indeclinável a cláusula que concretiza a norma e a dignidade do ser humano, sendo este basilar na estrutura do Estado Democrático de Direito, como consta na Jurisprudência proferida pelo Supremo Tribunal Federal

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 94.358 SANTA CATARINA

RELATOR :MIN. CELSO DE MELLO

RECTE.(S) :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RECDO.(A/S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PACTE.(S): MARIA PEREIRA GOMES ADV.(A/S): MAURO MARCIO SEADI FILHO E M E N T A:

“HABEAS CORPUS” – RECURSO ORDINÁRIO – PACIENTE RECOLHIDA AO SISTEMA PENITENCIÁRIO LOCAL – PRECÁRIO ESTADO DE SAÚDE DA SENTENCIADA, IDOSA, QUE SOFRE DE GRAVE PATOLOGIA CARDÍACA, COM DISTÚRBIOS NEURO-CIRCULATÓRIOS – RISCO DE MORTE IMINENTE – COMPROVAÇÃO IDÔNEA, MEDIANTE LAUDOS OFICIAIS ELABORADOS POR PERITOS MÉDICOS, DA EXISTÊNCIA DE PATOLOGIA GRAVE E DA INADEQUAÇÃO DA ASSISTÊNCIA E DO TRATAMENTO MÉDICO-HOSPITALARES NO PRÓPRIO ESTABELECIMENTO PENITENCIÁRIO A QUE RECOLHIDA A SENTENCIADA-PACIENTE – EFETIVA CONSTATAÇÃO DA INCAPACIDADE DO PODER PÚBLICO DE DISPENSAR À SENTENCIADA ADEQUADO TRATAMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EM AMBIENTE PENITENCIÁRIO – SITUAÇÃO EXCEPCIONAL QUE PERMITE A INCLUSÃO DA CONDENADA EM REGIME DE PRISÃO DOMICILIAR – OBSERVÂNCIA DO POSTULADO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO.

A preservação da integridade física e moral dos presos cautelares e dos condenados em geral traduz indeclinável dever que a Lei Fundamental da República impõe ao Poder Público em cláusula que constitui projeção concretizadora do princípio da essencial dignidade da pessoa humana, que representa um dos fundamentos estruturantes do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, III, c/c o art. 5º, XLIX). (BRASIL, STF, 2016)

Para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, quanto ao pedido de habeas corpus impetrado em favor de Adelmo Luiz Assumpção Duarte. Foi preso preventivamente acusado de ameaça no âmbito da Lei Maria da Penha, o qual teve sua prisão preventiva substituída por prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, propugnando lhe seja deferida a possibilidade de exercer sua ocupação como engenheiro, uma vez que necessita pagar pensão aos filhos do primeiro casamento

Habeas Corpus 0282612

Relator: Des.(a) Matheus Chaves Jardim

Relator do Acordão: Des.(a) Matheus Chaves Jardim

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EMENTA: HABEAS CORPUS.

MEDIDAS PROTETIVAS. PRISÃO PREVENTIVA SUBSTITUIDA POR DOMICILIAR. ART. 318, II DO CPP. ESTADO DE SAÚDE DEBILITADO. IMPOSSIBILIDADE DE TRATAMENTO EM UNIDADE PRISIONAL. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE LÍCITA. COMPATIBILIDADE DEMONSTRADA. ADEQUAÇÃO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. - Afigura-se possível a adequação do monitoramento eletrônico, em sede de prisão domiciliar, ao exercício da atividade laborativa, restando evidenciada sua compatibilidade com o tratamento de saúde do paciente, e o caráter preventivo da medida cautelar. HABEAS CORPUS CRIMINAL Nº 1.0000.16.028261-2/000 - COMARCA DE LAGOA SANTA - PACIENTE(S): ADELMO LUIZ ASSUMPÇÃO DUARTE - AUTORI. COATORA: JUIZ DE DIREITO 2ª VARA CÍVEL CRIMINAL INFÂNCIA E JUVENTUDE COMARCA LAGOA SANTA - VÍTIMA: G.L.S. (BRASIL, TJ-MG, 2016)

A obrigação e a responsabilidade do Estado no zelo e cuidados com os apenados é de fato importante, pois não podemos deixar os cidadãos privados de sua liberdade sem os cuidados mínimos necessários para uma vida digna dentro dos presídios. Nos casos acima mencionados de Jurisprudências de diferentes Estados, também tivemos diferentes entendimentos na continuidade ou não do tratamento no presídio, do tipo de doença e o quadro clínico específico a qual o paciente/detento apresentou, havendo inviabilidade do tratamento em unidade prisional, a partir dos casos analisados vislumbra-se a possibilidade da transferência deste detento para um tratamento em sua residência, utilizando mecanismos de controle e assim possibilitar a aplicação da Lei no que tange ao direito à assistência da saúde.

Após essa breve analise a respeito da responsabilidade do Estado e da análise de Jurisprudências envolvendo apenados acometidos de doenças, passaremos a analisar sobre a instalação da Unidade de Saúde Prisional em nosso município.

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4 IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE PRISIONAL

Nesta etapa será disponibilizado sobre a população carcerária no Presídio do nosso município da criação, organização, implementação da instalação da Unidade de Saúde Prisional, dos profissionais envolvidos nos atendimentos, das dotações orçamentárias disponibilizadas pela União para a manutenção do atendimento da saúde pública ao privados de liberdade.

4.1 Carandiru uma história de atendimentos aos apenados no Brasil

A obra do autor Dr. Drauzio Varella, Carandiru escrita no ano de 1990, foi uma fonte ilustrativa de pesquisa, uma vez que a mesma foi escrita a partir de observações in loco realizadas pelo doutor de suas experiências no maior presídio do país.

Sendo de uma pessoa com visibilidade e conhecimento na área de saúde e atendimento aos apenados, sua narrativa acabou por influenciar no modelo a ser adotado pelos sistemas carcerário.

No período de maio à agosto do ano 1990 no maior presídio do Brasil o Carandiru, sob os cuidados e o trabalho voluntário o Dr. Drauzio Varella teve como o grande desafio de diagnosticar epidemia de HIV e outras doenças que também acometiam os apenados daquele local.

Esse levantamento contou com questionário epidemiológico, sobre a utilização de drogas e de como era sua vida sexual. Este levantamento foi determinantes para futuras ações de atendimentos que seriam implementadas ao plano de atendimento. Segundo Dr. Drauzio

O trabalho no Carandiru começou com um diagnóstico da epidemia. De maio a agosto de 1990, colhemos sangue de 2492 detentos e aplicamos um questionário epidemiológico com perguntas sobre o comportamento sexual e uso de drogas entre outros. (VARELLA, 1999)

O atendimento coletivo dos detentos era através de palestras sobre temas como a AIDS. Porém outros assuntos às necessidades da população carcerária também foram abordados, temas oportunos a curiosidade dos apenados se tornavam quase que como seus e após cada palestra, tentavam sanar suas dúvidas em consultas rápidas com Dr Varela.

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Com um excessivo número de prisioneiros e o quadro reduzido de médicos que talvez nem chegasse a dez, os quais ainda eram mal remunerados, com uma estrutura precária para os atendimentos dos mesmos, os apenados chegavam com inúmeros sintomas, tais como lesões de pele, ínguas, tosse, doenças venéreas, fraqueza sintomas avançados da AIDS.

As consultas aos apenados, além de rápidas eram realizadas muitas vezes nos corredores, fator que dificultava o atendimento de boa qualidade, mas o envolvimento individual de cada indivíduo preso, não tinha como ser deixado de lado. Estes fatores desmotivantes que levavam estes profissionais a um atendimento quase que sem dignidade aos presos do Carandiru. Para o médico Dr Drauzio

Com frequência, ao terminar as palestras, os presos paravam no corredor para expor problemas de saúde. Queixavam-se de febres noturnas, fraqueza, ínguas, tosse, lesões de pele e moléstias venéreas. Vinham magrinhos, com folego curto e sintomas caraterísticos de fase avançada de AIDS.

Impossível resolver seus casos naquelas consultas-relâmpagos, palpar pescoços, olhar gargantas inflamadas ou feridas nas genitais, em pé, no meio dos curiosos. Não havia como evitar essas abordagens ou deixar de me envolver com dramas individuais.

A assistência médica no presidio era precária para enfrentar uma epidemia como aquela. Para cuidar dos 7 mil prisioneiros, havia dez médicos, se tanto. Os baixos salários e a falta de condições de trabalho haviam corroído o ânimo da maioria de tal forma que poucos, deste grupo já pequeno exerciam a função com dignidade. (VARELLA, 1999)

Os atendimentos conduzidos voluntariamente pelo Dr. Drauzio, no Carandiru, tiveram o apoio de três apenados: Edelso que exercia ilegalmente a medicina e por esse motivo cumpria sua pena, Juliano especialista em assaltos a bancos e carro forte e Pedrinho que no seu tórax encontrava-se alojadas três balas e repleto de mistério compunham a Equipe que muito contribuiu para os atendimentos dos encarcerados. Orientações básicas de atendimentos foram orientadas pelo doutor Dráuzio, como o de ensinar rapidamente técnicas de enfermagem, como de ministrar a medicação contra tuberculose e os cuidados nos atendimentos de maneira geral com o objetivo de poder formar uma equipe voluntária de enfermagem.

Com a formação desta equipe de trabalho, mesmo voluntária e sem qualificação, ficou nítido a necessidade e a importância da formação de uma equipe para o atendimento aos privados de liberdade e que sejam feitos por profissionais qualificados. De acordo com Carandiru

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Voltei na semana seguinte e reuni o trio de auxiliares: o falso médico Edelso, Juliano, que puxava a perna especializado em bancos e carros fortes, e Pedrinho, um tipo de barba cerrada e passado misterioso, com três balas alojadas no tórax, condenado a 22 anos. Antes de eu ir para a enfermaria, ensinei-lhes como administrar a medicação contra tuberculose e os cuidados gerais com os pacientes. Eles ouviram interessados, fizeram perguntas e deram sugestões de como melhorar o atendimento. (VARELLA, 1999)

Assim, como os atendimentos no Carandiru eram realizados voluntariamente pelo Dr Dráuzio, paralelamente com a equipe de médicos, enfermeiros, dentistas e técnicos em enfermagem fornecidos pelo Estado aos atendimentos dos apenados, a por questões de segurança nos atendimentos e a necessidade dos serviços o Estado deliberou aos municípios através de convênio a instalação de Unidades de Saúde.

4.2 Da população carcerária a organização dos Serviços em saúde

O município de Erechim preocupado com o atendimento dos seus apenados, no ano de 2014 aderiu ao Plano Operativo de Atenção Integral à Saúde da População Privada de Liberdade, que teve por objeto instrumentalizar o trabalho operativo administrativo, promover a saúde, assistência técnica em consonância ao Plano Estadual de Saúde. Ambos tratam das regras sobre a atenção à saúde da população privada de liberdade e através ações básicas nortear a instalação da unidade no Presídio “Regional”de Erechim. De acordo com o Plano Municipal para a Política Nacional de Atenção Integração à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional do Município de Erechim

O Plano Operativo Municipal de Atenção à Saúde da População Privada de Liberdade é um instrumento administrativo e complementar ao Plano Operativo Estadual que viabiliza a atenção à saúde da população privada de liberdade.

O presente Plano Operativo Municipal de Atenção Integral à Saúde da População Privada de Liberdade tem por finalidade o desenvolvimento de ações de atenção básica, promoção prevenção e assistência à saúde em conjunto com as definições e competências do Estado. Este plano tem por objetivo apresentar as intenções e resultados a serem buscados a partir da implantação da equipe de saúde prisional, no Presídio de Estadual de Erechim. (ERECHIM, 2014)

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A organização da equipe multidisciplinar seguiu regras instituídas pela Portaria n°482, de 1° de Abril de 2014, que no artigo 2°, estabelece que um dos requisitos para a composição da equipe é o número de apenados, o que proporcionou ao nosso município a instalação da Equipe de Atenção Básica Tipo II, Em virtude de termos uma grande demanda de atendimentos, foi necessária a formação de uma equipe multidisciplinar envolvendo: assistente social, cirurgião dentista, enfermeiro, médico, psicólogo, técnico ou auxiliar de enfermagem, técnico ou auxiliar de saúde bucal, com carga horária específica para cada profissional desenvolver suas atividades na Unidade de Saúde Prisional. Como consta na portaria ficou estabelecido o critério de profissionais como segues na Legislação em Saúde Sistema Prisional

Art. 2º Os serviços de saúde nos estabelecimentos prisionais serão conformados de acordo com a população prisional e o funcionamento dos serviços, classificando-se em 3 (três) faixas:

II - unidades prisionais que contenham de 101 (cento e um) a 500 (quinhentos) custodiados: serviço de saúde com funcionamento mínimo de 20 (vinte) horas semanais;

Art. 3º Os serviços de saúde de que trata o art. 2º serão prestados por equipes multiprofissionais, denominadas Equipes de Saúde no Sistema Prisional (ESP), constituídas nos seguintes termos:

§ 3º A Equipe de Atenção Básica Prisional tipo II terá composição mínima de:

I - 1 (um) assistente social; II - 1 (um) cirurgião-dentista; III - 1 (um) enfermeiro; IV - 1 (um) médico; V - 1 (um) psicólogo;

VI - 1 (um) técnico de enfermagem/auxiliar de enfermagem; VII - 1 (um) técnico de higiene bucal/auxiliar de saúde bucal; e VIII - 1 (um) profissional selecionado dentre as ocupações abaixo: a) assistência social; b) enfermagem; c) farmácia; d) fisioterapia; e) nutrição; f) psicologia; ou

g) terapia ocupacional. (SAÚDE, 2014)

No nosso município de Erechim a composição da Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo II contou com profissionais disponibilizados tanto pelo Estado como pelo Município. Podemos observar neste quadro três cedências de profissionais pelo Estado: dois Assistente Social com carga horária de 40 horas semanais, um Cirurgião Dentista com carga horária de 40 horas semanais e um Psicólogo com

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carga horaria de 40 horas semanais . Informações contidas no Plano Municipal das Pessoas Privadas de sua Liberdade

Tabela 3 - Composição técnica na Unidade de Saúde Prisional

Cargo Função Quantidade Carga

Horária Instituição de Origem

Assistente Social 02 40 hs SUSEPE

Auxiliar de Consultório dentário 01 20 hs SMS

Auxiliar de Enfermagem 01 40 hs SUSEPE – o município disponibilizou

Cirurgião Dentista 01 40 hs SUSEPE

Enfermeiro 01 20 hs SMS

Médico 01 20 hs SMS

Psicólogo 01 40 hs SUSEPE

Fonte: Plano de Ação Municipal para a Política Nacional de Atenção Integral à

Saúde das Pessoas privadas de sua Liberdade no Sistema Prisional, 2014.

4.3 Dotação Orçamentária

Com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística o município de Erechim está informado com o código 430700 e entre os anos de 2014 a 2017 de acordo com dados disponibilizados no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística sobre a população de nosso município é de 102.906 habitantes (cento e dois mil novecentos e oitenta e seis habitantes), a informação é referente ao ano de 2016. Podemos observar que o piso disponibilizado a atenção básica da saúde prisional é variável. Os repasses não são realizados todos os meses, em outros é depositado um valor a maior.

Tabela 4 - Piso da Atenção Básica Variável

Ano: 2014 a 2017 População 102.906 habitantes UF: RS CÓDIGO IBGE: 430700

Ano Censo: 2016 Município: Erechim Entidade: Fundo Municipal de Saúde de Erechim

PISO DA ATENÇÃO BÁSICA VARIÁVEL Incentivo para a Atenção Básica Variável

2014 2015 2016 2017 2018 2019 Janeiro 0, 00 23.221,90 0, 00 Fevereiro 46.443,80 0, 00 0, 00 Março 0, 00 92.887,60 46.443,80 Abril 0, 00 0, 00 23.221,80 Maio 46.443,80 0, 00 46.443,80 Junho 0, 00 23.221,90 0, 00 Julho 92.887, 60 69.665,70 0, 00 Agosto 0, 00 0, 00 0, 00 Setembro 0, 00 23.221,90 0, 00

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Outubro 0, 00 23.221,90 0, 00

Novembro 46.443,80 23.221,90 0, 00

Dezembro 23.221,90 46.443,80 0, 00

TOTAL 255.440,90 325.106,60 116.109,50 Fonte: Fundo Nacional de Saúde, 2017.

Uma vez disponibilizada pela União as dotações orçamentárias relacionadas ao número de habitantes do município e ao número de apenados no cumprimento da sentença o município deverá estabelecer a destinação deste dinheiro.

O município que tiver casa prisional deverá elaborar seu Plano Operativo através da Secretaria Municipal de Saúde sendo este um dispositivo que complementa as atividades administrativas e da Secretaria Estadual da Saúde. Quanto a destinação e aprovação dos gastos é uma das competências do Conselho Municipal de Saúde, que busca a operacionalização, planejamento e efetivação das ações propostas a população privada de liberdade. De acordo com o Plano Municipal para a Política Nacional de Atenção Integração à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional do Município de Erechim, 2014, p. 04

O Plano Operativo Municipal de Atenção Integral à Saúde da População Privadas de Liberdade é um instrumento administrativo e complementar ao Plano Operativo Estadual que viabiliza a atenção à saúde da população privada de liberdade.

Aos municípios, com casas prisionais em seus territórios, deverão ser elaborados os seus Planos Operativos conjuntamente com a SES e aprova-lo no Conselho Municipal de Saúde, com o propósito de identificar, planejar e operacionalizar e efetivar ações de atenção à saúde básica a esta população. (ERECHIM, 2014)

Com a elaboração do Plano Operativo Municipal é uma ferramenta administrativa e serve como complementação para o Plano Operativo Estadual que visa a atenção à saúde dos prisioneiros. A construção dos Planos Operativos conjuntamente com SES e aprovado pelo conselho municipal tem o propósito de identificar, planejar e operacionalizar as atividades e atendimentos da saúde básica para este público alvo.

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4.4 Levantamento da população carcerária no município

No Presídio “Regional” de Erechim a quantidade de vagas disponibilizadas para os apenados é de 214 (duzentas e quatorze vagas). Porém estão privados de sua liberdade 459 pessoas (quatrocentos e cinquenta e nove pessoas) um número expressivo de presos a mais que a capacidade física da instituição.

Destes 213 (duzentos e treze pessoas) estão no Regime Fechado, 82 (oitenta e duas) no Regime Semiaberto e 07 (sete) no Regime Aberto. No regime Provisório 152 (cento e cinquenta e duas) e 05 (cinco) Indígenas. Não há nenhum preso proveniente de outro país e ninguém cumprindo Medida de Segurança. Conforme dados disponibilizados no Conselho Nacional de Justiça:

Tabela 5 - Realidade Presídio “Regional” de Erechim

Presídio

“Regional” de Erechim

Quantidade de Vagas 214

Quantidade de Presos 459

Déficit de Vagas 348

Quantidade de presos em regime fechado 213

Quantidade de presos em regime semiaberto 82

Quantidade de presos em regime aberto 07

Quantidade de presos provisórios 152

Quantidade de presos estrangeiros 0

Quantidade de presos indígenas 5

Quantidade de internos em Cumprimento de Medida de Segurança

0

Fonte: Conselho Nacional de Justiça, em 13/04/2017.

De acordo com as ideias de Foucault, no decorrer do processo e na execução da pena existem vários colaboradores como juízes paralelos e pequenas justiças que fracionam o poder do Estado de punir, e nenhum ninguém tem o direito nem o dever de julgar e sim o dever de cobrar a execução da pena fixada pelo tribunal.

E ele não julga mais sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena, prolifera toda uma serie de instancias anexas. Pequenas justiças e juízes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento principal: peritos psiquiátricos ou psicólogos, magistrados da aplicação das penas,

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educadores, funcionários da administração penitenciária fracionaram o poder legal de punir; dir-se-á que nenhum deles partilha realmente do direito de julgar; que uns, depois das sentenças só tem o direito de fazer executar a pena fixada pelo tribunal, e principalmente que outros – os peritos - não intervém antes da sentença para fazer um julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. (FOUCAULT, 2013 p.24).

Assim pode-se conhecer um pouco da realidade do Presídio “Regional” de Erechim como a população prisional e da Unidade de Saúde Prisional como os profissionais envolvidos no atendimento, bem como a destinação das verbas previstas para este tipo de atendimento.

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5 CONCLUSÃO

O nosso município é pioneiro na adequação à Legislação Federal sobre a instalação da Unidade de Saúde dentro de uma unidade prisional, em funcionamento desde o ano de 2014, serviço este disponibilizado aos apenados que estão no cumprimento de sua pena no Presídio “Regional” de Erechim, no município de Erechim que atende a diversos cidadãos de outras localidades.

É de suma importância os apenados receberem o atendimento em saúde no próprio presídio é uma garantia que a Lei prevê em seu texto, assunto discutido em Protocolos Internacionais ou Legislação específica brasileiro o que é que hoje, é uma realidade no município de Erechim. Para tal acontecimento, foram observadas todas as exigências legais prevista no plano de instalação da Unidade de Saúde até a instalação física da mesma da elaboração do Plano Municipal e este estabeleceu como a rede pública iria disponibilizar os atendimentos aos privados de liberdade.

A disponibilização de dados quantitativos sobre o atendimento foi solicitada e autorizada pelo responsável deste serviço, porém o funcionário que deveria fazer a o repasse destas informações fez pouco caso e não repassou estes dados, sabendo que é de uma informação pública e demonstrou pouco interesse quando em conversa com o mesmo.

No que tange ao Plano Operativo Municipal de Atenção Integral à Saúde da População Privadas de Liberdade, verificamos que foram observados os critérios como a quantidade de prisioneiros no Presídio “Regional” de Erechim relacionando assim com o tipo de unidade de saúde e seleção de profissionais exigidos, a quantidade dos mesmos para a efetiva instalação assim como a quantidade de horas no efetivo exercício de suas funções o que torna os atendimentos aos privados de liberdade mais céleres. Sendo que os mesmos recebem o mesmo tipo de atendimento que é disponibilizado ao restante da população que não está privada de sua liberdade.

O espaço físico disponibilizado para o atendimento da população carcerária é pequeno, sendo que é uma sala onde o médico e o dentista dividem o espaço e dispõem de material básico para os atendimentos que ali podem ser realizados. A disponibilização de medicação é feita na Farmácia da Unidade de Saúde do Centro e a medicação de uso controlado é disponibilizada na Farmácia Central e cabe ao

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Enfermeiro providenciar os remédios. Se por ventura o médico prescrever uma medição ou exames que não seja oferecido pelo Sistema Único de Saúde é informado aos familiares que terão a responsabilidade de providenciar a solicitação.

No que se refere a prestação de contas é exclusivamente por definição do Conselho Municipal da Saúde, uma vez instituído tal critério na Lei Orgânica Municipal, ficando destinado ao Conselho como será investido o incentivo destinado pela União no todo e não prestado contas individualmente pela glosa destinada para tal fim.

É de suma importância que esta Unidade de Saúde Prisional, pois os apenados estão assistidos pelo Estado e não precisam ser removidos do Presídio para receberem atendimentos. Somente são enviados às Unidades de Saúde Básicas do município em virtude de férias como, por exemplo, do funcionário com vínculos do Estado, são movimentados conforme a Legislação prevê. Assim, evita a movimentação de agentes e veículos para o deslocamento de saídas o que gera mais tranquilidade a comunidade em geral, evitando assim possíveis planos de fuga. Contudo, a Unidade de Saúde no presídio é fato e têm eficácia, pois em inúmeros julgados a decisão da continuidade do tratamento no local é deferida pelo Juiz, em casos diversos, dependendo do quadro clínico do paciente não vislumbre a mesma conclusão, podendo ser até por questões de idade, agravamento da situação do quadro clínico do paciente, enfim, é sim hoje uma realidade e funciona.

Necessitamos sim, ter um olhar mais específico dos legisladores na destinação de verbas, profissionais da área médica o que iria somente beneficiar a quem precisar de atendimento em saúde enquanto que políticas públicas efetivas que prevenissem ao ser humano o ingresso no sistema prisional.

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REFERÊNCIAS

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