PESQUISA ETNOGRÁFICA
NA EDUCAÇÃO:
ESTUDO INTRODUTÓRIOl
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAJesus Garcia Pcscuol?zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
[ BCH-UFC
I
Resumo
o
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa rtigo foca liza a utiliza çã o do método etnográ fico na spesousss
em educa çã o. F a z, inicia lmente, umaretros-pectiva da s ba ses epistemológica s daTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp e s o u s s na s Ciência s
Socia is e exa mina a s ca ra cterística s ma r ca ntes da observa-ção participante em três monogra fia s de renoma dos a ntro-pólogos. A seguir; o a rtigo estuda a insurgência do modelo etnográ fico na educa çã o, a tra vés da monogra fia de P . Wílis, Que a na lisa a escola como um cená rio de resistência e de reprodução social. Encerra -se o a rtigo a firma ndo Que, em-bora os educa dores nã o cumpra m toda s a s recomenda ções da da s pelos a ntropólogos, aobservação participante tra z contribuições significa tiva spa ra ap c s o u i s e educa ciona l.
Palavras-Chave: Pesouísa Qualitativa; Observação
parti-cipante; Educação.
Abstract: Ethnographic research in education: an introductory study
DF A This a rtícle discusses the uses of the ethnogra phíc method on educa tiona l resea rch. It exa mines the ma in cha ra cteristics
otpsr ttdpsnt
observa tion in three c/a ssica l educa tiona l ethnogra phic studies. The a rticle concludes0/
sta tíng a lthough resea rchers do not a lwi!Ysfo//ow wha t is recommended0/
the cla ssica l snthropologists, thep s r t i d p e n t observa tiona l method brings a bout a significa nt
contribuitíon to educa tiona l resea rch.
Key-Words: Qua lita tive resea rch;P s r t k i p s n t Observa tion;
E d u c s t i o n .
IA idéia do presente artigo surgiu nas discussões desenvolvidas na disciplina Pesquisa Etnográfica do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Ceará. Agradeço à professora Bernadete Beserra e aos colegas da turma do primeiro semestre de
200 Ipelos ínsíghts oferecidos nos debates.
2Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará.
Introdução
P csoa is»
etnogr á flca ,pesouiss
a ntr opológica ,pesootss
de na tur eza etnogr á flca são expressões re-correntes nos estudos sobre pesouisa oualítatíva. O uso dessa no campo das Ciências Sociais apresenta, porém, conotações diferentes, às vezes, até diver-gentes. Por isso, o primeiro objetivo deste ensaio é caracterizar apesoa ts«
etnogr á flca a pa r tir da leitur a dir eta de tr ês monogr a fla s, ela bor a da s por eminen-tes a ntr opólogos e de r econhecido va lor etnogr á flco.Com isso pretendo evitar ~
.pcsoutss
pscudo-etnogr á flca , emergente fora do campo da Antropo-logia Cultural, Que tem provocado eouívocos nos debates acerca da pesouísa Qualitativa na educação. Tecer algumas r eflexões sobre a s contr ibuições e a s limita ções do método etnográfico no campo dos es-tudos educacionais, a partir, também, da leitura dire-ta de um estudo etnogr á flco realizado na educação. constitui o segundo objetivo deste trabalho.Não constituem, pois, objeto de estudo deste ensaio Questões epistemológicas referentes às pes-ouísas Qualitativas em relação às experimentais, bem como Questões teóricas em relação às diversas cor-rentes dentro da Antropologia Social. tais como o evolucionismo, o funcionalismo, o estruturalismo, o interpretacionismo ete. Pretendo utilizar-me, princi-palmente, de recursos descr itivos e r eflexivos, dei-xando fora do âmbito deste ensaio os problemas Que dizem respeito à epistemologia e às teorias no cam-po das Ciências Sociais.
O ensaio percorre. inicialmente, o esforço envidado por pesquisadores Que tentaram emanci-par a pesoulsa social e educacional da hegemonia exercida pelo método experimental durante o século XIX e boa parte do XX. Em seguida, mergulho na leitura de três et nogra fias: Ar gona uta s do P a cíflco Ocidenta l(Ma linowski). OsNuer(Evans-Pritchard) e
Um logo Absor vente: Nota s sobr e a Br iga de Ca los Ba linesa (Geertz), buscando os traços comuns da
pcsouis»
etnogr á flca Que aparecem nas três mono-grafias. Cabe salientar Que não é meu propósito ana-lisar exaustivamente seu conteúdo antropológico nemestabelecer debates acerca do valor de cada uma dentro da Antropologia Social e Cultural ou realizar uma análise crítica do seu valor epistemológico,
em-bora fíouem evidentes traços maiszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAdescr itivos em Malinowski e preocupação teór ica em
Evans-Prítchard. em relação à pescuísa etnográfica. Esse embate teórico ultrapassa o escopo deste texto.
A breve incursão pelo campo da etnografia antropológica proporciona elementos para adentrar a segunda parte do estudo: a etnogr a fia no ca mpo da educa çã o. Mantendo o diálogo com os fatos empíricos, estudo uma monografia reconhecida en-tre os sociólogos da educação como paradigma para os educadores interessados em buscar novos hori-zontes investigativos. Embora P. Willis, autor da monografia Apr endendo a ser tr a ba lha dor , se referia ao método utilizado como etnogr á fico, cabem algumas restrições do ponto de vista antropológico. Contudo, seu estudo apresenta contribuições metodológicas enriouecedoras para a pesouisa Qua-litativa na educação.
Finalizo tecendo algumas reflexões acerca das contribuições Que descobri na
pcsouiss
etnogr á fica ,Quando bem situada na educação, em relação a estu-dos anteriores Que realizei. Vejo, hoje, Que eles po-deriam ser enriouecidos com as contribuições de uma
descr içã o densa . Não pretendo com isso defender a hegemonia da pesouísa etnográfica, desbancando outras formas de pesouisa QUalitativas no campo da educação. Cada método adquire sua plenitude investigativa de acordo com os objetivos definidos pelo pesouísadór.
Retrospecto das bases epistemológicas
da
pesquisa em educação
A noção de pescuísa se reveste de acepções diferentes, Que multiplicam seus significados. Encon-tram-se, na noção popular de pesquisa, os significa-dos de consulta comercial. consulta escolar e consulta política (IBOPE). Porém, existe uma noção bem mais
elaborada em Que o conceito se aplica a a tivida deszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
6 • EDUCAÇÃO EM DEBATE • FORTALEZA
Que pr omovem um diá logo entr e da dos, evidência s, infor ma ções obtida s sobr e deter mina do a ssunto e, por outr o la do, o conhecimento a cumula do a r espei-to dele (Lüdke e André, 1986: I). Mas essa noção técnica de pesquisa carrega, amiúde, o pré-conceito de Que para fazer pesoulsa. o pescuísador precisa pertencer ao clube dos eleitos, certos estudiosos a Quem, só a eles, está reservada tal tarefa. Apresenta-va-se, durante o século XIX e grande parte do sécu-lo XX, aos pesouísadores. excetuados os caminhos especulativos da filosofia, apenas um caminho para a investigação científica: o modelo exper imenta l. Des-mentir esse pré-conceito não significa, entretanto, abolir certas habilidades e conhecimentos Que o pes-ouísador deve possuir em relação à atividade da in-vestigação, pois, entre os dados coletados e o acervo teórico, situa-se o pesoulsador. Que escolhe o cami-nho, o método adeouado para relacionar o aspecto empírico (dados) com o teórico (acervo de conheci-mentos anteriores sobre o assunto).
O paradigma da pesouisa experimental se espelha na ruptura epistemológica Que A. Cornte/ propôs em relação à Filosofia, pois, segundo o autor, o método científico utilizado pelas Ciências Físicas e Biológicas deveria ser aplicado às Ciências Socioló-gicas. Durante grande parte do século XIX o méto-do experimental colonizou as Ciências Humanas, ávidas Que estavam para adouirir o sta tus de Ciências Positivas. O pensamento positivista perpassou o âm-bito das Ciências Sociológicas e penetrou na educa-ção pela mão de E. Thorndíke ' e se instalou, no século
2 Enfim. no esta do positivo. o espír ito huma no. r econhecendo a
impossibilida de de obter noções a bsoluta s. r enuncia a pr ocur a r a or igem e o destino do univer so. a conhecer a s ca usa s última s dos fenômenos. pa r a pr eocupa r -se unica mente em descobr ir . gr a ça s a o uso bem combina do do r a ciocino e da obser va çã o. sua s /eis efeti-va s. a sa ber . sua s r ela ções inefeti-va r iá veis de sucessã o e de simililude (A.Comte. 1991 :4).
J Isso Itipo de fa tos Que o estudo da psicologia educa ciona l dever ia busca rI nos a juda r ia a usa r os ser es huma nos pa r a o bem-esta r do mundo. com a mesma segur a nça do r esulta do Que nós temos hoje Qua ndo lida mos com a Queda dos cor pos ou com elementos Quími· coso Na pr opor çã o em Que conseguir mos ta l ciência . nos tor na r emos senhor es de nossa s pr ópr ia s a lma s. como hoje somos senhor es do ca lor e da luz. .. A pr imeir a linha de tr a ba lho se r efer e à descober ta e melhor ia dos meios de mensur a çã o da s funções intelectua is (Thorndike. apud CANDAU.TSRQPONMLKJIHGFEDCBAV . 1 9 9 9 : 8 2 ) .
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elcctueis
XX. através da teoria behaviorista. Segundo Skinner (1973). a ciência e a tecnología se debruçaram du-rante anos sobre os fatos físicos e biológicos e o comportamento humano ainda era estudado à luz de reflexões filosóficas socráticas e platônicas.
enousn-to nenhum físico ou biólogo moderno recorreria a
Ar istá teks (Skinner. /373:3). Énecessário. de acor-do com o pensamento behaviorista clássico. largar os procedimentos usados nas ciências humanas. Que estudam o comportamento humano a partir de uma certa
intenciona lida de interior a Qua l a ciência e a
tecnologia nã o têm a cesso,
e substltuí-los porméto-dos experimentais.
A pesouísa experimental se caracteriza por três pressupostos epistemológicos e metodológicos bá-sicos. a saber: a) perspectiva analítica - pressupõe Que uma realidade só pode ser conhecida em pro-fundidade se puder ser dividida em seus componen-tes elementares; b) separação clara entre o
pescuísador, o sujeito da pesouisa e seu objeto de estudo; c) causalidade linear. Que entrelaça claramente a relação entre as variáveis independentes e a depen-dente. Cabe ressaltar aQui alguns aspectos gerais nas técnicas da pesouísa experimental. tais como a mo-dalidade
survey.
Que fornece uma espécie de radio-grafia ou fotografia de uma dada realidade; o levantamento de dados em relação a um fato ajuda a ter uma visão panorâmica do problema pesouísado.A Educação e as Ciências Sociais. contudo. começaram a Questionar. a partir do último terço do século XX. os cânones positivistas. pois os dados
pesouísados nas Ciências Humanas não são objetos inertes (moléculas ou células). mas sujeitos históri-cos e sociais. Que agem e se transformam. Como manter. nesse campo do conhecimento. as mesmas condições Que apesquisa experimental pressupõe e a neutralidade do pesouisador? Sujeito e objeto. nas
pesoulsas QUalitativas. encontram-se perpassados pela dimensão da subjetividade e da historicidade. Que transformam a aproximação entre eles num
continuum.
entrelaçado pelo caráter social dapes-ouísa e pela carga de valores. preferências. interes-ses e princípios QUe orientam o pesoulsador.
As primeiras manifestações de insatisfação sur-gem. paradoxalmente. entre autores forjados na têm-pera do modelo experimental. Que supõem uma rajada de ar fresco na direção daspesquisas Qualitativas em Educação. A restrição à entrada das abordagens da
pesouisa Qualitativa provém. contudo. de certas con-fusões. descritivas e terminológicas. O Que realmen-te caracrealmen-teriza umapesouísa QUalitativa?Nesse sentido. Bogdan e Biklen (1991) discutem o conceito e apre-sentam cinco características básicas: a) a pesoulsa
Qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesouísador como seu instru-mento principal -aspecto naturalístico; b) os dados coletados são predominantemente descritivos - as-pecto descritivo; c) a preocupação com o processo é muito maior do Que com o produto -aspecto dinâmi-co; d) o significado Que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial do
pesouísa-dor - aspecto humano; e) a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo -aspecto realístico.
Em relação à terminologia usada na pesquisa
Qualitativa. nem sempre ficam claras as denomina-ções. muitas vezes utilizadas como sinônimos. As
pesquisas Qualitativas mostram vários processos metodológicos. tais como a observação participan-te. o estudo de caso. a entrevista. a história oral. a
pcsouísa-ação. a pesouísa participante. Este traba-lho trata especificamente da
pcsouiss etnográ flca .
levando muito em consideração a advertência QUe Lüdke e André fazem QUanto aos perigos de sua trans-posição para o campo da Educação:
A utiliza çã o
des-ses termos ja ntropológica ou etnográ flca J ,no enta nto,
deve ser feita de forma cuida dosa , já Que no
proces-so de tra nspla nte pa ra a á rea de educa çã o eles proces-
sofre-ra m uma série de a da pta ções, a fã sta ndo-se ma is ou
menos do seu sentido
origina l
(Lüdke e André,1986: 13).
Para minimizar os efeitos nocivos do transplan-te puro e simples dos métodos etnográficos ao campo da Educação. pretendo penetrar o campo da Antro-pologia para enumerar e analisar as características precípuas das pesouísas etnográficas. contidas em monografias realizadas por eminentes antropólogos.
A PesquisazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Etnoqréfko
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAA partir da Antropologia. surgem duas
Ques-tões acerca do Que ézyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pesouise etnográ fica :a
primeira de natureza epistemológica e a segunda de teormetodológico.
A QUestão epistemológica Que emerge na
An-tropologia se pergunta como falar em pesoulsa
etnográ fica
dentro de uma mesma sociedade. pois aetnografianão estuda
cultura s diferentes, a s cha ma
-da s cultura s primitiva s? Seu
objeto de estudo. talvez.se tenha desmanchado. como apontava Malinowski
em 1920:
Encontra-se a moderna etnología em situação tris-temente cômica. para não dizer trágica: no exato
momento em Que começa a colocar seus labora-tórios em ordem. a forjar seus próprios instru-mentos e a preparar-se para a tarefa indicada. o
objeto de seus estudos desaparece rápida e irre-mediavelmente. Agora. numa época em Que os métodos e objetivos da etnologia científica pare-cem ter se delineado; em Queum pessoal adeoua-damente treinado para a pesouisa científica está começando a empreender viagem às regiões sel-vagens e a estudar seus habitantes. estes estão desaparecendo ante nossos olhos (Malinowski.
1984: 11).
Paula Montero (1997) troca a distância
geo-grá fica
peladistâ ncia cultura l
e as respostas a essaQuestão emanam de textos atualizados Que pensam
o tema a partir do fenômeno da
globa liza çã o.
assun-to iniludível 00 cenário intelectual contemporâneo.
O medo da homogeneização global da cultura perde
seu sentido nas teorias antropológicas
contemporâ-neas. pois estas buscam compreender não apenas a
diferença .
mas a Quem interessa a diferença. EssasQuestões. contudo. não cabem no escopo deste
en-saio. pois ele é eminentemente educacional e não
antropológíco."
4Pode-se acompanhar o viés antropológico na globalização no
exce-lente artigo de Paula Montero. em:Novos Estudos.CEBRAP.N° 49. nov.1997. pp: 47-64.
A QUestãometodológíca ora formulada remete o leitor aos métodos antropológicos de pesoulsa.
dentre os ouaís serão aQUiapresentados
sumariamen-te três:
o funciona lista , o estrutura lista e o
tnterpre-
TSRQPONMLKJIHGFEDCBAt s t i v o , representados por Malinowski. Evans-Pritchard
e Geertz. respectivamente.
o
modelo funcionalista emAntropologia Cultural
As teses funcionalistas emergiram como uma
reação à teoria antropológica evolucionista. Que referenciava as sociedades dentro de um
continuum
em direção a formações sociais e a manifestações
cul-turais mais
evoluída s. modelo societá rio
-selvageria.barbárie e civilização;
modelo de religiã o
-condiçãode não-religiosidade. fantasmas. espíritos. anjos da
guarda. politeísmo. monoteísmo;
modelo de fa m/7ia
-consangüínea. patriarcal. poligâmica. monogâmica;
scxua lida de-
promiscuidade sexual. matrilinearidade.patrilinearidade;
conhecimento-ma gia .
religião.ciên-cia.5 O funcionalismo deixa a perspectiva comparativa
entre sociedade ou culturas do evolucionismo e
intro-duz na sociologia moderna o paradigma sístêrníco. Que
procura encontrar as leis internas QUeregem um
siste-ma social e os
fa tos sodeis" Que o compõem.
Falar em
escola funciona lista dentro
do campoda Antropologia significa. necessariamente. recorrer
a Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942). Esse
autor delineia. em seu famoso livro
Argona uta s do
P a cífico Ocidenta l.
publicado em 1922. o métodoetnográfico de pesoulsa, na abordagem funcionalista.
A antropólogo polonês aponta
cinco ca ra cterística s
Que deve possuir a pescuísa etnográfica:
SUm estudo mais aprofundado acerca do pensamento evolucionista
e sua reaçãoàteoria daDegener a çã o. cuja matriz criacionista defen-dia um estado inicial idealizado -paraíso- do Qual o homem fora
despejado por uma falta ou pecado original. se encontra nas
monografias dos antropólogos conhecidos comoea r lr
evolulionists-Morgan. T y lo r . Frazer (Cf.lANGNESS. l.l. 1987).
6A respeito do conceito de fa to socia le as críticas Que recebeu. pode-se consultar a explicação e a defesa Queseu autor. E. Durkheim.
faz no prefácioàsegunda edição do seu livroAs Regr a s do Método Sociológico (1999).
:da remetezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA pesouísa.
narlarnen-rzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
interpre--Prítchard
imo uma lsta, Que
ontinuum
ções
cul-elvagería,
condição
anjos da
'fa m/7ia
-)gâmica;
arídade, ão,
ciên-parativa
~e
íntro-uco. Que
im síste-r.
í campo
'ecorrer
O.
Esseutss
do
métodomalista.
~rística s
cionista
ta
defen-sem fora ntra nas
r
ionisls-ecebeu,
urkhelm.
Método
I) os resultados devem ser apontados de
forma
cla ra e honesta
emoualouer tipo de pesouisa científi-ca através do relato detalhado dos recursosexperi-mentais, a descrição dos aparelhos, o tempo de
permanência entre os nativos, o número de
observa-ções ete. A etnografia precisa se aproximar desse
mo-delo, pois muitos etnógrafos, diz Malinowski, não
utilizam
o recurso da sincerida de metodológica a o
ma nipula r os fa tos e a presenta m-nos a o leitor como
Que cxtrsidos do na da
(Malinowski, 1984: 18).Trata-se de pesouísas onde aparecem generalizações, sem relatar as experiências concretas Que as produziram.
2) o etnógrafo é, ao mesmo tempo,
o cronista
e o historia dor dos lã tos
Que relata, pois seu objetode estudo não está impresso em nenhum suporte
material, seja ele papel, couro ou pedra. Suas fontes
de informação flutuam entre os comportamentos e a
memória da comunidade investigada. A proximidade
temporal de acesso às fontes - diferente do
paleontólo~o - induz o etnógrafo a subestimar a
complexidade do seu objeto de estudo, podendo
levá-10
a enganos científicos.3) A
distâ ncia
entre os dados brutos,observa-dos durante a permanência na comunidade e o
relató-rio final da monografia constitui a terceira característica.
Parece tratar-se, entretanto, de uma distância não
ape-nas temporal, masoualítatíva. pois as informações
ini-ciais partem
da s própria s observa ções do
TSRQPONMLKJIHGFEDCBAp c s o ú is s d o t ;da s ssscrçôcs dos na tivos e do ca leidoscópio da vida
triba l
(ibidem: 19). Essa é a distância Que há entre odia em Que o etnógrafo pisa pela primeira vez na
co-munidade nativa e o relatório final da monografia.
4) A
solidã o inicia l do a ntropólogo.
Brotamdo texto as vivências iniciais decorrentes do chooue cultural Que o antropólogo polonês-britânico faz
Questão de descrever com vivacidade, como Que
ten-tando gravá-Ias n; alma do leitor:
Ima gine-se o leitor
sozinho, rodea do a pena s de seu coútpemcnto. numa
pra ia tropica l próxima a uma a ldeia na tiva , vendo a
la ncha ou o ba rco Que o trouxe a fa sta r-se no ma r a té
desa pa recer de vista
(ibidem: 19). A convivência comos nativos da comunidade a ser investigada torna-se
de fundamental importância para validar a pesouísa
etnográfica; e desse modo, nosso autor aponta uma
Quinta característica.
S) As vivências do antropólogo devem entre-laçar-se com os dados abstratos, pois:
A meu ver;
um tra ba lho etnográ fico só terá va lor científico
irrefutá vel se nos permitir distinguir cla ra mente, de
um la do, os resulta dos da observa çã o direta e da s
decla ra ções e interpreta ções na tiva s e, de outro, a s
inferência s do a utor; ba sea da s em seu próprio bom .
senso e intuiçã o psicológica
(ibidem: 18).Resumindo, a Antropologia funciona lista
apon-ta cinco características Que moldam a pesquisa etnográfica; a clareza e a honestidade dos relatórios
de campo, a fluidez de seu objeto de estudo, a
dis-tância entre os dados brutos e sua interpretação
for-mal. a importância da convivência com os membros
da comunidade investigada e, finalmente, a
experi-ência de solidão cultural.
Do topo da sua larga experiência de campo, o
velho antropólogo da London School of Economics
espalha alguns conselhos entre jovens pesouísado-res, à guisa de
primeiros
pa ssos
na pesouísa etnográfica. Após os primeiros momentos deconta-to com a cultura nativa, o auconta-tor propõe como
pri-meiro pa sso" fa zer tecnologis',
Com essa expressão,Malinowski orienta o jovem pesouísador a não entrar diretamente em assuntos Que possam levantar
sus-peitas entre os membros da comunidade, mas agir
com prudência. Por isso, propõe-se a
observa çã o
pa rticipa nte
nas tarefas Q!Je eles realizam,pergun-tando pelo nome dessas atividades, por exemplo.
Ébem verdade, reconhece o autor, Que a
co-municação lingüística inicial - feita por ele em inglês
pidgin -
não penetra na tessitura do tecido culturalda comunidade; o Que pode levar o jovem
antropólo-go, na sua ânsia de obter dados concretos, a fazer
um
recensea mento
da comunidade. Essatécnicapro-porciona, certamente, dados tais como genealogias,
desenhos da aldeia, relação de parentesco. Mas, aos
poucos, descobre-se Que é apenas um
ma teria l morto,
pois lhe falta o
sentido
das significações. OQ!Jeimpor-ta (constitui o
segundo pa sso)
é buscar adiferença ,
as
peculia rida des
mentais e culturais dos nativos.pólogo significa conviver entre os nativos sem a
me-diação cultural do homem branco. O isolamento
pes-soal e cultural - pré-reouísito necessário para atingir
o objetivo fundamental da pesouísa etnográfica, QuezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ézyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
esta belecer o contorno flrme e c/a ro da
constitui-çã o triba l e delinea r a s leis e os pa drões de todos os
fenômenos cultura is, isola ndo-os de
tstosirreleva ntes
(ibidem: 24) - era superado pelo autor através delongos passeios e leituras de romances.
Propõe como o
terceiro princípio
científico aaplicação de métodos especiais de coleta,
manipula-ção e registro das evidências. O antropólogo,
inven-tor da
observa çã o pa rticipa nte,
apresenta um primeirométodo para a coleta dos dados, chamado
método
de inférência , por documenta çã o eststtstics.
segun-do o Qual o etnógrafo busca o Que há de
perma nente
e flxo
na cultura pescuísada. Esses elementos,con-tudo, não se encontram formulados em nenhum
lu-gar físico, pois estão inscritos no mais lábil dos
materiais: o ser humano. Por isso, o antropólogo deve
coletar o maior número de dados concretos e, a
par-tir deles, formular inferências gerais, como recomenda
nosso autor:
A coleta de da dos reférentes a um gra nde
número de
TSRQPONMLKJIHGFEDCBAI s t o s é,pois, uma da s
I s s c sprincipa is da
pesouiss de ca mpo. Nossa responsa bilida de nã o se
deve limita r
àenumera çã o de a lguns exemplos a
pe-na s; ma s sim, obriga toria mente, a o leva nta mento, pe-na
medida do possível exa ustivo, de todos os tetos a o
nosso a lca nce
(ibidem, 26).Recomenda, entretanto, Que as inferências
devem partir dos acontecimentos, dos fenômenos
cotidianos ocorridos na comunidade e não de
per-guntas teóricas, formuladas aos nativos. Os dados
concretos, organizados através das inferências se
transformam em
esouemss menta is
na cabeça dopesouísador e têm por objetivo organizar
logica mente
o caleidoscópio da vida tribal -experiência primeira
do pescuísador ao entrar em contato com a cultura
nativa. Mas a experiência etnográfica leva Malinowski
a recomendar a transformação dos
csoucmss
men-ta is,
tanto QUanto possível, em esouernasrea is,
Quese materializam na forma de
dia gra ma s, pla nos de
estudo
eQua dros
sinâ ticos.Malinowski alerta os jovens antropólogos
-terceiro pa sso -
sobre os perigos dosa ta lhos
cultu-ra is,
isto é, deve-se evitar as interpretações acercada cultura nativa vindas de moradores brancos
(mis-sionários ou comerciantes). O grande segredo
radi-ca, exatamente, no encontro direto com a cultura
primitiva:
De
I s t o ,em minha primeira pesouise
etnográ flca no litora l sul, foi somente Qua ndo me vi
só no distrito Que pude começa r a rea liza r a lgum
progresso nos meus estudos e, de ousloucr forma ,
descobri onde esta va o segredo da pcsoutse de ca
m-po eflca z
(ibidem: 20).Ao prosseguir a leitura da introdução ao livro
Argona uta s do P a cíflco Ocidenta l,
o leitordeparar-se-á com alguns
princípios científlcosQue
orientam a pesoulsa etnográfica. Cabe salientar, antes deapre-sentar os princípios científicos, as observações feitas
por Malinowski no sentido de criticar o
empirismo
puro como caminho adeouado na pesouísa
etnográ-fica. Alerta o antropólogo polonês-britânico para o
fato de Que os princípios científicos devem caminhar
aliados ao bom senso do pesouísador para Que a
em-preitada obtenha êxito.
Os princípios científicos são agrupados em três.
O
primeiro princípio
exige objetivos genuinamentecientíficos do pesquisador e conhecimento dos
valo-res e dos critérios da etnografia moderna. Parece
brotar do texto lima dupla preocupação, ética, a
pri-meira, e científica, a segunda. Que Quer dizer
Malinowski com objetivos genuinamente científicos?
Talvez esteja expurgando da pesouísa etnográfica toda
intenção ímpertallsta. colonialista. religiosa ou
mera-mente curiosa. Além do expurgo, o antropólogo deve
possuir conhecimentos atualízados em relação à
Antropologia, como fica explícito neste trecho: Se
um homem pa rte numa expediçã o decidido a prova r
sua s hipóteses e é inca pa z de muda r seus pontos de
vista consta ntemente, a ba ndona ndo-os sem hesita r
a nte a pressã o da evidência , sem dúvida seu tra ba lho
será inútil
(ibidem: 22).O
segundo princípio
científico da pesquisaetnográfica propõe boas condições de trabalho.
En-etanto, boas condições de trabalho para o
s sem a me-arnento
pes-para atingir
gráfica, QuezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ta
constitui-de todos os
irreleva ntes
. através de
científico a ,
manipula-ogo, inven-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA im primeiro
do
método
TSRQPONMLKJIHGFEDCBA'Í C a ,
segun-»a msncnte
entes, con-enhum lu-) lábil dos
ólogodeve
)Se, a par-recomenda
umgra nde
I n c i p s l s
da
tdc
nã o se
nplos a
pe-tmcnto,
na
J S I s t o s
a o
nferências enôrnenos
o de per-Os dados
'ências se
abeça do
gksmcnte
Iprimeira a cultura lalinowski
mss
men-rea is,
Que»Ienos de
;ar. :11II1
Um outro modo de coleta de dados é o
méto-do méto-do registro sistemá tico de impressões,
QUe buscaos imponderá veis da vida rea l
Mais uma vez o autorse remete aos métodos científicos empíricos para mostrar sua utilidade e sua limitação no campo etnográfico. O método de documentação estatística por evidência concreta permite ao antropólogo cap-tar o
esoueleto
trlbal. mas não a dinâmica psiouíca e cultural Que o permeia:Em certos tipos de pcsoutss
científica -especistmente
o Que se costuma cha ma r
de leva nta mento de da dos ou survo/- é possível a
pre-senta r; por a ssim dizer; um excelente esqueleto da
constituiçã o
tr ibst.ma s a o Qua l lã lta m ca rne e sa
n-gue
(ibidem,27). Destarte, o antropólogo devepar-tir atrás de uma série de fenômenos Que são de suma importância para a compreensão da cultura pesouísada, mas Que não podem ser capturados em Questionários ou documentos estatísticos.
Encerrando a monografia
Argona uta s do
P s-cíflco Ocidenta l,
Malinowski resume ascaracterísti-cas do
método funciona lista na a ntropologia cultura f,1
Que ele introduziu na forma de fazer pesoulsa antro-pológica. Aparece como uma das características precípuas da pesouísa etnográfica
a a presenta çã o
cuida dosa dos
I s t o sobserva dos pelo a ntropólogo,
de forma a provocar uma
impressã o vívida no leitor.
como se este imergisse, através do minucioso relato monográfico, na própria cultura nativa. Contudo, a coloração fenomenológica Que apresenta, àprimeira vista, o texto rnalínowsoulano se esmaecem face da preocupação empirista -
segunda ca ra cterística -
Que o autor manifesta ao frisar Que o etnógrafo deve sea ter a os
I s t o sconcretos, deixa ndo os na tivos tslsr cm
por si mesmos, rea liza rem sua s tra nsa ções e
execu-ta rem sua s a tivida des a nte a visã o menexecu-ta l do leitor
ibidem,370). Detalhes, documentos, números e ocorrências
rea is
completam o acervo empírico da pesouísa etnográfica. Aparece, pois, uma certa ob-sessão no sentido de dissipar oualouer presunção desubjetivismo
nos fatos relatados pelo etnógrafo.Coube a Malinowski e a Radclilfee-Brown a introdução. a consolidação
a expansão posteriores do método funcionalista na antropologia
cultu-Parece emergir no texto rnalinowskiano mais uma característica da pesoulsa etnográflca.
seu a
s-pecto ststémtco,
uma vez Que os detalhes e os fatosrelatados adouírem sua plena significação Quando inseridos na visão global QUe os nativos têm das coi-sas. As culturas são, destarte, modos diferentes de compreender a vida, o universo:
Na s via gens pela
história huma na e pela superfície terrestre, é a
possi-bilida de de ver a vida e o mundo de vá rios â ngulos,
peculia r a ca da cultura , Que sempre me enca ntou msis
do Que tudo, e me despertou o desejo sincero de
penetra r noutra s cultura s, comp.reender outros tipos
de vida
(ibidem, 370). Mas conhecer outras culturasimplica reconhecer formas diferentes de os homens interagirem com a natureza, construindo singulari-dades simbólicas organizadas, coerentes e não ape-nas aceitá-Ias sob o prisma da
excentricida de
ou daa nedota ,
solapando o etnocentrismo, tão duramenterepudiado por Malinowski,
essa a titude sempre me
foi estra nha e repugna nte
(ibidem,370).Depois de debulhar parte da ríoueza meto-dológica contida no Prólogo, convido o leitor a pene-trar no corpo da monografia
Argona uta s do P a cíflco
Ocidenta l
O autor organiza o acervo antropológico-coligido através de observações, da participação em cerimoniais e expedições e informações junto aos na-tivos, durante sua permanência nas ilhas - ao redor de uma modalidade especial de transação comercial en-tre os aborígines das ilhas da Nova Guiné Oriental, conhecida como
Kula .
Malinowski distribui as Quatro-centas páginas do seu relato entre os vinte e dois capí-tulos do livro, de tal forma Que estes constituem uma rtifício literá rio
através do Qual ele fala sobreaspec-tos sociais e culturais das tribos. Isso não significa di-zer Que o autor invente o conteúdo da monografia, mas o dispõe de acordo com seu propósito maior QUe é apresentar o
Kula
como categoria antropológica, semelhante a outras encontradas por outros antropó-logos e Que passaram a fazer parte do acervo antro-pológico QUe os especialistas devem conhecer, tabu, por exemplo (Malinowski, I 984:368). Pode-se Questi-onar se ele consegue tal objetivo, mas, de cualouer modo, o autor usa os primeiros capítulos - I e 2-iII@ ~M iJSilii&MiJlWI!lilAAW+>l!l WlIiIt ••
malinowskiana. começaram a perder seu apogeu por
causa das críticas levantadas por um grupo de antro-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA pólogos.? Que se deparou comzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tribos e na ções
com-pa ra tiva mente enormes, extensa s e dispersa s sobre
va stos territórios, nã o com a s minúscula s e contida s
popula ções
insula res
dos primeiros
estudos
(Kuper.1987: 104). O estruturalismo busca.
funda-mentalmente. encontrar
unida des a bstra ta s
dentro dasformações sociais e culturais. e. através destas.
com-preender as sociedades. Essas
forma s a bstra ta s
sãoconcebidas como
estrutura s.
isto é. suas partes seintegram de acordo com certas leis Que diferenciam
o
todo da soma de sua s pa rtes.As
estruturas comoQue se desprendem da realidade social onde se
ma-nifestam e assumem uma existência
desenca rna da ;
dessa feita. é a partir das estruturas QUese pode
co-nhecer o tipo de sociedade ou de cultura. A
estrutu-ra precede e dá sentido ao estudo etnográfico.
Em 1937. o antropólogo britânico
Evans-Pritchard publicava a monografia intitulada
witchcrett.
Ora de a nd Ma gic a mong the
TSRQPONMLKJIHGFEDCBAA z e n d c , mas foi arenomeada e famosa monografia
Os Nuer (
I 95 I) Queo tornou conhecido como um dos principais
inicia-dores da chamada
Antropologia estrutura l.
Dentre omaterial etnográfico coligido pelo autor junto aos
povos nilotas Que habitam oSudão. se destaca aoue-le QUe analisa os sistemas
político, de linha gens
econjuntos etá rios
entre os nuer. Evans-Pritchardini-cia a monografia mostrando as fontes escritas acerca
dos Nuer. Divide as informações em várias classes:
registros
superficiais obtidos junto aos viajantes.es-tudos históricos
sobre oSudão,cujo va lor etnológico
decresce em a nos recentes [..
. jma s contêm
obser-va ções interessa ntes
e a rguta s
(Evans-Prttchard,119511 1978:6).
escritos
de alguns missionários e.finalmente.
a rt{gosescritos
por ele mesmo para váriosperiódicos.
A seguir. o autor apresenta o objetivo precípuo
da monografia em estudo. QUe se concentra na
ma
-neira pela Qua l um povo nilota obtém sua
subsistên-cia e sua s instituições política s
(ibidem. 7). deixando para apresentar ao leitor as características geográficasda região e os conteúdos sociais e culturais da
comu-nidade. relacionados com a posição social das
mulhe-res. o trabalho. os chefes. a magia. o totemismo ete.
Antes de
fa brica r
a viagem doKula .
Malinowskides-creve suas características fundamentaís." Os capítulos
seguintes - 4. 5. e 6 - constituem uma descrição
mi-nuciosa dos preparativos da expedição. onde o autor
explica o valor das canoas para os nativos. o
cerimoni-al da sua construção. o lançamento no mar ete.
A seguir - nos capítulos 7 a 14 - Malinowski
relata a expedição propriamente dita. fixando as
narra-ções sobre os conteúdos simbólicos como
bruxa s voa
-dora s
e a magia para proteger-se contra elas. algumasparadas da expedição e a troca dos presentes. Convém
ressaltar QUeo autor. utilizando-se da viagem como
ar-tifTcio narrativo para descrever o
Kula
e tendo faladodos aspectos mais importantes do mesmo (Sociologia.
mitologia). descreve sua volta de forma sucinta em
úni-co capítulo (I 5). O resto do livro aborda peouenas
via-gens e dois extensos capítulos ( 17 e 18) são dedicados
àmagia e o Kula eàmagia e a linguagem. A monografia se encerra falando do
s{gnifica do da Kula .
onde oantro-pólogo realiza sínteses a respeito do material coligido e
reunido em unidades abstratas Que explicam a vida e
seu sentido para os trobriandeses.
o
modelo estrutural na AntropologiaCultural
No final 9a década de 30. as monografias
etnográficas funcíonalístas. produzidas sob a liderança
8F eita a descriçã o do cená rio e dos a tores, pa ssemos a o espetá culo em si./. .. jEm ca da ilha e em ca da a ldeia , um número ma is ou menos restrito de homens pa rticipa m do Kula -ou seja , recebem a rtigos, conserva m-nos consigo dura nte a lgum tempo e, por fim, pa ssa m-m-nos a dia nte. Ca da um dos pa rticipa ntes do Kula recebe periodica mente (ma s nã o regula r-mente) um ou vá rios mwa li (bra celetes de concha ) ou um soula va (cola r de discos /êitos de concha s vermelha s) Que deve entrega r a um de seus pa rceiros, do Qua l recebe em troca o a rtigo oposto. O!ã to de Que uma tra nsa çã o seja consuma da nã o significa o fim na rela çã o esta belecida entre os pa rceiros: a regraéuma vez no Kula , sempre no Kula . A pa rceria entre dois indivíduos no Kula éperma nente pa ra toda a vida . Os mwa li e os soula va encontra m-se sempre em movimento, vá o pa ssa ndo de mã o em mã o, e nã o há ca sa s em Que esses a rtigos fiQuem retidos como um só dono. P ortsnto. o princípio de uma l-t7no Kula sempre no Kula a pli-ca -se de igua l forma a os próprios a rtigos(Malinowski. 1984:71).
I 2 • EDUCAÇÃO EM DEBATE FORTAlEZA Y.I
9Evans-Prítchard. Schapera. Richards. Fortes.
geu por
e antro-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
cs
TSRQPONMLKJIHGFEDCBAc o m-9 5
sobre
contida s
tstudos
, funda-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ntro das
lS,
com-"a ta s
sãortes se
como
ese
ma-Ca ma da ;
de co-
estrutu-o.
Evans-tchcrstt.
Ias foi a
51) Que
ls inicia-)entre o
nto aos
ta
aoue-'a gens
eard
ini-ISacerca classes: ntes,
es-oIógico
n
obser-itchard, nários e, Ira vários
precípuo
a na
ma
-vbsistâ
n-deixando
para um segundo volume as informações coligidas acerca da vida doméstica dos Nuer. Adverte o leitor de Que, embora conhecer as características Q!.Ieiden-tificam a cultura e a estrutura social dos Nuer seja muito interessante, há poucas informações para tal empreendimento etnográfico. Daí por Q!.Ie o autor considera a monografia
um rela to simples dos Nuer
e deixa de lado
a s muita s compa ra ções óbvia s Que
poderia m ser feita s com outros povos nilota s
(ibidem,8). Mas, para compreender o sentido pleno das ins-tituições políticas dos Nuer, diz o antropólogo britâ-nico Q!.Ie é necessário inseri-Ias no
meio a mbiente
[sistema ecológico] e na
forma de subsistência
[siste-ma de produção].pois
osistema político é coerente
com sua ecologia
(ibidem, 8).Dando continuidade à monografia, Evans-Pritchard informa o leitor de Que tratará da
estrutura
política
lOdos Nuer, estudando os grupos políticos seguintes: o
povo
-cujos aspectos mais característi-cos são a mesma língua, a mesma cultura e o reco-nhecimento da identidade entre eles e a diferença com outros povos; oclã e
suas linhagens; osconjun-tos etá rios
e atribo -
Que é o maior segmentopolí-tico- e suas divisões:
seçã o primá ria , seçã o secundá ria
e seçã o terciá ria ,
Q!.Ieconstituem a segmentação decada nível em várias unidades menores. Por exem-plo, uma
seçã o primá ria
divide-se em váriassecun-dá ria s
e cada uma dessas subdivide-se, por sua vez,em outras tantas
seções terciá ria s,
respectivamente. Estes últimos segmentos consistem de uma série de aldeias,a s ousis constituem
a s menores
unida des
doméstica s da terra dos Nuer
(ibidem, 9). Umaal-deia é composta por grupos domésticos, Que habi-tam aldeotas, casas e choupanas.
Evans-Pritchard diferencia os
grupos domésticos
e os
grupos políticos,
pois os primeiros fazem parte do !le ele denomina degrupos loca is,
cujos laços sociaisse estruturam em relação à ordem do parentesco. O
sistema
político dos Nuer se caracteriza por nãopos-o
autor adianta o Que entende por essa categoria social: os relacio-entos. dentro de um sistema territorial. entre grupos de pessoasvivem em áreas bem definidas espacialmente e Q!le estão conscientes
sua identidade e exclusividade (Evans-Prltchard, 119511 1978: 10).
suir governo e seu Estado se assem
ordena da .
Apresenta, todavia, duasQ!.Ie:o
chefe em pele de leopa rdo
e osprofe.
possuam pouca importância política.
Após tratar da
estrutura política
dos rvue ..autor anuncia Q!.Ie estudará outro sistema, o
de
li-nha gem
e o relacionamento entre os dois. Os Nuertêm linhagens agnáticas, 11 sendo o
clã
o maior gru-po de linhagens. tomando como referência as regras da exogamia. Oclã se
divide em linhagens diferentes de descendência de um ancestral comum, denomi-nadas delinha gens má xima s,. ma iores, menores e
mínima s,
funcionando estas últimas como o grupode referência Quando alguém é perguntado sobre Qual é sua linhagem. O autor estabelece uma diferença entre
linha gem, clã
egrupo político,
pois, enquanto a linhagem se refere a um grupo de agnatos, sejam eles vivos ou mortos, entre osouaís
há parentesco genealógico, o clã é referenciado como um sistema exogâmico de linhagens. Há também uma diferença entregrupos políticos
egrupos de linha gem,
sendo Que o relacionamento entre os membros de grupos de linhagem se baseia na ascendência e o relaciona-mento dos grupos políticos na residência.Evans-Pritchard anuncia na introdução da monografia
Os NuerQ!.le
passará a discutir outrosis-tema ,
ode conjuntos etá rios
[age-set], Quecompre-ende a segmentação da população masculina adulta, baseada na idade. A estrutura dos conjuntos etários se revela segundo o autor, como unidades autôno-ma, fixas, sem gradações internas nem possuindo funções corporativas; sua dinâmica não é cíclica mas progressiva,
uma vez Que um ra pa z tenha sido inicia
-do dentro de um conjunto, ele perma nece na mesma
gra da çã o etá ria pelo resto de sua vida
(ibidem, 12).Enfim, o autor encerra a primeira parte da in-trodução - antes de descrever os detalhes da expedi-ção - reafirmando o objeto de seu empreendimento etnográfico:
IIEvans-Pritchard explica Que sãoaquelasQ!le traçam sua ascendên-cia exclusivamente através do sexo ma sculino até um ancestral co-mum. portanto. desprezam a ascendência Que segue através dos
antepassados do sexo feminino.
TalzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAem suma, o plano deste livro, e tais são os
significados Que atribuímos às palavras usadas com
maior frecüêncla para descrever os grupos Que
são discutidos nele. Esperamos tornar essas
defi-nições mais apuradas no decorrer da
investiga-ção. A investigação dirige-se para dois objetivos:
descrever a vida dos Nuer e expor alguns dos
prin-cípios de sua estrutura social. Procuramos dar um
relato tão conciso Quanto possível de sua vida,
acreditando Que um livro pequeno tem maior
va-lor do Que um grande para o estudante e o
admi-nistrador, e, ao omitirmos muito do material.
registramos apenas o Que é significativo para o
assunto limitado de discussão (íbidern, 12).
Depois de traçar o plano teórico da mono-grafia, Evans-Pritchard explica os detalhes de sua ex-pedição ao Sudão, aceitando com receio o convite do governo anglo-egípcio, pois
a nda va a nsioso pa r a
completa r meu estudo sobr e os Aza nde
e por causa,também, das dificuldades Que o povo Nuer apresen-ta: sua região agreste e seu caráter intratável (ibldern, 15). Parece Que o autor não está satisfeito com os resultados da pesouísa e as condições em QUe foi realizada, por isso pede a indulgência do leitor. Che-gou ao território dos Nuer no início de 1930, de-pois de uma viagem cheia de percalços, tais como o extravio da bagagem, os suprimentos de comida não chegaram ao seu destino, os carregadores se atrasa-ram na chegada e depois fugiatrasa-ram com medo dos Nuer. Mas Evans-Pritchad manifesta apreensão e se exime de tais
er r os pelos
ousis nã o fui r esponsá vel
(ibidem, 15).
Superado o estádio inicial das dificuldades materiais, o etnógrafo britânico enfrentou dificulda-de
simbólica s,
pois a comunicação se tornou difícil. devido pelo de os Nuer não falarem nem inglês nem árabe. Por isso ele teve Que aprender o idioma nati-vo, principalmente junto aos jovens, em relação aoscuaís engendrou sentimentos de afeto, Quando rela-ta o etnógrafo uma das partes mais importantes na
pesoulsa etnográfica:
a r ela çã o do pcsouissdor com
os pcsoutssdos.
Aparece nitidamente Que ospesouísados não são
objetos iner tes
QUe aceitam de bom grado a presença de pesouisadores ou, maismNMLKJIHGFEDCBAM'
precisamente, de invasores/colonizadores:
Vocês nos
a ta ca m, e contudo dizem Que nã o podemos a ta ca r
os Dinka . Vocês nos der r ota m com a r ma s de fogo e
nós tínha mos somente la nça s
(lbldern, 17).Evans-Pritchard, o pescuísador, não vê moti-vos para o ressentimento dos natimoti-vos, embora a
pes-cursa fosse realizada logo após uma repressão
governamental 12 e tacha-os de
sa bota dor es da s
in-vestiga ções, a r r edios e inter esseir os
-só freqüentama tenda do pesouísador para ganhar tabaco. Resume suas impressões da convivência com os Nuer, fazen-do um trocadilho de teor pslcopatológico:
Depois
de a lguma s sema na s de ma nter r ela ciona mento
uni-ca mente com os
TSRQPONMLKJIHGFEDCBAN u e r ;a gente exibe, se for per
miti-do o tr oca dilho, os sintoma s ma is evidentes de
. .n u e r o s c " (lbldem. 19). Mas aparece uma certa ambivalência emocional no relacionamento do
pes-ouísador com os nativos, pois apesar de todo o des-conforto material e relacional relatado acima, ele diz:
Os Aza nde nã o me per mitir a m viver como um deles;
os Nuer nã o me per mitir a m viver de outr o modo Que
nã o o deles. Entr e os Azsndc. fui for ça do a viver for a
da comunida de: entr e os
N u a ;fui for ça do a ser
mem-br o dela . Os Aza nde tr a ta r a m-me como um ser
su-per ior : os
N u a ;como um igua l
(ibidem, 21).A monografia
Os Nuer
foi o resultado daob-ser va çã o pa r ticipa nte
realizada pelo etnógrafodu-rante as três visitas Que fez ao povo nilota - 1930, I 935 e 1936 - perfazendo ao todo cerca de um ano de convivência entre os nativos, tempo mínimo para coligir dados através dos ouals pôde elaborar um esboço da
estr utur a socia l
dos Nuer.A monografia está estruturada em três partes, integradas e complementares. Inicia Evans-Pritchard descrevendo a importância Que o
ga do
(principal-mente, vacas e bois) tem para os Nuer e a ecologia da sua terra. Além de ser necessário para a subsis-tência das tribos, o gado possui um aspectosimbólico,
12Seria dilTcil.em Qua lQuer época . Isscr pcsoa isss entre osNuct; e, no período de minha visita , eles esta va m extra ordina ria mente hostis, pois sua recente derrota pela s força s governa menta is e a s medida s toma da s pa ra ga ra ntir sua submissã o fina l tinha m provoca do profun-dos ressentimentos (lbidem. I 7).
focêsnos
os a ta ca r
fefogoe
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAvê
moti-ra a pes-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
.pressão
:5
da s
in-oüentarn Resume
:r,
fazen-: Depois
ento
uni-.per
miti-entes de
na certa
do
pes-10o
des-,ele diz:
r mdeles;
odo oue
. cr iors
~r
mem-ser
su-I).
Dda
a
b-afo
du-- 1930,
: um ano
mo
para orar um5partes,
>ritchard
íncipal-ecologia
I
subsis-tnbôlico,
osNuet; e,
ia tehostis, l5medida s do
protun-razão, Que o etnógrafo tinha permanecido pouco
tempo entre os nativos, comprometendo o relato no
sentido de torná-Io idealista. Outra crítica, emanada
do fervor Que os etnógrafos mallnowsoulanos tinham
com os dados empíricos obtidos na
obser va çã o pa r
-ticipa nte,
se refere à preteríção dos contatos pesso-ais com os nativos em prol da análise das estruturassociais. Penso Q!.leessas críticas não procedem, pois
o leitor da monografia,
Os Nuer
apreende adinâmi-ca da vida tribal muito bem, e esse é um dos
objeti-vos da pesoulsa etnográfica.
,'"ia f *Ni*g..,mm7J>'.,*~.~
A Antropologia lnterpretotivo
O antropólogo norte-americano Clifford Geertz
encerra seu livro intitulado A
Inter pr eta çã o da s
Cul-tur a s
com um ensaio muito interessante, chamadoUm jogo a bsor vente: nota s sobr e a br iga de ga los
ba linesa .
Todos os ensaios reunidos no livroperse-guem um mesmo objetivo: uma visão peculiar do Que
é cultura.!" do papel Que ela desempenha na vida social e
como deve ser devida mente estuda da .
Comoeste trabalho investiga as características básicas da
pcsoutss etnogr á llca ,
farei breve incursão na obradeste autor.
Pois bem, Geertz elabora uma peouena
monografia - se comparada com as duas outras já
apresentadas neste trabalho - Que mostra, contudo,
toda arloueza dapesouísa etnográfica. São 44 pági-nas de uma empolgante descrição acerca de um
as-pecto da cultura balinesa, onde o autor dispensa
pouca atenção à descrição ecológica e passa a rela-tar os primeiros contatos com os nativos. Chegados
em abril de 1958 a uma peouena aldeia balinesa de
cerca de 500 habitantes e em condições precárias
de saúde - atacados de malária - Geertz e sua
espo-sa, também antropóloga, enfrentaram outro tipo de
14
o
conceito de cultura Que eu defendo, e cuja utilida de os ensa ios a ba ixo tenta m demonstra r. éessencia lmente semiótico. Acredita ndo. como Ma x Weber. Que o homem é um a nima l a ma rra do a teia s de significa dos Que ele mesmo teceu. a ssumo a cultura como sendo essa s teia s e a sua a ná lise; porta nto. nã o como uma ciência experi-menta l em busca de leis, ma s como uma ciência interpreta tiva , àprocura do significa do (Geertz, 1989: 15 ) .TSRQPONMLKJIHGFEDCBA
EDUCAÇÃO EM DEBATE • FORTALEZA • ANO 24 • V. 1 Na 43 • 2002. I 5
através do Qual se expressam o relacionamento com
os povos vizinhos, a arte de pilhar gado alheio, o
desprezo por Quem não possui gado ete. Quanto à ecologia, o autor afirma Que as características da
ter-ra13 interagem umas com as outras e formam um
sistema ambiental Que condiciona diretamente a
es-rutura social dos Nuer. As chuvas e a estação da
seca orientam a condução do gado em busca de
melhores condições para a sua alimentação e, com
isso, interferem na organização das aldeias e dos
acampamentos, ccjas regras sociais são diferentes.
Mas é na parte intermediária da monografia
ue o autor apresenta um estudo muito interessante
acerca da compreensão do
tempo
e doespa ço
entreos Nuer. Distingue Evans-Pritchard o tempo
ecoló-gico -
relação dos nativos com o meio ambiente- eo tempo
estr utur a l-
relação entre as pessoas naes-trutura social. O tempo
ecológico
se refereà seoüên-cia de atividades transcorridas para cuidar do gado,tais como ordenhar, conduzir até o pasto, recolher o
gado à noite ete. O tempo
estr utur a lse
refere à dis-tância genealógica entre duas pessoas dentro datri-o. Há também o espaço
ecológico
e o espaçoestr utur a l.
Que -muta tis muta ndis-
guardam ames-ma relação Que o tempo ecológico e o estrutural. O
espaço
ecológico
é mais do Que uma distância física,ensurada em Quilômetros, pois
um r io la r go divide
dua s tr ibos nuer de modo ma is nítido do Que muitos
uilâ mctr os de ma to a ba ndona do
(ibidem, I 27). Jáoespaço
estr utur a l
se refere à distância entre grupos e pessoas dentro de um sistema social. porexem-10, o segmento tribal primário e o terciário.
Mas o objetivo principal de Evans-Pritchard na
onografia Os Nuer era conhecer os
sistema s
políti-co, de linha gens e os conjuntos etâ rtos.
descritos narltima parte do livro. Antropólogos funcionalistas
eceram críticas durasà monografia e aduziam, como
1As principa is ca ra cterística s da terra dos Nuer sã o: I) Elaé sbso-'la mente pla na . 2)P ossui solo a rgiloso. J)P ossui Ilorestss muito ra la s e esporá dica s. 4)F ica coberta com relva a lta na s chuva s.5)Está sujeita a chuva s fortes. 6)É corta da por gra ndes rios Quet r s n s b o r
-d s m a nua lmente. 7)Qua ndo cessa m a s chuva s e os rios ba ixa m de
dificuldade: azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
indiferença dos ba lineses pa ra com os
intrusos.
As primeiras páginas da monografiarefle-tem a experiência dos antropólogos ao serem
igno-ra dos
pela comunidade balinesa e pelos seusindivíduos em particular. A impressão Que Geertz e
sua mulher tinham era de Que não havia como
indiví-duos dentro da comunidade nativa e, de repente, sem
saber como nem por Q!.Ie,ganham uma
presença rea l
e ca lorosa
entre os balineses:Então num dia, numa semana, num mês (para
al-gumas pessoasesse momento mágico nunca che-ga) ele decide, por motivos Queeu nunca fui capaz
de entender, Que vocêzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé real e ele se torna então uma pessoa calorosa. alegre. sensível, simpática.
embora. sendobalinês, sempre muito controlada. De alguma forma você conseguiu cruzar uma fron-teira de sombra moral e metafísica. e embora não
seja considerado um balinês (para isso precisa ter nascidoballnês), você é pelo menos visto como um ser humano em vez de uma nuvem ou um so-pro de vento (Geertz. 1989:279).
A passagem da condição de intrusos e
indife-rentes para a acolhida calorosa se processou a partir
de um fato acidental. como foi a 'participação' numa
briga de ga los.
As brigas de galo estavam proibidasem Bali,à época da presença de Geertz, e por isso se realizavam em lugares distantes e escondidos na
al-deia, pois a polícia [avanesa tentava coibir esses
even-tos populares. Foi o Que aconteceu com o casal de
antropólogos norte-americanos Q!.Ie, ao assistir uma
briga de ga~o~ e com a chegada da polícia. os dois
decidiram correr junto com os balineses e se alojaram
na casa de um dos participantes Que também fugia.
Conta Geertz Que a partir desse
incidente
houve amu-dança radical na relação dos nativos com eles.1 S
/5 Minha mulher e eu decidimos. a lguns minutos ma is ta r de Que os dema is. Que o Que tínha mos a fa zer er a cor r er ta mbém. Cor r emos pela r ua pr incipa l da a ldeia , em dir eçã o a o Nor te, a fa sta ndo-nos de onde mor á va mos, pois está va mos nsoudc la do da r inha . Na meta de do ca minho, ma is ou menos, outr o fugitivo entr ou subita mente num ga lpã o -scu pr ópr io. soubemos depois- e nós. na da vendoà nossa fr ente, a nã o ser ca mpos de a r r oz, um ca mpo a ber to e um vulcã o muito a lto. segutmo-to. Qua ndo nós tr ês chega mos a o pá tio inter no. sua mulher . Que pr ova velmente já esta va a pa r desses
scontecimcn-16 EDUCAÇÃO EM DEBATE FORTALEZA ANo 24 V.I
Relata o autor Que as brigas de galos
repre-sentam na cultura ballnesa instituições simbólicas tão
importantes Quanto a magia. os rituais ete. Os galos
são expressão simbólica de seus donos e o sangue
derramado na rinha é oferecido aos deuses. Geertz
considera as brigas de galos uma
entida de
sodologi-ca e
estuda asestrutura s simbólica s
Que a compõem:o emba te, a s a posta s, o jogo profundo, o sta tus ete.
As rinhas são montadas para o
emba te,
geralmenteum cercado de aproximadamente 1S metros ouadra-dos, num lugar escondido por causa da proibição
das brigas de galos; acontecem entre três horas da
tarde até o pôr-da-sol e a Quantidade de lutas numa
rodada oscila entre nove ou dez. Na continuação. o
autor descreve o modo como as pessoas combinam
a luta, a colocação dos esporões nos galos, os
ho-mens especializados nessa tarefa. o início da briga
entre os galos e as regras Que apontam o vencedor.
Há dois tipos de
a posta s,
uma principal,ocor-re no centro da rinha entocor-re os chefes, e outra menor,
entre a multidão Que se acotovela ao redor do
cercado. Cada tipo de aposta segue regras
diferen-tes; a principal é coletiva, a menor individual (entre
duas pessoas). Nas apostas principais, centrais, há
sempre eoulparação entre o dinheiro dos apostadores, o Que não ocorre nas apostas menores. as Que
cor-rem por fora da rinha ou cercado. A assimetria
encontrada nos dois tipos de apostas mantém.
con-tudo, uma relação simétrica implícita, regulada pela
racional idade. como mostra Geertz:
o
primeiro ponto a frisar nesse sentido é Que. QUantomaiselevadaa aposta central. mais prováveltos. a pa r eceu com uma mesinhs, uma toa lha de mesa . tr ês ca deir a s e tr ês chá vena s de chá . e todos nós, sem Qua lQuercomunica çã o explí-cita , nos senta mos. começa mos a beber o chá e pr ocur a mos com-por -nos. Alguns momentos ma is ta r de, um dos policia is entr ou no pá tio. com a r es impor ta ntes, pr ocur a ndo o chefe da a ldeia .!../ Ven-do minha mulher e eu, 'br a ncos', lá no pá tio. o policia l executou a clá ssica a pr oxima çã o dúbia . Qua ndo r ecobr ou a voz, ele per guntou, em tr a duçã o a pr oxima da Que dia bo está va mos fa zendo a li. Nosso hospedeir o de cinco minutos sa ltou insta nta nea mente em nossa de-fesa , fa zendo uma descr içã o tã o a pa ixona da de Quem e do Que nós ér a mos, com ta ntos deta lhes e tã o cor r eta Que eu, Que ma l me ha via comunica do com um ser huma no vivo, a nã o ser meu senhor io e o
chefe da a ldeia , dur a nte ma is de uma sema na , cheguei aTSRQPONMLKJIHGFEDCBAI i c s r a ssom-br a do(ibidem, 281).
galos
repre-nbólicas tão
te. Os galos
e o sangue
~es. GeertzzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~
sociológi-,compõem:
o ststus ete.
geralmente
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Quadra-~ proibiçãoês horas da lutas numa
~inuação, o
Icombinam
Ilos, os
ho-io da briga
~vencedor.
tipal,
ocor-tra menor,
redor do
as diferen-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA dual (entre
entrais, há
ostadores.
ISQue
cor-assimetria
térn.
con-lada pela
Ido é Que,
aisprovável
rês-ca deira s e wica çã oexplí-vrsmos com-ris entrou no
r : ia .!../l i 'n -TSRQPONMLKJIHGFEDCBA ri executou a
r:
perguntou,ba li. Nosso
vnnossa de-~do Que nós
nsl me ha via senhor io e o
I l c s r s s s o m
-é Que a luta seja bem eouilibrada. Uma simples consideração de racionalidade o sugere. Se você aposta Quinze ringgits num galo, você está dis-posto a manter esse dinheiro numa aposta certa, mesmo Que sinta Que seu animal éum pouco me-nos promissor. Mas se você aposta QUinhentos ringgits, você abomina fazê-Ia. Assim, nas lutas em Que as apostas são maiores, e Que sem dúvida envolvem melhores animais, toma-se muito cui-dado para Que os galos sejam eoulparados em ta-manho, condições gerais, pugnicidade e outros fatores, dentro do Que é humanamente possível (ibidem,296).
Geertz relata dois tipos de jogo: o
jogo
pro-I u n d o " e o
jogo frívolo.
Segundo Bentham, o jogoprofundo -ebsor vcntc- se caracteriza pela aposta ser tão elevada Que a torna irracional do ponto de vista
.rtilitarlsta, pois põe em risco a fortuna do apostador. O jogo profundo reflete a compulsão dos jogadores,
ue são vistos como
vicia dos, ktichista s, cria nça s,
tolos, selva gens.
Mas o interesse de Geertz comoantropólogo não se prende a esses aspectos morais
e psicopatológicos, por isso ele descobre Que o di-heiro apostado na briga é, para o balínês, um
sím-bolo
de importância moral:Nos jogos profundos,
onde a s soma s de dinheiro sã o eleva da s, está em jogo
muito ma is do Que
osimples lucro ma teria l:
osa ber,
a estima , a honra , a dignida de,
orespeito -em suma ,
ststus (lbldern. 300).
Explica o autor Que o fato de o dinheiro ser
também um
símbolo
não Quer dizer Que não tenha alorrea l
e importânciaou Que
oba linês nã o está
'a is preocupa do
em perder Quinhentos ringgit do
uc Quinze
(ibidem, 30'0). Mas o Que interessa para_ Antropologia é estudar, contudo, outro aspecto: a
orrelação gradual entre o
jogo de ststus
com lutasserventes e, inversamente, o
jogo a dinheiro
com.ras
frívolas. Convém lembrar ao leitor Que as lutasorventes são aouelas em Que há eoullibrio entre
galos, decorrente da alta soma apostadas por
arrnas as partes entre poderosos da aldeia. Dessa
conceito foi tomado da obra de Bentham, in: FULLER. L. L The
_ of Law. New Haven. 1964.
EDUCAÇÃO EM DEBATE
feita, as brigas de galos, principalmente as
absorven-tes, representam uma
dra ma tiza çã oda s
preocupaçõescom o
sta tussocia l.
O autor resume num paradlgrnaformal a estrutura lógica da briga de galos e sua
rela-ção com o
sta tussocia l
da sociedade ballnesa:Qua nto
menor for a perspectiva 'econômica ' e ma ior a
pers-pectiva de ststus da a posta envolvida , ma is 'sá lidos'
os cida dã os Que a posta rã o
(ibldern, 308).Características da pesquisa etnográfica
Pretendo coligir algumas das principais
carac-terísticas Que modelam apesouísa etnográfica. a partir da leitura das três monografias então descritas e
re-conhecidamente significativas no âmbito da
Antro-pologia Cultural.
O material Que compõe o conteúdo das
monografias foi coletado pelos próprios antropólogos
de
forma direta
junto aos nativos dos gruposestuda-dos. Portanto, parece Q!.le a natureza
empírica
domaterial relatado napesouísa etnográflca torna-se uma exigência científica dos cânones metodológicos da
Antropologia Cultural. Édesse modo Q!.leinterpreto
as falas dos autores consultados:
De Isto. esses
en-sa ios sã o ma is estudos empíricos do Que inda ga ções
teórica s, pois sinto-me pouco
àvonta de Qua ndo me
dista ncio da s imedia ções
da vida socia l
(Geertz.1989:7). evitando as apresentações
como Que
ex-tra ída s do na da
(Malinowski, 1984: 18).A aproximação direta do etnógrafo do grupo estudado recuer a
presença dura doura
deste entreos nativos. Parece Que o tempo inferior a um ano de
convívio direto na tribo pesouísada invalida os resul-tados da etnografia. Daí por oue Evans-Pritchard soma os meses de sua permanência -1930,1935 e
1936-entre os Nuer para validar sua monografia perante os
seus colegas antropólogos.
Entretanto, não basta a mera permanência do
etnógrafo entre os nativos, mas precisa
pa rticipa r
davida cotidiana da comunidade. Surge, dessa feita, a
(re)conhecida metodologia denominada