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Influência de ruídos antropogênicos em mamíferos aquáticos. Bruna dos Santos Alves, Juliana Plácido Guimarães

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Academic year: 2021

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Anais do Encontro Nacional de Pós-Graduação – VI ENPG Vol.1 (2017) Página 16 Influência de ruídos antropogênicos em mamíferos aquáticos

Bruna dos Santos Alves, Juliana Plácido Guimarães

Universidade Santa Cecília – Programa de Pós-Graduação Sustentabilidade de Ecossistemas

Costeiros e Marinhos, Santos-SP, Brasil. Email: brunasantos.bio@gmail.com

Resumo: A poluição sonora no ambiente marinho aumentou nas últimas décadas,

ameaçando a biota aquática, principalmente os cetáceos. Ruídos causados por pesquisa sísmica para exploração de petróleo, perfuração, dragagem, explosões, sonares de exercícios militares, pesca e tráfego de embarcações comerciais e turísticas interferem na ecolocalização dos cetáceos. Como consequência, há alterações nos comportamentos de interação social, alimentação, reprodução, cuidado parental e fuga de predadores, além de encalhes e danos temporários ou permanentes na audição. Medidas de mitigação incluem interromper a pesquisa sísmica e uso de sonares no caso de avistamento de cetáceos, evitar a aglomeração de embarcações turísticas em áreas de descanso e de alimentação dos cetáceos e não realizar aproximações rápidas ou atravessar no meio dos grupos.

Palavras-chave: cetáceos, incômodo acústico, animais marinhos, atividade antropogênica

Influence of anthropogenic noise on marine mammals

Abstract: The anthropogenic underwater noise in marine environment has been increasing

in the last decades, affecting all the aquatic biota, especially the cetaceans. Noises caused by seismic exploration by the oil industry, drilling, dredging, underwater explosions, naval sonar operations, ship traffic and touristic boats interfere with the echolocation of whales and dolphins. The consequences are alterations of the animals’ behaviour, such as social interaction, feeding, reproduction, parental care, escape of predators, changes in the distribution of these animals, mass strandings and temporary or permanent hearing loss. Mitigation measures include interrupting seismic surveys and use of sonars in the case of cetacean sightings, limiting the number of touristic boats in cetaceans' resting and feeding areas, avoiding approach rapidly or crossing between groups of cetaceans.

Keywords: cetaceans, acoustic harassment, marine animals, anthropogenic activities

Introdução

A poluição sonora no ambiente marinho tem aumentado constantemente nas últimas décadas, ameaçando a biota aquática, principalmente os cetáceos [1].

Atividades como pesquisa sísmica para exploração de petróleo, utilização de sonares em exercícios militares, pesca, tráfego de embarcações comerciais e turísticas são fontes constantes de perturbação sonora no ambiente marinho [2, 3].

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Por se comunicarem através da ecolocalização, as baleias e golfinhos são mais suscetíveis à interferência de ruídos antrópicos, que podem afetar a interação social, alimentação, reprodução, fuga de predadores e distribuição desses animais, causando danos temporários ou permanentes [2].

As reações dos mamíferos aos ruídos antropogênicos podem variar conforme a espécie, indivíduo, idade, sexo, se já houve contato com ruídos anteriormente e ainda o estado comportamental [4,5].

Objetivos

O presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento dos ruídos e os consequentes danos causados aos cetáceos e indicar medidas mitigadoras.

Material e Métodos

Realizar um levantamento na literatura científica especializada, publicada no período de 2001 até 2016, sobre os tipos de poluição sonora antropogênica no ambiente marinho.

Resultados

O ruído antropogênico mais frequente no ambiente marinho é proveniente dos motores de navios comerciais, embarcações pesqueiras e de lazer [3].

O turismo de observação de cetáceos é outra fonte poluidora com efeito deletério prolongado porque, enquanto embarcações comerciais apenas passam pelo local, as embarcações turísticas perseguem os animais e os acompanham, fazendo com que haja uma fonte constante de ruído [3].

O ruído oriundo de sonares militares também causa impacto significativo, pois é ouvido a centenas de quilômetros e pode chegar a 210 dB [6].

A pesquisa sísmica utilizada em campos de exploração de petróleo e gás também é considerada uma fonte de poluição sonora nos oceanos [7].

Atividades relacionadas a construções em ambiente marinho, tais como perfuração, dragagem e explosões constituem outras formas de perturbação sonora [6]. Sons provenientes de bate-estaca para a instalação de usinas eólicas em região marítima causam perturbação sonora para cetáceos que estejam em até 50 quilômetros de distância [8].

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Os ruídos antropogênicos podem interferir na ecolocalização e, consequentemente, alterar padrões de alimentação, acasalamento, cuidado parental, fuga de predadores, e abandono temporário ou permanente de uma determinada área [3, 5, 7, 9].

Podem ocorrer também alterações relacionadas aos padrões de mergulho, natação e da taxa respiratória [1].

As mudanças na vocalização dos cetáceos podem ser consideradas uma tentativa de superar o ruído de fundo que está interferindo na comunicação normal. Por exemplo, orcas podem aumentar o tempo de duração da vocalização, para superar barulhos produzidos por motores de barcos [5].

A exposição a sons antropogênicos pode causar perda auditiva temporária ou permanente, se esses ruídos repetitivos se prolongarem ao longo do tempo [2, 5].

Algumas espécies de baleias alteram também a rota migratória, visando o afastamento da fonte geradora de ruído [2, 5].

Outra consequência relatada é o encalhe de diversas espécies de cetáceos, causado por desorientação e fuga devido ao uso de equipamentos ruidosos. Após a realização de testes militares com sonares houve o encalhe em massa de cetáceos na Grécia em 1996 e nas Bahamas em 2000 [2, 10].

No que diz respeito a mitigação dos ruídos antropogênicos resultados científicos apontam que esta pode ser feita pelos humanos ou pelos próprios animais [3].

Algumas espécies de cetáceos podem mudar a frequência de seus sons emitidos para continuar a comunicação, para evitar mascaramento por outro som [11]. Também pode ocorrer mudança do local de alimentação ou descanso, com migração para outra área onde não haja perturbação sonora [3].

Com a crescente preocupação ambiental nas últimas décadas, foram adotadas algumas medidas para evitar danos acústicos aos cetáceos, como, por exemplo, a adequação de horários e períodos do ano para realização de atividades sísmicas para exploração de petróleo, evitando assim testes durante períodos de migração ou em horários de alimentação. No caso de avistamento de cetáceos pelos observadores de bordo ou de captação de sons por hidrofones, é sugerido interromper as atividades de sísmica imediatamente [12, 13].

Também é sugerido que testes com sonares sejam realizados somente após estudos criteriosos sobre a ocorrência de baleias ou golfinhos na região. Alguns autores sugerem

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também que haja uma equipe treinada de observadores na superfície fazendo o avistamento de cetáceos [2].

Em relação ao turismo de observação de cetáceos, embora alguns ambientalistas defendam o término desse tipo de atividade como forma de cessar perturbações e ruídos causados no ambiente marinho, alguns pesquisadores enfatizam que em áreas onde há turismo de observação não há caça a esses animais, além de fornecer oportunidades para realização de pesquisas científicas e conscientizar às pessoas sobre a importância da conservação dos cetáceos in loco [4, 14].

Algumas medidas são recomentadas para evitar stress e incômodo acústico causado por embarcações, tais como evitar a aproximação rápida, permitir no máximo três embarcações na área de avistamento, manter uma distância mínima de 100 metros, evitar mudanças bruscas na direção do barco e não atravessar no meio do grupo de cetáceos [3].

Conclusão

Autores são unânimes em relatar as dificuldades em se obter resultados conclusivos dos estudos com animais marinhos pois estes vivem em um local demasiadamente amplo e com acesso relativamente restrito aos pesquisadores.

Nos estudos de alteração de comportamento é difícil diferenciar o que é um comportamento normal e o que é uma resposta ao incômodo acústico, pois a reação dos animais pode variar de acordo com a espécie, a distância, a direção da fonte poluidora e o estado comportamental.

Por esse motivo é necessário que haja mais investimento em pesquisas que abordem os impactos dos ruídos antrópicos em cetáceos, para que se possa ampliar o conhecimento científico e propor medidas mais eficazes de mitigação.

Referências Bibliográficas

1. Rossi-Santos MR (2012). Comportamento e ecologia acústica da baleia Jubarte (Megaptera

novaeanglieae) na região Nordeste do Brasil. Tese (Doutorado em Psicobiologia) – Centro de

Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

2. Pavan G (2002). Effects of underwater noise on marine mammals. Bulletin Accobams. n.4: 11-14.

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3. Wursig B, Evans PGH (2001). Cetaceans and humans: Influences of noise. In: Evans PGH, Raga JA (Org). Marine mammals: Biology and conservation. Nova York: Springer: 565-587. 4. Hoyt E, Hvenegaard GT (2002). A Review of Whale-Watching and Whaling with Applications for the Caribbean. Coastal Management, v.30, n.4: 381-399.

5. Weilgart LS (2007). A Brief Review of Known Effects of Noise on Marine Mammal. International Journal of Comparative Psychology. v.20: 159-168.

6. Nowacek DP (2007). Responses of cetaceans to anthropogenic noise. Mammal Rev. v. 37, n. 2: 81-115.

7. Cerchio S et al (2014). Seismic Surveys Negatively Affect Humpback Whale Singing Activity off Northern Angola. Plos One. v. 4, n. 9: 1-11.

8. Bailey H et al (2010). Assessing underwater noise levels during piledriving at an offshore windfarm and its potential effects on marine mammals. Marine Pollution Bulletin, n.60: 888– 897.

9. Isojunno S et al (2016). Sperm whales reduce foraging effort during exposure to 1–2 kHz sonar and killer whale sounds. Ecological Applications. v. 26, n.1: 77–93.

10. Goldbogen JA et al (2013). Blue whales respond to simulated mid-frequency military sonar. Proceedings of the Royal Society B. v. 280, n. 1765.

11. Morisaka T et al (2005). Effects of the ambiente noise on the whistles of indo-pacific bottlenose dolphin populations. Journal of Mammalogy. v.86, n.3: 541-546.

12. Cato DH et al (2013). Behavioral responses of humpback whales to seismic air guns. Proceedings of Meetings on Acoustics. Montreal, v.19, n. 10052: 1-4.

13. Monaco C et al (2016). Cetacean behavioral responses to noise exposure generated by seismic surveys: how to mitigate better. Annals of Geophysics, v. 59, n.4: 1-9.

14. Corkeron PJ (2004). Whale Watching, Iconography, and Marine Conservation. Conservation Biology. v. 18, n.3: 847-849.

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